A DOUTRINA DO BATISMO II - EDMUNDO SCHLINK

            CAPÍTULO 2

            A OBRA SALVADORA DE DEUS MEDIANTE O BATISMO

            1. O Batismo em Cristo

            a. O Batismo como tornar-se propriedade do Cristo crucificado e ressurreto.
            O Novo Testamento refere-se ao batismo "em o nome de Jesus Cristo" (At 2.38; 10.48), "do Senhor Jesus" (At 8.16; 19.5) ou "do Senhor Jesus Cristo" (1Co 6.11).  Também apresenta o batismo como sendo "em Cristo" (Gl 3.27) ou "em Cristo Jesus" (Rm 6.3). É especialmente difícil estabelecer o sentido das preposições individuais no grego coloquial utilizado no Novo Testamento.  A tradução usual para as duas preposições gregas básicas ("en" e "epí too onómati") não precisam significar "por ordem de" ou "sob a autoridade de" Jesus Cristo.  Podem também ser transcritas como "pelo nome" ou "baseado no nome".  O fato decisivo para o significado das várias combinações preposicionais é a referência ao nome e, portanto, à realidade de Cristo.
            A forma predominante "eis tó ónoma" é geralmente entendida no sentido de tornar-se propriedade de.  Mediante o batismo no nome do Senhor Jesus, a pessoa é colocada sob o senhorio do Senhor Jesus.  Mediante o nome, o batizado é marcado, estampado e selado como a propriedade de Cristo.  Segundo R. Bultmann, o candidato ao batismo é estampado como propriedade do Kyrios e colocado sob a sua proteção.
            Na compreensão de Paulo, a inclusão da pessoa batizada no evento da cruz é inseparável do tornar-se propriedade do Senhor vivo.  Porquanto o batismo sobre (no) nome de Jesus Cristo ocorre com referência à morte e ressurreição de Jesus, ele efetua ao mesmo tempo a entrega ao Senhor crucificado e ressurreto que está presente em sua comunidade.
            Em oposição à interpretação oferecida pela escola da história das religiões que, por analogia, entendeu o nome de Cristo no qual se é batizado como um uso mágico do nome divino, idêntico  à realidade divina, deve-se ressaltar que Jesus Cristo comissiona e age usando de sua liberdade pessoal.  Esse aspecto de liberdade é evidente acima de tudo nas sentenças do Novo Testamento a respeito da relação entre o batismo, a fé e o Espírito Santo.
            Assim como o batismo cristão não é um auto-batismo, mas um ser batizado, assim também o batizado não se torna propriedade de Cristo colocando-se a si mesmo sob Cristo.  Antes, ele torna-se propriedade de Cristo através do batismo. Isto é obra de Deus; isto é aceitação da parte do Senhor.
            O batismo obtém sua força da ação reconciliadora de Deus em Cristo, ou mais exatamente, da morte expiatória de Cristo (1Co 6.11; Ef 5.25-27; Tt3.4-8; 1Jo 5.6; Jo 19.34; 1Pe 1.2; Hb 10.22). É verdade que essa relação entre o batismo, o perdão dos pecados e a morte na cruz não é mencionada em todas as afirmações batismais do Novo Testamento.  Falta especialmente em Atos.  Nas suas fórmulas cristológicas, a ressurreição de Jesus como obra salvadora de Deus ocupa o primeiro plano. 
     O perdão que é concedido pelo Batismo é determinado pelo fato que o batizado é tornado propriedade do Crucificado como o Senhor vivo, presente e ativo. Por conseguinte, esse perdão não é apenas uma remoção de uma impureza meramente cultual, nem um perdoar de transgressões isoladas dos preceitos divinos, nem um cancelamento de uma culpa individual específica (p.44). Além disso tudo, o perdão que é concedido no Batismo é uma mudança de domínio.  Pelo Batismo o homem é liberto do domínio do pecado e colocado sob o comando de Cristo. Pelo batismo, Deus toma posse da pessoa toda, junto com seu passado e seu futuro. Pelo perdão, o passado tornou-se ineficaz, e o futuro consistirá de uma união tão indissolúvel com Cristo que o batizado possa viver livre da culpa.
            O batismo efetua não somente o perdão de obras pecaminosas, mas a libertação da pessoa como um todo da compulsão de pecar - a libertação para uma vida em pureza, justiça e santidade.  Nesse sentido, as afirmações do Novo Testamento sobre esse perdão correspondem à promessa profética do Antigo Testamento da purificação escatológica.  Em contraste com os problemas relacionados ao batismo de João, o batismo cristão diz respeito não apenas a uma promessa escatológica, mas a uma ação escatológica de Deus.
            Pelo fato que Deus entronizou como Senhor e Cristo o mesmo Jesus que morreu na cruz pelo mundo e deu-Lhe o julgamento do mundo, estar sob sua propriedade pelo Batismo significa salvação do dia da ira e do juízo por vir, anunciado pelos profetas e por João Batista, e cuja vinda é também pressuposta na pregação de Jesus sobre o iminente juízo de Deus.  Por meio do batismo cristão a libertação do julgamento final não é apenas prometida, nem somente garantida, mas já realizada, de modos que os batizados estão indo em direção do dia por vir, o retorno do seu Senhor, como  resgatados. Pelo fato deles pertencerem a Jesus, pode ser dito a seu respeito: "Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu, ou antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós" Rm 8.34, in ARA).  A Lei perde sua força acusadora e condenatória sobre os batizados, e a morte perde o seu terror (Rm 14.7,s).
            Portanto, o Batismo também efetua a libertação do homem do domínio de poderes que, por causa do pecado, adquiriram controle sobre ele.  É verdade que, no primeiro plano  das afirmações batismais do Novo Testamento está o perdão dos pecados e o resgate do juízo de Deus e não a libertação da fascinação do maligno e de poderes demoníacos.  No primeiro plano estão também os enunciados positivos sobre a nova existência que se inicia mediante o pertencer a Jesus como Senhor. Também na confissão de Cristo a renúncia ao mundo, que em essência se realiza pela confissão, não recebe necessariamente uma menção explícita. Contudo, ainda que os textos batismais raramente o afirmem, a cedência a Cristo é de fato libertação do domínio dos poderes das trevas.  Mesmo que Cl 1.12,s não se refira propriamente ao batismo, essa passagem pode, nesse sentido, ser a ele aplicada.
            Entender o batismo cristão como um exorcismo, não tem apoio no Novo Testamento, mas sim no fato de se transferir a mágica exorcista do nome conforme  o ambiente da história das religiões para o uso do nome de Cristo no batismo.
            Mediante o batismo Deus entra profundamente na vida humana. Ocorre uma separação entre a vida anterior e posterior ao batismo.  A autonomia humana, que na realidade era sua escravidão pelo pecado e a ruína, terminou.  A nova vida como propriedade de Cristo, a vida em liberdade e esperança, começou.  Essa mudança e novo começo é enfatizado no Novo testamento.

            b. Entregue à morte e ressurreição de Jesus.
            Paulo entendia o Batismo não apenas como uma cedência à pessoa de Jesus Cristo, mas também como cedência à sua história. Batismo em Cristo é batismo na sua morte (Rm 6.3).  Ser cedido a Cristo é ser introduzido na Sua morte na cruz e na sua sepultura. Por meio do batismo, a pessoa é introduzida na morte que Jesus Cristo morreu uma vez por todas.
            O que aconteceu ao batizado, quando foi entregue à morte de Jesus?  "Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo" (Rm  6.4). "...foi crucificado com ele o nosso velho homem..."(v.6). "...já morremos com Cristo..." (v.8). Paulo recebera e passara adiante "...que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado..." (1Co 15.3,4). Usa os mesmos verbos para mencionar o que acontece ao batizado.  Ele "foi crucificado, morreu e foi sepultado" com Cristo.  Assim o juízo de morte que o pecador mereceu foi exercido e, ao mesmo tempo,  suspenso no caso do batizado.  "O corpo do pecado" é "destruído" (Rm 6.6). Começou uma nova vida.
            Por meio do batismo a pessoa experimenta, por semelhança, a mesma coisa que Cristo experimentou na Sua crucificação, morte e sepultamento.  O batismo, neste sentido, é uma réplica do que aconteceu com Cristo.  A morte que Jesus Cristo padeceu na cruz e a nossa morte no batismo são uma e a mesma morte.
            As afirmações quanto ao ser crucificado, morto e sepultado com Cristo não significam que tenha sido removida  a diferença entre Jesus e aqueles que foram batizados nele.  Antes, porém, junto com a semelhança da crucificação, morte e sepultamento, esta diferença é mantida de forma mais enfática.  A crucificação, morte e sepultamento de Cristo são os pressupostos para e tornam possível a crucificação, morte e sepultamento do batizado.
            O batismo acontece na morte de Cristo. "Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado..." (Rm 6.10).  Se no batismo nós morremos com ele para o pecado (Rm 6.10,s), isso está baseado no fato que Ele morreu para o pecado de maneira diferente de nós.  De fato, a ênfase de todo o enunciado em Rm 6.4-11 recai sobre o "com Cristo", ou "como Cristo...também nós".  Paulo fornece uma base geral para a libertação da escravidão ao pecado obtida mediante a morte (v.7), que provavelmente baseia-se na mesma idéia de Rm 7.3, ou seja, que a morte livra de obrigações e vínculos legais. "Cristo morreu por nossos pecados" (1Co 15.3), Ele "foi entregue por causa das nossas transgressões" (Rm 4.25).  A natureza incomparavelmente única da morte de Cristo por nós, é o precedente para todas as afirmações quanto a nós havermos morrido com Cristo no Batismo.

            O conceito de semelhança significa muito mais do que uma simples similaridade. Significa réplica, até mesmo identidade. Esse conceito mantém a diferença entre a realidade e a reprodução exata, a saber, entre a morte de Cristo e aquela do batizado. Cristo não morreu por causa dos seus pecados, mas nós nos tornamos sujeitos da morte por causa dos nossos pecados.  Porque Ele morreu por nós, nosso corpo pecaminoso morreu no batismo, para a vida.  Sua morte uma vez por todas é o evento histórico definitivo e decisivo. No batismo nós somos unidos com Ele num morrer como o Seu.  Tornamo-nos, no batismo, a semelhança da sua morte.
            Paulo não se refere à destruição do corpo mortal, em Rm 6.6, como um objetivo a ser alcançado pelo batizado em algum momento futuro, mas como uma realidade presente da qual o batizado é movido em direção ao futuro: "considerai-vos, pois, mortos para o pecado" (v.11).  Por meio do batismo foi destruído o domínio do pecado de tal maneira que agora a Lei perdeu sua reivindicação acusadora e a morte perdeu seu poder. O batizado não está mais sob o juízo da ira de Deus, mas sob a sua graça.  Embora o batismo não seja mencionado em Gl 2.19,s, é pressuposto como o ato de morrer.  A morte que ocorreu no batismo é a base para o morrer diário com Cristo.  Assim como a morte de Cristo, também a nossa morte ocorrida no batismo é um evento histórico único (Cl 2.11,12).
            No curso da história, o evento da morte de Cristo e o acontecimento do batismo estão separados pelo tempo. No entanto, o interesse de Paulo não está no intervalo entre ambos os eventos, mas na sua combinação e interligação.  Por meio do batismo as pessoas batizadas foram inseridas na morte uma vez por todas de Jesus.  No batismo acontece algo que ainda não havia ocorrido antes dele.  Anteriormente a pessoa estava sob o domínio do pecado. No batismo esse domínio é quebrado.  O batismo não é uma obra salvadora diferente da cruz, pois mediante o batismo o pecador é introduzido na morte de Cristo.  Nesse sentido a distância temporal da morte de Jesus perde sua importância no ato do batismo.  A despeito do intervalo entre a morte de Cristo e o batismo, ambos os eventos são um evento.  Por meio do batismo, Cristo introduz o pecador na morte que Ele sofreu primeiro como sendo a morte do próprio pecador.
            Porquanto morremos com Cristo, também ressurgiremos com ele. Por meio do batismo, a nossa história tornou-se entrelaçada à história de Cristo de tal maneira que ela é nossa história com ele e nele. A participação na morte de Cristo garante a participação na sua vida ressurreta. As afirmações sobre a vida do batizado são feitas no tempo futuro (Rm 6.4,5,8,13). Ao mesmo tempo, aqueles que morreram com Cristo participam da sua vida já agora .
            Não surpreende, por isso, que Colossenses fala não somente do sepultamento dos batizados, mas também da sua ressurreição como um evento que aconteceu no batismo (Cl 2.12-14; 3.1). A fé e o batismo estão juntos, não separados.  A admoestação dirigida à congregação, é também feita com o verbo no futuro (3.3).  A ressurreição que aconteceu é penhor para o futuro ressurgimento do batizado em glória.     Os textos de Romanos e Colossensses, neste sentido, têm a tensão entre o "já" e o "ainda não" da nova vida.
            Uma vez que Deus ressuscitou a Cristo "dentre os mortos, fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais (Ef 1.20), então também é verdade que "estando nós mortos em nossos delitos,nos deu vida juntamente com Cristo - pela graça sois salvos, e juntamente com ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus" (Ef 2.5,6).  Quando isso ocorreu? O batismo está implícito.  Aqui também a história cristã está entrelaçada com a história de Cristo, de tal maneira que a afirmação do Credo que Cristo assentou-se  "à direita de Deus Pai", aplica-se aos cristãos também.


   c. O dom da nova vida e a admoestação para  andar em novidade de vida

            A entrega a Jesus Cristo e ser entregue à Sua morte para uma vida com Ele são obra de Deus.  Como ele realiza essa obra mediante o batismo em nome de Cristo, ele justifica o pecador, liberta-o do juízo, do domínio dos poderes da destruição, e começa para ele uma nova vida.  O Novo Testamento testemunha enfaticamente que Deus fez isso no crente pelo batismo.

