Ele vive
(para o domingo de Páscoa ou qualquer ocasião especial)
Peça em um ato
Personagens
Pedro
André
Felipe
Tiago
João
Maria, mãe de Tiago
Madalena
Joana
Narrador
Poderá ser um componente da peça ou pessoa que o grupo encontrar disponível para ajudar.
Cenários
O grupo poderá optar por cenário imaginável. Contudo, se houver possibilidade, usar uma rede de pescar estendida no espaço cênico, no alto, e complementar com bancos e acessórios bem rústicos, como vasilhames de barro.
Indumentárias -Túnicas compridas e mantos, como na época de Cristo Ter o cuidado de não repetir cores e não usar tecidos novos e brilhantes. Todos estarão descalços para dar maior qualidade às personagens.
Iluminação Escolher alguém que goste da arte de iluminar. Música
O grupo poderá escolher e adaptar as músicas que achar convenientes.
Narrador (com a igreja às escuras, fundo musical dramático, de preferência um clássico) – “E quando chegaram ao lugar chamado Gólgota, ou a Caveira, ali o crucificaram e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. E dizia Jesus: ‘Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem’. E todo o povo os olhava e também os príncipes que zombavam dele, dizendo: ‘Aos outros salvou... salve0se a si mesmo, se este é o Cristo, o escolhido de Deus!’ E acima da cruz colocaram um título escrito em letras – gregas, romanas e hebraicas, dizendo: ‘ESTE É O REI DOS JUDEUS’. E era já quase a hora sexta, e houve trevas em toda a terra ate a hora nona. Escurecendo-se o sol, rasgou-se ao meio o véu do templo. E, clamando Jesus em alta voz, disse: ‘Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito’. E, havendo disto, expirou. E o centurião, vendo o que tinha acontecido, deu glória a Deus, dizendo: ‘Na verdade, este homem era o Justo’”.
(Pausa) (Em seguida acender uma luz fraca, dando idéia de madrugada.)
Narrador (continuando) – “E no domingo,após a crucificação, algumas mulheres das que seguiam a Jesus, saíram para ir ao sepulcro.”
(As três mulheres entram pela porta dos fundos indo em direção à porta da rua, tristes, chorando baixinho e levando, cada uma, um jarro de barro. Depois que elas saem, acendem-se todas as luzes e entram em cenas os discípulos, quietos e tristes. Sentam-se. Pedro, porém, continua andando de um lado para outro, muito ansioso)
André (percebendo a inquietação de Pedro) – Pedro, bom amigo, por que não pára de andar de um lado para outro? Procure descansar um pouco.
Pedro – Descansar? Que tolice, André, que grande tolice! Quem de nós tem conseguido descansar nas últimas horas? Mesmo quando estamos parados, a nossa cabeça ferve, num torvelinho louco!
João – André tem razão. Temos mesmo que nos esforçar para buscarmos a calma. Quanto mais estiver-mos ansiosos, tanto pior.
Filipe (distraído, o olhar distante, sorri tristemente) – Em que situação verdadeiramente triste nós nos encontramos... Abandonamos tudo: a casa, a família que amávamos, nossas profissões...
Tiago (surpreso) – Não fale assim Filipe! Senão o conhecesse tão bem, pensaria que estaria arrependi- do!
Filipe (levantando-se, coloca amigavelmente a mão no ombro de Tiago) – Claro que não, bom amigo. Eu não me arrependeria nunca de ter abandonado tudo para seguir ao mestre (Parece confuso). Ape-nas... não compreendo ainda a nossa situação. Talvez... eu seja mesmo um fraco, por não conseguir suportar a morte de Jesus.
Pedro – Filipe fala por nós, pois todos sentimos o mesmo. Na verdade estamos acabados! A morte do Mestre foi algo terrível, por mais que estivéssemos preparados. Afinal de contas, somos feitos de carne e ossos como todos os humanos.
André (exaltado) – Sim, de carne e ossos. Mas e a nossa experiência com Jesus, e tudo o que vimos e sentimos juntos?!... Meu Deus! Isto não teria sido válido!?...
