Introdução
A Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) está celebrando seus 85 anos. Todos os seus membros são convidados a refletir sobre o passado e o futuro de sua Igreja. Somos uma igreja que, ao longo de sua história, desfrutou de muitas bênçãos. Recebemos muita ajuda de nossos irmãos dos Estados Unidos da América. Temos correspondido a todo esse amor? Dedicamo-nos de coração ao trabalho missionário?
Ao longo de nossa história temos enfrentado problemas na manutenção de nossos empreendimentos missionários. Para solucioná-los, foram empreendidas campanhas de esclarecimento, mas os problemas persistem.
Por isso perguntamos: o que há de errado com a nossa igreja em relação às ofertas? A julgar pela situação de nossos membros, não deveria ser difícil manter nossos empreendimentos. Quais são, portanto, as razões por que falhamos? Carecemos de melhor método? Gastamos demais? Alguns são de opinião de que o problema está no método, pois as igrejas que adotam o método do dízimo ou práticas similares vencem suas dificuldades financeiras e têm abundância de recursos materiais enquanto as congregações que permanecem no método da oferta voluntária lutam com dificuldades financeiras. Notamos também que o assunto “oferta” é problemático em nosso meio, pois toda a vez que o assunto é abordado em conferências, concílios e convenções, desperta acirrados debates, sem chegarmos a conclusões convincentes. Enquanto isso, cada congregação busca solucionar o problema a seu modo e pelos métodos que julga propícios. Isto está trazendo um mal-estar aos leigos, que pedem uma definição sobre o assunto.
Parece-nos que o problema não está simplesmente na área da teologia prática. O problema é doutrinário. Urge clarificarmos nossa posição doutrinária a esse respeito, o que deve, por sua vez, orientar a praxe na aplicação dos métodos de recolhimento dos frutos da fé.
O presente trabalho visa trazer a colaboração nesse sentido. O trabalho está dividido em quatro capítulos: a vida santificada; mordomia cristã; a oferta cristã; questões básicas sobre o ofertar.
1. A vida santificada
Como vai a luta por uma vida santificada? Como vai a luta de sua congregação contra o reino das trevas? Seguidamente, a igreja luterana é acusada de falar sobre a justificação do pecador e pouco sobre a santificação. Será? É nosso dever distinguirmos corretamente entre justificação e santificação e mostrar ao mesmo tempo que há fé sem obras. Vejamos isso nas teses que seguem:
1.1 – Ser cooperador na missão de Deus é uma graça que Deus concedeu àqueles que são seus filhos pela fé em Cristo Jesus.
a. A criação de Deus – Deus criou o mundo bom e perfeito para honra e glória do seu santo nome. É dever de todos honrar a Deus com vida santificada.
- Lv 19.2. Santo sereis, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo.
- 1 Ts 4.3. Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação.
- Gn 17.1. Anda na minha presença, e sê perfeito.
b. O homem natural – Pela queda em pecado, o homem natural perdeu seu bem-aventurado conhecimento de Deus e sua justiça original. Agora nasce totalmente corrompido pelo pecado, inclinado para todo o mal, escravo de Satanás e sujeito à eterna condenação.
- Sl 51.5. Eu nasci na iniqüidade e em pecado me concedeu a minha mãe.
- Gn 8.21. Porque é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade.
- Rm 7.18. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum: pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo.
- Rm 5.19. Porque, como pela desobediência de um só homem muitos (todos) se tornaram pecadores, assim também por meio da obediência de um só muitos se tornarão justos.
- Ef 2.5. Estando nós mortos em nossos delitos, nos deu a vida juntamente com Cristo.
- “A saber, que em coisas espirituais e divinas o intelecto, o coração e a vontade do homem irregenerado, com suas forças naturais absolutamente nada podem cooperar, estando ao contrário, inteiramente mortos para o bem e corrompidos de modo tal, que na natureza do homem depois da queda e antes do nascimento, não restou nem existe uma centelha sequer de forças espirituais” (Livro de Concórdia, p 559, 7.)
c. A salvação – Deus se compadeceu da humanidade e providenciou para ela maravilhosa salvação. Para isso, enviou o seu Filho unigênito, Jesus Cristo, o qual como Deus e homem, substituto de toda a humanidade, cumpriu a lei, pagou pelos pecados de toda a humanidade e venceu nossos inimigos: pecado, morte e Satanás. Assim, Jesus conquistou, para toda a humanidade, perfeita e suficiente salvação (Salvação Objetiva).
- Gl 4.4,5. Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos.
- Jo 3.16. Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
- 2 Co 5.19. Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação (Cf.: Livro de Concórdia p. 30, III e IV).
d. Meios da graça – Deus oferece, dá e sela essa salvação aos homens pelos meios da graça, que são a palavra de Deus e os sacramentos – Batismo e Santa Ceia. Por esses meios, o Espírito Santo trabalha poderosamente, operando a fé e conservando a mesma.
- Mt 28.19,20. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século.
- Tt 3.5. Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo.
- Jo 1.12,13. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber: aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.
- Rm 1.16. Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê.
e. Renascimento – O homem natural não entende a boa nova da salvação de Cristo. Ele repudia a verdade como loucura e busca sua própria justiça nas obras da lei. Por sua própria razão e força o homem não pode vir a Cristo, nem crer nele. Mas o Espírito Santo chama e trabalha sincera e eficazmente em todos que ouvem sua Palavra e aos quais os sacramentos são ministrados, a fim de levá-los ao arrependimento e a confiarem na graça de Cristo. Assim, opera a fé e regenera a liberdade. Essa graça é resistível e muitos se perdem devido a sua obstinada e contínua resistência. Mas os que crêem recebem o que a palavra de Deus lhes oferece, dá e sela: completo perdão dos pecados, vida eterna e salvação. Estes, que renasceram pelo poder de Deus Espírito Santo, têm, enquanto na fé, os benefícios de Cristo: perdão, boa consciência e a adoção de filhos.
- Ef 2.1. Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados.
- Rm 8.7. Por isso o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar.
- 2 Tm 1.9,10. Que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos, e manifestada agora pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho.
- 1 Co 12.3. Por isso vos faço compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema Jesus!
- 1 Pe 1.5. Que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo.
- Jo 15.5. Eu sou a videira, vós sois os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.
- Fp. 1.6. Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus.
- At 7.51. Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo, assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis.
f. Livres para servir – Toda a pessoa que confia na graça de Cristo é libertada do poder das trevas e está livre para servir voluntariamente a Deus. Para os filhos de Deus, pela fé em Cristo, não existe, agora, nenhuma coerção ou dever da lei. Na qualidade de filhos de Deus, eles têm prazer na lei de Deus e agem sem coerção. Deus confiou a eles o trabalho de proclamarem a salvação. Essa missão tornou-se para eles, quer jovens ou adultos, homens e mulheres, ricos ou pobres, patrões ou empregados, livres ou aprisionados, letrados ou iletrados – independente do lugar e do momento de suas vidas, com os dons e as habilidades que Deus lhes concedeu – o principal objetivo de vida. Pois a fé, necessariamente, produz boas obras, não forçada pela lei, mas na liberdade e na força consoladora da graça do evangelho.
- Gl 5.13. Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor.
- Sl 119.32. Percorrerei o caminho dos teus mandamentos, quando me alegrares o coração.