            As afirmações batismais do Novo Testamento são mal compreendidas quando isoladas dos imperativos que a elas estão vinculadas. A obra salvadora de Deus no batismo, conforme testemunhada no Novo Testamento, aparece geralmente em argumentos nas admoestações.  Assim, os indicativos que indicam a nova vida do batizado são corretamente interpretados quando os imperativos, que chamam para a atividade do batizado, são a eles adicionados. Caso a ligação entre o indicativo e o imperativo não é observada, a compreensão do batismo corre perigo, seja de interpretação distorcida da obra salvadora de Deus na direção de uma operação mágica, seja indo-se numa direção oposta, quando se reduz o batismo a um mero sinal sem qualquer  efeito.

            Uma vez que os batizados morreram para o pecado, são agora admoestados: "Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado como instrumentos de iniqüidade..." (Rm 6.12,13). Tendo os batizados sido justificados, agora se lhes ordena: "mas oferecei-vos a Deus como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros a Deus como instrumentos de justiça" (Rm 6.13); "...segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão" (1Tm 6.11).

            Tendo sido santificados, aplica-se aos batizados o imperativo: "Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" (Hb 12.14).  Tendo sido salvos, são admoestados: "...desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor" (Fp 2.12).  Havendo sido libertados dos poderes da destruição, são agora enviados à luta contra tais poderes.  Todos esses imperativos são a mais enfática forma de apelo à decisão humana - mandamentos para um envolvimento completo na vigilância, na luta e na perseverança.  É uma forma de uma constante renúncia ao pecado, pelo batizado, e uma obediente volta a Deus.  Nesse processo, todos os enunciados de fatos batismais do Novo Testamento, retornam como imperativo (Ef 4.24). No juízo, em direção ao qual o batizado também está indo, a salvação é prometida àquele que não cai nessa luta.

            A ordem de andar em novidade de vida não anula a nova vida que Deus criara mediante o Batismo.  Porém, ela exige o sim do batizado à obra divina.  Porque Deus salvou o batizado, Ele o chama à atividade da salvação.  Porque Ele o justificou e santificou, também exige o esforço por justiça e santidade. Porque Deus o entregou à morte de Cristo no batismo, ordena-lhe que morra com Cristo.  Porquanto no batismo Deus abrangeu completamente a vida do batizado com seu veredicto escatológico de aceitação e sua obra escatológica da ressurreição, Ele  o convida a encarar o julgamento e a ressurreição por virem de uma forma digna dessa aceitação e ressurreição (Fp 2.13)
            Portanto, os imperativos não são exigências da Lei, porém admoestações do Evangelho, chamando aos batizados a viverem como o povo que Deus criou no batismo, direcionando sua conduta para aquilo que mediante o batismo tornou-se sua nova realidade.
            A desobediência do batizado não é nenhuma negação da obra redentora que Deus nele operou.  A obra redentora, contudo, rejeita a desobediência.  A obra redentora torna-se em juízo para o batizado, se ele a nega  por meio da sua conduta.  Assim, o batismo não é apenas a base para a ética, mas a rejeição  da obediência prescrita questiona a graça batismal.  O batismo e a ética estão interligados um ao outro.  Paulo não apenas liga a ética ao batismo, mas também o batismo à ética. É, por isso, impossível  continuar no pecado para que a graça seja mais abundante (Rm 6.1).

            d. O perigo de separar a compreensão do batismo da história de Jesus Cristo.
            É de importância decisiva para a doutrina do batismo cristão que o nome de Cristo não seja entendido não historicamente e que seja feito menção não apenas ao Kyrios glorificado que fora afastado da história terrena.  É antes ao Crucificado e Ressurreto que o pecador é cedido como a seu Senhor, mediante o batismo.   Sem essa referência ao crucificado como o Senhor presente, também o nome do Triúno Deus estará sujeito a incompreensões, uma vez que a base do batismo não é o eterno Filho como tal, mas o Filho de Deus que tornou-se homem, e portanto o Deus que se revelou na história pelo sacrifício do Seu Filho e o envio do Seu Espírito.
            A identificação paulina ao batismo com a morte e ressurreição de Jesus, interpretando-o como um morrer com Cristo, foi interpretada segundo o contexto próprio dos dois primeiros séculos, na história  de documentos batismais.  A influência dos  mistérios helenísticos na compreensão do batismo cresceram consideravelmente, e o batismo de sangue fora reconhecido como um substituto ao batismo com água.
            Somente no terceiro século teólogos orientais novamente traçaram a compreensão paulina do Batismo.  Orígenes, Cirilo de Jerusalém e Basílio novamente viram o batismo como um morrer e ressurgir com Cristo. No ocidente, essa ênfase paulina   foi destacada especialmente por Ambrósio e Agostinho.  Ao submergir na água e novamente  emergir, o candidato experimenta o morrer para o pecado com Cristo  e o ressurgir de novo.  Mais tarde Tomás de Aquino deu importância central a essas afirmações paulinas.  Com lógica sistemática, ele baseou todos os sacramentos  na morte de Cristo na cruz, contudo em sua doutrina quanto aos efeitos do batismo não se ateve aos problemas exegéticos quanto à relação entre  a morte de Cristo e a do pecador no Batismo.  Mesmo assim, sobre essa base cristológica, seu ensino sobre a lei do amor novamente traçou aspectos da admoestação do Novo Testamento.
            Em seu Catecismo Menor, Lutero cita Rm 6 em resposta à questão sobre o significado do batismo. Ao apelar para  este texto, Lutero não está ensinando o fato único do morrer com Cristo no batismo, mas ensina a admoestação para se morrer com Cristo constantemente.  Mediante o batismo na morte de Cristo, o  velho  homem foi morto e sepultado.






































            2. O batismo pelo Espírito Santo

            a. A atividade do Espírito mediante o batismo

            O batismo no nome de Jesus Cristo é ao mesmo tempo batismo pelo Espírito Santo. O Espírito Santo é dado com o batismo (1Co 6.11; 12.13; 2Co 1.21,22; Tt 3.5; Jo 3.3-6). A água e o Espírito estão juntos no ato da regeneração (pp.58,59). 

            As passagens citadas do Novo Testamento sobre o batismo falam do batismo e da atividade do Espírito Santo como um só ato.(p.59)

            O livro de Atos também testemunha a relação entre a atividade do Espírito e o batismo.  Aquilo que aconteceu no Pentecostes de uma forma fundamental ao pequeno círculo de apóstolos e mulheres sem o batismo, acontece posteriormente a todos os outros que chegam à fé e se submetem ao batismo. Nos textos batismais de Lucas, a água  batismal e a atividade do Espírito Santo permanecem juntos em princípio e de fato. (p.60)

            O Cristo exaltado está ativo mediante o Espírito Santo. Se nós fomos cedidos a Cristo pelo batismo, fomos então entregues à esfera de atividade do Espírito Santo.  "Estar em Cristo" e "no Espírito" é  a mesma coisa no pensamento de Paulo (Rm 8.4; 14.17).  Porquanto o Espírito de  Deus é ao mesmo tempo o Espírito de Cristo (Rm 8.4), o Espírito do Filho (Gl 4.6), o Espírito do Senhor (2Co 3.17), é impossível pertencer a Cristo sem ser guiado pelo Espírito (Rm 8.9). (p.60)

            O Espírito é a presença terrena do Senhor exaltado (1Co 15.45).  No  Espírito é que o exaltado se  revela mais exatamente com o poder da Sua ressurreição.  O evangelho de João distingue Cristo do Espírito mais intensamente do que Paulo. O Espírito Santo é o "outro Parácleto" que virá após a partida do Parácleto Jesus Cristo.  Ele é enviado pelo Pai por meio do Filho.  Ele não falará por sua própria autoridade, mas fará lembrar o Filho. Dará testemunho  do Filho, glorificá-lo-á e guiará à verdade que é Jesus Cristo. O Espírito Santo é a presença do Verbo que se manifestou na encarnação. Aqui também o Cristo exaltado e a atividade do Espírito não podem ser separadas uma da outra.(p.61)

            Em Atos, a exaltação de Jesus Cristo e a outorga do Espírito Santo estão ligados numa forma diferente.  Contudo, embora o derramamento do Espírito Santo é distinguido da ação salvadora de Deus em Jesus Cristo, no intervalo temporal entre a Ascensão e o Pentecostes como um ato separado de Deus, ambos são colocados entre parênteses juntos pelo fato que o exaltado prometera o Espírito e ordenara aos seus discípulos a aguardarem por ele, e que o Espírito Pentecostal, onde quer que seja concedido, leva o povo a louvar o nome de Cristo (p.61)

            Com toda a variedade de afirmações do Novo Testamento a conexão entre Cristo  o Espírito é tão íntima que o Batismo, pelo qual ocorre a entrega a Cristo, é também uma entrega à atividade do Espírito.(p.61)

            Qual é então o sentido do batismo "no Espírito Santo"?  O que diz o Novo Testamento sobre o batismo pelo Espírito deve ser entendido no contexto de tudo o que diz sobre a atividade do Espírito de modo geral.  Com essa perspectiva, a resposta deve ser desenvolvida de modo sistemático (p.61)

            1. Pelo Batismo o Espírito Santo cede o crente a Cristo, o Senhor. Ele lhe concede uma parte na justiça, santidade, vida e glória de Cristo. Ele anula o intervalo temporal que nos separa da morte e ressurreição de Jesus e do seu retorno. (p.61)

            2. O Espírito faz do homem um filho de Deus. Filhos adotados pelo Pai, por meio de Cristo. Filhos de Deus não apenas no futuro, mas já agora. Ele capacita aos crentes a orar como filhos do Pai (Rm 8.14; 1Jo 3.1; Gl 4.6).  (p.62)

     3. O Espírito Santo vivifica o pecador (1Co 15.45; 2Co 3.6; Jo 6.63).  Ele transporta o homem para dentro da vida que lhe fora prometida desde o começo mas que ele perdera. Essa vida surgiu na ressurreição de Jesus dentre os mortos.(p.62)

            4. Ao conceder ao homem uma parte na vida divina, o Espírito Santo ao mesmo tempo o coloca no serviço do amor divino que não deseja a morte de pecadores mas sim que vivam (Gl 5.22).  Nesse sentido, o Espírito Santo cria uma nova comunhão de serviço mútuo. Dom do Espírito e motivação para o serviço são uma e a mesma coisa.  Esse serviço é realizado no amor recíproco entre aqueles que receberam o Espírito, e ao mesmo tempo ele se dirige para fora da comunidade e vai ao mundo.  Porquanto o amor de Deus se dirigiu ao mundo, ninguém tem o direito de reter os dons do Espírito somente para si mesmo. Ao contrário, pelos seus dons, o Espírito coloca os homens no serviço para o mundo. Esse serviço consiste, acima de tudo, no testemunho de Cristo. (p.62)

            Portanto, o Espírito Santo não apenas influencia o homem, mas também entra nele, habita nele, é ativo nele e o motiva, dá-se a ele e o convoca para o  serviço.  A outorga do Espírito no Pentecostes não foi um evento uma vez realizado. Antes, foi um evento inicial seguido de derramamentos posteriores do Espírito, e isso não apenas em adicional ao povo que ainda não o recebera, mas também ao mesmo povo sobre o qual já fora concedido (At 4.31; 9.17; 13.52).   A vinda do Espírito Santo é uma vinda e obra divina constantemente nova.  O mesmo é verdade em relação a cada pessoa batizada. Embora o Espírito lhe tenha sido outorgado pelo batismo, ele deve depender continuamente da vinda do Espírito(Ef 1.14; Rm 8.23; 2Co 5.4). O Espírito dá os seus dons liberalmente, quando e a quem lhe apraz. No entanto, o batismo é o começo do recebimento dos seus dons. (p.63)


            b. Os efeitos do Espírito em conexão com o batismo

            Todos os escritos do Novo Testamento compartilham a convicção comum que todos os que crêem  em Jesus Cristo e são batizados em Seu nome recebem o Espírito Santo.  Contudo, em distinção aos enunciados batismais das epístolas e do evangelho de João, o ato do batismo e a recepção do Espírito não coincidem nos relatos de batismos no livro de Atos dos Apóstolos. (p.64)

            A história do Pentecostes relata a relação temporal do ato do batismo com o recebimento do Espírito (At 2.38,29).  Com o batismo, as pessoas foram recebidas como membros da igreja sobre a qual o Espírito do Pentecostes fora enviado, e a promessa de Joel 3 cumpriu-se também para eles. (p.64)

            O batismo de Cornélio e toda a sua casa, seguiu-se após o Espírito Santo ter sido dado a todos os que ouviram a Pedro (At 10.44; 11.15).  Esse pessoal foi batizado porque receberam o Espírito Santo (10.47; 11.16).  Apolo também era "fervoroso de espírito", mesmo sem haver  recebido o batismo cristão (At 18.25). (p.64)

            Os primeiros cristãos de Samaria não receberam o Espírito Santo até certo tempo após o seu batismo, muito embora este tenha sido administrado em o nome de Cristo.  Receberam o Espírito mediante a oração e a imposição de mãos por Pedro e João, que foram de Jerusalém  a Samaria (At 8.17).  O batismo e o recebimento do Espírito Santo estão aqui separados de tal maneira que não apenas um intervalo de tempo, mas também diferentes pessoas estavam envolvidas. O batismo destes fora administrado por Felipe, enquanto o Espírito Santo fora concedido mediante a imposição de mãos por Pedro e João. (p.64)

            Cornélio e a sua casa foram batizados  porque receberam o Espírito.  Os cristãos de Samaria receberam o Espírito Santo porque foram batizados.  Quanto a Apolo, não é dito diretamente que ele fora batizado no nome de Cristo porque o Espírito estava agindo nele. No entanto, é relatado como algo incomum que ele era "fervoroso de espírito" embora "conhecia somente o batismo de João". Também o relato do batismo dos discípulos em Éfeso (At 19.1,ss), sustenta a idéia que a conexão entre o batismo e o recebimento do Espírito era considerada necessária. (p.65)

            Muito embora o ato do batismo e o recebimento do Espírito não coincidem quanto ao tempo, ainda assim estão tão intimamente relacionados que o batizado não pode permanecer sem os efeitos do Espírito e aquele que está cheio do Espírito não pode permanecer sem o batismo. Muito embora o Espírito não é dado ao crente, em alguns casos, mediante batismo, Ele é concedido numa ligação necessária com o batismo. (p.65)

            Ao mesmo tempo, esses relatos chamam atenção para um intervalo de tempo que está ausente nas demais referências ao batismo no Novo Testamento. Esse intervalo não pode ser desconsiderado em qualquer tratado sobre a doutrina do batismo.(p.65)

            A peculiaridade desses enunciados de Lucas  foram interpretados de várias maneiras.   Desde A. Seeberg a diferença temporal entre o batismo e o recebimento do Espírito tem levado à conclusão que o batismo era originalmente considerado apenas um ato de perdão dos pecados e somente mais tarde como um ato de outorga do Espírito. Isso, contudo, é contestado pelo fato que os textos mais antigos sobre o batismo no Novo Testamento, a saber, os de Paulo, pressupõe a unidade entre o batismo e a recepção do Espírito como auto-evidente.  É evidente, outrossim, que Lucas não está ocupado em apresentar um desenvolvimento da compreensão do batismo. No seu primeiro  relato sobre o batismo (At 2.37,ss), essa unidade é pressuposta (p.65).

