INSTITUTO CONCÓRDIA DE SÃO PAULO
ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA
ESTUDO ISAGÓGICO DE APOCALIPSE
Apocalipse 22.12-17, 20
Monografia apresentada ao Prof. Dr. David Coles Ward, da disciplina “Isagoge do Novo Testamento I”
EZEQUIEL BLUM
Aluno do 3º Teológico
São Paulo
1º Trimestre de 1999
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................03
2. ESTUDO ISAGÓGICO DO LIVRO DE APOCALIPSE....................................................04
2.1 Nome ou Título.......................................................................................................04
2.2 Autoria.....................................................................................................................04
2.3 Data, Local e Circunstâncias...................................................................................05
2.4 Destinatários............................................................................................................05
2.5 Características do Livro..........................................................................................06
2.6 Conteúdo e Mensagem............................................................................................06
2.7 Propósito..................................................................................................................07
2.8 Esboço.....................................................................................................................07
2.9 Canonicidade...........................................................................................................08
2.10 As Interpretações...................................................................................................08
3. COMO O ESTUDO ISAGÓGICO AJUDA A COMPREENDER E PREGAR
MELHOR DETERMINADA PASSAGEM BÍBLICA?......................................................10
3.1 Apocalipse 22.12-17, 20 (7º Domingo da Ressurreição – Trienal C).....................10
4. CONCLUSÃO......................................................................................................................11
5. BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................12
1. INTRODUÇÃO
O estudo isagógico é essencial para que possamos compreender melhor assuntos que envolvem os textos bíblicos, através dos quais Deus sempre tem algo de importante para nos falar. A mensagem de Deus é melhor compreendida quando fazemos uso de estudos mais aprofundados, sempre tendo em mente que a Bíblia é a palavra de Deus, o fundamento e a base da fé verdadeiramente cristã.
É com este objetivo, de termos um melhor esclarecimento da palavra de Deus, que fazemos esta pesquisa. Desta maneira, primeiramente estaremos apresentando um “Estudo Isagógico do Livro de Apocalipse”. Em seguida, estaremos respondendo a seguinte questão: “Como o Estudo Isagógico Ajuda a Compreender e Pregar Melhor Determinada Passagem Bíblia?”. Tal questão será respondida em relação ao texto de Apocalipse 22.12-17, 20 (7º Domingo da Ressurreição – Trienal C). Continuando, então, apresentaremos uma “Conclusão” da pesquisa. Por fim, vamos expor a “Bibliografia” utilizada para a realização desta pesquisa isagógica.
Que este trabalho nos sirva de auxílio e reforço no estudo da palavra de Deus e também como fortalecimento da nossa fé, ajudando-nos na compreensão do curioso estudo isagógico que o livro de Apocalipse possui. Esperamos, ainda, que este estudo realmente abra nossas mentes para que possamos compreender melhor a passagem de Ap 22.12-17, 20. Que Deus abençoe este estudo.
2. ESTUDO ISAGÓGICO DO LIVRO DE APOCALIPSE
2.1 Nome ou Título
O nome do livro de Apocalipse é uma transcrição da palavra grega apokálypsis (VApoka,luyij). Apokálypsis é composta e derivada da preposição apó e do verbo kalypto, que quer dizer revelar, desvendar, tirar o véu, descobrir. Devido ao significado do nome de Apocalipse, este livro também é chamado de “A Revelação de Deus a João”. Para que possamos compreender melhor, basta lermos Ap 1.1, onde diz: “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviado por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João”.
2.2 Autoria
O autor de Apocalipse é claramente chamado de João. João era uma pessoa bem conhecida entre as igrejas da Ásia. João estava classificado como “profeta” (Ap 22.9). João não se designa apóstolo, mas “servo” de Cristo (Ap 1.1). Já em meados do século II a autoria do livro de Apocalipse foi atribuída a João, um dos apóstolos de Cristo. Justino Mártir e Irineu citam passagens do livro de Apocalipse e colocam como seu autor João, o apóstolo de Cristo. Alguns estudiosos pensam que o livro de Apocalipse não foi escrito pela mesma pessoa que escreveu o evangelho de João, isso devido a grande diferença de linguagem que há entre os dois livros. Mas a posição mais conservadora atribui a autoria de Apocalipse a João, filho de Zebedeu. João, o apóstolo, realmente é reconhecido como autor de Apocalipse pela antiga tradição.
