A Cura Do Homem Que Nasceu Cego. João 9. 1-41.
O milagre: V. 1) Caminhando Jesus, viu um homem cego de nascença. 2) E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? 3) Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus. 4) É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar. 5) Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo. 6) Dito isso, cuspiu na terra e, tendo feito lodo com a saliva, aplicou-o aos olhos do cego, 7) dizendo-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé (que quer dizer Enviado). Ele foi, lavou-se, e voltou vendo. Esta história simplesmente é a continuação da narrativa prévia, pois os acontecimentos, aqui relatados, ocorreram quando Jesus passou, provavelmente já fora do templo, próximo dos portões onde era comum se reunirem muitos mendigos. Foi assim que seus olhos se fixaram num cego. É uma das peculiaridades da providência de Deus que ele, muitas vezes, manifesta seu poder em pequenos incidentes que nos parecem acontecimentos do acaso. O homem que despertara a atenção de Jesus fora um cego de nascença. Os discípulos, que também notaram o pobre e desafortunado homem, expressaram a opinião do povo em geral, quando perguntaram Jesus, se sua aflição fora devida a um pecado que ele mesmo cometeu ou a alguma falta de seus pais. A pergunta deles oferece a Jesus uma oportunidade para repudiar a crença popular de que é possível traçar cada doença ou tristeza peculiar a algum pecado específico. De fato, em geral é verdade, que o pecado tem sido seguido por toda sorte de males e fraquezas físicas, que por si mesmas são só os precursores da morte, que é o salário do pecado. Também é verdade que certos pecados, especialmente aqueles da impureza, vão trazer punição direta ao corpo. Mas querer apontar como conseqüência de pecado excepcional sempre que alguma desgraça séria ou alguma doença acerta uma pessoa ou uma família, isso é invariavelmente, quase sempre, uma injustiça e prazer em julgar e condenar, algo que o Senhor previne. Cf. Lc. 13. 1-5. Por isso Jesus ensinou aos seus discípulos a verdade que diz respeito a este homem e a todas as demais pessoas desafortunadas. Neste caso especial, por exemplo, deviam manifestar-se a obra de Deus, seu poder e força. E o Senhor acrescentou que ele, ou, conforme alguns manuscritos, nós, os seus seguidores, junto com ele, temos a obrigação de trabalhar, de realizar as obras daquele que o enviou ao mundo. Não há qualquer compreensão falsa quanto à natureza e o escopo da obra e do ofício que precisamos realizar no mundo, também não há a menor hesitação quanto ao empreitar-nos nesta obra com toda disposição que tem um coração unido à vontade de Deus. O tempo de hoje é o dia de Cristo; agora é o tempo da graça; agora ele precisa estar naquilo que é a tarefa tanto dele como de seu Pai. Este mesmo espírito precisa viver nos seguidores de Cristo, esse precisa caracterizar todos os seus esforços
em prol da difusão do reino e todos o seu trabalho em favor do reino de Deus. Mesmo o menor espaço de tempo e cada restinho de vigor devem ser empenhados nesta mais importante das tarefas. Pois logo virá a noite da morte, e isto porá um ponto final a todo o empenho com e pelo Senhor. Jesus afirma, quanto a si mesmo, que sua escolha e as obrigações desta lhe eram claras; enquanto ele está no mundo, não deve cessar seu ofício de ser a luz do mundo. Esta obra ele expusera em detalhe aos judeus, e aqui o rumo da conversa relembrou esta explanação. A referência tendia ao reforço da ênfase de sua disposição de agir em benefício e pela salvação do mundo. A seguir Jesus, na doçura de sua mensagem evangélica, deliberadamente, prosseguiu na operação do milagre da cura do cego, o qual, sem dúvida, ouvira todas as palavras da conversa. Com o umedecer com cuspe de sua boca um pouco de barro, ele formou uma pasta, que colocou sobre os olhos do cego, e então o mandou ao tanque de Siloé para se lavar. O tanque de Siloé era aquele do qual era tomada a água no dia do grande Hosana, que era o último dia da festa dos tabernáculos, e cujo derramamento simbolizava o envio do Espírito. No caso atual Jesus arranjou os detalhes tão pormenorizadamente, para enfatizar que a cura fora realizada por ele. O cego, cuja fé em Jesus, enquanto isto, fora firmemente estabelecida, não hesitou por um instante em cumprir a ordem de Cristo. Foi e se lavou e voltou enxergando.
