BATISMO DE CRIANÇAS
Johannes H. Rottmann
Artigo publicado na revista teológica
Igreja Luterana – do Seminário Concórdia
(da Igreja Evangélica Luterana do Brasil - IELB) de Porto Alegre
– I Trimestre – 1979, p. 4-29
NOTA: Este estudo foi motivado especialmente por duas razões: a) por um tratado que achamos ser algo incompleto, do Rev. Jeffrey C. Kinery, publicado na revista "Christian News" – Julho de 1978 – sob o título "Our position on Infant Baptism"; b) por repetidas indagações da parte de pastores e leigos da IELB (Igreja Evangélica Luterana do Brasil), que precisam de subsídios bíblicos para sua polêmica referente ao batismo, especialmente ao batismo infantil com as diversas igrejas batistas e pentecostais no Brasil.
Adultos vêm ao conhecimento do seu Senhor e Salvador Jesus Cristo e eventualmente experimentam sua conversão pessoal "pela pregação da fé" ("Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei, ou pela pregação da fé?" (Gl 3.2). A fonte da fé é a "palavra de Cristo", como o apóstolo escreve: "E assim, a fé vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo" (Rm 10.17).
Tais adultos, desde o primeiro pentecostes cristão, foram batizados depois de, mediante a fé, terem aceito Jesus como seu Salvador.
Exemplos
Lucas nos relata no fim da gloriosa história do primeiro pentecostes: "Então os que lhe aceitaram a palavra foram batizados; havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas", At 2.41. A história da conversão dos primeiros pagãos (Cornélio e sua gente em Cesaréia) teve o desfecho seguinte: "Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra ... Então perguntou Pedro: Porventura pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados (não devemos esquecer que antes disso era absolutamente inconcebível um judeu ou um pagão ser aceito no meio do povo de Deus sem ser circuncidado) estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo? E ordenou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo" (At 10.44-48). Dos primeiros cristãos da Europa, ganhos para Cristo, pela obra missionária de Paulo é dito o seguinte: (Lucas relata) "Certa mulher chamada Lídia, da cidade de Tiatira ... nos escutava (a Paulo, Silas, Lucas e possivelmente também Timóteo, At 16.1ss.); o Senhor lhe abriu o coração para atender às cousas que Paulo dizia. Depois de ser batizada, ela e toda a sua casa, nos rogou, dizendo: Se julgais que eu sou fiel ao Senhor, entrai em minha casa, e aí ficai" (At 16.14,15). O mesmo aconteceu com o carcereiro de Filipos, conforme nos conta Lucas: "... o carcereiro ... depois, trazendo-os (Paulo e Silas) para fora, disse: Senhores, que devo fazer para que seja salvo? Responderam-lhe: Crê no Senhor Jesus, e serás salvo, tu e tua casa. E lhe pregaram a palavra de Deus, e a todos os de sua casa. Naquela mesma hora da noite, cuidando deles, lavou-lhes os vergões dos acoites. A seguir foi ele batizado, e todos os seus" (At 16.17-33). Foi também o que ocorreu em Corinto com Crispo, o principal da sinagoga, e com outros, como Lucas relata: "Mas Crispo, o principal da sinagoga, creu no Senhor, com toda a sua casa; também muitos dos coríntios, ouviram, criam e eram batizados" (At 18.8). Neste sentido devemos ler e compreender aquela história maravilhosa que nos é relatada do Ministro da Fazenda da rainha Candace da Etiópia, um eunuco, a quem o evangelista Filipe "encontrou" no deserto, lendo no livro do profeta Isaías as profecias a respeito do "Cordeiro". Tendo sido rogado pelo eunuco, que não entendia de quem e de que o profeta falava: "Peço-te que me expliques a quem se refere o profeta? Filipe (o) explicou e, começando por esta passagem da Escritura, anunciou-lhe a Jesus" (At 8.34,35). Evidentemente Filipe, em suas interpretações dos textos bíblicos, também falou do batismo, explicando seu sentido, seu proveito, seu valor, pois quando os dois chegaram "a certo lugar onde havia água, disse o eunuco: Eis aqui água, que impede que seja eu batizado?" (v. 36). Infelizmente não sabemos qual foi a resposta de Filipe, pois o que em nossas versões está relatado no v. 37, não existe no original (por isso o texto na Almeida Revisada foi posto em colchetes e a Bíblia na Linguagem de Hoje elimina, com razão, o versículo inteiro) (1). Porém Lucas nos conta o que aconteceu naquele oásis no meio do deserto: "Então (o eunuco) mandou parar o carro, ambos desceram à água, e Filipe batizou o eunuco" (v. 38).
Temos, portanto, evidência bíblica de que, no caso do batismo de adultos, estes foram instruídos antes de serem batizados e que eles, de uma ou outra maneira, confessaram sua fé em Jesus como seu Salvador antes do ato batismal.
Com crianças, a modalidade de se tornarem filhos de Deus era e é diferente. Todas as igrejas tradicionais levam crianças a Cristo por meio do batismo. Somente aquelas igrejas e seitas que têm suas origens no movimento anabatista do século XVI, ou movimento posteriores semelhantes, negam às crianças este meio da graça.
As Confissões da Igreja Luterana são bem claras e explícitas neste sentido e convém nos lembrarmos destas declarações, especialmente quando há incertezas a respeito do batismo de crianças:
A Confissão de Augburgo, confissão fundamental da igreja luterana, ensina: "Do batismo se ensina ... que também se devem batizar as crianças, as quais, pelo batismo, são entregues a Deus e a ele se tornam agradáveis. Por essa razão se rejeitam os anabatistas, os quais ensinam que o batismo infantil não é verdadeiro" ( CA IX, 1-3).
A Apologia da Confissão de Augsburgo é igualmente clara ao afirmar: "Em segundo lugar, é manifesto que Deus aprova o batismo dos pequeninos. Logo, julgam impiamente os anabatistas, que condenam o batismo dos pequeninos. Que Deus, entretanto, aprova o batismo dos pequeninos, demonstra-se com o fato de ele dar o Espírito Santo aos assim batizados. Fosse nulo este batismo, e a nenhum seria dado o Espírito Santo, nenhum se salvaria, não haveria, enfim, igreja. Esta só razão já pode confirmar suficientemente corações bons e piedosos contra as opiniões ímpias e fanáticas dos anabatistas" (Apol. IX, 53). (2)
Para o batismo de crianças as igrejas tradicionais têm provas claras e suficientemente fortes, tanto da própria Bíblia como da história. As razões que podemos enumerar para a nossa praxe do batismo infantil são principalmente as seguintes:
1. A Necessidade do Batismo
Crianças – depois da queda do homem em pecado – nascem pecadoras. Elas necessitam, portanto, do renascimento: "O que é nascido da carne é carne ...." (Jo 3.6).
"Carne" significa, nesta e em muitas outras passagens, a natureza corrompida e pecaminosa do homem pecador, aquela natureza com a qual ele agora já nasce. Basta apontarmos às seguintes passagens bíblicas:
Gn 5.3: "Viveu Adão cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem, e lhe chamou Sete." (Antes é constatado: "No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez; homem e mulher os criou", v. 1, 2. Essa semelhança de Deus, o homem a perdeu por ocasião da queda em pecado.)
Depois da divina catástrofe do dilúvio, quando Deus resolveu que dali em diante não mais destruiria a humanidade, ele mesmo afirmou:
Gn 8.21: "Não tornarei a amaldiçoar a terra por causa do homem, pois é mau o desígnio intimo do homem desde a sua mocidade"; a calamidade do homem já começa com o seu nascimento, (nessa terra contaminada pelo pecado).
Sim, o estado da pecaminosidade do homem já começa até antes do seu próprio nascimento, como claramente confessa o salmista:
Sl 51.5: "Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe" ("O salmo não alude a qualquer ato adulteroso da parte da mãe... Simplesmente refere à descendência de pais pecadores, à pecaminosidade inata, a qual junto com a sua culpa e sua condenação é transmitida pelos pais aos filhos mediante a procriação natural, de modo que são contaminados já desde seu nascimento", Lange/Schaff sobre o texto).
O Antigo Testamento está repleto de passagens que mostram a pecaminosidade, a culpa e a condenação, não só da humanidade adulta mas, sim, também das crianças. Os seguintes exemplos são suficientes:
Sl 58.3: "Desviam-se os ímpios desde a sua concepção; nascem e já se desencaminham, proferindo mentiras." Que isto não se refere somente aos "ímpios" mas sim, a todos os homens, mostram as seguintes passagens:
Jó 15.14: "Que é o homem, para que seja puro? E o que nasce de mulher, para ser justo?"
Jó 25.4: "Como, pois, seria justo o homem perante Deus, e como seria puro aquele que nasce de mulher?"
A depravação total de toda a humanidade é constatada em Ec 7.20: "Não há homem justo sobre a terra, que faça o bem e que não peque", o que é repetido, confirmado e exposto mais detalhadamente por Paulo, em Rm 3.10-12: "Como está escrito: Não há justo, nem sequer um, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer." Rm 3.22,23: "não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus" ( "glória" no sentido de serem reconhecidos da parte de Deus como justos).
