Deixa Deus Ser Deus
O livro intitulado Deixa Deus ser Deus começa fazendo a relação entre os metodistas, em especial John Wesley com Lutero. Seus pontos de vista eram semelhantes sob o aspecto da salvação pela fé, eles combatem especialmente o fundamento do papado. Seus escritos têm contribuições a favor da religião, em que contém informações doutrinárias, mas ele não se preocupa apenas com detalhes particulares da fé cristã, porque em sua análise cada doutrina em particular está interligada com os outros artigos de fé, a saber, o que Lutero diz e crê que na mesma forma como “na filosofia um pequeno erro no princípio é um grande abominável erro no fim, assim também na teologia um pequeno erro subverte a doutrina inteira”. Mas, o ponto essencial que separa Lutero dos teólogos medievais é a maneira em que ele separa Lei e Evangelho e quando ele descreve a doutrina da justificação. Ele defende a doutrina verdadeira e protege a unidade da igreja em que procurava corrigir os erros do papado, por não interpretarem a Escritura em seu sentido pleno, tirando o foco que é Cristo, trazendo para o poder papal.
Lutero entra no mosteiro com um objetivo único, a fim de salvar a sua alma. Ele queria um correto relacionamento com Deus, desejando estar seguro de suas atitudes perante Deus. Porém, muitas dúvidas perturbavam sua cabeça, não compreendendo a graça divina. Tudo era lei perante ele, temia o julgamento justo de Deus porque estava convencido que Cristo, também, era um juiz severo. Mas a partir do ponto em que leu Rm “O Justo viverá por fé” caiu o véu que cegava seus olhos, isto é, conseguiu distinguir entre lei e evangelho, adquiriu um novo conceito sobre Deus. Seu novo conceito centralizava na fé em Deus, o teólogo deve encarar Deus como aquele que justifica o homem pecador, compreendendo as suas vontades e afeições divinas entendendo no seu relacionamento com o homem. Ele vê os aspectos do mundo a luz do conhecimento e da glória de Deus, sendo seu lema soli Deo Gloria, em que baseia toda a sua doutrina e propõe mudar o poder papal, porque na sua visão rouba a glória de Deus.
Para Lutero o perdão dos pecados significava muito mais do que uma doutrina que deva ser crida, ou mesmo uma experiência subjetiva, mas é um verdadeiro ato de Deus, por meio de Cristo pela qual o próprio Deus num amor puro e imerecido da nossa parte estabelece uma comunhão com o homem pecador. E isso se tornou o seu tema dominante e seu pensar e viver. Como para Lutero, saber que Deus perdoa nossos pecados por meio de Jesus Cristo na cruz é ter a certeza da salvação, essa certeza temos que ter em nossos dias. Deus é gracioso para conosco, um Deus justo, que perdoa os pecados para aqueles que se arrependem, e promete vida e salvação para aqueles que nele o crêem. É nesta promessa que devemos ter como base em nossa vida.
Lutero foi um homem de profunda inteligência que expressava seus sentimentos, e tinha uma teologia, que hoje em dia foge de qualquer descrição. Ele sem dúvidas foi um grande pensador da idade média, deixando grandes problemas a serem resolvidos, entre eles o seu próprio pensamento. O nosso objetivo a respeito deste grande homem, como o próprio autor salienta, é entendê-lo observando-o com seus próprios olhos. Tendo como foco principal Cristo, que é nosso salvador.
Cap. 2 – O motivo do pensamento de Lutero
A Revolução Copernicana de Lutero
Como na mudança copernicana que, é a mudança do pensamento geocêntrico (Terra), para heliocêntrico(Sol). No presente capítulo se enfatiza uma outra revolução, o pensamento de Lutero, em que ele passou do pensamento antropocêntrico para o teocêntrico, no que se refere ao relacionamento entre Deus e o homem.
Porém, mesmo nas religiões ou igrejas cristãs que já admitiram Deus como centro, fica difícil abrir mão do egocentrismo, em virtude deles ainda possuírem o pensamento de colaboração humana na salvação. No entanto, na religião teocêntrica tudo depende da vontade de Deus, e todas as coisas devem convergir para ela, pois, nem sequer algo que o ser humano faça é suficiente para lhe assegurar alguma coisa.