A comoção causada pelo milagre: V. 8) Então os vizinhos e os que dantes o conheciam de vista, como mendigo, perguntavam: Não é este o que estava assentado pedindo esmolas? 9) Uns diziam: É ele. Outros: Não, mas se parece com ele. Ele mesmo, porém, dizia: Sou eu. 10) Perguntaram-lhe, pois: Como te foram abertos os olhos? 11) Respondeu ele: o homem chamado Jesus fez lodo, untou-me os olhos, e disse-me: Vai ao tanque de Siloé, e lava-te. Então fui, lavei-me e estou vendo. 12) Disseram-lhe, pois: Onde está ele? Respondeu: Não sei.
O cego retornara à cidade, ao seu lar. Enquanto isto, Jesus continuou nalgum outro lugar. O povo da vizinhança, vendo o antigo cego andando por aí com a manifesta habilidade do uso da visão, estavam tomados de grande surpresa. Havia outros que estavam prontos a identificá-lo como o homem que anteriormente estava empenhado na vocação de mendigo. O milagre foi tão singular que todos estavam, um tanto, duvidando da sua identidade, havendo alguns que diziam que era realmente ele, mas outros, que só se parecia com ele. Mas o anteriormente cego resolveu a discussão mantendo com franqueza que ele o era realmente. Notemos como a narrativa prossegue de modo instantâneo, distinto e fiel à realidade. Os vizinhos e quantos se reuniram passam a pressioná-lo insistentemente com perguntas sobre a maneira como recuperou sua visão. E ele o relatou fielmente. Ele jamais vira a Jesus, mas ouvira seu nome. Sabia que Jesus colocara uma espécie de pasta sobre seus olhos amortecidos, descobrindo ele depois que isso fora barro. Mas, como este fora feito, não lhes pode dizer, porque não o vira. Sabia que seguindo as orientações, lhe fora dada visão, e ele ainda estava tomado de admiração pelo fato. Quanto a outras perguntas sobre o paradeiro de seu benfeitor, o anterior cego honestamente só sabe dizer que não o sabe. Mesmo que Jesus, naquele tempo, era bem conhecido em muitas partes da Palestina, houve muitas pessoas que ainda não o conheciam. Talvez tivessem ouvido dele de modo vago como o grande profeta e curador, mas seu nome e sua pessoa não eram bem conhecidos em Jerusalém.
A pesquisa dos fariseus: V. 13) Levaram, pois, aos fariseus o que dantes fora cego. 14) E era sábado o dia em que Jesus fez o lodo e lhe abriu os olhos. 15) Então os fariseus por sua vez lhe perguntaram como chegara a ver; ao que lhes respondeu: Aplicou lodo aos meus olhos, lavei-me e estou vendo. 16) Por isso alguns dos fariseus diziam: Este homem não é de Deus, porque não guarda o sábado. Diziam outros: Como pode um homem pecador fazer tamanhos sinais? E houve dissensão entre eles. 17) De novo perguntaram ao cego: Que dizes tu a respeito dele, visto que te abriu os olhos? Que é profeta, respondeu ele.
O caso foi de tal monta, que o povo julgou necessário conduzir o homem aos chefes do povo, dentre os quais os fariseus eram os mais proeminentes. A estes obstinados por formas e observações externas o ponto mais importante foi, certamente, que a cura fora realizada num sábado. Na avaliação deles, mexer barro era tarefa dum pedreiro, e a ordem do homem para que fosse e se lavasse não era trabalho necessário. Por isso os fariseus prontamente tomaram o homem e em minúcias o inquiriram sobre como recebera sua visão. Mas não foi possível abalar o testemunho do homem. Deu-lhes a mesmo relato que dera aos vizinhos. E estes hipócritas imediatamente se agarraram ao fato que a cura fora feita no sábado; esta foi a acusação contra quem o curara. Jesus, como parece, propositalmente realizara o milagre no sábado, para ofender aos fariseus. Deu a estas pessoas maldosas, as quais se recusavam em aceitar a verdade, razões para se ofenderem sem mais e, desta forma, encher a medida de suas transgressões. A auto-obstinação do coração é o castigo terrível da incredulidade. Mas alguns dos membros do sinédrio, cuja compreensão espiritual ainda não se perdera, fizeram a observação vacilante: Como pode um
pecador realizar tais sinais? Sentiam que Deus não permitiria que um transgressor público de sua santa lei saísse impune, muito menos que lhe daria estes poderes especiais de realizar milagres. O resultado de toda a discussão foi que ocorreu uma divisão no conselho, e já não conseguiram chegar a um acordo em seu juízo sobre o caso. Numa digressão, perguntaram ao antigo cego o que pensava sobre seu benfeitor. Este não hesitou um só momento em confessar Cristo, a quem jamais vira, como sendo um grande profeta enviado por Deus, atribuindo assim sua cura a Deus. os inimigos de Cristo estão sempre a espreitar por alguma maneira de desacreditar os milagres do evangelho, mas eles não vão ter sucesso. A Palavra de Deus está firme demais.