            Mais tarde tentou-se explicar a distinção entre o batismo e o recebimento do Espírito indicando-se a concepção de Lucas do ofício do ministério, ou seja, que o Espírito "é concedido somente pelos apóstolos e seus sucessores" (E. Kasemann). (p.66)

            No entanto, a controvertida relação entre o batismo e a recepção do Espírito em Lucas torna-se clara à luz do caráter de seu conceito do Espírito.  Distinguindo-se especialmente das cartas de Paulo, o livro de Atos não trata das operações internas do Espírito no seu receptor. O interesse está totalmente centrado no que o Espírito Santo realiza em público, através do seu portador.  Lucas não classifica a fé como um efeito do Espírito, antes a considera como um pressuposto para o recebimento do mesmo. Nem mesmo a união fraterna entre os crentes é considerada um efeito do Espírito, contudo é pressuposta já antes da concessão do Espírito no Pentecostes (At 2.1).  Lucas também não menciona a filiação, o estar em Cristo a oração-Aba como frutos do Espírito  (p.66).

     Acima de tudo, o recebimento do Espírito significa a começo da coragem para o testemunho público, o dom da profecia, falar em línguas, a autoridade para obras com o poder  divino. Esse conceito do Espírito está muito de acordo com as afirmações do Antigo Testamento sobre os efeitos do Espírito (p.66).

            Essas diferenças entre a compreensão de Lucas e Paulo sobre o Espírito não podem ser desprezadas.  Há, no entanto, uma certa similaridade nas afirmações especificamente paulinas sobre os dons carismáticos, particularmente os dons espirituais da profecia e do falar em línguas.  Paulo também não diz que os dons carismáticos são necessariamente concedidos no batismo. Antes, aquele que, no batismo, foi lavado, santificado e justificado pelo Espírito recebe os dons que o Espírito deseja conceder a todos. (p.66)

     Segundo Paulo, o Espírito determina soberanamente o momento em que o dom do Espírito é concedido.  Por isso o apóstolo exorta os membros da igreja que já receberam o Espírito mediante o batismo a se  esforçarem pelos dons do Espírito. Em contraste com Paulo, Lucas parece estar muito interessado na habitação interna do Espírito  como tal, ou seja, na renovação do pecador mediante o Espírito.  O interesse de Lucas  concentra-se totalmente nas manifestações públicas da atividade do  Espírito, quais sejam, os carismas e serviços conforme  Paulo os  designa. (pp.66/67)

            Ao desenvolver o seu tema principal, a história do avanço do evangelho de Jerusalém a Roma, Lucas manteve esse conceito do Espírito.  O livro de Atos relata o intervalo de tempo entre o batismo e o recebimento do Espírito precisamente como tais momentos históricos na medida  em que são de  significado básico para  o avanço da mensagem e para o crescimento da igreja em áreas novas.  Isso é  visivelmente notado no relato do batismo de Cornélio.  Esse era o passo decisivo para o batismo de gentios. A outorga anterior do  batismo foi a base para esse ponto de partida.  No caso de  Samaria, onde  em ordem inversa o Espírito foi concedido após o batismo, por imposição de mãos, um passo estava envolvido, a saber, o avanço da mensagem sobre Cristo para dentro do território herético que se separara de Jerusalém a séculos atrás (p.67).

            Com o ato  de impor as mãos pela delegação de Jerusalém (Pedro  e João), a comunhão da congregação de Jerusalém com os cristãos de Samaria estava firmada, e a unidade na operação do Espírito naqueles batizados em nome de Jesus  tornou-se uma realidade.  Por um lado, o episódio de Cornélio não pode  levar à conclusão que o  batismo era administrado apenas ali onde o Espírito já havia sido enviado.  Por outro lado, o relato da primeira igreja em Samaria não pode conduzir à conclusão que o Espírito  Santo era  concedido  não pelo batismo, mas somente pela imposição das mãos.  Lucas está tratando de  passos especiais da história da salvação que são de grande significado, a  saber, vencer  antigas e profundas desavenças que prejudicavam o  crescimento da igreja.(p.67)

            O  Espírito Santo introduz o batizado no serviço de progressiva  subjugação do mundo sob o Senhor exaltado. Esse é o assunto  também do restante do Novo Testamento,  especialmente nas afirmações paulinas sobre os dons do Espírito, entre os quais a profecia é mencionada  antes do apostolado (1Co  12.29; Ef 4.11). (p.68)

            Esses incidentes no livro de Atos evitam a compreensão errada  que o Espírito Santo é concedido somente pelo batismo. Ele distribui seus dons  da graça onde e quando  quer.  A referência  a Apolo sendo fervoroso de espírito antes dele conhecer o batismo cristão também deve ser  entendida nesse sentido.  Esse dom do  Espírito, também serviu para o avanço missionário (At 18.25-28).  (p.68)

            Os dois incidentes do livro de  Atos que  falam da imposição de mãos em conexão com o batismo  (At 9.17;  19.6), devem ser distinguidos da comissão para um serviço específico (como aquele de Paulo e Barnabé, cf. At 13.3), e introdução a um ofício (como o de Estêvão e,outros, cf. At 6.6). Contudo, também  tratam dos efeitos do Espírito.  Considerando a compreensão própria  de Lucas sobre o Espírito,  as poucas passagens em Atos não levam à conclusão que nas igrejas antigas o Espírito Santo era recebido não pelo batismo mas pela imposição da mãos. O fato que dons carismáticos eram concedidos de diferentes maneiras não contradiz a certeza expressa nas epístolas e no evangelho de João que o Espírito Santo age mediante o batismo.(p.68)


            c. O dom do Espírito Santo  e a admoestação para andar no Espírito

            O batismo com o Espírito Santo é um ato de Deus. Por meio do Espírito, Ele entrega o crente a Cristo, e pelo Espírito Santo Cristo toma o crente sob o Seu domínio.  O  Espírito Santo age como o Espírito do Pai e do Filho, e dá-se a si próprio ao crente ligando-o a Cristo e fazendo dele filho de Deus.(p.69)

            Aqui  também a atividade do Espírito Santo, que é concedido ao  homem mediante o Batismo, não pode ser separada do imperativo com o qual Deus confronta o batizado.  Se o imperativo não for destacado, poderá resultar numa compreensão mágica do batismo e da atividade do Espírito.(p.69)

            Nos textos imperativos há uma convocação à decisão numa luta entre a carne e o Espírito.  Aqui também  a vida é prometida àqueles que renunciam à carne, mesmo que essa vida seja pressuposta como efeito do Espírito com base no Batismo (Rm 8.9; Gl 5.25; 6.8). (p.69)

            O dom do Espírito que é concedido no batismo não é  um dom apenas daquele momento, mas sim um dom inicial, um pagamento antecipado (entrada) de uma atividade espiritual e duma doação de si mesmo.  A nova vida do batizado não é apenas uma vida procedente do dom do Espírito, porém também uma vida com vistas a posteriores  dons do Espírito.(p.69)

            Ao indicativo é acrescentado o imperativo (1Ts 5.19; 1Co 14.1; 12.31).  Aqueles que receberam o Espírito devem viver pelo Espírito recebido e buscar os dons  carismáticos que são necessários para o serviço na igreja e para o mundo.  Além disso há a  ordem para esperar pela consumação futura da atividade do Espírito pela  qual o corpo mortal será transformado à semelhança da glória da ressurreição de Jesus Cristo.(p.70)

            Como dom recebido, o Espírito nunca deixa de  ser  o doador. Ele é dom e Senhor ao  mesmo tempo. Como aquele que fora outorgado ao homem  e que nele habita, o Espírito  Santo continua sendo aquele que encontra o homem.  Ele é ativo não apenas como um poder, mas como Pessoa.  Assim, o imperativo para obedecer ao Espírito está ligado ao recebimento do efeito do  Espírito  que já ocorrera.(p.70)

            Os imperativos não anulam o indicativo que é válido por causa do batismo, porém o desdobram (complementam).  Embora os imperativos exijam decisões e atitudes dos homens, eles não exigem obras  que seriam a causa do envio do Espírito.  Antes, porém, eles desdobram  a atividade  do Espírito que começara no batismo.   Esses imperativos são por isso também exortações consoladoras  do Evangelho. (p.70)

            É verdade que essas exortações também se tornam advertência, ameaça, juízo, quando o batizado resiste ao Espírito que  lhe fora dado (At 5.3; 7.51; Hb 10.29).    A séria advertência sobre o pecado contra o Espírito Santo, pressupõe o seu recebimento.  O dom do Espírito Santo pode tornar-se num juízo  se é desprezada a orientação do Espírito. A desobediência do batizado não refuta  a atividade do  Espírito no batismo.  Contudo, a atividade do Espírito refuta a desobediência. É impossível vangloriar-se do batismo, da posse do  Espírito, e ser desobediente ao mesmo tempo. (p.70)


            d. O perigo de  se restringir a  atividade do Espírito à compreensão do batismo.


            Como foi o  caso no evento pentecostal, o Espírito Santo não vem no batismo uma vez por todas, mas como início, como alguém a ser esperado sempre de novo com seus dons adicionais.  No batismo o Espírito Santo é recebido como penhor para as atividades posteriores do Espírito. (p.71)

            A história da doutrina do batismo seguidamente revela o perigo de se ignorar essa liberdade da obra do Espírito, ou seja, a liberdade em  que o Espírito Santo alista e guia a vida futura do batizado em novos atos de vir  e garantir dons carismáticos e  orientações.  Há uma tendência freqüente  de se enclausurar  a atividade do  Espírito exclusivamente no batismo e o resultado  do batismo é descrito como sendo a posse do Espírito ou   de um caráter espiritual  em lugar da atividade progressiva do Espírito.(p.71)

            Quando a atividade do Espírito é limitada ao evento do batismo, então a reação inevitável será uma espiritualização  que rebaixa o batismo e fundamenta  sua certeza no "batismo no Espírito" e em outras experiências fora do batismo.  O batismo é entendido como um "lavar regenerador e   renovador do Espírito Santo" (Tt 3.5). Porém, nesses casos, a regeneração é esperada como o resultado de experiências entusiastas.  Essa tendência espiritualizante está presente não apenas entre  os  Quakers, mas acompanha toda a  história da igreja.  Ela resulta duma reação necessária a uma compreensão helenística do Espírito Santo como uma força e substância imposta no batismo, embora o Espírito seja ao mesmo tempo o  doador  e  o dom, o Senhor e o poder, e isso segundo a liberdade de sua ação.  (p.72)


            3. O recebimento na Igreja

            a. O batismo como incorporação no povo de  Deus, o corpo de Cristo e templo espiritual

            Pelo batismo no nome de Cristo, o crente torna-se um membro da igreja.  Assim como a igreja não começou a existir porque os homens se reuniram e fundaram a igreja, assim também em nenhum momento está no poder do homem tornar-se um membro da igreja. A igreja é chamada de "igreja de Deus" não porque no momento da sua adesão os homens se deram a si mesmos esse rótulo, mas porque Deus aqui reunira homens e os unira uns aos outros.  O homem não faz de si mesmo um membro da igreja, porém ele é feito um membro. Ele não se une  à igreja,  porém é recebido na igreja.  Nesse sentido Paulo falara de ser  "batizados num só corpo"  (1Co 12.13) e Lucas de  "um acréscimo" à igreja por meio do batismo (At 2.41). (p.72)

            Recebimento na igreja significa recebimento na assembléia de culto, não apenas admissão para ouvir a proclamação e participar na oração, mas  também na Ceia do Senhor.   Portanto, segundo as ordens batismais da igreja antiga, a Primeira Comunhão estava associada  ao batismo. É dessa reunião de culto que a igreja recebeu o seu nome.  Como assembléia do povo de Deus, ela é a ecclesia.  Em virtude do recebimento do corpo de Cristo na Ceia do Senhor, a igreja é o corpo de Cristo. Como comunhão de louvor e adoração, ela é o templo do Espírito Santo.  Não é como se a igreja existisse somente no evento da reunião de culto. Contudo, essa reunião é o centro de toda a vida eclesial. É esse centro que define os conceitos de igreja, o corpo de Cristo e o templo espiritual. (p.73)

            Na congregação de culto, Deus serve  os  reunidos  e os torna Seus servos. A proclamação não é aqui apenas uma recordação da obra salvadora que Deus realizou no sacrifício e ressurreição de Jesus Cristo, mas por meio dessa proclamação Deus age como aquele que está presente e permite a participação na morte e ressurreição de Cristo. A proclamação não apenas estabelece o prospecto da vinda de Cristo, mas por meio dessa proclamação aquele que vem age como quem está presente e concede participação na vida em cuja direção os crentes olham.  O mesmo ocorre com a Ceia do Senhor.  Ela não apenas recorda a morte de Jesus na cruz, porém o crucificado está presente como exaltado e se dá a si mesmo, seu corpo e sangue, no pão  e vinho consagrados.  A Ceia do Senhor não apenas aponta para a ceia por vir no Reino  de Deus, porém Cristo está aqui presente como aquele que  veio e continua vindo, e agora já concede aos que por Ele esperam a participação nas futuras bodas do Cordeiro com a igreja.(p.73)

