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06 agosto 2013

HEBREUS 12.1-8

13º DOM. APÓS PENTECOSTES
Hb 12.1-8


Contexto
Como interpretamos nossa vida de fé, devoção e adoração? Está tudo em ordem? Não existe nenhum problema? Alcançamos os objetivos espirituais em nossa vida? Ou existe preocupação? Inquietação? Percebemos perigos? Enfrentamos dificuldades? Necessitamos corrigir nossa vida pecaminosa? Vivemos o arrependimento? Procuramos viver a nova vida? A igreja cristã necessita lutar. Combater o bom combate. Em toda sua história enfrentou as mais diversas dificuldades e desafios. Sempre que parou, a igreja estagnou. Faltou envolvimento e, conseqüentemente, desenvolvimento. Uma igreja parada não progride. Não consegue seguir os passos de seu Senhor. No passado, a igreja travou muitas lutas. Aprendeu a usar as armas espirituais para combater todo e qualquer perigo. Em todas as lutas a igreja cresceu. Seus membros saíram fortalecidos. Aprenderam a confiar no Senhor da Igreja e nas suas promessas.
Antigamente, as fronteiras da luta eram conhecidas. Os cristãos sabiam de onde vinha o perigo. Em nossos dias, a situação parece ser diferente. A igreja de hoje se preocupa, realmente, com as forças da época que ameaçam sua existência? Assumimos nossas responsabilidades no discernimento do tempo? Conhecemos as trincheiras e arapucas que impedem o crescimento espiritual em nosso meio? Nossa atenção se concentra em que direção? Admitimos o enfraquecimento de nossa fé? Buscamos, em tudo, a vontade do Senhor? Não é somente interessante, mas muito mais importante ler e estudar com atenção o nosso texto. A voz do apóstolo solicita o reexame de nossa posição como igreja e como membro na igreja. Da experiência do passado, nasce a coragem e o compromisso para enfrentar os perigos que ameaçam a igreja cristã de nossos dias.
Texto
"Portanto, também nós" (v, 1). Isto é um apelo. Faz lembrar o passado (cf. Cap. 11) e viver o presente. Um apelo que envolve. Não deixa escapar ninguém. Faz lembrar que o povo do Senhor vem atravessando a história, enfrentando situações peculiares. Recorda as lutas passadas e encoraja para enfrentar os perigos presentes. Recebeu-se uma herança. Temos a obrigação de guardá-la fielmente e entregá-la às mãos da próxima geração.
" . . . visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas" (v. 1). Consolo para uma igreja que luta e sofre c o saber de ser acompanhado pelas fiéis testemunhas. A igreja militante vive na expectativa de um dia participar na igreja triunfante. Para alcançar este objetivo não pode haver vacilação. Todos os membros da igreja vivem sob a solicitação constante de concentrar suas forças no prosseguimento da caminhada em direção à eternidade. Tudo o que poderia impedir ou obstruir o "seguir a Jesus" deve ser evitado. A cristandade vive na arena do mundo. Há muitos expectadores que observam o procedimento
do povo de Deus. Nesta jornada ninguém está só. O testemunho dos fiéis no passado fortalece o testemunho no presente.
Vivemos rodeado de irmãos que passam pelas mesmas dificuldades. Importa repartir a carga e compartilhar as dádivas espirituais que o Senhor oferece para o fortalecimento da fé. A comunhão no Senhor é indispensável.
" . . . desembaraçando-nos de todo peso" (v. 1). Olhando somente para si, o homem acumula cargas insuportáveis. É a carne, o espírito do mundo, que prende o cristão. As cousas do mundo desviam a fé. Fazem o homem usar todas as suas forças intelectuais e corporais, concentrando-as em objetivos imanentes. Perde-se a visão do transcendente. Facilmente perde-se o costume da vida autêntica espiritual de fitar os olhos em Cristo, o autor e consumador da fé. É o "pecado que tenazmente nos assedia". O pecado impede a luta a favor da fé em Cristo.