2.3 Data, Local e Circunstâncias
João diz que escreveu o livro por uma ordem direta do Senhor (Ap 1.10-13). Certamente, por trás da ordem do Senhor, havia as necessidades das igrejas em dias de perseguição.
O livro de Apocalipse foi escrito em uma época que os cristão estavam sendo perseguidos pelas autoridades romanas pelo fato de não adorarem ao imperador romano. Nesta época, cristãos haviam sido mortos e outros presos por causa de sua fé. O Apocalipse foi escrito por volta de 95 ou 96 A.D.
João escreveu o Apocalipse enquanto estava preso, exilado na ilha de Patmos por causa da sua fé, por ter anunciado o santo evangelho (Ap 1.9 “Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus, achei-me na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus.”). Alguns pais da igreja falam que se trata do apóstolo João, estando exilado na ilha de Patmos por ordem do imperador Domiciano, sendo que seu reinado foi entre 81 a 96 d.C. Patmos é uma ilha rochosa e escarpada com mais ou menos 10 km de largura por 15 de comprimento, situada no Mar Egeu a mais ou menos 65 km a sudoeste de Éfeso.
2.4 Destinatários
João escreve o Apocalipse para as sete igrejas existentes no período apostólico, que são as sete igrejas da província romana da Ásia (Ap 1.4, 11 “João, às sete igrejas que se encontram na Ásia... escreve em livro e manda às sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia.”), que ficava em uma região que hoje faz parte da Turquia. Tais igrejas servem de tipos das igrejas de todos os tempos. Certamente o Apocalipse também destinava-se às outras igrejas vizinhas e a toda igreja de um modo geral.
2.5 Características do Livro
O livro de Apocalipse é o único livro do Novo Testamento inteiramente dedicado a profecia e o único de toda a Bíblia que promete uma bênção tão especial aos que o lêem e o ouvem. Para entendermos melhor o livro de Apocalipse, é importante lembrar que toda revelação tem suas raízes no Antigo Testamento e também é importante que as visões de João sejam sempre relatadas dentro do seu contexto histórico. Praticamente todo o simbolismo do Apocalipse está relacionado com imagens e símbolos que ocorrem nos livros proféticos do Antigo Testamento.
Os acontecimentos apocalípticos relatados no livro de Apocalipse são revestidos e escritos em linguagem figurativa. O livro de Apocalipse possui um estilo poético e relativo a visões. As revelações de Deus a João são expressadas por meio de figuras, imagens, símbolos e números. Por isso, formar imagens literais dessa linguagem é perder totalmente o significado da revelação.
Apocalipse é um livro de símbolos e figuras. É um livro de guerras que sempre terminam em paz. É um livro de trovões e terremotos, mas são seguidos por liturgias e salmos. É um livro de recompensas, presentes aos justos. É um livro, então, de muito otimismo, pois Deus vence o mal (Satanás) e o Cordeiro (Jesus Cristo) triunfa.1
2.6 Conteúdo e Mensagem
A mensagem deste livro é que, mesmo que as evidências sejam contrárias, Jesus Cristo é o Senhor da história. Deus está no controle. Jesus tem a chave do futuro e virá novamente para praticar justiça. Há um futuro glorioso para aqueles que colocaram sua confiança nEle. Seu amor e cuidado por Seu povo são infalíveis.2
A grande lição do livro é o que vemos em Ap 11.15, onde diz: “...O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos.”
O tema central de Apocalipse é a pessoa de Cristo ao revelar o futuro e isto vemos logo no primeiro versículo do livro (Ap 1.1 “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as cousas que em breve devem acontecer...”).
2.7 Propósito
João escreve este livro com o propósito de encorajar os cristãos que estavam sendo perseguidos, para que confiassem que Deus cuidaria deles e continuassem sempre fiéis a Jesus Cristo, pois os fiéis receberão um grande presente que é a vida eterna, a salvação. O livro de Apocalipse não tem o propósito de satisfazer curiosidades e sim um propósito salvador.
