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23 fevereiro 2017

OSTRA FELIZ NÃO FAZ PÉROLA

Ostras-e-a-perola[1]

Esta frase “ostra feliz não faz pérola” não é minha. Tomei-a emprestada de Rubem Alves. Escritor, educador, psicólogo e teólogo, Rubem nasceu em Boa Esperança, MG, e terminou seus dias em Campinas, SP, aos 80 anos. Tomei a frase emprestada porque vi nela uma oportunidade para uma reflexão mais ampla, pois contém verdades incontestáveis.

A pérola na ostra é o resultado de uma reação natural contra intrusos, parasitos e invasores externos. Ao defender-se dos intrusos ela os ataca com uma substância segregada pelo manto, fina camada de tecido que protege suas vísceras. Essa substância, chamada nácar ou madrepérola, ela deposita sobre o invasor em camadas concêntricas, que se cristalizam rapidamente, isolando o perigo e formando uma bolota rígida – a pérola, o que leva em média três anos.

Ora, vejam quanta semelhança com a minha e a sua vida como filhos do Pai de Amor, que pela fé em Jesus nos adotou como seus filhos e nos protege de invasores e parasitos e o mais que nos pode acontecer. O sofrimento na ostra não é uma exigência para que faça uma pérola, mas é consequência. A nossa dor, o nosso sofrer, as nossas aflições não são uma exigência, mas sim, consequência do pecado. Essa consequência nosso Deus utiliza para o nosso bem, como madrepérola que cobre nossa dor e sofrer para fazer em nós pérolas. Lembra que “todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus”? (Rm 8.28) Tudo de “ruim” é canalizado para o nosso crescimento espiritual, para o nosso fortalecimento na fé e da nossa confiança nas palavras registradas pelo apóstolo Paulo em Romanos 8.18,19: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem se comparados com a glória a ser revelada em nós.” A fé, a esperança, o amor, a perseverança, a glória que nos será revelada, a coroa da vida eterna, a certeza de um dia habitar com Deus por toda a eternidade, são pérolas da verdadeira felicidade. Somos frágeis, como as ondas do mar agitadas pelo vento (Tg 1.6), mas ao mesmo tempo fortalecidos pelas promessas, pois “O Senhor é a fortaleza da minha vida.” (Sl 27.1)

Ostra feliz, que não fez pérola, foi aquele homem rico mencionado no Evangelho de Lucas, que “se vestia de púrpura e de linho finíssimo e que todos os dias se regalava esplendidamente.” (Lc 16.19) Ostra feliz, que não fez pérola foi aquele homem que colheu em grande abundância e disse: “Farei isso: destruirei os meus celeiros, reconstruirei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens. Então direi à minha alma: tens em deposito para muitos anos: descansa, como e regala-te.” (Lc 12.16ss) Ele não fez pérola, pois naquela mesma noite lhe pediram a alma (v.20)

Ostras felizes e ostras com pérolas. Dois grupos que bem representam a humanidade toda. Os felizes – segundo eles, dispensam a ajuda divina, rejeitam seus conselhos, julgam-se autossuficientes - pequenos deuses, vivem por viver, no “comamos e bebamos porque amanhã morreremos”. E quando isso acontece, clamarão desesperados, por uma gota de água para refrescar a língua. (Lc 16.24) Os que fazem pérolas são os que declaram total dependência de Deus, que cantam: “Eu só confio no Senhor”, que aceitam as madrepérolas divinas que anulam os parasitos, que aliviam os sofrimentos, oferecem esperança, e cantam com o salmista: “Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida: e habitarei na casa do Senhor para todo sempre.” (Sl 23.6)

Guido Rubem Goerl. Pastor Emérito da IELB

21 fevereiro 2017

ASSEMBLÉIA PAROQUIAL COM ELEIÇÃO DE DIRETORIA

No dia 19 de fevereiro ocorreu a Assembleia Paroquial da Paróquia Cristo Para Todos, de Alto Alegre dos Parecis-RO. O presidente da paroquia sr. Dair Boone fez a abertura da Assembleia seguida de uma mensagem trazida pelo Pastor Vilson Welmer, baseada em 2 Corintios 4.13-18.
Dentre os vários assuntos tratados na assembleia paroquial, está o trabalho pastoral e o atendimento de cultos e estudos feitas pelos leigos da paróquia do qual se destacam a pouca participação nestes cultos. O presidente Dair Boone aproveitou para agradecer as lideranças e às comunidades por ajudar a manter os trabalhos na paroquia.
Foi debatido também a respeito do carro antigo, a sua venda e o uso deste recurso.
Foi eleito nova Diretoria paroquial que assume os trabalhos de 20/01/2017 a fev de 2019 sendo:
Presidente: Paulo Littig
Vice Presidente: Dair Boone
1º Tesoureiro: Denezio Littig
2° Tesoureiro: Nilson Alves da Silva
1º Secretário: Daniele Littig
2º Secretária: Izaura Boone
Revisores Fiscal: Gilberto Boone e Marcionilho Vilvock
Coordenação do gado: Helmuth Harri Weiss e Reinaldo Amorim de Almeida
Ainda antes do encerramento, foi feita a instalação da diretoria.
Queira o bondoso Deus abençoar esta paróquia ricamente a cada novo dia.
Obs. 79 votantes; 03 visitantes e 14 crianças.

01 janeiro 2017

BATIZAR CRIANÇAS?

