SAARNIVAARA, Uuras. Luther discovers the Gospel. St. Louis
Após sua entrada no mosteiro, Lutero experimentou duas grandes crises. A primeira foi a conversão ou sua vinda para uma fé pessoal no perdão dos pecados em Cristo. Isto ocorreu no ano de 1512, provavelmente acerca do fim de outubro ou em novembro. A questão central nesta crise foi como ter a certeza do perdão de Deus, que é, como estar assegurado que Deus verdadeiramente esqueceu seus pecados quando a absolvição foi proclamada para ele. Seu falso conceito de expiação, absolvição, e predestinação foram grandes obstáculos em seu caminho para este ponto. Um outro erro que obstruiu foi a tradicional forma não-evangélica de absolvição, que estava em uso na ordem monástica.
Pelos conselhos de Staupitz, Lutero obteve a correta compreensão destas questões, e logo foi capaz de apropriar a garantia do perdão dos pecados pronunciados por Staupitz. E logo "a luz do Evangelho começou a brilhar" em seu coração, e ele "comeu os primeiros frutos da fé e o conhecimento de Cristo," como ele mais tarde relatou. Inseparavelmente associado com a influência de Staupitz era a de Agostinho, Bernhard, e o misticismo. Staupitz mesmo era fortemente influenciado por estes.
Ainda que Lutero possuía uma fé salvadora já em 1512, seu conceito de justificação não era a mesma do seu período maduro. Ele entendia justificação como um processo gradual de religião e renovação moral, ou cura da natureza humana da corrupção do pecado. Não-imputação de pecados, que é, não "ajuste de contas" de pecados que permanece, por causa de Cristo, era objeção um suplemento temporário para este processo de cura. Realmente, Lutero às vezes disse, seguindo Agostinho, que esta não-imputação formou a grande porção de justificação, desde que a atual justiça do crente era um mero início na sua vida terrestre.
Esta época, entre o tardio outono de 1512 e o verão de 1518, pode bem ser designado o período decadente da Reforma. Os primeiros raios de sol da graça e justiça foram logo iluminando o céu na vida espiritual de Lutero, mas o atual romper da aurora ainda não havia tomado lugar. A completa luz da introspecção evangélica na justificação ainda não alcançou sua alma. A luz que ele possuía, contudo, era aproximadamente suficiente para quebrar os vínculos da Igreja Romana, como tinha sido o caso também com Wycliffe e Huss, que tinham sobre outro tanto revelado a eles como Lutero neste tempo privado, mas que não conhecia a doutrina evangélica da justificação. Em suas batalhas contra os abusos dentro da igreja, Lutero, por este tempo, dirigiu seus esforços para a remoção de erros na esfera das doutrinas em que ele tinha já ou quase alcançada a introspecção evangélica, principalmente, a doutrina da expiação.
A segunda grande crise, o atual romper da aurora, no desenvolvimento de Lutero, foi a sua experiência da torre em torno do fim do ano de 1518. Isto resultou ou consistiu na sua descoberta da introspecção, evangélica ou da Reforma, na justificação. Dois grupos de documentos históricos dão evidência desta grande mudança: (1) Prefácio de Lutero à suas obras, escrito em 1545, e afirmações espalhadas em suas conversas de mesa de diferentes datas; (2) leituras e escritos de Lutero. O primeiro grupo de documentos contém questões de natureza e data da descoberta da pena e boca do próprio Lutero. O segundo grupo cede informação concernente à concepção de Lutero da justificação no período mais antigo de sua vida. Ambos em suas próprias maneiras de testificar irrefutavelmente ao fato que Lutero descobriu seu conceito de justificação da Reforma pelo fim do ano de 1518. Este é o ano que marca o início do movimento da Reforma no mais profundo significado da palavra, com tal slogan de justificação pela imputação graciosa de Deus apropriada por meio da fé. Este slogan foi desconhecido anterior ao ano de 1519. Fechadamente conectado com a descoberta do real significado de Romanos 1.17, como um tipo de pré requisito, foi a rejeição dos quatro sentidos da Escritura e, como inevitável conseqüência, a rendição do misticismo.
