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01 julho 2011

DEUTERONÔMIO 6.4-9

Estimados no Senhor:

Neste (nesta véspera do) segundo Domingo de Pentecoste, meditamos sobre a leitura do Antigo Testamento, Deuteronômio 6.4-9, por meio da qual somos instruídos a respeito da obra do Espírito Santo em nossos corações.

As palavras que vamos ouvir fazem parte do segundo discurso de despedida de Moisés, quando o povo já se encontrava acampado no lado oriental do rio Jordão, prestes a tomar posse da terra prometida. Moisés, que sabe que é chegada sua hora de partir e tomar posse da herança eterna, adverte o povo a permanecerem fiéis ao Deus vivo e verdadeiro.

Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus, é o único SENHOR.

Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força.

Estas palavras que, hoje, te ordeno, estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas.

A obra do Espírito Santo é fazer-nos cumprir o primeiro mandamento: crer em Deus, amar a Deus, servir a Deus.

I

CRER EM DEUS

Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus, é o único SENHOR.

Este versículo contém o fundamento de toda a nossa fé: O SENHOR nosso Deus, é o único SENHOR!

A obra do Espírito Santo é nos dar o conhecimento não só de que há um só Deus mas também o conhecimento de quem é esse Deus. Por isso, O Espírito Santo é o Espírito da Verdade, porque nos faz conhecer e crer no Deus único e verdadeiro, e nos liberta tanto da incredulidade como da fé naquilo que não é Deus.

A fé vive e verdadeira é um dom do Espírito Santo, porque a fé viva e verdadeira é um renascimento espiritual, um nascer de novo, um renascer como filhos de Deus.

Este renascimento espiritual não vem de nós mesmos, mas é dom de Deus, que os apóstolos chamam de iluminação.

No vocabulário teológico, distingue-se entre luz da natureza e luz da graça.

A luz da natureza existe em todo o ser humano e é o conhecimento natural de Deus. Todo o ser humano tem a capacidade de reconhecer a existência de Deus, mas esta fé natural também pode ser chamada de ignorância espiritual, porque saber que existe um Deus e ter uma fé viva e verdadeira em Deus são coisas muito diferentes.

A luz da graça, ao contrário, é a iluminação divina, quando o Espírito Santo faz brilhar em nosso coração a luz conhecimento do verdadeiro e único Deus.

O Apóstolo Paulo, escrevendo para a igreja de Corinto sobre a conduta cristã em uma sociedade idólatra, ecoa as palavras deste versículo ao dizer: sabemos que o ídolo, de si mesmo, nada é no mundo, e que não há senão um Deus. Porque, ainda que há também alguns alguns que se chamem deuses, quer no céu ou sobre a terra, como há muitos deuses e muitos senhores, todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas e nós também, por ele (1 Co 8.4-6).

Em sua 1ª Carta aos Tessalonicenses, Paulo dá graças a Deus porque o evangelho não chegou a eles apenas como palavra de homens, mas como palavra de Deus e no poder do Espírito Santo. Como prova disso, Paulo aponta o fato que que deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro (1 Ts 1.9)

A luz da natureza leva a muitas crenças falsas e mortas, porque se fundamenta na ignorância espiritual em que vivem todos os seres humanos por causa do pecado.

A luz da graça somente leva ao conhecimento verdadeiro de Deus, revelado em Jesus Cristo, no Antigo Testamento como promessa e no Novo Testamento como cumprimento.

É por isso que Paulo, na primeira carta aos Coríntios, afirma: ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo (12.3)

II

AMAR A DEUS

Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força.

A fé viva e verdadeira é uma iluminação divina e um nascer do alto, é uma criação e uma dádiva do Espírito Santo, mas é também um inundar do Espírito no coração e na alma humana.

A fé verdadeira, escreve Paulo na carta aos Gálatas, não se confirma por meio de uma mera transformação exterior, caracterizada por ele como circuncisão ou incircuncisão.