            Enquanto os crentes reunidos proclamam a morte de Cristo e esperam a  sua volta, Deus está agindo em Cristo e pelo  poder do Espírito Santo, justificando, santificando, vivificando.  Pelo Batismo o pecador é elevado a esta constantemente nova atividade salvadora com a qual Deus serve a comunhão dos crentes.  Ao mesmo tempo, Ele está chamando ao serviço pelo qual a congregação responde a Deus, a saber, na confissão comum dos pecados e da fé, na oração comum, na intercessão, nas ações de graças, e na adoração, onde a Congregação se oferece a si mesma em sacrifício a Deus. (p.73)

            Unindo os crentes congregados consigo mesmo, Deus também está unindo-os uns aos outros. Na comunhão da Palavra, da Ceia do Senhor e da oração, cresce ao mesmo tempo a comunhão dos batizados entre si.  "Comunhão do santos" significa, antes de tudo, comunhão no recebimento de dons sagrados, mas como  uma tal comunhão ela é ao mesmo tempo a mútua comunhão daqueles que foram santificados por Deus.  Como os membros da igreja são na assembléia de adoração chamados para fora do mundo sempre de novo, eles são o novo povo de Deus no qual foram superadas as divisões deste mundo (Gl 3.28). (p.74)

            Cada membro da igreja recebe um dom especial do Espírito para o serviço na igreja e ao mundo. Por meio da variedade de dons espirituais, Cristo manifesta a sua presença na igreja. Essa variedade faz parte da essência da igreja em todas as épocas. Pelo batismo, o crente é tornado partícipe dessa comunhão de dons e serviços carismáticos e é ele próprio colocado a serviço dos seus irmãos (p.74)

            No Novo Testamento, a palavra ekklesia significa ambos, a congregação local e toda a igreja na terra. Do mesmo modo o corpo de Cristo e o templo do Espírito não se aplicam apenas à igreja local, mas também à igreja universal (especialmente em Efésios). A razão para o uso do mesmo termo para a congregação local e o povo de Deus espalhado por todo o mundo é que em cada congregação de adoração o mesmo Cristo se faz presente. (p.74)

            Porquanto um e o mesmo Deus em Cristo, mediante o Espírito Santo tem misericórdia dos seus em todos os lugares, Deus une tais congregados localmente, não apenas uns com os outros, mas com todos os crentes na terra.  A igreja local não é somente uma parte da igreja toda, e a igreja toda não é meramente a soma das igrejas locais, porém em cada uma das igrejas locais a igreja toda se manifesta pela presença do único Senhor.  Logo, a relação da igreja universal com as muitas igrejas locais não é uma relação de adição, porém de  inclusão. Por essa razão, o batismo significa o recebimento na "única, santa, igreja cristã e apostólica" (Credo Niceno). (p.75)    

NT.: O autor usa o termo "católica". Optamos por "cristã", conforme encontramos na versão luterana do Credo.

            No entanto, a igreja única na qual o homem é batizado não é apenas a comunhão de todos os crentes que vivem na terra na mesma época, mas também a comunhão com os pais que nos precederam na fé.  Temos comunhão com eles como com aqueles que estão vivos, muito embora tenham morrido.  O povo de Deus em peregrinação terrena e o povo de Deus que chegou ao alvo são o único e o mesmo povo, embora isso não possa ser visto.  Mediante o batismo o indivíduo é introduzido nesse único povo de Deus que Ele reúne em todos os lugares e épocas e um dia apresentará visivelmente na grande ceia. (p.75)

            A igreja não é um fim em si mesma, porém um instrumento do domínio impregnante de Cristo sobre todo o mundo.  Através da igreja, Cristo expõe o fato que o mundo está sob julgamento e lhe proclama a salvação.  Através da igreja, Deus chama os homens ao arrependimento e à fé e se dirige a eles com o propósito de salvá-los (p.75).  Portanto, a igreja não é somente uma comunhão de contemporâneos, nem apenas uma comunhão com aqueles que os antecederam na fé. Antes, a igreja é direcionada à comunhão com aqueles que estão ainda longe e fora e que crerão. Nem por um momento pode a igreja permanecer imóvel.  Ela é o povo de Deus em peregrinação, o povo rejeitado pelo mundo. Ela é o corpo de Cristo em crescimento, o templo em crescimento - crescendo em número de povo e nos dons.  Porquanto Cristo, a cabeça do corpo, a "pedra angular" do edifício (Ef 2.20), é Senhor sobre tudo, a igreja é "católica" desde o princípio. (p.76)

            No batismo o crente deixa de ser individual.  Como batizado, ele não é mais um indivíduo isolado, mas um membro do povo de Deus, povo em que Deus une em todas as épocas os crentes em Cristo, mediante o Espírito Santo (p.76).  Cristo e a igreja se pertencem.  Estar em Cristo significa estar na esfera do domínio de Cristo, no corpo de Cristo, na igreja.  Portanto, batismo em Cristo é, em sua essência, ao mesmo tempo, recebimento na igreja.(p.77)


            b. Incorporação na igreja e o comissionamento para o serviço ao mundo.

            O ato divino de ser recebido na igreja não está separado do mandamento divino sob o qual a igreja se encontra com cada um dos seus membros.  (p.78)

            A igreja vive no mundo em um movimento primariamente duplo: como chamada por Deus para fora do mundo sempre de novo e como enviada ao mundo sempre de novo.  A resposta da congregação não pode consistir apenas de testemunho, oração e confissão de culto, mas precisa mover-se para fora da reunião e avançar na intercessão pelo mundo e testemunhar perante ele.  A obra da missão pertence à essência da igreja. Ambos os movimentos, ser salvo do mundo e a ele novamente enviado, necessariamente andam juntos.  Se a igreja não pode ser chamada para fora do mundo, seu serviço ao mundo levará à secularização.  Contudo, a igreja torna-se uma parte desse mundo também quando ela se torna introvertida e se omite do serviço a outros.(p.78)

            Assim, pois, o imperativo ligado à incorporação na igreja recebe a seguinte explicação:
            Uma vez que Deus fez dele um membro da igreja mediante o batismo, o batizado está sob  mandamento de servir à reunião de culto. Como um membro do povo de Deus ele deve agora viver com os outros membros no recebimento unido dos dons que Deus concede ao Seu povo cada dia de novo mediante a Palavra e o Sacramento do Altar.  Pois Deus deseja continuar e completar para cada um aquilo que começara no batismo.  Porquanto Deus está aqui servindo ao batizado, este deverá servir aos seus irmãos com o dom que ele recebeu e assim, participando dos dons carismáticos oferecer a Deus o sacrifício de louvor que responde ao sacrifício na cruz. (p.78)

            Uma vez que os crentes foram incorporados num só corpo, o mandamento do amor aos irmãos se lhes é pertinente.  Tendo sido edificados na mesma casa espiritual, é a eles que se lhes refere a palavra de Pedro: "também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo" (1Pe 2.5 = ARA).  Tais imperativos não são exigências de uma lei impossível de ser cumprida.  Pelo contrário, estão baseados na ação graciosa de Deus e expressam essa ação. (p.79)

            A obra de Deus pelo Espírito Santo inclui o mandamento do serviço, não apenas na comunhão de crentes entre si, mas também do serviço ao mundo.  Cada pessoa batizada é enviada por Deus para ser uma testemunha em seu lugar segundo a orientação e dom do Espírito Santo que recebera.  Esse imperativo é, também, um mandamento da graça que não exige nada que Deus já não tenha concedido. Contudo, é vontade de Deus que aquele que recebeu esses dons os afirme, busque, manifeste e ponha-os a trabalhar no testemunho de Cristo.  Na decisão de servir, o batizado deve providenciar o rumo para o seu dom. (p.79)

            O batizado deve servir não apenas na obra salvadora de Deus pelo Evangelho, mas também na Sua obra preservadora.  Deve ser levado a sério o paradoxo que Deus preserva àqueles que estão sob o juízo, mesmo quando rejeitam a Cristo.  Esse paradoxo obriga a igreja não apenas a proclamar a mensagem de Cristo, mas também envolverem-se na justiça e paz para o mundo. Acima de tudo, porém, a igreja deve proclamar a mensagem de Cristo e testemunhar aos homens a respeito da paz de Deus. (p.79)

            Contudo onde o fato da incorporação à igreja está isolada desses imperativos, e onde o batizado pensa que pode estar certo da sua salvação por meio do batismo e isso mesmo quando se recusa a obedecer entre o povo reunido e enviado por Deus, acontecerá a mesma coisa como foi no caso do povo da aliança do Antigo Testamento no seu caminho pelo deserto.(p.79)   Muito embora "tendo sido todos batizados, assim na nuvem, como no mar, com respeito a Moisés" (1Co 10.2), muitos deles pereceram no deserto por causa da sua rebelião contra Deus e sua missão. "Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos, e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado" (v.11).  O testemunho que o Salvador do povo de Deus não deixa de ser o juiz dos salvos não se limita apenas ao Antigo Testamento.(p.80)

            É muito importante para a compreensão eclesial do batismo não separar as afirmações do Novo Testamento sobre a unidade de Cristo e da igreja.  Mesmo sendo a igreja um só corpo com Cristo, Ele mesmo permanece sendo a Cabeça e continua a confrontar a igreja com o Senhor.  Ele é capaz de condenar não somente membros individuais, mas igrejas inteiras  (Ap 3.15,16). Cristo foi estabelecido juíz não somente sobre o mundo, mas também sobre todos aqueles que são chamados pelo Seu nome. (p.80)


            c. O perigo de se reduzir a compreensão do batismo à membresia externa da igreja

            A igreja consiste de membros verdadeiros e visíveis, vivos e mortos. Ela inclui crentes e hipócritas, penitentes e impenitentes. A ela pertencem esses que são eleitos pela graça e aqueles que serão rejeitados por causa da sua maldade.  Assim a igreja na terra é uma comunhão mista, e os reformadores, seguindo distinções antigas, diferenciavam a "igreja propriamente dita", ou seja, a verdadeira igreja dos crentes, e a "igreja no sentido lato".  Ao mesmo tempo concordavam com as decisões anti-donatistas de Agostinho, declinando explicitamente da tendência de separar a igreja verdadeira da igreja no sentido lato.  Eles deixaram essa separação para o julgamento final de Deus.  Assim, os limites da verdadeira igreja estão ocultos até o dia do juízo. Contudo, os reformadores ensinaram que essa "igreja propriamente dita" que está oculta, é uma realidade e pode ser reconhecida pela pregação do evangelho e a distribuição dos sacramentos. (p.80)

            Esse capítulo trata principalmente daquilo que o crente recebe pelo batismo. Por essa razão, chamamos atenção primeiramente para a fé na obra salvadora de Deus no batismo. Se permanecemos com esse pressuposto, precisamos rejeitar com ênfase a idéia que através do batismo apenas fomos incorporados à comunhão externa da igreja e não na igreja no sentido próprio. (p.81)

     Em vista do grande número de batizados que são membros da igreja somente exteriormente e se afastam da atividade de Deus na proclamação e na Ceia do Senhor, surge a tentação de separar a compreensão do batismo da compreensão do Novo testamento sobre a igreja como o povo de Deus, o corpo de Cristo e o templo do Espírito Santo. Isso pode acontecer ao se reduzir o significado do batismo a uma mera oferta da graça e separando a filiação na igreja a partir do uso que o batizado fará dessa oferta, ou pela compreensão do batismo como apenas um recebimento na comunhão externa da igreja e evitando afirmações sobre a filiação no corpo de Cristo.  Mesmo que a separação entre a "igreja no sentido próprio" e a "igreja no sentido lato" é ainda para o futuro, o crente pode estar certo que ele foi incorporado na igreja verdadeira pelo batismo - assim como ele pode estar certo da sua justificação pela fé enquanto ainda espera pelo julgamento por vir. (p.81)

            Essa certeza da incorporação no corpo de Cristo não deve, outrossim, ser questionada a partir do decreto oculto da eleição de Deus.   Embora o eleito não seja separado do restante até o julgamento final, o decreto da eleição de Deus não permanece oculto até então.  Ao contrário, esse decreto torna-se evidente já agora mediante o chamado à fé e se realiza no crente pela graciosa obra de Deus.  Fundamentados no chamado de Deus e no batismo, podemos estar certos de nossa eleição (Ef 1.3,4). (p.81)


            4. A obra da nova criação do Deus Triúno

            a. O batismo - a obra de Deus em Cristo, pelo Espírito Santo

            Mediante o batismo Deus faz do crente propriedade de Cristo, concede-lhe o Espírito Santo e o recebe  na igreja.  Dessa maneira Deus, mediante o batismo, opera a regeneração do homem e faz dele uma nova criatura (p.82).

            O conceito de regeneração é uma forma diferente de testemunhar a obra da nova criação de Deus que já os profetas haviam proclamado e pela qual clamavam os piedosos da antiga aliança (Sl 51.10).  Como autor da nova criação, Deus agora cumpre  a promessa: "Dar-vos-ei  coração novo, e porei dentro em vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne" (Ez 36.26 = ARA).  A nova criação do homem em Cristo pelo Espírito Santo é chamada de regeneração.  Além disso, a idéia da nova criação tem também um horizonte cósmico na expectativa dos novos céus e da nova terra (p.82)

            A nova criação distingue-se da primeira, a creatio ex nihilo.  Assim como o novo nascimento pressupõe o primeiro, do ventre, assim também a nova criação pressupõe a primeira. Aqueles que já foram criados e gerados, são agora criados e gerados de novo.  De maneira nenhuma pode o homem recriar-se e regenerar-se ou dar-se a si mesmo um novo nascimento.  Quanto mais ele tenta livrar-se de si mesmo, tanto mais ele cai sobre si mesmo. No novo nascimento, Deus produz aquilo que é simplesmente impossível para o homem  (Jo 3.4; Tt 3.5)  (p.82).

