A SEGUNDA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO PAULO A TIMÓTEO
INTRODUÇÃO
(KRETZMANN)
Depois que Paulo escrevera sua primeira carta a Timóteo, ele continuou suas tarefas na Macedônia e no Oriente, ainda que é provável, com base de certas tradições históricas, que também visitou a Espanha. Mas por causa de algum motivo que não conhecemos, seu ministério foi repentinamente interrompido pela sua prisão e subseqüente transferência para Roma. Durante este último aprisionamento a situação do apóstolo foi completamente diferente da de sua estada anterior em Roma. Esteve em algemas, cap. 1. 8, 16.
Contrariamente de antes, ele não teve mais a expectativa de ser solto. É verdade que, momentaneamente, escapou dum grande perigo, cap. 4. 17. Mas ele está fortemente convicto que o tempo de sua partida está próximo, cap. 4. 6. Por isso, sua última carta está marcada por um caráter singular, assim que pode foi chamada, e não sem razão, o testamento do apóstolo moribundo ao seu filho espiritual e a toda a comunidade. A epístola foi escrita não muito depois de seu aprisionamento e em vista da morte que com certeza se aproximava, talvez em 66 ou 67, sendo que a tradição cita este último ano.
O tom familiar que está evidente na primeira carta é expresso aqui com força ainda maior. A epístola é uma conversa confidencial do apóstolo com o homem ao qual, desde o tempo de sua conversão, concedera o amor dum pai. Depois do endereçamento e da saudação há uma admoestação para continuar, por meio do poder de Deus, na corajosa confissão do evangelho. A seguir o apóstolo fala detalhadamente sobre a correta administração do ofício ministerial, dando referência a várias condições difíceis, enfatizando sempre a fidelidade como virtude essencial dum pastor. Em conclusão dá algumas informações sobre acontecimentos pessoas e um breve relato de sua primeira audição em juízo. Ele conclui com saudações e com sua bênção apostólica, cujo significado está até hoje em vigor.
Capítulo 1
Endereço E Saudação. 2. Tm. 1. 1, 2.
V. 1) Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, pela vontade de Deus, de conformidade com a promessa da vida que está em Cristo Jesus, 2) ao amado filho Timóteo: Graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus nosso Senhor. É um endereço solene com que Paulo começa sua carta: Paulo, um apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, para a proclamação da vida que está em Cristo Jesus, a Timóteo, meu filho amado.
Tal como na primeira carta, Paulo se chama aqui um apóstolo de Cristo Jesus, colocando de propósito a ênfase no ofício de Cristo, por meio do qual é eficaz o ofício apostólico. Paulo pertenceu àqueles primeiros mestres da igreja do Novo Testamento que tiveram uma medida extraordinária de dons para a obra da fundação desta igreja em todo o mundo. A eleição de Paulo para este ofício não ocorrera com base em sua própria escolha e desejo, mas pela vontade de Deus, que o escolhera e que, por meio de sua conversão e subseqüente vocação, dera uma direção completamente diferente à sua vida toda. Por isso, considerou este ofício e realizou a obra deste não por quaisquer motivos de auto-engrandecimento, mas com o propósito de proclamar, de anunciar, a verdadeira vida em Cristo Jesus, da vida que segue e que depende da pregação da palavra da graça. O conteúdo de toda pregação apostólica é a vida que Deus desde a eternidade projetou para as pessoas, a vida que desceu à terra pelo Filho unigênito de Deus, Jo. 1. 4; 1.Jo. 1.2, a vida que gozaremos na eternidade em sua medida mais rica, Cl. 3. 3, 4; Gl. 6. 8; Rm. 5. 17. É a vida que está em Cristo Jesus, pois sem Ele não pode haver vida verdadeira. Desta descrito, desta forma, seu ofício e dado um resumo de sua pregação, Paulo se dirige a Timóteo como seu filho amado, com o qual está unido pelos laços do amor mais cordial e paterno, 1. Co. 4. 17; Fp. 2. 20-22. A saudação do apóstolo é idêntica com a da primeira carta: Graça, misericórdia e paz de Deus
Pai e de Cristo Jesus nosso Senhor. Aquele que recebeu a reconciliação, a graça de Deus pela fé, também receberá com total confiança a garantia do amor misericordioso de Deus em Cristo, estando plenamente convicto que a paz de Deus que excede toda compreensão é a dádiva certa de Deus a todos os que crêem. Nós, tendo sido justificados pela fé, tendo-nos tornado participantes da graça e da misericórdia de Deus, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, Rm. 5. 1.
