A Visita De Nicodemos. Jo. 3. 1-21.
Uma visita noturna, V. 1) Havia, entre os fariseus, um homem, chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus. 2) Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe disse: Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. 3) A isto respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Temos aqui um incidente, que foi tirado dos acontecimentos desta semana da páscoa, que mostra o amor verdadeiro e profundo do Salvador. Havia em Jerusalém certo homem que pertencia aos fariseus, que era a seita dos judeus que era particularmente zelosa pelo cumprimento das tradições dos anciãos. Os fariseus eram líderes do pensamento judeu, sendo muitos deles, quando não todos, mestres, mas fortemente imbuídos com a idéia da justiça própria. Este homem, que se chama Nicodemos, não fazia parte deste grupo, mas, ainda assim, era um membro do sinédrio, que era o maior conselho da igreja judaica, cap. 7. 50. Este, de noite, veio a Jesus, em parte, porque temia seus colegas cuja inimizade contra Jesus foi evidente deste o começo, e, em parte, porque não queria ser perturbado. Sentia uma crescente insatisfação quanto a maneira em que os líderes judeus condenavam Jesus. Ele acreditava que este novo Mestre tinha uma mensagem maravilhosa e, por isso, devia ser ouvido. Tinha um desejo para saber mais de sua mensagem. Dirigindo-se a Jesus, de modo muito respeitoso, diz-lhe francamente que ele e o grupo que representava, provavelmente algumas poucas almas sinceras no conselho, no mais tão hostil, sabiam e tinham chegado á conclusão, que Jesus era um Mestre vindo de Deus. Reconheceram nele um mestre que tinha um comissionamento divino, o que não significa que tivessem uma compreensão da origem milagrosa de Cristo. Estes judeus, aos quais Nicodemos pertencia, só haviam feito sua conclusão com base naquilo que haviam visto. Deus confirmara o ensino de Jesus por meio de milagres tão fortes que não deixavam qualquer dúvida. Não eram quaisquer performances habilidosas ou de prestidigitação, mas maravilhas tão grandes que, sem qualquer dúvida, apontavam ao poder de Deus. Não havia dúvidas, que Deus estava com o homem que era capaz de realizar milagres tão grandes. O conhecimento de Nicodemos chegou a ponto de reconhecer em Jesus um profeta que estava no mesmo nível dos do Antigo Testamento, mas não chegou a ponto de aceitá-lo como o Messias. Muitos assim chamados cristãos de hoje compartilham da posição de Nicodemos. Sua confissão a respeito de Jesus se conforma inteiramente com sua razão. Acreditam que ele seja um grande mestre e louvam sua doutrina. Mas não querem reconhecê-lo como o Salvador do mundo. A afirmação de Nicodemos foi uma sondagem. Deu a entender que ele e seu grupo estavam inclinados a avançar no que acreditavam. Sugeriu que Jesus se devia expressar sobre a sua real posição e suas intenções. A idéia do reino messiânico temporal sempre estava em evidência nas mentes dos judeus. Jesus, contudo, declara solenemente, que uma pesquisa sobre esta maneira e com este fim em mente, não tinha sentido, quando faltava uma compreensão sobre o modo de entrar no reino de Deus. A não ser que uma pessoa chega a existir mais uma vez, ou nasce de novo, isto é, é reformada totalmente numa nova criatura, ela não pode entrar no reino de Deus que Jesus prega tão seriamente. Sem esta completa regeneração é impossível qualquer participação nas alegrias do verdadeiro reino de Deus. Sem ser regenerado, ninguém pode ser salvo. Nicodemos, semelhante aos fariseus, acreditou que podia ser salvo pelas obras da lei. Seu ponto de vista é compartilhado por milhões de pessoas desencaminhadas de nossa época. Ser digno do céu por meio dos méritos próprios, esse é o alvo de todos os fariseus modernos. Mas a exigência de Cristo diferencia radicalmente dessa pretensão. Ela aniquila completamente qualquer presunção e orgulho pessoa. Ela insiste sobre uma mudança completa nas condições morais duma pessoa, uma transformação completa e que inclui tudo o que há no coração e na mente, e da vontade duma pessoa, o que também precisa ser evidente numa nova maneira de viver, assim que uma pessoa assim é uma nova pessoa, seja em seu pensar, em seu querer e sentir, em suas palavras e obras. Sem essa regeneração ninguém pode entrar no reino de Deus. Como acontece a regeneração: V. 4) Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez? 5) Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. 