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A DOUTRINA DO BATISMO IV - EDMUNDO SCHLINK

            CAPÍTULO 4

            A FORMA DO ATO BATISMAL


            1. A  Administração do Batismo no Novo  Testamento

            O Novo Testamento não dá nenhuma  instrução sobre  como batizar e certamente não oferece nenhuma fórmula para  o Batismo. A partir dos relatos de atos batismais e num nível menor a partir das epístolas, podemos tirar algumas conclusões a posteriori a respeito da maneira como o Batismo era administrado no período mais remoto da igreja cristã.          Contudo, em muitos detalhes importantes essas  fontes não oferecem uma imagem clara.  Não é nenhum acidente o fato que várias tentativas de reconstrução histórica, por exemplo, da fórmula  e  da  confissão batismal divergem  entre si.  Os autores das epístolas do Novo Testamento não estavam interessados na maneira como e pela qual o  Batismo era administrado, porém dirigiam-se às congregações com base na obra de Deus realizada no seu Batismo.  Nem estão os relatos de Atos interessados na descrição do ato batismal como tal, antes, porém, no registro de como certas pessoas e "casas" vieram ao Batismo e que resultado estava ligado ao  mesmo.(p.172)

            As afirmações do Novo Testamento raramente se referem a um batismo que  ainda está para  ser efetuado. Seu tema principal é a atividade recriadora de Deus que aconteceu no Batismo que já foi consumado. Essa atividade é testemunhada numa variedade de conceitos.  Igualmente a liturgia batismal na igreja  antiga opõe-se à idéia que o mesmo rito do Batismo fosse usado nas igrejas.  Pode-se afirmar com certeza apenas o que segue: (p.172)

            a. O Batismo era precedido da mensagem sobre Cristo, um desejo pelo Batismo e a admissão ao mesmo. Em parte alguma o Novo Testamento pressupõe um intervalo de tempo entre a criação da fé  e a admissão ao Batismo, muito embora sejam discerníveis indicações  a uma forma fixa de instrução batismal (ex.: Rm 6.17; Hb 6.1,s).(p.172)   Nem há ali qualquer indicação a respeito de épocas definidas para o Batismo.  Desde que muitos registros em Atos mencionam que não havia nenhum impedimento para admissão ao Batismo (8.36; 10.47; 11.17), é possível que no ambiente de Lucas uma fórmula de admissão correspondente já estava em uso. (p.173)

            b. O Batismo cristão requer o uso de água.  O termo "batizar" é usado metaforicamente no Novo Testamento muito raramente (Lc 12.50).  Antes, "batismo" e "batizar" são termos técnicos para  o Batismo com água.  Por isso Lucas não denomina o derramamento do Espírito no Pentecostes como sendo um Batismo. Enquanto o Batismo cristão no Novo Testamento era administrado com água, não é mencionado como essa água era aplicada.  (p.173)

             O uso secular do grego "batizar" significa "submergir", "mergulhar", e indica uma imersão  total do batizando.  Contudo, é duvidoso se esse uso do termo justifica a conclusão que a imersão fosse a única forma de Batizar.  A localização da água na Palestina  e arredores torna isso improvável, bem  como o fato que os batismos judaicos de forma alguma eram realizados apenas por imersão. (p.173)

     Também não se pode decidir pela imersão a partir de Rm 6, uma vez que Paulo provavelmente não chegou a essas afirmações sobre o morrer e ressurgir com Cristo a partir duma interpretação simbólica do ato batismal, antes, porém, da interpretação do ser "batizado em Cristo".  Da mesma forma as inúmeras referências ao Batismo como um "lavar" poderiam indicar que o Batismo não era administrado exclusivamente por uma completa imersão do batizando.  Não podemos excluir a possibilidade do batizante estar  na água com a pessoa a ser batizada e derramando água sobre esta - uma forma do ato que é aceitavelmente representada na  arte cristã apenas  em data mais tardia.  Se Felipe imergiu o Eunuco ou derramou água sobre ele, não pode ser descoberto a partir do texto (At 8.38).

      Enquanto o Novo  Testamento não possui nenhuma referência direta sobre a maneira de se aplicar  água, a Didaquê afirma que o Batismo pode ser administrado de várias formas:  "...batize na água corrente...Se não possui água corrente, batize em outra água, se você não pode usar água fria, use morna. Se não possui nenhuma  dessas, derrame água três vezes sobre a cabeça, em nome  do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Didaquê 7.1-3).(p.173)

            c. Quando o Novo Testamento fala no Batismo sobre (em) nome de Jesus Cristo, isto indica, em primeiro lugar, a singularidade desse Batismo em comparação a outros Batismos.  No entanto, indubitavelmente a referência a  Cristo expressou-se no próprio ato do Batismo. Não podemos simplesmente  equacionar essas designações com a fórmula batismal. (p.174)

            A  frase "batize em nome..." sustenta a conclusão que o batizante pronunciava o nome de Cristo sobre a pessoa a ser batizada.  Isso deve ter sido feito de  várias maneiras: pela proclamação do nome de  Cristo ou pela invocação de Deus em nome de Cristo ou ainda pela invocação direta de Cristo.  Já a mudança de  preposições e as formulações mais precisas do nome de Cristo nos textos batismais do Novo Testamento pareceriam opor-se à conclusão que uma fórmula fixa fosse usada de modo geral nas primeiras congregações.  A história da liturgia na igreja antiga demonstra que a fórmula corrente usual no cristianismo ocidental, "Eu te batizo em nome...", não era genericamente usada na cristandade primitiva. (p.174)

            Também é possível que o nome de Cristo não fosse pronunciado pelo batizante, mas pelo batizando, tanto na confissão de Cristo como na sua invocação.  Os  relatos batismais de Atos mencionam uma confissão  da parte do batizando somente uma única vez, e isso não no texto original, e sim na redação posterior do Ocidental (At 8.37).  Agora, é  inquestionável que as  confissões cristológicas registradas no Novo Testamento têm seu "Zitz im Leben" não apenas na assembléia congregacional e na proclamação missionária, mas especialmente no Batismo.  Em apoio  a essa idéia está também a íntima ligação entre  a fé e o Batismo repetidamente mencionada e, por causa dessa relação a confissão especial daqueles que recém chegaram à fé tornou-se particularmente urgente.(p.174)

            Contudo,  não pode ser defendida uma confissão batismal uniforme nas congregações cristãs primitivas.  Entre o uso   de várias fórmulas confessionais, também é concebível que a pessoa a ser batizada respondia à mensagem a respeito de Cristo em suas próprias palavras de confissão e invocação.  Se o nome de Cristo é falado no Batismo pela pessoa a ser batizada, então uma resposta ou pergunta  pelo batizante pode ter precedido (At 8.37). No entanto, isso é confirmado como uma ordem fixa somente nas liturgias batismais mais tardias.  Também é possível que o nome de Cristo fosse pronunciado por ambos, o batizante e o batizando, por exemplo, na confissão desse último e na proclamação ou invocação daquele.(p.174)

            O Novo Testamento fala somente uma única vez sobre o Batismo "em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mt  28.19). Porquanto isso ocorre na instituição do Batismo, sugere por si mesmo uma fórmula na boca do que batiza.  Aqui também não podemos projetar fórmulas posteriores para dentro da prática batismal antiga.  Em cada evento a história da liturgia na igreja antiga revela que o Batismo no nome triplo também podia ser efetuado de forma a que não o batizante, mas sim o batizando  confessava esse nome em resposta às perguntas daquele. (p.175)

            d. Apenas dois relatos de Batismo em Atos mencionam uma imposição das mãos.  No Batismo de Paulo a imposição de mãos vinha primeiro (9.17), enquanto que no caso dos discípulos de João em Éfeso elas seguiram-se ao Batismo destes (195,6). Em ambos os casos há pré requisitos que não se aplicam de forma alguma a todos os Batismos.  Paulo  recebeu seu Batismo como homem cego e pela imposição das mãos foi curado e recebeu o Espírito Santo.  Os discípulos de João em Éfeso já haviam recebido o Batismo de João sem o Espírito Santo, antes do Espírito ter-lhes sido enviado pela imposição das mãos. (p.175)

     Poderia parecer  que a imposição de mãos era uma prática fixa em relação ao Batismo. Os samaritanos receberam o Espírito Santo mediante a oração e a imposição de mãos, não no momento do seu Batismo, mas após (At  8.14-24). Aqui também há um pressuposto especial, a saber, a separação cultual de séculos passados entre Samaria e Jerusalém, que agora chegara ao fim pela imposição das mãos da parte dos apóstolos, e pelo recebimento do mesmo Espírito que  fora  enviado à igreja primitiva em Jerusalém.(p.175)

            Os demais relatos batismais de  Atos silenciam sobre a imposição de mãos.  Outrossim, tem sido aceito com freqüência que a imposição de mãos deve ser pressuposta como auto-evidente em cada caso, e isso poderia ser comprovado pelo fato que no relato paralelo do Batismo de Paulo (At 22.12-16) a imposição de mãos não é mencionada como ocorre em 9.17.  No entanto, a conclusão geral que o Batismo e a imposição de mãos andam juntos mesmo apenas nos limites das igrejas conhecidas por Lucas, é improvável, uma vez que poucos registros tratam de casos especiais. (p.175)

            É impossível pressupor a imposição de mãos na prática cristã primitiva do Batismo como algo geral.  Contra isso está ainda o fato que as afirmações batismais nas epístolas não mencionam a imposição das mãos.  Uma exceção é Hb 6.2, porém não podemos afirmar com certeza que esse texto trata do Batismo.  Poderia referir-se a uma espécie diferente de imposição de mãos.  A imposição de mãos não pode ser confirmada como um elemento fixo no rito batismal cristão senão mais tarde. (p.176)

            e. Desde o princípio o Batismo foi posto em relação com a igreja.  Ele era administrado por um membro da igreja, e fazia do batizado um membro da igreja.  O batizado é juntado à comunhão de oração e refeição.  Segundo Atos, somente o Batismo do Pentecostes aconteceu na presença da congregação - porém de outro modo, num  encontro entre membros individuais da igreja e a pessoa a ser batizada.  Isso obviamente está baseado na orientação particular de Atos para o avanço missionário. Referências a partes da liturgia batismal que podem ser supostas em várias cartas do Novo Testamento, apontam, por outro lado, para o "nós" das congregações reunidas (1Pe 1.3-5; Ef 5.14; Rm 13.11-14) (p.176)

            O que podemos reunir de certo do Novo Testamento quanto à administração do Batismo não nos permite reconstruir de forma consistente o ato batismal cristão antigo.  Precisamos contar com varias maneiras de administração do mesmo.  Porém todos esses batismos  são unívocos em sua referência a Cristo, cujo nome não foi posteriormente substituído pelo do Pai, do Filho e do Espírito Santo, mas confessado novamente de outra maneira. (p.176)


            2. O Problema da Forma do Ato Batismal

            Está claro que os enunciados do  Novo Testamento sobre o Batismo não nos fornecem a forma para a sua administração. Estruturas básicas da forma podem ser deduzidas do Novo Testamento, porém não a forma batismal em si.(p.176)

            Considerando que o Novo Testamento não transmitiu uma ordem definida do Batismo, a forma concreta  da sua administração é confiada à liberdade da igreja da mesma maneira como a adoração da congregação reunida em nome de  Jesus. Essa liberdade da igreja é a liberdade espiritual dos crentes que foram libertados por Jesus Cristo do ritual ético da lei cúltica dos judeus bem como de outras religiões.  Essa liberdade espiritual da igreja deve ser protegida no tratado dogmático e litúrgico do problema da forma. (p.177)

            No entanto, essa liberdade precisa ser bem definida e distinguida da arbitrariedade.  Isso tem a ver com a liberdade que é concedida mediante o ser unido a Jesus Cristo - a liberdade dos "escravos de Cristo".  Por essa razão, devem ser observados os limites a seguir, os quais se aplicam a cada forma da administração e recebimento do Batismo, a despeito de todas as variedades possíveis. (p.178)

            a. O fundamento para o Batismo é, em cada caso, o fator determinante.  O mandamento batismal não pode estar dissociado da morte e ressurreição de Jesus, nem da outorga do Espírito Santo. Essas obras salvadoras fundamentais de Deus, em contrapartida, não devem estar isoladas das promessas da Antiga Aliança e do Batismo de João, especialmente o Batismo que Jesus recebeu de João.  Esses eventos, na totalidade de seu relacionamento histórico, são a base para o Batismo cristão.  Porque o prometido da Antiga Aliança veio e o Espírito Santo foi derramado, o Batismo cristão é cumprimento escatológico, e a forma deste deve ser determinada a partir dessa premissa. (p.178)

     Apesar de toda a sua liberdade, a igreja não deve agir nunca como se o Batismo se originasse dela.  Ela está presa à comissão de seu Senhor. Ela não está livre para omitir ou repetir o Batismo, ou para administrar e reconhecer o Batismo numa forma que contradiz ou obscurece a sua origem.  Principalmente, ela não tem a liberdade para omitir o nome de Cristo ou da sua explicação tríade-trinitariana. (p.178)

            b. A forma do Batismo deve servir para testemunhar a obra salvadora que Deus realizou em Jesus Cristo e no derramamento do Espírito Santo, e que Ele deseja operar e opera no batizando. A forma deve deixar claro ao batizando que Deus está agindo nele pelo Batismo e o que Ele exige deste com base no seu batismo.  Ao mesmo tempo deve demonstrar à congregação que dom é dado a ela em cada nova pessoa batizada e qual a obrigação que aquela assume para com esta última.  Pois a obra salvadora de Deus no Batismo envolve escatologicamente toda a vida posterior do batizado, incluindo sua morte e futura ressurreição.  (p.178)

            A forma da ordem batismal não pode ser determinada apenas por esta ou aquela afirmação individual do Novo Testamento, mas precisa atentar para a riqueza das afirmações batismais. (p.178) Acima de tudo, a igreja não está livre para obscurecer a obra salvadora divina enfatizando unilateralmente a obra da pessoa a ser batizada ou ainda reduzindo o significado do Batismo à decisão desta.(p.179)

            c. A forma do Batismo deve ser determinada pela universalidade do mandamento pelo qual o Senhor enviou os Seus a todas as nações para serviço de proclamar e batizar.  O batizar acontece em consonância com o progresso do Evangelho para dentro de áreas sempre novas da raça humana e para o encontro com expectativas, conceitos e ritos muito diferentes.  Esses são rompidos pelo Batismo. O Batismo envolve uma mudança nas regras, uma renúncia aos poderes anteriores e uma submissão a Jesus Cristo. (p.179)

     Ao mesmo tempo esses conceitos são convocados a dar testemunho ao novo que irrompeu com o Evangelho e o Batismo. Esse processo de irrupção, convocação e reformulação ocorre onde quer que o Evangelho seja pregado noutra língua.  Não se trata de adulterar o Evangelho, mas sim do seu avanço dinâmico em direção ao homem no seu contexto histórico. O processo de um uso crítico de conceitos estranhos é perceptível já nas afirmações batismais do Novo Testamento, especialmente a aplicação transformada de conceitos usados na piedade dos mistérios helenistas. (p.179)

            Esse  avanço deve, em princípio, continuar se o  significado salvador do Batismo deve ser testemunhado eficazmente em novas frentes históricas.  Esse processo não está confinado a palavras mas pode também ocorrer na listagem crítica de símbolos e ritos. Nesse aspecto, o Novo Testamento não permite mais do que conjeturas.  Agora, a história da liturgia batismal na igreja antiga revela claramente que a igreja não parou com uma arrolagem crítica de palavras e conceitos de fora do ambiente cristão. Nem pode, em princípio, ser rejeitado o desvendar do sentido do Batismo por meio de ações simbólicas.  O Concílio Vaticano II, acertadamente chamou atenção para essa possibilidade.  Nessa liberdade, a igreja está obrigada a tomar cuidado antes que o avanço crítico se torne uma adaptação e assim uma adulteração que obscurece o evento batismal ou ainda o torna irreconhecível. (p.179)

            d. A forma do Batismo precisa demonstrar a relação que existe entre Batismo, fé e igreja.  O ato batismal nunca pode estar desligado da fé do batizando nem da fé da igreja. (p.179) A preservação dessa relação é responsabilidade da instrução e exame dos catecúmenos antes da sua admissão ao Batismo e, também da instrução das crianças após o Batismo.  Em cada caso, a instrução diz respeito à confissão da fé, seja em relação a um desejo pelo Batismo ou como um resultado do mesmo.  Tendo em vista os problemas do Batismo infantil discutidos acima, a relação entre Batismo, fé e igreja deve ser enfatizada de forma nova e expressa na forma do ato batismal.  Dessa maneira tornar-se-á mais evidente que o "Credo" do batizando, dos pais e dos padrinhos significa unir-se ao "Credo" da igreja que envolve a criança, os pais, os padrinhos e posteriormente acompanha-os com a sua intercessão e testemunho. (p.180)

            e. A liberdade da igreja em moldar o ato do Batismo é limitada pela unidade do Batismo.  (Ef 4.4-6).  Em toda a variedade de formas possíveis cada Batismo deve demonstrar com clareza que aqui o mesmo Batismo está sendo administrado por meio do Deus que em todas as épocas e lugares tem entregue e continua a entregar os homens à morte de Cristo e à esfera do Seu domínio espiritual.  Isso não significa que seja exigida uniformidade na liturgia batismal.  O fato que o Batismo era administrado de diferentes maneiras em diferentes áreas da cristandade, não torna questionável a unidade do Batismo.  Pois a estrutura básica da igreja é a comunhão e, portanto, a unidade na diversidade. (p.180)  No entanto, deve haver um consenso entre as igrejas sobre o que constitui o centro e essência de cada Batismo cristão, e esse consenso deve expressar-se também na forma do ato batismal.  Também cristãos que não são treinados na ciência litúrgica e os não cristãos devem poder perceber a unidade do Batismo. (p.181)

            f. Há uma tensão entre os pontos de vista expressos nos dois parágrafos anteriores.  Por um lado, a unidade do Batismo serve como expressão de uma regra outorgada pela preservação e desenvolvimento de uma liturgia batismal definida e historicamente estabelecida.  Por outro lado, o avanço para novas áreas do mundo exige mudanças.  Por isso também a questão referente à forma do Batismo envolve o problema da relação entre a tradição e a renovação. (p.181)

      É um empreendimento importante partir da ordem batismal do Senhor e do testemunho do Novo Testamento e fazer avanços sempre novos e também mudar tradições litúrgicas veneráveis no processo de partir conceitos e ritos do respectivo meio ambiente e fazer uso deles.  Ao mesmo tempo, a forma do Batismo deve revelar com clareza o que Deus deseja fazer com o povo hoje.  As dificuldades e perigos de tais mudanças na tradição são óbvias.  O perigo de surgir questionamentos sobre a unidade por meio da multiplicidade de formas em constante modificação não é menor do que o perigo de um tradicionalismo que se prende a uma forma de Batismo que se tornou ininteligível.  Esses perigos podem ser mitigados se as partes das fórmulas batismais não são todas fixadas literalmente e se do seu princípio são oferecidas oportunidades para o testemunho e a oração livres.(p.181) 

     Com isso a tradição e a atualização resultarão numa relação de uma com a outra e não numa oposição.  A nova forma não significará um rompimento com a primeira, mas antes seu desvendamento e correção.   Assim como a igreja, também a forma do ato batismal precisa ser "constantemente reformado".(p.182)

            As reflexões acima sobre os limites da liberdade da igreja no seu exercício da mesma não implica uma modificação dessa liberdade.  Ao contrário, essa liberdade fundamenta-se precisamente na comissão do seu Senhor e na obra salvadora de Deus realizada mediante o Batismo.  Por isso a obediência da igreja à orientação do Senhor não é exigida como obediência à Lei, porém, ao Evangelho.  Essa obediência é alegria no Espírito Santo. (p.182)

     Considerando, portanto, que a forma do Batismo é aplicação prática da espontaneidade espiritual da comunidade de crentes, nenhuma ordem batismal deve ser entendida como Lei e a validade do Batismo não pode ser dependente da observância de uma ordem em especial. Como no cânon da lei, também aqui deve ser feita uma distinção entre o "direito divino" e o "direito humano", mais precisamente, entre o mandamento divino e a realização histórica. No entanto, essa realização não pode estar dissociada do amor que mantém a unidade entre todos os batizados e que é expresso na forma do Batismo. (p.182)

            Em princípio, a liberdade da forma não deve ser restringida, e a forma não deve ser erradamente erigida como dogma.  Agora, a observância de ordens específicas de Batismo não é uma revogação dessa liberdade, antes, porém, obediência à lei do amor, segundo a qual o batizante individual e a congregação individual renunciam ao exercício da liberdade recebida para que a unidade do Batismo possa ser manifesta a todos os cristãos, bem como aos não cristãos. (p.182)

            No que segue nos deteremos à própria forma do ato batismal. Pressupomos, para tanto, concordância na fé cristã e no Credo da igreja, entre aqueles que desejam o Batismo para si próprios ou para seus filhos e aquele que o administra. (p.182)


            3. O Centro Constitutivo do Batismo

            Conforme várias ordens das igrejas, o ato do batismo, via de regra, inclui palavras de proclamação, de confissão, de oração, de bênção e em grande parte também atos como a imposição de mãos, sinal da cruz, etc.  Aqui pretendemos, antes de tudo, perguntar pelo centro do ato batismal, qual seja, o que deve ser mantido como condição indispensável para o reconhecimento de um Batismo cristão validamente administrado.  Essa é uma questão dogmática, bem como canônica e também litúrgica.  Esse centro constitutivo é o ato batismal em si.  Na prática batismal das igrejas esse fato torna-se evidente sempre de novo, sempre que for administrado Batismo de emergência na iminência da morte, e a  forma desse ato deve limitar-se ao que é indispensavelmente necessário.  Nas duas secções seguintes os desenvolvimentos litúrgicos do ato do Batismo serão tratados a partir da perspectiva desse centro - primeiramente aqueles desenvolvimentos que resistem à Palavra e então aqueles que são expressos por atos posteriores. (p.183)

            Na administração do Batismo, o centro é a aplicação de água ao batizando por imersão ou derramamento, junto com a invocação do nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.  O nome é tão decisivo que por meio dele a água torna-se um Batismo.  Por meio do nome invocado, o Batismo cristão é distinguido de todos outros batismos, lavagens e aspersões religiosos. (p.183)

            a. Não pode ser particularmente deduzido com certeza das afirmações do Novo Testamento sobre o Batismo: "sobre(em) o nome de Jesus Cristo", "do Senhor Jesus", "do Senhor Jesus Cristo", bem como "em o nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo", se essas expressões se referem a descrições de Batismo ou a fórmulas utilizadas no Batismo.  No entanto, é certo que o nome era pronunciado junto com o ato do Batismo e que isso não era feito sempre numa única formulação.  Segue-se daí que, em princípio, vária formulações do nome no Batismo cristão são possíveis. Na igreja antiga, a invocação do nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo tornou-se logo a prática geral e firmou-se a compreensão trinitária dessa fórmula trina. (p.183)  Mais tarde os Batismos no nome de Cristo apenas foram até mesmo considerados por alguns como sendo inválidos.(p.184)

            Com base nos relatos do Novo Testamento deve-se concordar que no batismo  o nome era pronunciado pelo batizante ou pelo batizando ou por ambos.  O fato que o batizante e não o batizando invoca o nome do Deus Triúno na igreja antiga durante o ato batismal é apropriado à natureza do Batismo como sendo algo que acontece ao batizando: Deus é o agente mediante o Batismo, enquanto o batizando é apenas o recipiente.  Embora, em princípio, hajam várias possibilidades para o pronunciar do nome, por causa da unidade da igreja visível, a cristandade também insistiria que o batizante fale o nome sobre o batizando. (p.184)

            A fórmula pela qual isso é feito é diferente no Oriente e no Ocidente.  A Igreja Ortodoxa usa as palavras: "Fulano de Tal é batizado em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo".  A Romana e as igrejas da Reforma dizem: "Fulano de Tal, Eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo".  A forma passiva da Ortodoxa, em que o batizante não está explicitamente incluído dá uma ênfase especial à exclusividade  da  obra de Deus.  Contudo, a forma Ocidental seria mal compreendida se fosse vista como que destacando a pessoa do oficiante.  Também na compreensão Ocidental o oficiante é apenas o instrumento, enquanto Deus é o agente. Nesse aspecto não há diferença essencial entre as duas fórmulas.  Em cada caso, a pessoa e o nome do oficiante não são importantes para o evento batismal.  Já a pessoa do batizando, em quem Deus está agindo pela Palavra e a água, é importante. Nesse aspecto é apropriado que o batizando seja mencionado pelo nome na fórmula batismal. (p.185)