Paulo Lembra Timóteo De Sua Antiga Educação E Suas Obrigações. 2. Tm. 1. 3-7. V. 3) Dou graças a Deus, a quem, desde os meus antepassados, sirvo com consciência pura, porque sem cessar me lembro de ti nas minhas orações, noite e dia. 4) Lembrado das tuas lágrimas, estou ansioso por ver-te, para que eu transborde de alegria, 5) pela recordação que guardo de tua fé sem fingimento, a mesma que primeiramente habitou em tua avó Lóide, e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também em ti. 6) Por esta razão, pois, te admoesto que reavives o dom de Deus, que há em ti pela imposição das minhas mãos. 7) Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação. Sem qualquer introdução, o apóstolo apresenta o assunto que enche sua mente.
Seu coração está a transbordar, e as idéias brotam no ansioso esforço para encontrar expressão: Graças rendo a Deus, a quem sirvo, desde os meus antepassados, de consciência pura (como constantemente faço menção de ti em minhas orações, noite e dia, desejando ansiosamente ver-te, recordando tuas lágrimas, para que eu seja tomado de alegria). Este é um verdadeiro começo Paulino duma carta, pois ele sempre encontra motivo para agradecimento a Deus, não interessando quão desencorajadora possa ser a situação em que se debata. Apesar do fato que teve atrás de si longos anos de árdua labuta e estava olhando para uma provável execução prematura, é ainda assim o sentimento de gratidão para com Deus que exprime quanto ao caso. Suas esperanças e orações em relação de Timóteo haviam sido mais do que cumpridas, estando ele mais do que satisfeito com o resultado de seus esforços. Mas, porque sua intenção foi recordar seu aluno das obrigações de sua anterior formação, ele descreve o Deus a quem suas preces sobem como o Senhor ao qual de consciência pura servia desde seus antepassados. Esta expressão não se opõe à afirmação de 1. Tm. 1. 13, como pensam muitos comentaristas. Antes é esta a situação: Com a exceção da concreta revelação do Messias em carne e do fato que agora vivemos no tempo do cumprimento, enquanto os patriarcas e seus seguidores viveram no tempo do tipo e da profecia, a fé e a esperança dos crentes do Antigo Testamento são idênticas com as dos cristãos do Novo Testamento. Paulo desde sua juventude fora instruído nesta fé e esperança, tal como havia acontecido com seus antepassados antes dele. Claro, foi algo terrível que ele fora um perseguidor e um blasfemador de Cristo e da religião cristã. Ele mesmo, porém, diz que esta atitude fora devido à ignorância. Sua antiga fé no Messias que devia vir, e a de seus anos posteriores foi essencialmente a mesma. Desta forma seu culto a Deus fora realizado de consciência pura, mesmo que tenha sido tola por causa do fato que o Messias já havia chegado. Paulo apresenta isto como uma explicação, não como uma desculpa.
Agora o apóstolo destaca, na forma duma observação em parêntesis, seu relacionamento com Timóteo, afirmando que tinha seu amado aluno continuamente na lembrança nas orações que, noite e dia, subiam a Deus. Ele lembrava todas as congregações com as quais estava ligado por meio de sua posição apostólica, mas, incidentalmente, seu relacionamento cordial com Timóteo o levou a, com fervor especial, fazer menção dele. Seu coração esteve
tomado de saudade para ver seu jovem amigo, especialmente porque não conseguia livrar-se da lembrança das lágrimas que Timóteo derramou na última reunião que tiveram; cf. At. 20. 37. O campo no qual Timóteo trabalhava se mostrara quase demais para sua inexperiência, em conseqüência do que fora aborrecido com pusilanimidade. Por isso, enquanto Paulo pensava sobre esta cena e sobre o fato que desde então não fora capaz de ver Timóteo, apareceu e aumentou novamente seu desejo para vê-lo e, assim, ser tomado de alegria.