Há muitos outros textos neo-testamentários que falam da pecaminosidade de toda a humanidade, incluindo as crianças. O quinto capítulo da carta de Paulo aos romanos, especialmente, nos ensina este fato:
Rm 5.12: "Assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a more passou a todos os homens porque todos pecaram." A experiência nos ensina que todas as crianças – e muitas delas – morrem. Isto nos prova plenamente que é por causa do pecado que elas morrem, mesmo se ao nosso ver, ainda não podiam cometer qualquer ato pecaminoso. E é pecado hereditário que também corrompeu a natureza das crianças pois também para elas vale que "o salário do pecado é a morte" (Rm 6.23).
E é no fim deste capítulo cinco que ambos os lados da existência humana, neste mundo do pecado, vêm à tona com clareza cristalina – e nenhuma das criaturas humanas fica excluída destas palavras divinamente inspiradas:
Rm 5.18-19: "Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça (a morte do Filho de Deus na cruz) veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida".
Porque, como pela desobediência de um só homem os muitos (isto é, a multidão de todos os homens) se tornam pecadores, assim também por meio da obediência de um só os muitos foram declarados justos. (Foi um ato jurídico de Deus que declarou justos os homens pecadores pela morte vicária de Cristo – apesar de , infelizmente, a grande maioria não aceitar a declaração de Deus, não crendo).
À base de tais provas bíblicas, as Confissões Luteranas condenam as seguintes heresias: "...que perante Deus infantes não batizados não são pecadores, mas justos e inocentes, porque ainda não alcançaram o uso da razão, se salvam sem o batismo (o qual, de acordo com o que alegam, eles desnecessitam). Rejeitam, desta maneira, toda a doutrina do pecado original e o que a ele pertence. Que só devem batizar as crianças quando tiverem alcançado o uso da razão e puderem confessar pessoalmente sua fé. Que os filhos dos cristãos, por isso que nasceram de pais cristãos e crentes, são santos e filhos de Deus mesmo sem o batismo e antes dele. Por essa razão também não tem o batismo infantil em alta consideração, nem lhe encorajam a prática, contrariamente às expressas palavras da promessa de Deus, que se estende apenas àqueles que lhe guardam a aliança e não a desprezam (Gn 17)." (Fórmula de Concórdia, Epítume XII, 4-67). (2).
Sem dúvida, está de acordo com a palavra de Deus o que diz um velho provérbio: Uma criança não precisa ser educada para o mal, sim, para o bem!
2. A ordem de fazer Discípulos
Nos recenseamentos da antigüidade, como ainda nos de hoje, as crianças são incluídas no número dos habitantes de um povo. Se alguns, porém, querem argumentar que as crianças não são mencionadas especificamente na ordem final dada por Jesus, podemos então, contra-argumentar: também adultos não são especificamente mencionados. É oportuno que, neste momento, estudemos uma vez mais o texto inspirado, em que a ordem de batizar é implícita:
Mt 28.18-20: (a tradução segue o texto original tão perto quanto possível) "Jesus, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Portanto, tendo ido, (não temos o imperativo de "ir" no texto original, mas sim o particípio do aoristo; o imperativo de ir já está inerente no seu chamado de embaixadores, de apóstolos, de mensageiros, Mt 10.1ss.)
discipulai (aqui, sim, temos o imperativo: fazei discípulos! – o verbo grego é "mathetéuo": fazer de alguém um "mathetês", um seguidor, um discípulo. A ordem dada aos apóstolos foi, pois, não a de ir, mas a de fazer discípulos. pergunta-se como este imperativo de fazer discípulos pode ser executado e qual o campo de ação. A segunda pergunta é respondida em primeiro lugar): todas as nações (certamente não é admissível limitar este termo só a uma parte das nações, isto é, a adultos, como nos recenseamentos e na constatação de números de habitantes incluem, incontestavelmente, também as crianças – o número dos habitantes do Brasil seria diminuído por uns 20% se fossem descontadas as crianças até 6 anos de idade! O objeto, portanto, da ordem de fazer discípulos são todos os que pertencem às nações, aos povos). – É necessário, nesta altura, chamar atenção a um grave erro de tradução na primeira e segunda edição da "Bíblia na Linguagem de Hoje", que nesta passagem diz assim: "Portanto, vão a todos os povos e façam que todos sejam meus discípulos: batizem esses discípulos...". O grave erro está na insinuação de que os que deviam ser batizados já seriam discípulos antes do batismo. É evidente que desta maneira o batismo perde completamente o seu caráter de meio da graça. Felizmente, em definitivo, isto não é dito por Cristo. Ao contrário, com muita clareza Jesus diz como seus apóstolos devem e podem fazer discípulos de todas as nações. Ele menciona duas modalidades, ambas no mesmo nível, tanto no valor como no tempo: batizando-os..., ensinando-os (temos aqui dois verbos no particípio; e estes particípios só podem ser tomados como particípios de modalidade. E, visto que "batízontes" – batizado – e didáskontes" – ensinando – são iguais em todos os sentidos gramaticais, não pode ser criada qualquer diferença entre eles, seja diferença temporal ou acional. Se fosse fazer uma diferença entre os dois particípios então, por certo, o batizar deveria preceder o ensinar. É significativo, e até estranhável – por causa da importância de suas fontes – que dois dos mais importantes manuscritos que possuímos ( B – Vaticanus – e D – Bezae Cantabrigiensis) têm no primeiro dos particípios a forma do aoristo, isto é, "baptísantes", o que colocaria, definitivamente, o batizar antes do ensinar: "tendo-os batizado... os ensinando". Achamos, no entanto, que apesar da importância dos dois textos, o texto original é aquele que serve por base da nossa tradução, que colocou os dois particípios no mesmo nível, indicando que existem, de acordo com a ordem de Cristo, duas modalidades de discipular as nações: "batizando-os" e "ensinando-os"! Que a Almeida Revisada emprega o masculino "os", apesar de "todas as nações" ser feminino, está de acordo com o grego original que, para o neutro, "ta éthne" – as nações – tem o pronome reflexivo masculino "autóus". Não há, portanto, nada a reclamar contra a tradução da Almeida Revisada neste ponto. Batizando-os em nome (eis to onómati) do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Eis aí uma das duas modalidades de discipular, de fazer discípulos, uma de duas!
Ora, é sem dúvida, notável que em todo o Novo Testamento não se acha texto algum em que a fórmula trinitária fosse usada. As passagens que nos falam do batismo e da fórmula usada são as seguintes:
At 2.38: (diz Pedro) "...cada um de vós seja batizado em nome (epí tô onómati) de Jesus Cristo..."
At 10.48: (Pedro em Cesaréia na casa de Cornélo) "...ordenou que fossem batizados em nome (en tô onómati) de Jesus Cristo... "
At 18.8: fala-se simplesmente do batismo em o nome de Jesus sem mencionar uma fórmula.
At 19.1ss: temos a história daqueles discípulos de João Batista que foram batizados "no batismo de João". Fato este que evidentemente não lhes dava sossego completo, visto que naquela época ainda não conheciam toda a história da redenção, até a ressurreição de Cristo e que, portanto, a fim de terem certeza da validade de seu batismo, "foram batizados em o nome (ein to ónoma) do Senhor Jesus". (Esse incidente não diz que o batismo de João não teve validade; teve validade, sem dúvida, pois o próprio Cristo se deixou batizar por João. Tratava-se, em Éfeso, de um caso em que precisava ser posto fora de qualquer dúvida o estado destes neófitos no cristianismo).
Rm 6.3: "... todos os que fomos batizados em Cristo Jesus (ein) fomos batizados na sua morte."
1 Co 1.13ss: o apóstolo argumenta contra os grupos e divisões que se criaram em Corinto ao redor de nomes; nesta argumentação chega a ponto de apontar para o batismo como sendo o fundamento de tal dependência: "... foi Paulo crucificado em favor de vós, ou fostes, porventura, batizados em nome de Paulo?" O argumento visa apontar para o absurdo destes grupos dentro de uma congregação cristã; é evidente que cristãos não foram batizados em nome (eis to ónoma) de qualquer um dos ministros de Cristo mas, sim, em nome do próprio Senhor Jesus.
Gl 3.26,27: "Todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo (ein), de Cristo vos revestistes."
Portanto, nota-se que o batismo, em nenhum caso, foi expressamente feito "em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo". Não é possível darmos as razoes para tal procedimento; mas também não podemos negar que, aparentemente, não havia unanimidade na fórmula batismal – nem na primeira geração da igreja cristã. Os textos dados acima nos mostram as seguintes diferenças.
"em (epi) nome de Jesus Cristo"- At 2.38;
"em (en) nome de Jesus Cristo"- At 10.48;
"em o nome (eis) do Senhor Jesus"- At 19.1ss;
"em (eis) nome de Cristo Jesus" - Rm 6.3;
"em (eis) Cristo"- Gl 3.27.
Evidentemente, havia certa liberdade no uso da fórmula. O batismo como tal, porém, ficou sendo o batismo que Jesus instituiu como uma das modalidades de discipular os indivíduos nas nações. Este batismo foi um batismo no Deus Triúno, porque não haveria um "Senhor Jesus Cristo" sem o Pai que o mandou e sem o Espírito Santo que ensina a reconhecer Jesus como Senhor.