            No Novo Testamento a preposição mais comum para o nome invocado é "eis" ("em" nome, ou, mais exatamente, "para dentro" do nome), enquanto "en" e "epi" também são usados.  Igualmente em Mt 28.19, o Batismo é ordenado "para dentro do nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo".  Este "eis" expressa não apenas a relação com esse nome, mas também cedência à realidade divina designada pelo nome. Na forma posterior de batizar "em nome do Pai e do Filho e do Espírito santo", o acento cai sobre o fato que o Batismo é efetuado por ordem e autoridade do Deus Triúno e, por isso, Deus é o agente. Isso corresponde às afirmações batismais do Novo Testamento, porém o aspecto especial da cedência não encontra ênfase nessa fórmula em si.  Em cada evento é alvo da instrução para o Batismo dar destaque claro ao aspecto da cedência ligado ao falar do nome. (p.185)

            b. A maneira como a água era aplicada nos Batismos cristãos antigos, não pode ser determinada com certeza a partir do Novo Testamento.  Provavelmente a regra era da imersão total. (p.185)Assim era na igreja antiga e permaneceu o costume no Ocidente até a Idade Média.  A igreja Oriental observa-o ainda e o movimento batista reavivou-o no Ocidente.  No entanto, há indícios de que já os Batismos cristãos primitivos não eram administrados exclusivamente por imersão total, mas também por derramamento. Essa possibilidade é mencionada explicitamente na Didaquê e posteriormente atestada principalmente em relação com o Batismo de um enfermo.  Depois que a Igreja Ocidental, no século 14 permitiu o derramamento ao lado da imersão, aquele se firmou mais e mais, sendo adotado também pelas igrejas da Reforma. (p.186)

            Uma vez que a tradição do Novo Testamento não prescreve nenhuma forma específica de aplicação de água e uma vez que os enunciados sobre o significado salvador do  Batismo fazem pouco uso duma interpretação simbólica da água, a validade do Batismo não pode depender da maneira como a água é aplicada. Agora, deveria ficar claro pelo uso da água que no Batismo a vida do batizando é tomada de tal maneira que envolve a pessoa como um todo.  Por essa razão as formas apropriadas de aplicação são a imersão ou o derramar quanto mais água possível.  Afora o Batismo de enfermos, a aspersão e, certamente o simples umedecer devem ser evitados.   É indiferente se a imersão ou derramamento são feitos uma ou três vezes. (p.186)

            4. Desenvolvendo o Ato Batismal Através da Palavra.

            A invocação do Deus triúno contém o reconhecimento da obra salvadora que Deus realizou uma vez por todas ao enviar a Jesus Cristo e o Espírito Santo e que Deus deseja operar mediante o Batismo. (p.186)  O nome triúno de Deus contém o reconhecimento de todos os atos de Deus por ele realizados e que prometera realizar.  Essa concentração contida no nome deve ser desenvolvida na liturgia batismal.  Por causa do significado decisivo do nome, e da palavra, no centro do Batismo, essa expansão deve acontecer acima de tudo pela Palavra.  (p.187)

            Aqui devem ser consideradas todas as formas pelas quais a fé responde ao Evangelho proclamado:  Na invocação de Deus e na palavra dirigida aos homens, isto é, na oração e adoração de um lado, e no testemunho e ensino de outro lado.   No entanto, essas diferentes formas de expressão estão concentradas na confissão que o crente faz na presença de Deus e do público.  A bênção combina a invocação a Deus com a garantia dada aos homens. (p.187)

            No desenvolvimento litúrgico do ato batismal, deve-se considerar o fato que (afora no Batismo infantil) a fé e questionamento da pessoa a ser batizada precede a administração do Batismo.  O ato batismal deve permitir à pessoa a ser batizada a se expressar por si mesma, enquanto profere seu desejo pelo Batismo e confessa a sua fé.  Deve-se, outrossim, reter na mente que mediante o Batismo Deus está agindo em direção à igreja.  Ele não somente arrola a igreja como instrumento do Seu batizar, mas torna o batizado um membro da igreja, causa o crescimento da igreja mediante o Batismo e confia a ela o batizado para o resto de sua vida.   Por isso, também à igreja deve ser permitido expressar-se no desenrolar litúrgico do ato batismal. (p.187)

            Finalmente, deve ser lembrado que o dom do Batismo é muito grande para ser adequadamente expresso por meio de apenas uma categoria de conceitos.  Nenhuma formulação dogmática ou litúrgica em especial é suficiente para prestar completo testemunho dessas riquezas.  Por isso, deve ser deixado espaço na liturgia, entre as partes fixas para formulações diversificadas e, especialmente, também para a livre palavra de testemunho e oração, de modo que a plenitude da compreensão do Novo Testamento sobre o Batismo possa ser expressa. (p.188)

            a. Embora as afirmações bíblicas em defesa do Batismo pertençam à instrução catequética, é normal ler os textos bíblicos mais importantes no início do serviço batismal.  Isso se aplica especialmente ao mandamento batismal, Mt 28.18-20, uma vez que ele provê a autorização para o que segue após.  Freqüentemente é adicionado Mc 16.16.  No entanto, deveria ser considerado se em lugar desse texto não seria melhor ler o relato do Batismo de Jesus por João antes do mandamento batismal.  O Batismo de Jesus não assume qualquer papel na história da liturgia batismal, porém é básico no ensino da igreja sobre a instituição do Batismo. (p.188)

            Por causa da atual crise sobre o batismo, não se deveria administrar nenhum Batismo sem primeiro haver uma alocução batismal, embora breve, precedendo-o.  Essa referência deveria sempre estar baseada num dos textos batismais do Novo Testamento. Ao mesmo tempo, esse uso do texto deveria relembrar à Congregação o benefício do Batismo já recebido.  Pela alternância de textos batismais em sucessivos atos batismais e pela proclamação ligada ao conteúdo específico de cada texto, a congregação se tornaria ciente das riquezas do evento batismal.  Essa referência à situação específica do batizando e da congregação não pode ser substituída por fórmulas fixas no ritual.  Contudo, o propósito da alocução batismal não é atingido por meio observações genéricas sobre o amor e graça de Deus.  O que deve ser enfatizado é a graciosa obra salvadora de Deus no Batismo. (p.189)

            A alocução batismal deve combinar a promessa com a exortação.  Enquanto a alocução batismal proclama a obra que Deus quer realizar mediante o batismo, o "votum" pós-batismal pressupõe o batismo.  Esse "votum" na forma de bênção garante ao batizado o que começou em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo: "O onipotente Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que te regenerou pela água e pelo Espírito Santo e te perdoou todos os teus pecados, te fortaleça com a sua graça para a vida eterna". (p.189)

            As orações batismais também expressam o significado do nome triúno de Deus.  Na oração antes do ato batismal, é feita intercessão pela pessoa a ser batizada, a saber, a petição para que Deus lhe conceda os dons prometidos no batismo.  Nesse ponto a oração pelo Espírito Santo deve ser especialmente enfatizada. (p.189)  Essa oração reconhece ao mesmo tempo que a igreja não controla a graça batismal.  Ao contrário, ela é concedida por Deus em sua soberana liberdade.  Na oração após o Batismo e o "votum" pós-batismal, o louvor e ação de graças do batizando e da congregação são oferecidos a Deus por aquilo que ele realizou no batismo.  Aqui deveria ser afirmado o fato da adoção como filho de Deus, ocorrida no batismo.   As orações também não deveriam ser proferidas segundo uma única forma fixa, porém expressar as riquezas do dom batismal. (p.190)

            b. Se o pré requisito para o recebimento do Batismo é a fé e o desejo pelo batismo, então no desenvolvimento da forma do ato batismal ambos devem ser expressos pela pessoa a ser batizada. Isso pode ser feito de várias maneiras, especialmente na medida em que a confissão de fé está presente, como se evidencia da história da liturgia.  Essa confissão pode ser feita pelo simples responder às perguntas com um Sim ou repetindo as afirmações de fé contidas nas questões, ou por meio do Credo falado em conjunto com o batizando, os padrinhos e a Congregação inteira, ou, ainda, por meio da confissão pronunciada pelo batizando em reposta às perguntas batismais. A validade do Batismo não requer que todas as igrejas tenham a mesma fórmula de confissão da fé, porém, requer que todas tenham em sua confissão o mesmo conteúdo da fé.(p.190)

            Por causa da unidade na fé, que precisa estar evidente para todos, a pessoa a ser batizada deve confessar sua fé nas mesmas palavras da igreja da qual deseja receber o Batismo. Pela mesma razão faz parte do bom senso para as muitas igrejas usarem o mesmo texto da confissão batismal na sua instrução catequética e na sua administração do Batismo. Na cristandade Ocidental usa-se o Credo Apostólico.   O ego do confessor se evidencia apenas no "Creio".  Com isso o crente deixa de olhar para si mesmo e passa a olhar para Deus.  O Credo é totalmente dirigido a Deus.  No entanto, a confissão de pecados e a decisão de afastar-se do pecado não está presente em cada confissão da fé, senão de forma implícita. (p.191)

            Esses aspectos implícitos devem tornar-se explícitos em afirmações especiais.  Na história da liturgia batismal isso acontecia especialmente na "abrenuntiatio" (a renúncia a Satanás) e a "syntaxis" (comprometer-se com, afiançar-se a Cristo), bem como no voto batismal.  Em princípio, essas partes litúrgicas nada dizem diferente daquilo que de fato ocorre na confissão da fé.  São formulações liturgicamente fixadas de aspectos que estão presentes no Credo. (p.191)

            No decurso da história a "abrenuntiatio" recebeu várias formulações.  Porém sempre envolvia renúncia  do batizando ao domínio do diabo, geralmente mediante referência direta a este. Confissões de pecado, por outro lado, raramente eram explícitas na liturgia batismal.  Segundo o Novo Testamento, o domínio do pecado e do diabo andam juntos, e essa relação tem sido mantida no ensino da igreja sobre o Batismo (ex.: As palavras de Lutero na resposta à segunda pergunta sobre o Batismo: "Que dá ou aproveita o Batismo? Opera a remissão dos pecados, livra da morte e do diabo, e dá a salvação eterna a quantos crêem...").(p.191)

            Não podemos ignorar, porém, que a "abrenuntiatio" representa um subterfúgio que ultrapassa as afirmações batismais do Novo Testamento.  Estas colocam a libertação do domínio do pecado no pressuposto - não a libertação do jugo de demônios.  Por isso as liturgias evangélicas mais recentes têm apropriadamente sujeitado a "abrenuntiatio" a uma revisão crítica.  Seria mais apropriado dar expressão explícita na ordem do Batismo ao aspecto da confissão de pecados contido na confissão de fé.  Enquanto que o lugar da renúncia ou confissão dos pecados na ordem Batismal se encontra antes da confissão da fé, precisamos perguntar se o "penhor batismal" deveria ser pronunciado pela pessoa a ser batizada antes ou após o ato do batismo.  Porquanto a possibilidade de andar em novidade de vida é o resultado do Batismo, seria apropriado colocar a promessa de obediência após o Batismo como uma resposta à admoestação a ela relacionada. (p.192)
 
            c. A Congregação participa no Batismo de forma ativa e receptiva.  O instrumento da ação de Deus não é apenas a pessoa batizada, mas a congregação inteira.  No batizando a Congregação recebe um novo membro.  Por essa razão o Batismo deveria ser administrado na presença da congregação reunida.  Apenas deveria receber o Batismo em casa ou no seu leito de enfermidade. (p.192)

            A congregação deve ter algo a dizer no ato batismal.  Sua participação não pode estar limitada à oração silenciosa, ao ouvir do sermão,  à confissão e ao testemunho visual do ato batismal.  Por meio dos seus hinos, a congregação deveria clamar pela vinda do Espírito Santo e louvar a Deus pelo que Ele realizou pelo batizado e pela congregação mediante o Batismo. Com o seu Amém, a congregação deveria receber a confissão do batizado.  Junto com oficiante e o batizando, a congregação deveria unir-se na oração do Senhor. (p.192)

            d. O Batismo de adultos e de crianças é o mesmo e único Batismo.  A identidade é expressa nisto que em ambos os casos o Batismo em seu centro constitutivo é administrado de uma mesma forma.  É verdade que o Batismo infantil traz problemas peculiares  para o desenvolvimento litúrgico posterior do ato batismal.( p.193)

            Na situação missionária da igreja primitiva, o ato batismal tornou-se prática exclusivamente com relação a adultos que vieram à fé e pediram o Batismo.  A mesma liturgia era então utilizada para o Batismo de crianças.  Essa prática foi mantida mesmo quando posteriormente o Batismo infantil superou em número o de adultos.  Por isso as questões com relação a renúncia, desejo do Batismo e fé foram dirigidas à criança, porém respondidas pelos padrinhos como fiadores.  Assim os padrinhos assumem o lugar dos infantes e respondem em seu nome.  O pré requisito para isso (cf. cap. 3.4.d.) é a compreensão da igreja como o âmbito do poder de Cristo e da comunhão do Espírito Santo, em que um representa o outro e Deus responde à oração e consuma aquilo que Ele principia no Batismo.  O batizado não é apenas um indivíduo, porém um membro do corpo espiritual de Cristo. (p.193)

            Deveria ainda ser respondido se essa relação eclesiológica permanece também obscura e é inadequadamente demonstrada quando a ordem para o batismo de adultos é também usada para o infantil. Há algum recurso nas perguntas batismais já em Agostinho no sentido delas serem dirigidas não à criança, porém aos padrinhos. Eles devem afirmar que a criança renuncia ao diabo, crê e deseja o Batismo.  Dessa maneira, no entanto, o problema relacionado às perguntas no Batismo infantil não são solucionados, apenas tocados de leve. (p.193)

     Seria apropriado então, em relação ao Batismo infantil, refazer as perguntas de tal maneira que os pais e os padrinhos são questionados com respeito à sua própria fé e o seu desejo de ver seu filho batizado.  Segundo essa ordem, os pais e padrinhos fazem a confissão da sua própria fé na presença da congregação, e as afirmações sobre a fé das crianças são transformadas numa oração tendo em vista à fé nelas.  As afirmações sobre a renúncia da criança tornam-se então numa oração pela libertação destas do domínio do pecado e do diabo. (p.193)   A promessa da pessoa a ser batizada torna-se a promessa dos pais e padrinhos no sentido destes conduzirem a criança no caminho da fé cristã.  Uma vez que o assumir dessa responsabilidade é o pré requisito para a administração do Batismo infantil, seu lugar apropriado (em distinção do Batismo de adultos) é antes do ato batismal. (p.194)

            Igrejas Luteranas e Reformadas do sudeste da Alemanha foram nessa direção, desenvolvendo fórmulas especiais para o Batismo infantil.  Essas têm sido amplamente disseminadas.  Nelas as diferenças entre o Batismo de adultos e o infantil são reduzidas em essência às perguntas batismais e o acréscimo da perícope sobre Jesus abençoando as criancinhas.  Essa reformulação das perguntas batismais trazem consigo o perigo de não ser demonstrado de forma clara o significado elementar do Batismo como um evento entre Deus e o batizando, e  poderia surgir a impressão que Deus está fazendo  no Batismo infantil algo diferente do adulto. (p.194)


            5. Desenvolvendo o Ato Batismal Através de Atos Futuros

            O livro de Atos registra casos isolados de imposição de mãos no ato do Batismo.  Contudo, no decurso  da história da liturgia, vários atos adicionais logo se tornaram partes fixas da liturgia batismal.  Em parte vieram do Judaísmo, em parte são transposições de termos metafóricos para o Batismo no Novo Testamento  (como "ungir" e "selar") em atos que, em contrapartida, têm antecedentes vétero testamentários.  Em parte, ainda, são buscados da tradição do Evangelho (como o exorcismo, Efatá ou lavagem dos pés). Os atos adicionais acompanhantes são moldados primeiramente pelas tradições do Antigo e do Novo Testamentos.  No entanto, foram desenvolvidos também com influências histórico religiosas, especialmente pelo contexto Helenista - como foi o caso também no desenvolvimento da teologia do mistério da igreja antiga.   Via de regra, esses atos que cercam o Batismo estavam ligados com uma palavra que até prometiam ao batizando um efeito especial do evento batismal ou interpretavam os atos adicionais. (p.194)

            A igreja antiga adotou tais atos numa grande variedade de formas e significados e os colocou a serviço de um desenvolvimento litúrgico do Batismo.  Muito embora certos atos dessa variedade, especialmente a imposição de mãos, a unção com óleo e o sinal da cruz fossem amplamente disseminados e em um certo sentido tornaram-se constantes da liturgia batismal, seu significado não foi  o mesmo em cada caso.(p.194)  Um mesmo e único ato praticado antes ou após o Batismo, poderia ter um sentido diferente.  Os significados dos vários atos podiam ser aglutinados.  Um número de diferentes atos podiam ser também combinados.  Por isso o significado desses ritos não pode ser sempre determinado com exatidão. (p.195)

            Apesar de toda a variedade,  essas ações têm em comum o fato que elas quase sempre eram realizadas ao batizando pelo oficiante (ou o seu assistente). Deve ser feita uma diferenciação entre os ritos realizados em relação ao batizando e os efetuados nos elementos batismais.  Os últimos de fato também estão relacionados ao batizando, porém não diretamente.(p. 195)

            a. A imposição das mãos logo após ao ato do Batismo é amplamente atestada em várias liturgias batismais da igreja antiga e é ainda praticada em muitas igrejas em relação com "votum" pós-batismal.  Esse ato dá ênfase especial ao significado do Batismo como a outorga do Espírito.(p.195)  Contudo ela é usada também em combinação com outras palavras e atos (por exemplo, a unção, o sinal da cruz e a oração do Senhor). Isso concorda com o fato que também o Novo Testamento fala da imposição das mãos em diferentes contextos. (p.196).

            O ato de ungir logo se tornou também um ritual fixo, e em parte complementou a imposição das mãos ou a substituiu.  Era realizado às vezes antes, às vezes após ao Batismo - algumas vezes aplicado ao corpo todo, outras apenas na fronte.  Esse ato também enfatiza o aspecto da outorga do Espírito - porém de modo geral em relação à compreensão da unção como consagração ao sacerdócio ou também como inauguração do reino.  Onde isso acontece conscientemente, a unção testifica que o crente se torna um membro do sacerdócio e povo real de Deus mediante o Batismo e o Espírito Santo.  Nesse sentido a relação cristológica do Batismo se destaca ao mesmo tempo, pois ao confessar o nome de Cristo a igreja reconhece a Jesus como o ungido Messias-Rei.  Na igreja Ortodoxa, o crisma recebeu um peso dogmático especial que em certo sentido corresponde à imposição das mãos praticada pela Igreja Romana em relação à confirmação.  Contudo, ao contrário desta, o crisma Ortodoxo tem permanecido um componente do ato batismal. (p.196)

            O ato de fazer o sinal da cruz sobre o batizando já bem atestado no final do 20 século, chama atenção especial ao aspecto do selar contido no Batismo.   Enquanto no Novo Testamento o ato de selar, bem como também a unção, foi uma designação metafórica do Batismo com vistas à outorga do dom do Espírito, o selar tornou-se um ritual na igreja antiga pelo qual era enfatizado o significado cristológico do batismo, a saber, a subordinação do batizando sob o domínio do crucificado.  Assim o sinalizar da cruz também poderia ser interpretado como "comprometimento ao serviço militar de Cristo".  Em algumas liturgias o sinal da cruz é aplicado junto com a unção, e outras ele está ligado à imposição das mãos.  Contudo, também a unção sem o sinal da cruz foi ocasionalmente interpretada como um ato de selar.(p.196)

            O exorcismo realça o aspecto contido no Batismo em que o crente é removido do âmbito do poder satânico-demoníaco. Ele é o desenvolvimento concreto da negação contida no ser entregue a Cristo, porém não é falado pelo batizando na forma de renúncia, mas pelo oficiante na forma de uma ordem a Satanás para que se retire do batizando. (p.196)  A palavra de exorcismo não está sempre ligada ao mesmo ato nas várias liturgias batismais. Algumas vezes está ligado ao soprar sobre o batizando, outras ao tocar o mesmo com a saliva do oficiante.  Ocasionalmente, também a imposição das mãos, o sinal da cruz e outros atos acompanhando o batismo eram entendidos no sentido exorcizante. 

     O papel preponderante que o exorcismo adquire em algumas liturgias batismais e que é expresso numa multiplicação de exorcismos representa um  óbvio afastamento das afirmações batismais do Novo Testamento.   Enquanto estas claramente atestam a mudança de dominadores ocorrida no Batismo, elas falam menos da libertação de Satanás do que da libertação do domínio do pecado. (p.197)

            A entrega de sal, que é de origem posterior, foi amplamente interpretada num sentido exorcizante.  Seu significado, porém, não pode ser limitado a esse sentido.  Há muito em favor do argumento que esse ato expressa o aspecto do estabelecer a aliança contida no Batismo.  Em todo caso, o Antigo Testamento fala numa "aliança de sal" (Nm 18.19; 2Cr 13.5), e o comer reunido do sal é mencionado também em contextos Orientais e Helenistas, significando que os participantes estão entrando numa "relação de amizade e confiança".(p.197)

            A alimentação consistindo de leite e mel toma a promessa do Antigo testamento da terra que "mana leite e mel" (Ex 3.8 et.al.) e pode ser entendida como apontando para o futuro escatológico do povo de Deus e, relacionado com a Ceia do Senhor, como um sinal do aguardar pelo banquete no reino de Deus. (p.197)

            b. A cerimônia de consagração da água dá ênfase especial no aspecto contido no ato batismal de separar a água para a obra de Deus mediante o Batismo.  A unidade desse ato com o Batismo é preservada  nisto que, como norma, ela é também realizada em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.  Na medida em que a água é consagrada em algum momento ou então no ato do Batismo, assim que a mesma água consagrada é usada para muitos Batismos, essa cerimônia expressa o aspecto da unidade eclesiológica contida em cada Batismo. (p.197)

     Não pode ser ignorado, porém, que a consagração da água sugere uma mudança na perspectiva, à revelia das afirmações do Novo Testamento, muito embora a cerimônia reflita um aspecto que está presente em cada ato batismal.(p.197)    Enquanto no Novo Testamento a água unida à Palavra é o veículo da ação de Deus no ato batismal, a água consagrada recebe um significado independente ao lado desse ato.  O foco é mudado do ato de imersão ou derramamento para a substância da água.  Aos poucos foram acrescentadas a esse ritual idéias questionáveis da água consagrada sendo portadora do Espírito Santo. (p.198)

            Observações semelhantes podem ser feitas sobre a consagração do óleo.   Aqui as mudanças de natureza são ainda mais sérias, porque a unção não é essencial para o ato do Batismo. (p.198)

            Avaliando as várias cerimônias mencionadas, especialmente as do grupo a. (acima), podemos dizer que apesar da variedade de seus significados, aqueles contextos elementares de significado retornam ao sentido em que o Novo Testamento quer  que entendamos o Batismo: o contexto Cristológico, Pneumatológico e Eclesiológico.  A base principal é ocupada pelo contexto Pneumatológico.  Cada um desses contextos também contém implicitamente a separação que ocorre mediante o Batismo. Essa separação é feita explicitamente no exorcismo e, ainda, por meio de repetição, expressa de forma unilateral. (p.198)

            O fato que no decorrer da história da liturgia o ato batismal foi desenvolvido não apenas por meio de palavras mas também por meio de ações, não pode de maneira alguma ser condenado em princípio.  Tal desenvolvimento é justificado na medida em que pelos seus aspectos do próprio Batismo são especialmente acentuados e esclarecidos. (p.198)

     Sob aquelas circunstâncias o acréscimo de cerimônias é uma expressão da liberdade que foi concedida à igreja com a comissão de pregar o Evangelho.  Nessa liberdade, a igreja pode testemunhar da obra salvadora de Deus também por meio de sinais visíveis. Nem pode haver qualquer objeção ao fato que a igreja antiga também arrolou conceitos e costumes do ambiente pagão.  É precisamente no avanço pelo mundo, no penetrar e transformar os conceitos e costumes do mundo que o domínio de Cristo é afirmado. Portanto, não pode haver qualquer objeção, em princípio, se no seu avanço para dentro de áreas de outras culturas e religiões o Batismo é tornado significativo pelo uso de diferentes sinais, descartando cerimônias tradicionais que eram ininteligíveis num novo contexto. (p.198)

            Se os atos que acompanham o Batismo são vistos como explicação simbólica daquilo que Deus faz mediante o Batismo, sua variedade não deveria ser surpreendente.  As riquezas da obra divina não podem ser expressas apenas por uma única palavra.  Nem deveria haver qualquer surpresa no fato que os sentidos desses atos geralmente se aglutinam de maneira peculiar e são geralmente difíceis de serem delimitados em detalhes. (p.198)   Os atos prestam testemunho do mesmo evento batismal.  Se o caráter de testemunha desses atos é mantido, pode-se também entender porque a seqüência em que eles se desenvolveram na estrutura das várias liturgias e geralmente de forma tão diferente.  Se eles são testemunhos ilustrativos do mesmo evento batismal, então apontam para o mesmo centro. (p.199)

            A concordância de todas as igrejas de que as cerimônias adicionais não possuem aspecto constitutivo do significado, da validade e do efeito do Batismo é revelado pelo fato que estas podem ser omitidas no Batismo de emergência.  Apenas a invocação do nome Triúno e o uso de água são essenciais.  Os atos litúrgicos que circundam o próprio ato batismal, não possuem qualquer significado constitutivo, antes, eles ilustram o centro constitutivo do Batismo.  Cada coisa que essas cerimônias confirmam e simbolizam são concedidas ao batizando  total e completamente mediante o simples ato de imersão ou derramamento em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. (p.199)


            6. O Perigo de se Obscurecer a Compreensão do Batismo

            Antes de tudo, entendemos os atos que, em muitas igrejas circundam o ato batismal como testemunhos ilustrativos e esclarecimentos simbólicos.  Contudo, a interpretação teológica e especialmente a piedade popular não param nessa compreensão. Isso não é verdadeiro em relação a todas as cerimônias batismais da mesma maneira.  É especialmente o exorcismo, a imposição das mãos e a unção que tem sido vistas como meios eficazes da graça e por isso não apenas num sentido significativo, porém também eficaz. Isso se confirma pelas palavras ligadas a esses atos.  Elas seguidamente não possuem apenas um caráter significativo e de testemunho, mas também um aspecto promissor e de concessão. Contudo, isso levanta a questão sobre que conclusões devem ser extraídas de tal compreensão eficaz desses atos que acompanham a compreensão do próprio Batismo, isto é, o centro constitutivo do ato batismal. (p.199)