            A nova criação começou em Jesus Cristo. Nele Deus assumiu o velho homem (Rm 8.3). Por isso a encarnação do Filho de Deus é o oculto começo do novo homem.  Por essa razão os pais da igreja antiga colocaram o batismo numa relação causal não apenas com a morte e ressurreição de Jesus, mas também com o Seu nascimento. Nosso novo nascimento está baseado no nascimento do Filho de Deus do Espírito  Santo da virgem Maria. Na ressurreição, Deus revelou a Jesus como o primeiro fruto da nova humanidade.  O ressuscitado é o mesmo que antes andara nessa carne terrena, no entanto Ele agora  vive com Deus num modo de existência totalmente diferente, como o glorificado no Espírito, livre das restrições e limitações da carne. (p.83)

            Deus recria os pecadores ao torná-los propriedade de Cristo por meio do Espírito Santo, entregando-os à morte e ressurreição de Cristo e tornando-os Seus membros.  Ele cria a nova humanidade em Cristo, o povo de Deus em crescimento, o corpo de Cristo em crescimento, a casa espiritual em edificação. A igreja, então, tem um significado que vai além dos homens, um sentido que permeia o todo.  A igreja é "a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas" (Ef 1.23) (p.83)

            Essa nova comunhão faz acontecer aquilo que Deus, o Criador, tinha em mente para o homem desde o princípio. Deus criara o homem com amor soberano e fê-lo à Sua imagem.  Num amor como o de Deus, o homem deveria honrar ao Criador louvando a Deus que o amou primeiro.  Numa comunhão como a de Deus, os homens deveriam amar uns aos outros. Num domínio como o de Deus, os homens deveriam ser representantes de Deus na terra.  A tal obediência, Deus prometeu vida eterna.  Os homens falharam nesse destino e tornaram-se sujeitos à morte.  Jesus Cristo, porém, o realizou. Ele é o novo Homem que vive com Deus para sempre. Nele Deus concede vida àqueles que falharam no seu destino.  Em Cristo Deus recria os homens pelo Espírito Santo para que possam viver como Sua imagem. (p.83)

            Essa nova criação está ainda oculta sob pecados, enfermidade e provações - sob o sofrimento e o morrer dos que ganharam a vida (p.83).  A nova criação está ainda oculta na dialética do presente e do futuro.  Ela ainda confronta os homens na forma dupla em que Deus se dirige ao regenerado, na promessa de salvação e no mandamento de tomar posse dessa  salvação. E ainda a nova criação já é uma realidade  pela fé (p.84).

            O conceito da nova criação para referir-se à obra de Deus no batismo, não é o único no Novo Testamento.  Contudo, ele tem a vantagem de envolver a totalidade do homem que é tocado pelo batismo e a totalidade da história humana que chegou ao seu fim e ao seu novo começo no novo homem Jesus Cristo.  Esse conceito envolve a relação entre o indivíduo que é batizado e a nova humanidade  consumada no futuro. Esse conceito também testemunha a obra do Espírito Santo.  Contudo, ele não fornece uma expressão clara do perdão dos pecados, da justificação do pecador, do seu morrer com Cristo e outras asserções do Novo Testamento.  Nem faz alusão à variedade de relações entre o Batismo, a antiga aliança, a história de Jesus e o éschaton, para combiná-los (p.84)

            Como cada expressão dogmática de idéias envolve uma livre escolha, as possibilidades entre as quais a escolha é feita devem ser observadas e expressas constantemente.  Isso significa a obrigação de permanecer consciente dos limites das formulações para o propósito do ensino e manter conceitos dogmáticos básicos abertos para suplementação e correção pelo testemunho Bíblico, que não está implícito neles. (p.84)

            É decisivo partir do princípio que, apesar de toda a  sua variedade, os textos do Novo Testamento indicam a obra de Deus mediante o batismo.  No Novo Testamento, o batismo assinala não somente a obra salvadora de Deus, mas que a  obra salvadora de Deus acontece no evento do batismo (p.85)


            b. O nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo

            Com a exceção do mandamento batismal, o Novo Testamento fala somente do batismo em nome de Jesus Cristo.  A forma trinitário pode representar um desenvolvimento posterior, uma fórmula que era usada primeiro ao lado do nome de Cristo e então substituiu-o.  Com base no testemunho do Novo Testamento a respeito da atividade de Deus pelo batismo, a formulação trina do nome pode ser entendida somo uma interpretação apropriada do nome de Cristo. Por meio do nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, é reconhecida a ação de Deus no batismo em o nome de Cristo. Portanto, a fórmula trinitária não diz nada de novo contra a fórmula cristológica (p.85).

            Na formulação tríade do nome, o "e" com os nomes não é definido adiante quanto ao seu significado. O mesmo é verdade em relação a outras afirmações trinas do Novo Testamento, como por exemplo a bênção, em 2Co 13.14. A unicidade de Jesus Cristo, de Deus e do Espírito Santo não é afirmada explicitamente, mas apenas indicada por meio do "e" de coordenação. É pressuposto que o amor de Deus, a graça de Jesus Cristo e a comunhão do Espírito Santo são concedidos juntos e que a obra de Jesus Cristo, de Deus e do Espírito Santo constituem  uma só atividade. (p.86)

            O mesmo fato observamos em Ef 4.4-7, repetindo-se o termo um só corpo, Espírito, etc.  Aqui também a unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo está implícita.  Portanto, o "nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" deve ser considerado primeiro como tríade, mas não ainda como trinitária. Deve ser notado, outrossim, que o batismo é aqui ordenado ser aplicado "em o nome". O batismo é realizado não em três nomes, mas em apenas um nome. (p.86)

            O próprio Cristo age como Senhor, no batismo, atraindo o batizado para Si próprio mediante o Espírito Santo e se dá a Si mesmo ao batizado. No batismo, Deus Pai e o Filho Jesus Cristo agem pelo Espírito Santo.  O Espírito é ao mesmo tempo instrumento e agente, dom e doador, o enviado e aquele que envia. Mediante o batismo, o Espírito Santo implanta os homens em Cristo e os torna filhos de Deus. (p.87)

            Por causa da unidade de nome e unidade de ação, a igreja chamou a formulação do nome no mandamento batismal não apenas de tríade, mas trinitária.(p.87)  A igreja batiza na convicção que o eterno e trino Deus nos torna participantes da Sua vida eterna no batismo (p.88).


            c. A ação recíproca entre a Palavra, o lavar com água e a obra salvadora de Deus.

            O Novo Testamento apresenta a obra salvadora de Deus mediante o batismo, em parte nomeando diretamente a Deus como o agente (Tt 3.5), em parte mencionando indiretamente, na voz passiva, o que o batizado experimentou no batismo (Rm6.4). O batismo pode ser considerado o instrumento da ação divina, mas pode também ser mencionado como  sujeito da obra salvadora (1 Pe 3.21). Isso não contradiz o reconhecimento que é Deus que salva mediante o batismo.  No entanto, porque Deus salva mediante o batismo, pode-se dizer também que o batismo salva. (p.88)

            O mesmo pode ser dito também para os relatos de lavagens e sobre o nome. Pode-se falar em perdão de pecados não apenas mediante o batismo, mas também do recebimento do perdão pelo Seu nome (At 10.43).  Aqui o nome é provavelmente usado como uma parte potiori (a parte pelo todo) para o ato batismal como um todo.  Assim como o recebimento da salvação pode ser atribuído ao batismo, assim também pode ser atribuído ao ser chamado, sem qualquer diferença substancial de sentido. Isso é verdade considerando que o chamado leva ao recebimento na igreja mediante o batismo. Por outro lado, em vista do lavar com água pode-se também falar de um "lavar dos pecados" (At 22.16; 1Co 6.11). (p.89)

            Assim como a salvação por Deus e a salvação pelo batismo não estão em oposição, assim também o perdão dos pecados "pelo Seu nome" e mediante o lavar não estão em contradição, porém Deus perdoa os pecados mediante o lavar e mediante o nome, e em cada caso está sendo considerado o evento batismal como um todo (Ef 5.26).  Quer o Novo Testamento mencione o nome, ou o lavar, ou ainda apenas seu resultado, seu interesse está sempre concentrado na obra salvadora de Deus mediante o batismo.  Ali a obra de Deus, o evento Palavra e o lavar acontecem num só ato. (p.89)

            Essa centralização das afirmações do Novo Testamento naquilo que Deus faz com o batizado no Batismo, corresponde ao seu interesse particularmente pequeno na descrição do rito batismal como tal.   Nas epístolas esse interesse é de todo deixado. É na linha da centralidade na obra de Deus que as afirmações batismais do Novo Testamento dificilmente demonstram qualquer interesse numa interpretação simbólica do processo batismal, qual seja, a imersão, ou a lavagem, ou a água.   Há, porém, alguns ecos metafóricos ocasionais sobre o ato batismal nos relatos sobre a obra de Deus, como, por exemplo, quando é feita menção à lavagem ou purificação dos pecado.  No entanto, é duvidoso se Paulo via o morrer e ressurgir com Cristo simbolizado pela imersão e a emersão no batismo. (p.89)

            Paulo não se refere ao simbolismo do ato para a explanação do processo.  Ele não reflete sobre isso.  Para ele o batismo é um ser crucificado e um ressurgir com Cristo, porque é administrado no nome de Jesus Cristo.  Todo o interesse está centrado na ação de Deus no batismo, não na correlação entre a ação e o rito batismal, embora haja de fato algumas relações. Em lugar de interpretações simbólicas do rito batismal, há referências relativas às grandes obras de Deus: a criação, a libertação de Israel através do Mar Vermelho e outras ações salvadoras únicas e fundamentais que determinam o futuro. (p.90)

            As declarações batismais do Novo Testamento podem ser interpretadas por uma percepção causativa do Batismo ou também cognitiva.  A última fundamenta-se na primeira.  Nesse sentido, as exortações do Novo Testamento estão fundamentadas na obra salvadora de Deus no Batismo, recordando e exigindo uma vida em conformidade com ela (Rm 6.3-23).  O sentido cognitivo do batismo não deve de maneira nenhuma ser subestimado.  Ele determina  toda a  nossa vida. (p.90)

            A questão se o batismo no Novo Testamento é entendido sacramental ou simbolicamente estabelece uma antítese falsa. A questão é obscura, por um lado, porque "símbolo" pode significar a realidade presente do que é retratado e, por outro lado, o conceito  do "sacramental" não precisa necessariamente conter a concessão da graça.  Se, porém, um símbolo é entendido apenas como um sinal indicando a graça, enquanto um sacramento é entendido como um meio da graça, então a compreensão do batismo no Novo Testamento deve ser sacramental.  O Novo Testamento não nos permite separar o batismo como um mero sinal da ação de Deus (p.90).  Por outro lado, na medida em que o batismo é o sinal pelo qual reconhecemos a ação re-criadora de Deus, ele pode ser considerado um símbolo (p.91).

            A história da compreensão do batismo no segundo século foi-nos transmitida em grande parte na forma de descrições do ato batismal (a Didaquê, Justino Martir, Tertuliano, Hipólito), e pouco na forma de apresentação doutrinária.  Alguns enunciados do Novo Testamento são ignorados, enquanto outros são acrescentados. O material Paulino sobre o morrer com Cristo recebe pouca atenção, embora haja alguma referência à cruz de Cristo (Barnabé 11, por exemplo).  Junto com o perdão dos pecados, os autores do segundo século acentuaram a regeneração, a iluminação, a penhora, e a idéia do batismo como uma consumação. (p.91)

     A grande variedade dessas referências encontraram expressão no desenvolvimento litúrgico do ato batismal que está unido à unção e à imposição de mãos.  Na compreensão do nome, há alguns expedientes na medida em que o nome está relacionado não somente à pessoa que é batizada no nome de Cristo ou do Deus Triúno, mas também à água como tal, que é consagrada para o uso batismal por meio do nome ou da invocação do nome. (p.91)

            Tertuliano fala em detalhes sobre a relação direta entre a água e o Espírito, uma relação que existe desde o começo da criação (Gn 1.2), seu poder gerador, etc.  Ele o faz na tentativa de provar que a água fora adaptada para tornar-se, mediante a invocação de Deus, um sacramento de santificação e outorga de vida (p.91).  Contudo, apesar desses e outros recursos, a ação recíproca da Palavra, do lavar e da obra graciosa de Deus estão resguardadas. Sem o pressuposto dessa ação recíproca, o desenvolvimento da liturgia batismal da igreja antiga seria simplesmente incompreensível.  O fato que o batismo junto com o Espírito Santo e a igreja eram então confessados como partes da fé no Credo Niceno pode ser entendido somente com base na certeza da obra salvadora de Deus mediante o Batismo (p.92).