6) O que é nascido da carne, é carne; e o que é nascido do Espírito, é espírito. 7) Não te admires de eu te dizer: Importa-vos nascer de novo. 8) O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito. A afirmação de Jesus, simples como foi, ao mesmo tempo foi completamente fora da idéia, geralmente aceita, quanto ao modo de chegar ao céu, que quase suspendeu a respiração do fariseu. Sua pergunta revela sua total incapacidade de entender o mínimo da idéia do Senhor. Sabia, com certeza, que um novo nascer físico era impossível. Compreendeu que a referência de Cristo era a respeito duma transformação espiritual. Mas, bem esta mudança no campo da moralidade lhe parecia algo impossível, algo que beirava o ridículo, o absurdo. Como pode uma pessoa, em especial que já é velho, mudar os hábitos e costumes que seguiu por toda a vida? Se isto deve ser feito, então cada pessoa precisa, na verdade, re-iniciar todo seu viver novamente, tal como aconteceu quando veio ao mundo. Do ponto de vista da razão esta sugestão está fora de cogitação, assim, como á absurda a qualquer pessoa presunçosa a idéia da conversão, da regeneração.É por isso que Jesus, mais uma vez e com ênfase ainda mais solene, expõe que é absolutamente essencial o renascimento da água e do Espírito, sendo um requisito necessário e primordial para se entrar no reino dos céus. A regeneração espiritual pelo batismo, pelo qual é concedido o Espírito de Deus, é fatalmente necessária. O batismo é o meio pelo qual o Espírito Santo efetua a regeneração, o novo nascimento. Por isso a conversão nunca é uma realização do homem, mas é a realização de Deus Espírito Santo. Nascer de novo ou renascer é nascer do Espírito, isto é, receber dele um novo coração, uma nova mente e uma nova vontade. Deus usa, para alcançar este objetivo, o
batismo como um de seus instrumentos. Este sacramento, de fato, opera e dá vida nova. A água não é meramente um símbolo, mas é, por meio da força da palavra, um meio eficiente na operação da salvação. Só quem desta forma foi convertido, e que desta maneira se tornou participante da graça de Deus, entra por meio disso no reino dos céus, na igreja invisível. Pois o reino de Deus e o reino dos céus são idênticos. Que esta exigência duma regeneração absoluta está bem fundamentada, está comprovada pelo fato que todas as pessoas, assim como nascem no mundo, são carne. Sua natureza é pecaminosa e corrupta, alienada de Deus e hostil a Deus.
A inclinação da mente carnal da pessoa natural é inimizade contra Deus. Temos aqui um contraste irreconciliável: dum lado, todas as pessoas nascidas carnalmente, de pais carnais, por natureza são carne e estão cheias das mesmas paixões pecaminosas, como os pais o são em sua natureza, e, do outro lado, aquilo que pela ação criadora do Espírito chega a existir na conversão, a saber, o novo homem, que, pela ação do Espírito e o poder do alto, está cheio de vida divina. Aquele que é nascido do Espírito tem a maneira do Espírito. Seu coração, mente e vontade são orientados para Deus e ao que pertence a Deus. Uma pessoa assim, e só ela, é capaz para o reino de Deus. Só ela pode receber o reino de Deus com seus dons e suas bênçãos celestes. Por isso não devia ser motivo de admiração, que é exigido um novo nascimento para se entrar no reino espiritual. Ao homem natural, de fato, a maneira em que age o Espírito de Deus, é de pasmar e algo que ele nunca consegue esquadrinhar e entender. Mas esta exigência tão indispensável subsiste para todos os que são nascidos da carne: precisam nascer de novo. Nenhum sofismar e argumentar alterará esse fato. O Senhor tenta clarear o significado disso por meio dum exemplo, por um fenômeno da natureza. Eis o vento: ele sopra onde quer; vem, e vai; - seu som é bem conhecido como um conceito físico – mas seu o começo e seu fim, o por que e o para que das leis da natureza são desconhecidos, assim como ao simples homem é impossível entender o poder criativo. O soprar do vento acontece fora da vontade de qualquer pessoa.