            Essa questão pode ser atacada de vários ângulos. Indubitavelmente a compreensão dos tempos desempenha aqui um papel especial.  Por essa razão, o problema será tratado a partir dessa perspectiva. (p.199)

     É possível ignorar a seqüência de tempo na interpretação litúrgica e ver os vários atos  como circulando em torno do centro do ato batismal. Tal conceituação está presente especialmente no pensamento Oriental. Em distinção à Igreja Romana, a Ortodoxa recusa-se a fixar o momento da consagração dos elementos na Ceia do Senhor (ela acontece por meio da epíclese, das palavras da instituição ou na totalidade das orações eucarísticas?), e por isso na celebração eucarística tendo em vista ao tempo na eternidade em certo sentido permanece como está. Assim também no Batismo a seqüência temporal dos atos individuais da liturgia batismal podem tornar-se sem importância na certeza da fé. Nesse caso as cerimônias precedentes e posteriores são entendidas como uma unidade com o ato batismal em si.  Então nada mais é concedido mediante essas cerimônias do que mediante o próprio Batismo.(p.200)

            Muito embora elas sejam consideradas meios eficazes, elas simplesmente revelam as riquezas do próprio Batismo. A unidade Cristológica, Pneumatológica e Eclesiológica da obra divina mediante o Batismo pode permanecer intacta, convivendo com uma compreensão eficaz das cerimônias que o acompanham.  Embora essas cerimônias ocorram numa seqüência temporal, elas não precisam ser interpretadas no sentido de condições para e suplementos ao Batismo.    (p.200)

     No entanto, isso de fato começou a acontecer muito mais na igreja Latina do que na Grega. Não apenas surgiu a pergunta se era recebida a libertação do domínio dos poderes da perdição pelo exorcismo ou pelo Batismo, ou se o Espírito Santo era concedido mediante o Batismo ou a imposição das mãos, etc, senão que haviam respostas a essas questões que reduziam a compreensão da obra de Deus no Batismo.  Tertuliano já era da opinião que o Batismo concedia apenas o perdão dos pecados, e não o Espírito Santo. Esperava-o pela imposição das mãos.  Houve ampla divulgação da noção que o exorcismo era exigido antes da renovação pelo ato batismal.  Exemplos de tais interpretações podiam ser multiplicados.  Em tais casos as cerimônias não serviam mais para testemunhar do próprio Batismo, pois elas assumiam o seu lugar ao lado do Batismo como meios especiais de salvação.  Elas não desenvolviam mais alguns aspectos do Batismo, mas traziam à tona esses aspectos em lugar do Batismo. (p.200)

            Perguntas semelhantes surgem quando consideramos as repetições de uma mesma cerimônia em várias liturgias batismais.  Isso se aplica especialmente ao exorcismo e à unção.  Tais repetições tornam as questões ainda mais urgentes como o que o batizando recebe pelos atos adicionais em contraste ao próprio Batismo. Será que a repetição não dá a esses atos por si mesmos uma importância adicional?   Será que pelo seu grande número eles não diminuem a importância do Batismo único?  Também essas perguntas não precisam ser respondidas incondicionalmente na afirmativa.  Se ignorarmos a seqüência temporal e vermos esses atos adicionais não como condição precedente ou como suplementação posterior, mas apesar da sua seqüência temporal como desenvolvimentos simultâneos do único ato do Batismo, essas repetições podem também ser entendidas como uma plenitude de testemunho e como a garantia mais vigorosa do que é concedido ao batizando e à congregação mediante o Batismo. (p.201)

            No entanto, essas repetições de maneira alguma foram entendidas somente dessa maneira. Ao contrário, homens refletiram na sua seqüência temporal, e com uma interpretação eficaz foi fortemente possível chegar a uma maneira de pensar quantitativa. Assim, por exemplo, o exorcismo foi considerado como um pré requisito para o recebimento da graça batismal, e isso conduziu à idéia que um exorcismo não era suficiente, mas seria totalmente eficaz somente quando repetido.  Em tais casos, a multiplicação e repetição das mesmas cerimônias não mais representam uma referência total ao poder do único Batismo, mas agora considerações ansiosas sugerem a si mesmas se os pré requisitos para receber a graça batismal foram adequadamente alcançados e se aquilo que está faltando no próprio ato batismal é adequadamente suprido por futuras ações subseqüentes. (p.201)

            O problema quanto ao que pertence ao ato batismal em si é levantado ainda de outra forma.  Quando algumas cerimônias são retiradas da liturgia batismal e realizadas como atos independentes, ou ainda, aparecem tanto no Batismo como em momentos isolados antes e após ao mesmo, então surgem questionamentos quanto à eficácia do Batismo.  Por exemplo, se o exorcismo é praticado durante o catecumenato, antes do batismo, ou se a imposição das mãos ocorre isolada do Batismo, como é o caso na Confirmação, então a questão pode surgir em maior medida se o efeito do Batismo deve ser considerado como sendo reduzido, enquanto se atribui os efeitos àquelas cerimônias.  Novamente, essa redução, necessariamente, não ocorre.  Deve ser dedicada atenção cuidadosa à interpretação de tais atos que estão separados do Batismo quanto ao momento de sua execução. (pp.201,202)

            Nessa relação deve ser lembrado que, enquanto o Batismo deve ser administrado apenas uma vez, ele determina toda a vida posterior e para isso é praticado uma vez por todas.  No entanto, há aspectos do Batismo que exigem expressão também na vida futura do batizado, muito embora o próprio Batismo não se repita. Isso se aplica não apenas ao ato de arrependimento e fé em que o Batismo foi recebido e em que consiste a vida posterior do cristão.  Aplica-se também ao perdão que foi concedido no Batismo e do qual o batizado deve depender durante sua vida.  Igualmente ao recebimento do Espírito Santo.  Assim como, diferente da encarnação, a outorga pentecostal do Espírito não foi um evento uma vez por todas, mas ocorreu pela primeira vez, assim também o dom do Espírito no Batismo é o começo da posterior atividade pelo Espírito, a garantia de dons futuros do Espírito.  A vinda do Espírito deve ser esperada sempre de novo.  E seus dons devem ser buscados pela oração. (p.202)

            Assim como atos especiais de absolvição não precisam lançar dúvidas quanto à libertação do domínio do pecado experimentada no Batismo, assim também momentos especiais de imposição das mãos, separados do Batismo, e em relação com a oração pelos dons do Espírito Santo, não precisam trazer dúvidas sobre o dom do Espírito recebido no Batismo.  Semelhantemente a repetição do sinal da cruz não precisa levar à dúvida quanto ao selar ocorrido no batismo. Ao contrário, como rememorização da entrega a Cristo que aconteceu no Batismo, essa entrega precisa acontecer sempre de novo. (p.202)

            A história da teologia mostra, no entanto, que cerimônias batismais praticadas isoladamente têm de fato conduzido a consideráveis modificações na compreensão do Batismo.  Não é acidentalmente que na primeira metade da Idade Média o número de sacramentos tornou-se um sério problema que não foi apenas parcamente resolvido pela diferenciação entre sacramentos e atos sacramentais.  De fato, pelo grande número de outros atos sacramentais, o significado do Batismo foi bastante reduzido na piedade popular. (p.202)

            Nem mesmo as igrejas da Reforma estão isentas desse problema.  Se o dom do Espírito Santo é esperado na Confirmação, o que então foi concedido no Batismo?  A polêmica na Igreja Anglicana quanto à relação entre o Batismo e a Confirmação esclareceu de forma especial o problema da particularidade de ambos os atos.  Em todas as igrejas a atividade salvadora de Deus mediante a pregação, o Batismo e  a Ceia do Senhor tem sido desenvolvida em atos posteriores (e.g. o abençoar de crianças nas igrejas batistas).  Contudo,  a relação desses atos com a pregação e os dois "principais sacramentos" freqüentemente é tão mal esclarecida que se obscurece o significado salvadora do Batismo. (p.203)

            Semelhantemente a separação temporal entre a água e  óleo do Batismo não precisaria suscitar quaisquer dúvidas.  Aqui a água e o óleo são arrolados para o Batismo de tal maneira que a consagração efetuada pelo bispo ou o sacerdote ao mesmo tempo testemunham em favor da unidade dos muitos Batismos administrados com os mesmos elementos consagrados.  Agora, não pode ser ignorado que essa separação tem levado a uma séria mudança do ato do Batismo para a substância dos elementos consagrados e tem desviado as atenções da ação concreta de Deus mediante o Batismo. Mui facilmente os homens puderam atribuir aos elementos consagrados um poder inerente de graça e um efeito salutar do seu próprio evento separado do ato do Batismo.  Isso também não é apenas uma possibilidade, mas realmente acontece, tanto em tratados teológicos e na piedade do povo. (p.203)

            Por isso, as cerimônias adicionais não podem apenas ilustrar e confirmar o ato recriador de Deus pelo Batismo, senão que elas podem também obscurecê-lo.  Seu grande número, sua repetição e sua interpretação como sendo eficazes podem cancelar a unicidade do poder do Batismo.   Elas trazem em si o poder de diminuírem o próprio ato batismal e impedir a compreensão do Batismo.  Esse perigo se torna tão maior quanto mais o desenvolvimento ritual ocorre às expensas da proclamação batismal, quando as palavras da liturgia batismal são congeladas em fórmulas, e quando o Batismo é ainda oficiado numa linguagem que é estranha para a congregação. (p.203)

            Através da história da igreja esses perigos têm sido reconhecidos sempre de novo e tem sido contra atacados seguidamente enfatizando-se teologicamente a unidade do ato batismal e expressando essa unidade por meio do encolhimento da liturgia.(p.203)  Nesse contexto precisamos analisar também as duas ordens do Batismo que Lutero apresentou em seu livrete sobre o batismo, de 1523 e 1526.  Lutero propôs o uso da língua alemã. Recebe destaque a explicação do ato batismal por meio da Palavra. A Palavra é aqui entendida primeiramente não como uma fórmula eficaz mas como promessa e garantia.  Também é significativo a redução nas cerimônias adicionais  ao Batismo.  Somente a exuflação (soprar sobre), o sinal da cruz, um exorcismo, a imposição das mãos e, finalmente, vestir o manto batismal foram mantidos.  Ordens batismais Luteranas do Sudeste da Alemanha fizeram reduções posteriores.  Elas tiraram a exuflação, o exorcismo e outras cerimônias ainda mantidas por Lutero. (p.204)

            Nas ordens batismais de Zwínglio e Calvino, tais atos adicionais estão de todo ausentes.  Em contrapartida, as admoestações batismais receberam ênfase bem maior.  No entanto, mesmo naquelas igrejas Luteranas cujas ordens de Batismo foram modeladas após o livrete de Lutero sobre o Batismo, de 1526, o exorcismo logo se tornou um problema que as igrejas tentaram superar, primeiro por meio de uma reinterpretação teológica dele, depois tornando-o opcional ou, finalmente, retirando-o completamente. Outrossim, a imposição das mãos e o sinal da cruz ainda estão amplamente em uso. (p.204)

            Temer o perigo de um obscurecimento da compreensão do Batismo apenas por causa de um crescimento nos rituais adicionais poderia, certamente, estar errado.  O perigo não é menor vindo do aumento de palavras em torno do ato batismal sem que testemunhem com clareza o evento.  Há palavras diretas, orações e admoestações que diminuem e obscurecem o Batismo, desde que elas não tratam do centro do evento batismal, a saber, a atividade recriadora de Deus, mas perdem-se num falatório generalizado e em sentimentalismos familiares. Em tais casos, o seu conteúdo é, por exemplo, o alegre evento do nascimento, porém não o novo nascimento - o enriquecimento da família e não o fato de ser unido ao povo de Deus.  Talvez elas apontam para o prospecto de alguma sorte de ajuda divina para vida terrena, porém não têm nada a dizer sobre o batizando ser entregue à morte de Cristo para uma nova vida. (p.204)

            O Batismo pode ser obscurecido se o seu ato não é desenvolvido nem por palavra nem por atos adicionais.  Há um meio mecânico flutuante de batizar que está satisfeito com paupérrimas coisas essenciais mesmo que não haja qualquer emergência, e declina de fazer uma aplicação concreta do evento batismal. Enquanto a validade de tais Batismos não pode ser questionada, a maneira como são administrados não proporciona nem ao batizando nem à congregação a oportunidade de reconhecer as riquezas que Deus aqui realiza por eles. (p.205)

            Portanto, o perigo de se obscurecer o Batismo por meio da sua forma provêm de lados completamente opostos.  É tarefa da igreja reconhecer esses perigos no seu batizar e com vigilância e amor buscar o caminho para uma atividade litúrgica que possa superar esses perigos.  As formas possíveis de liturgias batismais são inumeráveis.  O decisivo é que a obra salvadora de Deus no Batismo, quer por palavras ou cerimônias, seja louvada e aplicada e que a fé seja desse modo fortalecida.(p.205)

A DOUTRINA DO BATISMO III - EDMUNDO SCHLINK

            CAPÍTULO  3

            ADMINISTRAÇÃO E RECEBIMENTO DO BATISMO


            1. O recebimento  único do batismo.


            Cada pessoa deve receber o batismo somente uma vez.  A recepção única é sempre pressuposta no Novo Testamento. Ela foi mantida mesmo nas discussões sérias da igreja antiga sobre a readmissão dos apóstatas resultantes das perseguições aos cristãos.  A preocupação era unicamente com o problema da penitência, da absolvição e reconciliação - porém não com a repetição do batismo.   Também nas controvérsias sobre o batismo  herege nenhuma das partes estava interessada com a repetição do batismo, mas apenas com a questão se o batismo administrado por hereges ou outros pecadores grosseiros devia ser considerado válido.  Cipriano negou que o batismo administrado a hereges anteriormente batizados fosse um re batismo, porquanto o batismo herético não poderia ser reconhecido como válido.  Isso é verdade também a respeito da prática batismal dos donatistas. (p.109)

            Os batistas também ensinavam a aplicação única do batismo e rejeitavam a idéia de serem chamados de re batizadores.  Se pessoas que foram batizadas quando crianças mais tarde se submetiam ao batismo como adultas, isso não deveria ser chamado de re batismo, uma vez que (conforme o  seu ensino) o batismo infantil não é um batismo cristão. (p.109)

            Em virtude da sua aplicação única, o batismo é distinguido da pregação do Evangelho e da administração da Ceia do Senhor.  O Evangelho deve ser pregado ao homem sempre de novo.  A congregação deve reunir-se sempre de novo para a Ceia do Senhor. Contudo, o batismo ocupa uma posição especial por causa de sua administração única. (p.109)

            Essa posição especial não significa que na atividade da igreja ou na reflexão teológica o batismo deva ser isolado da pregação e da Ceia do Senhor.  Pois o batismo continua com base no Evangelho ouvido e introduz na participação na assembléia de adoração e assim a um constante novo ouvir do Evangelho e uma constantemente nova recepção do corpo e sangue de Cristo. Batismo, Evangelho e Santa Ceia andam juntos.  Sempre que o Evangelho é proclamado, ele chama para o batismo.  Proclamação e batismo andam juntos tão intimamente que a regeneração pode ser considerada resultado tanto do batismo como da Palavra (1Pe 12.3; Tg 1.18).  A aceitação da Palavra é consumada pelo acesso ao batismo.  Por outro, o Evangelho traz à lembrança o batismo já recebido, uma vez que os imperativos do Evangelho estão baseados na obra divina que foi operada no homem mediante o Batismo.(p.110)

            Outrossim, a celebração da Ceia do Senhor também retém sua relação com o Batismo, de modo tal que este é o meio de acesso àquela.  Por isso, num certo sentido, o batismo está incluso em toda a proclamação repetida e em todas as novas celebrações da Ceia do Senhor.  Isso também se aplica à absolvição, à ordenação e a outros atos nos quais a igreja posteriormente tem desdobrado a promessa e o objetivo do Evangelho. Toda atividade da igreja provém do batismo e volta novamente ao batismo. (p.110)

            Conquanto a proclamação, o Batismo e a Ceia do Senhor coexistem tão intimamente, devemos perguntar em que consiste a particularidade do Batismo em relação às diferentes formas de pregação da Palavra e da Ceia do Senhor. (p.110)

            A resposta a essa pergunta parece fácil se olharmos para a maneira especial em que a graciosa obra de Deus se dirige ao homem.  No sermão, Deus age mediante a Palavra somente.  No batismo, ele age mediante a Palavra e a água.  Na Ceia do Senhor, Deus atua pela Palavra, pelo  pão e o vinho.  A essas diferenças corresponde a maneira especial em que o homem aqui recebe  a graça - pelo sermão, por meio do ouvir com fé,  pelo Batismo por meio do ouvir com fé e da imersão ou aspersão de água,  pela Ceia do Senhor, por meio do ouvir com fé e do comer e beber oral.(p.110)

            No sermão Deus age mediante a promessa a respeito da morte e ressurreição de Cristo.  No batismo mediante a ligação ao nome de Cristo.  Na Ceia, mediante o dom do corpo e sangue de Cristo. (p.110)

            A diferença entre o Batismo e a Ceia do Senhor em palavra e ação não pode ser ignorada.  O batismo não tem palavras de distribuição correspondente às da distribuição da Ceia.  A água do Batismo não é o sangue de Cristo. (p.111)

            A resposta à pergunta sobre a particularidade do batismo torna-se mais difícil, porém, quando perguntamos sobre o dom específico  e o resultado que é concedido ao homem através desse meio especial da obra de Deus.  A conexão entre o batismo, o evangelho e a Ceia do Senhor não foi criada pela igreja, mas dada em Cristo.   O mesmo e único nome de Cristo é proclamado mediante o Evangelho, o Batismo e a Ceia.   Esses meios estão fundamentados na mesma vitória de Jesus Cristo na cruz, e seu conteúdo é essa obra salvadora.  Por meio da pregação, a morte e ressurreição de Cristo é proclamada a nós como algo que aconteceu por nós.  Mediante o Batismo, somos entregues à morte e ressurreição de Cristo.  Na Ceia do Senhor, o Cristo ressurreto nos dá o Seu corpo oferecido na cruz e o Seu sangue da aliança. (p.111)

            O Evangelho, o Batismo e a Ceia não somente proclamam a Cristo, porém Ele, o próprio proclamado, está ativo por meio deles como o Senhor presente.  Por esses meios Deus justifica, santifica e renova o pecador, concedendo-lhe a vida do Filho e transformando-o à Sua imagem.  Portanto, o Batismo, o Evangelho e a Santa Ceia não apenas andam juntos, porém interpenetram um ao outro e devem ser entendidos como a unidade da atividade graciosa de Deus.  No sentido dessa interpenetração, o Batismo e a Ceia do Senhor são chamados de "Palavra visível", e a Palavra pregada de "sacramento audível".(p.111)  Portanto, o Batismo e a Ceia do Senhor devem ser reconhecidos como formas diferentes da mesma obra salvadora de Deus. (p.112)

            Contudo, em virtude dessa interpenetração, surge a pergunta: Não será que o crente participa do corpo e sangue de Cristo também mediante o Batismo?  Será que o batismo como um ser entregue ao evento histórico da morte de Cristo, ao mesmo tempo, não concede participação na própria Pessoa que morreu na cruz e agora vive? (p.112)

     Ainda, será que o crente não recebe participação do corpo e sangue de Cristo já na proclamação?  Pois o Evangelho não é apenas o relato de um evento passado, porém Palavra eficaz mediante a qual Deus promete e nos dá aquilo que Ele fizera pelo mundo na morte e ressurreição de Jesus!  A pessoa de Jesus Cristo, sua corporaneidade, e sua carreira histórica não podem ser separadas uma da outra.  Então a próxima pergunta surge: Por que ter o Batismo?  Por que não simplesmente uma primeira comunhão?  Ainda, por que ter o Batismo e a Ceia do Senhor?  Por que não simplesmente a proclamação do Evangelho?  Em que aspecto Batismo, pregação e Ceia diferem um do outro?  O que constitui a particularidade do Batismo? (p.112)

            Essas perguntas nos levam ao mistério da riqueza da obra graciosa de Deus. Deus introduz o homem na única obra salvadora que Ele realizou na morte e ressurreição de Jesus e faz assim por meio de muitos atos e então atinge a existência humana de várias maneiras.  Essa atividade de Deus é caracterizada por uma superabundância e extravagância que estrategicamente ilude uma coordenação racional de um método com o outro. (p.112)

            O Evangelho é a Palavra re-criadora de Deus em ação.  Por meio do Evangelho, Deus realiza aquilo que o próprio Evangelho promete.  Não é próprio afirmar que através do sermão Deus age apenas no espírito do homem e não na totalidade do ser humano, incluindo sua corporaneidade.  (p112).  Ao contrário, por meio da promessa e direcionamento da proclamação, Deus atua pelo homem todo.  Todas essas diferenciações são racionalizações que tentam sistematizar às custas dessa ou daquela maneira de Deus agir em sua graça. (p.113)

            De certa forma, a conjunção e interpenetração da proclamação, do Batismo e da Ceia do Senhor pode ser elucidada por uma analogia da doutrina dos atributos de Deus.  Cada atributo de Deus deve ser reconhecido como perfeição de Deus. Essa perfeição não consiste no sumário dos atributos, mas em cada um deles estão presente também os outros.  Assim, por exemplo, o amor de Deus é também sua majestade, justiça, sabedoria, etc. Contudo, podemos reconhecer, louvar e ensinar a  perfeição divina somente alistando os atributos divinos um a um.  Em cada atributo, a infinita perfeição de Deus é reconhecida. (p.113)

            Essa analogia tem seus limites.  Também o conhecimento dos atributos de Deus baseia-se na revelação histórica de Deus, pois o amor de Deus aparecera em Jesus Cristo.  Os  atributos eternos de Deus,  sua eterna essência divina, são louvados com base  na Sua revelação.  A doutrina da proclamação, do batismo e da Ceia do Senhor, portanto, não apenas está baseada na histórica obra salvadora de Deus, senão que é a doutrina sobre  a obra histórica de Deus através da Palavra e dos sacramentos.  Não podemos de maneira  especulativa derivar essas diferentes formas da obra graciosa de Deus do seu eterno amor. Nem se pode deduzir da morte e ressurreição de Cristo que o Batismo e a Ceia são necessários ao lado da mensagem.(p.113)  Nem podemos derivar essa variedade da pecaminosidade humana e sua dependência dos diferentes sentidos de ouvir, sentir, etc.  

            Precisamos, porém, abrir-nos para a riqueza da atividade graciosa de Deus seguindo obedientemente o chamado histórico e fielmente usar a proclamação, o Batismo e a Ceia do Senhor como formas da obra salvadora de Deus que  não podem ser mudadas nem substituídas e que coexistem e se interpenetram uma na outra (p.114).