            Esses enunciados sobre a obra salvadora de Deus são afirmações feitas na fé, e um chamado à fé.  O batismo é considerado pela fé, e os catecúmenos batizados são chamados à fé. O problema sobre o que os incrédulos recebem no batismo ainda não determina a estrutura  dos relatos sobre o batismo. (p.92)

            Utilizando-se do termo mistério para designar o batismo e também a Ceia do Senhor e outros atos eclesiásticos, a teologia oriental partiu do uso do Novo Testamento, onde o termo mistério é usado acima de tudo para testemunhar o plano salvador de Deus e sua realização histórica em Cristo e na igreja. (p.92)

            Orígenes ocupou-se não apenas em definir as relações entre a água e a graça batismal, mas  também com a relação de ambos com o evento Cristo, historicamente único, e a pré-história do Antigo Testamento que aponta para o evento Cristo de forma tipológica. Orígenes partiu do evento batismo visível e externo para o evento espiritual, interno - da imagem externa à realidade espiritual - do símbolo para o mistério.  Contudo, essa distinção conceitual não implica uma separação. No símbolo do batismo o crente participa no mistério, e neste sentido o batismo não é chamado apenas de tipo ou símbolo, mas o próprio mistério em si. (p.92)

     O batismo é ao mesmo tempo representação e outorga do mistério.  É quase impossível determinar o que, nos escritos dos antigos pais, é de fato símbolo e o que é realidade nos sacramentos.  Eles dificilmente consideravam esses dois termos como antitéticos.  De modo geral prevaleceu a opinião que os sacramentos são meios da salvação.(p.93)

            Isso é verdade também em relação aos pais ocidentais.  Na distinção do termo mistério, não há qualquer apoio no Novo Testamento para o termo "sacramento", que foi aplicado ao batismo desde Tertuliano.  No uso da igreja antiga havia ainda uma assimilação em conteúdo para o conceito grego de mistério, mas como um todo o sacramento era pouco considerado como algo representando a realização do mistério-Cristo histórico.  O problema da relação de "visível" e "invisível", de "sinal" e "matéria" permaneceu no sentido restrito um problema da relação do lavar com água e da graça divina.(p.93)

            No entanto, as diferenças na compreensão Oriental e Ocidental do batismo tornaram-se mais aprofundadas por causa do tratamento diverso do  "batismo de hereges".  Enquanto Cipriano concordava com muitas igrejas Orientais, rejeitando o batismo de hereges como inválido, o papa Estêvão reconheceu sua validade. Divergindo de Cipriano, Agostinho também o fez no conflito com os donatistas respondendo a questão, até aqui sem resposta, sobre o que significa a validade do batismo de hereges e o que o incrédulo recebe mediante o batismo. (p.93)

            Os conceitos utilizados por Agostinho para responder a essas perguntas não eram novos.  Já antes da sua época, e também na teologia Oriental, Palavra, água e graça, "sinal" e "matéria" eram distinguidos.   A novidade foi a antítese  entre "sacramentum tantum" (Palavra e elemento)  e "virtus sacramenti"(graça), sacramento e efeito, benefício e uso do sacramento, sacramento e perdão dos pecados, batismo visível e santificação invisível, sinal de salvação e salvação propriamente dita, etc.  O crente recebe a ambos, enquanto o incrédulo apenas o sacramento "simples", "visível", "a forma do sacramento", mas não "a forma da justiça".(p.93)

            Na definição agostiniana das relações entre Palavra, água e graça torna-se evidente um recurso estrutural que vai além das afirmações batismais do Novo Testamento.  As afirmações de Agostinho são feitas a partir de uma perspectiva em que ele demonstra uma recepção  do batismo pela fé e também na incredulidade.  Agostinho criou uma estrutura conceitual da doutrina do batismo que pode ser aplicada igualmente  ao batismo da igreja recebido pela fé e ao batismo de hereges, uma estrutura em que o  sacramento e a graça não são apenas distinguidos, mas também separados. O batismo é um meio da graça para o crente, e é nisso que Agostinho viu  a diferença decisiva  entre o batismo cristão e os ritos do Antigo Testamento e o batismo de João. (p.94)

            Outrossim, não devemos, em princípio, desdenhar o importante recurso estrutural desses enunciados e a separação entre o ato batismal e a graciosa obra de Deus.  Ambos tornaram-se extremamente importantes para a história posterior da compreensão do batismo no ocidente.  De qualquer forma, o referido recurso estrutural fez surgir problemas teológicos que não foram considerados anteriormente e que  poderiam agora ser  elucidados de formas um tanto diferentes.  A definição das relações entre Palavra, água e graça permaneceu um problema básico que não pode ser perdido de vista. (p.95)

            Posteriormente, o ocidente em geral apelava para Agostinho. Opondo-se às opiniões sobre uma graça imanente no Batismo, Boaventura apelou a  Agostinho e insistiu que a graça estava na alma, não no sinal visível.  Tomás de Aquino também rejeitou a idéia da graça sendo contida pelo batismo como numa vasilha, e entendeu o batismo como um instrumento ao qual Deus outorgava poder eficaz momentâneo.  Ele situou-se entre ambos os conceitos ao distinguir entre Deus como a causa primária ativa e o batismo como o instrumento efetivamente utilizado por Deus.  As afirmações agostinianas sobre a Palavra que faz da água um sacramento foram por ele incorporadas a um contexto aristoteliano.  As escolas Franciscanas dos Scotistas e Ocamistas deram maior ênfase à distância entre o sinal sacramental e a realidade espiritual. (p.95)

            Na sua luta contra a doutrina escolástica do batismo, todos os reformadores apelavam para Agostinho e usaram os seus termos. Ao mesmo tempo, todos eles utilizaram-se de recursos além das suas idéias.  A sentença de Agostinho, "quando a Palavra é adicionada ao elemento, este se torna um sacramento", era citada freqüentemente.   No entanto, enquanto Agostinho  provavelmente falasse da Palavra  de  Deus por meio da qual  a água é consagrada e preparada para  o ato batismal, os  reformadores entenderam-na  acima de tudo como a Palavra de Deus que confrontava a  pessoa a ser batizada junto com a água - a Palavra que conduzia a promessa de Deus mediante o batismo, assim como o sermão batismal.  Na  sua elaboração dos conceitos agostinianos de sacramento-graça e sinal-realidade, as opiniões da Reforma sobre o batismo diferem consideravelmente umas das outras.(p.95)

            Na forma definitiva do ensino de Lutero sobre o Batismo, conforme ela aparece nos seus catecismos e foi incluída nas Confissões  da Igreja Evangélica Luterana, a Palavra de Deus aparece num sentido triplo.  Primeiro, como"Palavra e mandamento de Deus que  instituiu, estabeleceu e confirmou o batismo". Segundo, como o nome de Deus, pois "ser batizado em nome de Deus é ser batizado não por homens, mas pelo próprio Deus".  Terceiro, como promessa, que aqui significa mais do que uma simples oferta e  proclamação, antes, mediante a promessa Deus opera no crente o que a promessa declara:   perdão, vida e salvação.  Nesse sentido triplo, a Palavra de Deus é o que constitui o batismo. "O batismo não é apenas água simples, mas é água compreendida no mandamento divino e ligada à Palavra de Deus" (Lutero). Água e Palavra estão tão intimamente unidas que o batismo é definido de duas maneiras, como  água na Palavra de Deus  e como  Palavra de Deus na água.(p.96)

            Lutero afirma com ênfase que a Palavra e a  água não podem estar separadas uma da outra.  Semelhantemente, Lutero pode falar da fé como um agarrar-se à Palavra e um agarrar-se à água. Deus concede perdão, libertação do pecado, da morte e do diabo, vida e regeneração não somente através da Palavra, mas mediante a Palavra e a água - mediante a água na Palavra e mediante a Palavra na água.  Porque Deus é ativo no batismo, Lutero também pode dizer que o batismo "opera a remissão dos pecados, livra da morte e do diabo, e dá a  salvação eterna a quantos crêem, conforme dizem as  palavras e  promessas de  Deus".  Porque a Palavra de Deus está unida à água nessa atividade, Lutero pode chamar o batismo de "água de vida, cheia  de graça e um lavar de renascimento no Espírito Santo".(p.96)


            d. O perigo de se deixar em separado os enunciados sobre a Palavra, o lavar com água e a obra salvadora de Deus.

            A unidade entre o ato batismal e a obra salvadora de Deus, reconhecida e proclamada pela fé, não tem sido sempre e em todo lugar mantida na história da teologia do batismo.  Essa unidade tem sido perdida ou dissolvida de maneiras um tanto diferentes, como por exemplo a compreensão mágica do batismo e a recusa de Zwinglio em considerar o batismo um meio de salvação.  Na seqüência não apresentaremos a história de como as declarações sobre a Palavra, água e graça foram separadas, mas devemos ater-nos a adotar um tipo de concentração tipológica-ideal e  indicar as aproximações mais importantes.(p.97)

            (1) Quando as afirmações sobre o efeito do batismo estão separadas da fé em Deus que age livremente, então ocorre uma incompreensão mágica do batismo.

            O conceito de mágico é ambíguo e controvertido. Como regra, o mágico e a religião são distintos entre si.  O mágico é entendido como uma ação pela qual o homem pensa que pode causar um efeito proveitoso ou destrutivo, sem ter que depender da invocação de uma deidade.  Tratamos aqui de um ato puramente objetivo, onde não está sendo envolvido um ser superior, cuja vontade seria influenciada.  O único pressuposto é que certos modos de ação sejam seguidos de resultados, ou, onde tais ações produzem diretamente os resultados.  Em contraste com a tentativa de chegar ao alvo pelo exercer da pressão sobre  o livre arbítrio de um ser sobrenatural, cada coisa é aqui engrenada ao efeito automático de um certo tipo de ação.  Numa compreensão mágica, portanto, o batismo teria um efeito purificador, vivificante e protetor simplesmente mediante o uso da fórmula batismal e da água, independentemente da invocação de Deus e da sua atividade concreta. (p.97)

            No entanto, na história das religiões, o mágico é encontrado não apenas em distinção da religião, mas também unido com ela. Neste caso, há referência à ação de Deus ou dos deuses, porém o objetivo é  induzir, ou mesmo compelir a ação divina por meio de práticas específicas.(p.97)  Práticas mágicas podem ser importadas por uma religião, porém invocações de Deus e ações sacramentais podem também degenerar para práticas mágicas.  Uma dessas incompreensões mágicas do batismo seria a expectativa de salvação dum batismo sem a penitência, a fé e  a oração.(p.98)

            Não há dúvida que ambas as formas de compreensão mágica do batismo surgiram no curso da história da igreja e podem  ser encontradas ainda hoje. É igualmente evidente que tais incompreensões tem sido promovidas por fórmulas teológicas.  Isso é verdade por exemplo na  sentença medieval: "Os sacramentos contém graça". Assim como está, esta sentença nada  diz sobre a fé como uma condição para o recebimento do  batismo.  Hugo de S.Vítor explicou-a afirmando que a graça estava presa à água como que num recipiente.  Boaventura rejeitou enfaticamente essa interpretação. Para ele, de maneira alguma a graça estava, em sua essência, contida nos sacramentos.  Também os Franciscanos posteriores rejeitaram essa idéia. (p.98)

            A fórmula "ex opere operato", de fato, também levou a uma compreensão mágica do batismo no sentido que a graça batismal era concedida por causa da simples realização do batismo. Por essa razão os reformadores decisivamente rejeitaram essa fórmula. Isso é verdade,  outrossim,  da fórmula "non obex", usada já por T. de Aquino e especialmente pelos Scotistas e os Nominalistas. A fórmula expressa a opinião que  recebe a graça batismal cada um que não lhe imponha intencionalmente algum obstáculo. Essa fórmula foi rejeitada pelos reformadores, porquanto a graça é recebida somente pela  fé. (p.98)

            Embora essas fórmulas tenham ocasionado uma compreensão mágica do batismo, é necessário examiná-las  criticamente e em detalhes, para determinar se na sua intenção teológica original elas realmente foram uma expressão de um pensamento mágico. Mesmo aqueles que, à semelhança de Hugo de S.Vítor, valorizam a fórmula: "os sacramentos contém a graça", não dispensam a atividade de Deus.  Por outro, Boaventua não rejeita simplesmente esta fórmula, mas pôde afirmá-la no sentido que os sacramentos designam a graça que é eficaz - não porém no sinal visível, mas na alma - assim que o sacramento é recebido.  T. de Aquino também usou a fórmula e explicou que os sacramentos contém a graça somente na medida em que Deus faz uso deles como meios de Sua graça. (p.98)

            As afirmações de Lutero sobre a "água cheia de graça e de vida" pode, certamente, também ser  incompreendida magicamente se forem tomadas isoladas do contexto da sua teologia batismal. Mesmo a fórmula "ex opere operato" não pode ser considerada mágica sem uma análise crítica do seu uso.  No seu sentido histórico original, não fora dirigida contra Deus como o agente no batismo, mas sim contra o homem.  O batismo obtém sua eficácia não "ex opere operantis", isto é, não do homem que administra ou recebe o batismo, nem dos pressupostos éticos  do homem, porém somente mediante a  instituição e atividade divina. (p.99)

     Além disso, essa fórmula não  diz  respeito à graça que é recebida no batismo, mas à validade do batismo.  É possível, dentro da teologia católica romana interpretá-la de tal maneira que o próprio Cristo estabelece o efeito de um sacramento e que por isso, na aplicação do sacramento, esteja excluída qualquer manipulação humana da  graça.  Segundo essa compreensão, os sacramentos não estabelecem o controle sobre a graça, mas, ao contrário, o sacramento é sempre o sinal da obra eficaz de Cristo.(p.99)

            (2) Opondo-se  a qualquer forma de  compreensão mágica do batismo, Calvino foi além de Agostinho e perdeu a conexão entre o evento batismal e a atividade divina.  Baseado em Rm 6.3,ss, Calvino pôde, deveras, dizer que mediante o batismo Cristo nos faz partícipes na sua morte, e adicionou a referência a Cl 2.11,12.  Ele afirmou ocasionalmente que, mediante o batismo, Deus nos guiou para a realidade presente e efetivamente operou o que o batismo simboliza.  Disso poder-se-ia  concluir  que Calvino entendeu o perdão dos pecados, o morrer com Cristo, a regeneração e a incorporação ao corpo de Cristo como sendo resultados do batismo. (p.99)

            Contudo, na maior parte das suas  afirmações a atividade de Deus mediante o batismo está restrita a um "significar" (significare),  "esperançar" (polliceri),  "selar" (obsignare), "representar" (figurare), "demonstrar" (ostendere),  "testificar" (testificare), e outros semelhantes.  Mesmo de Rm 6.3,ss e Cl 2.1,ss, Calvino simplesmente deduz que "o livre  perdão dos pecados e a imputação da justiça são...a nós prometidos". (p.99)