A Consciência do Ponto de Vista de Lutero
Dessa forma surge-nos o título do Livro, “Deixa Deus ser Deus” em que nós devemos nos esvaziar e ter a consciência de que a salvação só vem dele, como na citação de Lutero: “Deus quer salvar-nos não pela interna, mas pela externa justiça e sabedora, não por aquilo que vem e brota de nós, mas por aquilo que vem de outro lugar para dentro de nós, não pelo que se origina em nossa terra, mas pelo que desce do céu. Cabe a nós sermos instruídos numa justiça inteiramente externa e alheia. Por isso é necessário que a nossa própria justiça interna seja desarraigada”.
O autor também nos faz refletir a respeito das orações, pois, mesmo na oração ensinada por Cristo, o “Pai-Nosso”, podemos ter uma atitude egocêntrica. Devemos por isso estar cientes de que, as três primeiras estrofes se referem a “teu” e só nas outras ao “nós” e “nosso” denotando a centralidade em Deus.
Há quem diga que não há razão de orarmos, já que, Deus de qualquer forma nos beneficia e nos dá vida, comida, vestes, etc. Porém, em resposta a isso podemos afirmar que, o próprio Deus nos mandou orar e pedir o que fosse necessário para nossa vida. Além do mais, por orarmos nos colocamos na condição de humildes criaturas totalmente dependentes de Deus.
Lutero salienta que, a verdadeira fé não se concentra em nossa experiência religiosa, ou de vida, mas na inteira confiança em Deus em toda e qualquer situação. Como na explanação do 1° Mandamento: “Já que eu sozinho sou Deus, deves depositar toda a tua segurança e confiança e fé em mim somente e não em algum outro”.
Nós devemos nos concentrar na ênfase que Lutero dá a vontade e bênção de Deus, pois, na sua visão, muitas pessoas só conseguem ver a bênção de Deus se centralizar na ocorrência de sua própria vontade, como ele mesmo diz:”.. ser abençoado significa querer a vontade de Deus e sua glória e não desejar nada do que é seu nem nesta vida nem na eternidade”.
Lutero argumenta e vai mais longe, na sua visão quem tenta fazer a vontade de Deus buscando méritos e recompensas não passa de um simples mercenário assemelhando-se aos ímpios. O cristão que deseja fazer a vontade de Deus deve fazê-la unicamente porque Deus é bom e misericordioso, sem esperar nada em troca, pois, ele já recebeu o bem mais precioso, a salvação.
Há ainda críticos que indagam que se não é por obras que conquistamos salvação, então qual a necessidade e o ganho de se fazer boas obras? Contra tais futilidades, Lutero é taxativo, dizendo que não há necessidade de qualquer coisa impelir o justo a realizar boas obras, pois, já está em sua natureza.
Por tudo isto exposto, podemos dizer que um dos grandes marcos da teologia de Lutero é a centralidade em Deus e não no homem. Pois, Deus criou a tudo e a todos e mantém toda sua criação, assim como conquistou a nossa salvação pelo sangue de Cristo, não há mais nada que possamos conquistar e tudo está preparado.
Relatório: Deixa Deus ser Deus
Capitulo 2, a segunda parte.
Lutero em Contraste com os Escolásticos.
Até aqui vimos que não é nada estranho comparar a obra de Lutero, com a de Copérnico, pois Lutero sustenta uma visão teocêntrica, é contra o antropocentrismo, sendo assim mudou a visão que a igreja tinha até então. O que surge agora é que Lutero havia apenas reproduzido o pensamento dos escolásticos da época. Burnaby afirma que Lutero quando fala do amor Deus e amor do homem ele esta apenas reproduzindo as palavras já ditas e escritas por Aquino. De forma nenhuma podemos descartar que o reformador nada tenha aprendido com os escolásticos, pois viveu entre eles por muito tempo até se lhe abrirem os olhos. Quando Burnaby diz que Lutero aprendeu também de Scotus, outro escolástico da época, ele esquece de mencionar pontos de vista diferentes.
A afirmação de que Lutero apenas teria parafraseado aos escolásticos perde força quando é analisado mais profundamente. No caso de Scotus vemos ainda uma visão legalista, de mérito e recompensa, antropocêntrica assim como a maioria dos escolásticos, e sabemos bem que essa visão não fecha com a idéia do reformador.
Outra questão levantada por Burnaby é que Lutero não entendeu a São Tomas de Aquino na formulação de sua tese, e por isso teria formulado outra doutrina, essa afirmação vem sobre a questão da Fides caridate formala, mas o que pode ser visto é que Lutero viu uma falha na formulação que havia sido feita, pois novamente havia aqui uma visão antropocêntrica, que é de fazer algo para merecer o amor de Deus. Em muitas vezes nos parece que Lutero parafraseia Aquino, mas será que há uma mesma linha de pensamento.