            Considerando que o Batismo é a entrega a Jesus Cristo e portanto a morte do velho homem e começo da nova vida, ele é o acesso às riquezas da graciosa obra de Deus.  Nisto consiste a sua particularidade.  Nisso se baseia a administração única do batismo.  Contudo, essa administração única deve estar sujeita a questionamento quando o seu significado é encontrado na intensidade da experiência religiosa.  O Batismo é um ato único como obra re criadora de Deus.  No entanto, ele não é único no sentido de outros eventos que desapareceram no passado e que consideramos como eventos passados, mas ele é único no sentido de um começo que determina e abarca toda a vida a partir dele.(p.114)

     O mesmo "uma vez por todas" (ephápaks) aplica-se ao Batismo como também à morte e ressurreição de Jesus.   Mediante o Batismo, o pecador é uma vez por todas tornado propriedade do Senhor para viver na força do Senhor a partir dele.   Assim como a era que seguiu após a morte e ressurreição de Jesus é diferente da era anterior, assim também o período da vida humana após o Batismo é diferente da época anterior ao mesmo. "As coisas antigas já passaram, eis que se fizeram novas" (2Co 5.17). Por isso a igreja antiga considerava o Batismo como O sacramento.(p.114)


            2. A Administração do Batismo

            a. A igreja que batiza

            Em distinção aos batismos judeus, o Batismo cristão foi desde o começo não auto-administrado. (p.114)  Assim como o Evangelho é pregado e ouvido, também o Batismo é administrado e recebido. (p.115)

            Segundo o Novo Testamento, o Batismo era administrado exclusivamente por membros da igreja.  Eles aceitavam a confissão de fé do candidato e o seu desejo pelo Batismo, então realizavam o ato batismal.  A administração do Batismo é atribuída aos apóstolos e seus cooperadores, mas também àqueles membros da igreja sobre quem, com base nos textos, não é pressuposto nenhum "ofício" em especial. (p.115)

            O batizante, no entanto, não atua como um indivíduo, mas como um membro da igreja e na comunhão da igreja.  Por isso podemos também dizer que é a igreja quem batiza.  A igreja proclama o Evangelho, chama para o Batismo, verifica o desejo pelo Batismo e, por seu Batismo consigna o crente para Cristo como Senhor, e assim o recebe na sua comunhão.  Nesse sentido, a igreja é a "mãe dos crentes".   Ela não é apenas o objetivo do Batismo, mas também seu antecedente porquanto sua pregação e chamado ao Batismo precedem a administração deste.  O conceito da igreja como mãe tem sua origem não apenas no Antigo Testamento, nos textos sobre o povo de Deus como noiva e esposa de Javé , mas também em Gl 4.25-31 e Ap 12.  A igreja antiga posteriormente desenvolveu essa idéia, enquanto os reformadores, especialmente Lutero, a retomaram. (p.115)

            A ordem dos catecúmenos, que logo se tornou necessária, levou à conclusão que a admissão ao Batismo estava mais diretamente unida ao ofício da igreja do que tem sido o caso na igreja primitiva.  Do mesmo modo, a conexão essencial entre o Batismo e a unidade da igreja torna difícil entender por que a administração do Batismo logo se tornou a tarefa do bispo e dos cooperadores por ele autorizados.(p.115)

            b. A igreja como instrumento do Deus que batiza

            Nos textos batismais do Novo Testamento é notável ao mesmo tempo que há bem pouco ou nenhum interesse na pessoa que batiza. Embora os relatos em Atos repetidamente mencionam o nome do que batiza, está claro que nem sua pessoa nem seu status na igreja tem qualquer significado para a validade ou eficácia do Batismo (senão nos problemas especiais ligados ao relato de At 8.12-17). Nas constantes referências das epístolas ao Batismo como antecedente para exortação, a pessoa daquele que batiza não desenvolve qualquer papel.  Quando se desenvolveram várias facções em Corinto e apelaram àqueles que os batizaram, Paulo condenou tal atitude em termos enérgicos (1Co 1.12-16).(p.116)

            Paulo pouco se preocupava se o Batismo era determinado pela pessoa ou ofício de quem o administra, a ponto de argumentar: "Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho" (1Co 1.17).  Essa passagem não justifica a conclusão que Paulo desprezasse o Batismo ou ignorasse uma tradição da ordem batismal, mas ela sugere que ele geralmente deixava o ato de batizar para as Congregações.  O nome de quem batiza é imaterial, o nome de Cristo significa algo. Quem batiza é apenas um instrumento. (p.116)

            Se é dito que a igreja é igreja que batiza, "a mãe dos crentes", então também  se deve dizer dela que é somente um instrumento.  Assim como cada indivíduo por ela  batizado, a própria igreja foi criada pelo Espírito de Deus.  Não apenas os seus membros, mas a própria igreja que batiza foi batizada, conforme Ef 5.25-32 o estabelece.  Entregando-se a si mesmo à igreja, Cristo o fez "para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito" (v.27).  Somente por causa da  cabeça a igreja é o corpo de Cristo, crescendo em todas as dimensões - crescendo em direção a Cristo, crescendo na comunhão dos seus membros uns com os outros, crescendo no avanço da mensagem no mundo e mediante o acréscimo daqueles que estão fora. (p117)

            O fato que o próprio Deus é que batiza e a igreja e seus membros são apenas Seus instrumentos, foi mantido somente com o custo de acirrados conflitos.  Se o assunto no Batismo é com a incorporação ao corpo de Cristo por meio do serviço dos membros do seu corpo, surge um problema quando o Batismo é administrado por pessoas que, enquanto pertencendo à igreja exteriormente, vivem em pecados grosseiros e se tornaram membros mortos do corpo de Cristo.  Esse problema, em princípio, não foi tratado até a controvérsia sobre o batismo herege e a discussão acerca do cisma donatista, porém existiu mesmo antes dele e, de fato, a separação donatista tem seus caminhos nas respostas divergentes dadas ao problema. (p.117)

            A controvérsia entre Cipriano e o papa Estêvão I centrou-se primeiramente na validade do batismo herege, porém Optatus de Mileve, cerca de 370, forneceu a resposta  básica ao problema interno da igreja. A resposta foi que a santidade  da igreja não se baseia na santidade de seus membros, mas na dos sacramentos, e que o efeito santificador dos sacramentos não depende da santidade dos que administram, mas sim da obra salvadora de Deus. Nem a igreja, nem seus membros são senhores sobre os sacramentos, porém seus servos. (p.117)

            Os reformadores também retiveram esse conceito. "Além disso, ainda que a igreja cristã propriamente falando, outra coisa não é senão a congregação de todos os crentes e santos,  todavia, já que nesta vida continuam entre os piedosos muitos falsos cristãos e hipócritas, também, pecadores manifestos, os sacramentos nada obstante são eficazes, embora os sacerdotes que os administram não sejam piedosos." (CA VIII:1,2, in: Livro de Concórdia, p.32).(p.118)

            Também noutro aspecto o significado meramente instrumental de quem batiza tem sido mantido na teologia e na lei canônica. Mesmo quando a autoridade do ofício episcopal foi mais tarde fortalecida em conexão ao desenvolvimento de uma ordem eclesiástica compreensível e o serviço livre oferecido pelos dons carismáticos perdeu posteriormente a ênfase, a possibilidade de um Batismo administrado por leigos continuou sendo reconhecida. Houve épocas em que existiu alguma incerteza no reconhecimento de tais Batismos.  Tertuliano, por exemplo, foi contra o batismo realizado por mulheres.  Agostinho, no entanto, aceitou como válido o Batismo  por qualquer leigo que fosse administrado em conformidade com as regras eclesiásticas; e ainda um tal Batismo deveria ser efetuado somente em casos especiais de emergências. (p.118)

            Em defesa à posição de Agostinho, T. Aquino firmou que em Cristo, o verdadeiro batizante, não havia nenhuma diferença entre masculino e feminino. O fato que geralmente tais Batismos de emergência precisavam ser aprovados pelo bispo não anula o fato que o sacerdócio geral dos cristãos continuava a ser reconhecido como um serviço ativo e não apenas como um conceito.  O reconhecimento  do Batismo efetuado por leigos confirma de maneira especial que o batizante é apenas um instrumento do Deus que batiza e que a pessoa e o status do cristão que batiza não significam nada, enquanto o nome e a pessoa de Deus significam tudo.  Aqui Calvino ocupa uma posição peculiar sua.  Ele rejeita o batismo de emergência sob o  argumento que tanto a administração do batismo como a Ceia do Senhor pertencem ao ministério eclesiástico.(p.118)


            c. A administração do Batismo separado da igreja

            Diretamente relacionado ao problema dos batismos administrados por membros ímpios da igreja está o problema da validade dos Batismos que foram administrados fora da igreja. Esse problema surgiu ali onde comunidades cismáticas e hereges igualmente batizavam  no nome do Pai e do Filho, e do Espírito Santo.  A  favor da rejeição desses Batismos parece estar, acima de tudo, a unidade da igreja que é ao mesmo tempo unidade de fé,de Batismo e da Ceia do Senhor.  No entanto, qual é a relação entre a unidade da igreja e do Batismo?  É o Batismo administrado somente quando feito por uma igreja, ou não é antes a unidade da igreja o resultado do único Batismo?  É o Batismo a obra da igreja, ou é a igreja o produto do Batismo? (p.119)

            No segundo século o Batismo herege foi considerado inválido na maioria das áreas da Igreja Oriental e na igreja da África. Quando os  hereges entraram na Igreja Católica, foram rebatizados.  Cipriano de  Cartagena defendera essa prática insistindo que a unidade da igreja e do Espírito Santo não poderia ser separada da unidade do Batismo.  Ele foi contestado pelo papa Estêvão que defendeu a validade do Batismo herege e recebeu os hereges na igreja simplesmente por meio de um ato de reconciliação e imposição das mãos. (p.119)

            Portanto, o requisito para o reconhecimento de validade não foi o consenso na doutrina, mas sim apenas a concordância  "de facto" com o rito batismal da Igreja Católica.  Na controvérsia daquela época, a questão sobre o que o batizado recebia no Batismo herege que poderia ser reconhecido como válido, não foi esclarecida. Na luta contra os Donatistas, a igreja da África também reconheceu o Batismo herege, e Agostinho falou sobre o problema do que o herege recebe no seu Batismo e desenvolveu fórmulas que se tornaram decisivas para toda a estrutura sistemática do seu ensino sobre o Batismo.(p.119)

            O cristianismo Ocidental, incluindo as igrejas da Reforma (menos alguns Batistas), geralmente reconheceram o Batismo herege.  Muitas das igrejas Orientais hesitaram bastante antes delas admitirem tais Batismos.  Seu reconhecimento estava fundamentado não tanto em princípios doutrinários como na adaptação por amor. (p.120)

            O ato de reconhecimento do Batismo herege de maneira nenhuma significa a aprovação do cisma ou da heresia, mas um reconhecimento da soberania de Deus que age também mediante o batizar de cismáticos e hereges quando fazem o mesmo que a igreja faz.  Se Deus em sua fidelidade está presente por Seu nome, mesmo quando invocado fora da igreja, então segue a todos os batizados a obrigação de buscar a unidade da igreja - a unidade na confissão da fé, na Ceia do Senhor e nos ofícios eclesiásticos. Nesse sentido a decisão da igreja antiga na controvérsia sobre o Batismo herege tornou-se um ponto de partida extremamente importante para os esforços ecumênicos de nossa época em busca da unidade. (p.120)


            3. O Recebimento do Batismo

            a. A fé em Jesus Cristo

            O Batismo deve ser recebido pela fé em Jesus Cristo. Essa fé se fundamenta no Evangelho  de Jesus Cristo e é a aceitação obediente do mesmo. (p.121)

            O Evangelho é a mensagem a respeito do homem histórico Jesus e Sua carreira.  Ele proclama a Jesus como o Cristo prometido no Antigo Testamento e a Sua morte e ressurreição históricas como o único meio de salvação para o homem.   Contudo, o Evangelho não é apenas o relato sobre a história de Jesus, mas é ao mesmo tempo a Palavra pela qual o próprio Cristo ressurreto está presente e ativo provando ser o Senhor.  O "Evangelho de Jesus Cristo" significa não apenas a mensagem que tem a Jesus Cristo como seu conteúdo, mas é a mensagem que vem de Jesus Cristo, não apenas no sentido de uma tradição histórica, porém no sentido que ela procede de Jesus Cristo como o Senhor presente.

     Como o Evangelho proclama que Jesus Cristo tomou o pecado do mundo sobre si mesmo, o crucificado se oferece a si próprio aos ouvintes do Evangelho como o único crucificado por eles.  Como o Evangelho proclama a Sua ressurreição, Ele próprio chama os ouvintes da morte para a vida.  Jesus Cristo mesmo confronta o pecador na palavra humana que testemunha Dele e chama o pecador à fé.  Pelo Evangelho, Jesus Cristo informa ao mundo que o povo tornou-se Sua propriedade e os convoca a submeterem-se a Ele como Senhor.(p.121)

            Quando o Evangelho é recebido pela fé, isto ocorre em contraste ao que é percebido pelos sentidos.  A pessoa a quem se dirige o Evangelho vê e ouve um homem que a ela se dirige.  Ela ouve a história de um homem cuja morte impotente sobre a cruz é aparente, mas cuja ressurreição foge a qualquer analogia com a experiência de vida humana.  A fé se agarra ao Evangelho contra tudo aquilo que vê e ouve. A fé não está revoltada contra a ocultação de Deus na humilhação.  Ela nunca estará ofendida nem mesmo pela insignificância das palavras humanas nem pela impotência e fraqueza de Jesus na cruz.   A fé também não procura pela glória de Deus num plano mais elevado além, apenas, dessa crueldade  que é visível.  Porém, na crueldade de Jesus na cruz ela se apossa da salvação divina.  Na insignificância e não verificabilidade das palavras humanas, a fé agarra o Salvador que ao homem se dirige naquelas palavras. (p.121)

            Onde o Evangelho é recebido pela fé, está incluído o conhecimento da sentença sobre o pecado dos homens, a qual Deus pronunciara na cruz.  Pois, como mensagem de juízo que Deus exerceu sobre Jesus na cruz, a mensagem a respeito de Cristo é a Palavra da salvação.  O Evangelho revela a oposição do ouvinte contra Deus e lhe mostra que está sob juízo.  O Evangelho descobre as transgressões do homem contra Deus e contra seus semelhantes, sim, ele revela o homem não apenas como alguém que pecou, mas como alguém que é um pecador, escravo do pecado e réu de morte.  A obra salvadora de Deus na cruz é reconhecida somente quando o homem reconhece como injustiça a sua própria justiça, como tola a sua própria sabedoria, e como caminhos de perdição aqueles escolhidos por ele próprio.  Aceitar o Evangelho implica abandonar sua justiça própria, sua própria sabedoria, seu entendimento, sua vanglória.  Fé no Evangelho é, sempre, ao mesmo tempo arrependimento. (p.122)

            A fé que aceita o Evangelho concorda com o ÑÃO que Deus diz ao pecado, porém se agarra ao SIM que Deus falou ao pecador no sacrifício de Jesus.  Apesar de ser confrontado com os pecados que lhe foram revelados pela Palavra de Deus, ele crê na promessa de  justiça:  (Jesus) " o qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação" (Rm 4.15).  O  cristão crê  no amor de Deus que é revelado em Jesus Cristo justamente na ira de Deus contra o pecado (p.122)

            Essa fé no Evangelho não pode permanecer calada.  O chamado do Evangelho requer a resposta da fé. As respostas da fé pela oração e o testemunho são variadas.  Porém todas elas estão concentradas na confissão.  Na confissão a fé diz sim à mensagem que recebera. Por meio desse sim, ela se submete não apenas ao Evangelho, mas ao próprio Jesus Cristo a quem o Evangelho proclama (p.122).   Contudo, quer o cristão confesse a Cristo por suas próprias palavras ou as de outros, ele não permanece um indivíduo isolado, mas por meio desse Sim ele se une na confissão daqueles que vieram à fé antes dele.  Ele se torna parte da igreja confessante.  Nessa confissão da fé, a confissão dos pecados também sempre está incluída. (p.123)

            Se o Evangelho é recebido pela fé, isso não pode acontecer sem um desejo pelo Batismo. Pois o Evangelho sobre Jesus Cristo é também o chamado ao Batismo no nome de Cristo.  No acesso ao Batismo ocorre a obediência da fé em relação ao Evangelho.  Ao mesmo tempo, fé em Jesus Cristo e o acesso ao Batismo não estão lado a lado sem relação de um com o outro. Assim como a fé no Evangelho que é  ouvido é fé no Cristo que o confronta pelo Evangelho, assim também o  Batismo deve ser desejado  pela  fé na obra  salvadora  de Cristo  mediante o Batismo.  O  crente não se ofende diante da ação insignificante com água e palavras humanas, ele não busca pelo corpo de Cristo além desse evento, porém recebe o Batismo na esperança que mediante esta ação Deus liga  a ele, o pecador, a Cristo e assim o livra da sua culpa passada e o coloca na esfera do poder espiritual de Cristo. (p.123)

            Isso não significa que o Batismo deve ser  considerado  um segundo meio de apropriação da salvação ao lado da fé,  porém que a fé e o Batismo andam juntos.  Assim, no Batismo a salvação "mediante a ressurreição de Jesus  Cristo" é a resposta para "a indagação de uma boa consciência para  com Deus" (1Pe 3.21) (p.123).

 NT.: (O versículo no inglês é traduzido por "the appeal to God for  a clear conscience", i,e., "o apelo a Deus por uma consciência pura". )

            Embora a fé ocorra  na obra humana, ela não é obra do homem. Mesmo que a fé se apegue ao Evangelho,  não é o homem que efetua a salvação, mas Deus que em sua misericórdia busca pelo homem e o liberta por sua obra salvadora.  A fé, no seu sentido próprio, não é um  ato humano, mas o recebimento da graça divina.  Não apenas aquilo que recebemos, senão também o ato de receber   é dom de Deus. (p.123).

            Não somente o endereçar de Deus  no Evangelho, mas também o  ato de ouvir o Evangelho como o endereçar de Deus, é graça de Deus.   Em Cl 2.12, onde Paulo recorda que  fomos sepultados com Cristo no batismo e  ressuscitados novamente com ele, a referência é estritamente à fé no poder  de Deus, porém inclui também a idéia da fé criada pelo poder  de Deus que ressuscitou a Cristo dentre os mortos.  O Evangelho é o poder de Deus e a fé é a obra do Espírito Santo que age  pelo Evangelho. A confissão é também um dom do Espírito Santo. (p.224)

            Assim como a fé é recebimento passivo a despeito de toda atividade, assim também o acesso ao Batismo é o fim de toda a obra humana.  Pois o homem chega a  um ato em que ele próprio não é o ator, mas alguém que é entregue à obra de outro.   Em sua essência, o Batismo cristão não é auto-administrado mas recebido passivamente, e já o convite ao Batismo (At 2.38) não põe  a ênfase   no "sede", mas sim no "batizados".  A passividade do recebimento não pode ser questionada por meio de uma re interpretação do Batismo como uma obra.  É verdade que o recebimento do Batismo pressupõe o desejo ao Batismo e então o Sim à sua própria morte.  Porém, como ele é o Sim à morte e rendição à obra re-criadora de  Deus, a atividade do homem não pode ser aqui enfatizada, embora seja  o homem quem se submete ao Batismo. Pela própria essência do Batismo,  está excluída toda jactância na obra do homem.(p.124)


            b. A ligação tripla entre a fé e o Batismo

            Uma vez que o agir de Deus mediante o Batismo acontece uma vez para sempre e assim determina toda a vida posterior, a relação entre a fé e o Batismo transcende o próprio ato batismal e dura até o fim da vida. (p.124)  Não é acidental o fato que as passagens do Novo Testamento falam com menor freqüência da fé que precede o Batismo do que o fazem quanto à fé que tem o  Batismo como seu ponto de referência inicial.  Muitas das afirmações batismais são usadas como base para admoestação aos batizados. Estes são admoestados a viver de acordo com a obra salvadora que lhes foi operada no Batismo.  Portanto a conexão entre a fé e o batismo não pode ser restrita à seqüência temporal: fé - Batismo - fé. Deve ser distinguida uma conexão tripla entre a fé e o Batismo. (p.125)

            1. O Batismo deve ser recebido pela fé em Jesus Cristo. Essa fé é despertada  pela mensagem de Jesus Cristo, operada pelo Espírito Santo.  A fé em Jesus Cristo que deseja o Batismo não apenas confessa genericamente que Jesus é Senhor, mas ela é ao mesmo tempo a expectativa que Jesus Cristo como Senhor agirá no crente pelo Batismo, recebe-o como Seu próprio, e lhe concede participação no Seu morrer e viver. (p.125)

            2. Porquanto o Batismo é um dos meios pelos quais Deus tem misericórdia do homem, não devemos esperar dele menos do que da proclamação do Evangelho.  Se o Evangelho é o poder de Deus pelo qual é criada a fé, então também se deve esperar que a fé seja um resultado da administração do Batismo.  Deus age também pelo Batismo no poder do Espírito Santo. O Batismo não é apenas desejado pela fé, senão que o fortalecimento da fé também se espera do Batismo. A referência a Hebreus sobre a iluminação que os membros da igreja receberam deve talvez ser entendida nesse contexto (cf. Hb 6.4,5).  Mediante o Batismo, o homem recebe sua visão e é capacitado a ver a luz que brilhou em Cristo.  Não é nenhum acidente o fato que o conceito de iluminação, que era familiar dos mistérios helenistas, desempenhara um papel importante na doutrina do Batismo da igreja antiga. (p.125)

            3. Considerando que no Batismo Deus abarca toda a vida do homem de maneira salvadora, o batizado deve sempre de novo apossar-se dessa obra salvadora pela fé e orientar sua  vida a partir dela. (p.125)  As admoestações do Novo Testamento estão baseadas primeiramente no Batismo.  Elas o recordam e exortam ao batizado a imprimir sua vida sempre de  novo a partir da fonte pela qual se tornara um cristão (Rm 6.11). Esse imperativo é o chamado à fé na obra salvadora de Deus uma vez realizada por cada membro da igreja mediante o Batismo.  Esse chamado aplica-se à vida inteira.  Portanto o Batismo não é apenas o começo, mas a base firme e eterna sobre a qual a fé deve fundamentar-se constantemente.  O Batismo não é apenas o meio pelo qual Deus agiu primeiro no batizado, mas é ao mesmo tempo a arma para a luta da fé. (p.126)

            Portanto, a igreja convida para um recebimento do Batismo pela fé e a um recordar do Batismo pela fé.  Ela espera a criação e o fortalecimento da fé pelo Batismo não menos do que pela pregação do Evangelho. (p.126)


            c. O recebimento do Batismo sem a fé

            Fé e Batismo podem estar separados no recebimento do Batismo assim como na sua administração.  O Batismo pode ser recebido hipocritamente ou com expectativas que provém da descrença. Outrossim, uma  apostasia da   fé é também possível após o recebimento do Batismo pela fé.  Ainda quando o próprio batizado considera seu batismo como um insignificante rito externo, a questão sobre o significado de tal Batismo ainda não   lhe  tem sido respondida. (p.126)  A despeito da diferença em casos individuais e  nas  respostas dadas, a igreja  tem condenado o incrédulo com o fato que  Deus agira nele mediante o batismo e que ele agora não é o mesmo que antes.(p.127)

            O perigo da desobediência, da indiferença e da apostasia da parte do batizado tem ocupado a igreja desde o começo.  Neste sentido, Paulo admoestou os Coríntios apontando para a passagem dos pais pelo mar e pelo Batismo que ocorreu "com respeito a Moisés" (1Co 10.2), arrematando: "Ora, estas coisas  se tornaram exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram. Não vos façais, pois, idólatras, como alguns deles; porquanto está escrito: O povo assentou-se para comer e beber, e levantou-se para divertir-se. E não pratiquemos imoralidade..." (vv.6-8a).  Paulo alerta para não se pôr Deus em teste (v.9) e murmurar (v.10) como os pais.  Ele anuncia o juízo de Deus sobre eles assim como aos pais. A  severidade do juízo corresponde à  grandeza da obra salvadora de Deus. (p.127)

            Justamente porque foram salvos por Cristo, os batizados serão julgados se dele se afastarem.  No entanto, a última palavra, aqui, não é o anúncio do juízo, mas sim o chamado ao retorno e a oferta da promessa: "Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas juntamente com a tentação vos proverá o livramento, de sorte que a possais suportar"(v.13).  Também os alertas de Hebreus devem ser entendidos como o último chamado ao retorno (Hb 6.4-6; 10.20-23).Os membros da igreja em perigo são lembrados do que receberam no Batismo uma  vez por todas.  Nessa e noutras admoestações do Novo Testamento, o Batismo é pressuposto como a obra de Deus uma vez por todas, uma obra que permanece determinante  por toda a vida do batizado.  A descrença não desfaz o Batismo.  Ele permanece como base para o julgamento do apóstata e como poder para o penitente na sua luta contra as tentações. (p.127)

            A questão sobre o que o descrente recebe no Batismo não se tornou um tema de reflexão teológica até a controvérsia sobre o Batismo herético.  Essa questão ainda não fora explorada na controvérsia entre o papa Estêvão e Cipriano, porém recebeu tratamento sistemático no conflito entre Agostinho e o Donatistas. (p.128)

            Segundo Agostinho, o descrente recebe apenas o ato batismal, porém não a graça batismal.  Qual é, então, a validade desse Batismo?   Embora o incrédulo não receba a graça, ele não permanece intocado pelo Batismo e não é mais o mesmo após o Batismo.   Pois, mediante o Batismo a marca distinta do Senhor fora estampada nele semelhante à marca real que era colocada nos soldados.  O incrédulo também fora feito propriedade de Cristo. Já antes de Agostinho, o Batismo era considerado um selo e estampa segundo a imagem de Cristo, e esse selar era entendido como operação do Espírito Santo e um penhor da vida eterna. (p.128)

     Contudo, Agostinho separou o selo do recebimento do Espírito Santo, assim como separara o conceito de um sacramento e da graça. Agostinho falava de um caráter permanente que o descrente recebe assim como o crente e, por causa do qual, ele é distinguido do não-batizado como alguém que pertence ao Senhor. Se mais tarde chegasse à fé, não precisaria ser rebatizado, porém seria confirmado do perdão dos pecados pela imposição das mãos, e então a graça do Batismo se tornaria eficaz. (p.128)

            O conceito do caráter concedido também ao descrente mediante o Batismo foi mais detalhadamente definido por T. Aquino. Não significa caráter no sentido presente, porém, significa que a alma foi selada numa direção objetiva, um processo diferenciado da graça.  Mediante o Batismo, o descrente recebe apenas o "character dominicus", enquanto o crente recebe também a graça. Aqui o caráter é entendido como um selar para alistamento, como ser selado para o serviço sacerdotal (p.128)  Segundo Aquino, o caráter sacramental é uma espécie de selar pelo qual a alma é marcada, para que possa receber ou conceder a outros, coisas pertencentes ao culto divino.  Junto com o caráter, é concedida também a capacidade de cumprir a obrigação, porém essa capacidade é distinguida da graça.  Como o sacerdócio de Cristo é eterno, a marca sacramental, esse ser estampado para o serviço sacerdotal, é inerradicável na alma. (p.129)

            Lutero concedia à incredulidade  a recepção apenas do sacramento, porém não da graça.  No entanto, ele menos se preocupava  sobre o que acontecia ao incrédulo no Batismo do que com o que Deus colocou à disposição dele mediante o Batismo. Suas afirmações sobre esse problema tem menos estrutura de apresentação de fatos do que de convite.  Sob essa ótica, precisamos considerar sua referência mesmo ao Batismo de não crentes como um "tesouro".  Segundo Lutero, não é o tesouro que se perde, antes, o que se perde é que ele deveria ser agarrado e retido firmemente. (p.129)