            Semelhantemente as designações do batismo como "sinal" (signum), "selo" (sigillum), "retrato" (pictura), "imagem" (imago), indicam que o batismo é compreendido como algo diferente da graça, a "matéria" (res).  O batismo, segundo essas afirmações, não é o meio da ação de Deus que perdoa, une à morte de Cristo e renova, mas  é o sinal pelo qual Deus assegura ao crente a Sua obra salvadora. (p.100)

            Agora, esse sentido cognitivo  do batismo não deve ser subestimado. Calvino firmemente enfatiza seu significado para a confirmação e fortalecimento da fé, e é neste sentido que ele fala do poder do batismo.  Contudo o reconhecimento  desse poder fortalecedor da fé está ligado a uma acentuada rejeição da idéia que o batismo salva.   Essa rejeição não apenas ensina que Deus somente é quem salva, mas que o ato batismal e a atividade re criadora de Deus são dois eventos separados que de nenhum modo precisam coincidir  no tempo. (p.100)

     Seguidamente Calvino chama essa atividade divina sobre um ser humano de precedente para o batismo (especialmente ao estabelecer a base para o batismo infantil), contudo essa atividade divina pode também seguir mais tarde na vida.  Essa disjunção entre o ato batismal como sinal e a obra divina sinalizada pelo batismo aplica-se não somente ao caso especial de um recebimento incrédulo do batismo em que somente o sinal mas não a graça é recebido.  Por conseguinte, Calvino não vê nenhuma diferença essencial entre o batismo cristão e o batismo de João, que prometia o batismo no Espírito mas não o concedia.  Contrário a Agostinho, Tomás e Lutero, ele não conseguiu perceber a diferença profunda entre o batismo cristão e os ritos do Antigo Testamento. (p.100)

            As observações ocasionais de Calvino sobre o batismo como um meio de salvação, devem ser interpretadas à luz das suas afirmações sobre o significado cognitivo do batismo, e não vice-versa.(p.100)  A isso corresponde a forma em que o ensino sobre o batismo no Catecismo de Heidelberg consistentemente compara o evento batismal e a atividade de Deus por meio da fórmula "assim como - assim também" (e expressões similares), assim a conexão entre ambos os atos é noético mas não efetivo-temporal. (p.101)

            Assim como a conexão entre o batismo e a obra graciosa de Deus fora perdida por Calvino na sua doutrina do batismo, assim também a conexão entre Palavra e água.  Ele de fato fala seguidamente da promessa de Deus no batismo e menciona a proclamação e o sacramento lado a lado como igualmente importantes e necessários, mas em outros enunciados o batismo é entendido meramente como um "apêndice" à Palavra, e a Palavra não é entendida como a Palavra de Deus que se expressa no próprio ato batismal, ou como o nome de Deus, mas como a proclamação precedente e posterior.  O acento muda da água atraída pela Palavra para a água, ou o ato de lavar com água, que acompanha a proclamação precedente como um sinal de confirmação. Nesses contextos o conceito sacramental como tal é determinado acima de tudo pelo sinal externo.(p.101)

            (3) Numa maneira completamente diferente, a atividade divina e o  batismo foram separados por Zwinglio e os Anabatistas.  Ao contrário da tradição que segue a Agostinho, o batismo foi aqui entendido não como primeiramente um sinal da graça dado por Deus, mas como o sinal ordenado da obediência humana.  Com base na graça previamente recebida, o crente coloca-se sob a obrigação mediante o batismo. (p.101)

            Assim, no seu "Comentário sobre a religião verdadeira e a falsa" (1525), Zwinglio entendeu o batismo como um sinal de obrigação, de reconhecimento e de confissão.  Ele procedeu do antigo sentido latino secular do sacramento como penhor, juramento, um juramento militar e,  sobre  essa base, interpretou o batismo como uma confissão por meio da qual a pessoa batizada se compromete na presença da congregação.  Para ele os sacramentos são  atos do crente.  Não aquilo que recebemos, mas o que fazemos constitui o sacramento.  Essa compreensão do sacramento não apenas conflitava com a da igreja antiga, com os escolásticos e Lutero, mas também não foi aceita por Calvino.(p.101)

            Mesmo quando Zwinglio, no decurso de  sua discussão com os anabatistas, reconheceu o  batismo não somente como um sinal de obrigação estabelecido pela pessoa batizada, mas também como um sinal da igreja pelo qual ela designa o batizado como seu membro, ele não atribuiu qualquer significado salvífico ao batismo.  Pelo contrário, entendeu-o como a resposta da fé humana à obra salvadora de Deus que precede o batismo.   Zwinglio não considerava o batismo um meio da graça, mas um  sinal que apontava para  a graça de Deus.  Os sacramentos  representam a graça, mas não a concedem.   Assim o batismo é o sinal por meio do qual o crente garante a si mesmo para a obediência pelo imperativo do Novo Testamento, e ele o faz com base no batismo no Espírito que ocorreu antes (p.102).    Conseqüentemente, a obra salvadora de Deus, o batismo no Espírito, está separada do batismo. Zwinglio também faz a diferenciação entre o batismo no Espírito e o batismo com água. (p.103)

            Karl Barth, em seu escrito de 1943, intitulado "O ensino da igreja sobre o batismo", em essência adotou o ensino de Calvino, embora tenha chegado a conclusões diferentes com respeito ao batismo infantil.  Enquanto naquela época Barth  contestou o ensino católico romano, o Luterano e o Anglicano, em sua Dogmática da Igreja,  Vol. IV, p.4, que surgiu em 1967, ele também fez companhia a Calvino e sua obra anterior sobre o batismo, e ele próprio enfatizou sua proximidade a Zwinglio e especialmente  aos Batistas e Menonitas.(p.103)

            Enquanto reconhece a conexão entre o batismo no Espírito Santo e o batismo com água, Barth os distingue acentuadamente, afirmando que se tratam de atividades completamente diferentes de dois sujeitos permanentemente diferentes: De um lado, a atividade de DEUS dirigida ao homem, e do outro, uma obra tornada possível e evocada por Deus, porém do homem para com Deus.  De um lado, é a palavra e o mandamento  de Deus, expressa por meio do dom, do outro, é a obediência da fé do homem, imposta sobre ele como o recipiente   do dom de Deus obrigando-o a  concordar.(p.104)

            Barth rejeita a idéia do batismo cristão como um meio da graça de  Deus.  Para ele o batismo aponta para a  obra realizada por Deus em Jesus Cristo, porém ele não é essa obra.  O batismo é obra e palavra de homens que se tornaram obedientes a Jesus Cristo e depositaram nele sua esperança.  Segundo Barth, o batismo é realizado como batismo de água, procedendo do batismo do Espírito e indicando para ele, porém, como tal, também não  é o batismo do Espírito, ele é e permanece batismo de água.(p.104)

            Em busca de apoio do Novo Testamento, Barth não se dirige muito ao material batismal das epístolas que, segundo ele, não excluem em todas as ocorrências a possibilidade de uma compreensão sacramental.   Ele se fundamenta no batismo de João Batista, com o qual  equipara o batismo cristão em sua essência, como Zwinglio e Calvino  o fizeram, a despeito de admitir algumas diferenças.  Embora Barth acertadamente atribui ao  batismo de João um sentido fundamental e paradigmático para estabelecer a base do batismo,  ele estranhamente  não  inclui  em sua compreensão do batismo o fato que o  de João  foi mudado e cumprido pela descida do Espírito Santo no batismo de Jesus. (p.104)

            (4) Quanto mais rigorosamente o batismo  no Espírito e o batismo na água são separados e quanto mais vigorosamente o acento é colocado sobre a  experiência do batismo no Espírito, do morrer e ressurgir com Cristo e  da regeneração, tanto mais o batismo na água  em geral é questionado.  De fato, os Batistas insistiram mui vigorosamente no batismo em água como um ato necessário de obediência ao mandamento batismal.  Contudo, se a experiência do batismo no Espírito estiver separada de  forma espiritualizante da palavra externa, a  idéia  também  sugere por si separar essa obediência das orientações da  Escritura e, portanto, da ordem batismal e fiar-se na orientação imediata do Espírito.  Assim, no século XVI muitos dos Batistas adotaram na posição de tais espiritualistas como rejeitado o batismo em água. (p.104)


            5. A Necessidade do Batismo

     No começo a proclamação do evangelho não era apenas um chamado ao arrependimento e fé, mas também ao batismo, e as exortações nas cartas  do Novo   Testamento aos membros das congregações, desde o princípio têm feito referência ao batismo. As exortações estão baseadas naquilo que Deus tem feito com os cristãos mediante o batismo.  Que o batismo é a condição indispensável para a admissão na congregação e a participação da salvação, é auto evidente e indiretamente expresso em At 4.12. A fonte mais óbvia para essa prática do batismo observada desde o começo, é a ordem de Cristo, muito embora essa fonte não possa ser historicamente verificada porquanto não temos analogias da nossa própria área de experiência. (p.105)

            Com base na ordem de Cristo, transmitida em Mt 28.19,s e Mc 16.15,s e na prática cristã primitiva geral tem se tornado costume falar da necessidade do batismo e distinguir entre a necessidade do mandamento (necessitas mandati sive praecepti) e a necessidade da salvação (necessitas salutis). As afirmações sobre a necessidade do batismo são muito importantes, conquanto não estamos aqui tratando do batismo como tal em isolado, porém com a admissão à Ceia do Senhor tornada possível mediante o batismo e com toda a graciosa obra de Deus na igreja por meio da palavra, das respostas às orações, e dos dons carismáticos.(p.105)

     Em geral, a distinção entre a necessidade do mandamento e a necessidade da salvação é determinada pela questão se a salvação pode ser obtida mesmo sem o batismo.  A questão é respondida negativamente pelos movimentos intensamente espirituais e pelos Quakers.  Contudo, mesmo para aqueles que respondem afirmativamente, a necessidade de salvação não significa sempre a mesma coisa.  Faz diferença se a necessidade é entendida na perspectiva do batismo como um meio da graça necessário para a recepção da graça, ou se é entendida na perspectiva do batismo como um sinal de obras necessário para a obediência.  A resposta será também diferente se o batismo é visto como um sinal da graça mas não como um meio da graça. (p.106)

            Dependendo da compreensão do batismo, também a necessidade do mandamento não significa a mesma coisa.  Se alguém crê na obra re criadora de Deus mediante o batismo, então esse mandamento é o convite e a permissão para receber a graça.  Se, ao contrário, o batismo é compreendido como o sinal da submissão e confissão do crente, então a necessidade não é mais tanto convite como ela é exigência por obediência completa daquilo que foi ordenado. (p.106)

            A  necessidade do batismo para a salvação pode ser mencionada  no sentido próprio somente quando o batismo é entendido como a obra salvadora de  Deus.  Quando, porém, é visto como sinal da submissão do  homem, então ele está sempre numa relação indireta para com a salvação.  Onde o batismo é entendido não como um meio de graça, mas apenas como um sinal divino de garantia, não se pode falar da necessidade do batismo para a salvação com a mesma exatidão como se pode fazê-lo ali onde o batismo é um meio da graça. (p.106)

            Na prática estas diferenças se revelam na rejeição do batismo infantil, da parte dos Batistas, enquanto Calvino rejeita o batismo de emergência no caso, especialmente, de crianças.  Ele o considera supérfluo, porquanto Deus adota nossos bebês como seus próprios antes mesmo deles haverem nascido.  Ao contrário, porém, onde o batismo é visto como um meio da graça, o batismo de emergência é administrado a crianças e adultos que estão correndo risco de vida. (p.107)

            Quando pelo Novo Testamento nos certificamos da obra re-criadora de Deus mediante o batismo, então não há nenhuma alternativa entre a necessidade de ordem e a necessidade de salvação.  A ordem do batismo está combinada com a promessa "quem crer e for batizado, será salvo" (Mc 16.16).  Este não é um mandamento da Lei, porém  um chamado do Evangelho.  Ele não nos convoca para realização de um rito, mas para  o recebimento da graça.  Não poderíamos captar a essência do batismo se falássemos apenas numa "necessitas mandati" ou "praecepti".  Pois aqui se trata de um tema sobre um convite à recepção da graça e ao mesmo tempo ele diz respeito à necessidade da salvação.  Aqui, "necessitas mandati"  e "necessitas salutis" estão entrelaçadas, assim que a vontade salvadora de Deus é a base interior do mandamento para se receber a salvação no batismo.  Portanto o mandamento batismal participa na estrutura exortativa do Novo Testamento que é mandamento, admoestação e consolação ao mesmo tempo. (p.107)

            Podemos, de fato, falar numa necessidade do batismo para a salvação, somente enquanto chamamos para o recebimento do batismo, porém não se estabelecemos teoricamente que a salvação é impossível sem o batismo.  Se afirmações sobre a necessidade do batismo para a salvação não são feitas dentro da estrutura de convite e exortação, mas na estrutura de decreto legal, esse procedimento levará a perguntas e respostas que desencaminham. (p.107)

     Isso aconteceu com freqüência na história da teologia, como por exemplo na discussão se a salvação de crianças não-batizadas que morreram seria possível.  Agostinho o negou, enquanto outros buscaram uma forma de purgatório mais amena para tais crianças. O conceito da necessidade do batismo para a salvação é viciado quando é antecipado o julgamento final de Deus  sobre os não batizados.  Usar o conceito de forma determinante em lugar de admoestação também tem em si o perigo dos batizados tornarem-se certos da sua salvação de forma errada.   Sentenças dogmáticas como a de T.Aquino, "sem o batismo não há salvação para os homens", deve ser re traduzida para dentro da estrutura de convite a fim de ser válida. (p.107)

