Análise de Paulo sobre a Santa Ceia no texto de 1Co 11.23ss. OS. 4 (pp. 346-367)
Contexto histórico
Este texto foi escrito por Lutero no ano de 1520, na época em que ele já estava com uma posição bem firme em relação ao Sacramento do Altar. Isso aconteceu após ter compreendido melhor a Santa Ceia, quando escreveu a obra “Do cativeiro babilônico da Igreja”, confrontando a doutrina tradicional católica. Mas nem todos os adeptos da Reforma, entenderam a Santa Ceia assim como Lutero. E foi justamente para combater os ensinos destes que Lutero escreveu este artigo especial, dando ênfase no ensino dos evangelistas e do apóstolo Paulo.
O Ensino de Paulo
Segundo Lutero, Paulo é o verdadeiro mestre e apóstolo enviado a nós “pagãos”. Porque ele fala de maneira franca quando diz: “Tomai, comei, isto é meu corpo que é partido por vós”. Desse modo ele dá ênfase nos vocábulos “isto” e “meu”, nos mostrando assim de maneira clara, a presença real do corpo de Cristo na Santa Ceia.
Sobre as palavras “que é partido por vós”, alguns interpretam como a morte de Cristo, seu corpo partido por seus sofrimentos na cruz. Mas Lutero afirma que o “partir” aqui é especialmente usado em relação ao pão e ao comer, e significa fazer em pedaços ou distribuir. E ainda reforça sua tese dizendo: o corpo de Cristo não foi partido e feito em pedaços na cruz.
“Este cálice, a nova aliança, está em meu sangue”. Alguns teimaram em dizer que a nova aliança consiste no cálice. Quando perguntados se todos os cálices vazios ou cheios são sinal da nova aliança, respondem: só o cálice de vinho servido é um sinal da nova aliança, etc.
“Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, deveis anunciar a morte do Senhor, até que ele venha”. (1Co 11.26)
Aqui é possível afirmar que o cálice não pode ser compreendido como objeto, utensílio, mas é antes de tudo a bebida que se encontra dentro dele, a saber, vinho. Como Lutero diz: os fanáticos se atêm às palavras de Paulo, onde ele fala pão e cálice, não se reportando ao que já havia dito antes, que o pão é o corpo de Cristo e o vinho é seu sangue.
“Aquele que comer o pão indignamente ou beber o cálice do Senhor indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor.” (1Co 11.27)
Os fanáticos, como Lutero chama os que não aceitam pão e vinho como verdadeiro corpo e sangue de Cristo, e sim apenas como sinal de forma figurada. Neste texto querem dizer que o pão é qualquer pão e que não tem nada a ver com o corpo de Cristo. Mas sabemos que neste texto, Paulo fala especificamente aos coríntios, advertindo-os, pois ao se reunirem para a Ceia do Senhor, o faziam de forma indigna por não esperarem uns pelos outros, ao passo de deixarem alguns irmãos sem nada da Ceia. O pecado deles estava no comer e querer satisfazer apenas sua própria barriga.
“O homem se examine a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice”. (1 Co 11.28)
Paulo aqui usa as palavras pão e cálice, mas qualquer pessoa que disser ser estes, simples pão e cálice, interpreta de forma errônea a passagem. Pois como sabemos, estas palavras estão escritas dentro de um texto, e sendo assim devemos observar todo o contexto em que estão relacionadas e não retirá-las do todo. Pois quem quer que o faça, cairá em terrível engano.
“Quem comer e beber indignamente come e bebe juízo para si, como quem não discerne o corpo do Senhor” (1 Co 11.29)
Segundo Lutero este texto é conclusivo, e ainda diz comer indignamente e não discernir o corpo de Cristo é a mesma coisa. E prossegue, quem não considera os elementos da Ceia, corpo de Cristo e lida com eles como se não o fosse, não o discerne como tal .
Temos ainda outro texto onde está escrito: “O cálice da bênção que abençoamos, não é ele a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos, não é ele a comunhão do corpo de Cristo?” (1Co 10.16)
Conforme Lutero, este texto não deixa dúvida de que o pão que Paulo fala é o corpo de Cristo e mais, é o mesmo que é partido e comido entre os irmãos, na Ceia.
Existe uma interpretação maravilhosa, sem rodeios para este texto. “Devemos observar aqui que se fala do pão material que é partido na Santa Ceia entre os irmãos. Logo em seguida Paulo escreve: “Todos nós temos parte de um mesmo pão e de um mesmo cálice, somos um corpo” (1Co 10.17). Aqui ele assegura que a comunhão do corpo de Cristo é o desfrutar do corpo de Cristo, como um bem comum distribuído entre muitos, e isto está bem claro. Este pão também é distribuído aos indignos. Mas estes, não desfrutam dele espiritualmente por não terem fé. Aqui aparecem os entusiastas, que querem distorcer a palavra “comunhão”, e dizem que esta é a comunhão espiritual e existente somente entre os piedosos, sinalizada por uma figurada. Com isto eles mostram que não entenderam as palavras do apóstolo Paulo.
Lutero escreveu: “Pois, ainda que fosse um turco, judeu ou pagão, sem qualquer apreço pela fé cristã, mas ouvisse ou lesse esses textos sobre o Sacramento, teria que dizer: Na verdade, eu não acredito na doutrina dos cristãos, mas isso tenho que admitir: se quiserem ser cristãos e seguir sua doutrina, então devem crer que o corpo e o sangue de Cristo é comido e bebido fisicamente na Santa Ceia.”
ULBRA – UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL
CURSO: TEOLOGIA
DISCIPLINA: Seminário de Teologia em Lutero
PROF: Paulo Wille Buss
ALUNO: Geomar Martins
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