Filipe – Sim, a nossa experiência foi muito intensa e marcou de modo profundo toda a nossa existência, mas não nos tornou insensíveis à dor da separação. Pensando bem, meus irmãos, não estávamos preparados. Fracassamos, embora ele tantas vezes nos quisesse preparar para o momento final.
Tiago – Alegro-me por que muito de bom nos restou. A nossa determinação de continuar trabalhando na causa para que Ele nos chamou; a nossa união, tudo fará com que, embora entristecidos, estejamos sempre juntos, como Ele nos ensinava.
Pedro (parecendo zangado) – Mas você bem sabe que isto não substitui a falta do Mestre! (quase desesperado). Até quando procurei o seu rosto em vão no meio de nós? Até quando podereis suportar esta enorme dor de não ouvir a sua voz? Digam-me, por favor, até quando?
João (tocando o ombro de Pedro) – Tenha calma, Pedro, calma! E tenha fé. Ele disse que voltaria; Não está mais lembrando? Você esta perdendo a esperança, meu irmão?
Tiago – João está certo. Não podemos perder o ânimo, a fé! Ele disse que não nos deixaria sós, por isso, de nada adianta desesperar. Estamos cheios de dor e isto nos entorpece a alma.
Filipe – Não esquecerei nunca o modo cruel como o trataram. Como se ele fosse um criminoso! E nós não podemos fazer para evitar... meu Deus João – Mas evitar como e porque? Todos sabíamos há muito tempo, que tais fatos aconteceriam. Agora resta-nos esperar e crer nas promessas. Crer, ouviram? Acho que não é tão difícil assim, embora este seja o nosso momento mais difícil.
Pedro (mudando de assunto como para aliviar a tensão) – As mulheres estiveram aqui, assim que o dia começava a nascer. Elas trouxeram algum alimento, que guardei. Se quiserem, temos pão.
Filipe – Eu não desejo nenhum alimento agora. Pedro você deveria ter avisado que elas não fossem muito longe: correm perigo. Agora estamos sendo mais vigiados do que nunca.
Tiago – Sim você está certo, Filipe. Eu avisei minha mãe. Ela estava em companhia de Joana e madalena. Não creio que se afastem demasiado, apesar de...
André (cortando) – Apesar de quê, Tiago?
Tiago – Não sei... tenho um pressentimento. Minha mãe é uma mulher cheia de coragem, e, por isso, não raro torna-se cheia de um espírito audacioso. É o que me preocupa.
João – Eu também temo por elas, pelas outras e por todos nós, mas não nego que me orgulhe da nossa audácia. Afinal de contas, Ele nos ensinou a sermos fortes e cheios de audácia.
(pequena pausa enquanto eles conversam em voz audível)
Maria (entrando a correr pela porta que dá para a rua, passa pela platéia gritando, quase sufocada) – Tiago! Pedro! Meus filhos, que alegria!
Tiago (assustado) – Mãe, o que foi? Onde estão as outras?
Maria – Já vem as duas. É que eu morria de ansiedade por contar-lhes tudo e corri. Logo elas estarão aqui. Oh! Meu filho que alegria!
Pedro – Do que está falando, Maria? Sente-se! Acalme-se!
Maria (sem sentar-se) – Pedro, meu bom amigo, meu irmão (toma as mãos de Pedro), nós fomos ao sepulcro e Ele... não estava lá.
Filipe (sufocando de emoção) – Como não estava, Maria?
Maria – Sim, sim, não estava, Filipe! O nosso Mestre... Ele ressuscitou! Ele vive! Vive! Ouviram?!
Pedro (mostrando-se agitado) – Meu Deus, isto é maravilhoso! Vou até lá, agora.
André – tenha cuidado, Pedro, poderão prender você (segura-o).
Pedro (soltando-se e rindo como louco) – Deixe-me André, eu tenho que ir.
Tiago – Irei com você, meu irmão. Vamos.
João (dirigindo-se até a Maria, após a saída dos dois) – É mesmo verdade, Maria? Não estará você demasiadamente nervosa?
