LUCAS 171.1-10 (KRETZMANN)
Uma Lição Sobre Ofensas E Sobre Perdão, Lc. 17. 1-10.
As ofensas, V. 1) Disse Jesus a seus discípulos: É inevitável que venham escândalos mas ai do homem pelo qual eles vêm! 2) Melhor fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e fosse atirado no mar, do que fazer tropeçar a um destes pequeninos. Temos, neste capítulo, um número de lições que foram dadas, e de incidentes que ocorreram durante a última viagem do Senhor para Jerusalém. Ele não tomou o caminho mais direto, mas peregrinou, segundo as ocasiões se ofereciam, de um lado ao outro no sul da Galiléia e da Samaria. Mas uma vez os fariseus haviam sido reprovados e silenciados, e Jesus teve a liberdade de ensinar seus discípulos sem ser interrompido. Cf. Mt. 18. 6,7. É impossível, diz Jesus, não ocorrerem ofensas. A
imaginação do coração do homem é má desde sua meninice, e todos os maus pensamentos, que se originam no coração humano, brotam e se mostram em maus atos, a não ser que se esteja alerta em todos os tempos para subjugar todas as ações pecaminosas. Mas a maioria das pessoas do mundo não se interessa em fazê-lo. Enquanto não entram em conflito com a lei do estado, vivem e agem de modo racional e do modo como desejam. E o resultado é que são colocadas as ocasiões para o tropeço. No mundo são feitas continuamente coisas em que os discípulos sinceros de Cristo tomam ofensa justa, visto que desonram ao Senhor e prejudicam à igreja. Todas as blasfêmias deliberadas e não propositais contra o Senhor e sua palavra pertencem a estas ofensas, como também as transgressões do sexto mandamento, por meio de palavras, do modo de vestir, de quadros, e por atos e outros pecados. Todavia, o fato que ofensas são inevitáveis não desculpa ao ofensor nem lhe fecha os olhos diante do pecado, mas o Senhor pronuncia um ai sobre ele. O fim de tal pessoa seria mais feliz, seria-lhe mais vantajoso, se lhe fosse colocado ao pescoço uma pedra de moinho, um das duas pequenas pedras de moinho que eram usadas nas casas para triturar o grão, e que fosse atirado ao mar. Este fado seria preferível ao outro, pelo qual o pecador, que causara ofensa, seria condenado ao abismo mais profundo do inferno. Pois a ofensa contra um destes pequeninos do Senhor, contra as crianças e os cristãos que de modo simples crêem na Escritura e em suas verdade, pertence às transgressões de primeira grandeza. Se os filhos do mundo sempre estivessem cônscios da culpa e da condenação que carregam sobre si mesmos, por meio dos muitos métodos que arquitetaram para fazer tropeçar os pés dos incautos, provavelmente seriam mais cuidadosos diante das ocasiões de pecar, seja na forma grosseira ou na refinada, que apresentam de todos os lados, em teatros, danceterias, salas de jogos, bares, por meio de figuras e histórias estimulantes, e em outras milhares de formas.
