De acordo com o v. 22, este cântico de ação de graças foi apresentado antes do oferecimento do sacrifício de ação de graças, provavelmente na celebração do culto da comunidade javista (v. 32), para o qual se tinham reunido os peregrinos, vindos de todos os cantos do mundo para a festa, no santuário (v. 3). Na sua primeira parte (w. l -32), onde se destacam, marcadas por dois estribilhos (w. 6.8; 13.15; 19.21; 28.31), quatro estrofes de diferente comprimento, ainda se pode notar o caráter litúrgico-responsorial do cântico com convites, feitos por sacerdotes, à proclamação do agradecimento (w. ls.8-15.21s.31s) e responsórios (w. lb.9.16). A segunda parte, vazada na forma de hino (w. 33-41), é na verdade a confissão de fé geral de toda a comunidade ao Deus cujo governo salvífico para a bênção do seu povo (v. 38) ela celebra como a revelação de sua graça, de que ela própria participa jubilosamente (w. 42s). Que o salmo tenha surgido no período pós-exílico tardio não se pode deduzir nem da menção da viagem de navio (w. 23s; cf. sobre isso Jz 5,17: “Da, porque vive em navios”, e o comércio marítimo de Salomão em 1Rs 9,27s) nem de certas alusões ao Dêutero-Isaías, pois devemos contar com a possibilidade, se não com a probabilidade, de que este profeta se refere a tradições cultuais antigas.
1-3. Estes versículos constituem a introdução para todo o salmo. A maneira de apresentar a introdução geral no cântico litúrgico em coros alternados entre sacerdotes e comunidade (cf. Sl 106,1) acha-se ilustrada pelo salmo 118,2-4 e salmo 136, como também se justifica pelo v. 2. A comunidade, que se reuniu na casa de Deus para agradecer e proclamar a fé, entende-se como a comunidade dos “redimidos”, que não somente na sua libertação da angústia, mas também no fato de poderem se reunir das mais diversas terras e regiões para adoração em comum no santuário, vê a mão de Deus agindo, como outrora nos tempos primitivos do devir de Israel como povo, tomando manifestas para ela e por ela a sua “bondade e graça”.
4-9. As secções seguintes, que formalmente têm a mesma função que a “narrativa” em ações de graças individuais, entram em maiores detalhes sobre a libertação da angústia (v. Intr., pp. 54s). Os w. 4-9 ligam-se, quanto à gramática, imediatamente com a introdução geral, razão por que se devem relacionar com a vivência da salvação de toda a comunidade e não, como geralmente se admite, a um grupo particular de participantes da festa (como, por exemplo, comerciantes ou condutores de caravanas). Às recordações das angústias e erranças do povo de Deus em seu peregrinar pelo deserto, quando Deus o conduziu de forma maravilhosa ao seu destino, à terra prometida, entretecem-se as experiências pessoais dos peregrinos, formando uma vivência unitária da prodigiosa condução salvífica de Deus, que nas horas festivas na cidade de Deus vieram a realizar-se conforme fora prometido e anelado. Na vivência cultual do encontro com o Deus vivo na história da salvação, a comunidade vê-se inserida nessa história de Deus, que, começando com a revelação de Deus no tempo dos pais, experimenta o seu ponto alto atualizado na presença de Deus no ato sagrado do culto, que garante à comunidade toda a sua graça e salvação. É isso que ela deve reconhecer grata como eco daquilo que se lhe tornou certo de maneira nova na fé.
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