Por “circuncisão”, Paulo indica aqui, especialmente, a lei cerimonial do Antigo Testamento, tal como vivida pelos judeus na época, mas também por cristãos de origem judaica, e ainda por cristãos de origem pagã que seguiam os costumes judaicos.

Por “incircuncisão”, Paulo indica o modo como os cristãos de origem gentílica viviam, no que eram seguidos também por alguns judeus convertidos ao cristianismo, que punham em prática a liberdade que o evangelho lhes concedia.

Paulo defende a liberdade dos dois grupos, tanto a liberdade de continuar seguindo os preceitos da lei mosaica como a liberdade de abandoná-los. A razão é que nenhuma das duas maneiras de viver pertence à essência da fé. São manifestações exteriores de obediência a Deus.

Então Paulo define o que é essencial, que não são tais práticas relacionadas à alimentação, mas a fé que atua pelo amor – ou, em outra tradução: a fé ativa no amor.

A fé viva e verdadeira é uma inundação interior do amor que vem do alto, como Paulo escreve em Romanos 5: porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi outorgado (Rm 5.5).

Amar a Deus, no entanto, significa odiar o mundo (1 Jo 2.15). Tornar-se amigo de Deus acarreta a inimizade do mundo (Tg 2.23, 4.4).

O mundo é tudo o que nega a Deus, tudo o que se opõe a Deus, tudo o que se coloca no lugar de Deus.

Também agora precisamos diferenciar entre amor natural e amor espiritual.

O ser humano foi criado com a capacidade de amar, e esta capacidade não foi totalmente destruída pelo pecado. Mas o amor natural não nos aproxima de Deus, porque o amor natural se apega às criaturas e não ao Criador.

O amor espiritual, que é o amor que o primeiro mandamento requer, amor a Deus acima de todas as coisas, amor a Deus de todo o nosso coração, de toda a nossa alma, de todo o nosso entendimento e com todas as nossas forças, esse foi totalmente destruído pelo pecado.

O amor natural está ligado à luz da natureza, isto é, à capacidade natural do ser humano de conduzir sua vida com dignidade e decência. Afeto e boa educação são essenciais na criação de qualquer ser humano.

Mas assim como a razão natural não leva o ser humano ao conhecimento de Deus, também o amor natural não leva o ser humano à comunhão com Deus.

Somente quando somos inundados interiormente pela habitação em nós do Espírito Santo, e nascemos de novo e somos iluminados é que o verdadeiro amor a Deus, o Pai, surge em nosso coração.

Jesus, ao despedir-se de seus discípulos, reflete sobre as palavras de Deuteronômio 4.6, que todo israelita sabia de cor, e afirma: “Crede-me que estou no Pai, e o Pai, em mim...Se me amais, guardareis os meus mandamentos... vós conhecereis que eu estou em meu Pai, e vós, em mim, e eu, em vós... Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada... Isto vos tenho dito, estando ainda convosco; mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.” (Jo 14.11, 15, 20, 23, 25, 26).

Somente os corações e almas em que Deus habita, nos quais derramou seu Espírito Santo, é que podem amar a Deus de todo o coração, de to alma, de todo entendimento e com todas as forças.

Esse é o sentido da expressão “batizados no Espírito Santo”, porque a água é um sinal exterior da obra interior, não só de purificação interior ou de perdão dos pecados, mas também de renascimento interior ou de nova vida no Espírito, isto é, de filhos de Deus que invocam a Deus como pai, assim como fez Jesus Cristo, e que o amam e guardam os seus mandamentos.

Somente quando o amor de Deus é derramado em nossos corações podemos amar a Deus, porque somente quando Deus habita em nós, podemos também habitar em Deus.

E ama a Deus somente quem habita em Deus, quem permanece em Deus, quem está em comunhão com Deus.

I

SERVIR A DEUS

Habitar em Deus é, interioremente, crer em Deus, e exteriormente, exercitar-se na Palavra de Deus.

Jesus, aos 12 anos, respondeu a Maria e José que, depois de três dias de procura, o encontraram no templo: Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu Pai? (Lc 2.49) Também lemos em Lc que era costume de Jesus, todo sábado, participar do culto na sinagoga, em que se lia e estudava a Palavra de Deus e se cantavam salmos e se faziam orações.

