Segundo Domingo de Páscoa
JOÃO 20.19-31
O texto descreve feitos históricos acontecidos logo após a ressurreição do Senhor Jesus Cristo. O objetivo é claro: Jesus revela-se aos seus seguidores como vitoriosos para certificá-los da veracidade de sua promessa de que venceria a morte. Convence-os, desta forma, definitivamente, da sua divindade. O resultador seria a volta à paz, à alegria e à vida abundante, produtiva. A paz seria resultado de uma fé bem específica: "Estes foram registrados para que creiais que Jesus Cristo é o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome" (Jo 20.31)
1. Jesus não é urn fantasma. Não é uma imaginação de traumatizados e medrosos discípulos. Não é produto de uma alucinação coletiva.
Ele conseguiu entrar numa sala fechada porque possui agora o que o Paulo chama de "corpo espiritual" (1 Co 15.44). Um corpo glorificado, não mais sujeito às limitações terrenas do tempo e do espaço físico.
Assim será também o nosso corpo após a ressurreição no juizo final (veja 1 Co 15).
2. Cristo estava presente com o seu corpo. Lc 24.39 registra o convite especial aos discípulos, antes do encontro com Tomé, para que apalpassem o Senhor Jesus e se certificassem da sua presença corporal. Nos versículos 42 e 39 Jesus está comendo, coisa que um ser sem corpo não faz. Há outros textos que falam da presença e atividades físicas do Senhor. O Cristo Deus-homem estava ali na sala.
Cristo sabia da dificuldade que eles tinham devido à fraqueza de fé e de confiança
nas suas promessas. Precisavam ser firmados. Por isso, insiste com Tomé: "Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos e põe-na no meu lado; não sejas incrédulo, mas crente." Crer na ressurreição física do Senhor era fundamental para restituír-lhes a paz, alegria e vida.
Tomé, fraco e tomado pelas dúvidas, não se convence sem antes sentir pelo tato o sinal dos cravos e da lança no corpo de Cristo. É um autêntico representante de nossos tempos do materialismo e da era da ciência e da técnica. Jesus o censura: "Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram, e creram." Jesus elogia a fé que não necessita de evidências tangíveis. Jesus dá a entender que a evidência registrada pelos sentidos é inadequada para sustentar a fé: "Bem-aventurados os que não viram e creram."
A fé é criada e alimentada basicamente pelas palavras e promessas (realizáveis no
futuro) do Senhor Deus. Pedir comprovação demonstra falta de confiança naquele que fez a promessa. Por isso, a censura de Cristo. Como seria possível crer, por exemplo, nos conteúdos escatológicos, crer na vida eterna e nos "novos céus e nova terra" se não crêssemos nas promessas do Senhor?
3. "Ao cair da tarde naquele dia ... veio Jesus, pôs-se no meio ..." Este dia era o domingo da ressurreição. A revelação física de Cristo aos discípulos tinha o propósito de favorecê-los no momento da fraqueza da fé. O Senhor sabia que precisavam desta demonstração visível para serem convencidos e fortalecidos. E o que declara o v. 31. E Jesus não perde tempo, não demora nesta sua ação.
4. "Paz seja convosco". Os discípulos estavam com medo e aterrorizados porque: 1 - Jesus tinha morrido; 2" O repentino e inesperado aparecimento de Jesus os perturbou.
O fato de que estavam tristes pela morte de Jesus e o fato do aparecimento ter sido inesperado - demonstram que não tinham lembrança e nem fé nas promessas da ressurreição. A paz somente voltaria à vida dos discipulos se vissem o Senhor vivo e soubessem que Jesus venceu (Jo 16.33).
A paz é fruto do Espírito (GI 5.22-23). E resultado da ação de Deus na vida das pessoas (lembre: Jo 14.27).
5. "Assim como o Pai me enviou, eu tambRm vos envio". Agora eles estão preparados para receberem esta tarefa. Viram o Senhor e estão em paz. Agora há condições de revelar (anunciar) o Cristo vivo ao mundo para que o mundo também encontre a paz.
Um fato significativo: A missão que o Pai entrega ao Filho agora é repassada aos discípulos. Fazem parte da missão do Filho. Assim também compartilham do mesmo destino, da mesma glória.
Assim como Deus deu esta oportunidade aos cristãos, os cristãos devem dar a oportunidade aos pagãos, levando a mensagem ate eles (Mt 28.18-20).
Tudo isto não pode acontecer sem o Espírito Santo. Por isso:
6. "Recebei o Espfrito Sanlo" - O Espírito Santo, Deus como o Pai e o Filho, é o agente capacitador: a) que transforma, através do evangelho, a pessoa descrente em crente; b) que equipa para a obra da evangelização.
E assim o enviado esta apto para:
7. Perdoar ou reter os pecados - Esta é, agora, uma questão fundamental. A fe no Senhor ressuscitado A decisiva. O perdão, concedido aos arrependidos, é o único meio para a reconciliação com Deus, para a obtenção da paz com Deus, consigo mesmo e com os outros. Os enviados de Deus devem dar ênfase ao "perdoar-reter". Esta questão é decidida diante do Senhor ressuscitado: fé-falta de fé determinarn o perdoar-reter.
8. "Senhor meu e Deus meu!" - Esta confissão de Tomé é uma das maiores confissões neotestamentárias sobre a divindade e o senhorio de Cristo. É o fim dramático de um processo divino. O objetivo foi alcançado. O evangelho foi escrito para alcançar este objetivo.
Este deve ser também o depoimento eloqüente e dramático do mundo evangelizado por Deus, através do testemunho dos seus enviados.
Tomé, após este reconhecimento, voltou a ter paz. O mundo também precisa desta paz!
Disposição para sermão:
A PAZ É UMA BENDITA DÁDIVA DE DEUS
I - Aos discipulos -- através da revelação visivel do Cristo ressurreto.
II - Ao mundo - através dos discípulos que revelam o Cristo ressurreto.
Martínho Sonntag
REVISTA IGREJA LUTERANA 1987/2 Pg 62