A descoberta na torre, contudo, não resultou o naufrágio de Lutero ao mar com sua antiga visão e todo o resto. Isto foi impossível desde que muitos de seus conceitos pré reformadores foram perfeitamente escriturísticos. Ao verdadeiro fim, ele continuou a ensinar que esta graça é conferida apenas ao submisso e contrito no coração, que também a criança justificada de Deus são pecadores em si mesmas, e sua batalha contra o pecado e a mortificação gradual da carne nunca deve cessar nesta vida presente. Estes crentes, juntos com a convicção de que o homem é inteiramente dependente da graça de Deus para a salvação, pertencem à fundamental introspecção de Lutero em todo o período de sua vida. Ao verdadeiro fim, ele concordou com Agostinho na interpretação de Romanos 7, e de uma similar passagem em Gálatas 5.16ss, a saber, que Paulo fala neles primeiramente como um crente. Conseqüentemente, muitas das afirmações nos escritos mais antigos e mais recentes de Lutero são similares ou quase.
A diferença básica entre a pré reforma de Lutero e sua doutrina da salvação da Reforma encontra-se na concepção de natureza e essência da justificação. A experiência da torre abriu seus olhos para ver de acordo com a Escritura, e Paulo em particular, que a justificação pela fé não é um processo gradual de renovação ou tornar-se justo. Isto é antes, a aplicação da justiça de Cristo por imputação. Deus justifica o pecador perdoando seus pecados e considerando-o inocente e responsável por causa da obra expiatória de Cristo. Este ato de absolver, Deus pronuncia através do Evangelho, promessas proclamadas pelo ministério da reconciliação. Pela fé o pecador recebe esta divina dádiva prometida e oferecida a ele. O alicerce da justificação e também o objeto da fé e confiança do crente não são o que Deus tem feito e faz, mas o que Cristo fez.
Na conversão o homem recebe o Espírito Santo, que toma seu coração, desse modo renovando-o no coração e na vida. Esta renovação, ou santificação, ocorre basicamente no novo nascimento e então continua como um processo de crescimento no conhecimento de Deus e Cristo e na santidade de vida efetuada pela operação da habitação do Espírito.
Isto não foi uma conversão de Lutero ou a vinda de uma fé pessoal que foi o fator primário em seu tornar o reformador, conquanto isto foi um pré requisito necessário. Apenas um crente pode ser um reformador da igreja, mas a maioria dos crentes não são reformadores. Sem sua experiência da torre, Lutero tornar-se-ia um reformista – como Wycliffe, Huss, Savonarola, e outros – mas nunca o Reformador.
Nem mesmo isto era uma mera "experiência religiosa" que fez de Lutero um reformador. Sua tarefa não era proclamar ao mundo algum tipo de nova revelação mística sobrenatural. Ele foi mais do que um profeta de uma nova "idéia" religiosa. Milhares de falsos profetas receberam seus "chamados" nesta maneira, mas não Lutero.