Ninguém pode governar e fixar sua direção. Exatamente o mesmo acontece com o agir do Espírito de Deus: O processo da regeneração não pode ser avaliado pela aplicação da percepção, mas é um mistério de Deus. Tão somente os resultados são aparentes, e estes são, não poucas vezes, duma natureza que nos causa maravilha. A pessoa regenerada mostra maneiras totalmente diferentes do que antes de sua conversão. O que evitava anteriormente, agora tenta conseguir; e o que antes buscava e amava, agora detesta. Pelo poder do Espírito é agora uma pessoa nova e diferente. “Tal como o vento é livre, não preso a qualquer lugar, pessoa ou tempo, assim também o é o Espírito Santo. Assim como o vento mexe, impele, refrigera e a tudo penetra, assim também acontece com o agir do Espírito Santo”22). Notemos: O Espírito Santo faz sua obra como e quando o deseja; faz sua obra em sua maneira peculiar.
Nós, porém, estamos presos aos meios externos que ele nos deu. Precisamos usar sua palavra e sacramentos, para obter os dons de sua graça. O testemunho do alto: V. 9) Então lhe perguntou Nicodemos: Como pode suceder isto? Acudiu Jesus: 10) Tu és mestre em Israel, e não compreendes estas coisas? 11) Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testificamos o que temos visto, contudo não aceitais o nosso testemunho. 12) Se tratando de coisas terrenas não me credes, como crereis, se vos falar das celestiais? 13) Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, a saber, o Filho do homem que está no céu. Nicodemos ainda não conseguiu entender, por isso prosseguiu perguntando por uma explicação humana para um fenômeno divino. Queria saber como estas coisas eram; queria uma exposição plausível. Sua convicção particular era que a Deus e seu Espírito era impossível alcançar esses resultados, de tornar uma pessoa totalmente diferente daquilo que fora antes, regenerá-la realmente. Jesus começa sua explanação com uma exclamação de surpresa sobre o espanto do fariseu. Pois Nicodemos era um mestre em Israel e ocupava a posição dum escriba, do qual se supunha ser versado na lei. o assunto da regeneração é tratado tantas vezes nos Salmos e nas visões dos profetas, assim que um mestre do povo devia estar plenamente familiar com seu significado completo. Já era ruim que o discípulo, ou o israelita comum, fosse tão cego; mas, o que se dirá dum mestre que mostra tanta ignorância! Cf. 51. 21; Ez. 11. 19. Os escribas e fariseus do tempo de Jesus já não mais entendiam as Escrituras. Agarravam-se à letra externa, enquanto lhes permanecia oculto o verdadeiro significado. Por isso o Senhor, de modo muito enfático, declara que o que ele diz não é qualquer ignorância e obtusidade. O seu conhecimento é de fonte original e é completo. As coisas que ele fala, essas ele conhece. E o que ele viu e continuamente enxerga, visto que é o Filho eterno e onisciente de Deus, disso ele testifica. Ele fala com divina autoridade sobre o milagre da regeneração, bem como do mistério secreto do Deus Trino. E de antemão Jesus sabe que seu testemunho não será crido. Não só Nicodemos, mas todas as pessoas que são como ele em sua posição diante da revelação divina, são tão cegadas por sua razão, que não conseguem entendê-las. Jesus falara de coisas que pertence a esta vida e que desafiam a atenção deles, como seja a regeneração e a santificação. Mas, nem a estas eles acreditaram, e, muito menos, crêem em suas palavras. Mas, se não podiam entender o que é mais fácil e mais tangível, aquilo que logo devia prender sua atenção, qual seria o resultado, se Cristo começasse a ensinar a respeito de assuntos não expostos à observação e experiência humanas, de coisas que estão completamente no oculto, e que