Madalena (entrando acompanhada de Joana) – Não João, ela não está doente. Todas vimos. A imensa pedra do sepulcro estava removida e Ele já não estava lá. Não estava! (Abraça Maria) Meu Deus, que grande felicidade!
Joana (como se sonhasse) – E os anjos! Sim foram anjos... Eles vestiam roupas que brilhavam mais que o sol, mais que mil relâmpagos! Resplandeciam as cores das vestes quando falavam conosco!
André – E o que disseram os anjos? Contem depressa!
Madalena – Disseram-nos que não buscássemos entre os mortos àquele que vive; que o nosso Mestre havia ressuscitado como nos anunciou que faria.
Filipe – Por que foram ao sepulcro?
Joana – Fomos levar aromas para ungir o seu corpo. (rindo) Mas nada usamos: não foi necessário: Ele não estava entre os mortos (as outras a abraçam).
Maria – Realmente tudo isto me parece um sonho. Quase não creio que mesma tenha visto. Eu, uma mortal! Não, eu não sou digna de tamanha graça.
Madalena – Eu também pensei que sonhasse. Meu coração ficou cheio de temos quando vi os anjos, mas depois que ele anunciaram o que tinha acontecido fui possuída de uma grande alegria, uma imensa e doce alegria.
Joana – Uma alegria sem igual, como jamais sentimos em toda a nossa vida. Não estávamos prepara- dos para a morte do Mestre e nem para a alegria de sua volta. Pensei que fosse enlouquecer, tamanha a felicidade que inundou a minha alma.
Filipe – Sinto-me verdadeiramente envergonhado dos meus sentimentos de ainda há pouco. Como pude ser tão medíocre?! Eu que sempre pensei poder ser forte em qualquer situação; como estive abatido, meu Deus!
Maria (dirigindo-se a Filipe, suave, como a mãe de todos eles) – Todos nós estivemos abatidos, meu irmão. Estávamos entristecidos como o próprio tempo, como a natureza, quando o Senhor morreu. Você viu? Parecia que toda a terra chorava conosco. E agora... que grande bênção: todos os elementos da natureza devem alegrar-se também, neste momento que se tornará eterno (dirigindo-se à natureza, à sua volta). Alegrem-se rios, florestas, montanhas, mares! Oh! Que cantem todos os pássaros, todas as criaturas! Que todas as vozes louvem a Cristo, que ressurgiu dos mortos!
Pedro (entrando a correr pela porta da rua junto com Tiago) – Eu vi... Elas têm razão. (No centro de cena). Quando entramos no sepulcro, lá estavam apenas os lençóis que cobriam o Mestre. E depois, imaginem, meus irmãos! – Quando Madalena estava chorando junto ao sepulcro encontrou um homem que pensou ser o jardineiro. Mas quando ele a olhou... era Jesus, ele mesmo – O Messias! Ela contou tudo!
Madalena (entrando a correr) – Eu o vi! Ele vive! É glorioso!
Tiago – O lugar estava impregnado de um mistério que parecia uma canção a nos iluminar a alma. Parece incrível! Quase chegamos a duvidar que isto acontecesse; estivemos a ponto de desesperar, e agora... finalmente!
Joana (aproximando-se da platéia) – Tenho vontade correr agora pelo mundo afora e anunciar a toda gente: “Creiam! – Jesus Ressuscitou!”
Madalena – Que pena que sejamos tão poucos e limitados. Não temos transportes, nem dinheiros, nem nada. Somos mesmos muito limitados.
Maria (aproximando-se de Madalena) – Somos poucos e temos muitas dificuldades a vencer, mas algo me diz que dentro em breve seremos muitos. Muitos... Por todo o mundo a falar do meigo nazareno.
Filipe – Concordo contigo, boa Maria. A mim também esta certeza enche de esperança e alegria.
André – Vida nova, então! Nada de desanimo, o Mestre vive!
João – Está vivo como prometeu! Oremos, meus irmãos! Vamos agradecer por este momento.