Quando se fala em amor humano e amor de Deus ambos Lutero e Aquino têm uma mesma forma de falar sobre eles, dizendo que não são iguais, Aquino diz que: “Nosso amor é suscitado pela bondade, real ou imaginária do seu objeto, enquanto o amor de Deus infunde e cria a bondade nas coisas”, e Lutero diz: “o amor de Deus não acha seu objeto, mas o cria, enquanto que o amor do homem é criado pelo objeto”, aparentemente quer se dizer a mesma coisa, mas analisando a fundo vê-se que predomina em Aquino uma concepção egocêntrica do amor humano. A concepção de Lutero é a justificação pela fé, Deus revela seu amor em Cristo, em Tomás ainda predomina mesmo que menos do que em outros escolásticos o pensamento de fazer algo em troca da Graça de Deus.
Outro ponto que produz controvérsias é a respeito do lema de Lutero o “Soli Deo gloria”, é o mesmo lema dos escolásticos, e de Calvino, que era glorificar a Deus acima de tudo. O ponto é que agora esse agora tem um outro sentido para Lutero, reformador, do que tinha para o Lutero monge. Pois novamente os escolásticos tinham uma visão do homem, como centro, ele teria que fazer as obras boas a Deus para assim ser aceito. Sendo assim a ação esta no homem, que não deixa Deus ser Deus.
Lutero cavou fundo para colocar as pessoas sobre uma doutrina pura, e não sobre tradições, é difícil vermos no decorrer da historia alguém fazer isso, mas ele procurou libertar os homens do egocentrismo, se devotando somente a gloria de Deus. Deixa Deus ser Deus é todo o teor da reforma de Lutero. Depois de ver a rocha firme sobre a qual se fundamenta o cristianismo ele propôs uma reconstrução na vida espiritual das pessoas. O reformador coloca que não basta uma mudança de cerimônias ou ritos se a base não estiver sobre um alicerce firme.
A “Justificação” significa a maneira que a vontade de Deus é feita, e centro da teologia de Lutero, sob essa ótica é feita à vontade de Deus. A fé que na visão de Lutero demonstra o nosso relacionamento com Deus, é entendido muitas vezes de forma equivocada e é colocada em uma função de troca, eu dou para Deus para desta forma receber algo em troca, a fim de receber a graça de Deus.
Pode talvez haver semelhanças de palavras quando olhamos os escritos feitos por pessoas como Aquino ou Scotus, mas o teor que as palavras e escritos de Lutero trazem, tem um significado muito mais profundo. Desta forma quando se lê Lutero não se esta lendo algo que esta lá no passado já esquecido, mas esta se dando um passo para frente, em busca de um alvo a ser atingido. O problema que esta no coração do homem que é o egocentrismo, que na maioria das vezes não deixa Deus ser Deus.
No capítulo 3 do livro “Deixa Deus ser Deus”, da autoria de Philip Watson, é comentado a respeito da revelação de Deus. Como conhecemos a Deus?
Devemos ter sempre em mente o seguinte, quando se trata da Revelação de Deus: Ela designa o fato de Deus mesmo se revelar e revelar seu plano de salvação.
Para Lutero existem duas espécies de conhecimento de Deus: o geral e o revelado.
# Conhecimento Geral: também pode ser chamado de conhecimento natural. Todos os homens o possuem. Sabem que há um Deus, isso porque a natureza prova a Sua existência, ainda que não possamos ver Deus, mas temos conhecimento dele a partir de suas obras e é transmitido ao ser humano pela preservação e manutenção do próprio Deus de Sua criação. A outra forma que prova a existência de Deus é a consciência do ser humano. A Lei divina está escrita no nosso coração, por isso quando fizemos algo de errado, a nossa consciência nos acusa, considerando o ser humano responsável por seus atos a um poder superior a ele (Deus).
Aquilo que Lutero chama de conhecimento geral de Deus, não é o resultado de nenhuma investigação humana a respeito de Deus, mas é anterior a toda a pesquisa humana e é dado pelo próprio Deus. O conhecimento geral de Deus nas mãos do homem causa a origem somente de toda a idolatria.
O conhecimento geral ou natural tem propósitos, entre eles: manter disciplina entre as pessoas para que conheçam o Deus de poder e amor, e também mover o ser humano ao conhecimento revelado, aquilo que Deus pensa e quer de nós. Não somos salvos pelo conhecimento geral, mas este requer a complementação do conhecimento particular.
Deixa Deus Ser Deus. Cap. 3.
