Em busca do Sexto Sentido A mente humana possui poderes que vão além dos sentidos normais. |
PSI-PESQUISA®
Aos catorze anos de idade, Stanley Krippner queria desesperadamente uma enciclopédia. Seus pais, cultivadores de maçãs, não puderam satisfazer seu desejo: naquele ano, a colheita fora pequena, o que os deixara com pouquissimo dinheiro. Inconformado, Stanley recolheu-se a seu quarto e chorou. Após algum tempo, começou a procurar uma forma de conseguir a quantia de que precisava. Seus pensamentos voltaram-se para o rico tio Max. Qual seria a melhor maneira de se aproximar dele e pedir o dinheiro? Num repente, o jovem sentou-se ereto na cama, movido por um terrivel pensamento: "Tio Max não pode me ajudar porque está morto". Muitos anos mais tarde, Krippner - então um dos mais importantes investigadores de fenômenos psi dos Estados Unidos - relembrava:
- Naquele momento, ouvi o telefone tocar. Minha mãe atendeu e começou a soluçar. Não tive mais dúvidas. Do outro lado da linha, meu primo informava que Max tinha adoecido inesperadamente e, levado às pressas ao hospital, não resistiu. Faleceu logo depois.
PES ou mediunidade?
São inúmeros os relatos de pessoas que passam por situações semelhantes: a informação de um acontecimento chega-lhes de alguma forma que ultrapassa os sentidos "normais". Conhecido como PES (percepção extrasensorial) ou ESP (do inglês extra-sensory perception), esse fenômeno tem sido estudado com intensidade em todo o mundo, por meio de inúmeras experiências científicas, na tentativa de se comprovar sua existência e compreender seu funcionamento.
As pesquisas realizadas desde 1930 e o estudo de casos espontâneos deixam claro que a PES não acontece isoladamente. No episódio de Stanley Krippner, por exemplo, hà três fenômenos psi envolvidos. Classificados como tipos de percepção extra-sensorial, poderiam ser os responsáveis pela descoberta paranormal da inesperada morte do tio:
Telepatia - A mente do jovem pode ter entrado em sintonia com a do primo e lido seus pensamentos exatamente no instante em que ele estava para telefonar, dando a má noticia.
Clarividência - É igualmente possivel que o jovem Krippner tivesse consciência da morte do tio (sentiu, viu com clareza o que havia acontecido) sem qualquer comunicação mente-mente.
Premonição - Outra hipótese relaciona a proveniência de seu conhecimento com o futuro e não com acontecimentos passados ou presentes. De alguma forma, Stanley saltou uma fração de tempo adiante e soube que informação sua mãe receberia pelo telefone.
Há uma quarta alternativa: depois de falecer, Max estabeleceu comunicação com o sobrinho. No caso, Stanley seria dotado de poderes paranormais de algum tipo que o capacitaram a se comunicar com o morto, recebendo sua mensagem. Esse fenômeno caracteriza, na doutrina espírita, a mediunidade e extrapola o âmbito da pesquisa científica da parapsicologia.
O estranho caso da sra. Luther. As pessoas que investigam a PES - os parapsicólogos - lidam com um assunto de grande complexidade, que exige rigoroso exame de todos os dados e explicações levantados, inclusive os de caráter científico convencional. Em certos casos, as características do evento mostram-se insuficientes para determinar quando se trata de darividência ou de telepatia. Os primeiros investigadores de manifestações de PES, no final do século XIX, coletaram e conferiram impressionante variedade de ocorrências. Esse trabalho resultou na publicação de inúmeros testemunhos de pessoas dignas de confiança - entre as quais juízes, médicos, advogados, engenheiros, que haviam passado por experiências incomuns.
Uma das vivências foi confirmada pelo professor F. S. Luther. Esse matemático inglês do Trinity College relatou um acontecimento paranormal que envolveu sua esposa, Um amigo perguntara a ela se possuía um livro sobre o filósofo e poeta Ralph Waldo Emerson. A sra. Luther disse que não, mas durante a noite ambos tiveram o mesmo sonho, em que ela entregava ao amigo o livro procurado. No dia seguinte, o professor viu sua esposa voltar-se para a estante de livros, impelida por estranha compulsão. Ela abaixou-se para pegar uma revista e abriu-a, sem refletir sobre o que fazia, num artigo chamado "As casas e os lugares freqüentados por Emerson".
Casos espontâneos como esse acontecem quando as pessoas menos esperam, o que impede - ou pelo menos dificulta - seu estudo objetivo. A ocorrência de uma manifestação de PES em laboratòrio é tão improvável quanto a queda de um raio em casa ou de um meteorito no jardim. Os céticos, por isso, descartaram esses primeiros casos, considerando-os mera coincidência. Algo teria de ser feito, portanto, para colocar o estudo da PES em bases científicas.
