Sublime louvor
Contexto Histórico.
Um dos livros bíblicos que Lutero mais gostava era o saltério, essa era a sua pequena Bíblia, o Sl 118 era um de seus preferidos. Lutero redigiu o presente escrito num momento particularmente decisivo para o movimento de Reforma, em meados de 1530. Naqueles dias os representantes políticos dos evangélicos apresentaram e defenderam sua posição teológica e eclesiástica na dieta de Augsburgo, era como uma assembléia nacional da Alemanha. Lutero não podia se fazer presente devido ao Edito de Worms, que o baniu do Império em 1521. De abril até outubro desse ano ele ficou escondido, este foi um período de solidão para Lutero, ficou por vezes doente, e nestes momentos como em todos os outros buscou consolo no saltério. Neste período se dedicava a tradução da bíblia, também ditava breves explicações dos salmos. O contexto histórico da época por varias vezes transparece em seu escrito, pois menciona príncipes, imperador, reis e bispos. Lutero certamente estava pensando na confissão de Augsburgo quando escreveu a sua própria confissão de confiança, não querendo substituí-la. O escrito também foi uma dedicatória a Frederico Pistório.
O Sublime Louvor Pela Numeração, o Salmo 118.
I
Rendei graças ao SENHOR; porque ele é bondoso, e sua misericórdia dura para sempre.
Segundo Lutero este é um agradecimento geral, por todo o bem que Deus fez e ainda faz pelo seu povo, tanto os bons quanto maus. Os profetas quando queriam louvar começavam bem longe e alto, este é um agradecimento por sua enorme bondade. Mas esta bondade que se fala deve ser entendida não como uma bondade humana, mas sim divina, pois Deus nos da tudo, nos sustenta a cada dia, isso sem darmos nada em troca, quem faria isso pelo seu próximo? O ser humano é cego em sua ganância quer sempre mais e esquece de ver as enormes bênçãos que recebe a cada dia, estas ele despreza e põem em segundo plano. Segundo Lutero não a ninguém que entenda esse versículo corretamente. Na maioria das vezes as pessoas reclamam por uma pequena falha em sua vida, uma dor por exemplo, mas esquecem de ver o que ainda tem, essas dores vem para nos acordar da cobiça, e da cegueira. Deus é bom e tudo nos da, precisamos reconhecer isso.
II
Agora, Israel diga Que sua misericórdia dura para sempre.
A gratidão deve começar pelo agradecimento ao governo que Deus mantém aqui neste mundo, pela paz que é uma de suas dádivas. Sem estes governos não seria capaz de se viver neste mundo nem um dia se quer. Outro ponto é que sem a dádiva divina com certeza nenhum governo se manteria, coisa que muito cedo as pessoas esquecem, agem como se toda a força viesse deles mesmos. Os governantes deveriam guiar o povo para caminhos corretos e agradáveis a Deus o que muito não acontece, o que eles querem é se fazer valentes, mas tem medo da própria sombra. Deus é que da o poder aos que governam, isso deve ser reconhecido, pelos governantes e o povo em geral.
III
Diga a casa de Arão, que sua bondade dura eternamente.
Outro sacrifício de gratidão por algo especial da bondade de Deus, pois ele capacita e mantém pessoas que levam a sua palavra adiante, que proclamam o evangelho, e que administram os sacramentos. Davi foi responsável pelo governo externo e Arão pelo espiritual, ambos receberam a ajuda de Deus para realizar a sua obra. É Deus que mantém a sua obra aqui neste mundo. Segundo Lutero a ninguém se pode impor à fé a força, como se fazia com a inquisição.
IV
Os que temem ao SENHOR digam Que sua bondade dura para sempre.
Esta é a gratidão do verdadeiro povo de Deus. Até aqui vimos três grupos que abrangem um todo e em meio a estes a todo o tipo de corrupção, fazem abuso de sua autoridade e não sabem dar valor ao que esta acima deles. Este porem é o grupo temente a Deus, e é por causa destes que se mantém este mundo, como Sodoma e Gomorra. Esse é um grupo a parte, Davi os separa. Até aqui vimos os motivos de agradecimento que são coisas desta vida, mas este grupo que é fiel e teme a Deus é prometida a graça da vida eterna, que é o bem maior que existe. Porém a vida desses é sofrida aqui neste mundo, pois o caminho da salvação é estreito, por isso eles agradecem pelo Senhor manter-lhes firmes.
V
Invoquei o SENHOR no dia da angústia, e o SENHOR me ouviu em espaço amplo.
Vê-se que o povo não estava em uma boa situação, esse grupo sempre se encontra em medo e aflição, mas tem o consolo de Deus sempre presente. Este grupo de pessoas não pragueja, insulta ou se revolta contra Deus, dizendo por que tudo acontece com eles e não com os outros, o Espírito Santo os fortalece. Cristãos sabem que estas coisas sobrevêm não para destruir, mas para edificar. Deus quer que o busquemos em oração.
VI
O SENHOR está comigo, por isso não temo. Que me poderá fazer o homem?
