DÉCIMO SEGUNDO DOMINGO APÓS PENTECOSTES
Lucas 12.32-40
26 de agosto de 2001
CONTEXTO
V . 32 - Só em Lucas temos este registro. Em Lc 12.4 Jesus chama seus discípulos de “amigos”. Mostra-lhes a limitação em temer homens, convocando-os a não alimentarem este tipo de medo. Jesus fala como Pastor (Jo 10.14) e os chama de “ó pequenino rebanho”. O artigo “ó” é vocativo. O pequeno rebanho não precisa temer nada, pois se encontra seguro sob os cuidados de Jesus. “euvdo,khsen” aoristo indicativo ativo, 3 pes. sing. de = euvdoke,w sentir prazer, enorme satisfação, alegria em querer dar, favor de Deus (2 Co 12.10). Jesus aponta para a promessa graciosa de Deus: dar-lhes o seu reino. No v. 31 Jesus recomenda aos discípulos buscar o reino do Pai, desprendendo seu coração das preocupações do mundo. Logo lhes assegura que Deus Pai tem prazer ou agradou-se em dar-lhes seu reino. Este “agradou-se” mostra toda a dimensão da graça voluntária de Deus. Apesar de dirigir suas palavras ao pequenino rebanho, que se encontrava ao seu redor, fica evidente que elas se aplicam a todos os que pela ação redentora iriam se unir a este rebanho. O aoristo se estende até a eternidade. Assim o infinitivo aoristo de constatação dou/nai di,dwmi refere-se ao reino da graça. “Dar” significa graça por meio de Cristo e por amor de Cristo. Os que estão recebendo esta dádiva imerecida simplesmente hão de regozijar-se e não terão temor de nenhuma espécie.
Vv . 33-34 - A ligação com o ensino do versículo anterior continua. Jesus não exige um juramento de total pobreza, mas o cuidado com as preocupações da vida, que impedem o cristão de poder ver o real valor de viver como agraciado pelo tesouro conquistado em seu favor por Deus. Um tesouro inesgotável, que nada e ninguém poderá tirar (Mt 6.20-21). Novamente, a referência à graciosa redenção, “o tesouro nos céus”. O uso de nossa posses, para o benefício dos semelhantes, é o que a graça de Deus trabalha em nosso coração.
Alguns descobriram “que a vida só vale a pena se vivida em favor dos semelhantes”. Se isto vale para alguns, motivados por sentimentos e forças humanos, maior e mais rica será a dedicação dos filhos(as) de Deus, cuja motivação é a graça de Deus em Cristo. O texto lembra igualmente a transitoriedade da existência terrena (v.34). Em linguagem bíblica, o coração é o depósito de nossa personalidade. Nada e ninguém neste mundo pode nos oferecer um seguro certo. Se como o rico insensato (Lc 12. 15-21) nosso coração se prende aos bens desta vida, precisamos saber que com a nossa morte tudo desaparecerá, menos a nossa vida, que terá eterna continuidade. Na eternidade nos aguarda um tesouro que jamais acaba, o amor de Deus (1 Co 13.13). Este amor é oferecido a todos, neste tempo da graça, na mensagem redentora do Evangelho.
Vv.35 -36 - A parábola do servo vigilante descreve o contexto daqueles que foram chamados a fazer parte do reino da graça. Dentro do contexto oriental, Jesus descreve alguém sempre preparado para esperar a volta de seu Senhor. Plenamente prontos de corpo e espírito (1 Pe 1.13). As imagens usadas são vestimentas longas, com um cinto sobre os ombros que permitia ajustar as vestes na altura da cintura. Assim, em caso de necessidade, daria maior liberdade de movimentos. As “candeias” eram lâmpadas que, além de iluminar o caminho à noite, podiam identificar quem as conduzia. “Candeias”, a fé dos servos(as) que esperam ansiosos pela volta de seu Senhor (Hb 11.1). Esta espera se caracteriza em servir a Deus com os dons por Ele dados. Este serviço se manifesta na pregação viva do Evangelho, o serviço por excelência que os cristãos prestam aos seus semelhantes (Ef. 6.14). Outra característica é propriamente a firme
esperança e o desejo constante pela volta de seu Senhor. As “bodas” ou “das festas de casamento” do Cordeiro iniciaram com a sua ascensão, terão o seu ponto marcante com sua volta, mas, continuam por toda eternidade. A espera vigilante pelo Senhor significa o privilégio dos servos(as) de poderem abrir a porta quando do seu regresso (Ap 3.20).