            No uso desse termo, Lutero distingue menos estritamente entre o sacramento válido e a graça do que é feito na distinção tomista entre caráter e graça. Lutero usou o termo "tesouro" para designar a ambos, a Palavra no Batismo como também o benefício do Batismo.  No ato da proclamação não está em primeiro plano  o esclarecimento teórico do que o descrente recebe em distinção ao crente, mas antes o chamado ao arrependimento e o convite a fazer uso do tesouro proferido e receber, pela fé, a graça prometida. (p.129)

            As várias respostas à pergunta sobre o significado do Batismo para o incrédulo têm isto em comum:  ele  não se encontra na mesma situação em que estivera antes.  Não há nenhum retorno dos batizados ao status de pagãos.  Os batizados encontram-se sob o juízo e a graça de Deus de uma forma especial. Mesmo que o Novo Testamento não expresse tão diretamente um alerta contra um Batismo para juízo como o faz contra o comer e beber a Ceia do Senhor para juízo, o assunto em ambos os casos trata da realidade da atividade divina. (p.129)

            Todas essas afirmações sobre o Batismo pressupõe seu reconhecimento do Batismo como a promessa, sinal e obra de Deus.  Se, ao contrário, o Batismo é visto apenas como um ato de obediência humano, um Batismo recebido sem a fé não pode ser válido. Ele deve ser repetido quando é requerido pela fé. (p.130)

            Deve ser considerado o fato que o conceito fé não é sempre o mesmo nas várias respostas.  Para Agostinho, a fé significava também amor aos cristãos e filiação à comunidade da Igreja Católica.  Ele negava a graça batismal mesmo àqueles que criam em Jesus Cristo, porém não se tornaram membros da Igreja Católica. A compreensão da fé por Lutero como recebimento confiante brotava através dessas limitações.   Ele concordava com o recebimento da graça batismal até mesmo fora das igrejas da Reforma.  A "Constituição de Dogma" do Concílio Vaticano II rompeu com essa compreensão de Agostinho, reconhecendo a validade e os benefícios do Batismo também fora da Igreja Católica. (p.130)


            4. O Batismo Infantil

            Em vista do que tem sido afirmado sobre a relação entre Batismo e fé, não é auto-evidente que a igreja batiza crianças ou mesmo infantes.  O termo "Batismo infantil" é impreciso e sujeito a incompreensão, pois a igreja não batiza todas as crianças. Como norma, o assunto diz respeito às crianças dos pais batizados que as  trazem ao Batismo e também às crianças de pais não batizados que desejam o Batismo para si mesmos e para as suas crianças, e ocasionalmente crianças órfãs que foram adotadas por verdadeiros cristãos. (p.130)

            Em todos esses casos, estamos tratando de crianças que crescerão dentro do âmbito da igreja. Portanto, o Batismo infantil não significa o Batismo de crianças em quaisquer circunstâncias, mas de tais crianças que de fato nasceram dentro do âmbito da igreja.  Assim, o termo Batismo infantil é mais restrito do que  parece.(p.130)  Agora, mesmo com essa qualificação, permanece o fato  que os infantes não podem fazer uma decisão de fé.  Não podem fazer uma confissão de pecados e de fé.  Eles não podem vir por si mesmos, porém precisam ser levados ao Batismo.  Contudo, uma distinção entre infantes e crianças que podem perceber o ato batismal ou ainda consentir com o mesmo não determina nada na prática do batismo infantil. (p.131)

            Trataremos aqui não apenas com a relação entre fé e Batismo, mas também da relação entre o Batismo e a obra de Deus, bem como entre o Batismo e a igreja. (p.131)

            a. A origem do Batismo infantil e  sua rejeição

            Há disputa sobre a época em que começou o Batismo infantil. Na escola histórico-crítica, no começo deste século, a convicção geral era que a igreja primitiva  não praticava o Batismo infantil.  Desde a década de 20, porém, essa opinião foi contestada por Albrecht Oepke, Johannes Leipold, Joachim Jeremias e Oscar Cullmann.   Jeremias avançou nos argumentos em favor de se assumir a prática do Batismo infantil na igreja primitiva e defendeu  a tese que desde o começo as crianças nascidas antes do Batismo dos seus pais eram batizadas junto com eles, embora isso ainda não se aplique a crianças nascidas de pais cristãos. Contestando  os argumentos individuais de Jeremias, Kurt Aland chegou à conclusão que a igreja primitiva não batizava nenhum infante, e que o Batismo de crianças não surgiu antes do segundo século, enquanto o Batismo de infantes não foi praticado antes do ano 200. (p.131)

            Seguindo o método de Aland, começaremos com os primeiros testemunhos e buscaremos por traços mais antigos a partir deles.
            (1) As confirmações mais antigas para o Batismo infantil aparecem por volta do ano 200.
            No seu tratado "Contra os hereges" (após 180), Irineu faz uma exposição da afirmação que Jesus veio para salvar, acrescentando, "todos, eu afirmo, os que por meio Dele são gerados de novo - infantes e crianças (parvulos), meninos, jovens e velhos".  "Nascer de novo" (renasci) é um termo técnico para o Batismo.  É válida a conclusão que na área da igreja Galicana os infantes eram batizados já no segundo século. (p.132)

            A ordem eclesiástica de Hipólito, que surgiu em Roma, cerca de 215 A.D., contém a orientação:  "Primeiro os pequeninos devem ser batizados. Todos os que podem responder por si mesmos, respondam. Para aqueles, porém, que não o podem fazer, seus pais ou outros familiares deverão responder".  Essas sentenças apareceram no texto latino e nas traduções orientais da ordem eclesiástica.  Em razão do caráter de uma ordem eclesiástica deve ser considerado plausível que o Batismo infantil tenha sido praticado por um período considerável antes de Hipólito. Pois as ordens da época, como regra,não impunham novas ordens, porém faziam ajustes para a sua época comparando outras ordens existentes. (p.132)

            Está claro a partir do tratado de Tertuliano, que o Batismo de infantes era praticado na igreja da África por volta do ano 200.  Ele se opunha à prática do mesmo.  Segundo ele, os infantes eram incapazes para compreender e fazer sua própria opção. (p.132)  Outro argumento contra o Batismo infantil é o perigo para os padrinhos, os quais podem estar impedidos pela morte de cumprir sua promessa ou estar decepcionados pela maneira como se desenvolvem as crianças enquanto crescem. Tertuliano também adverte às virgens e noivas a adiarem o Batismo por causa das tentações.  Contudo, Tertuliano não diz sequer uma palavra para sugerir que essa oposição ao Batismo infantil se baseia no fato de ser ele uma inovação.   Sua oposição parece antes prognosticar um rigor ético que posteriormente levou-o ao Montanismo. (p.133)

            Tertuliano entendia o Batismo não como um auxílio na luta contra as tentações, mas sim como um fardo pesado.  Note-se, porém, que apesar de toda a sua crítica, Tertuliano de modo algum contestava a validade do Batismo infantil.  Apenas considerava mais benéfico o adiamento do mesmo.  A questão sobre o Batismo infantil levou a igreja à separação. Naquela época o Batismo infantil não era ainda obrigatório na África.   Isso aconteceu nos dias de Cipriano.  Na sua carta a Fido, Cipriano se refere ao sínodo de Cartago, por volta de 251, que decretara que as crianças deviam ser batizadas logo após o seu nascimento, não somente oito dias após. (p.133)

            Cerca de 240 AD, Orígines, em suas homilias sobre Lucas e seu comentário de Romanos, menciona  três vezes o Batismo de infantes.  Segundo ele, a igreja recebera uma tradição dos apóstolos para administrar o Batismo também aos infantes. Orígines também destaca que mesmo uma pessoa de idade avançada não está livre do pecado.  Sendo que os seus escritos foram compostos na Palestina, é discutível se suas afirmações sobre o Batismo infantil se referem apenas a essa área ou também a outras regiões da igreja por ele visitadas.  A última possibilidade é mais provável, pois ele apela à tradição apostólica. (p.133)

            Portanto, o Batismo infantil tem sido documentado de diferentes áreas da igreja, em torno de 200 A.D.  É notável o quanto essa prática é considerada como auto-evidente.  Em parte alguma há qualquer referência ao argumento calculista que o Batismo infantil foi uma inovação. (p.133)   É certo que essa prática não surgiu apenas nessa época. Mesmo Tertuliano reconheceu esse Batismo como válido, embora ele se posicionasse contra.  No entanto, não pode ser afirmado que essa prática foi igualmente assumida em todas as áreas da igreja.  Não pode ser pressuposto que ela fosse obrigatória em todos os lugares. (p.134)

            De Bizâncio e Capadócia, temos a tradição que mesmo na segunda metade do terceiro século as crianças de pais cristãos de maneira nenhuma eram  genericamente batizados.  Nesse adiamento do Batismo é discutido se o Batismo infantil ainda não se estabelecera ou se em oposição a uma prática já estabelecida o povo posteriormente teve dúvidas similares àquelas de Tertuliano. A admoestação de Gregório de Nanzianzo pode apontar para essa direção.  Ele sugeriu que o Batismo seja postergado até os três anos de idade, quando as crianças são capazes de perceber o ato batismal.  Quando, porém, em risco de vida, o infante devia ser batizado imediatamente.  O Batismo imediato de crianças de pais cristãos e o adiamento do Batismo aconteciam lado a lado na mesma igreja.   Em contraste a Tertuliano, os grandes Capadocianos admoestavam contra o adiamento insistindo que o Batismo não é um dom perigoso que precisasse ser cuidadosamente reservado, mas um auxílio no conflito ético
Na controvérsia entre Agostinho e Pelágio, o Batismo infantil já fora algo geralmente assumido, aceito por ambos os lados (p.134)

            (2) Se nos voltarmos desses testemunhos certos para dentro do segundo século, não encontraremos nenhum apoio convincente para a prática do Batismo infantil.   A Didaquê e a primeira Apologia de Justino, não fazem nenhuma menção ao Batismo infantil, embora não o excluam. O mesmo é verdade em relação aos textos batismais remanescentes do período pós-apostólico e patrístico antigo.  A Apologia de Aristides é uma exceção. Dela, porém, somente obtemos a confirmação que as crianças eram batizadas numa idade em que já pudessem ser ensinadas. As afirmações de Policarpo e outros Atos dos Mártires com respeito ao grande número de anos durante os quais essas testemunhas serviram a Cristo desde a infância, não permite qualquer conclusão certa "a posteriori" que eles foram batizados já quando infantes. (p.134)  

            Nem o Novo Testamento contém qualquer afirmação explícita a favor ou contra o Batismo de criancinhas.  Apenas podemos tirar alguma conclusão "a posteriori".  São de significado especial os textos de Paulo (1Co 1.16) e de Lucas (At 11.14; 16.15,33; 18.8) sobre o Batismo de  casas inteiras.  Porém, o termo "casa" no Antigo Testamento e no Novo pode significar coisas tão diferentes que não é próprio falar numa "fórmula óikos" estabelecida.  Essas passagens deixam claro, no entanto, que a totalidade da família está envolvida, e isso, em princípio, inclui crianças, os escravos e sua crianças.  Porém, os textos não dizem que lá haviam crianças ou mesmo infantes nas famílias mencionadas por Paulo e Lucas.  (p.135)

            Ainda mais incertas são as conclusões tiradas do Batismo de prosélitos, que incluía as crianças.  De um lado, não pode ser provado sem alguma dúvida que esse Batismo já era uma prática disseminada no tempo em que a primeira comunidade cristã surgira e, de outro lado, não pode ser demonstrado conclusivamente que a igreja cristã recebeu a prática do Batismo infantil do Batismo de prosélitos. Nenhuma conclusão pode ser buscada dos ritos de iniciação dos cultos de mistério porque eles não envolviam infantes.  Outros argumentos extraídos do Novo Testamento também não são convincentes, como por exemplo, referência à relação entre Mt 18.3; Mc 10.15 (Lc 18.17) e Jo 3.5, ou a interpretação de At 2.38,s, aplicada às crianças do povo endereçado, enquanto precisamente no ensino de Lucas isso pode bem referir-se à sucessão de gerações. (p.135)

            Do mesmo modo, nem a prática cristã primitiva do Batismo infantil pode ser convincentemente  derivada do fato que a palavra "embaraçar" é encontrada em vários relatos do Novo Testamento sobre o Batismo, como também na tradição sinótica sobre Jesus abençoando as crianças.  E 1Co 7.14 não pode ser usado como um argumento para o Batismo infantil, uma vez que a passagem fala não apenas de uma santificação das crianças, mas também do marido pagão. (p.135)  Este texto envolve um conceito adicional de uma santificação que não é concedida somente pelo Batismo, e por isso fala contra o Batismo infantil, ao invés de falar a seu favor. (p.136)

            Portanto, com base no Novo Testamento, o Batismo infantil não pode nem ser excluído e nem provado, e a questão permanece se o fato que nós não temos testemunhos reais para essa prática batismal até cerca de 200 A.D., deve ser explicado pela origem tardia dessa prática ou pelo começo tardio da reflexão teológica sobre ela, ou pelo acidente com as fontes que foram preservadas. É certo que o Batismo de crianças pequenas já era comum no segundo século, sem ser uma obrigação geral. (p.136)

            (3) O alerta de Tertuliano contra o Batismo infantil e o adiamento do Batismo no quarto século conforme apresentado por Bizâncio e Capadócia são fundamentalmente diferentes duma rejeição da validade do Batismo infantil e a exigência de rebatizar aqueles que foram batizados quando crianças.  Essa rejeição não pode ser documentada com certeza até o século dezesseis.  É uma das mais importantes características do movimento Batista que começou de Zurique e então, após a posterior eliminação dos seus líderes, continuou entre os Menonitas e mais tarde, de uma maneira um tanto diferente, nas igrejas Batistas. Esses movimentos faziam seu apelo não apenas ao Novo Testamento à igreja antiga, mas também às separações posteriores da igreja geral, especialmente aos Albigenses e os Valdenses. (p.136)

            No entanto, os Albigenses rejeitaram o Batismo com água, e os Valdenses negavam a validade dos batismos efetuados pela Igreja Romana.  Eles podem ter sido influenciados por idéias Donatistas que não eram especificamente direcionadas contra o Batismo infantil.  A pré-história do movimento Batista é difícil de ser elucidada desde que os documentos das várias separações antigas e medievais da igreja imperial foram na sua maioria destruídos.  Há muito a favor da idéia que a rejeição do Batismo infantil como um assunto de princípio surgiu somente no século 16 como um resultado de uma nova compreensão da pessoa individual e sua responsabilidade pela santificação. (p.136)


            b. Argumentos teológicos individuais a favor e contra o Batismo infantil

            A questão sobre as bases teológicas para o Batismo infantil deve ser distinguida da questão histórica sobre a sua origem. Mesmo se pudesse ser provado historicamente que o Batismo infantil foi praticado na cristandade primitiva, isso ainda não constituiria uma base teológica para a prática (p.136).  Por outro lado, o fato dele ter se estabelecido universalmente nos primeiros séculos por um processo gradual não é nenhuma prova contra a sua legitimidade.  Mesmo se pudesse ser provado que na situação missionária da cristandade primitiva as crianças não eram em parte alguma batizadas, isso não refutaria a legitimidade do Batismo infantil. Havia outras questões de ordem, por exemplo, questões sobre o culto e os ofícios da igreja.  Por essa razão devemos buscar os argumentos teológicos a favor ou contra o Batismo infantil (p.137)

            É surpreendente quão tarde e esparsamente apareceram, na história da teologia do Batismo, documentos a favor do Batismo infantil.   A conclusão é óbvia que o Batismo infantil era tão auto-evidente  e sem problemas que qualquer justificação da prática era supérflua.  (p.137)

            Nos seus breves comentários sobre o Batismo infantil, T.Aquino evitou os argumentos individuais do Novo e Antigo Testamentos (como, por exemplo, o Batismo de casas e a circuncisão) e limitou-se essencialmente às referências ao pecado original e a fé da igreja.  (p.137)  Ele respondeu a pergunta sobre a fé das crianças distinguindo entre "habitus fidei" e "actus fidei".  Os argumentos individuais em defesa do Batismo infantil foram levantados somente a partir dos debates entre os reformadores e os anabatistas.(p.138)

            A seguir, dentro de uma perspectiva sistemática, ofereceremos algumas das referências bíblicas mais utilizadas.

            A favor do Batismo de criancinhas, tem sido seguidamente citado o mandamento de Mt 28.19.  Ele é universal.  Cristo envia seus discípulos para fazerem discípulos do mundo gentílico, de "todas as nações".  Não é mencionada nenhuma exceção. Por isso a inferência que as crianças estão incluídas na ordem batismal. Esse "fazer discípulos" acontece por meio do Batismo e do ensino. Essa seqüência também tem levado à conclusão que a comissão de Jesus inclui o Batismo de infantes, seguindo-se a instrução destes.  Contudo, no mandamento batismal, as crianças são tão explicitamente excluídas por serem  pequenas como são explicitamente mencionadas.   A seqüência batizar - ensinar não precisa ser entendida como uma seqüência temporal.  Mesmo que o ensino deva seguir ao Batismo, a proclamação precedendo o Batismo e a aceitação pela fé dessa proclamação poderia ser pressuposta como uma norma. (p.138)

            Defendendo o Batismo infantil, é acrescentado, em parte também na liturgia batismal, a história de Jesus abençoando as criancinhas (Mc 10.13-16;  Mt 19.13-15;  Lc 18.15-17).  A palavra de Jesus "dos tais é o reino de Deus", poderiam talvez ser dispostas como um juízo sintético ao invés de analítico, ou seja, Jesus garante a essas crianças o reino de Deus e por meio da Sua "bênção" concede-lhes a participação nele (Mc 10.16). Porquanto, ser recebido no reino de Deus e comunhão com Jesus não podem ser separados um do outro, é tirada a conclusão desse texto que se Jesus trouxe as crianças a Ele e lhes deu a participação no reino de Deus, a igreja tem o direito e o dever de tornar os infantes propriedade de Cristo mediante o Batismo.  Porém o texto não contém qualquer ordem aos discípulos para  continuarem a bênção das crianças nem um mandamento para batizar as crianças. O texto nada diz diretamente sobre o Batismo. (p.139)

            Uma referência à circuncisão desempenha um papel importante especialmente na tradição da Reforma.  Cl 2.11,ss, chama o Batismo cristão de circuncisão.    A conclusão a que se chegou é que, se a circuncisão era aplicada a infantes na Antiga Aliança. então a igreja tem o direito e o dever de batizar as crianças nascidas nela.  Uma vez que há uma diferença entre a circuncisão e o Batismo apenas na forma cerimonial, porém não na divina promessa  da aliança, também são permitidas e exigidas conclusões por analogia quanto ao momento da circuncisão e o do  Batismo. Porém, é além da dúvida que a diferença entre a Nova e a Antiga aliança bem como a antítese paulina entre o Batismo e a circuncisão não foram suficientemente notadas. (p.139)

   Lutero corretamente empregou o argumento da circuncisão de modo periférico, tendo em vista a diferença entre os dois testamentos e os seus sinais. T.Aquino não usou essa referência. Enquanto reconheceu o significado preparatório e típico da circuncisão, ele enfatiza ou o aspecto novo do Batismo, dado pela vinda de Cristo, superando a circuncisão (p.139).

            Porquanto na visão de Calvino a forma externa, economia e administração, porém não a substância da Antiga Aliança foi mudada na Nova Aliança, o Antigo Testamento pode ser usado também de outro modo para defender o Batismo infantil.  A partir da doutrina da unidade da aliança, é tirada a conclusão que uma vez que as crianças da Antiga Aliança eram uma semente santa, também as crianças de cristãos são consideradas como santas, e por isso elas não devem ser privadas do batismo que é o sinal da Nova Aliança. (p.139)

            Contra o Batismo infantil, o primeiro argumento é que nos registros do Novo Testamento o arrependimento, fé e o desejo pelo Batismo precedem o Batismo e que o candidato deve tomar por si mesmo a iniciativa de vir a ele.  Além disso, a experiência do Batismo no Espírito é com certa freqüência exigido como um pré requisito para a administração do Batismo em água.  Muito embora nos relatos no livro de Atos a aceitação do Evangelho, o arrependimento e a fé precediam a recepção do Batismo, nos relatos batismais das epístolas, raramente é feita referencia à fé que precede o Batismo, e antes à seqüência fé - Batismo.  Eles não estão tratando da experiência batismal como tal, mas sim da obra re criadora de Deus que aconteceu uma vez por todas e que deve ser tomada a sério na fé e conduta constante.  Por outro, os relatos sobre o Batismo no Novo Testamento raramente mencionam o dom do Espírito Santo como que precedendo ao Batismo.  Como regra, esse dom é verificado como um efeito do Batismo (p.140)

            Contra o Batismo infantil também se afirma que ele é geralmente administrado na cristandade ocidental pelo derramar ou borrifar d'água, mas não por imersão, e por isso o ato de ser crucificado e ressuscitado com Cristo não é demonstrado. Contudo, a imersão, na igreja primitiva, não pode ser assumida de modo geral.  A interpretação simbólica do ato batismal provavelmente não se tornou regra na igreja primitiva como é aqui assumida. (p.140)

            A decisão a favor ou contra o Batismo infantil não pode ser tomada com base na pesquisa histórica sobre seu tempo de vigência, nem na apresentação de argumentos bíblicos individuais. Precisamos perscrutar os contextos  teológicos dentro dos quais esses argumentos se tornam válidos.  A afirmação e a negação do Batismo infantil é condicionada primeiramente por exposições compreensíveis e não por argumentos individuais dessa espécie. Quais são esses pressupostos fundamentais? (p.141)

            Deve-se considerar que na luta sobre o Batismo infantil manifestam-se, em parte, as próprias diferenças antropológicas. Isso é evidente especialmente nas afirmação do Batismo infantil por Orígines, Cipriano e Agostinho nas suas referências ao pecado original, enquanto Tertuliano falava sobre uma "idade inocente" na sua crítica ao Batismo infantil.  No entanto, a antropologia não pode ser reconhecida como o pré requisito decisivo para a afirmação ou negação do Batismo infantil.  Ele já era praticado antes da doutrina do pecado original ter sido estabelecida, e Crisóstomo ainda batizava crianças na convicção que elas eram sem pecado. A doutrina do pecado original nunca firmou seu rumo no Oriente com a mesma consistência  como no Ocidente, e mesmo assim o Batismo infantil tornou-se prática geral também no Oriente. Por outro lado, a negação do pecado original não é de forma nenhuma característica do movimento Batismal. (p.141)

            Por mais importantes que sejam as conexões entre o Batismo e a antropologia, os pré requisitos decisivos para defender ou rejeitar o Batismo infantil devem ser procurados na compreensão do próprio Batismo e, intimamente relacionado a ele, na compreensão da igreja.  Somente relacionado a esses dois pré requisitos que a questão controvertida sobre a relação entre a fé e o Batismo infantil pode ser respondida. (p.142)


            c. Deduções a partir da compreensão do Batismo para a atitude em relação ao Batismo infantil

            1. O fato do Batismo infantil ter se estabelecido de forma auto-evidente na igreja antiga,  fundamenta-se em primeiro lugar na certeza que Deus está agindo graciosamente no Batismo.  Mesmo antes de ter sido formulada a doutrina do pecado original, estava presente a percepção da fraqueza e miséria da criança, bem como das tentações e perigos que acompanhariam o  seu desenvolvimento.A criança teria de depender da graça de Deus.  Decisiva para o Batismo infantil foi a convicção que, mediante o Batismo, Deus age com misericórdia também sobre as crianças, tornando-as propriedade de Cristo, e levando-as, pelo Espírito Santo, do domínio do pecado, da morte e do diabo, para a vida dos filhos de Deus.  Também tinham a certeza da obra graciosa de Deus fundamental e uma vez realizada, uma obra que determina e abarca toda a vida posterior do batizado.  Mesmo mais tarde, a prática do Batismo infantil  foi adotada primeiramente por causa desta certeza,  delineada nas afirmações batismais do Novo Testamento. (pp.142,143)

            Quanto maior a certeza que o Batismo é obra salvadora de Deus, tanto maior a certeza que o batizado é apenas o recipiente dela.  Se, porém, o Batismo e a fé são obra salvadora de Deus, então a fé não pode ser considerada unilateralmente como pressuposto e pré requisito para o recebimento do Batismo.  A fé também pode ser esperada como resultado da obra de Deus mediante o Batismo.  Se a fé é entendida como um ato consciente de conhecimento, aceitação e confiança, um ato que se expressa na confissão da fé, então o infante jamais será capaz de fazê-lo antes do Batismo, nem imediatamente após o mesmo. Contudo, o recebimento da obra salvadora que abarca o homem e sua vida toda até a sua morte, não pode ser limitada a atos conscientes da fé, do arrependimento e da confissão.  A obra salvadora de Deus não pode depender da atividade humana.  O limite das possibilidades físicas humanas não é o limite para a graça de Deus. (p.143)

            Batizando as crianças na certeza que elas recebem não apenas um Batismo válido, mas também a graça batismal, a igreja respeita esse mistério da recepção, que não é efetuado somente nos atos conscientes mas é até mesmo o pré requisito para os atos conscientes. (p.143)

