Lc 2.1-14. – A alegria do Natal
(Sermão elaborado à base de um sermão do Dr. Walther, publicado no livro: Licht des Lebens, CPH, 1905, p. 58)
Introdução
Natal é festa de alegria. Assim os anjos o anunciaram aos pastores nos campos de Belém da Judéia. Não temais, eis que vos trago grande alegria que o será para todo o povo. – Sabemos ainda o que é verdadeira alegria. Apesar dos muitos centros de recreações e fontes de divertimentos, verdadeira alegria é algo raro. O fim das maiores e melhoras festa tem sempre um gosto amargo e de enfado. Mesmo a alegria dos cristãos não está isenta do tempero da amargura. Eis, no entanto, que estamos novamente no alegre tempo de Natal, fonte da verdadeira alegria, como anunciada pelo anjo. Vejamos:
Natal a fonte da verdadeira alegria.
a) Por que o nascimento de Cristo é a fonte da verdadeira alegria para todo o povo?
b) O que precisamos fazer para que esta venha ao nosso coração?
1
Deus criou o ser humano conforme sua imagem para alegria eterna. Mas Adão e Eva desobedeceram a Deus, caíram em pecado, com isso desprezaram a coroa da vida em alegre comunhão com Deus e se tornaram réus da eterna condenação.
As conseqüências desse passo são indescritíveis. Vejam a miséria na qual o ser humano está prostrado como escravo de Satanás, e só vemos a miséria terrena, sem falar dos sofrimentos internais que são eternos. Mas, em lugar de retornar a Deus, o homem foge, se esconde e procura negar a Deus.
A imagem, porém, deste santo e justo Deus está gravada na consciência do ser humano. Ele procura livrar desta imagem e iludir-se, dizendo: Deus é bonzinho e não castigará toda a humanidade, inferno não existe. Mas em vão. A consciência acusa e lhe infunde medo e pavor. A cada dor, infortúnio ou catástrofe, o homem estremece e se abala. O homem não pode mudar essa situação. Não pode se libertar nem do poder de Satanás, nem se reconciliar com Deus por próprias forças.
Mesmo nós cristãos, ainda fracos na fé, nos assustamos e estremecemos diante de tribulações, dor ou catástrofes da natureza.
O que Deus fez e ainda faz hoje em prol de sua criatura? Ele poderia tê-la abandonado à sua sorte e executado seu juízo sobre ela. Mas não, em amor eterno buscou o ser humano e fez resplandecer sobre ele seu amor. Já na eternidade Deus planejou em amor salvar a humanidade e anunciou esta salvação a Adão e Eva. Proclamou este evangelho por muitos profetas e homens de Deus, durante 4 mil anos. Até o tempo ter-se cumprido, como o afirma o apóstolo Paulo: Vindo a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei (Gl 4.4). E os anjos anunciaram aos pastores nos campos de Belém, há 2009 anos atrás, naquela noite silenciosa: Eis aqui, vos trago boa nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor (v. 10,11).
Como este Salvador veio? O apóstolo Paulo afirma: A graça de Deus se manifestou salvador a todos (Tt 2.11). Assim ele apareceu, nasceu numa humilde estrebaria, como nosso irmão na carne para viver em nosso meio.
Eis que na noite de Natal, Deus enviou seus anjos aos pastores. De repente o céu se iluminou, os pastores estremeceram, mas o anjo lhes disse: Não temais! Ele não vem como juiz para julgar e condenar, mas como vosso humilde Salvador.
Aqui estou, vosso Deus, na manjedoura, despojado de sua majestade e glória celestial, como uma simples criança. Ninguém precisa temer, eu venho a vocês, como vosso irmão. Querem saber qual o sentimento de Deus a vosso respeito, querem conhecer o amor de Deus a vocês? Olhem para mim, pois quem me vê, vê o Pai (Jo 14.9). Como olho alegre para vocês, assim o Pai olha com amor para vocês.
Ele, mesmo sendo Rei, veio humilde, subordinado a Cesar, não num palácio real, mas oculto numa estrebaria em Belém, da Judéia.
O que significa tudo isso? Para compreendê-lo, precisamos ir aos pastores nos campos de Belém, ouvir a mensagem que eles ouviram dos anjos e acompanhá-los à manjedoura.
O que eles ouviram nos campos? Os anjos lhes anunciou: Hoje vos nasceu o Salvador. Deus não somente vos ama, mas ele veio vos salvar. Ele tornou-se vosso irmão na carne, para como vosso substituto cumprir a lei, pagar vossa culpa, libertar-vos de vossos inimigos e reconciliar-vos com Deus Pai. Por isso os anjos puderam proclamar aos pastores: Não temais, eis que vos trago grande alegria que o será para todo o povo. Ninguém é excluído. Jesus veio salvar todo o povo, toda a humanidade.