V . 37 - O climax da parábola centraliza-se nestas palavras de Jesus: “Bem-aventurados aqueles servos . . .” Aqueles que foram vigilantes, não se importando quanto ao tempo e à demora do regresso de seu Senhor. “Bem-aventurados”, não por algum merecimento próprio, mas pelo veredicto de seu Senhor. Para uma festa das proporções da descrita, haveria necessidade de muitos servos e servas para que tudo transcorresse conforme o desejado. No entanto, este Senhor não necessita de nenhum serviço ou ajuda. Ele é o Senhor que tem autoridade sobre céus e terra, o Todo-Poderoso, que convida para suas bodas, e ao mesmo tempo serve seus convidados. Aqui temos uma das mais belas imagens que refletem a unicidade da redenção centrada somente na pessoa e obra do Senhor Jesus Cristo.
É Jesus, o Servo, que por amor serve seus conservos, os cristãos, com as dádivas da salvação. Um banquete completo, cujo tempo de espera e vigília estamos vivendo. Conforme as próprias palavras de Jesus, logo após instituir a Santa Ceia, ao afirmar: “não beberei deste fruto da videira, até aquele dia em que o hei de beber, novo, convosco no reino de meu Pai” (Mt 26.29).
V . 38 - O tema principal da parábola é tão importante que Jesus o repete: “bem-aventurados. . . os servos, que quando o Senhor vier, os encontre vigilantes”. Somente a fé verdadeira conserva os servos(as) vigilantes. Fé no seu Senhor e em sua promessa de regresso. O texto, além de certificar mais uma vez com convicção o regresso de Jesus, deixa completa incerteza quanto à hora de sua volta. Estar vigilantes, lâmpadas acesas, em constante atitude de preparação, porque o Senhor pode vir a qualquer hora.
V. 39 - As duas parábolas se relacionam e se completam. Enquanto na primeira parábola Jesus deseja ver seus discípulos vigilantes, pois os espera uma promessa indescritível, na segunda os admoesta contra o descuido no estar vigilante. O dono da casa fracassa se não permanecer constantemente acordado e em vigília, pois não sabe a hora em que virá o ladrão. Assim, os servos(as), mesmo não sabendo a hora do regresso de seu Senhor, devem estar em permanente estado de vigília.
V. 40 - Os discípulos não poderiam cometer o mesmo equívoco do dono da casa. O “u`mei/j” é enfático: “ficai . . . vós apercebidos”. O imperativo presente “gi,nesqe” tem um sentido de duração: “estar sempre preparados”. O aspecto relevante é que no momento em que os discípulos se sentirem seguros, isto é, auto-suficientes, será a hora do regresso do “Filho do Homem”. Advertência, consolo, admoestação, conforto, incerteza, segurança, auto-suficiência, vigilância, desconhecimento, certeza. Estas são algumas palavras chaves que transparecem no texto. Jesus admoesta contra o descuido na vigilância da fé, e, em conseqüência, na vida cristã. Consola e conforta com a sua graça permanente. Incerteza e desconhecimento da hora e dia de sua volta não afligem o cristão, pois pela fé está sempre preparado. Certeza e segurança de seu regresso para levar os seus, a grande festa das bodas eternas do Cordeiro. Nesta festa, o prato de inigualável e permanente sabor sempre presente será o “AMOR que JAMAIS ACABA” (1 Co 13.8,13). Advertência contra o perigo da auto-suficiência que a falsa fé traz. Estado de permanente preparo, resultado da fé em Jesus Cristo como o Filho do Homem, que veio e virá novamente, para levar os seus servos(as), para a “cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (Hb 11.10).
SUGESTÃO HOMILÉTICA
Tema:A redenção imerecida, um seguro impagável
1- As preocupações da vida, segurança pelo futuro, medo que produz muitas fobias, escurecem os olhos e não deixam transparecer a graciosa
redenção, prometida, concretizada e revelada em Jesus Cristo.
2- Deus, através de seu Evangelho e Sacramentos, tira nossa escuridão, fazendo-nos pela fé ver em Cristo nosso Senhor e Salvador.
3- Este Senhor, dentro deste tempo, chama, prepara, treina, adverte, consola, dirige e aponta aos seus servos(as) o Reino da sua Graça, dentro da igreja militante.
4- Tudo isto ELE fez, faz e continua fazendo, para que seus servos(as) o sirvam. Assim, vigilantes e fortalecidos por seu AMOR, estejam preparados quando ELE voltar para os levar para seu Reino da Glória.
Orlando N. Ott
São Leopoldo, RS
Igreja Luterana
Volume 60 - Junho 2001 - Número 1
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