1. CONHECIMENTO NATURAL DE DEUS DA PARTE DO HOMEM:
a. Criaturas como máscaras de Deus
b. Deus como um Deus de poder e justiça
Criaturas como máscaras de Deus : Tomás de Aquino e outros, afirmavam que a realidade da existência de Deus deveria ser concluída através de argumentos, ou seja, através da razão.
Este pensamento não poderia ser aceito para fins de justificação. Ele não fala nada sobre um Deus de amor. Segundo Lutero, é inútil querer conhecer a Deus através de sua majestade (teologia da glória), sem antes conhecê-lo na sua humildade revelada por seu Filho, nosso salvador e mediador (teologia da cruz).
Quando se fala em máscaras de Deus, a idéia inicial pode ser de um ocultar. Mas vai além disso. Máscaras de Deus sugere também uma forma pela qual Deus utiliza para ter um relacionamento com o homem, que pode ser chamada de direta. As máscaras são na verdade todas as ordenações criadas de Deus, e segundo Lutero, todas elas contém a Cristo. Para Lutero, as criaturas de Deus são a mão, o canal, instrumentos, pelo qual Deus nos concede todas as coisas que necessitamos.
O Deus de poder e justiça
Para Lutero, esta é a idéia básica que um conhecimento geral de Deus proporciona. A idéia que se tem de Deus é esta: um Deus irado que castiga os ímpios e ama os corretos. Um Deus que não deixa impune os transgressores. Deus é totalmente poder e lei, segundo este pensamento. Desta maneira, o homem acaba caindo no grave erro de pensar que é justificado através de suas obras, e não através do amor e misericórdia de Deus. Neste exercício, surge a idéia de que deve-se sempre fazer aos outros o que gostaríamos que os outros fizessem para nós (Mt 5.27). O problema de tudo isso, é que não podemos esquecer que boas obras não podem reslver o nosso problema acerca da salvação, visto que nós próprios não temos a capacidade de sermos justificados por outro meio a não ser por intermédio de Cristo. Lutero entendia que o conhecimento geral de Deus, torna o ser humano indesculpável, visto que ao cometer algum erro, ele sabe que o que faz não é agradável aos olhos de Deus, mas mesmo assim comete. Lutero também não descarta o conceito de predestinação como fortemente presente na visão de conhecimento geral de Deus. A partir de todas estas visões, Lutero acusa o conhecimento geral de Deus de ser fonte de idolatria. O importante aqui é saber distinguir que o erro não está no conhecimento em si. O erro está no próprio ser humano que toma para si princípios errôneos, baseados em seu conhecimento geral de Deus.
2. FALSA RELIGIÃO DO HOMEM NATURAL:
Lutero caracteriza como falsa religião aquela que não fundamenta sua crença e esperança na justificação por intermédio único de Cristo, mas antes, centra seu foco em conceitos antropocêntricos no qual julgam corretos. Falsa é a religião que busca utilizar da razão para explicar coisas que dizem respeito ao Deus de amor revelado na pessoa de Cristo. Através disso, Lutero acusa a razão de ser a “prostituta do diabo”. Jonh Wesley, através dos tempos, acusa Lutero de repudiar ao pensamento racional. Na verdade, o que Lutero adverte, não é contra o pensamento racional em si, e sim, quando este pensamento é utilizado para tentar explicar coisas que dizem respeito a Deus. Primeiramente, porque buscaremos Deus antes em sua majestade, e não em sua humilhação por nós, o que para Lutero, seria inútil.
Aqui importante é também, salientar o aspecto das boas obras. O homem quando pratica alguma obra, tem a natural tendência de “colocar na ponta do lápis” o que fez para cobrar de Deus. Esquece-se o homem que Deus não lhe deve nada. O homem sim é que está em contenda com Deus e jamais poderia lhe retribuir pela salvação que o Pai lhe concede
3. O CONHECIMENTO DE DEUS REVELADO EM CRISTO:
Este sim, segundo Lutero é o verdadeiro conhecimento de Deus. Conhecer Deus por intermédio de Cristo, é conhecer a Deus como Deus realmente é: um Deus de amor, de compaixão, misericórdia e que cuida da sua criação e a preserva, ou seja, este conhecimento remove a ignorância humana acerca da vontade de Deus e lhe torna conhecedor de como Deus o ama. Todavia, é importante salientar que o conhecimento particular não se opõe ao conhecimento geral de Deus, mas se opõe sim, ao conhecimento errôneo que foi transformado pela mente humana. Todavia, se não devemos buscar a Deus em sua majestade sem o buscar na cruz, ao mesmo tempo o Deus da majestade foi revelado na cruz.