" . . . corramos com perseverança" (v. 1). Tudo o que desfavorece o viver a fé deveria estar em segundo lugar (cf. Fp 4,8,9). Vida cristã necessita treinamento permanente. 0 cristão necessita aprender a viver em auto-disciplina. Necessita concentrar toda sua força para "correr no estádio" (cf. 1 Co 9.24-27).
Seguir a Jesus Cristo não é mero passeio. O Senhor do mundo exige o empenho máximo em favor de sua obra. Todo cristão deveria concentrar sua atenção no objetivo espiritual de sua vida.
Deveria esquecer-se de tudo o que poderia impedi-lo de alcançar este objetivo. Motivado pelo espírito voluntário (cf. o lema da igreja) e repleto de um espírito de disposição, o cristão deveria desconhecer fenômenos como comodidade, indiferença, demorar no tempo etc. O cristão é solicitado a correr com santa inquietação, pois ele não sabe quanto tempo lhe resta na jornada terrena. Faz parte desta "corrida" a renúncia em muitos sentidos.
Cada cristão enfrenta dificuldades e tentações pessoais. Existem tantos problemas que muitas vezes sufocam a vida do cristão. As necessidades surgem, as dúvidas abalam e a falta de segurança na vida espiritual ameaça o crescimento espiritual das pessoas. Para a congregação cristã, os perigos vêm de todos os
lados (cf. Jo 15.20; 1 Pe 4.12-13 etc). Em toda e qualquer tribulação se faz necessária a perseverança (cf. Rm 5.1-5).
" . . . olhando firmemente" (v. 2). Envolver-se na luta significa conhecer as regras. As regras para a luta encontramos em 2 Co 10.4; Ef 6.10ss; 2 Tm 2.5ss. A regra maior, porém, é o olhar para o próprio Cristo. "Olhando firmemente" a ele significa dar menos importância para as cousas materiais que nos cercam. Os "frutos da carne" (cf. Gl 5) desviam a atenção. Entregar-se às preocupações (cf. Mt 6.25ss), o amor ao dinheiro (cf. 1 Tm 6,6-10;) e o envolvimento total para viver somente o bem-estar fisico, alienam a vida de fé. É necessário viver uma vida de fé desprendida dos valores terrenos e confiante nos valores eternos. Existe uma regra que diz: tudo o que fixamos com atenção, toma poder sobre nós.
Olhar firmemente para Cristo significa contar com a realidade de Deus que se manifestou e manifestará por intermédio dele. Em, Cristo está presente o invisível (cf. Cl 1.15ss;). Deus está presente sempre quando seus filhos se reúnem em nome de Jesus Cristo. Isto acontece quando lemos a Escritura, oramos
com e em favor do próximo e quando ouvimos a proclamação da palavra divina. A congregação cristã vive da força que provêm do Cristo presente no meio daqueles que o seguem. Com o espírito de Cristo é possível enfrentar a resistência do mundo e da própria carne. Caminhando com ele e sob sua proteção evitaremos qualquer cansaço na vida espiritual. Tendo uma boa disciplina cristã e sabendo lutar com destemor contra os perigos a igreja cristã, terá sempre um bom motivo para obedecer a palavra do Senhor e se submeterá a qualquer medida disciplinária que vem daquele que ama o seu povo escolhido. O resultado será o fortalecimento da fé e uma maior dedicação de cada membro querendo servir ao Senhor com alegria.
Disposição
CORREMOS COM CRISTO A CARREIRA QUE NOS ESTÁ PROPOSTA
I — Enfrentando todas as dificuldades;
II — Olhando firmemente para o futuro;
III — Aceitando a disciplina divina.
Hans Horsch