são da essência e dos propósitos de Deus? Ele, por sua própria experiência pessoal, podia falar e testificar delas. Nenhum ser humano jamais residiu no céu para, assim, conseguir conhecimento das coisas celestes. Só um habitou lá e é capaz de comunicar o verdadeiro conhecimento sobre Deus e de todas as coisas divinas. O Filho do homem, o Deus-homem, em sua grande obra da expiação, desceu do céu para ser uma testemunha das coisas celestes. E ele está para isto plenamente qualificado, porque ele ainda está no céu. Ele está na conecção mais perfeita e íntima com as outras duas pessoas da Divindade, mesmo que seu corpo ande em fraqueza e humildade na terra. Cristo afirma aqui que ele, desde o princípio, estava no céu, pois, do contrário, de lá não podia ter descido. Afirma que ele desceu agora com o objetivo de testificar de coisas celestes. Afirma que ele, como o Filho de Deus, ainda está no céu, também segundo sua natureza humana. Cf. cap. 1. 18. E, finalmente, está chegando o tempo, quando ele retornará ao céu, quando sua natureza humana
será, final e completamente, transportada para a glória e a majestade celeste. “Carne e sangue não podem chegar ao céu. Tão só aquele sobe ao céu que do céu desceu, com o fim de que o governo de tudo esteja em sua mão. Ele, a tudo o que vive, pode matar, e, o que está morto, pode vivificar, e o que é rico ele pode empobrecer. Aqui, desta forma, ficou resolvido que tudo o que é nascido da carne não pertence ao céu. Mas este ascender ao céu e de lá descer
aconteceu em nosso benefício, para que nós, que somos carnais, também pudéssemos chegar ao céu, mas assim, a saber, que primeiro seja morto o corpo mortal”23). O objetivo da vinda de Cristo: V. 14) E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado, 15) para que todo o que nele crê tenha a vida eterna. 16) Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. 17) Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. O ato de Moisés no deserto, ao erguer a serpente de bronze ante os olhos do povo ferido, foi típico, simbólico, Nm. 21. 1-9. As pessoas que haviam sido mordidas pelas serpentes ardentes e que, então, em fé fixaram o olhar neste símbolo, foram curadas, e o veneno não teve efeito sobre elas. Jesus é o antítipo da serpente de bronze. Conforme o conselho do divino amor, no qual ele participou, o Senhor assumiu a obrigação de que também ele devia ser levantado num tronco diante dos olhos de todo o mundo. Há três pontos de semelhança nesta história entre tipo e antítipo. A serpente de bronze de Moisés tinha a forma e a aparência do réptil venenoso, conforme o qual fora moldado, bem como Jesus fora revelado na forma de nossa carne pecaminosa, tinha as necessidades e maneiras dum ser humano comum, e finalmente foi castigado como um criminoso. Contudo, tal como a serpente de bronze não tinha veneno, mas foi totalmente inofensiva, assim Jesus, mesmo que na aparência semelhante aos pecadores, era sem pecado, mas santo, inofensivo e imaculado. Sobre ele repousava estranha maldição, e pelos pecados de outros, que lhe foram imputados, esteve ele suspenso na cruz. E, finalmente, assim como aquele que na fé olhava a serpente de bronze permaneceu vivo, assim também cada pecador que foi envenenado pelo pecado em suas várias formas, mas que agora olha em fé singela e confiante para o Salvador Jesus, não perecerá e não será punido com a destruição eterna, mas terá a vida eterna. Pois, em Cristo todo pecado foi vencido, e a culpa toda foi tirada: nele há plena redenção. Agora Jesus repete este ensino numa pregação poderosa do evangelho, que não tem seu igual na literatura mundial, a qual, de fato, resume numa breve sentença todo o evangelho. Jesus exclama na mais plena ênfase e encantadora admiração: Porque Deus assim amou o mundo, amou tanto, tão imensamente, tão além de qualquer compreensão humana. A grandeza do amor de Deus é tanta, que provoca do próprio filho de Deus e Salvador este brado de admiração. Deus amou o mundo, Deus é o autor da salvação, 1.Tm. 2. 