- Mt 6.33. Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas.
- “Um cristão é senhor livre sobre todas as coisas e não está sujeito a ninguém. Um cristão é servo de todas as coisas e sujeitos a todos (1 Co 9.19; Rm 13.8; Gl 5.13)”. (Martinho Lutero. Da Liberdade Cristã. São Leopoldo, RS, Editora Sinodal, 1979, p. 9).
- “Quando um homem e uma mulher esperam amor e estima do outro, crendo nisto firmemente, quem é que lhes ensina como se portar, o que fazer, deixar de fazer, dizer, silenciar ou pensar? Unicamente a confiança é que lhes ensina tudo isto, e mais do que o necessário”. (Martinho Lutero, Obras Selecionadas. São Leopoldo, RS, Editora Sinodal, 1989, vol II, p. 104).
- “Assim, a fé é obra divina em nós, que nos transforma e novamente nos gera de Deus, e mata o velho homem, torna-nos homens completamente diferentes no coração, ânimo, mente e todas as forças, e traz consigo o Espírito Santo. Oh! A fé é coisa viva, diligente, ativa, poderosa, de tal sorte que lhe é impossível deixar de operar incessantemente o bem, nem pergunta ela se boas obras devem ser praticadas, mas antes que se pergunta, as praticou, e sempre está em ação. Aquele, porém, que não faz tais obras é homem sem fé, tateia e olha ao redor de si buscando a fé e as boas obras e não sabe nem o que vem a ser fé, nem o que são boas obras, e, contudo, parla e tagarela com muitas palavras sobre fé e boas obras. A fé e confiança viva e decidida na graça de Deus, tão certa, que por ela morreria mil vezes. E essa confiança e conhecimento da graça de Deus torna alegre, intrépido e animado para com Deus e todas as criaturas. O Espírito Santo é quem faz isso pela fé, e por isso o homem se torna, sem coerção, disposto e desejoso de fazer o bem a todos, servir a todos e sofrer toda a sorte de coisas por amor a Deus e para sua glória, o qual lhe concedeu essa graça. É impossível, assim, separar as obras da fé, tão impossível como separar do fogo o queimar e iluminar”. (Livro de Concórdia, p 592, 10-12).
1.2 – Os filhos de Deus cooperam na missão de Deus de livre e espontânea vontade, por vida santificada, porque são templos do Espírito Santo.
a. Justificação – A justificação do pecador é um ato no qual Deus, pelos méritos de Cristo, declara santo a todo pecador que se arrepende de seus pecados e que confia na graça de Cristo. A certeza dessa absolvição nos vem da palavra de Deus e dos Sacramentos. No ato da justificação somos totalmente passivos. Chamamos isso de justificação atribuída, salvação individual ou subjetiva, da qual brota toda a vida santificada.
- Rm 3.28. Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independente das obras da lei.
- Rm 5.1-2. Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriemo-nos na esperança da glória de Deus.
- Ef 2.8-9. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.
- “De acordo com isso, cremos, ensinamos e confessamos consistir nossa justiça perante Deus nisso de que Deus nos perdoa os pecados por mera graça, sem qualquer obra, mérito ou dignidade nossa procedente, presente ou conseqüente, nos dá de presente e imputa a justiça da obediência de Cristo, justiça em razão da qual somos aceitos por Deus na graça e considerados justos. Cremos, ensinamos e confessamos que somente a fé é o meio e instrumento com que aprendemos a Cristo, e, assim, em Cristo, aquela justiça que vale diante de Deus. E por causa de Cristo essa fé nos é atribuída como justiça. Cremos, ensinamos e confessamos que essa fé não é mero conhecimento histórico de Cristo, mas uma espécie de dom de Deus por meio do qual reconhecemos retamente a Cristo nosso Salvador na palavra do evangelho e nele confiamos que somente por causa de sua obediência temos, de graça, perdão dos pecados, somos considerados santos e justos por Deus e somos eternamente salvos”. (Livro de Concórdia. P. 509, 2-6).
b. A renovação ou restituição da imagem divina – A santificação ou renovação é a restituição da imagem divina em nós. O Espírito Santo efetua a santificação em nós pelos meios da graça. Por meios deles nos impele ao exercício das forças espirituais que ele concedeu no ato da regeneração e às quais mantém e fortalece. Para isso, o Espírito Santo aplica a lei para nos conduzir ao arrependimento diário, para afogar em nós o velho homem com suas paixões e concupiscências. Ele nos aplica o evangelho para fazer ressurgir em nós o novo homem, para iluminar progressivamente nosso entendimento para um maior conhecimento das verdades divinas e um contínuo renovar da vontade em direção à retidão original. Assim, amadurecemos numa crescente santificação dos desejos e afeições e adoção de hábitos cristãos, conforme a pureza primitiva.
- Cl 3.9. Não mintais uns aos outros, uma vez que nos despistes do velho homem com os seus feitos.
- Ef 1.13,14. Tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa o qual é o penhor da nossa herança até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.
- Cl 1.9-10. Por esta razão, também nós, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós, e de pedir que transbordeis de pleno conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual; a fim de viverdes de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no pleno conhecimento de Deus.
- Rm 12.2. E não conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
- Rm 6.12,13. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros de seu corpo ao pecado como instrumentos de iniqüidade, mas oferecei-vos a Deus como ressurrectos dentre os mortos, e os vossos membros como instrumentos de justiça.
- Fp 2.13. Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.
- Tt 2.14. O qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade, e purificar para si mesmo um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras.
- 1 Jo 1.6,7. Se dissermos que mantemos comunhão com ele, e andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo o pecado.
c. Santificação imperfeita – A restauração da imagem divina em nós permanece imperfeita enquanto estivermos aqui na terra, por causa de nossa carne, que não muda e nem tem cura. Nossa carne permanece irregenerável, inclinada para todo o mal, e deve ser afogada diariamente até ir à sepultura. Daí a luta diária entre o “novo” e o “velho homem”. Essa luta é árdua.
- 1 Jo 1.8. Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós.
- 2 Co 7.1. Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne, como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus.
- Fp 3.12. Não que eu o tenha já recebido, ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para que também fui conquistado por Cristo Jesus.
- Gl 5.24. E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências.
d. Fraqueza e lutas – Há entre os cristãos ainda muita fraqueza de fé e, conseqüentemente, muitas fraquezas na vida santificada. Além disso, somos tentados pelo mundo e por Satanás. Quem seria capaz de desvendar todas as tentações de Satanás? Cada pessoa, cada época e cada idade têm suas tentações próprias. Daí a necessidade de constante estudo da palavra de Deus, muita oração e aconselhamento. Para isso, Deus instituiu a congregação cristã e concede a sua igreja pastores e mestres. “Cristo vive entre pecadores”.
- 1 Ts 4.3. Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação.
- Rm 13.10. O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor.
- Hb 12.1. Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso, e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos com perseverança a carreira que nos está proposta.
- Gl 5.24. E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências.
- 1 Pe 2.16. Como livres que sois, não usados, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus.
- 1 Co 10.31. Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra cousa qualquer, fazei tudo pela glória de Deus.
- Mt 6.33,34. Buscai, pois, em primeiro lugar a seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas. Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal.
- Ef. 3.13. Portanto peço que não desfaleçais nas minhas tribulações por vos, pois nisso está a vossa glória.
