ESTUDO NO LIVRO DE DANIEL
Introdução (Baseada em Hernandes Dias Lopes pp. 13-16)
“Hoje, no início do século 21, o mundo diz à igreja que enfrente os seus próprios pecados. A igreja evangélica cresce em número, mas não em vida; toma de assalto a nação, mas não produz transformação moral; tem os meios de comunicação nas mãos, mas tem pouca mensagem de Deus para pregar ao povo; parece que está mais interessada em granjear as riquezas do mundo que em oferecer ao mundo as riquezas do céu. Estamos no fragor de uma crise avassaladora, a crise de integridade... na família, nas instituições públicas, na educação, no comércio, na política” (p.13s.)
Estes problemas não são apenas periféricos, mas sintomas de abalo nos critérios da própria verdade e seus absolutos.
A mensagem de Daniel é necessária para nossos dias, embora soe desagradável, devido à perda dos critérios morais e espirituais.
Daniel viveu num tempo em que a verdade estava sendo pisada e a religião tinha perdido a sua integridade, pois neste tempo o rei Jeoaquim queimou o rolo da Palavra de Deus que continha as mensagens do profeta Jeremias e mandou prender o mensageiro (Jr 36.20-26). Jeoaquim era também assassino. Porque as mensagens do profeta Urias eram contrárias aos seus interesses, ele mandou matá-lo. Urias fugiu para o Egito, mas Jeoaquim mandou seqüestrá-lo. Ele foi trazido à sua presença e morto à espada (Jr 26.20-23)
Cenário Político
As maiores potências na época eram Egito e Assíria.
O Rei do Egito subira para batalhar contra a Assíria. Josias, rei de Judá, resolveu atacá-lo no caminho, mas morreu na batalha de Carquemis (608aC), então o rei do Egito impôs pesado tributo sobre Judá e constituiu a Jeoacaz em seu lugar (2 Rs 23.31-35)
Conteúdo do Livro
Trata da soberania de Deus na história e o cuidado que ele tem daqueles que o temem.
É um livro histórico e profético (descreve a história antes de acontecer. É a antecipação do futuro) – Olha para o passado, interpreta o presente e descobre o futuro. Revela-nos como podemos ser íntegros na adversidade ou na prosperidade e que devemos confiar em Deus não apenas pelo que ele faz, mas, sobretudo, pelo que ele é. Mostra que em vez de correr atrás de milagres, deveríamos buscar avidamente a integridade; em vez de buscar as bênçãos deveríamos buscar o Deus das bênçãos. O Doador é mais importante que a dádiva. Aqueles que conhecem este Deus jamais se inclinam diante dos homens.
Este livro também tem grande Evangelho. Ele mostra como Deus está governando a sua igreja para um final vitorioso mesmo através de vales escuros, estradas com espinhos, prisões, etc. Sua igreja, embora pequena, será vitoriosa.
Este livro é chamado de Apocalipse (Revelação) do Antigo Testamento. Seu conteúdo aponta para a vitória final de Cristo e de sua igreja.
Do Prefácio ao Livro de São Daniel (Martinho Lutero. OL Vol 8, pp 61-98)
Alguns anos antes da destruição de Jerusalém, Daniel chegou à Babilônia, sob o rei Joaquim, o qual o rei Nabucodonozor mandara prender; levou também alguns dos melhores homens e vasos do templo (Dn 1.1s.) (Cf 2 Rs 24.1-17 e 2 Cr 36.5-8).
Dn 1.1s.
O capítulo 1 fala da integridade de Daniel como homem santo, temente a Deus, de grande e corajosa fé em Deus em meio ao depravado ambiente pagão na Babilônia. Ele manteve-se fiel. Por isso Deus lhe demonstra grande graça e o exalta em termos espirituais, dotando-o de sabedoria e entendimento acima de todas as pessoas, e também o eleva em termos profanos, realizando por seu intermédio, grandiosos prodígios e obras.