  

Batismo luterano

Este é o título de um livro que tenho em minha estante, mas que, confesso, nunca cheguei a terminar de ler. Talvez porque ele faz uma pergunta que não me incomoda e porque minha resposta natural é dizer: É claro que sim.

               Mas você deve ter notado que a pergunta é se ainda devemos batizar as crianças. Isto mostra que a pergunta é feita num contexto em que as crianças são batizadas. Em outros contextos ou em outras denominações cristãs a pergunta seria: Devemos batizar as crianças? E a resposta é um sonoro “não”.

               Por isso, talvez alguém pergunte: Mas onde na Bíblia se diz que as crianças podem ou devem ser batizadas? A verdade é que, no Novo Testamento, temos alguns textos em que aparecem crianças, sem que se faça referência ao batismo (Jesus abençoa as crianças, por exemplo), e temos outros textos em que se fala sobre o batismo, sem que especificamente se inclua as crianças. Só que é possível responder com outra pergunta: Mas onde diz que elas não podem ou devem ser batizadas? Porque, se é verdade que o Novo Testamento não diz nada a respeito de um batismo de crianças, também é verdade que não diz nada sobre o batismo de filhos de cristãos já com mais idade. Em outras palavras, a Bíblia não manda esperar até certa idade, para só então aplicar o batismo.

              Isto significa que esta questão não pode ser resolvida simplesmente citando textos bíblicos. A inclusão das crianças no batismo se justifica por uma reflexão teológica. E antes que alguém conclua que, neste caso estamos sem base bíblica, é preciso acrescentar que os que não batizam crianças também se baseiam numa reflexão teológica, e não num texto claro que diga: Só batizem depois que a pessoa completar doze anos! O batismo de crianças é um desenvolvimento teológico legítimo a partir de princípios expressos no Novo Testamento e a partir da prática do batismo no período do Novo Testamento. Os princípios são, entre outros, os seguintes: todas as pessoas são concebidas e nascem em pecadoa graça de Deus se estende a toda a humanidadeJesus ordenou o batismo; o batismo é ação e dom de Deus, e não é simples confissão de fé. E a prática do período do Novo Testamento mostra que as crianças, se não são explicitamente mencionadas, também não são excluídas. O batismo de casas inteiras (o carcereiro de Filipos em Atos 16.33, por exemplo) sugere a presença de crianças. Assim, na história da Igreja, o batismo infantil não foi, nem é, a exceção; é a regra. Por isso, aparece no centro da doutrina do batismo, e não na periferia. O que se disser sobre o batismo deverá ser aplicável às crianças também.

              A pergunta a fazer é se a igreja tem o direito de impedir que os pequeninos sejam batizados. Pode-se perguntar: Se Jesus disse que “dos tais é o reino de Deus”, o que nos autoriza a dizer que deles não é o batismo?

              Alguém poderia perguntar se crianças podem ter fé. A resposta pode vir na forma de outra pergunta: E quem disse que um adulto pode ter fé? A rigor, fé não é obra minha, fé não é um exercício mental, fé é dom de Deus. Em sua explicação do terceiro artigo do Credo, Martinho Lutero começa assim: “Creio que por minha própria razão ou força não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem vir a ele”. Creio que não posso crer! E então Lutero continua: “Mas o Espírito Santo me chamou pelo evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou na verdadeira fé”. E neste particular não há diferença entre adultos e crianças. A diferença entre um adulto e uma criança é que o adulto está consciente da fé e pode confessá-la por si mesmo.

              Volto à pergunta inicial, se ainda devemos batizar as crianças, para dizer que a pergunta está mal formulada. Começamos a nos complicar quando adjetivamos o batismo, falando sobre “batismo infantil”. Perguntar se ainda devemos batizar as crianças é o mesmo que perguntar se ainda devemos batizar. A Bíblia responde que sim. Batizamos, não por isso ou por aquilo, mas porque Jesus mandou batizar. E a questão das crianças não tem maior importância no Novo Testamento e em Lutero. Nós levantamos a questão das crianças, quando, na verdade, o assunto deveria ser unicamente “batismo”. Lutero não trata do batismo infantil, no Catecismo Menor. Ele trata do batismo, por mais que se possa argumentar que ele está prevendo o batismo de crianças.

              Em conclusão, trago uma palavra do teólogo luterano Hermann Sasse, que diz: “Afora o fato de que os adultos a serem batizados dão o seu consentimento e confessam o Credo por si mesmos, o batismo sempre foi administrado na igreja ‘como se’ os que serão batizados o quisessem por si mesmos e creem no que é confessado no Credo batismal. Batizamos crianças como se fossem adultos, e batizamos adultos como se fossem crianças. Qualquer que seja o significado da diferença entre adultos e crianças para nós e nossa avaliação de uma pessoa, essa diferença não significa nada para Deus. Diante dele, uma pessoa é uma pessoa, um filho de Adão ou um filho de Deus, pouco importando a sua idade. Esta é a razão mais profunda por que todas as liturgias batismais tratam a criança ‘como se’ fosse um adulto”.

              Em tempo acrescento este comentário: Embora no livro de liturgias da Igreja Luterana apareça uma ordem intitulada “Batismo de Crianças”, a criança a ser batizada é tratada como se fosse um adulto. Pede-se que ela confesse a sua fé e dê o seu consentimento ao batismo, antes do ato batismal, através dos padrinhos.

Vilson Scholz - Ainda devemos batizar as crianças? | IELB