Igreja Luterana N.° 01 JAN — JUN/89

Lucas 12.32-40

DÉCIMO SEGUNDO DOMINGO APÓS PENTECOSTES
30 de Agosto de 1992
Lucas 12.32-40
Leituras do dia:


A partir das leituras do dia não encontramos dificuldades para determinar o tema do domingo. Ele salta aos olhos no conjunto dos textos indicados e podemos resumi-lo em poucas palavras, como, por exemplo, a excelência da fé.
O salmo transmite a verdade de que a excelência da fé produz o verdadeiro culto a Deus. Não são as cerimônias exte- riores e formais que estabelecem um cultuar correto ao Senhor. O culto exterior tem que ser precedido do culto interior tem que ser precedido do culto interior e este, por sua vez, nasce de um coração unido a Deus por meio da fé. Da comunhão interior com Deus procede uma vida cúltica, caracterizada não apenas pela observância de certos momentos de adoração, mas por uma seqüência de vida em que os atos expressam confiança no Senhor e amor por sua palavra.
A leitura do Antigo Testamento depõe a favor de Abraão e testemunha a respeito de sua confiança na palavra do Senhor. Seu exemplo de fé estimula a todos quantos o conhecem. Por confiar no que Deus disse, tornou-se herdeiro de uma maravilho- sa promessa.
O texto de Hebreus define o conceito de fé e divulga seus excelentes resultados espalhados no testemunho deixado pelos grandes heróis do Antigo Testamento.
Contexto do Evangelho
Jesus vem falando sobre a fé e seu valor na vida dos filhos de Deus. Falava ao povo (multidão, segundo Lc 12.1) e espe- cialmente aos discípulos (também 12.1). Ressaltou o valor da fé para enfrentar os adversários (12. 1-12); a superioridade da fé sobre a cobiça às riquezas (12. 13-21); o proveito da fé diante da ânsia e cuidado pelas necessidades corporais e materiais (12. 22-31): a fé como meio de recebimento do verdadeiro te- souro (12. 32-34): e a necessidade de conservar a fé para a vigi- lância diante da iminência da vinda de Cristo (12. 35-40).)
O texto
V. 32 — Um "pequenino rebanho": a expressão revela imediatamente uma idéia de fraqueza, de inferioridade em rela-
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cão ao que está ao redor. O grupo dos discípulos era um peque- no rebanho no meio do mundo que não deixaria de se opor a eles como se opôs ao seu Mestre. Os cristãos continuam sendo um pequenino rebanho em meio ao enorme mundo de descrentes ou seguidores de falsas crenças. Olhando só para eles e o que os cercava, os discípulos, certamente iriam se sentir desguarne- cidos, desprotegidos e, conseqüentemente, com medo. Pouca ou quase nenhuma é a força do homem frente às forcas que se con- jugam ao lado contrário. Por isso, quando está só ou num pe- queno grupo, não há lugar para outro sentimento no coração humano a não ser o temor.
O pequenino rebanho, porém, não estava só. Havia um fato relacionado a eles que transformaria completamente a si- tuação. Se os olhos do corpo podiam contemplar somente a vul- nerabilidade do grupo, por outro lado, todavia, era desvendado aos olhos da fé aquilo que é sempre um mistério, ou seja, a gra- ciosa providência de Deus em favor dos seus. É mistério porque não atinamos com nossa razão em. descobrir o que leva Deus a olhar benevolentemente para criaturas pecadoras. Sabemos ape- nas que isso significa que o Senhor se achega em graça junto aos pecadores. Em graça ele também se aproximava dos discí- pulos, "agradando-se" (sem mérito deles) em lhes dar o seu reino. Por isso, a graça divina a eles alcançada por intermédio de Cristo e aceita por eles através da fé, agigantava-os sobrema- neira, embora numericamente continuassem um pequenino re- banho. Desfrutavam do reino de Deus, sob os cuidados do Se- nhor, não estando mais à mercê do movimento de forças opostas, mas fundamentados na proteção amorosa de Deus.
V. 33 — Não há aqui nenhum conselho para se apossar de uma pobreza meritória. O rumo mostrado é outro. A confiança nos resultados da ação graciosa de Deus (agradou-se em dar-nos o seu reino) faz nosso coração repousar não na ilusória segu- rança dos valores materiais, como fez o rico insensato, descrito nos versículos 16 a 20. Guardou o que conseguiu em bolsas que se desgastaram e deixaram escapar tudo que havia ajuntado. O coração do filho de Deus encontra repouso na providência amo- rosa do Senhor como fruto de sua graça. Tal fé dirige toda a sua vida, libertando-o do domínio das posses a tal ponto que até pode delas se desfazer para a prática da caridade. Uma fé que se mostra assim ativa no amor coloca também a esperança de vida, tanto de agora quanto do depois, no único que pode concretizá-la: Deus. Dele vem à vida plena garantida pela in- termediação de Cristo com sua obra redentora. Tal vida se cons- titui no tesouro inextinguível imune ao ladrão e à traça. Por recebermos do Pai o seu reino, já desfrutamos em parte desta