Com isso Deus demonstra a todos nós o quanto ele ama e aprecia os que o temem e nele confiam, estimulando-nos, com esse grande exemplo e com muita amabilidade, ao temor e à fé para com Deus.
vv. 1-21 = apresenta os personagens que vão protagonizar os episódios relatados nos capítulos seguintes e os propõe como modelo de fidelidade ao Deus de Israel. A corte real da Babilônia tem um ambiente completamente pagão. Daniel e os seus companheiros de exílio decidem não se contaminar comento alimentos que a lei de Moisés declara impuros, e Deus, em recompensa lhe concede uma saúde excelente (v.15) e uma sabedoria superior a dos magos e encantadores do rei (v.17, 20). O relato mostra como o Senhor protege aqueles que se mantêm fiéis a ele, mesmo em circunstâncias adversas (Cfme. 3.19-30).
v.1 = ano de 606 aC (cfme. 2 Rs 23.36-24.6). Nesta época Nabopolasar, pai de Nabucodonozor, ainda reinava na Babilônia, mas visto que estava muito velho e doente, o filho já assumia o comando visto ser o príncipe herdeiro e chefe supremo do exército. Ele assumiu ganhou o título de rei no ano 605 aC quando houve a batalha de Carquemis que assegurou aos babilônios do domínio sobre a Síria e a Palestina (Jr 46.2), onde ele é aclamado rei antes que o fosse plenamente.
v.2 = “O Senhor lhe entregou nas mãos... utensílios da Casa do Senhor Deus... levou-os para a terra de Sinar (= Babilônia, cfme. Gn 11.2, o mesmo nome que há no relato da torre de Babel), para a casa do seu deus”. Isto prepara o relato odo banquete de Belsazar (Dn 5.2-3).
v.3 = “chefe dos eunucos”. Chefes do serviço do palácio. Cfme. Jr 29.1-2: “Oficiais”; inicialmente eram designados com este nome os servos que haviam sido castrados. A sua função era atender e cuidar do harém. Mas os eunucos chegaram a ter tanta importância nas cortes dos reis, que o termo deixou de ser usado exclusivamente no seu sentido literal e passou a designar também os funcionários de máxima confiança do rei. No texto de Gn 39.1, assim era chamado Potifar, que era casado.
v.3-4 = “a cultura e a língua”. Os jovens deviam receber uma educação especial que os capacitaria para exercer as funções de magos e encantadores do rei (Dn 2.2-4). Para isto tinham de conhecer a cultura e a língua (aramaico 2.4), isto é, a literatura dos caldeus, especialmente os textos antigos relativos à magia, astrologia e adivinhação.
“caldeus”. Este vocábulo designava originalmente uma tribo do sul da Babilônia, que chegou a dominar todo o país, e dela procedia a dinastia de Nabucodonozor (Gn 11.28; cfme. Dn 5.30 e 9.1). Mas mais tarde quando os astrólogos e adivinhos da Babilônia se tornaram famosos por toda parte, o termo foi usado para designar também os magos e as pessoas iniciadas nas ciências ocultas (Dn 2.4; 4.7; 5.7-11).
v.7 = A mudança de nome era interpretada no Antigo Oriente como uma afirmação de domínio (Gn2.19-20; 41.45; 2 Rs 23.34; 24.17).
Beltessazar (Daniel), parece ser a transcrição de um nome babilônico que significa “ele protege a sua vida”, subentendendo-se que o sugeito da frase é um deus como Bel ou Marduque.
Abede Nabu, que significa “servo de Nabu”.
O significado dos nomes Sadraque e Mesaque ainda não se pode determinar.
A respeito dos deuses:
Marduque era o principal deus da cidade e do império babilônico O mais famoso dos mitos da Babilônia se baseia em Gn 1.21 [“Criou, pois Deus os grandes animais marinhos”]. Segundo o mito babilônico, a criação do mundo fora precedida pelo nascimento de várias gerações de deuses e pela vitória do deus Marduque sobre o monstro marinho, que era a personificação do caos original. Gênesis, ao contrário, fala de um único Deus, que existe desde sempre e que, por si mesmo, cria o universo pelo poder da sua palavra. Como tudo que existe foi criado por Deus, já não há mais lugar para a adoração de fenômenos da natureza ou de qualquer outro ser animado ou inanimado.