- Cl 1.24. Agora me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor de seu corpo, que é a igreja.
1.3 – Como cooperadores na missão de Deus, os filhos de Deus vivem para ela com tudo o que têm e são, no lugar e nas responsabilidades que Deus lhe confere, tomando decisões que melhor lhes parecer, e são incansáveis na prática de boas obras.
a. O culto racional – Libertados do reino das trevas, na qualidade de membros do reino de Deus, os filhos de Deus servem a Deus ininterruptamente. Sua vida é culto contínuo, no qual todas as obras têm o mesmo valor.
- Rm 12.1. Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.
- Cl 3.17. E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.
- Gl 2.20. Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim.
- “Em suma, se cremos que tudo agrada a Deus (como devemos), nada há em nós ou pode acontecer conosco que não seja bom e meritório. ‘Assim diz São Paulo: ‘Caros irmãos, tudo o que vos fazem, quer comam, quer bebam, façam tudo em nome de Jesus Cristo, nosso Senhor’ (1 Co 10.31; Cl 1.7.)’. (Martinho Lutero, Obras Selecionadas, vol II, p. 110).”
- “Visto que somente eu sou Deus, deves colocar toda a tua confiança, esperança e fé unicamente em mim e em mais ninguém. Pois ter Deus não é chamá-lo de Deus exteriormente com a boca e/ou adorá-lo de joelhos e com gestos, mas confiar nele de coração e nela esperar todo bem, graças e estima, seja em obras ou sofrimentos, no viver ou no morrer em tristeza ou alegria” (Idem, p. 107).
b. Decisões – Deus confiou a seus filhos aqui na terra a liberdade e/ou responsabilidade de administrarem seus dons e bens e exercer livremente sua responsabilidade individual na família, na sociedade e na igreja em busca do objetivo principal de sua vida, a missão de Deus. Para isso, tomam diariamente decisões. Na tomada dessas decisões, os filhos de Deus se orientam, sob oração, pelos Dez Mandamentos e usam de bom senso.
- “Para conhecermos a fundo o que seja um cristão e sabermos em que consiste a liberdade que Cristo lhe adquiriu e ofertou, da qual São Paulo tanto escreveu, quero citar estas duas frases. Um cristão é senhor livre sobre todas as coisas e não está sujeito a ninguém. Um cristão é servidor de todas as coisas e sujeito a todos. Estas duas frases se encontram claramente em São Paulo, 1 Co 9.19: ‘Porque, sendo livres de todos, fiz-me escravo de todos...’; e adiante em Romanos 13.8: ‘A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros.’ O amor é, pois, serviçal e submete aquele em que está posto. Em Gálatas se diz de Cristo mesmo: ‘Deus enviou seu filho, nascido de mulher, nascido sob a lei’ (Gl 4.4). (Martinho Lutero, Da Liberdade Cristã, São Leopoldo, RS Editora Sinodal, 1979, p. 9).”
- “Porque o cristão está desligado de todos os mandamentos e em uso de sua liberdade, tudo quanto faça, o fará voluntária e desinteressadamente, sem buscar nunca seu próprio proveito e sua própria salvação, mas unicamente para agradar a Deus. Pois já estará farto e santificado pela fé e graça divina” (Idem, p. 36).
- Tt 2.11-14. Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardado a bendita esperança e a manifestação da glória de nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade, e purificar para si mesmo um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras. Dize estas cousas: exorta e repreende também com toda a autoridade.
c. Boas obras – Boa obra é tudo o que os filhos de Deus fazem pela fé em Cristo, quer seja o comer, beber, dormir, trabalhar, orar, prestar culto, ofertar, testemunhar, descansar, etc. Todas essas obras, mesmo que ainda muito imperfeitas, são purificadas pela graça de Cristo. Por isso o cristão é um santo aos olhos de Deus, mesmo que ainda esteja em sua carne pecadora.
- “Desta forma, reduzem e diminuem, por causa da maldita crença, o serviço de Deus, ao qual presta serviço tudo quanto na fé possa ser feito, dito e pensado. Ec 9.7-9: ‘Vai com alegria, come e bebe, sabendo que tuas obras agradam a Deus (...) serem boas todas as nossas obras, seja lá como forem chamadas, sem qualquer distinção... quando tenho a certeza e creio que agradam a Deus... É da fé, e de nenhuma outra obra, que recebemos a designação de crentes em Cristo”. (Martinho Lutero, Obras Selecionadas, vol II, p. 103).
- “Nesta fé, todas as obras se tornam iguais, e uma é como a outra, caindo fora toda distinção entre obras, sejam elas grandes, pequenas, breves, longas, muitas ou poucas. Porque as obras são agradáveis não por si mesmas, mas por causa da fé” (Idem, p. 104)
- “Por que existem tantas leis eclesiásticas? Cerimônias para instar e estimular pessoas a fazerem boas obras, se a fé faz as coisas através do primeiro mandamento? Resposta: justamente porque nem todos temos ou levamos em consideração a fé. Se todo o mundo tivesse, não mais precisaríamos de lei alguma; cada um faria boas obras por si mesmo o tempo todo, de forma como lhe ensina a mesma confiança” (Idem, p.111)
- “Aqui vemos que todas as obras e coisas são livres para um cristão por sua fé. Não obstante, visto que os outros ainda não crêem, com eles carregam e guardam o que não têm obrigação de carregar e guardar” (Idem, p. 112).
- “Por isso, estes fracos na fé – que de bom grado agiram corretamente e aprenderiam algo melhor, mas não o conseguem captar – não devem ser menosprezados em suas cerimônias, às quais estão apegados como se fossem um caso perdido; antes, a culpa deve ser dada a seus mestres cegos e sem formação, que nunca lhes ensinaram a fé e tanto os afundam nas obras. Deve-se tirá-los dali com mansidão e dedicada paciência e reconduzi-los para a fé como se lida com um doente” (Idem, p. 112).
- “Como posso ter certeza de que minhas obras agradam se ocasionalmente caio, como, bebo e durmo em demasia? Resposta: esta pergunta indica que ainda consideras a fé uma obra como as outras e não a colocas acima de todas as obras” (Idem, p. 112).
- “Depois da fé, nada há que possa fazer de mais grandioso senão enaltecer, pregar e cantar o louvor, a glória e o nome de Deus, enaltecendo e engrandecendo-o de todas as maneiras” (Idem, p. 114).
- “Se agora Deus deve atuar e viver nele, todos esse vícios e maldades precisam ser estrangulados e extirpados, para que haja então um repouso e uma cessação de todas as nossas obras, palavras, idéias e vida, e para que doravante (como diz Paulo em Gl 2.20), não nós, mas Cristo viva, atue e fale em nós” (Idem, p. 139).
- “Por isso, deixo que cada um escolha o dia, a comida e a quantidade para jejuar, ficando isto a seu critério, contanto que não se limite a isto, mas atente para a sua (própria) carne. Deve impor-lhe jejum, vigília e trabalho na mesma medida em que a carne estiver lasciva e petulante, mas não mais, nem que papa, igreja, bispo, confessor ou quem quer que seja, o tenha ordenado. Pois a medida e a regra do jejum, da vigília, é sim, segundo a diminuição ou aumento do seu desejo carnal e da petulância; somente em função da sua mortificação e seu atenuamento é que foram instituídos” (Idem, p. 141).