Mas Jesus mesmo afirma que ele habitava em Deus, o Pai, e o Pai, nele, e Paulo também afirma que no próprio Jesus habitava a plenitude da Divindade.

Por que Jesus precisava ir anualmente ao templo de Jerusalém desde os 12 anos e ir semanalmente na sinagoga?

Porque ao assumir a nossa natureza e habitar entre nós, Jesus esvaziou-se da glória divina e viveu a plenitude de nossa humanidade.

Interiormente, habitava plenamente em Deus e Deus, nele. Exteriormente, fez da leitura e estudo das Escrituras no templo, na sinagoga e em casa, sua habitação com Deus.

Quem crê em Deus e ama a Deus habita em Deus, e faz habitar em sua vida, em sua casa, em sua família, a palavra de Deus, porque pó Espírito Santo habita ricamente entre nós quando a Palavra de Deus habita ricamente entre nós.

Estas palavras que, hoje, te ordeno, estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas.

É por isso que o Apóstolo Paulo recomenda aos cristãos na carta aos Colossenses: Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, como gratidão, em vosso coração (Cl 3.16).

Na carta aos Efésios, Paulo escreve: E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo (Ef 5.18-21).

Em Hebreus, lemos: Guardemos firme a confissão da esperança, em vacilar, pois quem fez a promessa é fiel. Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de nos congregar, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima (Hb 10.23-25).

O Espírito Santo faz sua obra em nós por meio da Palavra, quando ouvimos e lemos a Palavra de Deus.

Temos em nossa congregação muitas oportunidades de estudo da Palavra de Deus, não só o culto, mas também a escola bíblica, os departamentos, a instrução de confirmandos, os estudos em casa... façamos da Palavra de Deus a nossa habitação para que habitemos em Deus aqui e na eternidade.

Amém.

ISAIAS 50.4-9

Domingo de Ramos – 16/03/2008

Isaías 50.4-9(10)

Graça e paz da parte de Deus nosso Pai

e de Jesus Cristo nosso Senhor.

Estimados no Senhor:

Isaías 50 é um dos chamados cânticos do Servo do SENHOR – os quais antecipam, como profecia, que o Messias, antes de vir em glória, passaria pela chamada “grande tribulação” (Daniel 12.1), a tribulação do remanescente fiel. Isaías foi o profeta que anunciou que o remanescente fiel se reduziria a apenas uma pessoa, o Servo do SENHOR (Is 51.2; Is 52.13; Is 53.4).

Os escribas anunciavam que a vinda do reino de Deus, a chamada restauração de Israel, viria somente depois de que a fidelidade do povo fosse provada durante a grande tribulação (Apocalipses judaicos: Ap de Enoque, Ap de Baruque, Ap de Esdras, Salmos de Salomão, etc.). Aguardavam a vinda do Messias para depois da tribulação, para o chamado resto ou remanescente fiel do povo de Israel. Os capítulos finais de Isaías anunciam, por meio de quatro cânticos sobre o “Servo do SENHOR”, que o Messias, ele próprio, seria o remanescente fiel, que, em lugar do povo, tomaria em seus próprios ombros a grande tribulação, a saber, a tentação de Satanás e o sacrifício da própria vida nas mãos de inimigos e de apóstatas, como oferta pelo pecado.

Somente então, tendo passado pela grande tribulação, tendo vencido as forças do mal, o poder de Satanás e o flagelo da morte, o Messias seria glorificado, e o reino de Deus viria. É por isso que, quando Pedro procura dissuadir Jesus de passar pela tribulação, Jesus o repreende como porta-voz de Satanás, porque não poderia trazer a redenção sem passar pela tribulação (Is 53). Essa tribulação, cristo experimentou no Getsêmani, nos flagelos nas mãos da guarda do templo, da guarda de Herodes e da guarda de Pilatos, e quando, pregado na cruz, gritou as palavras do Salmo 22: Eli, Eli, lama sabactani? Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste [abandonaste]? (Sl 22.1; Mt 27.46).