Bel é o mesmo que Baal em Is 46.1, significa Senhor ou dono. Na Babilônia esse título era dado a vários deuses;
Nebo em Is 46.1 é o nome hebraico de Nabu, outro dos deuses babilônicos. Considerado filho e intérprete de Marduque, era venerado como deus da escrita e da sabedoria. A dinastia reinante na Babilônia o cultuava de forma especial, como o testemunha, entre outras coisas, no próprio nome do rei Nabucodonozor.
v.8 = “Resolveu Daniel, firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei”. Esta decisão se deve ao fato de que as iguarias que eram servidas na mesa do rei podiam estar preparadas com a carne de animais impuros (Cfme. Lv 11; Dt 14.3-21) ou de que não se tirara o sangue conforme as prescrições rituais (Dt 12.23-24). Além do mais, os jovens não queriam se expor ao perigo de comer alimentos ou beber vinho que, talvez, pudessem ter sido antes oferecidos aos ídolos (Dt 32.38; 1 Co 10.21).
v.16 = O escritor bíblico não usa os nomes pagãos, mas retoma os nomes originais dos filhos de Judá.
v.17 = A interpretação de sonhos tinha grande importância no Antigo Oriente, porque eram considerados um meio para entrar em contato com a divindade. A Bíblia, por sua vez, mostra que Deus pode se utilizar deles ocasionalmente, para revelar a sua vontade e os seus desígnios (Nm 12.6; 1 Rs 3.5; Jl 2.28; Mt 1.20; 2.12) mas não deixa de advertir contra os sonhos enganosos e puramente ilusórios (Jr 23.25, nota; Zc 10.2).
v.21 = “primeiro ano do rei Ciro”, isto é, o ano 538 aC (Ed 1.1). Isso não significa que Daniel tenha morrido nessa data, já que no terceiro ano de Ciro está ainda em plena atividade (Dn 10.1). O texto dá a entender, melhor, que ele ainda estava na corte real da Babilônia, quando esse império passou para as mãos dos persas (Is 41.2, nota), o que equivale a 68 anos de atividade na Babilônia.
O capítulo 2 inicia com a glória de Daniel originada pelo sonho do rei, o qual Daniel interpreta por meio de revelação divina. Isto torna Daniel um potentado, bispo e superior de todos os clérigos e eruditos. Isto também serve para consolo do povo judeu, para que não desespere ou se impaciente no exílio, como se Deus o tivesse repudiado, anulando sua promessa de Cristo. O governo da Babilônia está a cargo de um judeu cativo, não cabendo esta glória a um babilônico. Tão espantosa é a maneira de como Deus conduz os seus crentes, proporcionando muito mais do que a pessoa pode desejar!
O sonho e a imagem estão retratados no próprio texto e tratam dos quatro reinos, que são: 1º assírios ou babilônicos; 2º dos medos e persas; 3º Alexandre Magno e dos gregos, e, 4º romanos – isto tudo é demonstrado pelo desenrolar da história. O 4º é como as coxas de ferro que começam a se dividir nos dedos dos pés como três aspectos referentes ao império romano. A saber: 1) os artelhos estão divididos como a origem do pé de ferro, assim também o império romano está dividido em Espanha, França e Inglaterra. Aí foi a origem, tendo sido transplantado desde os gregos até os alemães, preservando, mesmo assim, a natureza férrea, embora venha a ser um reino dividido, ele terá raiz, planta ou estirpe de ferro. 2) Esses artelhos divididos são desiguais, parte de ferro, parte de barro, o que ele próprio interpreta no sentido de que será um reino dividido, em parte poderoso, em parte fraco. 3) Esses reinos estarão divididos, desiguais e confundidos uns com os outros, de modo que será um império tão fraco que ficará continuamente buscando alianças, só que não encontrará fidelidade. Ou seja, terá que ter a sua força e vitória exclusivamente pela providência de Deus.