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vida, deste tesouro, aqui na terra, enquanto aguardamos a sua plenitude nos céus.
V. 34 — O coração sempre pende para aquilo que é o te- souro de alguém. A oferta do reino trazida por Jesus ao peque- nino rebanho quer mover os corações dos discípulos em direção ao tesouro incorruptível e glorioso. Que diferença em relação ao rico insensato anteriormente mencionado!
Vv. 35-40 — Em lugar da análise exegética de cada destes versículos em separado, podemos agrupá-los e extrair do con- junto a verdade neles englobada. A ênfase está na vigilância diante da iminência da chegada do senhor, apontando para o Filho do homem que virá. Trará com ele a consumação de tudo aquilo que agora é parcial (por ex., nosso tesouro). Pela fé nele teremos acesso a tal plenitude. Será a vez do pequenino reba- nho, tão inexpressivo frente aos grandes e poderosos do mundo, ser alçado à glória e ao poder com. aquele que é o Senhor da glória e do poder.
Para se chegar a esse final feliz da história de nossa vida, há que existir a vigilância. Não há da parte do Senhor nenhuma menção com referência ao momento de sua vinda, o que requer vigilância constante dos servos que o aguardam, com os corpos cingidos e as candeias acesas. Pois o que conserva os discípulos vigilantes é a fé no Senhor Jesus e na promessa do seu regresso. Mais uma vez comprova-se a excelência da fé! É nada menos do que confiança naquilo que a graça divina já operou a nosso favor — deu-nos o reino do Pai, sendo esta dádiva possível pela intermediação de Cristo; ofereceu-nos um tesouro inextinguível e incorruptível (lembre 1 Pe 1.4) — e ainda quer realizar: trazer o Filho do homem novamente ao mundo para nos transformar num rebanho triunfante.
A fim de garantir a subsistência de coisa tão excelente, a fé, nosso Senhor Jesus providencia sua permanência operante em nossa vida. Esteve pessoalmente com os discípulos e chega a nós pelos meios da graça, pelos quais opera em defesa e para crescimento da fé.
Proposta homilética
Tema: A Excelência da Fé
Introdução: A fé, algo tão precioso, não pode ser mal avaliada. O que pouco vale facilmente é abandonada. Mensagem visa co- locar diante do ouvinte a preciosidade da fé.
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I — O pequenino rebanho e seus medos
1) O contexto do capítulo 12 de Lucas até o versículo 29 fala dos medos comuns àqueles que se sentem peque- nino rebanho.
II — O pequenino rebanho não está só e desguarnecido
1) Sobre ele paira o favor (graça) do Pai: dá o seu reino.
A — Em vez de estar abandonado diante dos perigos e inquietações, percebe a ação do Pai em seu be- nefício: nada menos do que a oferta de ingresso no reino do Pai todo-poderoso.
2) Forma de aceitar a dádiva do reino: pela fé em Cristo tão somente. Eis a excelência da fé!
III - O pequenino rebanho no reino do Pai
1) Entre outras bênçãos ali recebidas, descobre o verdadeiro tesouro.
2) A fé nas promessas do Pai inclina os corações para o verdadeiro tesouro, ao mesmo tempo em que liberta da escravidão aos tesouros guardados em bolsas que se desgastam. Eis novamente a excelência da fé!
IV - O pequenino rebanho prepara-se para a vinda do Pastor
Jesus
1) No reino do Pai caminha para a glória.
A — Ainda, porém, não chegou lá. Atitude a ser to- mada durante o tempo do "ainda não": Vigilân- cia!
B — Apenas saber que Cristo virá não garante encon- tro feliz com ele. É preciso também o preparo adequado.
2) A vigilância evita surpresas desagradáveis.
A — Conserva-se vigilante aquele que permanece em fé no Salvador Jesus. A excelência da fé!
B — A providência divina para conservar e fortalecer em nós coisas tão excelente: ação do Espírito Santo pelos meios da graça.
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Conclusão: Toda a graça que o Pai dispensa ao pequenino re- banho (dá o seu reino, opera a fé, conserva-a para que a vigi- lância seja mantida, oferece o tesouro incorruptível da vida eterna) motivo-o a uma vida de serviço voluntário dedicada ao Pastor Jesus.
Paulo Moisés Nerbas

