CRISTO PARA TODOS – ACOMPANHADOS POR DEUS
A DIACONIA INCLUSIVA DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
REV. NIVALDO GARCIA
INTRODUÇÃO.
A 37ª Sessão Plenária Especial sobre Deficiência da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, realizada em 14 de outubro de 1992, em comemoração ao término da Década, adotou o dia 3 de dezembro como Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, por meio da resolução A/RES/47/3.
No Brasil, porém, diversas entidades têm preferido o mês de agosto, e por uma razão ainda maior: Há mais de 40 anos o Movimento das APAES (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais) celebra anualmente, de 21 a 28 de agosto, a Semana Nacional do Excepcional - um convite à superação do preconceito.
Aproveitando o ensejo, vamos nós também, IELB, à luz das Escrituras Sagradas, refletir e encarnar os desafios diaconais que Deus propõe para o nosso envolvimento de acolhimento e ação às pessoas com deficiência.
I – PONTO DE PARTIDA – O PEM.
O Caderno do PEM de 2009, Volume 24, apresenta, no Estudo 2 (preparado pelo Rev. Adilson D. Schünke, Coordenador Nacional do PEM), diretrizes básicas que se aplicam diretamente ao grupo das pessoas com deficiência, algumas das quais recolocamos também aqui:
1) O Texto bíblico que fundamenta este estudo – 1 Co 9.9-23, pode entrar como opção de leitura da epistola do dia em lugar de Ef 5.22-33, embora nas entrelinhas deste texto, que trata da fidelidade conjugal entre o marido e a mulher, apreende-se também a presença dos filhos, muitos dos quais portadores de deficiência, que muitas vezes criam sérias instabilidades para a desestrutura familiar.
2) Grupos (IELB, congregações, departamentos, PEM) influenciando a sociedade: Ninguém se encontra neste grupo por acaso. Fomos desafiados por Deus para realizar uma tarefa, que é muito especial. Fomos convocados para servir ao nosso Senhor na conquista de pessoas para o seu Reino, também as pessoas com deficiência.
3) À luz do Programa "Aquecendo Corações", como podemos agir, cooperar, fazer a nossa parte (mediante remoção de obstáculos, criação de estratégias, ações diaconais), a fim de servir especificamente às pessoas com deficiência nas bases e nos objetivos do Evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo?
4) Exemplo paradigmático do apóstolo Paulo: "Assim eu me torno tudo para todos a fim de poder, de qualquer maneira possível, salvar alguns. Faço tudo isso por causa do evangelho a fim de tomar parte nas suas bênçãos" (1 Co 9.22,23).
II – A TRANSGRESSÃO DA LEI DO AMOR.
Não há transgressão maior da lei do amor de Deus do que a indiferença, o descaso e o desvio de atenção diante daquilo que se apresenta urgente e prioritário diante de nós. Como lemos em Tg 4.17: "Portanto, comete pecado a pessoa que sabe fazer o bem e não faz".
Se formos humildes o suficiente, concluiremos que essa transgressão é também nossa.
No Brasil, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 14% da população são portadores de algum tipo de deficiência, tanto congênita ou genética como adquirida por acidente, doença, vida sedentária, maus tratos e velhice. E quantos desses não fazem parte da IELB, da nossa congregação, do nosso círculo familiar, etc.?
Vamos refletir: Por que há um número tão reduzido (um e outro) de pessoas com deficiência nos nossos cultos dominicais e outras programações? Na nossa esfera de ação não tem pessoas com deficiência? Ou é porque elas na verdade ainda não se incluem nos nossos programas de ação? E para aquelas que vêm ou são trazidas, o ambiente, o acesso e a comunicação fazem com que se sintam bem acolhidas?
No texto do evangelho de hoje – Mc 7.1-13, Jesus criticou duramente os fariseus e alguns mestres da Lei pela sua falta de vivência do amor de Deus. Julgavam estar tributando verdadeiro culto a Deus na observância de tradições e mandamentos humanos, enquanto ignoravam o amor e o cuidado para a honra e o bem viver dos seus semelhantes. Por causa disso, a sua adoração era vã, pois não era respaldada, não tinha paralelo e não se apresentava na perspectiva do mesmo amor que Deus nos tem.
O mesmo desagrado e a mesma crítica continuam direcionados da parte de Jesus para todos aqueles que têm procedimento semelhante.
III – O AMOR DE CRISTO POR NÓS, EM NÓS E ATRAVÉS DE NÓS.
O vida de Jesus aqui na terra foi, em todos os sentidos, AMOR. Amor perfeito nos sentimentos, nas palavras, nos objetivos e nas ações. Esse amor também nos incluía e, pela fé, dele colhemos os frutos do perdão, da filiação com o Pai e da herança da vida eterna. Por outro lado, é da vontade de Deus que o amor de Cristo seja igualmente o paradigma das nossas ações aqui no mundo.
