IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA DO BRASIL
CRISTO PARA TODOS – Unidos pelo
amor de Deus
*Palestra feita pelo Rev. Silvio FS Filho no congresso do DIESUL (Distrito Espírito Santo Sul), no dia 16/06/2007.
Introdução
O tema CRISTO PARA TODOS – Unidos Pelo Amor de Deus desafia! No mundo que desacredita no matrimônio, parece que estamos andando na contra-mão. A história do amor de Deus revelado em Cristo também parece que sempre andou na contra-mão. A Bíblia parece que está sempre na contra-mão. Por que falar do matrimônio, então? Porque o mundo que o desacredita é comprovadamente infeliz! Porque qualquer experiência nas relações humanas que não passe por um matrimônio sólido, por uma família bem constituída, não produz bons resultados. Que nos digam os estudiosos da violência e criminalidade e as nossas autoridades!
Nesse estudo, queremos, brevemente, olhar para o texto bíblico da criação e ver como Deus preparou o ambiente para criar o ser humano (Capítulo 1). Analisaremos o texto bíblico que relata a criação do ser humano (Cap.2), a constatação de que o homem não pode viver sozinho (Cap. 3), e a união do homem e da mulher (Cap.4). Veremos também as orientações básicas de como preparar-se para o casamento (Cap. 5) e o que Deus espera do homem e da mulher no casamento (Cap 6). Finalmente, seremos confortados e animados com as bênçãos de Deus aos que se preparam para casar e aos já casados (Cap.7). Que Deus, em Cristo, nos ajude nessa tarefa!
Parte 1 – Criação do Universo - Deus prepara o ambiente
Quando olhamos para todas as coisas criadas, respondemos à pergunta básica: Quem criou tudo o que existe? A resposta é: Deus, com seu poder onipotente, criou tudo o que vemos e somos, todas as coisas que existem, nos céus, na terra, no ar, no mar e tudo o que neles há; no universo inteiro. Mas, surge outra pergunta? Por que Deus ocupou-se em criar o mundo? A resposta é: Deus criou o mundo para colocar nele a coroa da sua criação, o ser humano, com a finalidade explícita de salvá-lo.
O que se pode ver no detalhado plano da criação é a maneira organizada como Deus criou tudo o que existe. Nos três primeiros dias, criou a Obra da Divisão (Opus Divisionis): 1º Dia: Luz / trevas; 2º dia: Águas em baixo e águas em cima; 3º dia: Separou a água da terra e colocou nela as plantas. Nos outros três dias, criou a Obra da ornamentação (Opus Ornatus): 4º dia: Os luzeiros: o sol, a lua e as estrelas; no 5º dia: As aves e peixes; no 6º dia: Os animais terrestres e o homem. A ordem da criação partiu do céu para a terra, com o foco final no homem.
“No princípio criou Deus os céus e a terra” – Deus criou todas as coisas que existem do nada. O verbo usado para criar denota exatamente a creatio ex nihilo (criação do nada). Então, nos seis dias da criação, Deus foi estabelecendo o mundo e tudo o que o compõe, de forma ordenada e meticulosa, até chegar ao sexto dia, para criar o ser humano. Por que Deus deixou o ser humano por último? A resposta é: para preparar todo o cenário, deixar tudo pronto, para, então, culminar a criação com o ser mais importante: o homem.
Parte 2 – Criação do ser humano – a sexualidade
Em Gn 1.26 Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”. O Façamos refere-se ao conselho da Santíssima Trindade. Imagem e Semelhança ressalta a singularidade do ser humano e a sua elevada posição na criação. O ser humano foi criado santo, perfeito, puro, com vida eterna. Assim como um rei colocava a sua imagem na terra que ele conquistava, assim Deus colocou a sua imagem, o homem, nesta terra, como seu representante e administrador. Deus quis destacar o ser humano entre todas as demais criaturas, colocando-o como coroa da criação. O ser humano foi dotado de alma imortal e de inteligência, foi-lhe dado o domínio sobre todas as outras criaturas, foi criado à imagem e semelhança de Deus, isto é, em perfeita justiça e santidade.