Neste sentido, desde o primeiro pentecoste cristão até o dia de hoje, o batismo é uma dádiva do Deus Triúno. No batismo o próprio Deus se dá a nós: o Pai se torna nosso Pai e nos aceita como seus filhos (Gl 3.16-27; Jo 1.12,13; 1 Jo 3.1); o Filho torna-se nosso Redentor, obedecendo ao eterno plano da salvação – somos batizados, purificados "por meio da lavagem de água pela palavra" (Ef 5.26) e somos unidos com ele na sua morte, pois "fomos sepultados com ele na morte pelo batismo" (Rm 6.4); desta maneira fomos "revestidos de Cristo" (Gl 3.27), "batizados em um corpo" (1 Co 12.13), somos todos membros de um corpo. Seu corpo, sua igreja (Ef 1.23); sua justiça é nosso vestido de glória (Is 61.10; Mt 22.11); o Espírito Santo torna-se, neste estado de batizados, o nosso Consolador, pedido pelo Filho, mandado pelo Pai em nome do Filho (Jo 14.16,26) e enviado por Cristo "da parte do Pai" (Jo 15.26), que "é o Espírito da verdade" e de quem o corpo dos batizados "é santuário" (1 Co 6.19).
Nessas fórmulas batismais também a diferença no sentido. São três as preposições: "eis", "em" e "epí".
Assim como uma criança, ao nascer e ser registrada, recebe o nome do seu pai, assim a criatura humana, ao renascer – seja por meio de batismo, seja por meio do aceitar conscientemente a mensagem da fé – é, por assim dizer, registrada como filho de Deus, membro da família de Deus. Pelo batismo é recebida – "ein" – para dentro da família de Deus, recebendo o nome de Cristo. Visto que o próprio Cristo ordenou o batismo como uma modalidade de fazer discípulos, este é feito em seu nome ("ein") e em obediência a sua incumbência; e isto novamente é feito assim como o foi na ocasião do primeiro Pentecoste, com o uso do nome ("epí") de Jesus Cristo. Que glorioso privilegio é esse que temos, pois também podemos usar este meio da graça para os nossos filhos! Desta maneira os nossos filhos ("carne, nascida de carne") tornam-se filhos de Deus conosco e com todos que aceitam essa graça.
3. A Promessa da Salvação pelo Batismo
A promessa da salvação pelo batismo também é dada expressamente às crianças. Assim Pedro, falando àquela multidão que participou do início da missão mundial da igreja cristã no primeiro Pentecoste, diz:
"Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós é a promessa, para vossos filhos, e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor nosso Deus chamar" (At 2.38,39).
A palavra grega usada neste texto para "filhos" é "téknos"; é o termo mais amplo e genérico para "filhos"; não determina a idade, no momento do nascimento, uma criatura humana é "téknon" do seu pai e de sua mãe. A Escritura desconhece uma limitação da promessa da salvação pelo batismo a adultos ou a crianças de uma idade mais avançada. Para o termo cf. ainda Lc 1.17; 3.8; At 17.28.29. (Para pesquisa mais profunda recomendamos Walter Bauer; Arndt/Gingrich: A Greek-Englich Lexicon of the New Testament; especialmente o parágrafo "teknon" no artigo "páis" de A. Oepke em Theologisches Wörterbuch zum Neuen Testament – Kittel, Vol. V).
4. Batismo e Circuncisão
O apóstolo Paulo compara o sacramento do batismo com a circuncisão. Circuncisão foi o sacramento vetero-testamentário que levou crianças – meninos de 8 dias de idade – para dentro da aliança entre Deus e seu povo. Paulo, na sua discussão com os legalistas judaizantes da Galácia, afirma que o relacionamento, confirmado pela aliança entre Deus e Abraão, não foi uma aliança à base da lei, mas uma aliança à base da graça, mediante a fé aceita: "Abraão creu em Deus, e isto lhe foi imputado para justiça – não sua obra, portanto. – Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão, ora, tendo a Escritura previsto que Deus justifica pela fé os gentios, preanunciou a Boa Nova a Abraão: em ti serão abençoados todos os povos" (Gl 3.6-8). De acordo com Gn 17.9-14 – texto que nos relata a instituição da circuncisão – isto seria o "sinal de aliança entre mim (Deus) e vós" (Abraão e sua descendência). Esse sacramento da circuncisão deveria constar no seguinte: "todo macho entre vós será circuncidado"; e tal aliança, que Deus chama de "minha aliança", valeria tanto para Abraão como para "a tua descendência no decurso das suas gerações". O apóstolo Paulo novamente esclarece a interligação desta antiga aliança com a nova aliança, centralizada em Cristo, escrevendo aos Colossenses: "Em união com ele (Cristo) vocês foram circuncidados, não com a circuncisão que é feita pelos homens, mas com a circuncisão do próprio Cristo, que é a libertação do poder do corpo pecador. Porque quando vocês foram batizados, foram enterrados em Cristo. No batismo, vocês foram também ressuscitados com ele, por meio da fé que têm no grande poder de Deus, o mesmo Deus que ressuscitou Cristo" (Cl 2.11,12 - Tradução da Bíblia na Linguagem de Hoje). Que este sacramento da nova aliança não foi mais limitado somente às crianças de sexo masculino fica evidente de Gl 3.28,29: "Dessarte não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; pois todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão, e herdeiros segundo a promessa."
Nesta aliança, qualquer homem só podia ser recebido "pela circuncisão do coração". Só por tal "circuncisão" alguém tornou-se um israelita verdadeiro, um verdadeiro descendente de Abraão: "Porque não é judeu (verdadeiro membro do povo de Deus) que é circuncidado somente na carne. Porém judeu (verdadeiro) é aquele que o é interiormente, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens mas de Deus" (Rm 2.28,29).
A Circuncisão, como sinal de pertencer ao povo de Deus da antiga aliança, foi ordenada (Lv 12.3) e a desobediência a essa ordem foi considerada um pecado grave que Deus o castigava com a morte (cf. Ex 4.23-26). A não circuncisão dos meninos no povo seria um opróbrio para o povo inteiro (Js 5.2-9). Porém já na antiga aliança uma mera circuncisão na carne não bastava; Deus exigiu também, como prova do seu arrependimento, a "circuncisão do coração" (Dt 10.16) e diz que tal "circuncisão" não é feita por homens mas pelo próprio Deus: "O Senhor teu Deus circuncidará o teu coração de tua descendência, para amares ao Senhor teu Deus de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas" (Dt 30.6). Como um eco destas palavras tão antigas, o apóstolo Paulo, milhares de anos depois, escreve aos colossenses: "Nele (em Cristo) também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo, tendo sido sepultados juntamente com ele no batismo" (Cl 2.12).
5. Batismo como Meio de Santificação de toda a Igreja
Paulo escreve aos efésios: "... Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra" (Ef 5.25,26). É evidente que também crianças pertencem à igreja, e assim também elas são purificadas "por meio da lavagem de água pela palavra", isto é, pelo batismo que combina os dois elementos: a água e a palavra.
6. Batismo não é Invenção Neo-Testamentária
Mestres e rabis judeus falam de batismos no Antigo Testamento. Assim, por exemplo, testifica Maimônides (3): "O povo de Israel entrou na aliança mediante três observações: pela circuncisão, pelo batismo e pelos sacrifícios. A circuncisão já existia no exílio do povo no Egito, pois está escrito: 'Incircunciso nenhum dele comerá' (alusão ao pão não fermentado, usado no êxodo pelos israelitas). Batismo foi introduzido no deserto, exatamente antes da promulgação da lei, como está escrito: 'Santifica-os todos hoje e amanhã, e manda-os a lavarem os seus vestidos' (o lavar dos vestidos foi considerado como lavagem do corpo inteiro). Os sacrifícios estão descritos em Ex 24.5."
No Novo Testamento também lemos dos "baptismôn didachês", do ensino de batismo dos judeus (Hb 6.2) e de "ordenanças da carne... e diversas abluções" (baptismóis) (Hb 9.10). Algumas destas "abluções" ou batismo incluíram uma lavagem ou um aspergir com água ou sangue: Arão e seus filhos à porta da tenda "lavarás com água" (Ex 29.4); "tomarás então do sangue sobre o altar ... e o espargirás sobre seus filhos e as vestes de seus filhos com ele; para que ele seja santificado ... " (Ex 29.21); sobre o leproso curado com sangue "espargirás sete vezes"; o que se deve purificar "banhar-se-á com água" e ao sétimo dia mais uma vez "lavará as suas vestes, banhará o corpo" (Lv 14.7-9; cf. ainda Lv 16.14-19; Nm 19,.7, 13.21; Ez 36.25).
É evidente que tais batismos – e havia ainda muito mais do que os mencionados – não foram batismos cristãos; também não sabemos se aqueles batismos, aos quais Maimônides se refere, foram de instituição divina ou não. Sabemos, isto sim, que os fariseus na época de Jesus chamavam suas lavagens cerimoniais (a mesma palavra para estas lavagens é usado como para o batizar de João Batista e de Cristo, a saber "baptizein") de batismos: eles "não comem sem lavar cuidadosamente as mãos; quando voltam da praça, não comem sem se aspergirem ("baptízein"); e há muitas outras coisas que receberam par observar, como ao lavagem ("batismos") de copos, jarros e vasos de metal ... " (Mc 7.3,4; Lc 11.39). O que queremos demonstrar com essas referências é o fato de que estes "batismos" foram conhecidos pelos judeus e praticados não só com adultos, mas também com crianças, porque também elas precisavam ser "purificadas". Diante deste fato, pois, não se compreenderia que Cristo tivesse excluído as crianças do seu batismo, sem que esta exceção fosse expressamente mencionada.
