A DESCOBERTA DA VIDA
(Abrem-se as cortinas e o ator entra no palco - Cena 1)
Olá! Meu nome é(protagonista). Eu sou hoje um cristão. Mas nem sempre foi assim. Durante toda a minha vida eu tentei encontrar a verdade, a luz que guiaria os meus passos nesta vida e me mostraria o que realmente há depois da morte. Como eu não tive quem me amparasse e me dissesse quem era Cristo, eu passei por várias religiões, mas Deus quis que eu encontrasse o seu caminho e hoje eu agradeço a Ele. Minha história começa há muito tempo atrás... (Sai do palco pelo outro lado. Quando volta, está com outra roupa e carrega material escolar acompanhado por um colega. São abordados por uma pessoa na rua.)
(1)_Oi! Eu sou (nome - personagem 1). Estou fazendo uma divulgação do centro espirita Luz do Oriente. Nós estamos tentando ampliar o nosso campo de atuação nesta cidade e eu gostaria de convidá-los para a nossa sessão de amanhã às dezenove horas.
(P)_É, cara, tu veio mesmo a calhar, meu. Eu nunca tive religião, mas sempre senti falta disso. Amanhã eu tô lá, pode esperar.
(2 - O colega do protagonista)_Ih, meu! Não vai atrás disso. Esses caras não passam de um bando de loucos. Uma tia minha foi numa sessão dessas, disseram que a coitada recebeu um espírito e começou a falar em outra língua. Ela nunca mais recuperou sua estabilidade emocional. Não passa de um trapo hoje.
(P)_Pô, mas tu é medroso mesmo, hein? Eu vou lá, sim. Não tenho nada a perder, cara. Se eu gostar, eu vou seguir. Finalmente apareceu alguém que se interessou por mim. Olha,(diz o nome do espírita), pode me dar o endereço que eu vou lá.
(Sai o espírita por um lado e os outros dois pelo outro; Fecham-se as cortinas)
(Cena 2. Abrem-se as cortinas. Aparecem o protagonista, o espírita, um leigo e um médium, todos sentados em volta de uma mesa para a experiência do copo.)
“M”_Agora vamos todos nos concentrar.(Passa-se algum tempo)
“M”_Se há algum espírito nesta sala, manifeste-se.(Copo - SIM)
“M”_Como é o seu nome?(Copo - O nome do protagonista)
“M”_Em que lugar você nasceu?(Copo - P-O-R-T-O A-L-E-G-R-E)
“M”_Em que ano?(Copo - 1-9-7-3)
“M”_Você estudou?(Copo - SIM)
“M”_O que você estudou?(Copo - S-E-G-U-N-D-O G-R-A-U)
“M”_Em que ano você desencarnou?( O Copo não se mexe. O protagonista começa a ter uns “tremeliques” e desmaia. Fecham-se as cortinas)
(Cena 3 - o protagonista está em recuperação em uma clínica. Está sentado conversando com o psiquiatra que o tratou)
Ps_Então o que aconteceu foi isso? Você compareceu a uma sessão espírita e teve convulsões durante a experiência do copo?
(P)_É, doutor. Mas o que eu achei estranho foi o copo estar falando de mim. O cara lá, o como é? “Médio?” invocou o espírito e o copo falou tudo a meu respeito. Meu nome, onde eu nasci, meu nível de instrução. Como isso pode acontecer?
Ps_Olha, o que provavelmente aconteceu foi o seguinte: O seu inconsciente, uma parte de sua mente que não aparece a toda hora, foi acionado pelo clima do momento e começou a falar como se fosse o espírito invocado. As convulsões e o desmaio provavelmente foram provocados pelo susto que você, em seu inconsciente, levou com a pergunta sobre o ano da morte. Seu inconsciente reagiu para protegê-lo da idéia de morte e fez com que você desmaiasse.
(P)_Mas o inconsciente pode fazer tudo isso? Mexer copos e responder perguntas?
Ps._Isso e muito mais! Todas essas psicografias, incorporações, regressão de memória, curas e outros, não passam de sugestões do inconsciente das pessoas. O espiritismo é uma religião que tenta tornar sobrenaturais fenômenos que são facilmente explicados à luz da ciência. Mesmo a regressão a vidas passadas não passa de uma técnica de hipnose que faz com que as pessoas, usando o inconsciente, criem as histórias mais mirabolantes que se possa imaginar.
(P)_Droga! E Eu que pensava que esse pessoal tinha algo de bom pra nos apresentar. Durante toda a minha vida eu tentei encontrar a religião certa e até hoje eu só quebrei a cara.
Ps._Olha, eu acho que posso ajudar. Eu sou budista praticante. O Budismo é uma religião que não invoca espíritos. O budista procura seguir os passos do mestre Buda e através de rituais de purificação e meditações, alcançar a perfeição e chegar ao Nirvana. Olha, se você quiser, eu posso acertar com o sacerdote do templo que eu freqüento e você fica uma semana lá.
(P)_É, tudo bem. O que eu tenho a perder?(Fecham-se as cortinas)
(Cena 4 - Aparecem o protagonista e mais 2 ou 3 pessoas ajoelhadas, com a cabeça inclinada, em posição de meditação. O sacerdote entra com uma vara na mão, segundo o costume budista, para controlar a meditação. Depois de três ou quatro vezes que anda de um lado para outro, o protagonista coça a cabeça, o que é considerado um sacrilégio na meditação budista. O sacerdote então lhe dá uma varada.)
(P)_Ei, cara, o que tu pensa que tu tá fazendo?