Se não entendemos isto, não podemos entender as palavras da Epístola de hoje (Fp 2.5-11):

Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,

Pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.

Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.

O povo não errou ao receber Jesus em Jerusalém como Messias, Filho de Davi e Rei de Israel, mas o povo não entendia que havia chegado a hora da grande tribulação, a hora do cálice amargo, a hora em que o Filho do Homem haveria de ser levantado na cruz (Jo 3.14), e levar sobre si a maldição e o castigo para tornar-se fonte de bênção e de paz (Is 53.6; Gl 3.13,14).

Muitas vezes dizemos que o povo judeu esperava um mero libertador político que os livrasse das mãos dos romanos. Isso é verdade, a libertação política era, para eles, um aspecto da obra do Messias. Mas esperavam também a ressurreição dos mortos e o reino glorioso de Deus sobre a terra (Cf. At 1.6; Jo Jo 11.24).

Ao receber Jesus como Messias, esqueciam-se, porém, que a exaltação do Messias não se daria antes da grande tribulação, anunciada pelo profeta Daniel e pelos cânticos do Servo do SENHOR em Isaías: a tribulação que o Messias, como remanescente fiel, experimentaria em lugar de toda a humanidade e não só do povo de Israel, o enfrentamento das forças demoníacas mas também o castigo da lei de Deus: se pecares, certamente morrerás (Gn 2.17).

Jesus recebeu o cântico do povo como anúncio de que a hora da glorificação havia chegado: a glorificação de Deus por meio do sacrifício de sua própria vida em favor dos pecadores e a glorificação do Servo de Deus pela ressurreição ou exaltação. Se as crianças fossem proibidas de cantar o Salmo Real, o salmo da entronização do rei de Israel – Hosana ao Filho de Davi, bendito o que vem em nome do Senhor – as próprias pedras cantariam, porque a hora havia chegado (Mt 21.15,16; Lc 19.40).

Todas as peregrinações a Jerusalém, através dos séculos, nada haviam sido senão prenúncio dessa hora – a hora em que o descendente de Eva enfrentaria a serpente, em que seu calcanhar seria ferido, mas o mesmo calcanhar viria a esmagar a cabeça da serpente, retirando-lhe o poder de acusação contra a humanidade. Todo o sangue dos sacrifícios de cordeiros derramado e aspergido sobre o povo durante séculos nada era senão sinal da morte redentora do Servo do SENHOR, do Cordeiro de Deus, Cordeiro imolado, mas também Cordeiro vencedor, como é apresentado no Apocalipse, como aquele que foi morto mas que vive e reina poderoso sobre tudo e sobre todos, diante de quem todo joelho se dobrará e toda língua confessará que é Senhor, para a glória de Deus Pai.

Por isso, o cântico do Servo em Isaías termina dizendo: “Aquele que andou em trevas, sem nenhuma luz, confie em o nome do SENHOR e se firme sobre o seu Deus” (Is 50.10).

Jesus mostrou a todos o caminho da salvação: no meio da tribulação, buscar socorro somente em Deus; nas trevas confiar somente em Deus; diante do acusador, ter somente Deus como advogado.

Essa é a verdadeira doutrina da justificação, não uma idéia ou teoria de que Deus não se importa com nossos pecados e que nos declara justos mesmo quando permanecemos em nossos pecados. Essa idéia ou teoria, que alguém já chamou de “graça barata” (Dietrich Bonhoeffer, Discipulado), não é bíblica, nem mesmo luterana, porque a justificação de Deus nós só a experimentamos quando estamos no meio da tribulação, quando o acusador nos mostra as portas abertas do inferno à nossa frente, quando estamos nas trevas do desespero, quando o pecado nos pesa na vida e na consciência, quando o pavor da morte nos assombra.