7. Batismo de Prosélitos
Autoridades teológicas judaicas afirmam que, quando um pagão se convertia para a religião de Jeová, ele era batizado com seus filhos. Assim se constata nos "Gemara" do Talmude Babilônico (4): "Se os filhos e as filhas forem convertidos com um prosélito, então eles receberão o mesmo tratamento ... Numa tal conversão exige-se que estes prosélitos sejam batizados, mesmo na sua infância." Os preceitos tanto do Talmude de Jerusalém como no Babilônico, falam de prosélitos que deveriam ser batizados com menos de três anos de idade.
Maimônides (cf. 3) é ainda mais explícito quando, nas suas interpretações destas tradições, escreve: "O gentio que se torna um prosélito (convertido para o judaísmo) como o escravo que é libertado, eis que são como criança, nascidas de novo." Este "nascer de novo" (o renascimento) se concretizou, segundo Maimônides, no seu batismo: "O israelita que adota uma pequena criança pagã, ou a achar abandonada, e a manda batizar, com isto faz dela uma prosélita" (convertida).
De novo deve ser mencionado que, naturalmente, não se trata de um batismo cristão. O ponto que queremos destacar é que o batismo de crianças não era uma coisa desconhecida na época de Cristo, praticado pelo povo de Israel. Teria sido uma exceção se Jesus tivesse limitado o seu batismo apenas a adultos.
8. O Tipo Vetero-Testamentário do Batismo
Num texto algo enigmático, o apóstolo Paulo fala de um tipo mui significativo do batismo no Antigo Testamento. Em 1 Co 10.1,2 Paulo escreve: "Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos sob a nuvem, e todos passaram pelo mar, tendo todos sido batizados, assim na nuvem como no mar, com respeito a Moisés", acrescentando no v. 6: "Ora, estas coisas se tornaram exemplos para nós." Notemos nessa passagem, em primeiro lugar, que nos primeiros versículos deste capítulo, o apóstolo destaca três vezes que todos os membros do povo de Deus passaram por essa experiência. A base histórica da afirmação do apóstolo temos em Ex 12.37, onde se fala da saída do povo do exílio: "Assim, partiram os filhos de Israel ... cerca de seiscentos mil a pé, somente de homens, sem contar mulheres e crianças", e nas histórias seguintes que falam da libertação final dos israelitas ao atravessar o mar Vermelho e a conseqüente destruição dos seus inimigos nas águas do Mar Vermelho.
Notemos ainda aquela frase algo enigmática na tradução: "tendo todos sidos batizados . . . com respeito a Moisés". É evidente que não se pode tratar de um batismo "em nome de Moisés", assim como nós o temos no Novo Testamento "em nome de Jesus Cristo". O que significa este batismo simbólico de todos os membros do povo de Deus (notem: também crianças!) foi que por ele os israelitas foram unidos com Moisés, o representante de Deus e o mediador do Antigo Testamento, em que o Mediador do Novo Testamento, Jesus Cristo, foi prefigurado (Dt 18.18). A libertação da escravidão no Egito por Moisés, simbolizado por este batismo pela nuvem e pelo mar, é também típica de nossa libertação da escravidão do pecado e da morte por Cristo, aplicada a todos os filhos de Deus por meio do batismo. Eis o significado deste tipo e símbolo do batismo no Antigo Testamento, que certamente incluiu as crianças do povo!
9. Não Existe Texto na Bíblia que Exclua Crianças do Batismo
Muitos costumes dos judeus foram abolidos pela igreja neotestamentária. Se também o batismo de crianças fosse abolido ou considerado iníquo ou desaconselhável, então deveríamos ter um texto que nos indicasse isto no Novo Testamento. Isto não acontece. Ao contrario, os textos do Novo Testamento que, de uma ou outra maneira, falam do batismo, indicam dentro do contexto histórico e textual, que as crianças foram, como algo natural, incluídas nas cerimônias batismais.
É verdade, não temos uma ordem direta: Batizem as crianças! Porém a prática do batismo infantil se baseia firmemente na dedução lógica e necessária daquelas palavras da Escritura nas quais, é ensinado, plenamente, que a humanidade inteira, inclusive as crianças do momento de seu nascimento, é corrompida pelo pecado e perdida e que, portanto, precisa de um Salvador suficiente e divino e que o batismo é um meio pelo qual uma pessoa – seja ela adulta ou na idade infantil – se apropria daquela fé em Jesus Cristo, que é a única fé que salva (Como não existem passagens bíblicas que diretamente exigem o batismo infantil, também existem outras doutrinas – aceitas universalmente nas igrejas cristas – sem tais textos, como por exemplo, a doutrina da Trindade, que ensina a existência de um único Deus em três pessoas divinas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo, portanto uma Trindade ou Tri-unidade. É uma doutrina que se deriva de deduções lógicas e legitimas das doutrinas bíblicas sobre a essência do único Deus verdadeiro. Leia-se, para essa doutrina, o Credo Atanasiano!). Portanto defendemos o batismo infantil como doutrina bíblica, sem hesitação, e com base firme na palavra de Deus.
10. A Denominação "Dedicação de Crianças" não tem Fundamento Bíblico.
Algumas igrejas tentam preencher a lacuna que elas de fato sentem na falta do batismo infantil, com uma cerimônia na qual as crianças serão levadas pelos pais, pouco depois do seu nascimento, ao altar para ali serem abençoadas e dedicadas. Tal cerimônia, certamente é linda e confortante, especialmente quando isto coincidir com a primeira participação da jovem mãe depois do parto. No entanto, não temos mandamento divino para uma tal cerimônia, enquanto o temos para o batismo – e batismo não só de adultos, nem batismo só de crianças mas, simplesmente batismo de todos.
11. Batismo de Famílias Inteiras
O batismo de alguém "com toda sua casa", foi, de acordo com o testemunho do Novo Testamento, largamente praticado na igreja antiga. Tal batismo certamente não excluiu as crianças da respectiva casa. O conceito da família, tanto entre os judeus como entre os gentios e romanos, incluiu até os escravos e seus filhos. Lucas nos relata que o comandante Cornélius, em Cesaréia, tinha "reunido seus parentes e amigos íntimos" quando esperava por Pedro, At 10.24, e em conseqüência da pregação do apóstolo "caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra", v. 44. Pedro, vendo esta manifestação do próprio Deus, apesar de seus escrúpulos iniciais de seguir à ordem do seu Senhor de pregar a pagãos, certamente perguntou a si mesmo e às seis testemunhas (At 11.12): "Porventura pode alguém recusar a água para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo?" e a resposta foi esta: "ordenou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo" V. 47,48. E quando, ao voltar, a Jerusalém, essa congregação lhe exige prestação de contas sobre sua atividade entre pagãos, Pedro relata, apontando para "estes seis irmãos" como testemunhas que Deus havia comunicado a Cornélio que ele deveria chamar a Pedro, assegurando-lhe que este "te dirá palavras mediante as quais serás salvo, tu e toda a tua casa" (At 11.13,14). A salvação de Cornélio e de toda a sua casa se deu "mediante a palavra" de Pedro, que confirmou a obra do Espírito Santo nesta casa, aplicando o batismo com água "a todos que ouviram" esta palavra.
Temos diversos exemplos, especialmente relatados em Atos, de batismos de "casas" inteiras, isto é, de famílias completas. Em Feles, Lídia foi "batizada, ela e toda a sua casa" (At 16.15 - Bíblia na Linguagem de Hoje diz "todas as pessoas de sua casa", o que é de acordo com o sentido original). Do carcereiro de Feles, Lucas nos relata que ele, na "mesma hora da noite" em que experimentou a presença de Deus através das palavras de Paulo e Silas, "lavou-lhes os vergões dos acoites. A seguir foi batizado, e todos os seus" (At 16.33). Em Corinto foi "Crispo, o principal da sinagoga", que tendo ouvido a mensagem da salvação, "creu no Senhor, com toda a sua casa; também muitos dos corintos, ouvindo, criam e eram batizados" (At 18.8). E quando, mais tardem surgiram as facções ao redor de alguns nomes, na igreja de Corinto, Paulo, negando de que tivesse tido qualquer intenção de criar um partido com seu nome, enumera só poucos que ele batizou e que, por isso, só bem poucos tivessem qualquer razão de evocar o seu nome como originador duma nova vida. O apóstolo, entretanto, diz expressamente que "batizou a casa de Estéfanas" ao lado de alguns poucos daquela igreja. Incidentalmente, temos nesta argumentação do apóstolo uma prova, se bem que acidental, de que batismo era considerado algo mui importante, um ato de iniciação, e que era de suma importância o nome em que alguém fora batizado. Isto nos leva a mais um ponto de discussão.
12. O Argumento Negativo a Respeito do Batismo: Jesus e Paulo
O fato mencionado no ponto anterior, a saber que o apóstolo Paulo evidentemente não batizou – ele mesmo! – regularmente os que por sua pregação foram convertidos, acrescentado pela afirmação contida em Jo 4.1-3 que Jesus também não batizava, é tomado como argumento contra a necessidade do batismo, tanto para adultos como para crianças. Convém, portanto, colocarmos os fatos relatados nos seus respectivos contextos.