            Nenhuma igreja, de fato, tirou as conclusões completas dessa sentença.  Nenhuma igreja ensina uma necessidade absoluta do batismo para a salvação.  Já a igreja antiga reconheceu o "batismo de sangue" dos catecúmenos, em parte, como substituto para o batismo com água e, em parte ainda como suprimindo o batismo.  Além disso, o desejo pelo batismo (votum baptismi) foi reconhecido ainda como um substituto completo ou até mesmo incompleto do batismo, e isso não apenas em tempos de perseguição.  A tese geral sobre a necessidade do batismo para a salvação é desfeita ainda mais quando o conceito do votum baptismi é ampliado de tal maneira que um desejo inconsciente pelo batismo é imputado até mesmo a ateus piedosos que nada ouviram do Evangelho e do Batismo.  Se o batismo é equiparado a um desejo consciente ou inconsciente do mesmo, a necessidade do batismo para a salvação é ainda afirmada só aparentemente.  Aqui há ainda o perigo do ato do batismo experimentar um embasamento contrário à doutrina do batismo (p.108)

            A necessidade do batismo para a salvação não pode ser mantida como uma afirmação teórica geral.  A liberdade de Deus além dos meios de salvação outorgados por Ele - a liberdade da Sua graça - deve ser respeitada. Ninguém pode assumir o controle dessa liberdade formulando exceções a respeito de um votum consciente ou inconsciente - nem estabelecendo enunciados antitéticos como: somente a fé é necessária, porém não os sacramentos. Pelo contrário, devemos respeitar a liberdade de Deus chamando urgentemente a cada um ao arrependimento, à fé e ao batismo. Com a mesma urgência precisamos lutar contra um desprezo do batismo. (p.108)

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EIDAM ELIEU RADINS ELIEZE GUDE ELIMINATÓRIAS ELISEU TEICHMANN ELMER FLOR ELMER T. JAGNOW EMÉRITO EMERSON C. IENKE EMOÇÃO EN ENCARNAÇÃO ENCENAÇÃO ENCONTRO ENCONTRO DE CRIANÇA 2014 ENCONTRO DE CRIANÇAS 2015 ENCONTRO DE CRIANÇAS 2016 ENCONTRO PAROQUIAL DE FAMILIA ENCONTROCORAL ENFERMO ENGANO ENSAIO ENSINO ENTRADA TRIUNFAL ENVELHECER EPIFANIA ERA INCONCLUSA ERNI KREBS ERNÍ W. SEIBERT ERVINO M. SPITZER ESBOÇO ESCATOLOGIA ESCO ESCOLAS CRISTÃS ESCOLÁSTICA ESCOLINHA ESCOLINHA DOMINICAL ESDRAS ESMIRNA ESPADA DE DOIS GUMES ESPIRITISMO ESPÍRITO SANTO ESPIRITUALIDADE ESPÍSTOLA ESPORTE ESTAÇÃODAFÉ ESTAGIÁRIO ESTAGIÁRIOS ESTATUTOS ESTER ESTER 6-10 ESTRADA estudo ESTUDO BÍBLICO ESTUDO DIRIGIDO ESTUDO HOMILÉTICO ÉTICA EVANDRO BÜNCHEN EVANGELHO EVANGÉLICO EVANGELISMO EVERSON G. HAAS EVERSON GASS EVERVAL LUCAS EVOLUÇÃO ÊX EX 14 EX 17.1-17 EX 20.1-17 EX 24.3-11 EX 24.8-18 EXALTAREI EXAME EXCLUSÃO EXEGÉTICO EXORTAÇÃO EZ 37.1-14 EZEQUIEL BLUM Fabiano FÁBIO A. NEUMANN FÁBIO REINKE FALECIMENTO FALSIDADE FAMÍLIA FARISEU FELIPE AQUINO FELIPENSES FESTA FESTA DA COLHEITA FICHA FILADÉLFIA FILHO DO HOMEM FILHO PRÓDIGO FILHOS FILIPE FILOSOFIA FINADOS FLÁVIO L. HORLLE FLÁVIO SONNTAG FLOR DA SERRA FLORES Formatura FÓRMULA DE CONCÓRDIA Fotos FOTOS ALTO ALEGRE FOTOS CONGRESSO DE SERVAS 2010 FOTOS CONGRESSO DE SERVAS 2012 FOTOS ENCONTRO DE CRIANÇA 2012 FOTOS ENCONTRO DE CRIANÇAS 2013 FOTOS ENCONTRO ESPORTIVO 2012 FOTOS FLOR DA SERRA FOTOS P172 FOTOS P34 FOTOS PARECIS FOTOS PROGRAMA DE NATAL P34 FP 2.5-11 FP 3 FP 4.4-7 FP 4.4-9 FRANCIS HOFIMANN FRASES FREDERICK KEMPER FREUD FRUTOS DO ES GÁLATAS GALILEU GALILEI GATO PRETO GAÚCHA GELSON NERI BOURCKHARDT GENESIS GÊNESIS 32.22-30 GENTIO GEOMAR MARTINS GEORGE KRAUS GERHARD GRASEL GERSON D. BLOCH GERSON L. LINDEN GERSON ZSCHORNACK GILBERTO C. WEBER GILBERTO V. DA SILVA GINCANAS GL 1.1-10 GL 1.11-24 GL 2.15-21 GL 3.10-14 GL 3.23-4.1-7 GL 5.1 GL 5.22-23 GL 6.6-10 GLAYDSON SOUZA FREIRE GLEISSON R. SCHMIDT GN 01 GN 1-50 GN 1.1-2.3 GN 12.1-9 GN 15.1-6 GN 2.18-25 GN 21.1-20 GN 3.14-16 GN 32 GN 45-50 GN 50.15-21 GRAÇA DIVINA GRATIDÃO GREGÓRIO MAGNO GRUPO GUSTAF WINGREN GUSTAVO D. SCHROCK HB 11.1-3; 8-16 HB 12 HB 12.1-8 HB 2.1-13 HB 4.14-16 5.7-9 HC 1.1-3 HC 2.1-4 HÉLIO ALABARSE HERIVELTON REGIANI HERMENÊUTICA HINÁRIO HINO HISTÓRIA HISTÓRIA DA IGREJA ANTIGA E MEDIEVAL HISTÓRIA DO NATAL HISTORINHAS BÍBLICAS HL 10 HL 164 HOMILÉTICA HOMOSSEXUALISMO HORA LUTERANA HORST KUCHENBECKER HORST S MUSSKOPF HUMOR IDOSO IECLB IELB IGREJA IGREJA CRISTÃ IGREJAS ILUSTRAÇÃO IMAGEM IN MEMORIAN INAUGURAÇÃO ÍNDIO INFANTIL INFERNO INFORMATIVO INSTALAÇÃO INSTRUÇÃO INTRODUÇÃO A BÍBLIA INVESTIMENTO INVOCAÇÕES IRINEU DE LYON IRMÃO FALTOSO IROMAR SCHREIBER IS 12.2-6 IS 40.1-11 IS 42.14-21 IS 44.6-8 IS 5.1-7 IS 50.4-9 IS 52.13-53-12 IS 53.10-12 IS 58.5-9a IS 61.1-9 IS 61.10-11 IS 63.16 IS 64.1-8 ISACK KISTER BINOW ISAGOGE ISAÍAS ISAQUE IURD IVONELDE S. TEIXEIRA JACK CASCIONE JACSON J. OLLMANN JARBAS HOFFIMANN JEAN P. DE OLIVEIRA JECA JELB JELB DIVAGUA JEOVÁ JESUS JN JO JO 1 JO 10.1-21 JO 11.1-53 JO 14 JO 14.1-14 JO 14.15-21 JO 14.19 JO 15.5 JO 18.1-42 JO 2 JO 20.19-31 JO 20.8 JO 3.1-17 JO 4 JO 4.5-30 JO 5.19-47 JO 6 JO 6.1-15 JO 6.51-58 JO 7.37-39 JO 9.1-41 JOÃO JOÃO 20.19-31 JOÃO C. SCHMIDT JOÃO C. TOMM JOÃO N. FAZIONI JOEL RENATO SCHACHT JOÊNIO JOSÉ HUWER JOGOS DE AZAR JOGRAL JOHN WILCH JONAS JONAS N. GLIENKE JONAS VERGARA JOSE A. DALCERO JOSÉ ACÁCIO SANTANA JOSE CARLOS P. DOS SANTOS JOSÉ ERALDO SCHULZ JOSÉ H. DE A. MIRANDA JOSÉ I.F. DA SILVA JOSUÉ ROHLOFF JOVENS JR JR 28.5-9 JR 3 JR 31.1-6 JUAREZ BORCARTE JUDAS JUDAS ISCARIOTES JUDAS TADEU JUMENTINHO JUSTIFICAÇÃO JUVENTUDE KARL BARTH KEN SCHURB KRETZMANN LAERTE KOHLS LAODICÉIA LAR LC 12.32-40 LC 15.1-10 LC 15.11-32 LC 16.1-15 LC 17.1-10 LC 17.11-19 LC 19 LC 19.28-40 LC 2.1-14 LC 23.26-43 LC 24 LC 24.13-35 LC 3.1-14 LC 5 LC 6.32-36 LC 7 LC 7.1-10 LC 7.11-16 LC 7.11-17 LC 9.51-62 LEANDRO D. 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BRUNO AK SERVES PRÁTICA DA IGREJA PREEXISTÊNCIA PREGAÇÃO PRESÉPIO PRIMITIVA PROCURA PROFECIAS PROFESSORES PROFETA PROFISSÃO DE FÉ PROGRAMAÇÃO PROJETO PROMESSA PROVA PROVAÇÃO PROVÉRBIOS PRÓXIMO PSICOLOGIA PV 22.6 PV 23.22 PV 25 PV 31.28-30 PV 9.1-6 QUARESMA QUESTIONAMENTOS QUESTIONÁRIO QUESTIONÁRIO PLANILHA QUESTIONÁRIO TEXTO QUINTA-FEIRA SANTA QUIZ RÁDIO RADIOCPT RAFAEL E. ZIMMERMANN RAUL BLUM RAYMOND F. SURBURG RECEITA RECENSÃO RECEPÇÃO REDENÇÃO REENCARNAÇÃO REFLEXÃO REFORMA REGIMENTO REGINALDO VELOSO JACOB REI REINALDO LÜDKE RELACIONAMENTO RELIGIÃO RENATO L. REGAUER RESSURREIÇÃO RESTAURAR RETIRO RETÓRICA REUNIÃO RICARDO RIETH RIOS RITO DE CONFIRMAÇÃO RITUAIS LITURGICOS RM 12.1-18 RM 12.1-2 RM 12.12 RM 14.1-12 RM 3.19-28 RM 4 RM 4.1-8 RM 4.13-17 RM 5 RM 5.1-8 RM 5.12-21 RM 5.8 RM 6.1-11 RM 7.1-13 RM 7.14-25a RM 8.1-11 RM 8.14-17 ROBERTO SCHULTZ RODRIGO BENDER ROGÉRIO T. BEHLING ROMANOS ROMEU MULLER ROMEU WRASSE ROMUALDO H. WRASSE Rômulo ROMULO SANTOS SOUZA RONDÔNIA ROSEMARIE K. LANGE ROY STEMMAN RT 1.1-19a RUDI ZIMMER SABATISMO SABEDORIA SACERDÓCIO UNIVERSAL SACERDOTE SACOLINHAS SACRAMENTOS SADUCEUS SALMO SALMO 72 SALMO 80 SALMO 85 SALOMÃO SALVAÇÃO SAMARIA Samuel F SAMUEL VERDIN SANTA CEIA SANTIFICAÇÃO SANTÍSSIMA TRINDADE SÃO LUIS SARDES SATANÁS SAUDADE SAYMON GONÇALVES SEITAS SEMANA SANTA SEMINÁRIO SENHOR SEPULTAMENTO SERMÃO SERPENTE SERVAS SEXTA FEIRA SANTA SIDNEY SAIBEL SILVAIR LITZKOW SILVIO F. S. FILHO SIMBOLISMO SÍMBOLOS SINGULARES SISTEMÁTICA SL 101 SL 103.1-12 SL 107.1-9 SL 116.12-19 SL 118 SL 118.19-29 SL 119.153-160 SL 121 SL 128 SL 142 SL 145.1-14 SL 146 SL 15 SL 16 SL 19 SL 2.6-12 SL 22.1-24 SL 23 SL 30 SL 30.1-12 SL 34.1-8 SL 50 SL 80 SL 85 SL 90.9-12 SL 91 SL 95.1-9 SL11.1-9 SONHOS Sorriso STAATAS STILLE NACHT SUMO SACERDOTE SUPERTIÇÕES T6 TEATRO TEMA TEMPLO TEMPLO TEATRO E MERCADO TEMPO TENTAÇÃO TEOLOGIA TERCEIRA IDADE TESES TESSALÔNICA TESTE BÍBLICO TESTE DE EFICIÊNCIA TESTEMUNHAS DE JEOVÁ Texto Bíblico TG 1.12 TG 2.1-17 TG 3.1-12 TG 3.16-4.6 TIAGO TIATIRA TIMÓTEO TODAS POSTAGENS TRABALHO TRABALHO RURAL TRANSFERENCIA TRANSFIGURAÇÃO TRICOTOMIA TRIENAL TRINDADE TRÍPLICE TRISTEZA TRIUNFAL Truco Turma ÚLTIMO DOMINGO DA IGREJA UNIÃO UNIÃO ESTÁVEL UNIDADE UNIDOS PELO AMOR DE DEUS VALDIR KLEMANN VALDIR L. JUNIOR VALFREDO REINHOLZ VANDER C. MENDOÇA VANDERLEI DISCHER VELA VELHICE VERSÍCULO VERSÍCULOS VIA DOLOROSA VICEDOM VÍCIO VIDA VIDA CRISTÃ VIDENTE VIDEO VIDEOS VÍDEOS VILS VILSON REGINA VILSON SCHOLZ VILSON WELMER VIRADA VISITA VOCAÇÃO VOLMIR FORSTER VOLNEI SCHWARTZHAUPT VOLTA DE CRISTO WALDEMAR REIMAN WALDUINO P.L. JUNIOR WALDYR HOFFMANN WALTER L. CALLISON WALTER O. STEYER WALTER T. R. JUNIOR WENDELL N. SERING WERNER ELERT WYLMAR KLIPPEL ZC ZC 11.10-14 ZC 9.9-12