O MINISTÉRIO DA IGREJA CRISTÃ E OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
Nilo L. Figur*
Disse Jesus em Mateus 10.27: "O que vos digo às escuras,
dizei-o em plena luz; e o que se vos diz ao ouvido, proclamai-o
dos eirados". E o apóstolo Paulo aos Romanos, no capítulo 10.13
e 14: "Por que: Todo aquele que invocar o nome do Senhor, será
salvo. Como, porém, invocarão aquele em que não creram? e
como crerão naquele de quem nada ouviram? e como ouvirão,
se não há quem pregue?
Há uma relação importante entre a Comunicação ou a
ciência da comunicação e a Igreja e conseqüentemente o minis-
tério pastoral. A Comunicação esteve presente na história da
igreja cristã através dos tempos: na variedade dos símbolos li-
túrgicos, nas torres com cruzes e sinos e no uso da imprensa, de
Gutenberg até nossos dias. O primeiro livro impresso através do
processo de tipos móveis foi a Bíblia. O alastramento do movi-
mento da Reforma, liderado por Lutero, a partir de 1517, esteve
fortemente relacionado à mídia impressa. Ao pregar as 95 teses
na porta da igreja do castelo de Wittenberg e usar a imprensa
de então para divulgar suas idéias e posições, Lutero estabeleceu
um vínculo importantíssimo da causa da Reforma com, os meios
de comunicação de massa da Idade Média.
O relacionamento da Igreja com, os meios de comunicação
de massa foi preservado pelo luteranismo através dos tempos,
especialmente no que diz respeito à publicação das obras de
Lutero, iniciando pela impressão da própria Bíblia na língua do
povo.
A comunicação como tal tornou-se um dos importantes
campos de estudo nas últimas décadas. Não é preciso enumerar
aqui os resultados do impacto da comunicação e dos meios de
comunicação de massa na sociedade, nos últimos 20 anos, espe-
cialmente. Sob esta perspectiva de análise é possível ver como
historicamente a comunicação esteve, está e deverá estar presen-
te na ação global da Igreja de Cristo. Não se trata de alterar
dogmas, doutrinas e conceitos estabelecidos pela teologia. Tra-
ta-se, isto sim, de estabelecer formas e princípios inerentes à
ciência da comunicação para melhor comunicar, com mais cla-
reza, com maior objetividade e sem ruídos a preciosa mensagem
de Jesus Cristo à nossa gente, à sociedade e ao nosso mundo. E
isso tem muito, ou melhor, tem tudo a ver com o Ministério
Pastoral.
Por mido entende-se tudo aquilo que interfere direta ou
indiretamente no processo de comunicação de tal forma que a
comunicação perca a sua eficácia.
I. A IGREJA, SUA MISSÃO E A MÍDIA.
Como luteranos, cremos e confessamos que a Igreja de
Cristo é estabelecida por Deus, segundo o seu propósito. Não é
uma organização meramente humana. Ela está centrada no
Evangelho de Cristo, que é a própria ação de Deus em favor de
sua criatura humana. E é com este propósito e nesta perspectiva
que se estabelece e se insere o Ministério Pastoral.
A Igreja, ou a. congregação local, tem como sua missão
primordial a tarefa de proclamar o Evangelho. Há uma dimen-
são missionária em toda a sua ação de testemunho, de culto, de
serviço, de ação fraternal e de crescimento na Palavra. "Missão
inicia no coração de Deus c expressa o Seu amor ao mundo”.
("Gospel and Scripture", CTCR-LC-MS). A Comunicação é par-
te integrante do processo através do qual a Igreja se organiza e
atua no seu meio, no mundo. A comunicação é parte de toda a
ação de Deus no mundo. "Haja luz", "está escrito", "o Verbo
se fez carne", "está consumado", "pregai o Evangelho a toda a
criatura", são formas concretas de comunicação na ação miseri-
cordiosa de Deus no mundo.