Lemos em Jo 4.1-3: "Quando, pois, o Senhor veio a saber que os fariseus tinham ouvido dizer que ele, Jesus, fazia e batizava mais discípulos que João (se bem que Jesus mesmo não batizava, e, sim, os seus discípulos) ... deixou a Judéia, retirando-se outra vez para a Galiléia". Que este não era um batismo de segunda categoria, já se vê pelo fato de que os fariseus viram nestes atos batismais um perigo até maior do que nos batismos de João. Como Jesus, pessoalmente, não executava o batismo como rito, certamente seus discípulos o faziam em seu nome e por sua ordem; portanto, um batismo absolutamente válido. Existem outras passagens, no mesmo Evangelho, que apontam para batismos realizados na presença de Jesus e pelo círculo dos seus mais íntimos seguidores. Vejamos alguns exemplos. "Depois foi Jesus com seus discípulos para a terra da Judéia: ali permaneceu com eles e batizava" (Jo 3.22). "Ora, entre os discípulos de João e um judeu suscitou-se uma contenda com respeito à purificação. E foram ter com João e lhe disseram: Mestre, aquele que estava contigo além do Jordão, do qual tens dado testemunho, está batizando, e todos lhe saem ao encontro" (Jo 3.25,26). Os batismos, nesta passagem, atribuídos a Jesus, foram executados por seus discípulos , e certamente não eram menos validos do que os batismos realizados hoje por sua igreja.
Apesar de Jesus nunca ter pessoalmente, realizado um batismo, ele, sem embargo, nos deu, na sua própria vida, um exemplo convincente de que o batismo definitivamente pertenceria à sua atividade aqui na terra ao se deixar batizar por João Batista (Mt 3.13-17), ato esse, com o qual começava toda a sua atividade profética entre os homens. Com esse ato, no início da sua obra redentora, Jesus certamente também deu um exemplo que deveriam seguir. Sabemos que, quando o Batista ao reconhecer Jesus como o Salvador do mundo, hesitou em batizá-lo, afirmando: "Eu é que preciso ser batizado por ti". Reconheceu, com essas palavras, que o batismo fazia parte da vida cristã de um pecador e não do Redentor. E Jesus lhe respondeu que, na realidade, não precisava ser batizado por causa dos seus pecados mas que seu próprio batismo pertencia à sua tarefa, a saber, que ia em lugar dos pecadores cumprir a lei: "... assim nos convém cumprir toda a justiça", isto é, cumprir tudo que a justiça de Deus exigia dos homens. A realização de batismos pertence não tanto à obra redentora ativa de Jesus, mas pertence à pregação, à conversão dos homens redimidos por Cristo. O batismo pertence ao ministério da divulgação e propagação da redenção obtida por Cristo. São os seus ministros na terra que, como parte integral de sua mensagem, pregam o batismo para a remissão dos pecados e para isso exatamente foram enviados, a saber "fazer discípulos de todas as nações, batizando-os e ensinando-os a guardar todas as cousas que eu vos tenho ordenado". Portanto, não podem os adversários do batismo infantil apontar para o exemplo de Jesus, nem ao exemplo do apóstolo Paulo.
É verdade, Paulo escreve: "Não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho" (1 Co 1.17), porque era justamente essa a ordem dada também aos outros apóstolos; pois não se pode "discipular" povos sem a mensagem salvadora da graça de Deus em Jesus Cristo. Mas, ainda que Paulo não tenha considerado o batizar como sendo o centro de sua atividade, de modo nenhum desprezou o batismo. Ao contrario, a vida apostolar de Paulo começou com seu próprio batismo (At 9.18), e ele mesmo, quando as circunstâncias exigiram, batizou, como se vê nos casos de Crispo e Gaio, a "casa de Estéfanas" e de outros, dos quais não pode lembrar (1 Co 1.14-17). Que ele parece colocar o batismo em segundo plano estava dentro da ordem que ele recebeu, e que era algo diferente da dos apóstolos, aos quais pelo próprio Jesus o batismo fora dado como uma das modalidades de discipularem, enquanto Paulo teve consigo sempre companheiros, que certamente batizaram aqueles que, pela pregação com autoridade de Paulo foram convertidos. No caso dos coríntios, o próprio apóstolo dá a razão porque ele, em certo sentido, esta muito satisfeito de não ter batizado a muitos entre eles, a saber "para que ninguém diga que fostes batizados em seu nome"(v.15). Concluindo este ponto, podemos, portanto, constatar que os exemplos de Cristo e Paulo de maneira nenhuma são negativos com respeito ao batismo, e nem mesmo com respeito ao batismo infantil.
13. Testemunho da Igreja Antiga a Respeito do Batismo Infantil
Mesmo não querendo entrar em todos os pormenores da discussão sobre o batismo infantil na igreja antiga (5), torna-se necessário apontarmos para algumas referências que nos parecem fundamentais e decisivas. (6)
Uma das mais antigas testemunhas entre os pais apostólicos é, sem dúvida, Justino, o mártir (89-166 p.C.). Em sua "Apologia", endereçada a Antônio Pio, ele afirma dos cristãos: "Muitos cristãos, tanto homens como mulheres, que desde sua infância já se tornaram discípulos (no grego ele usa o mesmo verbo que Jesus usou na sua ordem aos apóstolos de discípular as nações (Mt 18.19), a saber, "mathetéuein"), ficaram solteiros e imaculados até a idade de sessenta anos." Essa expressão mostra que essas pessoas devem ter sido feito discípulos ainda durante a época dos apóstolos. O mesmo defensor do cristianismo diz no seu "Diálogo com Trifo": "O batismo é a circuncisão do Novo Testamento."
Irineu, um dos maiores teólogos do segundo século (era bispo de Lião, no sul da França, desde 177 p.C.), um discípulo de Policarpo, bispo de Esmirna, que era discípulo de João, o evangelista, escreve na sua obra fundamental "Contra os Heréticos": "Cristo veio para salvar a todos; digo a todos que mediante dele foram regenerados e redimidos para Deus: os infantes ("infantes") e as crianças pequenas ("parvulos"), bem como os meninos, jovens ou gente de idade." É verdade, Irineu não menciona o batismo diretamente; porém, olhando para toda a sua argumentação fica claro que ele, falando de crianças pequenas, só pode pensar no batismo como meio de sua regeneração.
Orígenes, o grande teólogo de Alexandria no Egito (184-254), apesar de suas muitas heresias, dá, em vários lugares de suas obras um testemunho claro sobre o batismo infantil. Eis alguns destes textos: "Segundo o costume da igreja, o batismo é aplicado a crianças pequenas. Se elas não tivessem algo em sua natureza que necessitaria de perdão e misericórdia, a graça do batismo não lhes seria necessário". "Por esta razão a igreja, desde os tempos dos apóstolos, tem a tradição de batizar até crianças, porque aqueles aos quais os mistérios divinos foram confiados sabiam que toda a criatura humana é poluída pelo pecado, e que deve ser purificada com a água e o Espírito; por isso também o corpo é chamado um corpo pecaminoso." E: "Crianças pequenas devem ser batizadas para a remissão dos pecados."
Tertuliano (200 p.C.), o teólogo conhecido da África do Norte, foi o único dos pais da igreja que polemizou contra o batismo infantil. Mas justamente porque ele estava, tão acerbamente, polemizando contra este batismo, prova que era praxe batizar crianças na igreja do seu tempo. Eis alguns dos seus argumentos contra o batismo infantil: "Por causa da natureza, da disposição e também da idade das pessoas é muito mais proveitoso adiar o batismo; este é especialmente o caso das crianças pequenas ... Que elas venham quando já cresceram; que elas venham quando aprenderam o que se dá com elas (no batismo). Por que se leva essas criaturas inocentes precipitadamente ao perdão dos pecados? Com respeito às cousas terrenas se age com muito maior precaução: aos que não se confia bens terrenos, são entregues cousas celestiais (perdão dos pecados às crianças). Que as crianças, em primeiro lugar, aprendam pedir pela salvação, de modo que temos boa consciência de ter dado a salvação a tais que a pediram. As mesmas razoes em favor do adiamento do batismo são aplicáveis às pessoas ainda solteiras. Qualquer um que veio a reconhecer a importância do batismo, certamente procura adiar mais o batismo do que precipitá-lo." Lutero considerou Tertuliano como sendo o Carlstadt (iniciador do movimento anabatista no século XVI) do terceiro século.
Cipriano, o segundo dos grandes teólogos norte-africanos (Agostinho foi o terceiro), bispo de Cartago (+ 258 p.C.), era amigo de Tertuliano, mas não um seguidor de sua teologia. Entre as obras de Cipriano existe uma carta em forma de tratado, endereçada a um dos presbíteros da igreja de Numídia, de nome Fido, na qual ele repreendeu severamente a Fido porque este ensinou que crianças, antes de terem alcançada a idade de 8 dias, não deveriam ser batizadas, apontando ao fato de que no Antigo Testamento os filhos do povo de Israel foram circuncidados no oitavo dia. "E assim, caríssimo irmão, foi a decisão final do nosso Concilio (em Cartago): que ninguém deveria ser impedido de ser batizado e, desta maneira, participar da graça de Deus, o qual é misericordioso, bom e fiel para com todos. Daí este divino propósito deve ser procurado para todos, e mui especialmente para crianças pequenas e recém-nascidas". Essa decisão foi tomada no Concílio de Cartago, com a presença de 66 bispos, no ano de 254 p.C.