No versículo 27 lemos: “Criou, Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Destaca-se aqui um ponto importantíssimo na compreensão da sexualidade humana: Deus criou o ser humano, dividindo-o em dois gêneros: Macho e Fêmea (masculino e feminino). Isso já abre as cortinas para o ato que Deus realizaria logo após: a união do homem e mulher (macho e fêmea) no casamento. A verdadeira humanidade existe na relação com o outro ser humano: homem e mulher. Aqui se elimina a relação homossexual tão comum em nossos dias. Também estabelece-se aqui que a primeira finalidade do casamento não é a procriação; mas, o convívio íntimo entre homem e mulher.
No v. 28 é a primeira vez que Deus fala ao ser humano. Deus o capacita, pela bênção, a se procriar. A fecundidade vem de Deus. Há cinco imperativos: Multiplicai, sede fecundos, enchei a terra, sujeitai-a (fazer uso, cultivar) e dominai-a.
No v. 31 Deus diz que “tudo quanto fizera... era muito bom”. Aqui ele não usa a forma “tudo era bom”. Para indicar que a criação inteira, especialmente o seu desfecho na criação do ser humano, era realmente muito bom. As obras individuais da criação eram boas; o conjunto final era muito bom. É uma avaliação de funcionalidade.
Parte 3 – Deus “Viu que o homem estava só”.
Pela primeira vez na Bíblia é relatado algo que não está bom. É o próprio Deus quem o faz. Ele, que proferiu o seu “muito bom” sobre todas as coisas criadas, agora revela que “não é bom que o homem esteja só”. Deus não deu ao homem uma auxiliadora enquanto este não a falta dela. Quando Deus disse: “não é bom que o homem esteja só”, ele mesmo já começou a tomar a iniciativa. Não foi o homem quem julgou e decidiu o que lhe faltava; isso foi responsabilidade de Deus e participação de Deus. Deus disse que faria uma auxiliadora e deixou o homem na expectativa. Esse termo auxiliadora deve ser bem entendido: não é uma ajuda para procriar filhos; não é uma escrava da cozinha. É alguém que preencha o espaço vazio, a solidão que o homem sentia. Auxiliar mutuamente faz parte da essência do ser humano. O ponto máximo dessa união é o relacionamento sexual, no qual fundem-se duas pessoas, onde se perde a individualidade para tornar-se uma só carne. É o êxtase da comunhão, que supera toda a solidão. O sentido original da palavra idônea é: “o que está diante da pessoa e lhe corresponde”, “feita sob medida”. Essa expressão reúne semelhança e complemento. A mulher consiste exatamente naquilo que faltava ao homem - a companhia que complementa.
Deus fez cair sobre Adão um pesado sono. Não se refere a uma anestesia. É o sono que visava aguçar a expectativa do homem para esperar a mulher. A mulher não foi criada do pó; mas, da costela de Adão. Deus fez uma só mulher (monogamia) e criou uma mulher e não um homem para Adão. Assim que Adão viu a mulher, disse: “Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada” (Gn 2.23).
Parte 4 – Deus uniu o homem e a mulher
Deus estabeleceu como se daria a união do homem e da mulher. Notemos que, ambos ainda não tinham casa, família. Nem igreja existia ainda! E Deus disse: “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” (Gn 2.24).
Esse texto nos traz alguns conceitos sobre o casamento:
a) Deus criou o ser humano e o dividiu ao meio: homem e mulher / macho e fêmea. Do ponto de vista de Deus, o ser humano só existe homem ou mulher, realiza a sua sexualidade como macho ou fêmea. O matrimônio foi instituído para ser heterossexual;
b) Deus viu que “não é bom que o homem viva só”. Deus criou o ser humano para o casamento;
c) Deus quer que marido e esposa se completem nos planos físico, intelectual (afetivo, emocional) e espiritual;
d) Deus instituiu o casamento como coisa boa na sua criação perfeita. Isso vai contra os conceitos modernos que o casamento, em si, não é bom;
e) Deus instituiu o matrimônio e o abençoou, e quer que os homens o honrem como a viga mestra da ordem social; (Hb 13.4)
f) O matrimônio foi instituído no caráter de monogamia. Os relatos polígamos do Antigo Testamento mostram que a poligamia traz problemas em 100% dos casos;
g) A união matrimonial é uma união vitalícia. Jesus relembra as palavras de Gn 2.24 e amplia: “De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou, não o separe o homem” (Mt 19.6);
h) O marido é o cabeça da mulher: O homem foi criado primeiro, a mulher depois. Existem dois tipos de hierarquia: de função e de mérito. A hierarquia de mérito é a que está a vista no mundo: o professor é superior aos alunos, pois estudo e se preparou para isso. Tem méritos. A hierarquia de função: os pais são superiores aos filhos, porque os geraram. Mesmo que os filhos sejam mais inteligentes, mais hábeis, mais preparados. Na hierarquia de função, seus pais são seus superiores. O matrimônio se encaixa aqui, obedecendo a ordem da criação. O que é submissão: significa aceitar a maneira como Deus ordenou as coisas, na qual o homem e a mulher têm a sua função. Embora Eva estivesse em pé de igualdade co Adão no usofruto das bênçãos divinas, tanto temporais quanto espirituais, a sua condição social era de sujeição a Adão, por cuja causa fora criada. Ler Ef 5.21-33.