Depois desta observação em parêntesis, o apóstolo menciona agora o motivo de suas orações de agradecimento: Pois evoco a fé sem fingimento que primeiro habitou em tua avó Lóide e em tua mãe Eunice; contudo, estou persuadido que também em ti. Provavelmente Paulo foi recordado fortemente de tudo isto por meio duma carta ou dum mensageiro de Timóteo. Por meio disso fora aprofundada a impressão que tivera sobre seu aluno.De coração grato, por isso, se volta ao Senhor, agradecendo-Lhe por preservar até então a fé de Timóteo. Foi uma fé sem fingimento, uma fé não misturada de hipocrisia, uma fé apoiada no conhecimento e que consistia na aceitação da salvação em e através de Cristo. Timóteo fora extraordinariamente feliz por ter recebido uma instrução correta na doutrina da verdade. Tanto sua avó Lóide como sua mãe Eunice, que ambas pertenciam, certamente, aos verdadeiros israelitas que esperaram pela revelação do verdadeiro Messias, também haviam abraçado o cristianismo. Mas a mesma fé cristã que nelas vivia também habitou no coração do neto e filho. Paulo esteve convicto disso, disso tivera o testemunho mais firme.
Estas vantagens extraordinárias que gozava, contudo, também impuseram obrigações a Timóteo: Motivo pelo qual te lembro que reavives o dom da graça de Deus, que há em ti pela imposição das minhas mãos. Timóteo recebera, desde sua primeira infância, instrução nas Escrituras do Antigo Testamento. Por isso, sua conversão consistira em seu giro da espera dum Messias que ainda devia chegar para a confiança Naquele que fora manifestado.
Tendo ele recebido a graça de Deus em medida tão rica, tendo-lhe também sido concedida a capacidade para ensinar e a disposição de ensinar, como uma evidência especial da misericórdia de Deus, o apóstolo, por isso, julgou ser sua a incumbência de lembrá-lo de suas obrigações quanto a estes dons, tal como lhe foram transmitido pela imposição das mãos de Paulo por ocasião de sua ordenação. Naquela ocasião Timóteo recebera, de um modo único, numa medida extraordinária, a capacidade especial para administrar o ofício pastoral em todas as suas ramificações. Timóteo devia reavivar o dom da graça que lhe fora concedido. Ainda havia nele o fogo da fé, do amor, da confiança e da coragem de abrir sua boca na cordial proclamação do conselho de Deus, mas corria o perigo para negligenciá-lo.Por isso a admoestação de reavivá-la, para que, por conseqüência, o trabalho do Senhor não sofresse.
Paulo acrescenta em apoio de sua admoestação: Pois Deus não nos deu o espírito de timidez, mas de poder e de amor e de sensatez. O espírito que vive nos cristãos e que devia dar energia especialmente aos pastores não é de timidez, de falta de coragem e de covardia.
Este é o espírito que produz mercenários, homens que estão a serviço dos ouvidos que sentem coceira de seus ouvintes, e o espírito que finalmente conduz à hipocrisia e à negação da fé. O Espírito verdadeiro que devia atuar em todos os cristãos e em especial nos ministros da palavra é o Espírito de vigor e poder, ou seja, duma energia que está firmada na onipotência de Deus, o qual não conhece medo; o Espírito de amor que capacita uma pessoa a não somente apresentar-se livremente para o trabalho, mas também a oferecer sacrifícios pela causa do Senhor; o Espírito de sensatez, que capacita ao pastor cristão para usar em todas as situações o bom senso, a empregar o tato e a diplomacia que em todas as situações escolhem os melhores métodos, e que, desta forma, conquista amigos para o evangelho. Este é um dom da graça, através do Espírito, e por isso devia ser encontrado em todas os homens que estão empenhados no glorioso ministério de salvar almas, bem como em todos os cristãos que reconhecem seu dever de colocar suas energias e capacidades ao serviço do Senhor.