Agostinho, o maior dos doutores da igreja antiga (354-430), foi, sem dúvida, também um dos grandes defensores do batismo infantil. Em sua grande luta contra Pelágio, ele reconheceu que, apesar de todas as suas outras heresias, nunca negaram a validade do batismo infantil: "Os pelagianos nunca ousaram negar o batismo infantil, porque eles sabem que, se o negassem, teriam contra si toda a igreja." Numa outra passagem, Agostinho diz com respeito ao batismo das crianças que "toda a igreja está praticando batismo infantil" e que este uso foi "herdado dos próprios apóstolos." Num dos seus sermões ele admoesta seus ouvintes: "Não deixai que alguém vos perverta com doutrinas falsas. O batismos de crianças foi praticado na igreja inteira desde seu início, e foi por ela guardado até os nossos dias continuamente."
O próprio Pelágio (nasc. 330 p.C.) escreve numa das suas obras, com muita clareza: "Nunca ouvi de um herético ímpio que tivesse afirmado que recém-nascidos não deveriam ser batizados."
Tais testemunhos são certamente suficientes para demonstrar que a igreja antiga não só conheceu e reconheceu a validade do batismo infantil mas que a igreja toda o estava praticando universalmente. Estes homens estiveram muito mais perto, cronologicamente, aos tempos do Novo Testamento do que nós. Mas, também se pode constatar que heréticos dentro da igreja, já desde mui cedo, tentaram negar e combater o batismo infantil.
14. Crianças Pequenas Podem Crer?
Os argumentos principais dos adversários do batismo infantil é a afirmação categórica: Crianças pequenas não podem crer!
Contra este argumento queremos afirmar, e provar biblicamente: Crianças podem ter fé! Ora, ninguém está afirmando que a fé das crianças seja uma fé refletiva ("fides reflexa"), isto é, uma fé que já pode raciocinar, tirar conclusões, etc.; mas a sua fé também não é simplesmente uma fé em potência ou "fé potencial", uma fé que só existe numa mera possibilidade e faculdade de crer ("potentia credendi"). Não, a fé das crianças é uma fé real, um fé atual ("fides actualis"), uma fé que de fato e realmente agarra o objeto da fé, a saber, Jesus Cristo, seu Senhor e Salvador, que apreende as promessas contidas na palavra anunciadas no batismo, e com isso é uma fé que salva, a única fé que salva. Para essa afirmação não temos palavras oriundas do raciocinar, do filosofar, ou do refletir sobre as potencialidades porventura inatas no homem. Baseia-se essa afirmação nas palavras daquele que é o Criador e Salvador ao mesmo tempo e que de fato sabe e conhece as potencialidades e a realidade no homem, também do homem recém-nascido. Diz o próprio Filho de Deus, feito homem para salvar a humanidade, o que está em Mt 18.2-6,10: "Em verdade vos digo que (note-se a solenidade deste pronunciamento, que desta maneira quase se torna um juramento!), se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças (note-se "como"! crianças – "hôs ta paidia"), de modo algum entrareis no reino dos céus". O "converter-se" é um único ato. Porém o primeiro dos dois verbos está na voz passiva no grego ("trafête"), o que mostra plenamente que o converter não é uma ação que provem das forças, da atividade do homem; o homem é convertido por um ato de Deus, do Espírito Santo que, pela palavra nos coloca bem no início de uma nova vida. Assim como uma criança nasce aqui na terra não com sua própria vontade e força mas que é nascido – até, por assim dizer, contra a sua própria vontade – assim uma pessoa que pelo poder do Espírito Santo renasce, se converte, é no próprio ato ao menos passivo: ela é renascida, ela é convertida. Temos, portanto, já aqui uma coisa que foge ao nosso raciocinar, assim como fugiu ao raciocinar do grande teólogo Nicodemos a afirmação do Mestre: "Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus", Jo 3.3. É necessário que os racionalistas, que negam a possibilidade de uma criança ter fé, também negar a possibilidade de um homem, por si sós, renascer. E se a conversão do homem adulto foge ao nosso raciocínio, por que então queremos aplicar este nosso filosofar na questão pela fé das crianças? Também aqui aplica-se a palavra do Mestre ao teólogo Nicodemos: "Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testificamos o que temos visto, contudo não aceitais o nosso testemunho. Se trata de coisas terrenas não me credes, como crereis, se vos falar das celestiais?" ( Jo 3.11,12).
"Portanto, aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus" (Novamente o termo grego usado é "paidion" – que significa criança pequena). "E quem receber uma criança ( "paidion"), tal como esta (tão pequena e tão humilde), em meu nome, a mim me recebe. Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos (é impressionante, que Jesus aqui destaca a pequenez, usando o termo "mikrós" – tão pequeno que quase não pode ser medido), que crê em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar." Neste versículo temos a grande pedra que os racionalistas tem que remover, afim de puderem afirmar: Crianças pequenas não podem crer! Como se maltrata um texto tão claro! Visto que, de acordo com seu preconceito, crianças não podem crer, eles simplesmente negam que Jesus tenha falado de crianças pequenas nestes versículos. O texto é forcado e simplesmente tirado do seu contexto. Não adianta, no entanto, maquinações filosóficas. Todo o contexto fala tão claramente de crianças; já deve ser fortemente torcido todo o texto para que ela diga o que eles raciocinam, de que Jesus aqui fala simplesmente de adultos algo infantis, adultos pueris, simples, humildes.
Ora, crer, em primeiro lugar, quer dizer: confiar. Mesmo a fé de adultos, sejam eles cheios de pensamentos profundos, conhecimentos científicos e raciocínio natural, digo, a fé de tais adultos, se realmente é fé, sempre é simples confiança, confiança tal como uma criança pequena a tem. Quando se fala desta confiança, então justamente a criança se torna o modelo para o adulto – não vice-versa. Jesus, neste texto, este apontando para a característica de uma criança para ilustrar o que ele deseja que os seus discípulos sejam. Assim como uma criança pequena é capaz de, naturalmente, confiar em sua mãe, em seu pai, assim ela também é capaz de ter confiança espiritual no seu coração. Não o aspecto racional é a essência da fé, mas sua qualidade essencial de confiança. Sabemos que a fé está presente no crente mesmo durante o sono, quanto está em recém-nascidos (cf. 1.41,44).
Neste contexto devemos ler também o v. 10 (Mt 18.10): "Não desprezeis a qualquer destes pequenos; porque eu vos afirmo que os seus anjos nos céus vêem incessantemente a face de meu Pai celeste." Notemos: Jesus está falando a seus discípulos sobre como devem tratar crianças pequenas, que nele crêem: ninguém deve desprezá-las. Aos olhos de Deus, as crianças são tão preciosas que Deus mesmo encarrega seus próprios anjos para cuidar delas. Devemos tomar cuidado em não falar e pensar em "anjos da guarda". A idéia de "anjo da guarda" para cada uma das crianças não é bíblica. A alusão no livro apócrifo de Tobias (cap. 5), não pode servir de base para uma tal idéia. É verdade que Deus usa e emprega seus anjos muitas vezes para determinadas tarefas, inclusive o guiar de seus filhos, embora o texto de At 12.15, onde se fala do "seu (de Pedro) anjo", não pode ser tomada como prova, visto que nestas palavras se expressa uma idéia supersticiosa de alguns da Congregação reunida, quando ouviram o que aquela serva Rode relatou. Certamente também em nossa passagem Jesus não quer estabelecer uma doutrina sobre "anjos da guarda" das crianças. O que o Senhor quer destacar é que os próprios anjos de Deus estão prontos para cuidar das crianças, porque elas são importantes para Deus. É notável como as duas categorias de ministros de Deus estão postos: os apóstolos certamente são chamados a servirem a Deus, cuidando para que nenhuma das crianças pequenas se perca espiritualmente. Cuidado! Se eles, os apóstolos, os discípulos, nós não tomarmos cuidado para com as crianças, ai de nós! Abençoados somos, no entanto, se levarmos as crianças a entrarem no reino de Deus, porque estamos então na mesma linha de ministério como os próprios anjos de Deus. Quão importantes são para Deus as crianças pequenas!
Essa verdade sempre de novo vem à tona no Novo Testamento. Alguns destes textos são os que seguem:
Mt 18.14: "Assim, pois, não é da vontade de vosso Pai celeste que pereça um só destes pequeninos" (de novo "mikrós").
Mt 19.14 Jesus fala de "pequeninos" e manda que os discípulos não os devam embaraçar de vir a ele, "porque dos tais é o reino dos céus" (de novo o termo empregado por Jesus é "paidía"). Devemos, portanto, ser como eles em sua fé para também nós pudermos entrar no reino, pela fé, no reino de Deus. Os pequeninos na sua fé são os melhores exemplos e modelos de candidatos ao reino. Pois Jesus afirma:
Lc 18.17: "Em verdade vos digo: quem não receber o reino de Deus como uma criança ( "paidíon"), de maneira alguma entrará nele".
Lc 10.21 (Mt 11.25): "Naquela hora (quando os setenta haviam retornados de sua primeira missão com grande alegra sobre a autoridade que possuíam em nome do seu Senhor e mediante a sua palavra) exultou Jesus nos Espírito Santo e exclamou: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos" (aqui temos o termo que significa crianças lactentes ("nêpioi").
Mt 21.15,16: Quando os líderes do povo e os principais adversários de Jesus reclamavam sobre os cânticos que as crianças ("paidía") entoavam na entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, "Hosana ao Filho de Davi", Jesus os repreendeu, citando um salmo que eles conheciam: "Nunca lestes: As boca de pequeninos ("nêpioi") e crianças de peito ("thelazóntoon" – os que estão mamando) tiraste perfeito louvor?" Será que uma criatura humana que louva a Deus, não pode crer em Deus?