1.4 – Como livres que são pela fé em Cristo Jesus, submetem-se desinteressada e voluntariamente a todos para servir em amor.
a. Administrando no temor e amor a Deus – O cristão administra tudo o que Deus lhe confiou no temor e amor a Deus. Nesse espírito guia-se pelos Dez Mandamentos e o bom senso. Lutero expõe isso com muita clareza na explicação do Primeiro Mandamento em seu Catecismo Maior.
- 1 Pe 1.17. Portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação.
- Cl 3.17. Tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.
- 1 Co 14.40. Tudo, porém seja feito com decência e ordem.
b. Leis – Freqüentemente nos deparamos com a pergunta: como devo administrar isto ou aquilo? Será que Deus não estabeleceu leis a respeito? Interessante, para seus filhos no Novo Testamento Deus não prescreveu leis específicas sobre como devem administrar tempo, dons que ele lhes confia. Cada cristão, na qualidade de filho de Deus pela fé em Cristo, serve voluntária e livremente a Deus. Combate as inclinações pecaminosas de sua carne e busca servir da melhor forma possível, para que se aconselha com seus irmãos na fé.
- Rm 13.8. A ninguém fiqueis devendo cousa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros: pois quem ama ao próximo, tem cumprido a lei.
- Cl 3.16,17. Habite ricamente em nós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos e hinos e cânticos espirituais, com gratidão em vossos corações. E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.
- Rm 12.1-3. Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Que é vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
c. Submissos – Os filhos de Deus mesmo sendo livres, submetem-se voluntariamente a todos para servir. Assim servem na família, na congregação e na sociedade. Acatam livremente as leis. Eles não precisam dessas leis, mas submetem-se a elas de livre e espontânea vontade. Na congregação e na igreja (Sínodo), também são tomadas decisões e leis são estabelecidas, para um trabalho harmonioso e a boa ordem. Essas resoluções e leis são sugestões e apelos para a boa ordem, que os cristãos seguem de boa vontade. Há também momentos em que, por amor à concórdia e paz, a maioria cede e se submete à minoria.
Nessa liberdade, cada congregação e igreja (Sínodo) estabelece seus estatutos e regimentos para uma ação conjunta e em ordem. Na aplicação desses estatutos e regimentos terá o cuidado de agir no espírito evangélico para não ferir a liberdade cristã.
2. Mordomia Cristã
Muitas vezes, pastores e líderes falam na congregação sobre a mordomia cristã. Nem sempre essa palavra é bem compreendida. Vamos definir seu significado e conteúdo.
2.1 – Qual o significado da palavra mordomia? – Chamamos de mordomo uma pessoa que administra bens alheios, o encarregando da administração de uma casa.
A palavra “mordomia” designa também as vantagens que alguém desfruta, tais como condução, criadagem, alimentação, proporcionados pelo empregador (privado ou público) a certos executivos, que lhes aumenta indiretamente os honorários ou salários, sem aumento do imposto da renda. Designa, também, certo bem-estar, conforto e regalias (Dicionário Aurélio).
Quando usamos a palavra “mordomia” na igreja cristã, pensamos na responsabilidade de administrar as dádivas de Deus, tais como o tempo, os bens e dons que Deus nos concede.
2.2 – O que significa ser um mordomo cristão? – Cristão é toda a pessoa que renasceu pela graça de Cristo; que é, pela fé em Cristo, templo do Espírito Santo. Nele foi restabelecida a imagem divina. O cristão recobrou a verdadeira visão do propósito de sua vida. Ele procura, agora, com todas as suas forças glorificar a Deus. Ele sabe que o que a humanidade mais precisa é ouvir a palavra de Deus, a mensagem de Cristo. Por isso, procura testemunhar e coopera com todas as suas forças, por meio de sua comunidade, na propagação do evangelho. Sabendo que no fim de sua vida terá de prestar contas a Deus de sua administração (Mt 25.14-46; Hb 9.27).
2.3 – Tensão na administração. – O cristão conforme seu novo homem, tem prazer na lei de Deus, ama a Cristo e procura viver para Cristo (Fp 1.21). Mas ele possui ainda o seu velho homem, sua natureza carnal que não ama a Deus, mas o pecado é oposto ao Espírito Santo. Isso gera constante tensão na administração. O apóstolo Paulo expressa isto assim: “Não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero esse faço” (Rm 7.19). É preciso lembrar que o apóstolo diz isto como cristão, na qualidade de apóstolo de Jesus Cristo. Essa luta entre o “novo homem” e o “velho homem”, ou como o apóstolo chama de entre a carne e o espírito, é diária. Para fortalecermos o “novo homem”, precisamos de ler e ouvir a palavra de Deus e meditar sobre a mesma com oração, pedindo que o Espírito Santo nos guie em nossas decisões. O Espírito Santo nos concede “tanto o querer como o realizar” (Fp 2.13).
2.4 – Que diretrizes o cristão segue na administração do seu tempo, dons e bens? – Na administração, o cristão se orienta pelos Dez Mandamentos, à luz dos quais procura tomar decisões, respeitando as leis da sociedade na qual se encontra, bem como a sua posição de responsabilidade que ocupa, quer de subordinação ou mando. Assim, administra tudo no temor de Deus e no amor a seu próximo e na confiança daquele que tudo supre, e quer que sejamos encontrados fiéis.
2.5 – Há leis específicas sobre como administrar? – Não! Deus confia a seus filhos pela fé em Cristo, tempo, dons e bens conforme lhe apraz, a um mais, a outro menos, sem determinar por leis específicas de como devem administrar as dádivas de Deus. Como na parábola dos talentos (Mt 25.14-30), o Senhor confiou a seus servos talentos sem determinar por leis específicas como deveriam administrar os talentos; assim Jesus o fez com seus filhos. Também, por que iria prescrever-lhes leis? O cristão é uma pessoa que foi libertada da escravidão de Satanás, que recebeu pela fé em Cristo a adoção de filho e o Espírito Santo habita nele e o guia.
É preciso manter com firmeza que as leis cerimoniais do Antigo Testamento foram abolidas (Cl 3.16) e que no Novo Testamento Deus não prescreveu leis específicas sobre como administrar.
Na qualidade de filho de Deus pela fé em Cristo e na qualidade de sacerdote de Deus, os cristãos procuram administrar tudo para a glória de Deus e o bem estar do próximo. Eles têm diante de seus olhos a missão que Cristo lhes confiou: “Ide fazei discípulos de todas as nações” (Mt 28.19). Para isso se apegam à palavra de Deus, na qual buscam forças para poder lutar contra a sua própria carne pecaminosa, contra as tentações do mundo, de Satanás e lutar por vida santificada. Eles oram, pedindo que Deus lhes conceda rica medida do Espírito Santo para poderem ser sal e luz da terra (Mt 5.13; 1 Pe 2.9; 1 Co 12.27; Rm 12.4-8; Rm 14.33; Mt 6.33).