O estudo das diversas teorias da comunicação nos leva a
buscarmos uma aplicação coerente da comunicação com nossos
princípios teológicos. Por isso, é importante uma análise da co-
municação e uma aplicação correta da mesma à ação da Igreja
e particularmente no Ministério Pastoral.
"Comunicação de massa é muito mais do que a variedade
de novas tecnologias desenvolvidas como equipamentos que se
somam para o entretenimento, o lazer e a comunicação mais rá-
pida e eficiente entre pessoas. O resultado da assim chamada
revolução eletrônica tem sido a criação de um novo meio-am-
biente que tem modificado o modo de vida das pessoas e influen-
ciado todo o relacionamento humano da sociedade (Allan More,
“Viewpoints").
Assim, quando a Igreja pensa sobre o uso dos meios de
comunicação para alcançar seus objetivos, é importante analisar
como a comunicação nas suas mais variadas formas está rela-
cionada à vida e à cultura das pessoas.
As mudanças nos meios tecnológicos de comunicação afe-
tam as dimensões da vida, porque, segundo Eugen Nida, "Co-
municação nunca acontece num vácuo social, mas sempre entre
indivíduos que são parte de um contexto social mais amplo. E
estes indivíduos participam de um evento comunicativo que os
coloca definitivamente numa relação de um para com o outro".
O desenvolvimento da comunicação neste século tem sido
algo muito mais do que simplesmente a soma de mais meios de
comunicação à disposição da sociedade. Comunicação de massa se
tornou algo mais do que simples canais de informação, entrete-
nimento e persuasão. "São instituições ou organizações da socie-
dade contemporânea manobrando um poder enorme para o bem
ou para o mal. Conseqüentemente, a Igreja não somente busca
se comunicar com a sociedade através destes meios de comuni-
cação. Ela também fala aos meios, confrontando as grandes or-
ganizações de comunicação com os valores e parâmetros cristãos".
"Há uma grande necessidade de uma comunicação cristã
em nossas comunidades e vozes luteranas podem ser parte de
todo um processo. A mudança de estilos de vida, as rupturas
sociais e de relacionamentos e a solidão observada e percebida
na vida das pessoas de todos os níveis, clamam por novos canais
de comunicação que permitam alcançar estas pessoas", declarou
o Secretário de Comunicação da Lutheran Church-Missouri Synod,
Rev. Paul Devantier. Num documento de "Afirmações Missio-
nárias", publicado em 1965 pela mesma Igreja, está presente a
preocupação e a relação da comunicação com respeito à missão
da Igreja: "Nós nos reconsagramos com tudo o que somos e
temos para com a tarefa de testemunhar a Cristo em palavras
e ações para todo o mundo, agradecidos e fazendo pleno uso dos
recursos da comunicação que Deus está oferecendo à Igreja, atra-
vés da ciência e tecnologia, nesta era de explosão demográfica".
II. COMUNICAÇÃO E MINISTÉRIO PASTORAL
Algumas considerações práticas
A questão da comunicação no Ministério Pastoral é com-
plexa e se inter-relaciona a toda atividade do pastor. A escola
norte-americana, sob o ponto de vista da comunicação específica
este lado da atuação pastoral como "public relations". O pas-
tor é considerado o relações pública da congregação e da Igreja.
A partir daí pode-se estabelecer um programa de relações pú-
blicas para todo o trabalho da congregação.
O princípio básico para isso é que a Igreja está inserida
num lugar com uma mensagem que precisa ser vivida e com-
partilhada. Mas existe algo muito importante entre o que se quer
transmitir ou comunicar c o que é compreendido pelo receptor.
Para Joan Graz, essa dialética entre o que o emissor entende que
está comunicando e o que o receptor realmente está entendendo
é o que está no coração do processo das relações públicas.
De uma forma geral deveriam ser estabelecidos e seguidos
4 passos básicos na elaboração de um programa de relações pú-
blicas para a congregação local ou a Igreja:
Passo 1: Como este trabalho foi desenvolvido até aqui?