Mc 10.13-16 (Mt 19.13-15; Lc 18.15-17): Aqui nos é relatado que "traziam-lhe também as crianças ("bréfoi" – um outro termo marcante para crianças de peito) para que as tocasse". Quando então os discípulos (racionalistas que eram neste instante, porque pensavam que tais criaturas ainda nada tinham a ver com Jesus) não queriam permitir que Jesus fosse molestado pelas crianças, este deu uma ordem bem clara para eles e para todos os tempos: "Deixai vir a mim os pequenos ("paidía") e não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus."
Deve ser notado que o Novo Testamento emprega os termos "téknoi" (crianças), "paidía" (crianças pequenas) "thelazóntoon"(crianças que ainda mamam) "bréfoi"(crianças lactentes – um termo, aliás, também usado até para o feto ainda unido com a mãe – cf. Lc 1.41,44 – e para recém-nascidas, de acordo com a palavra inspirada de Deus, "crêem", "são do reino de Deus", "louvam a Deus" e são postas como exemplos para todos na simplicidade, como também na confiança, que é a essência da verdadeira fé em Cristo Jesus. Sim, crianças pequenas podem crer, e o Espírito Santo, mediante a palavra no batismo, opera nelas esta fé salvadora.
15. "Deixai vir a mim os Pequeninos!"
Esta ordem que se encontra três vezes no Novo Testamento (Mc 10.13-16; Mt 19.13-15; Lc 18.15-17) não nos ordena batizar as crianças, e não queremos e nem precisamos desta passagem para "provar" o batismo infantil. Como, no entanto – assim perguntamos aos céticos – , podemos levar crianças a Cristo de uma outra maneira do que pelo batismo, quando é plenamente dito que "todos quantos fostes batizados em Cristo, de Cristo vos revestistes"? (Gl 3.27). Deixemos, pois, que nossos filhos, tão cedo quanto possível – ainda "crianças" de peito"- sejam revestidos de Cristo, da justiça de Cristo, da única justiça que nos pode salvar, no e pelo batismo!
16. Batismo é necessário?
A resposta a essa pergunta vem do próprio Salvador. No colóquio teológico entre Jesus (que, como ele mesmo afirma, "desceu do céu" - Jo 3.13) e o teólogo-mor dos judeus as época, Nicodemos... que, de noite, foi ter com Jesus, lhe disse: Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. A isto respondeu Jesus: em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: "Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus" (Jo 3.1-5). Duas vezes uma afirmação solene, quase um juramento: Não pode . . . a não ser . . . Não pode entrar no reino de Deus, a não ser que seja batizado ("nascer da água e do Espírito"). Sem dúvida, batismo é necessário!
Entre as últimas palavras de Jesus, segundo o Evangelho de Marcos, disse aos seus discípulos está esta, como se fosse a última vontade, o testamento do Senhor: "Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado", Mc 16.16. Pais que recusam batizar seus filhos são como "os fariseus e os intérpretes da lei" que "rejeitam, quanto a si mesmos, o desígnio de Deus, não tendo sido batizados por ele" (João Batista), Lc 7.29,30. Os que rejeitam o batismo, portanto, rejeitam o desígnio de Deus. Não temos consolo para alguém que rejeita o batismo, o desígnio de Deus. Quem despreza este sacramento, este meio da graça, pode procurar subterfúgios, mas não achará palavras de Deus que justifiquem sua atitude. Batismo, segundo o desígnio de Deus, é necessário!
17. No e pelo Batismo, o Espírito Santo opera o Renascimento ou Conversão.
O erro fundamental de todos os que negam a validade do batismo infantil é o sinergismo (syn = com; ergo = obra – sinergismo, portanto, é a heresia que ensina o homem precisar "operar junto com" Deus). Os adversários do batismo infantis iniciam sua argumentação com a afirmação e que uma criança ainda não pode raciocinar e que, portanto, ela precisa chegar primeiro a uma idade em que pode dar conta de seus atos, afim de poder render-se, decidir por si mesma, optar por ou procurar a Jesus como seu Salvador pessoal. A palavra de Deus, no entanto, diz claramente que a nossa salvação não está em nossas mãos; que somos salvos única e absolutamente só pela graça de Deus. A decisão está com Deus – nunca conosco; nunca podemos decidir por nossa própria força de vir a Deus; Deus vem ao nosso encontro e não nós ao seu encontro. Se pudéssemos decidir por nós, então a nossa "decisão de crer" seria uma boa obra que precederia a fé; com tal decisão seriamos ao menos colaboradores de Deus antes da nossa conversão – o que é absolutamente impossível, pois segundo a Escritura, somos mortos em pecado até o momento em que Deus nos vivifica espiritualmente. Como, porém, um cadáver não pode mexer nenhum dos seus membros, assim os espiritualmente mortos não podem, de modo nenhum, fazer algo espiritual. Deus Espírito Santo é a única força ativa no nosso renascimento; nós somos, neste ato, absolutamente passivos – sim, mais ainda, o homem natural não quer saber nada da vida espiritual, nem pode querer algo espiritual, pois somos, segundo o homem natural, "mortos em nossos delitos e pecados" (Ef 2.1).
Como este é o caso, ninguém pode, antes do seu renascimento, fazer algo que tenha valor diante de Deus. Ninguém pode se salvar, é salvo mediante a fé, mediante a confiança completa na obra meritória de Cristo. Provas? Leia-se as seguintes passagens: Rm 3.21-28; 5.15,18; 11.6; Tt 3.5; Ef 2.8,9; Gl 2.11. Salvação existe só como dádiva da graça de Deus, que se recebe somente pela fé.
Salvação existe só como obra exclusiva de Cristo e nos é oferecida unicamente pela palavra de Deus. Provas? Leia-se as seguintes passagens: Jo 6.44-65; 15.5,6; Rm 9.16; Ef 1.19,20; 2.13; 1 Co12.3; Cl 2.12.
Lutero, em sua explicação escriturística, afirma ("O Sacramento do Santo Batismo" - Primeiro: Que é o batismo?) "O batismo não é apenas água simples, mas é a água compreendida no mandamento divino e ligada com a palavra de Deus." É por isso que afirmamos: Batismo é meio da graça: batismo de fato salva.
A Escritura menciona muitas bênçãos oferecidas pelo batismo:
Mc 16.16: "Quem crer e for batizado será salvo."
At 2.38: ". . . Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e receberá o dom do Espírito Santo."
At 19.5,6: "Eles, tendo ouvido isto, foram batizados em o nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e tanto falavam em línguas, como profetizaram" (receberam o dom de pregar e anunciar a mensagem da salvação).
At 22.16 (Ananias em Damasco falando a Saulo/Paulo): "Levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados, invoca o nome dele."
Rm 6.2-14: Deste grandioso texto as seguintes afirmações: "Ignorais que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados na sua morte? (a sua morte foi vicária, e portanto tem todo o poder de salvar). "Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo"; (Notemos os verbos nos passivo: Não somos nós que fazemos algo no nosso batismo; Cristo faz tudo por nós; porém, pela fé, operada no batismo, agarramo-nos àquilo que Cristo fez por nós, e os nossos pecados com ele!) "para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida" (o que seria impossível se Cristo não tivesse ressuscitado, e nós, pela fé, com ele) "... foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos; porquanto quem morreu, declarado justo (libertado) está do pecado . . . Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e, sim, da graça." Notemos: tudo isto é porque fomos batizados!
1 Co 6.11: "Tais fostes (impuros, idólatras, adúlteros . . ., cf. v. 9 e 10) alguns de vós; mas vós vos lavastes (melhor "fostes lavados" isto é, pelo batismo), mas fostes santificados, mas fostes justificados, em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus" (é como um eco das palavras de Jesus a Nicodemos: "Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus").
1 Co 12.13: "Pois em um só Espírito, todos fomos batizados em um corpo (isto é no corpo de Cristo, sua igreja – o batismo, portanto, é o meio pelo qual nos tornamos membros do corpo de Cristo) ... E a todos nós foi dado beber de um só Espírito."
Gl 3.26,27: "Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé; porque todos quantos fostes batizados em Cristo, de Cristo vos revestistes" (pelo batismo recebemos a vestidura da justiça operada por Cristo).
Ef 4.3-6: ". .. . esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vinculo da paz: Há somente um corpo e um espírito . . . há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos."
Ef 5.25-27: ". .. . Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem cousa semelhante, porém santa e sem defeito."
Tt 3.5-7: ". .. . não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, afim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna."
1 Pe 3.20,21: ". .. . nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca, na qual poucos, a saber, oito pessoas, foram salvos através da água, a qual, figurando o batismo, agora também vos salva .. . ."
Pergunta-se, com todas estas provas, que tão claramente demonstram o poder regenerador do batismo, por que ainda existem cristãos, que por causa de raciocínio falho, baseados numa lógica humana falha, negam às crianças este glorioso meio de se tornarem membros do corpo de Cristo e serem salvos de uma condenação que pesa sobre a carne, isto é, sobre todos os homens nascidos aqui na terra?!
18. Em Conclusão: Ainda Algumas Questões e Considerações
A primeira pergunta que aflige a muitos é esta: então não pode ser salvo quem não for batizado? É o batismo absolutamente necessário para a salvação?