A doutrina da justificação é, em Isaías e todos os profetas, em Paulo e todos os apóstolos e também em Lutero (ver Regin Prenter, Spiritus Creator), a doutrina do conforto que o pecador encontra somente em Deus quando é tentado ao desespero, quando o diabo não tenta com a sedução para o pecado, mas quando o diabo tenta como o acusador, quando enfrentamos a nossa hora de tribulação, quando bebemos o nosso próprio cálice de amargura, quando não nos reconhecemos senão como pecadores perdidos e condenados, ou como Paulo afirmou, quando nos reconhecemos como o maior dos pecadores (1 Co 15.8,9; 1 Tm 1.15).

“Perto está o que me justifica; quem contenderá comigo? (...) Eis que o SENHOR Deus me ajuda quem há que me condene?” - afirma o Servo do SENHOR em Isaías 50.8 e 9. Sua confiança está em Deus, somente em Deus, por isso afirma: “não serei envergonhado” --não serei confundido, não serei decepcionado. Cristo é a Rocha firme, o castelo forte, quem sobre esta pedra constrói sua esperança não será jamais envergonhado (1 Pe 2.6). As acusações e zombarias do mundo passarão, serão consumidos como pano velho pela traça: “Eis que todos eles se envelhecerão como um vestido, e a traça os comerá” (Is 50.9), mas o Servo do Senhor não será envergonhado.

Essa é a doutrina da justificação, que não está separada da vida de luta do cristão no mundo, das tribulações desta vida. Esta é a doutrina bíblica da justificação, como oramos no Pai Nosso: “Venha o teu reino, dá-nos o pão cotidiano, perdoa-nos as nossas dívidas, não nos conduzas à tribulação, livra-nos do acusador” (paráfrase).

A doutrina da justificação é consolo para os tentados, somente para os tentados. Quem jamais lutou contra o acusador, e este é sentido do nome hebraico, Satanás – o anjo acusador, que acusa os filhos de Deus diante do próprio trono de Deus, que acusou Jó de ser justo porque não era tentado (Jó 1.6), quem nos tempos depois do Exílio Babilônico, acusou Josué e Zorobabel de não serem dignos de liderarem o povo de Deus (Zc 3.1 e seguintes). O anjo acusador, que lutou contra o arcanjo Miguel, para reter o corpo de Moisés na terra, quando Miguel veio buscar Moisés para junto de Deus (Judas 9). Porque o acusador temia que intercessão de Moisés em favor do povo de Deus continuasse no céu junto a Deus, como havia ocorrido na terra (Nm 11.2; .

Não Moisés, mas Jesus, o Cordeiro Vencedor, é nosso advogado e intercessor junto ao Pai:

“Temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro...

Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo...

E nisto conheceremos que somos da verdade, bem como, perante ele, tranqüilizaremos o nosso coração; pois, se o nosso coração nos acusar, certamente, Deus é maior do que o nosso coração e conhece todas as coisas.” (1 Jo 2.1,2; 3.8b; 19,20).

A morte e ressurreição de Jesus são, para nós, conforto e salvação quando compreendemos que por nossos pecados Jesus morreu e pela nossa justificação ressuscitou, como Paulo escreve em Romanos 4. 25: “[Jesus, nosso Senhor] foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação.”

Se Jesus não tivesse morrido por nossas transgressões, não teríamos a remissão dos pecados; se Jesus não tivesse ressuscitado, não o teríamos como nosso Advogado junto ao Pai, que nos justifica perante o trono de Deus, e que intercede por nós junto ao Pai.

Se o acusador temia a presença de Moisés junto ao trono de Deus, como intercessor, que poderá fazer contra nós que temos Jesus Cristo, o Servo Justo, o Remanescente Fiel, como nosso Intercessor e Advogado?

“Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? [isto é, quem nos separará do amor do Messias?] (Romanos 8.31-35a; cf. Hb 8.1,2).