Reflita cada um nos textos de Jo 3.16 e 1 Jo 3.16. Coincidência ou não da sua igualdade de numeração, a verdade é que os filhos de Deus estão desafiados a vivenciarem, em todos os sentidos, o mesmo amor de Cristo. E isso se torna perfeitamente possível, pois neles está o Espírito Santo, que derrama (progressivamente, pelos meios da graça) o amor de Deus em nossos corações (cf. Rm 5.5).
Do texto do Antigo Testamento de hoje – Is 29.11-19, os versículos 17-19 (confira) eram prenúncio de uma nova realidade que seria expandida aqui no mundo a partir de Cristo, tanto através da sua obra redentora quanto através da ação missionária (incluindo a diaconia) da sua Igreja.
Aplicações gerais (A maioria delas contidas no livro "Somos Assim", Ed. Concórdia, do mesmo autor desta mensagem, Nivaldo Garcia):
1) Os objetivos da Semana Nacional do Excepcional têm relevância também para os desafios que se apresentam para a nossa realidade de Igreja: "A campanha da Semana Nacional do Excepcional será baseada no tema do ano, que busca sensibilizar a sociedade para construção da acessibilidade da pessoa com deficiência, sendo necessária uma mudança de atitude e a incorporação de valores indispensáveis para que o seu convívio social seja efetivo, tais como a tolerância e o respeito".
2) No evangelho de Jo 9.1-3 está registrada a visão pessoal de Jesus e aquela que ele quer ver norteando os pensamentos, as palavras e a vida dos seus discípulos em relação às pessoas com deficiência e aos pais que as geraram. Diante da indagação dos seus discípulos quanto à razão da cegueira de um homem, o Mestre respondeu: "Ele é cego, sim, mas não por causa dos pecados dele nem por causa dos pecados dos pais dele. É cego para que o poder de Deus se mostre nele". Que conforto para as pessoas com deficiência e familiares, vitimados que são de tabus, preconceitos, complexos e descasos! E que desafio para a Igreja!
A partir do seu próprio exemplo, o maior desejo de Jesus é ver seus discípulos cheios de amor, satisfação e ações de serviço a todas as pessoas, sem deixar de lado aquelas com deficiência, contribuindo (com estudos bíblicos e mensagens de orientação e formação, programas de inclusão, remoção de barreiras, cursos específicos, criação e prática de leis ou políticas públicas, envolvimento em programas de reabilitação e integração, criação de comissões na congregação e grupos para essa singularidade de pessoas) para que de uma ou outra forma os objetivos da Igreja – Adoração, Comunhão, Educação Cristã, Serviço e Testemunho – sejam uma realidade também na vida delas.
3) Além de exemplos ilustrativos, fatos e relatos acontecidos (positivos ou negativos) quando da aplicação desta mensagem ou reflexão semelhante, pode-se reportar para o exemplo de Davi em relação ao filho de Jônatas, Mefibosete, que era portador de deficiência adquirida, conforme registra 2 Sm 4.4 e 2 Sm 9.7,13. Aquela decisão de Davi (que tinha o Espírito de Deus) de acolhê-lo em sua casa para cuidar dele pelo restante dos seus dias foi, verdadeiramente, uma ação de amor!
CONCLUSÃO.
"Cristo para todos" é lema que traduz bem o desafio que a Igreja do Senhor Jesus tem para com as pessoas com deficiência. Desafio de nos envolvermos cristãmente na sua evangelização e educação. Desafio de oferecer-lhes e a seus pais, com o mesmo amor de Jesus, serviços de atenção, amparo e formação. Desafio de tornar a nossa fé ativa em amor.
Disse Jesus no sermão do monte: "Felizes as pessoas que têm misericórdia dos outros, pois Deus terá misericórdia delas" (Mt 5.7). E no dia do Juízo "o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: Venham, vocês que são abençoados pelo meu Pai! Venham e recebam o Reino que o meu Pai preparou para vocês desde a criação do mundo. Pois eu estava com fome, e vocês me deram comida; estava com sede e me deram água. Era estrangeiro, e me receberam na sua casa. Estava sem roupa, e me vestiram; estava doente, e cuidaram de mim. Estava na cadeira, e foram me visitar... Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quando vocês fizeram isso ao mais humilde dos meus irmãos, foi a mim que fizeram" (Mt 25.34-36,40).
Pelo Espírito Santo, elevo ao Pai de toda graça e misericórdia a minha confiante oração, para que nos faça crescer no amor de Jesus e, conseqüentemente, na capacidade de manifestarmos uma atitude mais digna, madura e eficaz no acolhimento, cuidado e serviço às pessoas com deficiência. Em nome de Jesus. Amém.
Pastor Nivaldo Garcia Recife - PE