Parte 5 – Como se preparar para o casamento
A preparação para o casamento inicia-se com a escolha do companheiro/a. É uma das escolhas mais importantes da vida. É aqui que começamos a pensar naquela pessoa com quem vamos dividir tudo na nossa vida. Uma boa escolha representa a possibilidade concreta de uma vida matrimonial feliz. O contrário também é verdade, uma escolha errada vai produzir muitas tristezas e angústias, que tendem a ficar pelo resto da vida.
Por isso, é muito importante o período do namoro. Ele é o período de descoberta do outro e de si mesmo. Neste momento não é necessário se precipitar e se comprometer. O namoro é o tempo de ver se a pessoa é realmente o tipo de pessoa que eu vou querer ao meu lado, e com a qual eu vou querer dividir a minha vida.
Quando começar a namorar? Não há idade mais ou menos apropriada para namorar, via de regra, é desaconselhável o namoro numa idade muito jovem. Rapazes e moças, no início de sua juventude, fazem bem se desenvolverem mais suas relações de amizade. A resposta não está em definir uma idade. Em vez de definir uma idade, é importante definir a finalidade do namoro. O interesse pelo sexo oposto se manifesta de forma natural no ser humano no começo da adolescência (entre os onze e os treze anos). Relacionar-se com pessoas do sexo oposto significa o encaminhamento para uma vida adulta sadia e segura. É natural surgir o sentimento de afeição ou amor surgir num jovem. Isto não significa que já deva começar um namoro. É importante que, antes de um compromisso pessoal, antes de começar a namorar, se desenvolva uma amizade mais profunda para então começar ou não um namoro.
E quando começar o namoro propriamente dito? Talvez sirvam de orientação os seguintes princípios: a) É importante que se goste da pessoa e não que se goste apenas de namorar. b) É importante que se respeite a pessoa com quem se pensa em namorar. c) É importante que se pense, ao iniciar um namoro, na possibilidade de casar com a pessoa que se quer namorar. d) Por sermos cristãos, é importante pedir a orientação de Deus neste assunto.
Infelizmente, os meios de comunicação estão influenciando negativamente os jovens na condução do namoro. Toda a sexualidade banalizada e a pornografia exposta nos programas de tv, ns revistas, nas músicas e na internet estão coagindo os jovens a uma relação amorosa cada vez mais descartável, com princípios de escolha cada vez mais vulgares e, sobretudo, com a exploração recíproca da sexualidade.
É muito comum o jovem cristão ser tentado a saltar a boa fase do namoro e passar logo para relação sexual, até mesmo para estar inserido na tribo dos já iniciados sexualmente. Não raro, essa prática tem produzido gravidez indesejada, contágio e transmissão de doenças sexualmente transmissíveis e, o que é mais grave, a consciência pesada diante de Deus.
A palavra clara de Deus continua válida: “Foge, outrossim, das paixões da mocidade. Segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam ao Senhor” (2 Tm 2.22). Deus promete perdoar, quando falhamos, e nos ajudar para vivermos de acordo com a sua vontade, respondendo ao seu amor de modo alegre e livre.