A chave deste livro se encontra no versículo inicial: “Revelação de Jesus Cristo”. O propósito principal é revelar a pessoa do Senhor Jesus Cristo como o Redentor do mundo e conquistador do mal, e apresentar, de forma simbólica, o programa mediante o qual Ele dará prosseguimento à Sua obra.3
O propósito de Apocalipse é declarado pelo Espírito Santo como vemos em Ap 1.1: “...mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer...”.
2.8 Esboço
O livro de Apocalipse possui um esboço bastante diversificado. Preferimos um esboço mais simples e de fácil compreensão, sendo este:
Introdução – 1.1-8
A primeira visão – 1.9-20
As cartas às sete igrejas – caps. 2-3
A visão do rolo selado com sete selos – 4.1-8.1
A visão das sete trombetas – 8.2-11.19
A visão da mulher e do dragão e a visão dos dois monstros – caps. 12-13
Outras visões – caps. 14-15
A visão das taças da ira de Deus – cap. 16
A destruição de Babilônia e a derrota do monstro, do falso profeta e de Satanás –
17.1-20.10
O julgamento final – 20.11-15
O novo céu, a nova terra e a nova Jerusalém – 21.1-22.5
Final – 22.6-214
2.9 Canonicidade
No que diz respeito a canonicidade do livro de Apocalipse, podemos falar rapidamente sobre a sua aceitação da seguinte forma: “A Igreja Ocidental aceitou-o prontamente como livro canônico: mas a Igreja Oriental não o recebeu senão por volta do ano 500 d.C.”5
2.10 As Interpretações
Há diversos tipos de interpretação do livro de Apocalipse. Os principais tipos de interpretação são os seguintes: Preteristas, Futuristas, Escola Histórica ou Contínua, Espiritualistas.
Os Preteristas pensam que o simbolismo de Apocalipse se relaciona apenas com os acontecimentos da época em que foi escrito. Fazem com que todas as profecias e visões de João refiram-se à história dos judeus até a queda de Jerusalém e à Roma pagã. Esta é a opinião da maioria dos comentadores liberais.
Os Futuristas interpretam os acontecimentos de Apocalipse de forma literal, sendo assim consideram os acontecimentos como totalmente futuros e pensam que todos os eventos relatados no livro acontecerão logo antes ou logo depois da segunda vinda de Cristo.
A Escola Histórica ou Contínua diz que o Apocalipse relata, de forma simbólica, todo o curso da história da igreja, desde o pentecostes ao advento de Cristo. Pensa, então, que um pouco de tudo já foi cumprido, um pouco está sendo e um pouco será cumprido no futuro. A maioria dos reformadores, a maioria dos comentários mais antigos e muitos pregadores evangélicos modernos são desta opinião.
Os Espiritualistas rejeitam as três classes de intérpretes já citadas porque eles dão importância demais ao elemento tempo. Eles colocam ênfase sobre o elemento moral e espiritual do livro de Apocalipse e vêem este livro mais como uma representação de idéias do que de eventos.
Temos ainda, as teorias Milenistas, sendo elas: Posmilenistas, Amilenistas e Premilenistas.
Os Posmilenistas pensam que antes de Jesus voltar para julgar o mundo, a igreja irá experimentar mil aos de prosperidade.
Os Amilenistas pensam que o milênio não deve ser visto como um período literal. Dizem que Jesus pode voltar a qualquer momento para julgar a todos e levar os justos para o novo céu e a nova terra.
Os Premilenistas pensam que Jesus voltará para estabelecer seu reino aqui na terra e reinar durante mil anos e que quando terminar estes mil anos, ele julgará o mundo.
3. COMO O ESTUDO ISAGÓGICO AJUDA A COMPREENDER E PREGAR
MELHOR DETERMINADA PASSAGEM BÍBLICA?
3.1 Apocalipse 22.12-17, 20 (7º Domingo da Ressurreição – Trienal C)
Para entendermos melhor determinada passagem bíblica, é necessário também compreender melhor seu contexto. Sabendo características do livro, seu estilo de linguagem... conseguimos melhor entender e interpretar determinada passagem bíblica.