Maria (depois de todos estarem de joelhos) – “Deus maravilhoso, nós te agradecemos por esta alegria imensa que nos invade o coração. Teu filho Jesus é vivo, e reina! Não estamos mais sozinhos, nem cansados, nem cheios de medo. Estamos seguros e confiantes. E agora, Senhor, usa cada um de nós segundo a tua vontade. Que possamos ser merecedores da escolha que o Mestre Jesus fez de cada um! Que sejamos instrumentos do teu querer e que através de nós mesmos e de nossas vidas o mundo tenha conhecimento da verdade eterna, da salvação que só Jesus oferece! Que todos saibam que Ele vive para sempre. Amém e amém”.
(Param como num quadro, estático. Em seguida levantam-se lentamente e fazem um círculo. Tiram os mantos, ficando somente com as túnicas e, unindo ao alto as mãos em que estão os mantos jogam-nos ao chão. Depois viram-se todos de costas para a platéia e rapidamente, viram outra vez de frente, espalhando-se no espaço cênico.)
Todos – A história que hoje contamos traz um desafio muito grande para os dias de hoje.
João e Joana – Para os dias de hoje, tão cheios de conflito e medo.
André – Mundo angustiado e apressado. Correr tanto por que e para onde?
Todos (agitados como no centro da cidade, andando apressados de um lado para outro) – pressa: é preciso correr para o ônibus, para o trabalho, para o documento importante! Ninguém tem tempo! Vai começar o programa, corre! Não dá tempo!
(Param imediatamente, estáticos, parecendo indecisos.)
Dois a dois (movimentando-se) – É preciso imitar, aparecer, questionar. É necessário transpor, melhorar... melhorar... (apontam-se uns para os outros:) Pobre vítima da grande máquina.
Maria (imitando propaganda) – “Este é o melhor refrigerante, você bebe sem parar!”
Joana (dando passos à frente) – “Não percam! Grande liquidação. É hora de mudar a decoração!”
Vozes masculinas (esnobes) – “Homens inteligentes fumam, bebem, conquistam, vencem!”
Vozes femininas (sorriso forçado) – “As mulheres mais lindas do mundo, usam o xampu das estrelas!...”
Filipe (enquanto os demais imitam o som prefixo do jornal da TV) – E atenção para mais esta notícia do seu jornal das oito: “Há perigo de uma intervenção militar ainda este ano na Europa. A União Soviética deseja a terceira guerra mundial”.
Todos – Loucura! Caos! Mecanização! – Correr, competir, alienação.
Vozes femininas – Pobre humanidade, que complica tanto, apesar de possuir tão perto as grandes lições.
Madalena – Ah! Gente do meu tempo! – Passageiros de ônibus, trabalhadores, donas-de-casa, vendedores... ricos proprietários e pobre homem que ganha o pão nas grandes construções, escavando o chão. Tanta gente, tantos planos, desenganos... Que solidão! Neuroses, angústias, insatisfações!
Joana – Pobre gente, a minha gente, que o tranqüilizante não tranqüiliza, mas escraviza! Pára um pouco nessa pressa! Pára e pensa, escuta e aceita! Ouve a voz suave de Cristo, sempre calma, a repetir:
“Nada de inquietação: olhai os lírios do campo, e as avezinhas do céu. Vinde a mim, cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Eu sou a verdade e a luz do mundo, quem me segue, não anda em trevas mas vive mais, e vive sempre, eternamente vive!”
Pedro – Hoje em dia, o homem busca a solução para os seus problemas dos mais diferentes modos: remédios, fugas, filosofias e até “simpatias” para curar o mau-olhado.
Tiago – Tanta coisa! Quanta inutilidade! Mas o caminho é um só, e a verdade é única – JESUS.
Todos (alegremente abraçados) – A solução está em Cristo Jesus. O médico; o amigo de todas as horas; o Cristo vivo; sim, Ele vive! (alto.) Ele Vive!
(Saem pela porta da rua, cantando uma música especial, alegre, enquanto caminham e cantam entre o público, vão apertando as mãos das pessoas, cumprimentando, principalmente os visitantes)
Autora: Maria José Resende
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