Uma boa notícia que afasta todo o temor e medo, que nos anuncia perdão, vida e eterna salvação. Deus nos abriu a fonte da salvação, da paz, e verdadeira alegria eterna. Ele convida todos a virem a ele.
II
O que devo fazer, agora, para que esta salvação seja minha, e eu possa me alegrar nela? Para que ninguém possa se queixe, dizendo: Conheci a fonte, mas não sabia como me abastecer nela, quero mostrar - e Deus nos ajude – o que alguém deve fazer para que este amor de Deus penetre no seu coração. Queremos aprendê-lo da história do nascimento de Jesus e das pessoas ali envolvidas: de Cesar Augusto, dos moradores de Belém, dos pastores e dos que ouviram o testemunho deles.
a. Cesar Augusto. – Em sua vaidade e no seu poder, ele ordenou o recenseamento. E sem sabê-lo, foi instrumento de Deus para que se cumprisse o que estava escrito: que o menino Jesus deveria nascer, conforme as profecias, em Belém da Judéia. Ele próprio, no entanto, em sua glória e amor aos prazeres do mundo não tinha interesse nas coisas que Deus estava realizando no seu reino.
b. Moradores de Belém. Eles estavam no meio dos acontecimentos, voltados para suas preocupações em receber os muitos peregrinos que vinham para o recenseamento. Não tinham tempo para os reais acontecimentos, mesmo sendo isso lhes anunciado como lemos: Os que ouviram se admiravam das coisas referidas deste mínimo (v. 18), mas não deram crédito, nem foram conferir como os pastores.
c. Os pastores. Quando os anjos lhes apareceram, eles ficaram tomados de grande medo, pois sabiam-se pecadores. Deram, no entanto, atenção à mensagem dos anjos: Não temais, eis que vos trago grande alegria. Esta mensagem encheu seus corações de ânimo e de alegria. Tendo ouvido à mensagem, disseram uns aos outros: Vamos até Belém e vejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer (v.15).
Vejam o que devemos fazer para desfrutar deste amor de Deus?
- Devemos guardar-nos do procedimento de Cesar e dos moradores de Belém, que estavam demasiadamente ocupados e apegados às coisas materiais e não tinham tempo para os feitos de Deus. Como hoje, nos preparativos e correrias do Natal, muitos, mesmo cristãos, não se tomam o tempo para ouvir, meditar, orar e louvar a Deus por seus grandes feitos. Importa que lembremos: A salvação é para todos. Só ficam fora aquele que por seu amor ao mundo e sua incredulidade rejeitam o Salvador.
Não é preciso desfazer-se dos bens, cargos ou posições que ocupamos neste mundo. Cesar não precisaria declinar de sua coroa, nem os moradores de Belém de seus afazeres, mas não deveriam por nisso seus corações, antes desprender-se deles para poderem dar atenção à mensagem de Deus e adorar o menino Jesus.
Portanto, vocês que estão apegados aos bens materiais, ou vocês que lutam com problemas, dores e ansiedades, dêem ouvidos à palavra de Deus. Ali, em Cristo, Deus nos abriu uma fonte de consolo, paz, esperança e proporcionam verdadeira alegria, como o anjo o proclamou: que o será para todo o povo...paz na terra aos homens a quem ele quer bem. (v.10,14).
Por isso, como os pastores, como pobres pecadores queremos dar atenção à mensagem de Natal.
É verdade que hoje esta mensagem não chega a nossos ouvidos por meio de anjos, cercados do esplendor celestial, nem circundados pelos coros celestiais. – Mas, também nós pobres pecadores, como os anjos, somos enviados por Deus para anunciar esta mensagem de alegria para todo o povo. E nossa mensagem está circundada do esplendor da uniformidade e testemunho de toda a Escritura. Nossos hinos, cantados pela congregação e pelos coros, são o eco do canto dos anjos.
E mais um detalhe. Após os pastores terem ouvido a mensagem dos anjos, eles disseram: Vamos até Belém e vejamos os acontecimentos. Assim queremos, em verdadeira fé e confiança na palavra de Deus, abraçar o menino Jesus e adorá-lo em espírito e verdade, rechaçando de nós tosos os pensamentos de dúvidas que nos querem desviar da fé.
Queremos confessar a Jesus humildemente nossos pecados que o fizeram sofrer tanto. Confiar no perdão que ele nos conquistou. Pois: Para nos enriquecer, ele se fez pobre. Quão profundo deve ser seu amor tapo nobre (HL 30.3)
E isto nós não queremos fazer somente agora no Natal, mas durante todo o ano acompanhá-lo também durante o tempo de Epifania, paixão, ressurreição, ascensão, Pentecostes, etc. Suplicar que seu Espírito purifique nossos corações e nos fortaleça na fé. Queremos jubilar, adorar e proclamar o seu santo nome, para que também todo o povo em nossos dias ouça esta mensagem, a fonte da verdadeira alegria, paz e esperança. Amém.
São Leopoldo, 12/12/2009
Horst R. Kuchenbecker
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