No capitulo IV, o escritor justifica seu argumento sobre a teologia da cruz, fazendo um desenvolvimento teológico em que ele partindo desde a causa necessária de nossa redenção, segue até culminar na vitória de Cristo sobre o pecado e a morte. A linha de desenvolvimento procura deixar claro que em nossa condição, automaticamente necessitávamos de um salvador, e como todos se encontravam na mesma condição, este salvador teria que ser de uma natureza tal que não estivesse manchada pelo pecado. Assim somente Deus poderia salvar-nos de nossa condição de pecadores. É desta ordem que trata a teologia da cruz.
Desenvolvimento da teologia da cruz
Lutero centraliza a teologia sobre a divindade de Cristo que de acordo com o credo Niceno, ele é o verdadeiro deus, o único deus.
Sua teologia é Cristocêntrica, o mesmo significa que sua Cristologia é Teocêntrica. Rictsh diz que Lutero trouxe uma nova maneira de ver Jesus historicamente. Só que este Jesus histórico não traduz o mesmo sentido que os modernos tentam produzir, ele diz que Cristo quando lido historicamente, temos um grande homem que em obras e palavras nos deixa estupefatos de ânimo, mas as escrituras não são uma simples história dedicada ao registro, elas são um testemunho de como Deus se manifestou em carne, e indo até este Jesus histórico acabamos sendo direcionados a uma esfera não esperada: a do Jesus divino. Daí entendemos porque ele enfatiza que a religião Cristã começou do ponto mais baixo.
Na humanidade de Cristo, Deus se revelou, se assim não fosse nunca haveria como o homem ter contato com Deus. Esta foi à forma que o Deus oculto se manifestou. Desta maneira Deus se manifestou em obras e ocultou-se em seu sofrimento.
No entanto, o Deus oculto para Lutero não era somente a parte que não se revelou em Cristo, mas sim a parte que muitas vezes até mesmo em Cristo guardou silêncio e nada revelou. Deus é, portanto oculto e revelado ao mesmo tempo. Só que em Cristo a divindade se revela de maneira mais clara. Portanto, se Deus se revela em Cristo, é somente em Cristo que podemos conhecer a Deus.
Cristo é segundo Lutero um exemplo e um sacramento. Como exemplo, ele incorpora o máximo da lei, desta maneira ele deve ser apresentado ao impenitente, a fim de que se arrependa e encontre Cristo como sacramento. Desta forma ele media e salva.
Em Cristo, seus milagres devem ser considerados ofício acidental ou excedente, pois os apóstolos também o fizeram, assim também os profetas. Em exemplos Cristo é um exemplo máximo de vida Santa, mas vida Santa também podemos tomar como exemplo Abraão, Isaías, João Batista e muitos outros, mas o que Cristo nos traz que nenhum outro traz é: perdoados estão os teus pecados.
--Mas somente Deus pode perdoar pecados!
--Exatamente, em Cristo Deus estava reconciliando consigo o mundo, ali era Deus perdoando pecados.
Somente Deus pode conceder perdão, graça, justiça e vida eterna, portanto Cristo deve ser entendido como verdadeiro Deus por natureza.
Cristo como intérprete da lei
A lei é entendida por Lutero como ofício acidental ou excedente, mas que para nós possui um valor significativo. Vejamos como Lutero não concebe a lei:
· 1. Lei natural= conhecimento que deus pôs no homem no princípio.
· 2. Decálogo= a que se ressalta de maneira escrita a lei natural obscurecida pelo pecado.
· 3. Amor evangélico= ama a Deus e o próximo.
A lei, no entanto é construída sobre o fundamento do amor, e só existe de maneira verbal por que o pecado obscureceu este amor no coração do homem.
Assim da lei encontramos dois pontos importantes para a hermenêutica: a observância moral e a espiritual. Destes dois temos à prática das obras da lei e o cumprimento da lei. Assim a lei exige muito mais do que uma observância externa, mas sim uma real e verdadeira atitude de coração e um amor que está muito longe da natureza humana. Desta maneira a lei torna mais clara a condição de pecadores, pois mesmo que pratiquemos as obras da lei, nosso coração é mau.
Cientes de que não conseguimos observar a lei como ela exige que a observemos, Lutero ressalta a importância dela na hora de colocar freio na vida dissoluta dos homens, e como ela intensifica a pecaminosidade no coração destes. Ele também deixa claro que o ímpio quando começa a observar a lei exteriormente, começa a encher-se de orgulho e acha que pelo que ele é, conseguirá justificar-se diante de Deus, atitude esta que Lutero diz ser de um homem possuído pelo diabo. E quando este homem cai em si, que não consegue observar a lei de maneira correta, ele se desespera da misericórdia de Deus, e isto é pecado supremo e imperdoável. Assim o homem se atira ao pecado.