Lutero tornou-se o reformador pela descoberta do real significado da Palavra de Deus escrita, particularmente a Palavra concernente à justificação. Realmente, sua descoberta na torre foi também uma profunda experiência religiosa em que ele encontrou paz e alegria até então desconhecidas para ele. Mas o que ele sentiu e experimentou não foi a coisa central ou primária. Esta foi a descoberta do caminho escriturístico da salvação e especificamente da justificação. Jamais foi o propósito primário de Lutero proclamar idéias ou experiências religiosas. O conteúdo de sua mensagem foi a eternamente válida e efetiva verdade divina, revelada por Deus, registrada nas Escrituras, e pregada na igreja. Experiências religiosas foram efeitos da fé na verdade e promessa do evangelho. O inteiro conteúdo de sua descoberta na torre foi a introspecção esta, de acordo com o simples e literal significado de sua Palavra de Deus escrita, que o homem é justificado pela graciosa imputação de Deus quando pela fé ele apropria-se da promessa do evangelho de perdão dos pecados no sangue de Cristo. A descoberta de Lutero da introspecção da Reforma na justificação e santificação continha ambos os princípios da reforma: (1) a Escritura é a Palavra de Deus revelada e inspirada e tal como é o maior e único padrão e norma de fé e vida cristã; (2) de acordo com a Escritura, o pecador é justificado pela graça apenas, através da fé em Cristo, quando ele confiantemente estendeu a ação da promessa do evangelho e ofereceu o perdão dos pecados. O formador não foi o novo elemento na descoberta, mas antes foi o pré-requisito. Este último foi a nova introspecção que Lutero descobriu ou redescobriu. Isto não foi uma nova idéia, de que Lutero estava convencido, mas o antigo e original Evangelho que os apóstolos de Cristo tinham proclamado, mas, que tinha sido escondido sob concepções errônea e falsa doutrina. Com este invólucro removido, a verdade central da fé original dos apóstolos foi novamente trazida à luz e começou a brilhar fortemente, primeiro no coração de Lutero e então através do seu ministério nos corações das multidões de muitas nações e línguas.
Lutero certa vez disse, e nós citamos sua afirmação mais antiga em nosso estudo, que um volume contendo seus pensamentos do período anterior à sua descoberta do completo evangelho foi de pouco uso na nova era do evangelho do meio-dia. Estas palavras podem ser aplicadas à inteira herança literária do "Lutero jovem". Os escritos deste período não podem ser usados ao lado de obras da era da Reforma. A Igreja Luterana segue o correto instinto em apropriar-se de suas verdadeiras posses espirituais apenas cujos escritos de Lutero datam do ano de 1519 ou mais tarde. Quase sem exceção, a instrução na igreja tem sido baseada sobre estes, enquanto os escritos produzidos anteriormente a 1519 têm sido amplamente esquecidos, até que estudiosos de Lutero de nossa própria geração trouxeram-lhes à luz. A igreja como um todo tem tido o sentimento de que as obras mais antigas de Lutero refletem um espírito diferente e estranho e dão expressão a uma concepção não-evangélica da fé e vida cristã. Verdadeiramente "luteranos" são apenas os escritos após 1518.
A pesquisa moderna de Lutero inverteu o lugar neste ponto. Muitos dos estudos da teologia de Lutero falharam em distinguir entre as leituras e escritos mais antigos e mais recentes. Sobre a base de nosso estudo nós devemos considerar como um procedimento errar seriamente tanto quanto ao método que causa muita confusão. Desde que a produção literária de Lutero mais antigo de 1519 é de uma pré-reforma e tipo de sub-reforma, nenhum estudo de Lutero pode dispor-se de fazer uso não crítico dos escritos antes e depois de 1518-19, como se eles fossem em qualquer circunstância igual. Contudo, perigosamente, uma grande parte da moderna pesquisa de Lutero tem cometido justamente este erro e está, entretanto, em necessidade de uma completa revisão.
Em 1938, Otto Wolff fez a afirmação que tão distante quanto o moderno estudo de Lutero está interessado, a redescoberta do completo Evangelho da Reforma do reformador é ainda uma coisa do futuro. A investigação de Lutero de nossos dias ainda está viva e andando às apalpadelas abundantemente em um período de "pré-reforma". É isto que faz com que tenhamos ainda mais esperança de que como a Primeira Guerra Mundial foi seguida por uma "revivificação" do "Lutero jovem," a Segunda Guerra Mundial será seguida por uma "revivificação" do completo Evangelho da Reforma de Lutero – e da Escritura?
Nenhum comentário:
Postar um comentário