O que dizer das igrejas que impõem a seus membros uma série de leis quanto à comida, vestimentas, o guardar do sábado e a forma de ofertar, ou afirmam que Deus estabeleceu a forma de ofertar? São igrejas que ainda não compreenderam o poder da graça de Deus, ainda não compreenderam o espírito de Cristo e o poder da fé cristã. Mas os exemplos bíblicos não podem ser úteis como orientações para a vida cristã? Sem dúvida que sim, pois foram escritos para nosso ensino. Mas esses exemplos não podem ser transcritos em leis ou modelos rígidos, pois cada situação e momento requer dos administradores decisões próprias. Cada cristão procura servir da melhor forma possível, conforme seu grau de fé, seus conhecimentos, com o que tem e não tem. Nesse servir luta contra sua carne, tem quedas e vitórias, altos e baixos, usando em tudo o bom senso (1 Tm 5.8; 1 Jo 3.17; Rm 13.7; At 5.34).
3. A oferta Cristã
A oferta cristã ocupa um lugar de destaque na administração das dádivas de Deus. Isso não significa que a oferta seja algo tão vital no trabalho do reino de Deus, pois não é o dinheiro que edifica o reino. Em épocas de perseguição, por exemplo, nem se fala de dinheiro; mesmo assim, a igreja cristã cresce nesses períodos. Mas o dinheiro é, especialmente em tempos de paz, entre outras coisas, parte importante de nosso sacrifício pelo qual servimos no trabalho de propagar o evangelho. É também uma das partes mais observáveis e mensuráveis na vida santificada, a que mais cai na vista. É dela que depende, em grande parte, a vida exterior duma comunidade. Infelizmente, a oferta é muitas vezes observada à parte da vida santificada, ou que distorce os valores. A oferta é parte de um todo na administração e vida santificada. Cada qual serve a Deus com os dons e bens que Deus lhes concedeu, um mais com seus dons, outros mais com seus bens, conforme as oportunidades e necessidades do momento, conforme o que alguém tem e não conforme ele não tem (2 Co 8.12). Vamos analisar o problema da oferta mais de perto.
3.1 – Problemas - Se a fé é tão enaltecida e elogiada, por que enfrentamos, exatamente, na área das ofertas, tantos problemas? A causa principal das ofertas fracas é a fraqueza de fé e a falta de conhecimento bíblico. Isso dá ocasião à carne, ao mundo e a Satanás para nos enganarem.
- 1 Pe 2.11-12. Amados, exorto-vos como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais que fazem guerra contra a alma, mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios.
- Tt 2.12. Educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos no presente século, sensata, justa e piedosamente.
3.2 – O máximo possível – Conforme o nosso novo homem, temos prazer em participar com tudo o que temos e somos na edificação do reino de Deus. Gostamos de ofertar para o trabalho específico do reino de Deus o máximo possível de nosso tempo, dons e bens, na confiança daquele que supre as necessidades. E mesmo as ofertas que nos parecem insignificantes são muito valorizadas por Deus, como o vemos no relato da viúva pobre (Mc 12.41-44) e no relato do Juízo Final (Mt 25.31-45). Mas ai daqueles que ofertam centavos não sendo pobres. Tais pessoas usam a liberdade por pretexto da malícia (1 Pe 2.16).
3.3 – Idolatria – Ofertar o mínimo em vez de o máximo possível para o reino de Deus é contra a vontade de Deus (2 Co 9.6; 8.2) e revela nossa idolatria e materialismo (Mt 6.24).
3.4 – Fraqueza de fé – Quando ofertamos o mínimo em vez de o máximo possível, revelamos que somos fracos na fé, não amamos nosso Salvador nem confiamos nele como deveríamos. Há, na verdade, situações em que as ofertas pequenas têm o seu lugar e a sua razão de ser. Mas, quando se trata de grandes coisas do reino de Deus, como pregar o evangelho, manter seminários, enviar missionários, razão pela qual estamos no mundo, e pela qual Deus mantém o mundo (Mt 24.14), cabe-nos ofertar o máximo possível (Rm 7.6; Ef 6.7).
3.5 – Investindo no reino - Ofertar o mínimo em vez de o máximo possível resulta em pouca colheita. Somos salvos pela graça sem as obras da lei. Mas Deus resolveu, em sua graça, recompensar altamente as boas obras (Ap 14.13). Por isso, também adverte: “Aquele que semeia pouco, pouco também ceifará” (Mt 25.14-30; 2 Co 9.6). Somos administradores fiéis se administrarmos os bens, investindo o máximo possível na expansão do reino de Deus, e não na busca de prazeres e da cobiça carnal.
3.6 – Escândalo para si e os irmãos - Ofertar o mínimo em vez de o máximo possível resulta em permanente escândalo para si mesmo e para os irmãos na fé. Isto é, se ofertarmos pouco, nós nos induzimos a permanente dúvida sobre a nossa fé. Pois a fé necessariamente produz boas obras. As boas obras são o testemunho externo da nossa fé. Se fraquejamos, nossa consciência nos acusa dizendo: Você não é cristão, porque não ama os irmãos. Você não tem o Espírito Santo, porque ainda ama o mundo. Os próprios irmãos na fé ficam escandalizados e desanimados pelos maus exemplos. O apóstolo Pedro admoesta: “Por isso, irmãos, procurai com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição” (1 Pe 1.10).
3.7 – Escândalo para os de fora - Ofertar o mínimo em vez de o máximo possível resulta em escândalo para os de fora. O mundo observa a vida cristã e a congregação cristã. Os incrédulos trazem grandes sacrifícios para seus ídolos (prazeres, esportes, “hobbies”, etc.), tais como sacrifícios de tempo, de saúde, de bens e da própria honra, e se escandalizam quando percebem que os cristãos ofertam de má vontade para o seu Deus e vêm mendigar junto aos incrédulos, quer de forma direta ou indireta por livro ouro, listas, ou indiretamente, convidando-os para festas, bazares, chás que não têm a finalidade de confraternizar e testemunhar, mas que têm a clara finalidade de fazer lucro como rifas, jogos de azar, etc. O dia do juízo final mostrará quantos foram escandalizados por tal procedimento (Mt 18.7).
3.8 – Prejuízo - Ofertar o mínimo em vez de o máximo possível traz sérios prejuízos para o ministério. Os pastores estão dispostos a compartilhar com alegria a pobreza de seus membros. Mas se seus membros têm relativa estabilidade econômica e ofertam pouco, murmurando toda vez que são solicitados a faze-lo, isso desanima os pastores e impede o bom andamento do trabalho (1 Tm 5.17).
3.9 – Impede o crescimento - Ofertar o mínimo em vez de o máximo possível impede o crescimento do reino de Deus. Deus mantém o universo para que sua igreja possa cumprir a missão de pregar o arrependimento e fé no mundo (Mt 28.9-12; Lc 24.46-47; Mt 24.14). E adverte: “Maldito aquele que fizer a obra do Senhor relaxadamente” (Jr 48.10). E o apóstolo afirma: “Ai de mim se não pregar o evangelho” (1 Co 9.16). “Sê... sempre abundante na obra do Senhor” (1 Co 15.48).
3.10 – Atrai a ira de Deus - Ofertar o mínimo em vez de o máximo possível atrai a ira de Deus. Vemos isso pelo exemplo do povo de Israel. Deus libertou o povo de Israel do cativeiro babilônico. Eles regressaram à sua terra. Chegados lá, buscaram em primeiro lugar o seu bem-estar e relegaram o trabalho da edificação do templo a segundo plano. Com isso provocaram a ira divina, de cujo anúncio foi encarregado o profeta Ageu. Também no Novo Testamento, o apóstolo admoesta os fiéis que ofertam mal, dizendo “Não vos enganeis: de Deus não se zomba” (Gl 6.7), pois o juízo de Deus começa pela casa de Deus (1 Pe 4.17).