Lutero usa o exemplo de Santo Agostinho quando ele compara a ação da lei sobre a condição Humana com o efeito da água sobre a cal. há na cal, diz ele, certa substância ardente e causticante que é atiçada quando a água é derramada sobre ela. Isso não é culpa da água, mas da cal, cujas qualidades latentes são assim estimuladas para a atividade. Numa maneira semelhante, a lei estimula nossa vontade humana e pecaminosa. Opondo-se a nós com suas exigências e proibições, contrárias a nossos desejos, consegue apenas atiçá-los. Pois, como Lutero observa, somos todos, por natureza, tais homens que desejam mais aquelas coisas que nos são proibidas. Nisto não é evidente a culpa da lei boa, justa e Santa, mas da nossa natureza e pecaminosa, que não deseja o que a lei prescreve, mas antes deseja, se fosse possível, que não houvesse lei. Mas desejar que não haja lei (aqui é uma expressão da vontade de Deus) é desejar virtualmente que não haja legislador e que não exista o próprio Deus.
A lei acaba e estimulando nossos apetites carnais. Em contrapartida a este exemplo Lutero exemplifica o evangelho como o óleo que estanca o caos que acontece ao se aplicar água sobre a cal.
A lei da natureza e de Cristo
Agora veremos três maneiras de se entender à lei segundo Lutero:
1. Lutero interpretava a os dez mandamentos sob a ótica do sermão do monte.
2. A lei é sempre um imperativo moral e, o melhor imperativo divino do amor em todas as relações humanas, e isto sempre foi assim.
3. A lei natural não é um equipamento interior e psicológico da natureza humana, mas algo em e com a consciência teológica.
Neste sentido a lei em instante algum abre espaço para que através dela o homem possa se justificar diante de Deus.
Através do evangelho, Deus gera através de Cristo uma nova maneira de ver a lei, e em nossos corações começamos a amá-la e buscar nela não justificação, mas uma maneira de como melhor servir ao próximo.
Cristo como mediador e Salvador
Como mediador e Salvador, Lutero enfatizam a doutrina Paulina da justificação, onde Cristo media a causa do homem para com Deus, e pagando a dívida do homem torna-se seu salvador. Pode-se dizer que é o verdadeiro e próprio ofício de Cristo contender com a lei, com o pecado, com a morte e todo o mundo e contender de tal maneira que ele tem de sofrer e a suportar todas essas coisas e, ao sofrer elas em si mesmo, derrotar, abolir e livrar por esses meios os crentes da lei e de todos os males.
O redentor humano e divino
Lutero enfatiza a divindade de Cristo de tal forma que parece muitas vezes não dar importância para sua o humanidade, mas a humanidade é em Lutero muito bem destacada, além do mais, ele preserva a doutrina calcedoniana das duas naturezas.
Para responder perguntas como: como pode Deus ser crucificado e morrer? Ou como pode Cristo sendo homem criar o mundo? Ele recorre à antiga doutrina da comunicatio idiomatum, e apesar de nestes pontos temer muito uma asseguração errada, ele compara a união da divindade com a humana ao casamento, onde Deus compartilha de seus dons com a natureza humana e dela recebe suas fraquezas e males, libertando todos aqueles que estão unidos a ele.
O que ele faz, é o que Lutero expressa como: fazendo uma troca feliz conosco... tomou sobre si a nossa pessoa pecaminosa e nos deu a sua inocente e vitoriosa pessoa... pois ele, carregando assim o pecado do mundo inteiro foi preso, padeceu, foi crucificado, morto e tornou-se maldição em nosso lugar. Mas porque ele era uma pessoa divina e eterna, era impossível que a morte ou retivesse. Por isso ele ressuscitou no terceiro dia da morte e agora vive para sempre. E não mais se encontram nele o pecado nem a morte, mas pura justiça, vida e eterna bem aventurança.
É marcante a figura desenhada do proto evangelho onde a serpente morde o calcanhar do filho da promessa e este lhe pisa a cabeça.
A majestade de um amor incriado
Lutero não acha nenhum outro motivo que cativasse Deus a fazer o que fez se não o amor, amor tal que não se encontra em nenhum homem como nós, este amor era puro e divino, pois não buscou seus interesses, amou a todos indistintamente, tanto amigos quando inimigos.