Não foi Moisés quem deteve o acusador. A Lei de Moisés, ao contrário, tornou-se instrumento de acusação, com disse Jesus aos judeus de seu tempo: “Não penseis que eu vos acusarei perante o Pai; quem vos acusa é Moisés, em quem tendes firmado a vossa confiança” (Jo 5.45; cf. Hb 10.3: “Mas nesses sacrifícios cada ano se faz recordação dos pecados”). Quem deteve o acusador foi Jesus, o Cordeiro Vencedor, “o Leão da tribo e Judá, a Raiz de Davi” (Ap 5.5), com lemos no Cântico do Cordeiro em Apocalipse 12:

“Agora, veio a salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo [Messias], pois foi expulso o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de noite, diante do nosso Deus. Eles, pois, o venceram, por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida.” (Ap 12.10,11).

Se diante do trono de Deus o diabo perdeu seu lugar de acusador, também de nosso coração e de nossa consciência o acusador deve ser expulso, porque Deus é maior do que nossa consciência e nosso coração. Os mártires, na tribulação sob a perseguição romana, mantiveram a confissão de fé em Cristo, e morreram justificados – isto é, absolvidos e inocentados por Deus. Glorificaram a Deus com seu martírio no mundo, mas foram recebidos por Deus na glória, que será revelada no dia final. A justificação, para os mártires, não foi uma teoria acerca da salvação, mas uma experiência concreta, a acusação do mundo e do diabo não lhes removeu a confiança em Cristo como Advogado junto ao Pai.

Na primeira carta aos Tessalonicenses, Paulo adverte os cristãos de que a fé salvadora vence a tentação e a tribulação:

“enviamos Timóteo, nosso irmão, e ministro de Deus no evangelho de Cristo, para vos fortalecer e vos exortar acerca da vossa fé; para que ninguém seja abalado por estas tribulações; porque vós mesmo sabeis que para isto fomos destinados; pois, quando estávamos ainda convosco, de antemão vos declarávamos que havíamos de padecer tribulações, como sucedeu, e vós o sabeis. Por isso também, não podendo eu esperar mais, mandei saber da vossa fé, receando que o tentador vos tivesse tentado, e o nosso trabalho se houvesse tornado inútil.” (1 Ts 3.2-5).

Essa passagem é um exemplo prático porque devemos orar o Pai Nosso: porque a fé salvadora é a fé que se comprova como fé no meio da tribulação e da tentação, na hora em somos acusados pelo tentador de indignos da salvação, indignos de nos chamarmos de filhos de Deus neste mundo, na hora em que não temos onde mais buscar ajuda e socorro senão na misericórdia de Deus, na bondade de Deus. Nessa hora, quando nenhum conforto e ajuda nos restar, quando o mundo desaparecer e as portas do inferno se abrirem para nos tragar, então experimentamos a justificação, o poder do perdão dos pecados, o poder da graça de Deus, o poder do evangelho. Nessa hora, teorias se esvanecem e somente a verdadeira fé em Cristo como nosso Salvador pode nos livrar e nos confortar. Então, podemos dizer: “Perto está o que me justifica!” Não estamos sozinhos na luta contra o tentador e acusador, temos Advogado, Jesus Cristo, o Justo, nosso Salvador.

Ainda que o mundo se transtorne ao nosso redor e contra nós, podemos dizer com Jesus e com os mártires cristãos: “Perto está o que me justifica!” Sim, perto, diz Paulo em Romanos 10.9,10, perto do coração e perto da boca, pois “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para a justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação.”

“Perto está o que me justifica!”, Jesus Cristo, meu defensor perante o trono de Deus.

Amém.

Luisivan Vellar Strelow

Congregação Evangélica Luterana da Esperança

Brasília, DF

CREDO ATANASIANO

O CREDO ATANASIANO

O - Aquele que quiser ser salvo, antes de tudo deverá ter a verdadeira fé cristã.

C - Aquele que não a conservar em sua totalidade e pureza, sem dúvida perecerá eternamente.

O - E a verdadeira fé cristã é esta,

T - que honremos um único Deus na Trindade e a Trindade na Unidade,

O - não confundindo as pessoas nem dividindo a substância divina.

C - Pois uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho e outra a do Espírito Santo;

O - mas o Pai, o Filho e o Espírito Santo são um único Deus, iguais em glória e majestade eterna.

T - Qual o Pai, tal o Filho, tal o Espírito Santo.