3. Ele amou o mundo, todas as pessoas que vivem no mundo. Não há nenhuma exceção. Ele provou este amor com um ato tão maravilhoso, tão incomparavelmente belo, que não é possível expressá-lo em palavras humanas de modo suficientemente forte. Deus deu seu Filho unigênito como dom gracioso e presente pelo mundo todo. E sua vontade e intenção são tais, que ele não faz nenhuma exceção: Cada um que nele crê não perecerá, não verá a destruição, mas terá a vida eterna, que é a vida em e com Jesus, a qual não terá fim, mas consiste em bendição e alegria por tempos sem fim. Que contraste: O Deus santo e eterno e seu Filho igualmente santo e eterno dão o mais nobre e melhor pelo mundo, pela humanidade caída e corrupta, pelo inimigo cruel de Deus! A morte do Filho de Deus é o castigo pelos pecados do mundo. O Filho de Deus morre para que o mundo, todas as pessoas no mundo, pudesse viver eternamente. A morte de Deus, o sangue de Deus foi derramado no prato da balança em pagamento pelos pecados do mundo. E não há nada que possa ser feito pelos pecadores, se não só em fé aceitar esta expiação. Pois a fé aceita e apropria a redenção de Cristo. E o que crê, já agora, já no tempo presente, tem a vida eterna. Ele está certo de sua salvação, porque ela está baseada sobre a obra do Salvador Jesus. “O que mais deverá ou poderá ele fazer? Pois, visto que ele dá seu Filho, o que retém ele ainda que também não nos dá? Sim, ele se dá a si mesmo por completo, como diz Paulo, Rm. 8. 32. Aquele que não poupou a seu próprio Filho, como não nos dará com ele graciosamente todas as coisas? Certamente tudo precisa ser dado com ele, que é seu Filho unigênito e caríssimo, o herdeiro e Senhor de todas as criaturas. E todas as criaturas nos precisam ser sujeitas, anjos, demônios, morte, vida, céus e terra, pecado, justiça, coisas do presente e do futuro, como são Paulo mais uma vez em 1.Co. 3. 22,23. Tudo é vosso, e vós dois de Cristo, e Cristo de Deus”24). Jesus também enfatiza o glorioso fato da salvação ressaltando a mesma verdade por meio duma afirmação negativa. A missão de Jesus, como o dom de Deus ao mundo, não foi para condenar o mundo, mesmo que este merecia muitíssimo esta condenação. Mesmo que ele seja pessoalmente o Santo de Deus, ele, contudo, não quis, na qualidade do Salvador dos pecadores, julgar e condená-los. O único objetivo de sua vinda foi a salvação do mundo. Nicodemos, desta forma, ouviu da boca de Jesus o completo relato do caminho da salvação, uma salvação que abrange absolutamente a todos. O contraste entre luz e trevas: V. 18) Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. 19) O julgamento é este: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más. 20) Pois todo aquele que pratica o mal, aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas obras. 21) Quem pratica a verdade aproxima-se da luz a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque feitas em Deus. Jesus não veio ao mundo para condenar o mundo, mas ainda assim a maioria do mundo está condenada. Isto, contudo, não é a vontade e nem a culpa de Jesus, mas dos próprios descrentes. Aquele que crê aceita a redenção de Cristo, e assim é salvo do juízo condenatório. Assim como a misericórdia recebida é coisa da graça de Deus, assim também o crer é um dom gracioso de suas mãos. Mas, ainda que o mesmo dom foi conseguido e é oferecido ao descrente, este se nega a crer