Que podemos dizer a pais, dos quais um filho morre antes de poder ser batizados? A nossa resposta pode ser que tais pais – se são cristãos, que realmente crêem no Salvador Jesus, que tiveram a intenção de batizar seu filho e que não querem rejeitar o batismo – possam ser consolados com as palavras que se acham nas liturgias antigas da igreja luterana: "Encomendamos esta criança à misericórdia de Deus!"
Para tal resposta temos boas razões bíblicas:
a) O contexto daquelas passagens que aparentemente ensinam a necessidade absoluta do batismo indica que em todos os casos tais palavras pertencem à lei e não ao evangelho. Jo 3.5 e Lc 7.29,30 são palavras dirigidas aos fariseus que rejeitaram o batismo. As palavras em Mc 16.16 não contêm a cláusula negativa e condenatória: "... quem não for batizado será condenado". O que realmente condena é a incredulidade. Não é a falta de batismo que condena; o que condena é a rejeição do batismo. Diz Lutero: "O crente não batizado não é condenado; aquele que não crer, este, sim, está condenado"( St. Louis XII, 1706).
b) Apesar de que nós, os homens na igreja, estamos comprometidos por Deus a usar os meios da graça (Palavra de Deus e Sacramentos), devemos lembrar que Deus não está amarrado, nem pode ser, visto ser ele o Senhor de tudo isto. Deste modo ele pode, se assim ele quiser, criar fé em crianças até sem batismo, assim como ele poderia ter suscitado "filhos a Abraão", como Jesus afirma, "destas pedras", se assim o quisesse, Mt 3.9.
c) Existem indicações de que Deus não somente poderia criar, mas realmente criou fé sem meios:
- João Batista, ainda no ventre materno – Lc 1.15,41,44;
- as filhas dos crentes no povo da Antiga Aliança;
- o filho de Davi e de Bate-Seba – 2 Sm 12.18-23;
- aqueles pequeninos e crianças de peito que dão "perfeito louvor" citados por Jesus, mt 21.16 do Sl 8.2;
- os pequeninos e crianças de peito, nascidos antes da aliança da circuncisão.
Estes exemplos evidentemente não podem ser citados para justificar a rejeição do batismo.
d) Pais cristãos entregam seus filhos em oração a Deus, mesmo antes de nascerem, no próprio nascimento e gogo depois do nascimento. Isto não significa que a oração seja um meio da graça, o que realmente não é; porém, temos a promessa: "Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo" (Tg 5.16).
e) Existe uma passagem algo enigmática na qual Paulo fala sobre a influencia benéfica de um dos pais de uma criança, quando este é crente, sobre a vida desta: 1 Co 7.14. Esse texto deve ser posto na luz da palavra de Paulo em 1 Tm 4.4,5: ". . . tudo que Deus criou é bom, e, recebido com ações de graça, nada é recusável, porque pela palavra de Deus, e pela oração, é santificado."
Todos estes pontos são dados como puro consolo evangélico para pais cristãos, cujas crianças morreram antes de que eles pudessem ter tido a oportunidade de as batizar. Entregamos, nestes casos, os filhos às mãos do misericordioso Deus. É um consolo, isto é evidente, que é procurado por cristãos aflitos – não para os incrédulos e rejeitadores da palavra de Deus e dos meios da graça nos sacramentos.
f) Por que padrinhos no batismo?
Podemos responder com as razoes dadas na explicação do Catecismo Menor de Lutero, ainda em uso em muitas das nossas congregações: padrinhos são chamados: 1) a testemunhar que as crianças foram batizadas corretamente; 2) a ajudar na sua educação cristã; 3) a orar por elas. É, portanto, uma instituição mui benéfica, se bem que não prescrita na Bíblia. A exigência da presença de testemunhas no ato do batismo é baseada em conselhos dados na própria Bíblia : Dt 19.15; Mt 18.16; Jo 8.17; 2 Co 13.1.
Que Deus nos dê aquela confiança na verdade de suas promessas, que nunca deixemos, por razões puramente racionais e falhas, de batizar crianças tão cedo quanto possível!
Anotações
1) Neste caso Kinery, no seu trabalho mencionado na nota inicial, tenta provar demais, citando os v, 36-38 como prova de uma confissão de fé pessoal antes do batismo. É provável que assim sempre foi feito, apesar de ser algo difícil imaginar essas confissões individuais no dia do Pentecostes, no caso do batismo de 3.000. Lenery segue, sem se preocupar com a genuidade deste texto, simplesmente a J. T. Mueller (Dogmática Cristã II, 176) e Francis Pieper (Christliche Dogmatik, Vol. III, pg 325). Lenski (Interpretation of the Acts of the Apostles, pg 346) caracteriza bem a situação, quando diz: "A evidência textual deste versículo é fraca demais para este ser admitido como genuíno. Diz o que pode ter acontecido. A objeção, no entanto, é só textual. . . . A confissão de Jesus ser o Cristo sempre foi um pré-requisito para o batismo." O v. 37 realmente não ocorre em nenhum manuscrito antes do século X. Em todo caso é aconselhável não tentar provar algo com evidências incertas.
2) Os textos citados das Confissões Luteranas são da nova tradução das mesmas feitas por Arnaldo Schueler.
3) Rabi Moisés Maimônides, um dos maiores pensadores e teólogos judeus da Idade Média, nasc. Em 1135 em Córdoba, Espanha, falec. Em 1204 no Cairo, Egito. Sua obra magna é a "Mishna Tora", uma exposição extensa e erudita de leis, costumes e prescrições cerimoniais do povo de Israel até sua extinção como nação no ano 70 D. C. pela destruição de Jerusalém e a completa dispersão dos judeus remanescentes.
4) O Talmude, realmente os Talmudes, porque existem duas formas deste livro das leis, ordenanças, costumes e interpretações do Antigo Testamento: o Talmude de Jerusalém, o mais antigo e mais breve, e o Talmude Babilônico, o mais extenso e o mais importante dos dois. A palavra "Talmude" (hebr. "lamád") significa "o aprender", e concreto: a doutrina. Estes documentos, pouco a pouco colecionados, são interpretações, leis e costumes que, depois da volta do exílio da Babilônia pelos mais conceituados rabis do judaísmo, foram escritas ou ensinados. Os "Gemara" são suplementos e interpretações acrescentados às ordenanças originais e datam de 200 até 500 D. C. As ordenanças dos rabis, que cresceram nos últimos séculos antes de Cristo ao lado das leis escritas, são, no Novo Testamento, chamadas de "tradições dos anciãos" (Mc 7.3 e 5; Mt 15.2) e foram, pelos fariseus, consideradas de valor mais alto que as leis escritas nos livros do A T . muitas das discussões de Jesus com os fariseus basearam-se nesta superavaliação da parte dos fariseus destas "tradições".
5) Com respeito ao batismo infantil na igreja antiga apontamos para um estudo mais profundo da situação inteira, também durante a época neo-testamentária, à discussão sobre o tema havia através de vários anos entre dois dos mais eminentes teólogos alemães da atualidade, e mundialmente conhecidos por serem autoridades no campo do N T e da Patristica: Joaachim Jeremias e Kurt Aland. O resultado destas discussões se acha reunidas nas obras citadas sob o nome deles em nossa Bibliografia.
6) As citações são traduções nossas dos textos, a nossa disposição em língua inglesa, contidas nas coleções ed. Wm, B. Eardmans Publishing Co., Grand Rapids, mich., USA, - The Ante-Nicene Fathers – ao vols. (ed. A. Roberts & J. Donakdsin); The Nicene and Post Nicene Fathers, (ed. Philipp Schaff) – 2 séries de 14 vols. Cada. – Para poupar espaço deixamos a indicação individual dos volumes e paginas citadas, referindo o leitor para os volumes destas séries que contém o "Comprehensive General Index". – As citações dadas, evidentemente, não podem ser exaustivas e completas, mas são, ao nosso ver, suficientes para provar os pontos referidos; elas seguem, em certo sentido, uma ordem cronológica.
Bibliografia
Foram consultados principalmente os seguintes comentários do N T.:
Das Neue Testament Deutsch, Göttingen, 1968 – 4 vols.
The Interpretation of the Books of the N T ., by R.C.H. Lenski, Columbus, Ohio, - 11 vols., várias datas.
The New International Commentary on the New Testament, vários autores, grand Rapids, Much, 16 vols., várias datas.
Kritisch-Exegetischer Commentar über das Neue Testament, H. A. W. Meyer, Goettingen, 4. Aufl., 1858ss.
Lange's Commentary on the Holy Scriptures – New Testamen – ed. Phillipp Schaff, Grand Rapids, Mich., várias datas.
Outras literaturas:
Concordia Triglota, St. Louis, Mo., Concórdia Publishing House, 1921.
Christian Dogmatics by Francus Oueoer, St. Louis, Mo., 1953, vo. III.
Christian Dogmatics by John T. Mueller, St. Louis, Mo., 1955.
A Sumary of Christian Doctrine by Edward W. A. Koehler, St. Louis, Mo., 1952.
The Abiding Word, Vol. II, St. Louis, Mo., 1947, pg. 398ss.
Jeremias, Joachim: Die kinder-tauefe in den ersten vier Jahrhunderten, Goettigngen, 1958.
Aland, Kurt: Taufe und Kindertaufe, Guetersloh, 1971.
Tratados:
Dallman, William: infant Baptism, St. Charles, Mo., sem data.
Why baptize children? – Who and Why? – em "The Fathful Word", Vol. 13, nr. 4.
Kinery, Jeffrey C.: Our position on Infant Baptism – em "Christian News", July 31, 1978.