A consulta aos pais: V. 18) Não acreditaram os judeus que ele fora cego e que agora via, enquanto não lhe chamaram os pais, 19) e os interrogaram: É este o vosso filho, de quem dizeis que nasceu cego? Como, pois, vê agora? 20) Então os pais responderam: Sabemos que este é nosso filho, e que nasceu cego; 21) mas não sabemos como vê agora; ou quem lhe abriu os olhos também não sabemos. Perguntai a ele, idade tem; falará de si mesmo. 22) Isto disseram seus pais porque estavam com medo dos judeus; pois estes já haviam assentado que se alguém confessasse ser Jesus o Cristo, fosse expulso da sinagoga. 23) Por isso é que disseram os pais: Ele idade tem, interrogai-o.
Os chefes dos judeus, tendo achado o testemunho do antigo cego fraco demais para permitir algum questionamento, agora tentaram invalidar sua afirmação colocando em dúvida sua anterior cegueira. Por isso, no esforço de desacreditar tudo, convocaram os pais diante de seu tribunal. Vejam como procede um governo tipicamente hierárquico. Os pais foram perguntados se estavam certos da identidade deste homem, e também se sabiam a maneira pela qual ele recebera a visão. Podemos, facilmente, imaginar a cena; como os tímidos anciãos recuam e se encolhem diante da maneira opressora dos inquisidores, conseguindo só com dificuldade abrir a boca, por medo de dizer algo que pudesse ofender a estes poderosos. Tiveram condições de testemunhar a respeito que seu filho nasceu cego, mas foram cautelosos em ficar absolutamente neutros, em conservar uma atitude desinteressada sobre qualquer possível milagre, visto que os judeus haviam ameaçado com a excomunhão a quantos fossem confessar Cristo ou fossem falar a seu favor. Eles referiram os fiscais ao próprio homem. Este era de maior idade, e estava plenamente capaz de falar em favor de si mesmo. Não queriam ariscar-se na excomunhão, visto que isto os teria excluído de quase todo o intercurso com qualquer pessoa, a não ser a classe mais baixa de pessoas. O acordo entre os membros do sinédrio foi que os confessores de Cristo fossem expulsos da igreja. “Havia três graus de excomunhão: a primeira durava por trinta dias; a seguir vinha uma ‘segunda admoestação’, e, quando impenitente, o réu era punido com mais trinta dias; e, se ainda impenitente, era colocado sob o cherem, ou excomunhão, que era de duração indefinida, a qual o separava completamente das relações com as demais pessoas. Era tratado como se fosse um leproso. Para pessoas pobres como os pais deste mendigo, isto significaria ruína e morte.”5). Notemos: É um juízo terrível sobre a incredulidade, que os descrentes não conseguem ver os fatos mais evidentes e certos que lhes são colocados diante dos olhos. A ressurreição de Cristo, a inerrância da Bíblia, e dúzias de outros fatos que têm ao seu lado o testemunho das melhores testemunhas no mundo, são ainda questionados por pessoas que se têm por imparciais. Mas sua cegueira é tão densa que já não conseguem ver a luz.
Uma segunda entrevista com o que antes fora cego: V. 24) Então chamaram pela segunda vez o homem que fora cego e lhe disseram: Dá glória a Deus; nós sabemos que esse homem é pecador. 25) Ele retrucou: Se é pecador, não sei; uma coisa sei: Eu era cego, e agora vejo. 26) perguntaram-lhe, pois: Que te fez ele? como te abriu os olhos? 27) Ele lhes respondeu: Já vo-lo disse, e não atendestes; por que quereis ouvir outra vez? porventura quereis vós também tornar-vos seus discípulos? 28) Então o injuriaram e lhe disseram: Discípulo dele és tu; mas nós somos discípulos de Moisés. 29) Sabemos que Deus falou a Moisés, mas deste nem sabemos donde é.