Certo é que, sem um estudo isagógico do livro de Apocalipse, a passagem em questão (Ap 22.12-17, 20) teria suas dificuldades, ou melhor, teríamos maior dificuldade de compreender a mesma.
Sabendo sobre as circunstâncias em que foi escrito o livro de Apocalipse, seus destinatários, as características do mesmo, entre outros, melhor sabemos a respeito do objetivo da mensagem da perícope (Ap 22.12-17, 20) que estamos tratando e também de outras passagens do livro.
Assim, além de melhor compreensão da passagem bíblica, teremos também, melhor fundamento e argumentos mais fortes e convincentes para falar sobre tal passagem. Com toda certeza, isto é muito importante para um pregador. Compreender bem a passagem é necessário para que o pregador não saia fora do assunto do qual a perícope está tratando e melhores argumentos são necessários para que a mensagem do pregador chegue aos ouvintes com maior eficiência e estes realmente acreditem no que ele está falando.
É extremamente importante lembrar que, mesmo fazendo uma profunda pesquisa isagógica a respeito do livro de onde pegamos determinada perícope bíblica, este estudo não deve comandar nossa interpretação da passagem, pois devemos deixar a Bíblia interpretar a si mesma. A Bíblia é nossa única fonte e norma de doutrina cristã.
Enfim, sabemos que a palavra de Deus tem poder, mas não é por isso que vamos anunciar esta palavra de qualquer jeito e sem preparo. Somos instrumentos de Deus e podemos anunciar sua bela palavra com grande eficiência. Para tanto, o estudo isagógico nos ajuda grandemente.
4. CONCLUSÃO
Vimos que o livro de Apocalipse é um lindo testemunho de fé que dá esperança e conforto aos cristãos, até mesmo nos momentos de perseguição. Com certeza é um livro que nos traz muita esperança e conforto, pois nos mostra que Deus e o Cordeiro vencerão o mal. Isto é muito confortador, pois assim, temos a certeza de que no dia que Jesus voltar, nós cristão, seremos recompensados, seremos levados ao novo céu e nova terra, seremos salvos.
Concluímos, pois, que o livro de Apocalipse não nos traz apenas mensagens terríveis e desesperadoras, mas nos traz uma mensagem linda que mostra a imensa bondade de Deus e o quanto ele nos ama.
Por tudo isto, agradecendo a Deus pelo seu grande amor, podemos dizer que a oração final do livro de Apocalipse (Ap 22.20) deveria expressar a vontade de todos os cristãos: “...Amém. Vem, Senhor Jesus.”
5. BIBLIOGRAFIA
A BÍBLIA SAGRADA – Letra Gigante (RA). 2ª ed. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil,
- p. 11.
A BÍBLIA SAGRADA – Tradução na Linguagem de Hoje. São Paulo: Sociedade Bíblia do
Brasil, 1988. p. 319.
BÍBLIA VIDA NOVA. São Paulo: Vida Nova e Sociedade Bíblica do Brasil, 1995. p. 326-
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CARSON, D. A. & MOO, Douglas J. & MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento.
São Paulo: Vida Nova, 1997. p. 517-540.
FLOR, Paulo Frederico. Isagoge do Novo Testamento (Apostila). p. 33-38.
NERBAS, Paulo. Introdução ao Novo Testamento (Apostila). p. 48-49.
ROBERTO (Bispo). Como Ler o Novo Testamento. Rio de Janeiro: Ministérios de Nova
Vida, 1979. p. 77-80.
ROTTMANN, Johannes H. Vem, Senhor Jesus – Apocalipse de S. João. Porto Alegre:
Concórdia, 1993. p. 11-30.
SPITZ, Lewis W. Nossa Igreja e Outras. Porto Alegre: Concórdia, 1969. p. 114.
TENNEY, Merril C. O Novo Testamento – Sua Origem e Análise. Lisboa: Vida Nova,
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TIDWELL, J. B. Visão Panorâmica da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1985. p. 224-228.
2 ROBERTO (Bispo). Como Ler o Novo Testamento. Rio de Janeiro: Ministérios de Nova Vida, 1979. p. 77.
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