Neste amor que na Cruz demonstrou como é Grande e divino, Cristo demonstrou a todos que por mais fortes que sejam os adversários do homem e de Deus, ele triunfou sobre todos, e por mais fortes que sejam, não conseguiram impedir que a obra de Deus se manifestasse em Cristo. O diabo e os ímpios jamais querem reconhecê-lo como Deus e deixá-lo ser Deus, mas ele o é. E graças a este amor incriado temos salvação, pois ele é o próprio Deus. Refletindo com João vemos esse amor que nos foi dado: Deus amou mundo de tal maneira que deu seu único filho, a fim de que todo aquele que nele crer, não pereça, mas a tenha a vida eterna. Também sabemos que o filho de Deus é vindo, e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em seu filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e o a vida eterna.
Conclusão
Deus olhando para a terra, não viu um justo sequer, ninguém que buscasse a Deus, e na eternidade exclamou: quem irá por nós? E o filho exclamou: eis me aqui Para fazer, ó Deus a tua vontade! Poderíamos encerrar nossa leitura com estas palavras de reflexão, onde Deus se importou por sua criação ao ponto de entregar seu único filho por nós, e de fundo esta é a mensagem que está oculta por traz de todo o texto que nós lemos. Graças a Deus que nos dá vitória por intermédio de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
A Doutrina da Palavra
Lutero diz que não é possível compreender Deus sem a palavra, e em toda a Escritura tanto em textos ou frases fáceis como em difíceis, Cristo está presente ali. Cristo também está presente no Antigo Testamento, pois as leis e os profetas não são proclamamos e entendidos diretamente se não encontramos Cristo neles.
Vemos também que as pregações dos apóstolos no Novo Testamento nos levam sempre de volta para os ensinamentos de Moisés. Lutero diz que no Antigo Testamento é Escritura e no Novo Testamento é pregação, pois apóstolos escrevem muito pouco. Na maioria das vezes se preocuparam em escrever para combater algum mal que estava acontecendo em algumas igrejas.
Em o prefácio aos dois testamentos Lutero afirma que o Novo Testamento é primordialmente evangelho e o chama de testamento por que Jesus deixa seus ensinos para serem pregados em todo o mudo. Lutero diz que no Antigo Testamento primordialmente é lei e chama de testamento por que Deus dá para o seu povo a terra de Canaã.
O Antigo Testamento se relaciona com o Novo Testamento primeiramente por causa da promessa do Messias e em segundo lugar por mostrar através dos mandamentos que o povo necessita de um Salvador, ou seja, lei e evangelho. Cristo é o interprete da lei e promulga o evangelho.
A palavra fundamental é Cristo mesmo que muitas vezes em exegeses não estão muito claras. As palavras de Deus escritas ou faladas são um meio de comunicação criativo que Deus usa para falar conosco.
A palavra de Deus nos vem com duas fontes como lei e como evangelho, e é essencial para um teólogo saber a diferenciar um do outro, a lei deve sem interpretada pelo evangelho e não o evangelho ser interpretado pela lei por que ai estaria sendo cometido um grade erro.
Quando Lutero percebeu que do modo com que ele falava da lei parecia que blasfemava ele explicou melhor a sua posição a respeito do uso da lei e do uso do evangelho. Em seu comentário do livro de Gálatas, Lutero fala que a lei é “Santa, justa e boa”, mas a lei deve ser aplicada com muito cuidado e de forma correta para não virar uma falsa doutrina.
Para Lutero a lei é tanto boa como má, tanto divina como diabólica. Como ele afirma cuidadosamente ela é em diversos sentidos. Ela é como expressão da vontade divina de Deus, mas se é usada para mostrar os caminhos da salvação então ela é diabólica, por isso é que Lutero fala que a lei deve ser aplicada com muito cuidado.
Quando Lutero fala da lei que é irrelevante ele só esta repudiando o legalismo religioso, e a opinião de que ela justifica diante de Deus. Mesmo que o homem conseguisse cumprir toda a lei ele não seria salvo, pois estaríamos rejeitando a maneira que Deus quer usar para que sejamos saltos.
Quando Lutero opõe de uma maneira rigorosa lei, devemos ter dois pontos de vista primeiro: que Lutero não estava se opondo a ética da religião, e em segundo: ele reafirma que a lei não é útil para a salvação como já foi falado acima.
Lutero diz que há dois usos da lei: como civil ou política, e como espiritual. A lei mesmo que política é lei de Deus e precisa ser cumprida, mas sem abusos, por isso a lei sempre deve ser cumprida desde que não vá contra o evangelho.