O dr. Rhine dá as cartas O fato de algumas pessoas estarem, com certa freqüência, sujeitas a experiências PSI levou os pesquisadores a utilizá-las em testes controlados, tendo como objetivo principal verificar se a telepatia existe. O pioneiro nesse trabalho foi o dr. Joseph Banks Rhine, que, com sua esposa Louisa, dirigiu o primeiro grande projeto específico de pesquisa da PES. Isso ocorreu na universidade americana de Duke, sob o patrocínio do professor William McDougall, chefe do departamento de Psicologia. Os Rhine eram biólogos, até que, na metade da década de 20, o interesse por questões paranormais tornou-se sua atividade principal. Graças à iniciativa de McDougall, a partir de 1927 o casal de pesquisadores pôde dedicar-se em tempo integral a uma investigação sobre PES. |
Desse trabalho nasceu a ciência da Parapsicologia. J. B. Rhine, criador da sigla ESP (PES), devotou mais de cinqüenta anos ao estudo desse assunto, até sua morte em 1980. O método de pesquisa do casal Rhine consistia em aplicar exercícios de adivinhação aos individuos observados na Universidade de Duke. Usava-se um baralho de 25 cartas, dividido em cinco conjuntos. Cada conjunto tinha um simbolo diferente: círculo, estrela, cruz, quadrado e linhas sinuosas. Essas cartas Zener (nome de um dos pesquisadores da universidade) eram embaralhadas e, a seguir, o agente ou emissor - a pessoa que remetia mentalmente a informação - as observava, uma de cada vez. Em outra parte da escola, o receptor (individuo sob análise) apontava para o simbolo que pensava estar sendo visto pelo agente.
De acordo com as leis da probabilidade, o receptor acertaria cinco das 25 (1:5), se os palpites fossem aleatórios. Às vezes, o acaso poderia levar a mais de uma coincidência em cinco cartas. Porém, em outras ocasiões, o receptor poderia ter um índice de acerto menor; assim, numa série extensa de testes, os resultados se equilibrariam em 1:5. Se, por outro lado, o individuo tivesse capacidade de PES, os resultados se situariam acima da média. E foi exatamente isso que Rhine constatou.
Um dos primeiros receptores sensiveis de Rhine era um homem chamado Linzmayer, que gostava de ter algum tipo de distração enquanto da-va seus palpites. Às vezes, a fim de satisfazê-lo, o pesquisador saia com ele pelo campo e parava o automóvel no caminho para testes improvisados. Numa dessas ocasiões, Linzmayer adivinhou,corretamente todas as quinze cartas observadas por Rhine. Sob melhores condições de controle, no laboratório, continuou a obter niveis de acerto acima da média, porém sua PES logo diminuiu, vindo depois a desaparecer.
Na experiência de adivinhar cartas, realizada no carro, Linzmayer talvez tenha lido a mente do pesquisador. No entanto, também se submeteu a testes em que lhe solicitavam descobrir a carta antes de ser virada. Como ninguém sabia qual a carta, ele precisaria usar a clarividência para fazer as adivinhações. Ainda nesse caso, seu nivel de acerto ficava significativamente acima da média. O mesmo ocorreu com outros receptores, que se mostraram tão capazes de ver "através" das cartas quanto ele.
O trabalho revelou que havia muito mais na PES do que simples telepatia. Em dez anos, Rhine já estava examinando a premonição, ou possibilidade de antever o futuro. Pedia às pessoas que dessem um palpite antecipado sobre a ordem em que as cartas Zener apareceriam, depois de embaralhadas. Os resultados foram tão surpreendentes quanto os demais, obtidos em pesquisas de PES no laboratório.
A luta pela verdade À época de sua primeira publicação, em 1934, o trabalho do dr. Rhine despertou enorme interesse. Não faltaram, entre seus colegas cientistas, céticos empenhados na busca de falhas nas condições e nas técnicas de laboratório. O pesquisador neutralizou todas as críticas. Se não havia imperfeições no método, as análises estatisticas de Rhine deviam estar erradas, conjecturaram os antiparapsicólogos. Talvez os resultados acima da média não decorressem de |
manifestação de PES, mas de algum deslize na compuiação dos acertos. Esse argumento esvaziou-se em 1937, quando o Instituto Americano de Matemática Estatistica emitiu uma declaração, baseada em sua própria pesquisa, que confirmou a validade dos métodos de computação usados nos testes de Rhine para avaliar os fenômenos de PES. Se aos receptores não era permitido trapacear, se as condições tornavam impossível transmitir-lhes as informações por meios "normais", e se os métodos estatísticos usados na análise dos resultados estavam corretos, não restaria aos céticos outra alternativa senão acreditar na existência da PES. Havia, porém, uma possibilidade a ser levada a sério: fraude do experimentador. Rhine teria "cozinhado" os registros. No jargão dos meios científicos, o "cozimento" indica ajustes propositais nos dados a fim de forçar uma experiência a fornecer os dados esperados. A hipótese foi apresentada em 1955 por um médico pesquisador, G. R. Price, em artigo para a revista Science, prestigiada publicação da American Association for the Advancement of Science (Associação Americana para o Progresso da Ciência). Argumentava Price que fraude do experimentador era a explicação ''mais simples e mais de acordo com a experiência cotidiana" para a alegada paranormalidade. A maior parte de suas críticas tinha como objetivo Rhine e também o dr. S. G. Soal, eminente parapsicólogo inglês.