Uma Admoestação À Constância. 2. Tm. 1. 8-14.
V. 8) Não te envergonhes, portanto, do testemunho de nosso Senhor, nem do seu encarcerado que sou eu; pelo contrário, participa comigo dos sofrimentos, a favor do evangelho, segundo o poder de Deus, 9) que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos, 10) e manifestada agora pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho, 11) para o qual eu fui designado pregador, apóstolo e mestre, 12) e por isso estou sofrendo estas coisas, todavia não me envergonho; porque sei em quem tenho crido, e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia. 13) Mantém o padrão das sãs palavras que de mim ouviste com fé e com o amor que está em Cristo Jesus. 14) Guarda o bom depósito, mediante o Espírito Santo que habita em nós. O conhecimento do amor de Deus em Cristo Jesus e o dom da graça de Deus são os fatores fundamentais no trabalho de Timóteo; eles o abrigam a mostrar toda firmeza na confissão de Cristo, na defesa da fé. O apóstolo expressa, em excelente diplomacia, este pensamento: Por isso não tenhas vergonha do testemunho de nosso Senhor nem de mim, Seu prisioneiro, mas junta-te a mim no sofrimento pelo evangelho conforme o poder de Deus. Timóteo não devia sentir pavor nem medo da desonra e da vergonha que sua confissão de Cristo certamente traria sobre ele. Não devia fugir da sorte que é inevitável aos seguidores de Cristo. Cf. Rm. 1. 16; Mc. 8. 38; Hb. 11. 26. O apóstolo chama toda a pregação do Novo Testamento como o testemunho de Cristo, porque Cristo é o conteúdo de toda a doutrina da salvação; Sua pessoa e obra deviam ser proclamadas de cada púlpito que traz o nome cristão; a mensagem do evangelho é a da vida eterna, porque testifica de Cristo, Jo. 5. 39; 1. Co. 1. 4. Exatamente, porque cada pessoa que confessava publicamente sua adesão à assim chamada seita dos cristãos devia esperar que fosse atingida por perseguição e desonra, Timóteo devia, bem por isso, não se envergonhar de sua confissão. Timóteo podia estar inclinado a se afastar de Paulo na atual situação infeliz deste último. Contudo, o apóstolo não esteve definhando na prisão por causa de qualquer crime que cometera. Ele foi um prisioneiro do Senhor. Fora aprisionado por causa de Jesus ao qual ele confessara de modo tão franco e cordial perante as pessoas.
Por isso seus grilhões foram suas insígnias de honra, e Timóteo devia reconhecê-las como tais. Timóteo, em vez de estar envergonhado de Jesus e de Paulo, Seu apóstolo, agora em cadeias por Sua causa, devia, antes, juntar-se a ele no sofrimento pelo evangelho. Caso o acertasse a mesma sorte que sobreveio ao seu querido mestre, Timóteo não devia hesitar um só momento para mostrar sua disposição em carregar o jugo de seu Senhor. Tanto ele seria
capaz de fazer, todavia, não por sua própria razão e força, mas de acordo com, na medida do, poder de Deus nele. Cristo, o Senhor de Sua igreja, sempre concede a necessária força que é preciso para suportar sofrimentos por Sua causa. Caso haja algum pensamento que, acima de quaisquer outros, nos devia tornar dispostos para sofrer perseguições por causa de nosso Senhor, então é o de nossa redenção em Cristo O qual nos salvou e nos chamou com santa vocação, não conforme as nossas obras, mas conforme Seu próprio propósito e graça, que nos foi dada em Cristo Jesus antes do tempo deste mundo. O apóstolo emprega o argumento mais forte que tem à disposição para incutir em Timóteo e em cada cristão a necessidade de permanecer constante na confissão de Cristo até ao fim. Foi Deus quem nos salvou, que é nosso Salvador. A salvação está completa, pronta ante os olhos e corações de todas as pessoas. E no que diz respeito à sua aplicação aos cristãos, o apóstolo diz que Deus nos chamou, que Ele nos estendeu o convite para aceitarmos a reconciliação feita em favor de todas