            Segundo Agostinho, no Batismo infantil o próprio sacramento toma o lugar da fé exigida da pessoa a ser batizada.  Há uma fé representativa da igreja.  T. Aquino ensinou que o efeito do seu Batismo era o hábito da fé que, posteriormente, possibilitava as obras da fé e o amor durante o crescimento das crianças.  Assim, durante o Batismo a criança recebe não apenas o "caráter" mas também a graça.  Nessa relação os nominalistas falavam geralmente de uma "fé infusa" (fides infusa).  (p.144)

            Para Lutero a fé infantil recebeu ênfase especial no argumento pelo Batismo infantil.  O infante não poderia produzir os atos da fé.  Lutero não descreveu a fé infantil como esperança, obediência, etc.  Para ele a fé era puro dom de Deus por operação do Espírito Santo recebido de forma totalmente passiva.  Isso acontece mediante a Palavra.  A criança jamais pode decidir-se por Deus ou por um ídolo. Numa criancinha a fé infantil é simultânea à Palavra de Deus que se lhe dirige e, por essa razão, é um dom de Deus.  Muito embora essa Palavra de Deus precede o Batismo como sermão ou exorcismo, ela não deve ser separada da promessa que é expressa no Batismo.  Portanto, também Lutero ensinou que a criança recebe não somente um Batismo válido mas também a graça batismal, libertação do pecado e da morte, bem como regeneração e adoção como filho de Deus.(p.144)

            Zwinglio e Calvino igualmente concederam a possibilidade da obra do Espírito nos infantes (Lc 1.15).  É verdade que eles não olhavam para essa atividade como um efeito do Batismo.  Em todo caso, porém, a graça de Deus não depende dos pressupostos psíquicos e decisões concretas do homem.  Nem a criança nem o adulto são capazes de virem à fé por sua própria força. Fé é obra do Espírito Santo. (pp.144,145)

            A fé é efeito do Batismo, mediante o qual Deus opera o começo da atividade do Espírito, uma atividade da qual o batizado mais tarde se torna consciente pela fé e que se torna a resposta do crente na forma de confissão.  Ao mesmo tempo, a admoestação se aplica a um sempre novo firmar-se na obra salvadora de Deus recebida no Batismo e a um morrer com Cristo no arrependimento diário. (p.145)

            2. Contudo, se o Batismo não é entendido como obra salvadora de Deus para o homem, mas como o ato humano de obediência a Deus, como um sinal pelo qual o homem se entrega a Deus, então o Batismo infantil deve ser rejeitado não apenas como um meio da graça, mas também como um Batismo válido.  Considerando-se  que o infante não pode comprometer-se por seu próprio ato de confissão, seu batismo não é Batismo.  Deve ser repetido depois, quando  a criança cresceu e possui uma fé consciente e se tornou capaz de pedir o Batismo e de fazer sua confissão por sua própria decisão.(p.145)

            Quanto mais unilateralmente o Batismo é considerado uma obra humana, tanto menos a fé será entendida  como um meio de recepção, e tanto mais ela adquire características voluntaristas e ativistas.  Como decisão do homem, a fé se torna a condição para o recebimento do Batismo.  No processo não é apenas a fé que permanece a condição.  Agora qualquer coisa que, segundo o Novo Testamento pode ser esperado do Batismo como dom de Deus pode mais ou menos explicitamente ser exigido como pré requisito para o Batismo.  Em muitos textos batistas, a experiência do morrer com Cristo, do Batismo no Espírito e da regeneração já são mencionados como pré requisitos para o Batismo.  Essas experiências são entendidas em parte como resultados da palavra divina, e em parte também como efeitos imediatos do Espírito. (p.145)  Na perspectiva de tal compreensão, as afirmações de Lutero sobre a fé das crianças, e ainda as afirmações de Calvino sobre seu renascimento espiritual devem parecer absurdo (p.146)

            Em suas afirmações sobre o Batismo, Zwinglio se refere menos ao ato pessoal de fé do que ao conteúdo da confissão da igreja. Para Karl Barth o pressuposto decisivo para  o ato de obediência no Batismo é o fato que na morte única de Jesus Cristo todos os homens já morreram com Cristo e já estão justificados.  O Batismo no Espírito, que precede o Batismo, produz o reconhecimento desse fato universalmente válido. (p.146)

            A seqüência temporal, fé - Batismo, tornou-se para os batistas uma lei e norma inalteráveis para a validade ou invalidez do Batismo.  A reflexão sobre o Batismo, pela fé, adquire assim um sentido diferente daquele contido nas exortações do Novo Testamento.  Pois a reflexão não está relacionada com a graciosa obra de Deus no Batismo, mas na obrigação liberada por meio do Batismo. (p.146)

            3. Entre essas conclusões contrárias surgidas de visões contraditórias do Batismo, Zwínglio ocupa uma posição própria, peculiar e auto-contraditória.  A partir da sua compreensão do Batismo como um sinal de obrigação e confissão, a rejeição do Batismo infantil segue-se logicamente, e antes do surgimento dos Anabatistas, Zwínglio fora um tanto logicamente crítico do Batismo infantil.  Infantes não são capazes de confessar sua fé. Porém, ele manteve o Batismo infantil.  Anabatistas antigos corretamente apelavam ao ensino de Zwínglio sobre o Batismo, e quando ele os perseguia estes o acusavam de negar seu próprio ensino. (p.146)

     Não é por acidente que o movimento Anabatista surgiu do círculo íntimo de amigos de Zwínglio.  Muito embora nos seus últimos escritos Zwínglio entendeu o Batismo não apenas como um ato de confissão, mas também como representação da graça, isso ainda não justificava  o Batismo infantil,  pois ele enfaticamente distinguia essa representação da graça da concessão da graça e porque infantes não podem reconhecer tal representação.  É verdade  que entre Zwínglio e os Anabatistas, a despeito da sua compreensão comum  do Batismo como um ato de confissão, haviam diferenças. (p.146)   Zwinglio via esse ato de confissão determinado menos por experiências subjetivas do que pelo conteúdo objetivo do Credo.  (p.147)

            Posteriormente, Zwínglio foi abalado por pretensões entusiastas incidentais sobre a impecabilidade dos rebatizados, e na insistência dos Anabatistas sobre a necessidade do re batismo. Ele percebeu o perigo de se considerar o Batismo um "opus operatum".  Sua verdadeira razão para manter o Batismo infantil pode ser observada não na sua compreensão do Batismo como tal, mas no questionamento Anabatista da ordem civil e especialmente na sua rejeição da unidade tradicional da comunidade cristã e da civil. (p.147)

            O ensino de Calvino difere muito de  Zwínglio.  Aqui o Batismo, em seu aspecto decisivo, é o sinal que Deus dá como garantia da salvação.  Calvino entendeu a confissão do batizado não somente como pré condição, mas também como uma parte do Batismo.  Segundo ele, o Batismo "é a marca pela qual confessamos publicamente que desejamos ser reconhecidos como filhos de Deus". Assim Calvino incorporou a perspectiva de Zwínglio na sua própria definição da essência do Batismo.  Aqui, porém, a confissão adquire um papel decididamente inferior em relação ao significado do Batismo que controla  o todo, a saber, o Batismo como o sinal e selo de Deus.  (p.147)

            Contudo, na teologia de Calvino, os poucos enunciados sobre o Batismo como meio da ação salvadora de Deus recuam completamente  entre a compreensão dominante do Batismo como um meio de prover certeza de salvação, tanto que  o recebimento da salvação e a garantia dela são consideradas atos separados e em geral estão separados no tempo.   Por isso a questão surge aqui também, se o Batismo infantil pode ser justificado com base  numa tal compreensão do Batismo.  Pois o significado causativo do Batismo tem sido tão deturpado ou rejeitado e, ao contrário, o significado cognitivo para  a certeza da fé tem recebido tanta ênfase que não parece lógico batizar crianças que não estão ainda aptas a discernir o sinal divino.  (p.147)

    Mesmo que  Calvino ensine que o Batismo é uma promessa válida para toda a vida do batizado e afirma que  as crianças poderiam ser batizadas em vista da sua fé futura, permanece mais ligado à sua compreensão cognitiva do Batismo e não o administra até que a pessoa seja capaz de reconhecer o signo. (p.147)

            De fato, o ensino de Calvino é diferente de Zwínglio ou dos Anabatistas.  Não se pode deduzir do seu ensino sobre o Batismo que o Batismo infantil seja inútil.  No entanto, surge a pergunta se ele pode ser mantido como a ordem apropriada para a prática batismal.  Essas dificuldades nos auxiliam a entender por que na sua última edição das "Institutas", Calvino dedica maior espaço para uma defesa do Batismo infantil do que o fizera em todos os demais escritos sobre o Batismo.  E essa defesa é feita na base de argumentos individuais sem muita coerência sistemática. Um exame cuidadoso desses argumentos deixa claro que também na defesa do Batismo infantil por Calvino permanece menos da sua compreensão do Batismo do que da sua compreensão da natureza da igreja ou, mais exatamente, da sua percepção da identidade da Antiga e da Nova Aliança. (p.148)

            Se, porém,  a teologia batismal de  Calvino é observada isoladamente da sua compreensão da igreja, poderia parecer que Karl Barth, em "O Ensino da Igreja sobre o Batismo" (1943), onde na maior parte adotou a posição de  Calvino, estava correto ao concluir que o Batismo  infantil não deve ser considerado como a ordem apropriada para o Batismo.  (p.148)

            No entanto, Karl Barth não permaneceu  com  Calvino. No último  volume da sua "Dogmática da Igreja" (IV, 4), explicitamente se afasta de Calvino e da  sua própria posição anterior e afirmou que o Batismo é o ato de obediência da fé, similar  à posição de Zwínglio e dos Anabatistas.  Assim ele rejeitou não apenas  a obra salvadora de Deus mediante o Batismo, como também o Batismo como um sinal divino de garantia.  Não levaria essa compreensão do Batismo à conclusão que o Batismo infantil não é Batismo, uma vez  que nele não há nenhum  ato de obediência e confissão  da  parte do batizado?  Contudo, Barth não chegou a essa conclusão. Enquanto enfaticamente admoestava contra o Batismo infantil, rejeitava o re batismo daqueles  que foram batizados quando infantes. (p.148)

            Há dificuldades e inconsistências também dentro das comunidades batistas onde a exegese histórica mais recente do material do Novo Testamento sobre o Batismo levou o povo a perceber  de novo que lá é afirmado um ato divino re-criador mediante o batismo. (p.149)


            d. Inferências da  compreensão da natureza da igreja para uma  postura  em relação ao Batismo infantil

            A igreja administra o Batismo por ordem de  Deus, e mediante o Batismo a pessoa batizada torna-se membro da igreja. Por isso uma compreensão da igreja é também de grande importância para a questão do Batismo infantil.

            1. Se o Batismo é entendido como obra salvadora de Deus, a igreja confronta o batizado como um instrumento da obra divina. Agindo em obediência ao mandamento de seu Senhor, a ação da igreja é ação de Deus. As palavras "aquele que vos ouve, ouve-me a mim" (Lc 10.16), aplicam-se também ao Batismo.(p.149)  Quando a igreja batiza, Cristo está agindo e o Deus triúno está batizando. Embora a regeneração é a obra do Espírito de Deus, Paulo pode escrever aos Gálatas que ele os gerara e estava novamente sofrendo por eles (Gl 4.19).  No mesmo contexto ele também chamou atenção para a "Jerusalém lá do alto".  Ela é "livre, a qual é nossa mãe" (v.26). "E assim, irmãos, somos filhos não da escrava, e, sim, da livre". (p.150)

             A igreja  é a comunidade de crentes divinamente chamada e ao  mesmo tempo  o órgão  por cuja palavra Deus chama homens à fé e por cujo batizar Deus torna os crentes membros do corpo de Cristo.  Nesse sentido, a igreja existe antes do crente individual.  A igreja não começa a existir pela associação dos crentes, mas é criada por Deus e cresce na medida em que Deus, mediante o serviço dela, constantemente inclui mais pessoas e  as alimenta pela Palavra e a Ceia do Senhor.  Nesse sentido também Lutero chamou a igreja de "mãe dos crentes". (p.150)

            O Batismo é administrado pela igreja local, no entanto, o batizado, por esse meio,  torna-se membro da igreja universal. Muito embora a igreja local é entendida como um órgão da obra salvadora de Deus, devemos prestar atenção à localidade.  O Novo Testamento usa a mesma palavra "eclesia", para designar ambas, a congregação local e a igreja universal.  A última está presente em cada igreja local, pois o mesmo Deus reúne Seu povo em cada congregação.  Tanto a igreja local como a igreja toda são chamadas de corpo de Cristo. Pois Cristo está presente em cada igreja local. (p.150)

      Assim também pelo mesmo Espírito Santo o cristão individual, assim como a congregação local e como toda a cristandade são o templo de Deus.  A validade e eficácia do Batismo não dependem da pequenez ou caráter dúbio da igreja local, pois mediante o batismo Deus faz do homem um membro da sua única santa, católica e apostólica igreja, a comunhão que abarca o espaço e o tempo e inclui a todos os que vivem ao mesmo tempo e àqueles que na fé os precederam - a comunhão dos irmãos e dos pais.  A universalidade que inclui todas as igrejas na terra ao mesmo tempo abarca a continuidade do povo de Deus em peregrinação através dos séculos.  O cristão individual é gerado e alimentado com todos os dons que Deus tem concedido à igreja no passado e no presente - não apenas pela igreja local, mas pela igreja universal. (p.150)

            Portanto, a igreja confronta a pessoa individual a ser batizada como a esfera universal existente do poder de Jesus Cristo.  Deus tornou toda a criação sujeita  ao Cristo exaltado, quer ela o reconheça como Senhor, ou não.  Com uma dinâmica irresistível esse domínio de Cristo acontece no mundo mediante a Palavra e os Sacramentos.  Entregue ao serviço de Cristo como o veículo do seu domínio, a igreja dirige-se ao indivíduo, abarca-o com o amor com que Cristo a amou, gera o novo homem, o erige e alimenta de tal maneira que possa crescer  na compreensão  da fé e tornar-se um instrumento do  Cristo presente e ativo. (p.151)

            A compreensão da igreja impede que se olhe apenas para aquilo que o batizado pode ou não pode ser capaz de fazer no momento do Batismo.  Ela permite, antes, a confiança que Deus age no batizado de variadas maneiras, não somente no momento do Batismo mas também após ele por meio do serviço da igreja, através da proclamação, instrução, da Ceia do Senhor e da intercessão.  Assim Deus fortalece, admoesta e adverte ao batizado a reconhecer e confessar o Senhor a quem passaram a pertencer por meio do Batismo.  Dessa forma, o indivíduo é cercado, gerado e guiado pela fé da igreja no Batismo e após o Batismo. (p.151)

            Essa compreensão da igreja, que também é apresentada nas epístolas de Paulo, especialmente na  carta aos Efésios,  nos ajuda a entender por que o Batismo infantil se firmou de forma tão auto evidente na igreja antiga.  A partir dessa perspectiva, também a seqüência exclusiva fé - Batismo sai pela beira da estrada.  Agora, a conexão entre fé e Batismo deve em todos os casos ser decisivamente mantida, porém aqui a fé é esperada também como um fruto do Batismo e a atividade posterior de Deus através da igreja.  Por isso Agostinho ensinou que o sacramento do Batismo, como algo administrado pela igreja que crê, toma o lugar da fé da criança.  T. Aquino apontou enfaticamente para a fé vicária dos pais e padrinhos e, por meio daquela, para a fé da igreja que poderia suprir até mesmo a fé perdida dos pais. Lutero rejeitou a idéia de uma fé vicária, porém em sua Ordem do Batismo exortou firmemente aos pais e padrinhos a fazerem intercessão pela criança a ser batizada e a crer que essa prece seria ouvida. (p.151).

            2. Se  Batismo é entendido como um ato de obedi6encia da parte do batizado, a igreja não confronta a pessoa a ser batizada como o veículo palo qual o Deus batizante o justifica, santifica e regenera.  Ao contrário, o candidato ao Batismo aparece como alguém já justificado, santificado e renascido e se junta a si próprio àqueles que por meio do Batismo confessaram a sua fé e se comprometeram à vida dos justificados, santificados e renascidos.A incorporação passiva ao corpo de Cristo mediante o Batismo é substituída pelo evento ativo do vir ao Batismo e à igreja.  O ato de ser reunido e unido por meio da obra salvadora de Deus no Batismo é substituído pelo ato subjetivo do reunir e unir por meio do ato de confessar no momento do Batismo.  Aqui a igreja não confronta o pecador como a mãe que o gera por meio do Batismo, antes, porém, os crentes se formam a si mesmos dentro de uma igreja por meio de uma obrigação batismal. (p.152)

            Uma vez que não apenas o Batismo, mas também a Ceia do Senhor são vistos como atos de confissão, e uma vez que posteriormente o sentido criador da fé pela Palavra proclamada seguidamente recua entre experiências do Batismo no Espírito, regeneração e santificação que então levam ao Batismo, a compreensão da igreja como o órgão da obra salvadora de Deus é, por último, deturpada.   Quanto mais o imediatismo da experiência espiritual individual é enfatizada como pré condição ao Batismo, tanto mais a igreja é encarada como uma associação daqueles indivíduos que tiveram experiências similares. (p.152)

            Acima da atividade instrumental da igreja surge então ainda uma outra função:  A igreja prova a fé, o arrependimento e a regeneração daqueles que desejam o Batismo, e exige deles a obrigação de se submeterem à sua disciplina. (p.152)  A admoestação e disciplina eclesiástica de fato pertencem à tarefa da igreja.  Contudo, essa tarefa adquire um significado alterado quando a igreja não é mais entendida em primeiro lugar como o instrumento da obra salvadora de Deus.  O imperativo de admoestação e ameaça que a igreja deve proclamar não é mais a mesma quando ela está desvinculada da sua base indicativa no Batismo.  Isso resulta em mudanças de ênfase na direção do legalismo que, freqüentemente, na história do movimento Batista tem conduzido a cismas. (p.153)

            Se a congregação surge como resultado de um ato de obrigação dos crentes,  e se com a rejeição de uma função sacramental da parte da igreja a função da disciplina eclesiástica vem primeiro, então a compreensão da igreja estará centrada, às expensas da igreja universal, no ato de unir localmente sob a obrigação assumida no Batismo.(p.153)

            Os reformadores reconheceram o Batismo dentro da igreja papal mesmo durante os conflitos mais sérios. Concederam a presença de crentes e regenerados entre a igreja papal, e assim afirmaram a continuidade da igreja através dos séculos.  Entre os círculos Batistas logo surgiram questionamentos no sentido que a igreja cristã primitiva não teve continuidade nem na Igreja Romana, nem nas igrejas da Reforma.  Declararam que ao ser introduzido o Batismo infantil, foi rompida a continuidade da igreja.  Tentaram de todas as formas redescobrir a igreja na história das heresias.  Quanto mais a obra salvadora de Deus por meio da Palavra e dos Sacramentos é negada, tanto mais desaparece a certeza sobre uma única igreja universal que conduz o indivíduo e se manifesta na congregação local como comunhão dos irmãos e pais de todos os lugares e épocas. (p.154)

            A diferença entre a compreensão própria das igrejas que praticam o Batismo infantil e a daquelas do movimento Batista chegaram a um ponto em que as últimas rejeitaram a combinação de igreja e estado que se consolidara por si mesma desde Justiniano, tanto no Oriente como no Ocidente, e que também os reformadores haviam mantido. A atitude dos Batistas em relação ao estado não era uniforme.  Hubmaier, em 1525, foi capaz de induzir uma comunidade política da cidade de Waldshur como um todo a tornar-se Batista.  Em 1534/35, os Anabatistas assumiram o poder civil para estabelecer o milênio.  Contudo, de um modo geral, era característico dos Anabatistas desde o começo adotar uma posição crítica em relação a ofícios civis - em parte até mesmo implicando numa rejeição de juramentos e serviço militar. Eles também negaram a identidade da cidadania e membresia da igreja que estava implícita na idéia de um corpus christianum. (p.154)

            Isso levou a um abandono a favor de igrejas voluntárias que foi significativo para a história da igreja.  Essas igrejas foram vigorosamente suprimidas pelo estado.  Essa perseguição sangrenta formou a auto-compreensão das igrejas Batistas para os tempos atuais.  Não se deve ignorar que mesmo onde outras igrejas posteriormente se separaram da concepção do corpus christianum e tornaram-se igrejas livres, permanece uma diferença entre sua compreensão da igreja e a dos Batistas. (p.154)

            É possível derivar a compreensão batista da igreja de sua maneira de compreender o Batismo.  No entanto, mais provavelmente a sua rejeição ao Batismo infantil deve ser derivada da compreensão que possuem da igreja. (p.154)  A questão Batista era com respeito a um movimento de santificação que envolvia todas as funções da vida, determinadas em parte biblisticamente e, em parte, mais espiritualisticamente.  Foi um movimento que exigiu um repúdio a ordens eclesiásticas e civis tradicionais e uma decisão radical da parte do indivíduo.  Com base nessa compreensão da igreja a seqüência temporal fé-Batismo não recebeu mais que um significado constitutivo, e cada Batismo recebido sem uma decisão de fé devia ser considerado nulo e vão. (p.155)

            3. A compreensão da igreja também pode nos auxiliar agora a entender as inconsistências próprias que nos golpeiam na atitude de Zwínglio, Calvino e K.Barth, sobre o Batismo infantil. (p.155)

            Mesmo que Zwínglio e os Anabatistas concordem na perspectiva da sua compreensão do Batismo, sua atitude oposta em relação ao Batismo infantil provém da sua diferente compreensão da igreja. Segundo Zwínglio, assim como todas as crianças geradas no seio do povo da aliança do Antigo Testamento são participantes da promessa que Deus deu a esse povo, assim também as crianças de pais cristãos são membros do povo de Deus do Novo Testamento. Como a circuncisão afirma às crianças israelitas aquilo que são por descendência física, também o Batismo é o sinal pelo qual a igreja reconhece e designa-as como seus membros gerados em seu meio.  Como na Antiga Aliança a ordem legal do povo possuía o caráter de lei sagrada, também as ordens da igreja e do estado andam juntas (embora, é verdade, devem ser feitas diferenciações entre o ofício civil e o eclesiástico e suas funções específicas), e a comunidade cristã e os cidadãos não devem ser separados.(p.155)

            Nessas concepções as diferenças entre a Antiga e a Nova Aliança bem como entre o Batismo de João e o Batismo cristão, e a dialética Neo Testamentária de unidade e diferenciação do povo de Deus do Antigo e Novo Testamentos tem sido diminuídos de maneira peculiar ou completamente ignorados.(p.155)  Apesar de rejeitar uma atividade graciosa de Deus mediante o Batismo, Zwínglio insistiu no batismo infantil porque as crianças de pais  cristãos já são membros do povo de Deus do Novo Testamento.  Apesar do fato que era impossível para as crianças se comprometerem pelo Batismo, Zwínglio ordenou seu Batismo como um sinal pelo qual a igreja as reconhecia como seus membros e assumia as responsabilidades do ensino cristão. (p.156)

            Obviamente, também Calvino fundamentou o Batismo infantil sobre seus argumentos eclesiológicos.  A regeneração das crianças e sua incorporação ao povo de Deus não são esperados do Batismo. Ao contrário, o Batismo infantil é sustentado pelo argumento que as crianças dos pais cristãos já são membros do povo de Deus, renascidas e santificadas.  Calvino admitia a possibilidade da ação do Espírito Santo já no feto no ventre da mamãe.  Ele não esperava que essa ação ocorresse no Batismo, no entanto, se refere a ela em defesa do Batismo infantil.  Para ele, assim como para Zwínglio, a unidade da Antiga Aliança e da Nova, do povo de Deus daquela e desta alianças, e a identidade substantiva da circuncisão, do Batismo de João e do Batismo cristão constituem o argumento principal, embora, diferenciando de Zwínglio, Calvino as considera como promessa e sinais de Deus.(p.156)

            O fato que K.Barth, apesar de toda a sua crítica, mantém a validade do Batismo infantil e é por isso diferenciado dos Batistas,  deve-se, em última análise, à sua eclesiologia.  Essa reserva não pode ser explicada somente pela sua compreensão do Batismo.  É verdade que a sua compreensão da igreja começa com a congregação individual, é essencialmente crítico dos ofícios supra congregacionais e mantém-se próximo ao congregacionalismo. Agora, em sua Dogmática cristã, ele ensinou que na congregação local a realidade da "uma, santa igreja cristã e apostólica" está presente e transcende os limites das denominações. Esse reconhecimento das dimensões ecumênicas da igreja torna compreensível a sua aceitação do Batismo infantil. (p.157)


            e. A justificativa dogmática para o Batismo Infantil.