Muitos consideravam que o ataque desfechado por Price deixava a parapsicologia exposta ao descrédito público, mas Rhine enfrentou-o com calma. Começou a se corresponder com o opositor, rebatendo suas várias alegações e discutindo em profundidade os procedimentos usados em seu trabalho. Disso resultou, anos mais tarde (em 1972), a publicação de outro artigo de Price na Science. Sintomaticamente, chamava-se "Desculpas a Rhine e Soal".
Rhine merecia uma retratação desse tipo há muito tempo. Quanto a Soal, descobriu-se mais tarde que as suspeitas de Price estavam corretas. O caso é estranho e parece uma advertência aos que se vêem tentados a confiar no conjunto das experiências sobre PES. Muitos pesquisadores interpretaram os resultados de Soal como a pedra fundamental da PES, e a evidência do engano exige que se reescreva a història da parapsicologia.
O matemático Soal começou a se interessar por pesquisa de fenômeno psi quando realizava uma série extensiva de testes com PES, esperando fomecer corroboração independente ao trabalho de Rhine. Testou 160 pessoas por um periodo de cinco anos e analisou um total de 128.350 palpites contra os alvos (os simbolos grafados nas cartas). Nada descobriu, além de acertos dentro das probabilidades normais. Em conseqüência, interrompeu sua pesquisa com PES, e passou a criticar Rhine pelo que considerava erros nos métodos empregados para produzir índices positivos. Esse poderia representar o final da história, não fosse a influência de outro pesquisador inglês, Whately Carrington. Em seus próprios testes com PES, usando desenhos como alvos, Carrington descobriu um estranho efeito de deslocamento. Às vezes, um participante errava o alvo que tentava adivinhar, mas indicava, em seu lugar, o alvo do dia anterior ou mesmo o que seria escolhido aleatoriamente no dia seguinte.
Estimulado pela descoberta, Carrington pressionou Soal a reexaminar as estatÍsticas em busca desse desvio. O matemático seguiu a insistente sugestão e, de fato, encontrou o efeito de deslocamento nos resultados apresentados por dois receptores - Basil Shackleton e Gloria Stewart.
Ambos apresentavam eventuais deslocamentos (positivos ou negativos). A partir dai, Soal continuou seu trabalho com PES usando Shackleton e Stewart como receptores.
Evidência real
Os resultados das experiências realizadas com Shackleton, entre 1941 e 1943, foram tão notáveis que muitos parapsicólogos os tomaram como prova da existência da PES. Vinte anos mais tarde, porém, Gretl Albert, que estivera envolvida nos testes como agente, comentou ter visto várias vezes Soal alterar os dados. Reexaminadas as estatisticas de Soal, comprovou-se a veracidade do depoimento da sra. Albert.
A fim de garantir que as cartas usadas nas experiências fossem escolhidas ao acaso, Soal usou a técnica-padrão de laboratório. Referia-se com freqüência ás tabelas logaritmicas de Chambers e às tabelas de números aleatórios de Tippett (embora não indicasse como as empregava). Verificou-se, porém, que as listas aleatórias utilizadas em suas experiências não correspondiam as listas,padrão publicadas. Um estudo realizado por Betty Markwick, publicado em 1978, revelou que certas seqüências extensas de números apareciam repetidas. Isso poderia significar apenas que Soal estava usando um conjunto pequenc de números aleatórios, o que não afetaria a validade da experiência. No entanto, Betty constatou que as seqüências repetidas não eram idênticas: às vezes, números adicionais as interrompiam. E tais números, onde ocorriam, apresentavam marcante correspondência com os "acertos" em PES registrados por Soal. Removendo-se os números, os acertos caiam para os níveis de probabilidade. Resumindo essas provas, Betty deciarou que se deveria desqualificar toda a série experimental de adivinhação realizada pelo pesquisador.
O caso Soal é um triste capítulo da acidentada história da parapsicologia. As provas em favor da PES, no entanto, não dependem de uma única série de experiências. Depois dos anos 30, as provas favoráveis à percepção extra-sensorial tornaram-se cada vez mais fortes. Embora os pesquisadores ainda não possam produzir telepatia, clarividência e premonição "sob encomenda", no laboratório, suas pesquisas mostram que a PES é um fenômeno real, negado apenas por pessoas dogmáticas. As investigações menos preconceituosas indicam a possibilidade de todos os seres humanos um dia dominarem e usarem seus poderes PSI à vontade, desde que tenham treinamento apropriado.
Fonte: INEXPLICADO - Editora Rio Gráfica.