No sentido espiritual é para aumentar as transgressões, pois a lei nos mostra tudo o que nós fazemos de errado. Tanto no uso espiritual, como no uso político a lei é uma coisa excelente e é serva, não inimigo do evangelho.
Lutero diz que o evangelho possui dois ofícios: o primeiro é interpretar a lei, o segundo ofício é pregar Cristo, o proclamar a obra de Deus. Evangelho no sentido restrito do termo é totalmente o oposto da lei. Onde a lei exige o evangelho concede e assim por diante.
Ser crente é não mais viver sob a lei, mas sob a graça. O evangelho anula a lei, mas não é por isso que podemos fazer tudo o que a lei proíbe que façamos, pois a lei civil continua a valer.
Tudo deve ser entendido a luz da obra própria de Deus. Quando isso é feito à lei perde o seu valor legal. Para Lutero, tanto lei como evangelho são a justiça que condena e justiça que salva e são de um mesmo Deus gracioso, cuja natureza mais profunda é o amor. Lutero vê a lei incluída no evangelho e o evangelho incluído na lei, os dois apesar de serem opostos sempre estão juntos.
Lutero nos mostra que sempre Deus falou com o seu povo, que sempre houve uma religião correta, pois havia sempre crentes para continuar a levar à pregação da palavra a diante. Os sinais são o Batismo, Eucaristia e a Absolvição.
Os sacramentos nos livram de dois grandes erros: primeiro o legalismo, e o segundo a orientação puramente da religião. O sacramento é constituído da palavra que o acompanha e lhe dá o seu significado. Em oposição a vários outros teólogos Lutero afirma a presença real de Cristo na Ceia.
Do ponto de vista Zwingliano Cristo não está presente na Ceia, pois não pode estar presente num sacramento na terra, pois seu corpo após ressuscitar foi para a glória no céu, e Lutero responde a esses pensadores dizendo que Cristo não pode estar presente somente no céu, pois Deus é onipresente e por isso está em todos os lugares. Para Lutero esse Deus onipresente é o Deus revelado em Jesus Cristo que nos salvou mediante sua morte na cruz. Então Lutero questiona a explicação de Zwinglio, a respeito das palavras de Cristo: “Isto é o meu corpo”. Pois Zwínglio estava interpretando como “isto representa meu corpo”. Pois se fosse assim diz Lutero, o Sacramento não é mais a manifestação de Deus.
Na visão de Lutero, os Sacramentos são obras de Deus. E não um instrumento nas mãos humanas para influenciar a Deus, ou seja, querem amenizar a sua culpa, assegurar para si o amor e o favor de Deus. O amor e o favor são gratuitos, dados por Deus a nós. Então os Sacramentos não são feitos pela vontade humana, nem pela sua fé recebedora, diz Lutero, mas pela Palavra do Deus encarnado. A Santa Ceia tem a grande importância de alimentar o novo homem. Também podemos identificar a santificação como o crescente domínio do amor divino em nós. Essas obras, porém, o Espírito Santo não realiza onde não há a palavra de Deus, isto é, onde Cristo não está presente.
Lutero diz que a Igreja Cristã está, onde Cristo está. Para identificar uma igreja realmente cristã, Lutero procura nelas algumas marcas, como a pregação da Palavra, Batismo, Santa Ceia. Mas tudo isso reflete uma única marca, que é a presença da Palavra.
Há quem diga que o motivo de Lutero dar tamanha autoridade às Escrituras é porque acreditava na necessidade de uma autoridade externa na religião. O motivo de escolher as Escrituras estaria baseado no fato de que elas teriam dado a correta interpretação de sua própria experiência religiosa. Tal interpretação, porém, vai contra os princípios de Lutero, o de colocar o foco religioso em Deus. Ele não defendia a autoridade da igreja no sentido de que ela seria responsável por criar a fé. Nem tampouco as Escrituras poderiam realizar tal proeza, pois, se colocadas acima de Cristo, não mais cumpririam mais a sua função, de testemunhar Cristo. Daí a importância de que as Escrituras sejam interpretadas por elas mesmas, e não por argumentos humanos.
Em tudo o que fez Lutero sempre tinha em mente deixar que Deus fosse Deus. Então, vemos que havia sempre um contraste entre Lutero e os teólogos contemporâneos a ele, ou seja, procuravam um Deus egocêntrico, seja pelo esforço próprio ou pelas experiências pessoais. Assim sendo, por nós mesmos, nós realmente somos indignos e temos razão em ficarmos desesperados, mas não pela obra própria de Deus em Cristo, a qual nos é confirmada pelo Espírito Santo.