Os fariseus se encontravam num dilema. Caso se espalhassem os fatos sobre este milagre, a fama de Cristo cresceria e se difundiria em todas as direções, mas o prestígio deles receberia um golpe sério. Por isso fizeram outra tentativa para abalar o testemunho do homem, esta vez, porém, de um modo tal que o homem fosse obrigado a negar que tivesse ocorrido um milagre. Num ar santimônio eles o admoestam a dar glória só a Deus dizendo unicamente a verdade, e não algo que fosse uma peça de ficção que fora inventada para beneficiar a Jesus. Sempre há algum tempero de ameaça nas palavras: Nós sabemos que este homem é pecador. A dedução foi que devia ser impossível realizar o que o homem afirmava fora feito. O homem, porém, tenazmente se ateve à verdade; ele não estava preocupado com a pecaminosidade ou santidade de seu benfeitor. Ele sabia uma coisa: Tendo sido cego, agora podia ver. Esta mesma fé singela e esta tenaz perseverança deviam caracterizar a confissão dum cristão sobre Cristo. Quando descrentes tentam abalar o testemunho sobre conversão ou regeneração, o singelo aderir a esta uma verdade: Conheço a experiência de meu próprio coração e da minha mente; não é alguma ilusão, mas a convicção mais firme que pode haver no mundo, isso, muitas vezes, fará que os inimigos precisem recuar. Os judeus, no empenho de abalar a estabilidade deste testemunho, novamente o perguntaram sobre a maneira em que seus olhos haviam sido aberto. É muito compreensível que o assunto estava irritando ao homem e que ele lhes respondeu de modo muito acre. Já lhes havia dito uma vez, mas eles, evidentemente, não haviam escutado com atenção; por que deveria ele repetir o mesmo testemunho repetidas vezes? A tola tentativa deles de engambelá-lo a alguma afirmação inconsistente foi uma estratégia vergonhosa. Mas o sarcasmo do homem sobre se desejassem ser discípulos de Jesus feriu-os em lugar muito melindroso. De modo irritado o insultaram, acusando-o de ser um discípulo deste homem. Colocaram Jesus na mesma classe dos excluídos com os quais não queriam nada em comum. Mas quanto a eles, eram discípulos de Moisés, afirmam piamente. No caso de Moisés, estavam certos, que Deus falara com ele; mas no caso deste homem tinham nada definido em que pudessem basear sua opinião, nem ao menos sabiam da sua origem. Isto era, em parte, proposital ignorância, e, em parte, blasfema maldade. Haviam tido as mais amplas oportunidades para conseguir a informação que desejaram, se ao menos tivessem estado dispostos a seguir a orientação de Jesus, cap. 7. 17. Notemos: Os descrentes que querem ser, ao mesmo tempo, espertos e sarcásticos, atiram calúnias sobre o nascimento de Cristo duma virgem, colocando desta forma sua origem em dúvida, enquanto que uma simples leitura da Escritura os convenceria, se não resistissem tão obstinadamente ao Espírito Santo.
A conclusão correta do homem que anteriormente estivera cego: V. 30) Respondeu-lhes o homem: Nisto é de estranhar que vós não saibais donde ele é, e contudo me abriu os olhos. 31) Sabemos que Deus não atende a pecadores; mas, pelo contrário, se alguém teme a Deus e pratica a sua vontade, a este atende. 32) Desde que há mundo, jamais se ouviu que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. 33) Se este homem não fosse de Deus, nada poderia ter feito.
O método escolhido pelos fariseus, longe de tornar o homem indeciso e temeroso em sua afirmação, ao contrário, o firmou em sua posição quanto ao homem que lhe dera o grande dom da visão. A admiração do homem estava bem fundamentada. Os chefes dos judeus deviam ter conhecido um curador tão maravilhoso. Em sua opinião era procedimento tolo hesitar sobre a origem de alguém que realizava curas tão maravilhosas e que manifestava um poder divino tão grande, e ele não hesita em dizer isto aos líderes judeus. Era correto que um pecador não podia realizar tais feitos; Deus não podia ser induzido a dar tal poder a uma pessoa que deliberadamente transgredia sua vontade. Todavia o feito que ocorrera foi uma evidência do poder de Deus no que o curara. Por isso este homem Jesus não podia ser um pecador, mas deve ser de Deus. Jamais se ouviu que um milagre desta grandeza tenha ocorrido no mundo. Por isso, se Jesus tinha o poder de realizar tais milagres, então ele deve vir de Deus. Esta foi a conclusão correta, e aquela que derrotou completamente aos chefes dos judeus. Este homem inculto sabia argumentar com muito maior exatidão e força do que eles próprios, visto que ele tinha a verdade ao seu lado. O Cristo mais singelo, da mesma foram, aderindo estritamente à verdade das Escrituras, é capaz de confundir aos descrentes mais agudos e hábeis que tentam afastá-lo de sua fé em seu Salvador.