3.11 – Põe em risco o evangelho – Ofertar pouco, quando se pode ofertar mais, põe em risco o evangelho. A história nos mostra que ali onde o povo se apegou aos bens materiais e ofertou pouco para o reino de Deus perdeu ambos, os bens materiais e o evangelho. Isso deve nos servir de advertência. Zelemos, pois, pelo evangelho, ofertando voluntária e abundantemente para a expansão do evangelho.
3.12 – O bom combate – É preciso estar sempre atento e combater o bom combate da fé. Para isso é necessário:
a. Pregação – Pregar a lei em todo o seu rigor para desvendar os subterfúgios e enganos de Satanás, para advertir contra os falsos ídolos de nosso tempo, para conduzir ao arrependimento. Pregar o evangelho em toda a sua doçura, para consolar e fazer crescer na fé que atua pelo amor, do qual sempre somos devedores (Cf. 2 Tm 4.2; 1 Tm 6.6-9; Gl 5.26; Rm 13.8).
b. Pastores e líderes - Pastores e líderes da congregação devem dar sempre bom exemplo aos membros por vida moderada e pelo ofertar em abundância (cf. Fp 4.5; 2 Tm 1.7; Tt 2.7).
c. Administração – Compete à congregação zelar para que seus membros sejam instruídos por estudos bíblicos sobre o que significa administrar o tempo, os dons e os bens conforme a vontade de Deus para o crescimento do reino de Deus, confiante na graça do Deus que tudo supre (cf. Lc. 12.42; 16.2).
d. Informação – Informar aos membros sobre as necessidades e oportunidades missionárias da congregação, do distrito e da igreja. As epístolas nos mostram como os apóstolos informaram sobre o trabalho. Orçamentos nos ajudam a descobrir a vontade de Deus nas atividades da Igreja. A apresentação das necessidades em si não motiva ninguém, mas canaliza as ofertas de amor para as prioridades e os lugares onde são necessárias (cf. At 4.32-35).
3.13 – Quanto darei? – Essa pergunta já trouxe e continua a trazer muita preocupação aos fiéis. Afinal, o que significa ofertar o máximo possível? O que devo tomar em consideração quando quero chegar à conclusão sobre o quanto devo ofertar? As respostas divergem. Talvez possamos reunir as muitas respostas em dois grupos: 1) O primeiro grupo afirma que a decisão é de foro íntimo de cada um. A oferta é oferta ao Senhor. Por isso, o ofertante, em relação a sua oferta regular, não deve deixar influenciar-se pelas necessidades de sua congregação. Mas, seguindo exemplos de ofertantes do Antigo Testamento, o ofertante deve decidir-se por uma proporção de sua renda mensal e ofertar a mesma como seu sacrifício ao Senhor. Essa proporção tem diferentes coloridos. Para uns, só pode ser, conforme ordem de Deus, o dízimo. Outros entendem que a proporção é de livre escolha do ofertante, dependendo do grau de sua fé, podendo ofertar da renda uma percentagem de 3, 5, 10, 13 ou até mais. Mas o que prometeu ofertar deverá cumprir e procurar progredir mais e mais; 2) O segundo grupo age diferente. Eles administram as bênçãos de Deus analisando suas diferentes responsabilidades e necessidades. À base disso decidem que necessidades irão atender. Decidem também o quanto irão ofertar para sua congregação.
Que caminho vamos seguir? A Bíblia não nos determina o caminho a seguir. Deus deixa isto a liberdade de seus filhos. Vejamos.
a. Oferta proporcional – Os que defendem a oferta proporcional afirmam que esse é o método usados pelos patriarcas, ordenado por Deus para o povo de Israel e recomendado por Jesus (Gn 14; Gn 28.22; Lv 27.30, 34; Mt 23.23). Não é bem verdade. Os patriarcas ofertaram espontaneamente, algumas vezes, não qualquer proporção, mas o dízimo. Se o fizeram com regularidade, não o sabemos. O que Deus recomendou ao povo de Israel, além de muitas outras ofertas, foi o dízimo, que deveria ser recolhido uma vez ao ano, não de tudo mas dos produtos e animais indicados por Deus (dízimo: Lv 27.30,32; Nm 18.21-32; Dt 14.22-29). Entrega do produto uma vez ao ano. Dízimo de três em três anos. No ano sabático não havia dízimos. Se resgatado, mais de 5% do valor na praça. Animais não poderiam ser resgatados. Há pequenas diferenças entre a lei dada no Monte Sinai e a lei repetida 40 anos depois em Deuteronômio. Quando Israel desenvolveu a horticultura, a lei foi novamente adaptada à situação (Ne 10.37; 12.44; 13.12). Deus tinha lá sua razão para ordenar o dízimo. Jesus reforçou esta lei para os fariseus (Mt 23.23). Por isso, muitas igrejas até hoje, afirmam que o povo de Deus deve trazer o dízimo à igreja, sob pena de incorrer em grave pecado e perder a bênção de Deus.
Diante de tudo isso é preciso afirmar com muita clareza: também esta lei cerimonial caiu com as demais cerimônias (Cl 3.15; Gálatas).
b. Orçamento – Há os que defendem a análise de orçamentos. Afirmam de forma geral que o Cristão deve analisar as necessidades da igreja e as demais necessidades de sua área de responsabilidade e então tomar sua decisão sobre o que ofertar. Mas, o que fazer se a diretoria planeja mal? Se ela faz orçamentos baixos e os membros gostariam ou poderiam ofertar muito mais? Ou o contrário?
c. Equilíbrio – Analisando exemplos bíblicos, veremos que nem só pelo caminho da decisão interna, nem só pelo lado dos orçamentos, nos cabe olhar para este assunto.
A viúva pobre (Mc 12.41-44), ao ofertar, provavelmente não perguntou por necessidades da igreja. Sua oferta foi fruto de seu amor a Deus e de sua confiança no Deus que supre tudo. Ela ofertou segundo a proporção de sua fé (2 Co 8.3). O bom samaritano tinha, sem dúvida, seu plano de viagem traçado quando se deparou com a necessidade de seu próximo. O amor o moveu a modificar suas prioridades e ajudar. Ele ajudou de forma desinteressada, isto é, sem buscar mérito para si; com sacrifício, pois arriscou sua própria vida; e ajudou com perseverança de forma incansável até ver uma solução razoável para o problema (Lc 10.25-37).