IGREJA LUTERANA
VOLUME 51 JUNHO 1992 NÚMERO 1

LUCAS 22.32-40

DÉCIMO SEGUNDO DOMINGO APÓS PENTECOSTES
Lucas 12.32-40
26 de agosto de 2001
CONTEXTO


V . 32 - Só em Lucas temos este registro. Em Lc 12.4 Jesus chama seus discípulos de “amigos”. Mostra-lhes a limitação em temer homens, convocando-os a não alimentarem este tipo de medo. Jesus fala como Pastor (Jo 10.14) e os chama de “ó pequenino rebanho”. O artigo “ó” é vocativo. O pequeno rebanho não precisa temer nada, pois se encontra seguro sob os cuidados de Jesus. “euvdo,khsen” aoristo indicativo ativo, 3 pes. sing. de = euvdoke,w sentir prazer, enorme satisfação, alegria em querer dar, favor de Deus (2 Co 12.10). Jesus aponta para a promessa graciosa de Deus: dar-lhes o seu reino. No v. 31 Jesus recomenda aos discípulos buscar o reino do Pai, desprendendo seu coração das preocupações do mundo. Logo lhes assegura que Deus Pai tem prazer ou agradou-se em dar-lhes seu reino. Este “agradou-se” mostra toda a dimensão da graça voluntária de Deus. Apesar de dirigir suas palavras ao pequenino rebanho, que se encontrava ao seu redor, fica evidente que elas se aplicam a todos os que pela ação redentora iriam se unir a este rebanho. O aoristo se estende até a eternidade. Assim o infinitivo aoristo de constatação dou/nai di,dwmi refere-se ao reino da graça. “Dar” significa graça por meio de Cristo e por amor de Cristo. Os que estão recebendo esta dádiva imerecida simplesmente hão de regozijar-se e não terão temor de nenhuma espécie.
Vv . 33-34 - A ligação com o ensino do versículo anterior continua. Jesus não exige um juramento de total pobreza, mas o cuidado com as preocupações da vida, que impedem o cristão de poder ver o real valor de viver como agraciado pelo tesouro conquistado em seu favor por Deus. Um tesouro inesgotável, que nada e ninguém poderá tirar (Mt 6.20-21). Novamente, a referência à graciosa redenção, “o tesouro nos céus”. O uso de nossa posses, para o benefício dos semelhantes, é o que a graça de Deus trabalha em nosso coração.

Alguns descobriram “que a vida só vale a pena se vivida em favor dos semelhantes”. Se isto vale para alguns, motivados por sentimentos e forças humanos, maior e mais rica será a dedicação dos filhos(as) de Deus, cuja motivação é a graça de Deus em Cristo. O texto lembra igualmente a transitoriedade da existência terrena (v.34). Em linguagem bíblica, o coração é o depósito de nossa personalidade. Nada e ninguém neste mundo pode nos oferecer um seguro certo. Se como o rico insensato (Lc 12. 15-21) nosso coração se prende aos bens desta vida, precisamos saber que com a nossa morte tudo desaparecerá, menos a nossa vida, que terá eterna continuidade. Na eternidade nos aguarda um tesouro que jamais acaba, o amor de Deus (1 Co 13.13). Este amor é oferecido a todos, neste tempo da graça, na mensagem redentora do Evangelho.
Vv.35 -36 - A parábola do servo vigilante descreve o contexto daqueles que foram chamados a fazer parte do reino da graça. Dentro do contexto oriental, Jesus descreve alguém sempre preparado para esperar a volta de seu Senhor. Plenamente prontos de corpo e espírito (1 Pe 1.13). As imagens usadas são vestimentas longas, com um cinto sobre os ombros que permitia ajustar as vestes na altura da cintura. Assim, em caso de necessidade, daria maior liberdade de movimentos. As “candeias” eram lâmpadas que, além de iluminar o caminho à noite, podiam identificar quem as conduzia. “Candeias”, a fé dos servos(as) que esperam ansiosos pela volta de seu Senhor (Hb 11.1). Esta espera se caracteriza em servir a Deus com os dons por Ele dados. Este serviço se manifesta na pregação viva do Evangelho, o serviço por excelência que os cristãos prestam aos seus semelhantes (Ef. 6.14). Outra característica é propriamente a firme
esperança e o desejo constante pela volta de seu Senhor. As “bodas” ou “das festas de casamento” do Cordeiro iniciaram com a sua ascensão, terão o seu ponto marcante com sua volta, mas, continuam por toda eternidade. A espera vigilante pelo Senhor significa o privilégio dos servos(as) de poderem abrir a porta quando do seu regresso (Ap 3.20).
V . 37 - O climax da parábola centraliza-se nestas palavras de Jesus: “Bem-aventurados aqueles servos . . .” Aqueles que foram vigilantes, não se importando quanto ao tempo e à demora do regresso de seu Senhor. “Bem-aventurados”, não por algum merecimento próprio, mas pelo veredicto de seu Senhor. Para uma festa das proporções da descrita, haveria necessidade de muitos servos e servas para que tudo transcorresse conforme o desejado. No entanto, este Senhor não necessita de nenhum serviço ou ajuda. Ele é o Senhor que tem autoridade sobre céus e terra, o Todo-Poderoso, que convida para suas bodas, e ao mesmo tempo serve seus convidados. Aqui temos uma das mais belas imagens que refletem a unicidade da redenção centrada somente na pessoa e obra do Senhor Jesus Cristo.
É Jesus, o Servo, que por amor serve seus conservos, os cristãos, com as dádivas da salvação. Um banquete completo, cujo tempo de espera e vigília estamos vivendo. Conforme as próprias palavras de Jesus, logo após instituir a Santa Ceia, ao afirmar: “não beberei deste fruto da videira, até aquele dia em que o hei de beber, novo, convosco no reino de meu Pai” (Mt 26.29).

