UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL
CURSO DE BACHARELADO EM TEOLOGIA
Disciplina: Exegese do Novo testamento Aluno: Geomar Martins
Professor: Dr. Vilson scholz Data: 21- 05- 08
Trabalho sobre Jo 6.51-58
Neste trabalho será abordado o assunto da eucaristia e seus muitos problemas de interpretação no texto de Jo 6.51-58. Este é um texto bastante complicado, pois, se é levado ao pé da letra pode significar uma coisa e por outro lado se é tomado apenas como palavras figuradas pode levar a outro extremo. Não podemos determinar algo como a única interpretação, pois estaríamos talvez correndo o risco de sermos negligentes quantos aos outros pontos de vista.
Discussão a respeito deste texto se é ou não eucarístico
O autor F.F. Bruce, em seu comentário ao Evangelho segundo João faz um comentário ao alvoroço que houve entre o povo quando Jesus falou que era o “Pão do Céu” e que quem quisesse ter vida teria que comer a sua carne.
A discussão que se levantou entre os membros da congregação foi acalorada e tumultuada: João diz que “eles lutavam” (emachonto). Eles sabiam que Jesus não estava sendo literal; não pensaram que ele estivesse falando seriamente de canibalismo. Mas este era o sentido natural das suas palavras. Era uma maneira ofensiva de falar. Na opinião deles, mesmo em termos figurados. E se ele estava mesmo falando figuradamente, não conseguiam entender qual era o sentido figurado das suas palavras. Uns davam uma interpretação, outros davam outra; uma guerra de palavras surgiu entre eles. Será que é forçado ver nesta discussão uma antecipação das controvérsias perenes nas quais os cristãos se envolveram em relação aos significados das palavras institutivas do Senhor: “Isto é o meu corpo, que é dado por vós” (1Co 11.24) ? [1]
Este comentário pode nos dar algum indicativo de onde pode ter começado toda esta discussão a respeito do assunto. Mas não podemos ainda tomar as palavras do autor como nossa única prova, de que esta discussão começou realmente com os primeiros cristãos. Temos também a opinião de um autor católico, o Padre Lucien Deiss, o qual escreveu um comentário ao texto de João. O autor tem uma opinião bem firme de que este texto se refere à santa ceia. Segue o texto de Lucien Deiss
Segundo uma interpretação puramente “espiritualista” (e um tanto anti-sacramentária), Jesus teria falado unicamente da fé em sua pessoa: comer a sua carne e beber o seu sangue significariam engajar-se totalmente pela fé, “vir a ele” e “crer nele” como diz o texto (6, 34), afirmar que “o filho de José, cujo pai e mãe conhecemos” (42) é pão do céu que dá uma vida eterna(58). Segundo uma interpretação “realista” e pro-sacramentária), Jesus teria falado da Eucaristia em todo o discurso. Enfim, segundo uma interpretação intermédia, Jesus ofereceria dois ensinamentos centrados sucessivamente na fé e na Eucaristia.[2]
É necessário aqui também fazer referência ao que é dito mais adiante pelo autor, e que diz respeito ao texto proposto para este trabalho. Neste o autor deixa bem claro qual é sua posição quanto ao texto
- É preciso fazer uma referência particular à seção 6,51-58. Ela é sem dúvida a mais claramente eucarística. Ora, descobre-se na estrutura e no sentido do versículo 51 uma alusão direta às palavras da Instituição:
Jo 6.51 1Co11,24
O pão que eu darei Isto
é a minha carne é o meu corpo,
para a vida do mundo. que é para vós.[3]
O que não foi contemplado neste trabalho é algo de caráter científico a respeito do v.53, referente à participação de crianças na Santa Ceia por parte de Igrejas ortodoxas. Mas observando o texto é possível fazer algum comentário, mesmo que seja superficialmente. Ao que parece esta prática está atrelada a idéia de que é preciso comer a carne e beber o sangue de Cristo para então ter vida. Isso pode ser por se tomar as palavras de Jesus literalmente onde Ele diz: “se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos.” (v.53) Mas se for bem observado esta questão pode se estar supervalorizando este ato de comer e beber e talvez esquecendo o principal, que é a morte na Cruz para perdão de todos os pecados e a Salvação Eterna.
Já na Fórmula de Concórdia encontramos posição contrária a esta idéia na Declaração Sólida- VII Da Santa Ceia onde mostra como este texto deve ser visto. Particularmente me identifiquei bastante com a posição que é defendida pela Fórmula de Concórdia. Mas confesso que por outro lado ainda penso que pode estar sendo feita uma alusão à Santa Ceia. O texto a seguir chega à conclusão de que
Há, portanto, duplo comer da carne de Cristo, um espiritual, de que Cristo trata precipuamente em Jo 6 (48-58) e que ocorre de nenhum outro modo senão com o espírito e a fé, na pregação e meditação do evangelho, bem como na ceia. E por si mesmo é útil, salutar e necessário a todos os cristãos, em todos os tempos, para salvação. Sem essa participação espiritual, também o comer sacramental ou oral na ceia não só não é salutar, como também é pernicioso e condenatório.[4]
[1] F.F. Bruce, João, introdução e comentário, Série Cultura Bíblica; Edições Vida Nova. São Paulo-SP. 2005. p. 143.
[2] Lucien Deiss, A ceia do Senhor, eucaristia dos cristãos, Edições Paulinas, São Paulo-SP, 1977. p.27.
[3] Lucien Deiss, A ceia do Senhor, eucaristia dos cristãos, Edições Paulinas, São Paulo-SP, 1977. p.28.
[4] Livro de Concórdia. 6ªed. Tradução: Arnaldo Schüler. São Leopoldo: Editora Sinodal, Porto Alegre: Editora Concórdia, 1997. Fórmula de Concórdia, Declaração Sólida – VII Da Santa Ceia. P. 621e 622.
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