Ele viu a necessidade, e o amor o levou a agir sobre o problema. O apóstolo Paulo, ao fazer a coleta para os necessitados (1 Co 16.1-4; 2 Co 8.1-15) não apresentou orçamento, mas falou das necessidades. Como, aliás, o faz muito em suas cartas pastorais, informando a igreja sobre o andamento do trabalho. É evidente que “orçamentos não enchem o caixa, mas devem esvaziá-la” (W. Werning, Christian Stewardship, Concórdia Publishing House, 1978, p. 132). A oferta do Novo Testamento não é cega, mas objetiva, o que exige constante análise para uma tomada de posição. Sem dúvida, há o perigo de nós nos aproximarmos do assunto “Como ofertar” só pelo lado das necessidades e nos colocar à mercê de propagandistas. Há os dois momentos. O momento íntimo da fé, o amor ao Reino de Deus, fruto da fé. Essa fé deve ser alimentada pela palavra de Deus. Há também, concomitantemente o momento da canalização dos frutos, quando olhamos para as necessidades e nossas responsabilidades para tomarmos nossa decisão. Em toda essa administração somos sempre imperfeitos. Precisamos sempre da luz da palavra de Deus, de aconselhamento e de orientação. Precisamos revisar constantemente as nossas decisões. Lembrando que a proporção da fé varia de uma a outra pessoa como mostra a parábola da semente, na qual um produziu 30, outro 60 e 100 por um (Mt 13).
d. Admoestação – Cabe admoestar fraternalmente os que ofertam pouco, bem como aconselhar e estimular os membros para que façam sempre melhor uso dos bens que Deus lhes concedeu. Cabe-nos admoestar, especialmente, os ricos para que não amem o mundo, mas façam o bem. Isto nem sempre é fácil e nem sempre seremos bem sucedidos (cf. 1 Tm 6.9,18; 2 Co 12.1-23; Mt 19.16-22; 1 Ts 2.12).
e. Maus e bons costumes – Maus costumes no ofertar, arraigados em determinadas regiões, nem sempre são fáceis de serem extirpados. Precisamos de muita paciência na implantação de bons costumes e métodos.
f. Festas e bazares – Quem não gosta de uma boa festa? A família cristã e congregações cristãs gostam de celebrar festas de louvor, de confraternização e de bom testemunho. Lembramos as grandes festas do Antigo e também do Novo Testamento (Cf. Ex 12.7; Ex 23.14; 2 Cr 28; At 4.32-35; 1 Co 5.8; Ap 12.12).
Infelizmente, nem sempre as festas cristãs têm esses objetivos. Na maioria das vezes, o grande e único objetivo de muitas festas nas congregações é o lucro. Daí a abertura para comilanças, bebedeiras, rifas, jogos de azar, etc., que desvirtuam o espírito cristão. É preciso lutar contra esse mundanismo e organizar festas no espírito cristão de louvor, de moderação no comer e beber, de verdadeira confraternização, com música cristã e de testemunho da fé cristã.
Bazares. Não há dúvida de que a prestação de serviços para ajudar os necessitados sempre foi estimulada e bem-vinda na congregação cristã. Também não há nada contra se esses trabalhos são vendidos. Também não há nada contra se departamentos organizam chás, cafés, almoços e jantares beneficentes cuja renda é canalizada para a assistência social. Também esses momentos deveriam ser aproveitados para o cultivo das virtudes cristãs para o testemunho cristão, a proclamação da palavra de Deus. O exemplo de Dorcas (At 9.36-41) aponta nesta direção. É preciso lembrar a palavra do apóstolo Paulo: “Todas as cousas são lícitas, mas nem todas convêm, todas são lícitas, mas nem todas edificam” (1 Co 10.23). Tudo depende com que espírito é feito e para que finalidade, em que contexto. O que é recomendável num lugar, pode não ser recomendável em outro local.
4. Questões básicas sobre o ofertar
O ofertar para o reino de Deus deveria ser algo normal e espontâneo, assim como as crianças pedem para os pais dinheiro para a compra de balas e, onde ensinadas, também dinheiro para a coleta no culto. Infelizmente, nem sempre é assim. Constantemente surgem todos os tipos de perguntas. Vamos focalizar algumas delas.
4.1 – A quem cabe ofertar? – A partir da fé, todo cristão, mesmo crianças e jovens, deseja servir a Jesus. Na graça que Deus Espírito Santo concede, cada um serve com os dons, bens e habilidade que Deus lhe concedeu, “segundo o que tem, e não conforme o que não tem” (2 Co 8.12). Pois tem aqui ótima oportunidade para ensinar a seus filhos a ofertar.
- Tt 2.14. O qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda a iniqüidade, e purificar para si mesmo um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras.
- 2 Co 5.15. Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmo, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.
- Tg 1.15. Então a cobiça, depois de haver concebido, dá a luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte.
4.2 – Por que ofertar? – Não movido pela lei, nem por qualquer interesse em conquistar o favor ou bênção de Deus, mas movido pela graça de Cristo. Assim ofertamos de forma alegre, abundante e voluntariamente.
- 2 Co 5.14. Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos, logo todos morreram.
- 1 Cr 28.9; 2 Co 8.3,12; 1 Co 15.58; 1 Co 16.1-4; Êx 23.19; Nm 18.12; Mt 3.33.
4.3 – O que ofertar? – Pela fé nos entregamos a Deus e renovamos diariamente nosso voto batismal, dizendo: “Entrego-me a ti, ó Deus triúno, para te ser fiel na fé, nas palavras e nas obras até a morte”. Desse propósito brotam os mais diferentes sacrifícios de dons, bens e tempo.
- Rm 12.1-3. Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.
- 2 Co 8.5. E não somente fizeram como nós esperávamos, mas deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor, depois a nós, pela vontade de Deus.
- Ef 5.15-16. Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e, sim, como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus.
4.4 – Para que ofertar? – É preciso lembrar que toda a vida dos cristãos com todas as suas tarefas é culto a Deus, nada é maior ou menor. Mas, em relação ao nosso principal objetivo de vida, os trabalhos do reino de Deus sempre terão a primazia. Assim a oferta para o trabalho específico ocupa, dentro do contexto, um lugar especial. Como Deus não precisa de nossas ofertas, ele ordenou que as aplicássemos no trabalho do reino de Deus. Por essa razão, o cristão oferta objetivamente para o trabalho do reino de Deus na congregação, no distrito, na igreja (Sínodo) e para as mais diferentes tarefas desse trabalho, tais como: sustento do pastor na congregação, manutenção dos seminários, manutenção de missionários, trabalhos na difusão da palavra de Deus pelos meios de comunicação, rádio, televisão, livros, revistas, folhetos, etc. Procuramos também suprir as necessidades dos irmãos na fé e socorrer necessitados.
4.5 – Forma de ofertar – A congregação, no exercício de sua liberdade cristã, escolherá a forma de recolher as ofertas. Na maioria de nossas congregações são as seguintes formas:
a. Coletas – Honrar e louvar a Deus com o resultado de nosso suor, convertido em dinheiro, faz parte de nosso culto. Já no Antigo Testamento, Moisés, referindo-se às grandes festas eclesiásticas, ordenou: “Não aparecerá de mãos vazias perante o Senhor” (Dt 16.16). No Novo Testamento os fiéis traziam alimentos como ofertas. Hoje trazemos o dinheiro. O recolhimento é feito, normalmente, após a mensagem ou na saída do culto. Por vezes, em cultos especiais, depositado pelos ofertantes diretamente no altar.
b. Ofertas regulares – Para manter a congregação e seus empreendimentos missionários, os membros são convidados a ofertar com certa regularidade. As ofertas podem ser semanais, mensais, trimestrais, por ocasião de colheitas, ou anuais, conforme a situação de cada um. Para a boa ordem e orientação dos responsáveis da administração da congregação, a oferta pode ser sinalizada pelo cartão de promessa, indicando a quantidade ou o percentual da renda a ser ofertado em dinheiro ou produto, entregue via envelopes, carnês bancários, pagamentos ao tesoureiro, ou na secretária da congregação, ou pela entrega do produto.