O - O Pai é incriado, o Filho é incriado, o Espírito Santo é incriado.

C - O Pai é incomensurável, o Filho é incomensurável, o Espírito Santo é incomensurável.

O - O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno.

T - Contudo não são três Eternos, mas um único Eterno.

O - Do mesmo modo não são três Incriados, nem três Incomensuráveis, mas um único Incriado e um único Incomensurável.

C - Da mesma maneira, o Pai é todo-poderoso, o Filho é todo-poderoso, o Espírito Santo é todo-poderoso;

O - contudo, não são três Todo-Poderosos, mas um único Todo-Poderoso.

T - Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus;

O - todavia, não são três Deuses, mas um único Deus.

C - Deste modo o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor;

O - entretanto, não são três Senhores, mas um único Senhor.

T - Visto que, segundo a verdade cristã, nos importa confessar cada pessoa por sua vez como sendo Deus e Senhor, é-nos proibido pela fé cristã dizer que há três Deuses e três Senhores.

O - O Pai por ninguém foi feito, nem criado, nem gerado.

C - O Filho provém apenas do Pai, não foi feito, nem criado, mas gerado.

O - O Espírito Santo não foi feito, nem criado, nem gerado pelo Pai e pelo Filho, mas deles procede.

C - Logo, é um único Pai, não são três Pais; um único Filho, não três Filhos; um único Espírito Santo, não três Espíritos Santos.

O - E nesta Trindade nenhuma pessoa é anterior ou posterior, nenhuma maior ou menor;

C - mas todas as três pessoas são coeternas e iguais entre si;

T - de modo que, como foi dito, em tudo seja honrada a Trindade na Unidade e a Unidade na Trindade.

O - Portanto, quem quiser ser salvo, deverá pensar assim da Trindade.

C - Entretanto, é necessário para a salvação eterna crer também fielmente na humanação de nosso Senhor Jesus Cristo.

O - Esta é, portanto, a fé verdadeira:

T - crermos e confessarmos que nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, é Deus e Homem.

O - É Deus da substância do Pai, gerado antes dos tempos, e homem da substância de sua mãe, nascido no tempo;

C - Deus perfeito e Homem perfeito, subsistindo em alma racional e carne humana.

O - Igual ao Pai segundo a divindade e menor do que o Pai segundo a sua humanidade.

T - Ainda que é Deus e Homem, nem por isso são dois, mas um único Cristo.

O - Um só, não pela transformação da divindade em humanidade, mas mediante a recepção da humanidade na divindade.

C - É, de fato, um só, não pela fusão das duas substâncias, mas por unidade de pessoa.

O - Pois, assim como corpo e alma racional constituem um único homem, Deus e Homem é um único Cristo,

C - o qual padeceu pela nossa salvação, desceu ao inferno, no terceiro dia ressuscitou dos mortos.

O - Subiu ao céu, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os monos.

C - E quando vier, todos os homens hão de ressuscitar com os seus corpos e dar contas de seus próprios atos,

O - e aqueles que fizeram o bem irão para a vida eterna, mas aqueles que fizeram o mal, para o fogo eterno.

T - Esta é a verdadeira fé cristã. Aquele que não crer com firmeza e fidelidade, não poderá ser salvo.

 

 

 

 