as pessoas. Este convite foi um chamado santo, visto que proveio do próprio Deus santo, foi aplicada pelo Espírito Santo, e tem como propósito uma vida de consagração. De maneira alguma entra em consideração neste chamado o mérito do homem, visto que ele não nos foi alcançado por causa de nossas obras. Deus não olhou para pessoa alguma com a intenção de encontrar algo em seu caráter ou em sua atitude que o pudesse tornar mais voluntário a graça oferecida. Todavia, ao mesmo tempo, Ele não emitiu um chamado absoluto, simplesmente na base da majestade de Sua vontade divina. Antes, Ele chamou as pessoas conforme Seu próprio propósito e graça. Foi o conselho e a intenção pessoais e livres de Deus; foi um conselho da graça, do Seu livre amor e favor, cuja revelação ocorreu em Cristo Jesus. Antes que os fundamentos do mundo fossem lançados, antes que Deus havia criado um só ser humano, que foi formulado Seu conselho gracioso de amor, que resultou em nossa vocação, em virtude do qual devíamos ser Seus próprios filhos e viver com Ele por toda a eternidade. Em Cristo Jesus nos foi dada Sua graça, visto que Sua redenção no-la adquiriu. A graça de Deus em Cristo Jesus esteve, desta forma, presente e à disposição desde a eternidade. Depois disso, no cumprimento do tempo, Deus tornou conhecida Sua graça para a humanidade: Mas agora manifestada através do aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, quando tornou a morte ineficiente, mas trouxe vida e imortalidade à luz através do evangelho. A graça que foi planejada e preparada em Cristo Jesus, foi manifestada, não por meio dum mero ensinar ou pregar, mas por meio duma manifestação corporal que podia ser entendida pelos sentidos, Jo. 1. 14. A graça de Deus foi tornada manifesta através de toda vida, sofrimento e morte de Cristo. Foi assim que a graça de Deus foi trazida à atenção das pessoas em forma corporal e visível, na forma do Redentor, que foi seu irmão conforme a carne. Sua manifestação culminou quando tornou a morte sem valor, quando tirou o poder da morte temporal, tornando-a desta forma uma simples máscara, 1. Co. 15. 55-57. Visto que a morte, em sua verdadeira essência, significa uma separação de Deus e da vida em Deus, por isso é que para os cristãos ela perdeu seu terror. Para nós que estamos em Cristo, a morte já não pode mais nos vencer. Em vez disso, são nossa porção vida e imortalidade por meio da obra de nosso Salvador. Fomos readmitidos na comunhão da vida com Deus. A verdadeira vida em e com Deus se estende à nossa frente em imensurável plenitude. Foi novamente tornada possível a original condição bendita do paraíso. A vida em e com Deus se mostra em imortalidade e em incorrupção. A salvação com todas as glórias do céu são nossas. Ela não mais está oculto aos nossos olhos, mas pelo evangelho nos é exposta na luz mais brilhante e clara. Pois esta é a mensagem da plena redenção, da revelação da vida sem fim. Esta é a glória bendita do evangelho, como aqui o apóstolo o resumiu em breves palavras para Timóteo bem como aos cristãos de todos os tempos.
O apóstolo, quando expressa sua ligação com o evangelho, incidentalmente dá agora um motivo por que Timóteo não devia envergonhar-se dele: Para o qual foi apontado arauto e apóstolo e mestre. Cada palavra empregada pelo apóstolo destaca uma certa fase de seu trabalho. Ele é um arauto, um proclamador das grandes e maravilhosas obras de Deus. Pela sua pregação não só devia ser lançada a base para uma correta compreensão, mas pelo mesmo método os cristãos também deviam crescer no conhecimento de seu Senhor Jesus Cristo. Ele é um apóstolo, pertencendo ao número de homens que em todos os tempos deviam ser os mestres da igreja do Novo Testamento. E, por fim, Paulo foi um mestre, tal como todos os verdadeiros ministros deviam ser, sendo sem campo especial o dos gentios.