Em seu interior Davi esta muito alegre, da pulos de alegria, pois ele diz o Senhor está comigo. O Espírito enche-lhe com o frescor da palavra de Deus. Este consolo da coragem a Davi, que se vê confiante mesmo em meio às dificuldades, e não se intimida e diz “que me poderá fazer o homem?” O senhor é a minha fortaleza. Enquanto o Senhor nos ajudar subsistiremos, ainda que nos matem por causa disso, diz Lutero.
VII
O SENHOR está comigo para me socorrer, e eu olharei meus adversários em triunfo.
Este é um Deus maravilhoso que está presente em todos os momentos de nossa vida, que consola e fortalece, e desta forma suportamos as dores. Segundo Lutero as coisas terminam com mais vingança do que poderíamos imaginar, e assim nossos inimigos nos odeiam e por fim se convertem e viram nossos amigos. Mas se não querem se converter perecerão, assim como já vimos em tempos passados.
VIII
È bom confiar no SENHOR, e não confiar em seres humanos.
IX
É bom confiar no SENHOR, e não confiar em príncipes.
Miseráveis são aqueles que depositam a sua confiança em pessoas, pois é um consolo que não tem fundamento, é sem firmeza, por que naqueles que se deposita a confiança também não a firmeza. Lutero afirma que seus oponentes diziam entre si, quando o Duque Frederico morrer logo acaba a heresia de Lutero. Não sabiam eles que minha confiança estava depositada em Deus, eles sim é que não conseguem pensar e confiar em Deus. Somente Deus tem palavra de consolo e punho para auxiliar. Lutero afirma que as pessoas são capazes de confiar em todos os deuses menos no Deus verdadeiro. Mas devemos ver que Lutero não pede para que se desobedeça à autoridade, o que não se deve é depositar neles a confiança total, e se esquecer de Deus, transformando eles em deuses.
X
Todos os gentios me cercam, mas no nome do SENHOR os despedaçarei.
XI
Eles me cercam, eles me cercam, mas no nome do SENHOR os despedaçarei.
XII
Cercam-me como abelhas, e se inflamam como um fogo nos espinheiros, mas no nome do SENHOR os despedaçarei.
XIII
Empurram-me, para que caia, mas o SENHOR me socorre.
Nestes versículos, segundo Lutero, Davi quer mostrar de modo convincente a maravilhosa doutrina, ao nos ordenar a confiar em Deus e não em seres humanos. O salmista coloca todos os gentios, para indicar que são muitos os adversários dos cristãos. O Sl 2.1 diz: Os gentios se enfurecem e os reis se levantam contra Cristo. Além de serem muitos eles são insistentes e não desistem de tentar de todas as formas nos fazer cair da fé. O que iremos fazer diante de tais inimigos? Invocar o senhor como diz o segundo mandamento, e se zombarem de nós e contra Deus que o fazem, se duvidarem e de Deus que duvidam, e Ele é todo-poderoso.
Aplicação:
A muito a de se aprender nos Salmos, eles são ricos em sabedoria. Neste Salmo que é explicado por Lutero a uma rica mensagem que nos faz refletir sobre um tema muito relevante que é a confiança, e agradecimento. Vivemos em um período distante do de Lutero, uma outra cultura, mas que não se encontra em uma situação muito diferente. Nós muitas vezes nos esquecemos de agradecer pelas inúmeras bênçãos que recebemos, bênçãos estas que são derramadas sobre todos.
As pessoas criam seus próprios deuses como o dinheiro, fama, etc. e nestes depositam a sua confiança. Lutero claramente nos expõe que nossa confiança deve estar em Deus, pois quem confia em homens está perdido. Lutero ainda mostra que os sofrimentos sobrevêm sobre os justos, sobre aqueles que confiam no Senhor, mas eles estão firmes e sabem que tem uma herança eterna no céu, por isso vivem felizes e louvam a Deus por sua imensa misericórdia.
A mensagem que fica é que devemos agradecer pelas inúmeras bênçãos que são recebidas, e que a somente um em quem podemos depositar toda a nossa confiança que é Deus o SENHOR.
O Pai-Nosso
Contexto e Significado Histórico
O comentário sobre o Pai-Nosso do Sermão do Monte, contido em Mateus 6.5-15 foi escrito por volta dos anos de 1530-1532. A origem do texto está ligada à atividade pastoral de Lutero em Wittenberg nestes anos, em virtude de muitas substituições que ele teve que fazer a Johannes Burgenhagen (o Pomerano) que, muitas vezes ficou encarregado da organização eclesiástica dos territórios que aos poucos aderiam à reforma.
Georg Rörer, Veit Dietrich, Anton Lauterbach e Filipe Fabrício compilaram e editaram os textos. Lutero na presente época se deteve mais na análise dos comentários de Jesus em torno da oração do Pai-Nosso. Ele teve um intuito maior na época de analisar a maneira, a ocasião e o poder da oração.
Resumo
Lutero nos relata sobre a oração com ênfase na forma e local de orar. Ele é totalmente contra qualquer tipo de vanglória e auto-prestígio, porém, ele não quer dizer que a oração não pode ser feita publicamente. Apenas afirma que tem hora e local apropriados, como nas refeições, na igrejas, etc.