Sobre o perdão, V. 3) Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti; repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe. 4) Se por sete vezes no dia pecar contra ti, e sete vezes vier ter contigo, dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe. 5) Então disseram os apóstolos ao Senhor: Aumenta-nos a fé. 6) Respondeu-lhes o Senhor: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te no mar; e ela vos obedecerá. Os filhos do mundo literalmente fazem questão de escandalizar, de ofender com deliberada intenção e para ferir e induzir a pecar. Mas entre os cristãos também acontece – e com freqüência – que um irmão ofende ao outro, magoa-o por meio de algum pecado não premeditado ou num momento de fraqueza. Deviam, por causa disso, prestar atenção, deviam sempre estar de vigia sobre si mesmos, para que não se tornem culpados e escandalizem a um irmão. E quando um irmão ofende, de qualquer maneira, então o cristão que sabe do pecado devia sinceramente admoestá-lo, Mt. 19. 21,22. Logo que o irmão, em virtude disso, se arrepende de seu pecado, o cristão devia perdoá-lo plena e graciosamente, mesmo que o mesmo processo deva ser repetido sete vezes num só dia. O coração dos cristãos devia participar na natureza do coração de Cristo, ou do de Deus em Cristo, que não conhece fim nem limite. Sempre que vem a confissão: Estou arrependido, então devia ser dada, em retorno, a certeza que o assunto está perdoado. É verdade, que uma tal medida de amor ao irmão que erra requer um amor incomum, e, por isso, um volume igualmente grande de fé. Os apóstolos estiveram cônscios deste fato. Segundo as circunstâncias daquela hora, não se consideram à altura da tarefa que Cristo apresentou. Por isso, depois de meditar um instante sobre a admoestação, pediram-lhe que lhes acrescentasse mais fé. Esta oração é diariamente necessária a cada cristão, quando deseja que seu amor acompanhe o passo das muitas demandas que ele exige. A fé precisa crescer na mesma medida do amor. Um cristão buscará sempre com maior diligência, e mergulhará sempre mais nas profundezas do amor de Deus em Jesus seu Salvador. Tão só desse modo será ele capaz de praticar o perdão que é exigido pelo seu discipulado de Cristo com relação a seu irmão. O Senhor aproveitou a ocasião para ampliar um de seus tópicos favoritos, a saber, o da força na fé. Caso tivessem fé, tão só do tamanho dum grão de mostarda, teriam o poder de dizer à amoreira ou sicômoro à sua frente, que se arrancasse como suas raízes e se plantasse no mar, e ela lhes obedeceria sem questionar. Notemos: Crescer na fé e no poder da fé, precisa ser a ambição sincera de cada cristão. Os métodos pelos quais pode ser alcançado crescimento na fé são a oração sincera ao Senhor, a confiança resoluta em suas promessas e uma contemplação constante de sua palavra.
Em obras nenhum mérito, V. 7) Qual de vós, tendo um servo ocupado na lavoura ou em guardar o gado, lhe dirá quando ele voltar do campo: Vem já e põe-te à mesa? 8) E que antes não lhe diga: Prepara-me a ceia, cinge-te, e serve-me, enquanto eu como e bebo; depois comerás tu e beberás. 9) Porventura terá de agradecer ao servo por ter este feito o que lhe havia ordenado? 10) Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer. Visto que a fé, conforme a explanação do próprio Senhor, se mostra em boas obras, em ações de misericórdia e de perdão e em outros atos maravilhosos, que sem fé são impossíveis, pode ter surgido nos corações dos discípulos a idéia de que, em virtude disso, obras eram meritórias, e que, à vista de Deus, mereciam algo. O Senhor, porém, exclui este pensamento por meio duma narrativa parabólica, isto é, com uma comparação como uma aplicação muito forte. “O objetivo de Cristo não é ensinar em que espírito Deus lida com seus servos, mas antes ensinar em que espírito nós devemos servir a Deus.” Se um dono tem um escravo que esteve no campo a lavrar ou a fazer a tarefa de pastor do rebanho, e quando este escravo volta para casa ao anoitecer, não lhe dirá: Vai logo e janta. O dono continuará a exigir os préstimos do escravo, pedindo-lhe, primeiro, a lhe preparar o jantar, e então cingir suas vestes e servir à mesa. Depois que o senhor da casa comeu e bebeu, o escravo também poderá jantar. O dono não pensaria em agradecer ao escravo pelo trabalho que, desta forma, realizou, pois o servir foi considerado como algo evidente. Tudo fazia parte do trabalho do dia. A figura não é dura ou carregada demais, mas foi tirada de condições que, no tempo de Cristo, eram comuns em todo o império romano. A seguir o Senhor faz a aplicação, dizendo que também todos os fiéis, quando realizaram tudo quanto lhes foi ordenado, o que inclui todas as exigências que emanam de todas as situações que sempre confrontam as pessoas, quando fizeram toda sua tarefa (caso isso for possível), ainda assim não terão nada de que se envaidecer, nada de que possam exigir de Deus algo em retorno. Ainda são servos que não dão lucro. Só fizeram aquilo que, segundo se esperava deles, era sua tarefa. Mesmo então não há neles qualquer mérito ou dignidade perante Deus. Quando Deus, com semblante terno, olha as boas obras dos cristãos e as luva e recompensa, então isto não é por questão de mérito, mas por graça pura. Tanto maior é nossa obrigação de amor.
(KRETZMANN)
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