            Precisamos distinguir entre o problema dogmático e o problema prático do Batismo infantil.  Como o último depende do primeiro, começaremos com este oferecendo fundamento para a defesa do Batismo infantil por meio das seguintes 12 teses: (p.157)

            1. Embora não haja nenhuma palavra explícita do Senhor ou de algum apóstolo que ordene ou proíba o Batismo infantil, a questão sobre o mesmo de maneira alguma é entregue à decisão arbitrária da igreja.  Pelo contrário, a igreja batizará as crianças somente se ela tiver certeza que esta é a forma de agir em obediência da fé à tarefa divina que lhe foi entregue. (p.158)

            2. Batizando as crianças que crescerão no seu meio, a igreja reconhece que todos os homens são gerados sob o domínio do pecado e da morte.  Mesmo que os infantes não tenham se rebelado contra Deus por sua própria decisão e são diferentes dos pecadores adultos nesse aspecto, elas não podem por sua própria decisão livrar-se dessa escravidão enquanto crescem (Jo 3.3-6). Não é pelo nascimento físico que o homem entra no Reino de Deus, mas sim pelo seu renascimento. (p.158)

            3. Batizando crianças, a igreja reconhece a vontade salvadora revelada de Deus que todos os homens são salvos por Jesus Cristo e pelo poder do Espírito Santo.  A partir de Mc 10.13-16, a igreja sabe que essa vontade salvadora é estendida também às crianças.  Embora aquele texto nada diga sobre o Batismo das crianças, ele, no entanto, afirma que ao abençoá-las Jesus lhes concede participação no Reino de Deus por meio do Batismo. (p.158)

            4. A igreja batiza crianças na convicção que por meio do Batismo Deus as entrega a Jesus Cristo, crucificado e ressurreto, como seu Senhor.  A igreja crê que por meio do Batismo Deus abarca toda a vida posterior da criança de maneira salvadra entregando-a à morte de Cristo para que possa participar da Sua vida da ressurreição. (p.158)

            5. A igreja batiza crianças na convicção que através do Batismo Deus lhes concede o Espírito Santo que as conduz à verdade.  O começo da ação do Espírito no homem não está preso ao pressuposto do reconhecimento e confissão humanos, mas o Espírito Santo é o dom por meio do qual somente o homem pode ser despertado ao conhecimento da fé. (p.158).

            6. A igreja batiza suas crianças na convicção que mediante o Batismo Deus as torna membros da igreja, do corpo de Cristo, e do sacerdócio real do povo de Deus.(p.158)  Mesmo que as criancinhas ainda não possam lutar a luta da fé, dar testemunho de Cristo perante o mundo e interceder pelo mundo, no entanto, elas são testemunhas de uma maneira diferente, a saber, na sua necessidade não disfarçada e sua dependência sem fingimento de Cristo, de quem receberam a vida.  Nesse sentido Jesus exaltou as crianças diante de Seus discípulos como exemplos (Mt 18.3) (p.159)

            7. Batizando as crianças a igreja está confiando que Deus ouvirá as preces com as quais as crianças são trazidas ao Batismo e pelas quais o seu desenvolvimento será acompanhado.  Há petições por dons  terrenos  que apenas podem ser oradas sob a condição: "Seja feita a tua vontade, não a minha".  Não há dúvidas quanto à vontade de Deus de conceder o seu Espírito Santo sempre que for pedido.  Por isso, o batizante, os pais e os padrinhos, junto com a congregação, devem orar sem cessar que Deus despertará o batizando ao arrependimento e à fé. (p.159)

            8. Batizando as crianças, a igreja confia que  Deus provará seu poder por meio do Evangelho  com o qual a igreja acompanhará a vida das crianças batizadas.  O Evangelho é uma Palavra divina de ação, um poder de Deus, e a Ceia do Senhor é a comunhão do corpo e do sangue de Jesus Cristo.  De olho no crescimento das crianças em seu meio, a igreja deve ter a confiança que pela afirmação, admoestação e instrução, bem como pela absolvição, a Ceia do Senhor e a bênção, Cristo provará ser seu Senhor e Salvador e que o Espírito Santo as enriquecerá com os Seus dons e as guiará. (p.159)

            9. Batizando crianças a igreja reconhece que não somente a salvação dos crentes, mas também a origem e a preservação da sua fé são obra de Deus que Ele realiza mediante o Evangelho e os sacramentos no poder do Espírito Santo.  (p.159)

            10. Batizando crianças, a igreja reconhece que fé e Batismo andam juntos.  A igreja batiza as crianças que crescerão em seu meio, e ela faz assim pela fé na obra salvadora de Deus que, por meio do Batismo as entrega a Cristo, e por meio do Evangelho Deus continua chamando à fé e fortalecendo a fé.  Portanto, a igreja batiza de fé em fé (p.159)

            11. Batizando as crianças, a igreja sabe que a seqüência temporal da fé e do Batismo tem sido relativizada pela atividade escatológica de Deus.  Pois no Batismo Deus envolve toda a vida passada do batizado bem como aquela que ainda pertence ao futuro. A seqüência temporal de eventos no decurso da vida tem sido escatologicamente anulada no Batismo.  O batizado já experimentou em Cristo sua futura morte, e a vida de quem ressuscitou dentre os mortos já se abriu para ele.  Nessa irrupção escatológica a questão se a fé da pessoa a ser batizada deve necessariamente preceder o Batismo se torna inútil, e a sequência temporal entre fé e Batismo não pode ser a norma de validade.  Contudo, a conexão entre a fé e o Batismo que abarca o curso da vida é decisiva:  Aquele que não crer não participará na salvação, a despeito do Batismo que recebera.  Uma vez que a fé e o Batismo andam juntos, a igreja batizará somente àquelas crianças que crescerão sob o testemunho da fé. (p.160)

            12. Portanto, a igreja, batizando as crianças geradas e crescidas em seu meio, está ciente de que ela atua em obediência de fé à comissão de seu Senhor, que a enviou a fazer discípulos de todas as nações, pelo batizar e ensiná-los (Mt 28.19,20). Batizando as crianças antes delas mesmas poderem conhecer e confessar a Cristo, a igreja não está negligenciando a sua decisão de fé, mas está antes auxiliando-as a chegarem ao Sim da fé.  A igreja não está violando a sua liberdade, mas ajudando-as a usar da liberdade da fé. (p.160)


            f. Os problemas práticos do Batismo infantil

            Em algumas áreas das igrejas da Reforma, bem como também da Romana e Ortodoxa há grandes massas de pessoas batizadas que não vão a igreja, não oram e se recusam a fazê-lo.  No entanto, eles desejam batizar seus filhos. Não estão dispostos a orar com eles, a introduzi-los na Bíblia e acompanhá-los ao culto.  Nem escolhem padrinhos na perspectiva de servirem como testemunhas que intercedem pelas crianças.
     Esses desejam que seus filhos sejam batizados porque o Batismo infantil é costumeiro, e com a observância desse costume associam uma variedade de idéias deturpadas sobre o Batismo.           Consideram o Batismo uma espécie de ato de iniciação, qual seja, um ato de recepção na sociedade.
     Vêem o Batismo como admissão a um auxílio para treinamento moral que a igreja providencia por meio da instrução.
     Entendem o Batismo como uma oferta de ajuda divina sem quaisquer obrigações.
     Levam suas crianças ao Batismo numa expectativa vaga e mágica de alguma proteção eficaz que não desejariam negligenciar aos seus filhos.
     Dessa forma, a promessa de conduzir as crianças de maneira cristã não é feita com sinceridade.  Ela é reduzida a um enviar as crianças à instrução da igreja.  No entanto, as crianças crescem na família num meio ambiente intelectual que a palavra da igreja confronta como um estranho. (p.161)

            Que deve a igreja fazer nessa situação?

            Como norma as igrejas mencionadas administram o Batismo também nesses numerosos casos.  Elas o fazem mesmo que, entre o grande número de batizados, o número de cristãos que participam do culto e são enriquecidos e guiados pela Palavra e os Sacramentos se tornou tão pequeno que este grupo não consiga abarcar e carregar espiritualmente todos os batizados na medida em que se desenvolvem.  Ao mesmo tempo, o número de pastores em relação ao de batizados é geralmente tão pequeno que é impossível prestar o cuidado e a atenção necessários a cada pessoa batizada e sua família.  Por isso os pastores e suas congregações não são capazes de ter as massas de batizados como aqueles que reconhecem a igreja como a esfera de vida que os envolva a todos. (p.161)

            Há várias razões por que a igreja apesar de tudo continuou a prática do Batismo infantil. Em parte os homens fixam seu olhar à realidade eclesiástica e tentam manter a idéia que o número de batizados determina qual é o povo da igreja.  Outros vêem o Batismo como um elo que ainda estabelece um contato com a igreja para aqueles que se afastaram.  Acima de tudo, é esperado que Deus agirá na pessoa através do Batismo, mesmo que os motivos por detrás do desejo pelo Batismo são estranhos à essência deste, e que mais tarde, a despeito de todos os obstáculos, a instrução da igreja fará os batizados tomarem conhecimento do que iniciara neles no Batismo e levá-los-á a afirmá-lo. (p.162)

            Muito embora o Batismo seja administrado pela fé, ele não é desejado por fé e nem recebido mediante fé.  A comunhão dos crentes que deve ser o círculo mais próximo a cercar a criança no momento do seu Batismo e na medida em que ela cresce com intercessão e testemunho, na realidade, em grande parte, desaparece.  O lar da criança impede o seu crescimento na fé e na vida de adoração.  A instrução da igreja consegue desfazer o dano somente com grande dificuldade, ou nem o consegue em muitos casos.(p.162)
     Situações de crianças de lares não ligados à igreja que tem se tornado testemunhas vivas da fé cristã não nos devem impedir de perceber a regra geral, nem podem tais situações ser aduzidas como prova que o Batismo infantil é a prática correta. Por essa prática, na verdade, incontáveis pessoas são tornadas em membros mortos da igreja.  Pois aqui o batismo está separado não apenas da fé daqueles que o desejam, mas também da obra salvadora divina que aponta para o acompanhamento e tomada de toda a vida humana mediante a Palavra e o Sacramento. (p.162)

            Esse problema não pode ser resolvido se as igrejas continuam a insistir em oferecer o exigido de todos os que por qualquer razão e intenção trazem suas crianças ao batismo.  Tais motivos e aspirações devem ser tomados mais seriamente do que é o caso geral.  Se a igreja tolera ou ainda aceita as incontáveis expectativas deturpadas dos pais ao trazerem suas crianças ao Batismo, se, por exemplo, a igreja interpreta as expectativas mágicas de proteção como esperanças da obra salvadora de Deus, então ela torna-se uma aliada de tais noções deturpadas. (p.162)

            Se a igreja, em sua proclamação batismal, ainda se adapta a tais esperanças e proclama o Batismo como sendo apenas uma oferta ou somente ação de graças, e não como um ser entregue à morte de Cristo e ser posto sob o Seu domínio, então a igreja trai o Batismo para o qual ela fora comissionada a administrar.  Não pode ser tarefa da igreja batizar cada criança das pessoas batizadas. (p.163)

            Esse problema, por outro lado, também não pode ser solucionado, a princípio, pela renúncia da igreja ao Batismo infantil.  Nós podemos passar por cima das dificuldades práticas envolvidas em tal quebra da tradição.  Sempre que o Batismo infantil tem sido abolido, ou onde grupos se posicionaram contra o Batismo infantil, considerando-o inválido e, por isso, rebatizaram, ocorreu maior ou menor diluição ou perversão da compreensão Neo Testamentária do Batismo.  Desde que o Batismo infantil, em princípio, é  defendido, o abuso do mesmo não pode ser removido se a igreja nega a exigência dos pais que crêem em Cristo  e com isso impede seus filhos de receberem a obra salvadora de Deus que acontece no Batismo.  Assim também não há qualquer testemunho a essa obra salvadora se os cristãos recusam-se a permitir o batismo de suas crianças em sinal de protesto contra o abuso do Batismo infantil. (p163)

            As duas recusas acima indicam o ambiente dentro do qual deve ser buscada a solução para o problema surgido com a prática do Batismo infantil. O caminho deve ser a análise, caso a  caso, de pais e padrinhos que desejam o batismo de uma criança.  Deve-se examinar a sua fé, sua participação nos cultos, sua compreensão do Batismo, etc.  Com base nesse exame, deveria, então, ser afirmado ou rejeitado o desejo pelo Batismo.  É claro que esse procedimento poderá levar a outros perigos extremamente grandes. Como pode a fé dos aplicantes do Batismo ser determinada com certeza?   Não existe, porventura, descrença também entre aqueles que regularmente frequentam a igreja, se unem na confissão do Credo e estão aptos a dar informação correta sobre o ensino do Batismo?  Por outro lado, não é verdade que também fora das fileiras daqueles que se consideram bons cristãos existe a fé, qual seja, a súplica: "Eu creio, Senhor, ajuda-me na minha falta de fé"? (p.163)

            Tais questões devem ser dirigidas aos defensores e aos oponentes do Batismo infantil da mesma maneira.  Nem os grupos Batistas podem evadir-se delas.  Lá também o problema do "Batismo de crentes" tornou-se manifesto em conexão ao desenvolvimento das crianças de gerações posteriores.   Atrever-se-ia a igreja esquecer que, segundo o Evangelho, Jesus foi abandonado na cruz por todos os Seus discípulos enquanto aquele malfeitor e o capitão pagão foram os primeiros a confessar a majestade do crucificado?  Se a igreja toma para si a tarefa  de estabelecer a linha divisória entre fé e descrença de um modo judicial e fazer a administração do Batismo depender desse julgamento, ela confronta o homem com sua prática batismal não como igreja do Evangelho, mas como um advogado da Lei.  Ainda mais, a igreja estará antecipando o julgamento que Deus tem reservado para Si.(p.164)

            A eliminação dos abusos que estão ligados à prática do Batismo infantil deve começar a acontecer com o Evangelho, ou seja, relembrando aos que desejam o Batismo para seu filho a obra salvadora que Deus operou por eles no Batismo.  Essa re memorização acontece pela proclamação e pela instrução.  A obra salvadora deve ser-lhes apresentada sem qualquer diminuição ou concessão aos seus preconceitos deturpados em toda a sua agressividade, como um ato de ser entregue à morte de Jesus, como uma sujeição ao domínio de Cristo, como um ser entregue à esfera do poder do Espírito Santo.  Eles devem ser confrontados com base no fato que mediante o Batismo Deus abriu uma nova possibilidade à existência humana.

     O costume do Batismo infantil que se tornou questionável deve ser quebrado por meio da mensagem agressiva e libertadora da obra salvadora de Deus.  E aqueles que desejam o Batismo devem, por meio  dessa mensagem, ser honestamente colocados perante a decisão se eles desejam esse Batismo para as suas crianças, qual seja, se eles esperam que a criança seja entregue à morte de Cristo e assim libertada do seu domínio próprio, no sentido que a criança possa viver sob a orientação de Cristo, proclamado juntamente como Senhor dos pais, dos padrinhos e das crianças. A igreja pode esperar reduzir o abuso que amplamente invadiu a prática do Batismo, não chutando para fora aqueles que se tornaram  alheios à igreja, mas sim, pregando-lhes o Evangelho. A proclamação da obra salvadora de Deus mediante o Batismo deve ser feita tão inequívoca e claramente que os próprios batizados levantarão questionamento se eles esperam trazer seu filho ao Batismo. (p.164)

     Se o Batismo se tornou apenas um mero costume sem conteúdo, ele deve ser questionado pela clareza da mensagem e pela mudança em direção a uma decisão responsável em razão da mensagem e da salvação que os adultos primeiro receberam e que é agora oferecida aos seus filhos. (p.165)

            Na prática isso significa que a discussão com pais e padrinhos sobre o Batismo deve ser incomparavelmente maior do que é o caso geral.  A conversação não pode limitar-se ao momento de se tornar um membro da denominação ou para fazer os preparativos do lugar e combinar  a data do Batismo, ou somente tratar da conduta própria na hora da cerimônia.  Ao contrário, a conversa deve  ser em torno da obra salvadora de Deus que aconteceu para os pais e padrinhos e  agora ocorrerá para a criança.  Pais e padrinhos devem ser examinados quanto aos motivos e conceitos do seu desejo pelo Batismo e, com base nesse diálogo serem novamente encarados com a decisão se eles desejam que sua criança receba o Batismo cristão. (p.165)

            A igreja não deveria impor o Batismo àqueles pais que não fizeram preparativos para o Batismo de suas crianças ou que decidem contra o mesmo após sua conversa sobre o Batismo.  A igreja deveria ir a esses pais e suas crianças de outra maneira e esperar até elas pedirem o Batismo pela fé.  A igreja deveria recusar-se a batizar as crianças daqueles pais e padrinhos que, mesmo após clara instrução sobre as implicações do  Batismo, insistem no Batismo das crianças não obstante a sua explícita rejeição da fé cristã e sua recusa a prometer um treinamento cristão para as suas crianças.  Nem deveria ser excluída a possibilidade de suspender o Batismo infantil, temporariamente, numa congregação morta, onde o culto não ocorre mais, até que um novo desejo pelo Evangelho se manifeste. (p.165)

            As igrejas devem estar conscientemente preparadas para a eventualidade que ao longo do Batismo de crianças o Batismo de adultos se tornará mais e mais freqüente e que o costume da igreja antiga será revivido.  Também se tornará uma prática auto-evidente batizar lado a lado os adultos que desejam o Batismo como resultado da sua própria decisão de fé, e batizar as crianças que são trazidas ao batismo como resultado da decisão de fé dos seus pais. (p.165)


            5. A Mais Profunda Diferença na Compreensão do Batismo.

            Faz diferença se a doutrina do Batismo deve ser apresentada como oposição ao aviltamento espiritualista ou ao abuso mágico do mesmo.  Por isso, no primeiro caso, o acento é dado na graça que é eficaz pelo Batismo, enquanto no segundo a ênfase recai sobre o sinal que promete a  graça.  Considerando-se as várias frentes de luta, diferentes afirmações dogmáticas podem ser entendidas como ensino verdadeiro sobre o mesmo Batismo ou como um  corretivo complementar necessário. (p.166)

            O mesmo é verdade com relação aos conceitos usados pelos vários ensinos sobre o Batismo.  Seria uma deficiência no dogma e na dogmática se esses se limitassem ao uso de conceitos Bíblicos. Assim como muitos conceitos do Novo Testamento sobre o Batismo foram tomados do contexto helenístico e transformados, assim também o ensino seguinte sobre o Batismo corretamente emprestou outros termos de outros contextos e os colocou ao serviço do ensino da igreja.(p.166)  É dessa forma que a mensagem sobre Cristo avançou no mundo.  O Oriente usou  o termo mistério, enquanto o Ocidente usou o termo Sacramento.  Também a distinção entre visível e invisível foi definida de modo diferente. Isso, porém, não implica necessariamente uma antítese.  Concordâncias e diferenças não resultam ainda de uma comparação verbal das afirmações, mas somente quando tentamos traduzir dum contexto conceptual para outro.(p167)

            Não menos importante é tratar da estrutura em que as afirmações dogmáticas são elaboradas e da instância existencial da qual são feitas.  Afirmações sobre o Batismo soam diferentemente quando elas são feitas na estrutura elementar de convite a um recebimento do Batismo na fé, da promessa de graça quando o Batismo é administrado, e duma  lembrança exortativa do Batismo, ou quando tais enunciados são compostos na forma de uma definição refletiva das relações entre Palavra, água e graça. Elas soam diferentemente quando convocam a uma recepção pela fé e advertem contra uma recepção incrédula, ou quando, no decurso da reflexão, são desenvolvidos conceitos por meio dos quais a relação é esclarecida entre um recebimento crente do Batismo e seus resultados e um recebimento incrédulo. Tais afirmações reflexivas, porém, têm um caráter secundário (p.167)

            Em princípio, a diferença ou a identificação nos ensinos batismais somente podem ser estabelecidas se nós não paramos nas diferenças, mas procuramos trasladar enunciados reflexivos para dentro dos próprios princípios elementares que são determinados por um ato de recebimento crente do Batismo.  Assim podemos lidar com os conceitos de Agostinho e de Calvino, procurando descobrir o que pode ser reunido dessas afirmações para a fé e a proclamação.  De qualquer forma, o ensino de Calvino sobre o Batismo não foi considerado pelas Confissões Luteranas o divisor da igreja, mas sim a sua interpretação da Eucaristia. Evidentemente que a tradução estrutural não consegue resolver todas as diferenças, porém ela pode desenterrar proximidades surpreendentes ou ainda concordâncias. (p.168)

            Permanece, no entanto, uma diferença após tais tentativas necessárias de  tradução e que pode ser considerada uma antítese dentro da variedade de teologias batismais que surgiram na história da igreja.  Essa  antítese é a compreensão do Batismo como obra de Deus  ou como obra humana, como o sinal dado aos homens por Deus ou como o sinal da auto-obrigação humana diante de Deus.(p.168)  O Batismo é ainda administrado pelos homens, porém Deus age através dessa administração. A graça batismal é obtida pela fé, porém essa fé é o ser tomado  pela atividade de Deus, é  a recepção da graça batismal. Como sinal da promessa o Batismo faz a fé ter certeza da  salvação;  contudo, o crente não herege esse sinal, porém ele o recebe. (p.169)

      A  diferença mais profunda segue seu rumo não entre a Igreja Oriental e Agostinho, nem entre Tomás  e Lutero, nem ainda entre Lutero e Calvino, porém entre todos estes desse lado e Zwínglio e os Batistas  do outro.  A maior  diferença não é o reconhecimento ou não do batismo infantil, mas a compreensão do Batismo como obra de Deus  ou como obra de obediência do homem.(p.169)

            Outrossim, essa antítese  entre os dois existe entre  as seguintes coisas que eles têm em comum:  Mesmo  onde o Batismo é entendido como obra humana, isto não significa de modo algum que o mesmo teve sua origem no homem.  Ao contrário, ele é exigido em obediência à instituição de Deus.  Ambos os lados ensinam a necessidade do Batismo. Mesmo onde o Batismo não é visto como um meio de salvação, o assunto é a salvação.  Ambos os lados afirmam a salvação por Cristo somente e a necessidade da regeneração. Mesmo onde a regeneração é vista   como pressuposto e não como efeito do  Batismo, é mantida uma conexão entre  a regeneração e o Batismo. (p.169)

     As igrejas que batizam infantes de maneira alguma abandonaram a ligação entre o  Batismo e a fé.  Muito embora o infante ainda não possa receber o Batismo pela fé, o mesmo é efetuado com vistas  à fé que  Deus criará na pessoa mediante o Batismo, a proclamação, e em resposta à intercessão.  Em ambos os lados a corelação ente fé e salvação recebe  destaque, muito embora a coordenação temporal seja diferente.    Ambos reconhecem a graça como fonte da nova vida, quer seja essa fé concebida como pressuposto ou  como efeito do Batismo. (p.169)

            Não se deveria focar imediatamente as diferenças de compreensão da fé, da graça e da regeneração, e da  necessidade do Batismo, mas fixar-se no que todos têm em comum a despeito das diferenças.  Contudo, essas posses comuns não anulam as antíteses.  Se a despeito dessas posses comuns o reconhecimento mútuo do Batismo é negado - a saber o Batismo infantil pelos Batistas e seu re batismo pelas  outras igrejas - torna-se evidente quão profunda e divisivamente essa antítese perpassa a vida da cristandade. (p.169)

            Outrossim, não podemos nos satisfazer com uma mera comparação dos princípios da doutrina e prática do Batismo. Devemos considerar também a realidade da vida eclesiástica, uma realidade que de modo algum coincide sempre com aqueles princípios.  Precisamos, por isso, distinguir entre a compreensão da igreja e a realidade da igreja(p.170) 

            Há igrejas cuja auto compreensão é determinada  por Paulo, especialmente pela sua carta aos Efésios, mas em cuja realidade nem a comunhão de dons carismáticos nem  o dinamismo espiritual de um avanço missionário pelo mundo pode ser reconhecido.  Essas igrejas não cercam as crianças batizadas que  crescem em seu meio com oração e testemunho de maneira tal consistente com a sua compreensão de igreja. (p.170)

            Do outro lado há relações de  comunhão nas quais o individuo se reconhece salvo e renascido pela admoestação e intercessão, mesmo que a igreja não seja aqui  entendida como a "mãe" que gera os crentes, mas como a assembléia que é constituída pela união dos indivíduos através do ato confessional do seu Batismo. Embora esses grupos não começam teologicamente com o conceito da igreja como a realidade dada que na sua continuidade e universalidade perpassa e preenche as eras e o cosmos, tais comunhões, e especialmente a radicalidade de suas exigências a renunciar ao mundo, de fato com freqüência demonstraram um avanço dinâmico no mundo que tem passado à frente de qualquer igreja que se entende como esfera do domínio universal de Cristo porém se confina a preservar o seu próprio status. (p.170)

            Apesar do fato que não podemos evitar a rejeição da compreensão Zwingliana e Batista do batismo, estamos obrigados a anotar os perigos ligados à nossa própria compreensão do Batismo e da igreja e as possibilidades positivas que não são esquecidas na compreensão batista do mesmo. (p.171)