em o nome do Filho unigênito de Deus. E por sua incredulidade o condena. Ele, pela sua incredulidade deliberadamente se exclui da salvação, da vida eterna. A todos quantos o juízo condenatório acerta só têm a si mesmos como culpados, visto que se recusam aceitar ao Redentor e sua expiação. A incredulidade é, por isso, o pecado sobre todos os pecados, pois que rejeita a salvação que foi obtida e que é oferecida para todos os pecados. Para todos há um marco distintivo, uma pedra de toque, no fato que a verdadeira luz, o Salvador Jesus, veio ao mundo, e está ante os olhos de todos. Naquele momento Jesus estava sentado diante de Nicodemos. Tão real e verdadeiramente está ele agora presente em seu evangelho. Mas a maioria das pessoas não passou no teste, e nem hoje passa. Não acha graça na luz e nem na iluminação do evangelho. Preferem as trevas do pecado e da impiedade. Não amam a luz e nem o Autor da luz. Nada querem saber de Cristo seu Salvador. Seu pecado já não é mais o resultado da ignorância, mas duma escolha e preferência deliberadas. Toda sua vida e suas obras são más, pois são o resultado de seu amor às trevas e seus atos. A luz lhes é oferecida, mas preferem ficar em trevas. A salvação lhes é oferecida, mas preferem a condenação. Os que não crêem odeiam a luz, porque suas obras são moralmente corruptas, e não querem expôr-se. Esta é sua objeção idiota, tola e mal-humorada contra a luz a ponto de evitá-la a todo custo.Temem a revelação de seus atos, que são pecaminosos, vergonhosos, vis, feios e vulgares e a subseqüente exprobração. Querem continuar sua atividade comum em densas trevas, onde, como julgam, nenhum raio da luz do alto pode alcança-los. É pena que pessoas preferem o pecado e seus efeitos, mesmo agora, quando Jesus já veio para lhes trazer a redenção de suas algemas. Esta é uma advertência seriíssima para não se submeter à tirania do pecado, e de não servi-la de forma alguma. Doutro lado, aquele que pratica a verdade, que realiza os feitos da verdade, que vive em acordo com as exigências da pureza, da honestidade e da integridade, esse pratica as obras que fluem dum coração regenerado, esse vêm à luz. Este está feliz em ter reveladas as suas obras, a fim de que falem por ele. Pois, na realidade, não são obras suas, não são feitas para sua glorificação, mas são feitas e realizadas em Deus, que concedeu tanto a vontade como o realizar conforme o seu beneplácito. Verdadeiras boas obras são aqueles que são feitas em comunhão com Deus. A força e a habilidade para as realizar precisam ser encontradas em Deus de provir dele. Elas carregam em si o caráter divino. Realizar boas obras é impossível a uma pessoa não regenerada ou a um que não crê. Obras realmente boas só podem ser achadas naquele em que o Senhor acendeu a fé, que vive em e com Deus. Notemos: Esta afirmação de Jesus é um argumento forte para a realização de boas obras. Deus opera a fé.
Deus concede forças para fazer obras verdadeiramente boas. Por tudo isso a glória pertence só a Deus. Isto ele reparte conosco, dando-nos uma medida sempre maior de luz e de entendimento. “Agora não devemos, por outro lado, ficar sem obras, tal como as mentes atrevidas dizem: Ora! Então já não mais farei qualquer boa obra, para que possa ser salvo. Sim, não deves fazer nada mais que sirva para tua salvação, para o perdão dos pecados e para a redenção da consciência. Basta-te a tua fé. Mas o teu próximo não tem o suficiente; é a ele que deves ajudar. É para isso que Deus permite que vives, do contrário, em breve, se te precisaria arrancar a cabeça. Vives, contudo, para isso, para que com tua vida não sirvas a ti, mas ao teu próximo”
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