c. Ofertas especiais – Ofertas especiais sempre ocuparam lugar de grande destaque na congregação. São ofertas de gratidão ofertadas pelo transcurso do aniversário ou outros motivos de gratidão, ou então para fins especiais, dirigidas à congregação ou diretamente a outras organizações ou instituições. Tais ofertas devem ser sempre estimuladas.
d. Resoluções – É importante lembrar que as resoluções que a congregação toma a esse respeito são conselhos. Seria muito bom se houvesse certa unanimidade na igreja com respeito à forma de recolher as ofertas. Mas mesmo que alguém resolva ofertar de forma diferente (por exemplo: uma pessoa prefere colocar sua oferta diretamente no prato de ofertas sem se identificar, ou não oferta no prato, mas só por depósito bancário, etc., ou, então, uma família resolve ofertar em conjunto), a congregação não deveria criar problemas para tal pessoa ou família. Da mesma forma é preciso lembrar que o cartão de promessa tem a simples finalidade de orientar a congregação sobre a possibilidade e individualmente serve para disciplina própria, mas não deve ser usada pela congregação para extorquir ofertas por força de lei.
e. Transparência – A boa ordem recomenda a transparência no ofertar, para possibilitar agradecimentos e admoestação onde necessário. Isso não contradiz o que lemos em Mt 6.3, pois esta passagem adverte contra a justiça própria (2 Co 8.3-5).
f. Informação – Pertence à boa organização que a administração seja transparente. Isso envolve elaboração de orçamento e informação sobre os projetos e seus custos e a aplicação das ofertas em âmbito local, distrital, nacional e internacional. Para maior clareza e compreensão das responsabilidades assumidas, especialmente pelo distrito e a igreja, é importante dividir as somas por congregações e indivíduos para uma compreensão melhor das responsabilidades. Isso não deverá ser encarado como taxa média, mas servir de referência para melhor compreensão da responsabilidade individual.
g. Ensino – É dever dos responsáveis pelo setor na congregação orientar e ensinar os membros para serem bons administradores do tempo, dons e bens, para que possam tomar decisões acertadas. O apóstolo Paulo fez isso ao recomendar que “separassem logo no primeiro dia da semana o que conseguiram poupar”, e os informou sobre a necessidade dos irmãos na Judéia (1 Co 16.1-4). Também estimulou os irmãos com o exemplo dos irmãos da Macedônia (2 Co 8.1-15).
h. Métodos – Ordem e métodos, quando usados conforme a Bíblia, não são a causa dos frutos, pois esses são operados pelo evangelho. Os métodos visam colher os frutos existentes e canaliza-los, para evitar que se percam ou dispersem (Cf. 1 Co 14.40; 1 Co 16.1-4; Mt 7.7).
i. Apelos sentimentais – Freqüentemente, os métodos são usados para extorquir ofertas. Procura-se criar momentos de entusiasmo, quando são feitos apelos sentimentais com histórias sentimentais ou apelos ao orgulho, ou ameaças com a lei para se conseguir melhores ofertas. Isso é contrário à palavra de Deus e fere a liberdade cristã (cf. 2 Co 9.7).
j. Promessas divinas – A Bíblia está cheia de promessas. Deus afirma que todas as suas promessas se cumprem. Temos também promessas específicas relacionadas ao campo da mordomia. Por exemplo: “Provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós bênçãos sem medida”.(Ml 3.10). E: “Fui moço, e já agora, sou velho, porém, jamais vi o justo desamparado” (Sl 37.25). “Ao anoitecer pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30.5). Como vamos interpretar essas promessas? Algumas pessoas as aplicam ao pé da letra para estimular as pessoas a ofertar. Como vamos confrontar tais promessas com outras afirmações bíblicas, tais como: “Por muitas tribulações vos importa entrar no reino dos céus” (At 14.22)? Ou, lembrando o relato da Carta aos Hebreus, que nos relata a violência que muitos cristãos sofreram (Hb 11.30-40)? É preciso lembrar que, desviar-se dos caminhos de Deus, sempre traz o juízo de Deus. Por outro, cumpre lembrar que, mesmo tendo feito tudo o que nos foi ordenado – se é que isso é possível – cabe-nos dizer: “Somos servos inúteis” (Lc 17.10). Tudo é graça. Em nossos melhores feitos, não merecemos nada de Deus. Servimos por amor e não no espírito da barganha. No servir queremos desgastar-nos até a última gota de sangue e não recear sacrifícios. E, em tudo isso, somos mais do que consolados e jamais desamparados, como Estevão não foi desamparado por Jesus na hora em que foi apedrejado (At 7). Há algumas promessas que são específicas. Por exemplo, a promessa do profeta Malaquias é dirigida especificamente ao povo de Israel. Eles deveriam edificar com urgência o templo. Essa era a vontade de Deus e não deveriam duvidar de que Deus os recompensaria ricamente. Assim Deus desafia o povo de Israel a confiar nele. Ainda hoje, cumpre-nos buscar em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça e o mais o será acrescentado (Mt 6.33). Pouco importa se Deus nos dará dias fáceis ou difíceis aqui na terra, pois a nossa esperança não se limita às coisas desta terra (1 Co 15.19).
k. Alegria e luta – Quando alguém chega à fé e começa a viver para Cristo, sente grande alegria. É seu primeiro amor (Ap 2.4), no qual deverá crescer mais e mais. Assim os discípulos de Jesus voltaram radiantes de sua primeira ação missionária (Lc 10.17-20). Mas Jesus os advertiu: “Alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submeteram, e, sim, porque os vossos nomes estão arrolados nos céus”. Quando progredimos na vida santificada, conseguimos vitórias sobre nossa carne, e servindo cada vez melhor a Jesus, sentimos grande alegria. Isso é bom. Mas cuidado para que essa alegria não se torne uma cilada de Satanás. “Quem pensa estar de pé, veja que não caia” (1 Co 10.12). Nossa alegria não se firma em nossas realizações, mas na graça de Cristo. “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão” (1 Co 15.58).
Conclusão
Analisando o problema das ofertas na IELB, veremos que o problema não é um simples problema de método. Temos até, em matéria de métodos, uma certa uniformidade: coletas, ofertas mensais, ofertas especiais. O problema é de fé. A má freqüência aos cultos, à Santa Ceia e aos estudos bíblicos confirma este diagnóstico. Para mudar essa situação é necessário que se pregue lei e evangelho corretamente, que se distinga com clareza entre justiça e santificação, e se mostre que a fé nunca está sem obras. Confiemos no poder do evangelho.
Queira Deus, em sua graça, conceder-nos um ministério fiel. Homens que se dediquem à palavra e a oração, que vivam vida moderada e sejam exemplo para os fiéis. Queira Deus, em sua graça abençoar sua palavra em muitos corações e despertar a verdadeira fé cristã. E onde há fé, ali a fé atua pelo amor, ali há ofertas em abundância (Cf. Êx 26.6; 1 Cr 29.16, 21; Is 60.5; 2 Co 8.2).
Observação:
Documento elaborado pela Comissão de Evangelização e Mordomia da IELB – 1989. Aprovado pela 53ª Convenção Nacional da IELB – 1992