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1 CO 1.18-25 1 CO 12.2 1 CO 15.20-28 1 CO 15.50-58 1 CO 2.1-5 1 CO 6.12-20 1 CO2.6-13 1 CORÍNTIOS 1 CR 28.20 1 JO 1 JO 1.1-10 1 JO 4.7-10 1 PE 1.13-21 1 PE 1.17-25 1 PE 1.3-9 1 PE 2.1-10 1 PE 2.18-25 1 PE 2.19-25 1 PE 2.4-10 1 PE 3.13-22 1 PE 3.15-22 1 PE 3.18-20 1 PE 4.12-17 1 PE 5.6-11 1 PEDRO 1 RS 19.4-8 1 RS 8.22-23 1 SM 1 1 SM 2 1 SM 28.1-25 1 SM 3 1 SM 3.1-10 1 TIMÓTEO 1 TM 1.12-17 1 Tm 2.1-15 1 TM 3.1-7 1 TS 1.5B-10 10 PENTECOSTES 13-25 13° APÓS PENTECOSTES 14° DOMINGO APÓS PENTECOSTES 15 ANOS 16-18 17 17º 17º PENTECOSTES 1CO 11.23 1CO 16 1º ARTIGO 1º MANDAMENTO 1PE 1PE 3 1RS 17.17-24 1RS 19.9B-21 2 CO 12.7-10 2 CO 5.1-10 2 CO 5.14-20 2 CORINTIOS 2 PE 1.16-21 2 PE 3.8-14 2 PENTECOSTES 2 TM 1.1-14 2 TM 1.3-14 2 TM 2.8-13 2 TM 3.1-5 2 TM 3.14-4.5 2 TM 4.6-8 2 TS 3.6-13 2° EPIFANIA 2° QUARESMA 20º PENTECOSTES 24º DOMINGO APÓS PENTECOSTES 25º DOMINGO PENTECOSTES 27-30 2CO 8 2º ADVENTO 2º ARTIGO 2º DOMINGO DE PÁSCOA 2TM 1 2TM 3 3 3 PENTECOSTES 3º ARTIGO 3º DOMINGO APÓS PENTECOSTES 3º DOMINGO DE PÁSCOA 3º DOMINGO NO ADVENTO 4 PENTECOSTES 41-43 4º DOMINGO APÓS PENTECOSTES 4º DOMINGO DE PENTECOSTES 4º FEIRA DE CINZAS 5 MINUTOS COM JESUS 5° APÓS EPIFANIA 500 ANOS 5MINUTOS 5º DOMINGO DE PENTECOSTES 5º EPIFANIA 5º PENTECOSTES 6º MANDAMENTO 7 ESTRELAS Abiel ABORTO ABSOLVIÇÃO ACAMPAMENTO AÇÃO DE GRAÇA ACIDENTE ACIR RAYMANN ACONSELHAMENTO ACONSELHAMENTO PASTORAL ACRÓSTICO ADALMIR WACHHOLz ADELAR BORTH ADELAR MUNIEWEG ADEMAR VORPAGEL ADMINISTRAÇÃO ADORAÇÃO ADULTÉRIO ADULTOS ADVENTISTA ADVENTO ADVERSIDADES AGENDA AIDS AILTON J. MULLER AIRTON SCHUNKE AJUDAR ALBERTO DE MATTOS ALCEU PENNING ALCOOLISMO ALEGRIA ALEMÃO ÁLISTER PIEPER ALTAR ALTO ALEGRE AM 8.4-14 AMASIADO AMBIÇÃO AMIGO AMIZADE AMOR André ANDRÉ DOS S. DREHER ANDRÉ L. KLEIN ANIVERSARIANTES ANIVERSÁRIO ANJOS ANO NOVO ANSELMO E. GRAFF ANTHONY HOEKEMA ANTIGO TESTAMENTO ANTINOMISTAS AP 1 AP 2 AP 22 AP 22.12-17 AP 3 APOCALIPSE APOLOGIA APONTAMENTOS APOSTILA ARNILDO MÜNCHOW ARNILDO SCHNEIDER ARNO ELICKER ARNO SCHNEUMANN ARREBATAMENTO ARREPENDIMENTO ARTHUR D. BENEVENUTI ARTIGO ASAS ASCENSÃO ASCLÉPIO ASSEMBLEIA ASTOMIRO ROMAIS AT AT 1 AT 1-10 AT 1.12-26 AT 10.34-43 AT 17.16-34 AT 2.1-21 AT 2.14a 36-47 AT 2.22-32 AT 2.36-41 AT 2.42-47 AT 4.32-37 AT 6.1-9 AT 7.51-60 ATANASIANO ATOS AUDIO AUGSBURGO AUGUSTO KIRCHHEIN AULA AUTO ESTIMA AUTO EXCLUSÃO AUTORIDADE SECULAR AVANÇANDO COM GRATIDÃO AVISOS AZUL E BRANCO BAIXO BATISMO BATISMO INFANTIL BELÉM BEM AVENTURADOS BENÇÃO BENJAMIM JANDT BIBLIA ILUSTRADA BÍBLIA SAGRADA BÍBLICO BINGOS BOAS NOVAS BOAS OBRAS BODAS BONIFÁCIO BOSCO BRASIL BRINCADEIRAS BRUNO A. K. SERVES BRUNO R. VOSS C.A. C.A. AUGSBURGO C.F.W. WALTHER CADASTRO CAIPIRA CALENDÁRIO CAMINHADA CAMPONESES CANÇÃO INFANTIL CANCIONEIRO CANTARES CANTICOS CÂNTICOS CANTICOS DOS CANTICOS CAPELÃO CARGAS CÁRIN FESTER CARLOS CHAPIEWSKI CARLOS W. WINTERLE CARRO CASA PASTORAL CASAL CASAMENTO CASTELO FORTE CATECISMO CATECISMO MENOR CATÓLICO CEIA PASCAL CÉLIO R. DE SOUZA CELSO WOTRICH CÉLULAS TRONCO CENSO CERIMONIAIS CÉU CHÁ CHAMADO CHARADAS CHARLES S. MULLER CHAVE BÍBLICA CHRISTIAN HOFFMANN CHURRASCO CHUVA CIDADANIA CIDADE CIFRA CIFRAS CINZAS CIRCUNCISÃO CL 1.13-20 CL 3.1-11 CLAIRTON DOS SANTOS CLARA CRISTINA J. MAFRA CLARIVIDÊNCIA CLAÚDIO BÜNDCHEN CLAUDIO R. SCHREIBER CLÉCIO L. SCHADECH CLEUDIMAR R. WULFF CLICK CLÍNICA DA ALMA CLOMÉRIO C. JUNIOR CLÓVIS J. PRUNZEL CODIGO DA VINCI COLÉGIO COLETA COLHEITA COLOSSENSES COMEMORAÇÃO COMENTÁRIO COMUNHÃO COMUNICAÇÃO CONCÓRDIA CONFIANÇA CONFIRMACAO CONFIRMAÇÃO CONFIRMANDO CONFISSÃO CONFISSÃO DE FÉ CONFISSÕES CONFLITOS CONGREGAÇÃO CONGRESSO CONHECIMENTO BÍBLICO CONSELHO CONSTRUÇÃO CONTATO CONTRALTO CONTRATO DE CASAMENTO CONVENÇÃO NACIONAL CONVERSÃO CONVITE CONVIVÊNCIA CORAL COREOGRAFIA CORÍNTIOS COROA CORPUS CHRISTI CPT CPTN CREDO CRESCENDO EM CRISTO CRIAÇÃO CRIANÇA CRIANÇAS CRIOULO CRISTÃ CRISTÃOS CRISTIANISMO CRISTIANO J. STEYER CRISTOLOGIA CRONICA CRONOLOGIA CRUCIFIXO CRUZ CRUZADAS CTRE CUIDADO CUJUBIM CULPA CULTO CULTO CRIOULO CULTO CRISTÃO CULTO DOMESTICO CULTO E MÚSICA CULTURA CURSO CURT ALBRECHT CURTAS DALTRO B. KOUTZMANN DALTRO G. TOMM DANIEL DANILO NEUENFELD DARI KNEVITZ DAVI E JÔNATAS DAVI KARNOPP DEBATE DEFICIÊNCIA FÍSICA DELMAR A. KOPSELL DEPARTAMENTO DEPRESSÃO DESENHO DESINSTALAÇÃO DEUS DEUS PAI DEVERES Devoção DEVOCIONÁRIO DIACONIA DIÁLOGO INTERLUTERANO DIARIO DE BORDO DICOTOMIA DIETER J. JAGNOW DILÚVIO DINÂMICAS DIRCEU STRELOW DIRETORIA DISCIPLINA DÍSCIPULOS DISTRITO DIVAGO DIVAGUA DIVÓRCIO DOGMÁTICA DOMINGO DE RAMOS DONS DOUTRINA DR Dr. RODOLFO H. BLANK DROGAS DT 26 DT 6.4-9 EBI EC 9 ECLESIASTES ECLESIÁSTICA ECUMENISMO EDER C. WEHRHOLDT Ederson EDGAR ZÜGE EDISON SELING EDMUND SCHLINK EDSON ELMAR MÜLLER EDSON R. TRESMANN EDUCAÇÃO EDUCAÇÃO CRISTÃ EF 1.16-23 EF 2.4-10 EF 4.1-6 EF 4.16-23 EF 4.29-32 EF 4.30-5.2 EF 5.22-33 EF 5.8-14 EF 6.10-20 ÉFESO ELBERTO MANSKE Eleandro ELEMAR ELIAS R. EIDAM ELIEU RADINS ELIEZE GUDE ELIMINATÓRIAS ELISEU TEICHMANN ELMER FLOR ELMER T. JAGNOW EMÉRITO EMERSON C. IENKE EMOÇÃO EN ENCARNAÇÃO ENCENAÇÃO ENCONTRO ENCONTRO DE CRIANÇA 2014 ENCONTRO DE CRIANÇAS 2015 ENCONTRO DE CRIANÇAS 2016 ENCONTRO PAROQUIAL DE FAMILIA ENCONTROCORAL ENFERMO ENGANO ENSAIO ENSINO ENTRADA TRIUNFAL ENVELHECER EPIFANIA ERA INCONCLUSA ERNI KREBS ERNÍ W. SEIBERT ERVINO M. SPITZER ESBOÇO ESCATOLOGIA ESCO ESCOLAS CRISTÃS ESCOLÁSTICA ESCOLINHA ESCOLINHA DOMINICAL ESDRAS ESMIRNA ESPADA DE DOIS GUMES ESPIRITISMO ESPÍRITO SANTO ESPIRITUALIDADE ESPÍSTOLA ESPORTE ESTAÇÃODAFÉ ESTAGIÁRIO ESTAGIÁRIOS ESTATUTOS ESTER ESTER 6-10 ESTRADA estudo ESTUDO BÍBLICO ESTUDO DIRIGIDO ESTUDO HOMILÉTICO ÉTICA EVANDRO BÜNCHEN EVANGELHO EVANGÉLICO EVANGELISMO EVERSON G. HAAS EVERSON GASS EVERVAL LUCAS EVOLUÇÃO ÊX EX 14 EX 17.1-17 EX 20.1-17 EX 24.3-11 EX 24.8-18 EXALTAREI EXAME EXCLUSÃO EXEGÉTICO EXORTAÇÃO EZ 37.1-14 EZEQUIEL BLUM Fabiano FÁBIO A. NEUMANN FÁBIO REINKE FALECIMENTO FALSIDADE FAMÍLIA FARISEU FELIPE AQUINO FELIPENSES FESTA FESTA DA COLHEITA FICHA FILADÉLFIA FILHO DO HOMEM FILHO PRÓDIGO FILHOS FILIPE FILOSOFIA FINADOS FLÁVIO L. HORLLE FLÁVIO SONNTAG FLOR DA SERRA FLORES Formatura FÓRMULA DE CONCÓRDIA Fotos FOTOS ALTO ALEGRE FOTOS CONGRESSO DE SERVAS 2010 FOTOS CONGRESSO DE SERVAS 2012 FOTOS ENCONTRO DE CRIANÇA 2012 FOTOS ENCONTRO DE CRIANÇAS 2013 FOTOS ENCONTRO ESPORTIVO 2012 FOTOS FLOR DA SERRA FOTOS P172 FOTOS P34 FOTOS PARECIS FOTOS PROGRAMA DE NATAL P34 FP 2.5-11 FP 3 FP 4.4-7 FP 4.4-9 FRANCIS HOFIMANN FRASES FREDERICK KEMPER FREUD FRUTOS DO ES GÁLATAS GALILEU GALILEI GATO PRETO GAÚCHA GELSON NERI BOURCKHARDT GENESIS GÊNESIS 32.22-30 GENTIO GEOMAR MARTINS GEORGE KRAUS GERHARD GRASEL GERSON D. BLOCH GERSON L. LINDEN GERSON ZSCHORNACK GILBERTO C. WEBER GILBERTO V. DA SILVA GINCANAS GL 1.1-10 GL 1.11-24 GL 2.15-21 GL 3.10-14 GL 3.23-4.1-7 GL 5.1 GL 5.22-23 GL 6.6-10 GLAYDSON SOUZA FREIRE GLEISSON R. SCHMIDT GN 01 GN 1-50 GN 1.1-2.3 GN 12.1-9 GN 15.1-6 GN 2.18-25 GN 21.1-20 GN 3.14-16 GN 32 GN 45-50 GN 50.15-21 GRAÇA DIVINA GRATIDÃO GREGÓRIO MAGNO GRUPO GUSTAF WINGREN GUSTAVO D. SCHROCK HB 11.1-3; 8-16 HB 12 HB 12.1-8 HB 2.1-13 HB 4.14-16 5.7-9 HC 1.1-3 HC 2.1-4 HÉLIO ALABARSE HERIVELTON REGIANI HERMENÊUTICA HINÁRIO HINO HISTÓRIA HISTÓRIA DA IGREJA ANTIGA E MEDIEVAL HISTÓRIA DO NATAL HISTORINHAS BÍBLICAS HL 10 HL 164 HOMILÉTICA HOMOSSEXUALISMO HORA LUTERANA HORST KUCHENBECKER HORST S MUSSKOPF HUMOR IDOSO IECLB IELB IGREJA IGREJA CRISTÃ IGREJAS ILUSTRAÇÃO IMAGEM IN MEMORIAN INAUGURAÇÃO ÍNDIO INFANTIL INFERNO INFORMATIVO INSTALAÇÃO INSTRUÇÃO INTRODUÇÃO A BÍBLIA INVESTIMENTO INVOCAÇÕES IRINEU DE LYON IRMÃO FALTOSO IROMAR SCHREIBER IS 12.2-6 IS 40.1-11 IS 42.14-21 IS 44.6-8 IS 5.1-7 IS 50.4-9 IS 52.13-53-12 IS 53.10-12 IS 58.5-9a IS 61.1-9 IS 61.10-11 IS 63.16 IS 64.1-8 ISACK KISTER BINOW ISAGOGE ISAÍAS ISAQUE IURD IVONELDE S. TEIXEIRA JACK CASCIONE JACSON J. OLLMANN JARBAS HOFFIMANN JEAN P. DE OLIVEIRA JECA JELB JELB DIVAGUA JEOVÁ JESUS JN JO JO 1 JO 10.1-21 JO 11.1-53 JO 14 JO 14.1-14 JO 14.15-21 JO 14.19 JO 15.5 JO 18.1-42 JO 2 JO 20.19-31 JO 20.8 JO 3.1-17 JO 4 JO 4.5-30 JO 5.19-47 JO 6 JO 6.1-15 JO 6.51-58 JO 7.37-39 JO 9.1-41 JOÃO JOÃO 20.19-31 JOÃO C. SCHMIDT JOÃO C. TOMM JOÃO N. FAZIONI JOEL RENATO SCHACHT JOÊNIO JOSÉ HUWER JOGOS DE AZAR JOGRAL JOHN WILCH JONAS JONAS N. GLIENKE JONAS VERGARA JOSE A. DALCERO JOSÉ ACÁCIO SANTANA JOSE CARLOS P. DOS SANTOS JOSÉ ERALDO SCHULZ JOSÉ H. DE A. MIRANDA JOSÉ I.F. DA SILVA JOSUÉ ROHLOFF JOVENS JR JR 28.5-9 JR 3 JR 31.1-6 JUAREZ BORCARTE JUDAS JUDAS ISCARIOTES JUDAS TADEU JUMENTINHO JUSTIFICAÇÃO JUVENTUDE KARL BARTH KEN SCHURB KRETZMANN LAERTE KOHLS LAODICÉIA LAR LC 12.32-40 LC 15.1-10 LC 15.11-32 LC 16.1-15 LC 17.1-10 LC 17.11-19 LC 19 LC 19.28-40 LC 2.1-14 LC 23.26-43 LC 24 LC 24.13-35 LC 3.1-14 LC 5 LC 6.32-36 LC 7 LC 7.1-10 LC 7.11-16 LC 7.11-17 LC 9.51-62 LEANDRO D. HÜBNER LEANDRO HUBNER LEI LEIGO LEIGOS LEITORES LEITURA LEITURAS LEMA LENSKI LEOCIR D. DALMANN LEONARDO RAASCH LEOPOLDO HEIMANN LEPROSOS LETRA LEUPOLD LIBERDADE CRISTÃ LIDER LIDERANÇA LILIAN LINDOLFO PIEPER LINK LITANIA LITURGIA LITURGIA DE ADVENTO LITURGIA DE ASCENSÃO LITURGIA DE CONFIRMAÇÃO LITURGIA EPIFANIA LITURGIA PPS LIVRO LLLB LÓIDE LOUVAI AO SENHOR LOUVOR LUCAS ALBRECHT LUCIFER LUCIMAR VELMER LUCINÉIA MANSKE LUGAR LUÍS CLAUDIO V. DA SILVA LUIS SCHELP LUISIVAN STRELOW LUIZ A. DOS SANTOS LUTERANISMO LUTERO LUTO MAÇONARIA MÃE MAMÃE MANDAMENTOS MANUAL MARCÃO MARCELO WITT MARCIO C. PATZER MARCIO LOOSE MARCIO SCHUMACKER MARCO A. CLEMENTE MARCOS J. FESTER MARCOS WEIDE MARIA J. RESENDE MÁRIO SONNTAG MÁRLON ANTUNES MARLUS SELING MARTIM BREHM MARTIN C. WARTH MARTIN H. FRANZMANN MARTINHO LUTERO MARTINHO SONTAG MÁRTIR MATERNIDADE MATEUS MATEUS KLEIN MATEUS L. LANGE MATRIMÔNIO MAURO S. HOFFMANN MC 1.1-8 MC 1.21-28 MC 1.4-11 MC 10.-16 MC 10.32-45 MC 11.1-11 MC 13.33-37 MC 4 MC 4.1-9 MC 6.14-29 MC 7.31-37 MC 9.2-9 MEDICAMENTOS MÉDICO MELODIA MEMBROS MEME MENSAGEIRO MENSAGEM MESSIAS MÍDIA MILAGRE MINISTÉRIO MINISTÉRIO FEMENINO MIQUÉIAS MIQUÉIAS ELLER MIRIAM SANTOS MIRIM MISSÃO MISTICISMO ML 3.14-18 ML 3.3 ML NEWS MODELO MÔNICA BÜRKE VAZ MORDOMIA MÓRMOM MORTE MOVIMENTOS MT 10.34-42 MT 11.25-30 MT 17.1-9 MT 18.21-45 MT 21.1-11 MT 28.1-10 MT 3 MT 4.1-11 MT 5 MT 5.1-12 MT 5.13-20 MT 5.20-37 MT 5.21-43 MT 5.27-32 MT 9.35-10.8 MULHER MULTIRÃO MUSESCORE MÚSICA MÚSICAS NAAÇÃO L. DA SILVA NAMORADO NAMORO NÃO ESQUECER NASCEU JESUS NATAL NATALINO PIEPER NATANAEL NAZARENO DEGEN NEEMIAS NEIDE F. HÜBNER NELSON LAUTERT NÉRISON VORPAGEL NILO FIGUR NIVALDO SCHNEIDER NM 21.4-9 NOITE FELIZ NOIVADO NORBERTO HEINE NOTÍCIAS NOVA ERA NOVO HORIZONTE NOVO TESTAMENTO O HOMEM OFERTA OFÍCIOS DAS CHAVES ONIPOTENCIA DIVINA ORAÇÃO ORAÇAODASEMANA ORATÓRIA ORDENAÇAO ORIENTAÇÕES ORLANDO N. OTT OSÉIAS EBERHARD OSMAR SCHNEIDER OTÁVIO SCHLENDER P172 P26 P30 P34 P36 P40 P42.1 P42.2 P70 P95 PADRINHOS PAI PAI NOSSO PAIS PAIXÃO DE CRISTO PALAVRA PALAVRA DE DEUS PALESTRA PAPAI NOEL PARA PARA BOLETIM PARÁBOLAS PARAMENTOS PARAPSICOLOGIA PARECIS PAROQUIAL PAROUSIA PARTICIPAÇÃO PARTITURA PARTITURAS PÁSCOA PASTOR PASTORAL PATERNIDADE PATMOS PAUL TORNIER PAULO PAULO F. BRUM PAULO FLOR PAULO M. NERBAS PAULO PIETZSCH PAZ Pe. ANTONIO VIEIRA PEÇA DE NATAL PECADO PEDAL PEDRA FUNDAMENTAL PEDRO PEM PENA DE MORTE PENEIRAS PENTECOSTAIS PENTECOSTES PERDÃO PÉRGAMO PIADA PIB PINTURA POEMA POESIA PÓS MODERNIDADE Pr BRUNO SERVES Pr. BRUNO AK SERVES PRÁTICA DA IGREJA PREEXISTÊNCIA PREGAÇÃO PRESÉPIO PRIMITIVA PROCURA PROFECIAS PROFESSORES PROFETA PROFISSÃO DE FÉ PROGRAMAÇÃO PROJETO PROMESSA PROVA PROVAÇÃO PROVÉRBIOS PRÓXIMO PSICOLOGIA PV 22.6 PV 23.22 PV 25 PV 31.28-30 PV 9.1-6 QUARESMA QUESTIONAMENTOS QUESTIONÁRIO QUESTIONÁRIO PLANILHA QUESTIONÁRIO TEXTO QUINTA-FEIRA SANTA QUIZ RÁDIO RADIOCPT RAFAEL E. ZIMMERMANN RAUL BLUM RAYMOND F. SURBURG RECEITA RECENSÃO RECEPÇÃO REDENÇÃO REENCARNAÇÃO REFLEXÃO REFORMA REGIMENTO REGINALDO VELOSO JACOB REI REINALDO LÜDKE RELACIONAMENTO RELIGIÃO RENATO L. REGAUER RESSURREIÇÃO RESTAURAR RETIRO RETÓRICA REUNIÃO RICARDO RIETH RIOS RITO DE CONFIRMAÇÃO RITUAIS LITURGICOS RM 12.1-18 RM 12.1-2 RM 12.12 RM 14.1-12 RM 3.19-28 RM 4 RM 4.1-8 RM 4.13-17 RM 5 RM 5.1-8 RM 5.12-21 RM 5.8 RM 6.1-11 RM 7.1-13 RM 7.14-25a RM 8.1-11 RM 8.14-17 ROBERTO SCHULTZ RODRIGO BENDER ROGÉRIO T. BEHLING ROMANOS ROMEU MULLER ROMEU WRASSE ROMUALDO H. WRASSE Rômulo ROMULO SANTOS SOUZA RONDÔNIA ROSEMARIE K. LANGE ROY STEMMAN RT 1.1-19a RUDI ZIMMER SABATISMO SABEDORIA SACERDÓCIO UNIVERSAL SACERDOTE SACOLINHAS SACRAMENTOS SADUCEUS SALMO SALMO 72 SALMO 80 SALMO 85 SALOMÃO SALVAÇÃO SAMARIA Samuel F SAMUEL VERDIN SANTA CEIA SANTIFICAÇÃO SANTÍSSIMA TRINDADE SÃO LUIS SARDES SATANÁS SAUDADE SAYMON GONÇALVES SEITAS SEMANA SANTA SEMINÁRIO SENHOR SEPULTAMENTO SERMÃO SERPENTE SERVAS SEXTA FEIRA SANTA SIDNEY SAIBEL SILVAIR LITZKOW SILVIO F. S. FILHO SIMBOLISMO SÍMBOLOS SINGULARES SISTEMÁTICA SL 101 SL 103.1-12 SL 107.1-9 SL 116.12-19 SL 118 SL 118.19-29 SL 119.153-160 SL 121 SL 128 SL 142 SL 145.1-14 SL 146 SL 15 SL 16 SL 19 SL 2.6-12 SL 22.1-24 SL 23 SL 30 SL 30.1-12 SL 34.1-8 SL 50 SL 80 SL 85 SL 90.9-12 SL 91 SL 95.1-9 SL11.1-9 SONHOS SOPRANO Sorriso STAATAS STILLE NACHT SUMO SACERDOTE SUPERTIÇÕES T6 TEATRO TEMA TEMPLO TEMPLO TEATRO E MERCADO TEMPO TENOR TENTAÇÃO TEOLOGIA TERCEIRA IDADE TESES TESSALÔNICA TESTE BÍBLICO TESTE DE EFICIÊNCIA TESTEMUNHAS DE JEOVÁ Texto Bíblico TG 1.12 TG 2.1-17 TG 3.1-12 TG 3.16-4.6 TIAGO TIATIRA TIMÓTEO TODAS POSTAGENS TRABALHO TRABALHO RURAL TRANSFERENCIA TRANSFIGURAÇÃO TRICOTOMIA TRIENAL TRINDADE TRÍPLICE TRISTEZA TRIUNFAL Truco Turma ÚLTIMO DOMINGO DA IGREJA UNIÃO UNIÃO ESTÁVEL UNIDADE UNIDOS PELO AMOR DE DEUS VALDIR L. JUNIOR VALFREDO REINHOLZ VANDER C. MENDOÇA VANDERLEI DISCHER VELA VELHICE VERSÍCULO VERSÍCULOS VIA DOLOROSA VICEDOM VÍCIO VIDA VIDA CRISTÃ VIDENTE VIDEO VIDEOS VÍDEOS VILS VILSON REGINA VILSON SCHOLZ VILSON WELMER VIRADA VISITA VOCAÇÃO VOLMIR FORSTER VOLNEI SCHWARTZHAUPT VOLTA DE CRISTO WALDEMAR REIMAN WALDUINO P.L. JUNIOR WALDYR HOFFMANN WALTER L. CALLISON WALTER O. STEYER WALTER T. R. JUNIOR WENDELL N. SERING WERNER ELERT WYLMAR KLIPPEL ZC ZC 11.10-14 ZC 9.9-12