Jesus se revela: V. 34) Mas eles retrucaram: Tu és nascido todo em pecado, e nos ensinas a nós? E o expulsaram. 35) Ouvindo Jesus que o tinham expulsado, encontrando-o, lhe perguntou: Crês tu no Filho do homem? 36) Ele respondeu, e disse: Quem é, Senhor, para que eu nele creia? 37) E Jesus lhe disse: Já o tens visto e é o que fala contido. 38) Então afirmou ele: Creio, Senhor, e o adorou. A franqueza do homem que estivera cego enfureceu sobremodo aos fariseus. Por isso lhe atiram em rosto a crença popular, que sua cegueira foi devido ao pecado, condenando-o juntamente com sua calamidade. Este é o modo dos descrentes. Quando não são mais capazes de contradizer a fatos claros, seu recurso é para insinuações vis e blasfêmias maliciosas. Mas os fariseus, em adição ao seu novo insulto, expulsam-no da sala onde tiveram sua reunião e tomaram o primeiro passo para expulsá-lo também da congregação. Eles, de modo predisposto e deliberado fecharam os olhos contra os fatos evidentes que havia diante deles; negaram a realidade deles; sufocaram sua própria consciência. Todos os atos deles foram um produto da hipocrisia mais pura e uma blasfêmia que não tinha paralelo. Jesus, que observara com atenção o caso do homem anteriormente cego, logo descobriu que os chefes judeus haviam começado o processo de excomunhão contra ele. Por isso aproveitou a ocasião para apoiar e socorrê-lo de modo mundo maravilhoso. A pergunta de Jesus, se acreditava no Filho de Deus, teve a intenção de operar esta fé no coração do homem, pois esta é sempre a natureza da Palavra de Deus. O homem curado foi um israelita crente; sua fé se fixava no Messias vindouro, do qual sabia que era o Filho de Deus. Por isso, quando foi inteirado da identidade do Filho de Deus com este bendito homem que o curara e que falava com ele, ele confessou alegremente sua fé e o mostrou no ato visível de devoção, dobrando seu joelho em prece cheia de adoração; ele adorou Jesus como Deus. Notemos: Jesus nunca perde de vista aqueles em que ele tomou um interesse pessoal. A solicitude de sua misericórdia salvadora sempre busca aos que receberam seus benefícios.
O juízo sobre a cegueira proposital: V. 39) Prosseguiu Jesus: Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos. 40) Alguns dentre os fariseus que estavam perto dele, perguntaram-lhe: Acaso também nós somos cegos? 41) Respondeu-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado algum; mas, porque agora dizeis: Nós vemos, subsiste o vosso pecado.
Aqui Jesus faz a aplicação, descreve a moral dos eventos ligados com a cura do homem cego. Anuncia que uma função de seu ofício é realizar o juízo, e realizar a execução duma certa separação. Aqueles que eram espiritualmente cegos e que se apercebiam de sua condição deplorável, esses iriam receber visão, enquanto aqueles que acreditavam serem donos de vista espiritual e moral, enquanto que, de fato, eram desesperadamente cegos em coisas espirituais, deviam tornar-se terminantemente cegos em sua vaidade. Cf. Lc. 2. 34. Alguns fariseus, os quais, como sempre acontecia, estavam seguindo suas pegadas e espreitando cada um de suas palavras, sentiram o ferrão da palavra final do Senhor. Com desprezo perguntam: Tu, com certeza, consideras também a nós como cegos! E Jesus não perdeu tempo para lhes dar a resposta. Caso a cegueira deles, sua incapacidade natural em relação a tudo o que é bom diante de Deus, lhes fosse conhecida, então haveria alguma possibilidade para curá-los de sua cegueira. Mas, enquanto não perceberem sua condição miserável, enquanto não conhecem e não querem reconhecer sua própria perversidade e cegueira em coisas espirituais, seu pecado persiste, estão abandonados na condenação de sua cegueira, com condenação futura que envolve. Os fariseus rejeitaram a palavra de Cristo, que unicamente é capaz de dar luz aos cegos. Eles, por isso, e todos quantos seguem seu tolo exemplo, são atingidos pelo juízo de Deus, conforme o qual sua busca graciosa é, finalmente, deixada de lado, e eles são abandonados ao fim que eles deliberadamente preferiram em vez da graça do Salvador. Desta forma os descrentes são entregues ao fim que eles mesmos escolheram, a graça de Deus lhes é tirada, e a Palavra da graça ainda é pregada em sua presença, para que eles se ofendam ainda mais e se tornem ainda mais endurecidos em sua própria perdição.
Resumo: Cristo cura um homem que nascera cego, e ensina aos chefes judeus, que tentem no máximo para macular o efeito do milagre, que ele, a luz do cego, seja isto em sentido interno ou externo, veio para dar vista ao cego e tirar a vista daqueles que se orgulham de seu conhecimento espiritual.