Parte 6 – O que Deus espera dos que se casam
Deus dá orientações claras aos maridos, em sua palavra: “Maridos, amai vossas mulheres como também Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela. Assim também os maridos devem amar as suas mulheres como a seus próprios corpos” (Ef 2.225,28). O que isso envolve? Humildade, serviço e desprendimento. Humildade para reconhecer que esta é a vontade de Deus para o marido. Serviço para mostrar, na prática, todo o cuidado e amor à esposa. Desprendimento para praticar a intenção de Deus de que o marido ame tanto a sua esposa a ponto cuidar dela, sustenta-la, e, se for o caso, sofrer e morrer por causa dela. Ela lhe deve ser o ente mais amado e querido do mundo, pelo qual até se entregará a si mesmo em sacrifício.
A orientação clara da palavra de Deus às esposas é: “As mulheres sejam submissas a seus próprios maridos, como ao Senhor; porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da Igreja, sendo este mesmo salvador do corpo. Como, porém, a Igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo submissas a seus maridos”(Ef 5.22-24). O que isso envolve? Assim como a Igreja, redimida pelo sangue precioso de Jesus derramado na cruz, se alegra por tudo o que o seu Salvador fez em seu benefício e continua ativamente fazendo, e a ele se submete de bom grado, a esposa se submete a liderança do seu marido, amando-o e fazendo de tudo para torna-lo feliz. Ela sabe que, agindo assim, está fazendo o que o Senhor Deus espera dela, apesar de, muitas vezes, o marido não representar a Cristo para ela. Ela o serve e se submete a ele, como ao Senhor Deus, segura que pode contar com a presença de Deus ao seu lado, a sua ajuda, perdão, motivação e força para tratar seu marido com amor.
Parte 7 – As promessas e Bênçãos de Deus
Não podemos ter dúvidas se o casamento agrada ou não a Deus. O Casamento é estado agradável a Deus e está sob sua ordenação, regulamentação e bênção. As bênçãos que precisamos para nos preparar para o casamento e para vive-lo de acordo com a vontade de Deus, encontramos nos meios da graça: Palavra e Sacramentos. Assim como, nos alimentos que recebemos de Deus diariamente, ele nos oferece forças para que possamos realizar as nossas tarefas diárias, assim também ele nos proporciona o alimento para a alma. A sua palavra é verdadeiro pão da vida. Por isso é tão importante ler a Bíblia em casa, com a família, nos demais ambientes nos quais temos oportunidade de faze-lo. Uma boa dica é sempre ter uma Bíblia bem pertinho da mão, onde estivermos. Também é de fundamental importância participarmos regularmente dos cultos da nossa congregação, e que essa participação seja qualitativa; ou seja, que nós participemos do culto com alegria, reverência e com o forte desejo de louvar e agradecer a Deus, e também, ouvir e aprender a sua palavra e participar da santa ceia. Deus também nos quer fazer lembrar do nosso batismo diariamente. Enfrentamos crises com mais força quando somos lembrados que fomos batizados em nome do Deus triúno, que pertencemos a ele e que estamos sob sua graça e amor.
Algo que precisa ser lembrado aqui é que, tanto os que se preparam para o casamento, quanto os já casados, têm à sua disposição um recurso valioso de aconselhamento: O seu pastor! Marque um momento de diálogo e aconselhamento com o seu pastor. Ele irá atende-lo/a com muito prazer e lhe ajudará muito.
A recomendação do apóstolo Paulo também é importantíssima: “Orai sem cessar” (1 Ts 5.17). Na oração, podemos dizer ao nosso Deus como somos felizes pela certeza que temos que ele nos ouve e como nos sentimos confortáveis ao colocar diante dele as nossas súplicas, angústias e necessidades, certos que, em nome de Jesus, ele nos ouve e atende, de acordo com a sua boa e misericordiosa vontade. O que Deus quer de todos os que se preparam para o casamento e dos que já se casaram é que o façam sob a sua bênção, ajuda, orientação, perdão e motivação.
Conclusão
CRISTO PARA TODOS – Unidos Pelo amor de Deus nos desafia! Além de conhecer a vontade do Senhor e buscar viver de acordo com ela, com o perdão, a graça e o amor de Cristo, somos desafiados a testemunhar essas verdades bíblicas que querem tornar os que se preparam para o casamento e os já casados muito felizes. Oremos: “Senhor, conserva os nossos corações firmemente unidos pelos laços do amor e afeição sincera e, acima de tudo, conserva e firma-nos na verdadeira e única fé salvadora em Jesus Cristo, nosso Redentor, amém!”