(S. Reage com tremenda estupidez)_Cale-se e volte à sua posição! Não desrespeite o iluminado!
(P)_Tu nem mesmo tenta ser agradável. Como espera manter as pessoas aqui?
(S)_Se não voltar já à sua posição, será punido com as chibatadas.
(P)_Pode ficar aí se você quiser! Eu vou embora. Não agüento mais ficar comendo só arroz e alface. Faz uma semana que eu tô aqui e não posso nem passar pela cerca ou vou ser castigado. Tô até desconfiado se vocês são mesmo homens, pô! As garotas tão logo ali do lado e vocês nem se mexem. Parecem de gelo. Vê se te enxerga, meu!
(S)_Gente como você não é digna do mestre Sidartha Gautama. Suma-se daqui, rapaz! Volte para a sua sociedade de consumo e depravação.(Fecham-se as cortinas)
(Cena 5 - O protagonista aparece um pouco mais velho, aconselhando-se com um Pai-de-Santo em um terreiro de umbanda. Muitos curiosos ao redor observam a cachaçada e as baforadas do charuto do preto véio)
(P.S.)_Então, fio? O que suncê qué sabê?
(P)_Eu quero saber porque eu não consigo me acertar em nenhuma religião, meu pai. Eu já tentei entrar no espiritismo e descobri que não passa de uma fraude que os próprios espíritas cometem sem saber. Acabei indo parar em uma clínica psiquiátrica. Depois passei para o budismo, mas eu não agüentei a rígida disciplina e as privações que eles impunham. E isso sem contar as chibatadas que levei durante as meditações. Eu quero encontrar a resposta, meu pai.
(P.S.)_Fio, preto véio sabe das coisa. Tu tá é com espírito de pombagira ruim. Suncê tem que fazê despacho, fio. Meia-noite de sexta, suncê traz um prato com sapo morto e boca costurada e dentro da boca uma oferenda e do lado do prato uma garrafa de pinga. Deixa tudo na encruzilhada aqui na frente. Assim pombagira vai deixá suncê, fio.
(P - Desconfiado)_E o que acontece com o despacho?
(P.S.)_Espírito de Ogum vem e leva o espírito da pombagira de suncê. O despacho fica lá na encruzilhada mesmo.
(P - Levanta-se irritado)_Vai te catar, meu! Tá escrito “OTÁRIO” aqui na minha testa? Vocês vão é mandar alguém recolher a pinga e a grana. Senão, de onde vocês tiram grana pra comprar charutos? E as garrafas de pinga vêm de onde? Se querem encher a cara, procurem outro pato. Eu vou embora e esquecer que existe religião.
(No que deixa o terreiro, o protagonista é assaltado. Quando os agressores fogem, ele cai ao chão, chorando. Passa por ele o mesmo ator que foi seu colega na cena 1)
(C)_Ih, rapaz! Que fossa é essa?
(P)_Cara, eu não sou ninguém mesmo. Acabo de ser assaltado, um Pai-de-Santo tentou me enganar pra me tirar grana. E eu continuo sem ter uma religião que me satisfaça, algo que eu quis ter durante toda a minha vida. Acho que vou comprar mesmo a pinga que o Pai-de-Santo disse, quando tiver grana, mas pra me afogar nela.
(C)_Cara, você não é o _________ ?
(P)_Sou. Você me conhece?
(C)_Claro, meu. Eu sou o __________ ! Lembra quando eu te falei pra não se meter no espiritismo há alguns anos? Pelo jeito, tu foi bem mais longe, hein?
(P)_Rapaz, eu nem te reconheci. Dá cá um abraço. E tu, o que anda fazendo da vida?
(C)_Eu tô trabalhando numa multinacional lá perto de casa. Mas tu tá um bagaço, hein, meu? Tudo isso é religião, cara?
(P)_É, sim, cara.E tu, passou por esse problema também?
(C)_Passei, mas já tá resolvido.
(P)_Como? Abandonou todas as religiões?
(C)_Não. Descobri a salvação, cara! Descobri a vida! Uma vez, um missionário bateu à minha porta e me falou de Jesus Cristo. Eu resolvi conferir e me encontrei. Jesus é mesmo o canal!
(P)_Não vem, meu. Eu não acredito mais em religião nenhuma! Esses caras de igreja, então, nem se fala. Só sabem pregar o fim do mundo e recolher grana.
(C)_Você já experimentou alguma vez ir à igreja, conversar com pessoas cristãs?
(P)_Não, nunca.
(C)_Bem, se mudar de idéia e resolver experimentar antes de julgar, te dou o endereço da minha igreja e você passa lá. Tenta, cara, e você não vai se arrepender.
(P)_Vou pensar no caso, cara. Mas se não der certo, eu juro que nunca mais vou atrás de religião nenhuma.(Sai cada um por um lado. Aparece o protagonista com a mesma roupa do início da peça)
(P)_Bem a minha história é essa. Resolvi aparecer na igreja e minha vida mudou. Conheci pessoas diferentes, que tem um Deus que as ama a ponto de entregar-se à morte por elas, que não mereciam nada dele a não ser castigo. E isso tudo com apenas uma visita de um missionário a um amigo meu. Já imaginaram se todos os cristãos fizerem isso? O mundo vai se tornar mais feliz. Mais pessoas serão cristãs e serão salvas de uma morte que é pior que essa morte que a gente conhece. Vamos lá, pessoal! Onde quer que possam falar, falem. Talvez os resultados demorem a vir, mas virão, podem ter certeza.(Fecham-se as cortinas).
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