C. A Audiência
Mateus é muito cuidadoso em identificar os originais ouvintes da comissão como os “onze discípulos” (v.16), uma distinção notável, como os discípulos originais igualmente depois da morte de Judas foram chamados “os doze”(I Co 15.5), uma designação que o evangelista mesmo sabia (10.1-2). Mateus conheceu suas opções, mas escolheu o restritivo “doze discípulos”. Qualquer idéia de que Jesus estivesse falando para uma enorme multidão, a qual foi confrontado enquanto dava o sermão do monte ou na alimentação de quatro ou cinco mil pessoas, está simplesmente sem apoio. Mateus deliberadamente tenciona a limitada audiência dos doze como os recipientes do comando para fazer discípulos dos Gentios. Lucas fala de um grande grupo de discípulos presentes à ascensão, mas Mateus 28.16-20, que está situado na Galiléia, desafia não ser confundido com um evento que toma lugar nos arredores de Jerusalém em Betânia (Lc 24.50) no Monte das Oliveiras (At 1.12).
Os doze discípulos (28.16), conhecidos pelos leitores de Mateus como apóstolos (10.2), podem ter permanecido no lugar da igreja para ouvir o comando, mas isto não é sugestão que a igreja, como estava constituída naquele tempo (os outros seguidores ou a grande comunidade) estivesse presente. Se outros estavam presentes, Mateus não menciona. Mateus já tem informado seus ouvintes em 10.2-4 da identidade dos doze e preparou-os para a redução dos doze (10.2) para onze (28.16) dizendo que Judas iria trair Jesus (10.4). Assim, o leitor já tem a resposta para a questão do que foram onze os presentes e não doze. Há no capítulo 10 os nomes dos doze e a referência para o primeiro estado como “discípulos” quando Jesus listou-os e seu corrente estado na igreja como “apóstolos” (vv. 1-2). Mateus 10.2, enquanto refere-se à seleção de Jesus dos doze, claramente pressupõe os eventos de 28.16-20 por que os discípulos foram autorizados como apóstolos. Colocando isto em outras palavras, já no capítulo 10 o evangelista sabe o resultado de sua história. O evangelho não foi composto conforme os eventos foram tomando lugar, mas depois e na luz da ressurreição. Os doze estavam já nomeados em 10.1-2 e o evangelista esperava que seus leitores já conhecessem os nomes.
No capítulo 10 aos discípulos é também dada sua missão. Assim, o capítulo 10 é o pressuposto para 28.16-20. Jesus primeiro considerou os doze (10.1-2; doze, 28.16) como Seus discípulos, mas a igreja tem de compreendê-los como Seus apóstolos, homens autorizados por Cristo a representá-lo. Por estas pericopes, 10 e 28.16-20, a igreja pode corretamente entender a si mesma como cristã – que é, consistir no seguir a Cristo – mas também como apostólica – que é, por causa dos apóstolos.
A designação de Jesus a seus discípulos como “Meus irmãos” (v.10) não está sem significado. Aqueles que foram Seus estudantes foram elevados para um estado quase igual a Ele como mestres de Sua mensagem para a igreja pois eles realizaram o desejo do Pai de Jesus (12.50), que é a proclamação de Sua morte e ressurreição. Os apóstolos não são os iniciadores do ensino da igreja, mas eles ficaram em Seu lugar como os mestres da igreja. O “Mandato Apostólico” (um termo usado pelo Reverendo Charles J. Evanson) pode ter sido planejado primeiramente aos ouvidos dos apóstolos somente, mas o evangelho no qual Mateus registrou-os foi planejado para os ouvidos da igreja inteira. Este planejamento duramente significa que todos aqueles que foram batizados podem considerar a si mesmos como apóstolos, porém eles estavam atentos ao papel especial que os apóstolos tinham em consideração à igreja e a igreja tinha em consideração aos apóstolos. Os apóstolos permaneceram no lugar de Cristo (10.40), e a igreja viu-se obrigada a apoiar a missão apostólica com meios materiais (10.11).
D. Galiléia como o lugar de Mateus 28.16-20
Compare a concentração de Mateus em observar Jesus na Galiléia com o aspecto da ressurreição, aparecimento e ascensão de Jesus em Lucas ao redor de Jerusalém. A Galiléia é mencionada três vezes em Mateus 28 (vv. 7, 10, 16), com uma única significante ressurreição e aparecimento tomando lugar aqui. Esta concentração na Galiléia corresponde ao propósito de Mateus de ter o evangelho pregado entre os Gentios, um propósito que ele declarou justo antes (4.15) para a introdução do ministério de Jesus (4.17). Isaías 9.1-2, citado por Mateus (4.15), fala sobre a terra de Zebulom e Naftali como “Galiléia dos Gentios”. Aqui a Versão Standard Revisada e talvez outras translações são menos que satisfatórias no comunicar as intenções dos evangelistas quando o comando é compreendido como fazer discípulos das nações e não Gentios – a traduzida e, sim, correta translação. A palavra geralmente preferida “Gentios” em 4.15, ethne, é igual a uma que mais translações traduzem “nações” (28.19). O evangelista está referindo-se ao mesmo grupo de pessoas em ambas perícopes (4.15 e 28.19), e ele tenciona que o leitor faça a conecção. Por ser tão dedicada como possível a intenção do evangelista, a translação inglesa deve consistentemente usar a palavra “Gentios”e não “nações” para ethne. O Norte da Palestina é “Galiléia dos Gentios” e não “Galiléia das nações”. O que é importante e, sim, e até chocante para o público judaico de Mateus é que os novos seguidores de Jesus estão vindo dos Gentios e que eles, os descendentes dos patriarcas, tem perdido seu estado especial (8.11-12). Jesus tinha dado comando para Seus discípulos para estes irem às ovelhas perdidas da casa de Israel e para evitar os Gentios (10.5-6). Na afiada distinção para esta proibição está Mateus 28.19, onde os judeus como um distinto povo não está igualmente mencionado. Os gentios eram para serem feitos discípulos. Não mais é a missão somente aos Judeus ou primeiro para os Judeus e depois para os Gregos (Rm 1.16; Gl 3.28) mas simplesmente para os Gentios. É notável que ethne é um neutro plural, e auta iria assim ser esperado como a própria forma em justaposição a este. Mateus usa autous para especificar que a referência está para pessoas e não grupos.
A antiga igreja briga sobre se os Gentios teriam se tornado Judeus primeiro antes de tornarem-se Cristãos (At 15.5). Eles debateram sobre o lugar na igreja de não-Judeus e não nações! O uso do evangelista de “Galiléia dos Gentios” de Isaías indica este estado como uma região fronteiriça desde o cativeiro até o reino do norte. Gentios foram misturados com Judeus, e esta integração gerou Galileus de estado inferior. Jesus, cuja comissão de Seu Pai, limitou-o aos Judeus (15.24), não somente veio a ter casual contato com os Gentios, mas Sua mensagem encontrou involuntário sucesso entre eles (8.10; 15.28), até mesmo aqueles que tinham somente ouvido relatos de Sua pregação (4.24). O comando dado para os doze de fazer discípulos aos Gentios foi reforçado por Ele na Galiléia, a terra onde Judeus e Gentios já estavam misturados. O ministério Galileu de Jesus é o protótipo e prólogo para a missão Gentílica dos apóstolos.