A montanha da qual a rocha é arrancada sem auxílio de mãos humanas, alguns interpretam como sendo a virgem Maria, da qual nasceu Cristo, sem participação humana, o que não deixa de ser uma formulação cristã. Mas a montanha bem poderia ser todo o reino judaico, do qual veio Cristo, sendo sua carne e sangue, mas que foi arrancado do seio deles, vindo a ter com os gentios, onde se tornou Senhor em todo o mundo, em todos esses quatro reinos, e também continuará sendo.
O capítulo 3 descreve mais uma vez, um grande e prodigioso sinal de fé: os três homens sendo preservados na fornalha ardente. Dessa forma, Deus se tornou conhecido e exaltado pelo rei em todo o reino, inclusive por meio de mensagens escritas. Isso sucede mais uma vez para conforto dos judeus cativos,, os quais, juntamente com seu Deus, eram totalmente desprezados na Babilônia e nada representavam entre os tiranos e falsos deuses. Mas aqui seu Deus é sumamente exaltado, acima de todos os deuses. Isto para que não deixem de crer firmemente que ele pode e quer resgatá-los a seu tempo e, enquanto isso, se confortem atendo-se a essa sua glória e prodígio.
O Capítulo 4 aponta para o excelente exemplo contra os desatinados e tiranos. A ânsia pelo poder o fez enlouquecer. Deus o castiça levando-o a loucura, mas lhe devolve a razão quando ele levanta os olhos ao céu em sinal de submissão à soberania do Deus único (v.34).
Deus derrubou do seu trono os poderosos e acatou os humildes (Lc. 1.52).
v.10 = Ezequiel também compara Faraó com um imenso cedro do Líbano, abatido por Deus por causa da sua soberba (Ez 31.2-12; cf Is 1’4.4-20; Ez 29.1-19).
v.16 = “Coração” não são os sentimentos, mas significa o uso da razão
“Sete tempos”, significa períodos ou anos.
v.30 = A ciência moderna conhece uma forma de paranóia crônica que apresenta os sintomas aqui descritos, chamada de cinantropia e licantropia.. O atacado desta enfermidade costuma vagar de noite, bramindo como animal. Este fenômeno é descrito por Eusébio de Cesaréia sobre “Patologia Grega”.
v.34 = é a prática do que disse em 2.21: “E Deus quem remove e estabelece reis”.
Capítulo 5. Aqui o tirano empedernido e impenitente, seguro e contente em sua maldade, é punido sem qualquer misericórdia
O Capítulo 7. Iniciam as profecias sobre os reinos futuros, principalmente sobre o reino de Cristo. É idêntico ao de 2.31-43, só que agora com 4 animais
Animal 1: Leão com duas asas de águia = império da Assíria e Babilônia. As duas asas são as duas partes do reino (Assíria e Babilônia). Tinha mente de homem, quer dizer um coração bom.
Animal 2: Urso = reino na Pérsia e na Média, que destruiu o da Babilônia, arrancando-lhe as asas. Entre os dentes havia 3 costelas, i. é., três grandes e longos dentes, que são os 3 grandes reis: Ciro, Dario e Xerxes, que comeram muita carne, i. é., conquistaram muitas nações.
Animal 3: Leopardo, de 4 asas e 4 cabeças = reino de Alexandre Magno na Grécia, deste surgiram 4 reinos conforme o capítulo 8.
Animal 4: com dentes de ferro = império romano com o qual o mundo chegará ao fim, pois aqui Daniel fala sobre o juízo final e os santos que sucedem este reino.
Os 10 chifres são 10 reinos: Síria Egito, Ásia, Grécia, África, Espanha, Gália, Itália, Germânia e Inglaterra.
O pequeno chifre que expulsará 3 dos 10, é Maomé ou o turco que dominará o Egito, Ásia e a Grécia.
“Ancião de Dias”, aqui se refere a Deus.
O Capítulo 8. Esta visão refere-se somente aos judeus.
V14. Os 1.150 dias que durou a profanação do templo de Antioco IV em Jerusalém entre 168 e 165 aC. Este homem foi também interpretado como o anticristo. Ele morreu de desgosto quando foi buscar dinheiro na Pérsia e Judas Macabeu derrotou os judeus nesse período. Morreu em terra estranha sem o auxílio de mãos humanas.