CREDO ATANASIANO

Todo aquele que quer ser salvo, antes de tudo deve professar a fé católica. Quem quer que não a conservar íntegra e inviolável, sem dúvida perecerá eternamente. E a fé católica é consiste em venerar um só Deus na Trindade e a Trindade na unidade, sem confundir as pessoas e sem dividir a substância. Pois uma é a pessoa do Pai, outra é a pessoa do Filho, outra é a pessoa do Espírito Sant; mas uma só é a divindade do Pai e do Filho e do Espírito Pai e o Filho e o Espírito Santo, igual a glória e coeterna majestade. Qual o Pai, tal o Filho, tal também o Espírito Santo. Incriado é o Pai, incriado é o Filho, incriado é o Espírito Santo. Imenso é o Pai, imenso o Filho, imenso o Espírito Santo. Eterno o Pai, eterno o Filho, eterno o Espírito Santo. Contundo, não são três eternos, uma um único eterno. Como não há três incriados, nem três imensos, porém um só incriado e um só imenso. Da mesma forma, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente; contudo, não há três onipotentes, uma um só onipotente. Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus; todavia, não há três deuses, porém um único Deus. Como o Pai é senhor, assim o Filho é Senhor, o Espírito Santo é senhor; entretanto, não são três senhores, porém um só Senhor. Porque assim como pela verdade cristã somos obrigados a confessar que cada pessoa, tomada em separada, é Deus e Senhor, assim também estamos proibidos pela religião católica de dizer que são três Deuses ou três Senhores. O Pai por ninguém foi feito, nem criado, nem gerado. O Filho é só do Pai; não foi feito, nem criado, nem gerado. O Espírito Santo é do Pai e do Filho; não feito, não criado, nem gerado, mas procedente. Há, portanto, um único Pai, não três Pais; um único Filho, não três Filhos; um único Espírito Santo, não três Espíritos Santos. E nesta Trindade nada é anterior ou posterior, nada maior ou menor; porém todas as três pessoas são coeternas e iguais entre si; de modo que em tudo, conforme ficou dito acima, deve ser venerada A Trindade na unidade e na Trindade. Portanto, quem quiser ser salvo, deve pensar assim a respeito da Trindade. Mas para a salvação eterna também é necessário crer fielmente na encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo. A fé verdadeira, por conseguinte, é crermos e confessarmos que nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho Deus, é Deus e homem. É Deus, gerado da substância do Pai antes dos séculos, e é homem, nascido, no mundo, da substância da mãe. Deus perfeito, homem perfeito, subsistindo de alma racional e carne humana. Igual ao Pai, segundo a divindade; menor que o Pai, segundo a humanidade. Ainda que é Deus e homem, todavia não há dois, porém um só Cristo. Um só, entretanto, não por conversão da divindade em carne, mas pela assunção da humanidade em Deus. De todo um só, não por confusão de substância, mas por unidade de pessoa. Pois Assim como a alma racional e a carne é um só homem, assim Deus e homem é um só em Cristo; O qual padeceu pela nossa salvação, desceu aos infernos, ressuscitou dos mortos, subiu aos céus, está sentado à destra do Pai, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos. À sua chegada todos os homens devem ressuscitar com os seus corpos e vão prestar contas de seus próprios atos; e aqueles que tiverem praticado o bem irão para a vida eterna; aqueles que tiverem praticado o mal irão para o fogo eterno. Esta é a fé católica. Quem não a crer com e fidelidade e firmeza, não poderá salvar-se.

CREDO ATANASIANO

Aquele que quiser ser salvo, antes de tudo deverá ter a verdadeira fé cristã. Aquele que não a conservar em totalidade e pureza, sem dúvida perecerá eternamente. E a verdadeira fé cristã é esta: que honremos um único Deus na Trindade e a Trindade na Unidade, o Pai e o Filho e o Espírito Santo são um único Deus, iguais em glória e iguais em majestade eterna. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno. Contudo não são três Eternos, mas um único Eterno. E nesta Trindade nenhuma pessoa é anterior ou posterior, nenhum é maior ou menor; mas todas as três pessoas são coeternas e iguais entre si; de modo que, como foi dito, em tudo seja honrado a Trindade na Unidade e a Unidade na Trindade. Aquele, portanto, que quiser ser salvo, deverá pensar assim da Trindade. Entretanto, é necessário para a salvação eterna crer também fielmente na humanação do nosso Senhor Jesus Cristo. Esta é, portanto, a fé verdadeira: crermos e confessarmos que nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho Deus, é Deus e Homem. O qual padeceu pela nossa salvação, desceu ao inferno, no terceiro dia ressuscitou dos mortos, subiu ao céu, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Esta é a verdadeira fé. Aquele que não o crer com firmeza e fidelidade, não poderá ser salvo.