Ele também é extremamente taxativo quando se refere aqueles que oram por horas, imaginando serem assim melhores ouvidos por Deus, dizendo que é pura hipocrisia e contrário à vontade de Deus, que não exige isso, como se pode comprovar por exemplos bíblicos, como Moisés, Davi, etc.
Outro ponto relevante e que merece ser destacado é a explicação do Pai-Nosso dada por Lutero. Ele diz que é de grande proveito ela ser orada todos os dias, pelo fato de que esta oração foi ensinada por Cristo, sendo por isso perfeita, já que demonstra todas as necessidades terrenas e principalmente celestiais dos seres humanos.
Percebemos, outrossim, a respeito do sermão do monte uma admoestação para que perdoemos nosso próximo, pois, se não nos perdoarmos, como Deus poderá nos perdoar. Porém, aqui não se enfatiza um sentido vingativo de Deus, mas é evidenciado o próprio coração rancoroso humano, que sem ter perdoado seu próximo é incapaz de orar e se aproximar de Deus.
No entanto, devemos ter consciência também que só pode haver perdão para aqueles que estão sinceramente arrependidos. Ou seja, aquele que confessa seu pecado acaba-o tornando em uma simples falha, que obviamente Deus acaba relevando. Desse modo, nós também devemos fazer o mesmo com o nosso próximo.
Significado prático para os dias atuais
Muitas vezes, deixamos de orar por desculpas, tais como: falta de tempo, cansaço, aborrecimentos, ou até mesmo falta de fé de acreditar que Deus nos ajudará. Assim, transgredimos um mandamento de Deus, que nos ensinou que devemos orar e pedir tudo a ele.
A oração em hipótese alguma deve ser desprezada, é tão importante que o próprio Jesus Cristo foi quem nos ensinou a orar o Pai-Nosso. Ela constitui um forte elemento de fortalecimento da fé, bem como de diálogo e ligação com Deus, portanto, deve ser feita a qualquer momento em que houver necessidade e vontade de nossa parte.
Uma singela forma de Orar
Contexto e Significado Histórico
A obra intitulada “Uma singela forma de orar para um bom amigo”, escrita por Lutero foi dirigida a Pedro, o barbeiro, em 1535. Tal obra se tornou um clássico rapidamente, tanto que no mesmo ano, foram feitas quatro edições, denotando já naquela época a mesma popularidade que Lutero já tinha.
O intrigante é que, quando Lutero enviou-a para Pedro, jamais poderia imaginar que ela seria tão vital, já que tempos depois, Pedro foi condenado ao exílio por matar um veterano de guerra quando estava alcoolizado. Mas além de servir para Pedro, com toda certeza ela serviu de grande auxílio para os contemporâneos de Lutero, que viram nesta obra uma maneira simples, mas singela de fazer suas orações diárias.
Resumo
Nesta presente obra, Lutero nos expõem claramente a grande importância que ele atribui para a oração, porém, demonstra a Pedro o Barbeiro, a quem a carta é dirigida, que ela não precisa ser extravagante. Dessa forma ele ensina o Pai-Nosso e passa a compreensão das petições para ele, deixando um legado não só para Pedro, como para todos nós.
Lutero nos demonstra como devemos depositar primeiro as preocupações com a vida eterna e com a vontade de Deus nas três primeiras petições. Posteriormente, nas outras petições é que transparecem as preocupações terrenas, como com o alimento, bens, o perdão ao próximo, a tentação e o mal. Por fim, após esta explicação ele nos diz que devemos ter plena convicção de que estando na vontade de Deus, todos os pedidos são atendidos.
Interessante a ênfase dada aos sentidos e ao coração em Lutero, pois, ele nos diz que quando oramos devemos estar extremamente concentrados de todo o coração na oração, pois, dessa forma, até mesmo o Espírito Santo se manifesta, enriquecendo nossa oração, e não devemos fazer como no exemplo que ele dá do padre:
Ó Deus vem ajudar-me – peão, já desatrelaste o cavalo? – Senhor apressa-te em socorrer-me – criada vai ordenhar a vaca – Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo – anda menino, que a peste te leve.[1]
Significado Prático
Apesar desta obra, ser de quase 500 anos atrás, ela continua sendo atual, afinal de contas, o verdadeiro sentido e significado da oração muitas vezes ainda é ignorado. Lutero também nos aconselha a orarmos em tempos determinados, cedo de manhã e à noite, e nos demonstra seu próprio esquema pessoal do uso de Salmos, Catecismo, Pai-Nosso, o Decálogo e o Credo.
Ele ainda nos adverte da importância do Pai-Nosso que, para ele é mais fundamental que o Saltério se bem usado, pois, em suas próprias palavras, “se for mal usado é o nosso maior mártir sobre a terra”. E por fim, ele nos ensina a meditar de coração sincero, algo tão raro nos dias atuais, pois, dessa forma, o Espírito Santo age livremente na oração, nos fazendo orarmos de maneira agradável a Deus.