V . 38 - O tema principal da parábola é tão importante que Jesus o repete: “bem-aventurados. . . os servos, que quando o Senhor vier, os encontre vigilantes”. Somente a fé verdadeira conserva os servos(as) vigilantes. Fé no seu Senhor e em sua promessa de regresso. O texto, além de certificar mais uma vez com convicção o regresso de Jesus, deixa completa incerteza quanto à hora de sua volta. Estar vigilantes, lâmpadas acesas, em constante atitude de preparação, porque o Senhor pode vir a qualquer hora.
V. 39 - As duas parábolas se relacionam e se completam. Enquanto na primeira parábola Jesus deseja ver seus discípulos vigilantes, pois os espera uma promessa indescritível, na segunda os admoesta contra o descuido no estar vigilante. O dono da casa fracassa se não permanecer constantemente acordado e em vigília, pois não sabe a hora em que virá o ladrão. Assim, os servos(as), mesmo não sabendo a hora do regresso de seu Senhor, devem estar em permanente estado de vigília.
V. 40 - Os discípulos não poderiam cometer o mesmo equívoco do dono da casa. O “u`mei/j” é enfático: “ficai . . . vós apercebidos”. O imperativo presente “gi,nesqe” tem um sentido de duração: “estar sempre preparados”. O aspecto relevante é que no momento em que os discípulos se sentirem seguros, isto é, auto-suficientes, será a hora do regresso do “Filho do Homem”. Advertência, consolo, admoestação, conforto, incerteza, segurança, auto-suficiência, vigilância, desconhecimento, certeza. Estas são algumas palavras chaves que transparecem no texto. Jesus admoesta contra o descuido na vigilância da fé, e, em conseqüência, na vida cristã. Consola e conforta com a sua graça permanente. Incerteza e desconhecimento da hora e dia de sua volta não afligem o cristão, pois pela fé está sempre preparado. Certeza e segurança de seu regresso para levar os seus, a grande festa das bodas eternas do Cordeiro. Nesta festa, o prato de inigualável e permanente sabor sempre presente será o “AMOR que JAMAIS ACABA” (1 Co 13.8,13). Advertência contra o perigo da auto-suficiência que a falsa fé traz. Estado de permanente preparo, resultado da fé em Jesus Cristo como o Filho do Homem, que veio e virá novamente, para levar os seus servos(as), para a “cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (Hb 11.10).
SUGESTÃO HOMILÉTICA
Tema:A redenção imerecida, um seguro impagável

1- As preocupações da vida, segurança pelo futuro, medo que produz muitas fobias, escurecem os olhos e não deixam transparecer a graciosa
redenção, prometida, concretizada e revelada em Jesus Cristo.

2- Deus, através de seu Evangelho e Sacramentos, tira nossa escuridão, fazendo-nos pela fé ver em Cristo nosso Senhor e Salvador.
3- Este Senhor, dentro deste tempo, chama, prepara, treina, adverte, consola, dirige e aponta aos seus servos(as) o Reino da sua Graça, dentro da igreja militante.
4- Tudo isto ELE fez, faz e continua fazendo, para que seus servos(as) o sirvam. Assim, vigilantes e fortalecidos por seu AMOR, estejam preparados quando ELE voltar para os levar para seu Reino da Glória.
Orlando N. Ott
São Leopoldo, RS

Igreja Luterana
Volume 60 - Junho 2001 - Número 1