— Pesquisa e análise: Qual é o nosso problema?
Passo 2: Planejamento de um programa de comunicação.
— Quem vai fazer o quê?
Passo 3: A ação de comunicar.
O desenvolvimento do plano, considerando os
diferentes público-alvo.
Passo 4: Avaliação das ações e dos resultados.
Um plano de ação global no Ministério Pastoral incluirá
necessariamente uma variedade enorme de atividades desenvol-
vidas na Igreja. O pastor se vê envolvido com a comunicação
no culto, na liturgia, na pregação e em toda a sua atividade
administrativa na congregação. Aí se estabelecem aspectos de
um programa, de relações públicas na forma como se dá a comu-
nicação interna na congregação e externa com a sociedade.
Como parte do programa pode-se identificar o boletim in-
formativo, o material de expediente, a recepção aos visitantes,
quadros murais, placas identificativas e com mensagens, produ-
ção e distribuição de materiais gráficos, de áudio e vídeo, uso de
jornal, rádio e TV locais, etc.
Possivelmente todas estas coisas estejam ocorrendo, de uma
ou outra maneira na ação da Igreja e do Ministério Pastoral. A
questão que se coloca é de que forma e com que eficiência elas
estão sendo desenvolvidas.
Um dos meios de comunicação mais usados no Ministério
Pastoral da IELB hoje é o rádio. Infelizmente, de uma forma
geral, sob a análise objetiva da comunicação, na maioria das
vezes, há um equívoco na sua forma de uso: A linguagem e for-
ma de púlpito é levada ao ar a um público diverso e sem uma
estratégia definida.
Segundo Peterson e Kempff, considerando os diferentes
meios de comunicação de massa, a Igreja deveria considerar os
seguintes passos e aspectos na implantação de um programa de
rádio:
1. Determinar a necessidade do programa.
2. Definir a audiência, o público alvo.
3. Analisar os recursos humanos e financeiros disponíveis.
4. Definir a estratégia, o marketing.
5. Estabelecer metas concretas e objetivas.
6. Produzir as mensagens, os programas.
7. Implementar o programa.
8. Manter estatísticas e análises.
9. Avaliar periodicamente.
10. Compartilhar os resultados.
A partir deste exemplo, pode-se estabelecer paralelos com
todos os outros aspectos do Ministério Pastoral onde a comuni-
cação está presente. Analisando genericamente esta situação na
IELB, parece que sobressaem duas conclusões básicas:
Primeiro: Há uma falta de compreensão por parte dos
membros (e pastores?) do propósito fundamen-
tal da Igreja (Mission Statement). Por que per-
tenço a esta igreja e qual o meu papel na mes-
ma?
Segundo: Considerando que a comunicação é inerente ao
ser humano, parece haver uma desconsideração
a uma aplicação metodológica da mesma ao
processo de ação e serviço na Igreja. É cômo-
do deixar esta questão por conta do Espírito
Santo.
CONCLUSÃO
O uso dos meios de comunicação pela Igreja é um impor-
tante e decisivo aspecto da sua ação neste mundo. O uso correto
da comunicação é um desafio para a Igreja e sua missão. E o
pastor neste contexto é fundamental.
Para alcançar os melhores resultados do bom uso da co-
municação, é necessário que a mesma seja usada corretamente,
segundo os conceitos fundamentais do campo do conhecimento
de comunicação.
Isto não implica na alteração de doutrinas fundamentais
e confessionais que definem nossa fé e nossos valores.
Para Norman Cousins, "a coisa mais precária no mundo
é a comunicação efetiva. A comunicação efetiva é a arte maior".
Para Jesus pode ser o "proclamar dos telhados", para o
apóstolo Paulo, "como ouvirão se não há quem pregue?", e para
nós da era do impulso eletrônico — como podemos alcançar efi-
ciência na comunicação da preciosa mensagem do Evangelho em
nosso Ministério Pastoral.