Ele não operou com as excelências da sabedoria do homem, mas ensinou o mistério do reino de Deus, tanto em público como em particular. Acaso ainda podia acontecer que Timóteo se envergonhasse de seu mestre? Mas nem os sofrimentos de Paulo deviam provocar nele este sentimento de vergonha: Motivo pelo qual também sofro estas coisas, mas não me envergonho. A inimizade do mundo o atingiu no ministério, no ofício que Deus lhe confiou. Fora submetido à miséria, perseguição e prisão. Todavia, visto que estes sofrimentos devem ser esperados no desempenho regular do sacro ofício, ele, de modo nenhum, os encarou como uma vergonha. Sofrer por amor de Cristo não é uma desonra, mas uma honra. O apóstolo, por este motivo,
é capaz de escrever na jubilosa confiança de fé: Pois sei em quem minha fé repousa, e estou persuadido que Ele é capaz de guardar aquilo que Lhe confiei até aquele dia. Aqui cada palavra é uma expressão de confiança firme em Deus. Ele não se baseia em seus sentimentos, sobre suas próprias idéias e opiniões. Seu conhecimento está baseado na palavra e por isso não pode estar com vergonha. Ele alcançou uma convicção que é mais certa do que todas as asseverações de meras pessoas. Ele tem a promessa de Deus em Sua palavra infalível. Visto que o apóstolo entregou a salvação de sua alma ao Pai celeste, e sua fé tem a convicção baseada em Sua palavra, é que o precioso tesouro está seguro em Suas mãos, Jo. 10. 28. Pois Deus é capaz, plenamente competente, para guardar esta bênção inestimável. Somos guardados pelo poder de Deus através da fé para a salvação, 1. Pe. 1. 5. A seguir segue, como algo lógico, a admoestação: Segura firme o exemplo de sãs palavras que de mim ouviste, tanto na fé como no amor que está em Cristo Jesus. O exemplo pessoal de Paulo foi um fator importante em seu trabalho. O que fizera e dissera devia ser um tipo para Timóteo seguir. Parece que ele se refere a algum resumo ou disposição da verdade do evangelho que transmitira ao seu aluno, que foi um ensino das sãs palavras, estando totalmente livre das excrescências mórbidas que os pregadores do erro mostravam. Timóteo devia usar este resumo de doutrina na fé e no amor que há em Cristo Jesus. Tendo a convicção da fé que o evangelho, tal como ensinado por Paulo, foi a verdade, ele não toleraria tornar-se um apóstata desta verdade. Tendo no coração verdadeiro e cordial amor para com Cristo, saberia que cada deserção da verdade, que lhe fora entregue, magoaria profundamente seu Salvador. Uma adesão singela às palavras da Escritura é a maneira mais segura para evitar a maioria das dificuldades com que os sectários sempre estão em luta. Pois, somente quando uma pessoa vai além das palavras da revelação divina, é que ela topa com contradições ou afirmações aparentemente incompatíveis.
O apóstolo, em conecção a este pensamento, insiste mais uma vez com seu aluno: Guarda o tesouro excelente através do Espírito Santo, que habita em nós. Tendo, a instantes, admoestado Timóteo a aderir pessoalmente à forma da sã doutrina, Paulo, agora, martela a outra verdade, a saber, que este precioso depósito da verdade pura precisa ser guardado contra qualquer contaminação. É verdade que nenhum pastor, por seu próprio poder, por sua própria razão e força, é capaz de defender e guardar a doutrina de Cristo contra os vários ataques que são feitos contra ela, contra as desconfianças que sobre ela são espalhadas. Quando uma pessoa estuda a Bíblia do modo como o faz com qualquer outro livro, quando crê que a aplicação do mero saber mundano bastará para sua defesa, então ele descobrirá logo quão triste foi o erro de suas idéias. A preciosa bênção da verdade evangélica só pode ser guardada em segurança através do Espírito Santo. Este Espírito já no batismo fez em nós Sua habitação, e quer continuar no uso de nossos corações como Seu santuário enquanto continuamos nas palavras de nosso Salvador. Que consolo para o singelo e fiel ministro da palavra!
(KRETZMANN)
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