Sexta-feira da Paixão
9 de abril de 1993
Hebreus 4.14-16 e 5.7-9
l - Os textos do dia
Todos os textos, como não poderia deixar de ser, referem-se à obra redentora de nosso Sumo-Sacerdote Jesus Cristo, o Homem-Deus.
O Salmo do dia (22.1-24). A crítica moderna nega o aspecto messiânico do Sal- mo. Diz que retrata o sofrimento pessoal de quem o escreveu ou o de Israel. Mas Cris- to mesmo o aplica a si ao exclamar do alto da cruz: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mt 27.46).
O texto do Antigo Testamento (Is 52.13-53.12 ou Os 6.1-6). É simplesmente o maior texto sobre o Servo Sofredor, o texto de Isaías. Descreve em cores e linguagem tão vivas o sofrimento do nosso Sumo-Sacerdote como nenhum outro texto. Isaías es- creve com tamanha certeza que usa o passado como se isto já tivesse acontecido. Com esta mensagem serão futuramente consolados os cativos na Babilônia. Com esta mensagem ainda hoje são consolados os cativos do pecado, diabo, morte e inferno. O Cristo, que é "para todos", verá "os frutos do seu penoso trabalho e ficará satisfeito”. Já o texto de Oséias fala do tipo de conversão que Deus quer, ou seja, arrependimento sincero, de todo coração, que leva a uma fé genuína.
O evangelho do dia (Jo 18.1-19.42 ou Jo 19.17-30). Para que não se perca o ri- co conteúdo do texto maior sugerido, pode-se fazer um resumo do mesmo enfocan- do-se o que nosso Sumo-Sacerdote padeceu, sua perfeita obediência (especialmente a passiva), para nos salvar.
A epístola, texto da mensagem (Hb 4.14-16, 5.7-9). Resumo extraordinário do Ofício Sacerdotal de Cristo. Por causa de sua obediência (ativa e passiva) Ele passa a ser "o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem". "Todos" refere-se aos que o aceitam pela fé.
Sugerimos como tema:
Obediência que gera obediência.
ll - Contexto - O autor da carta, cuja identidade é uma incógnita ainda hoje, pa- rece que escreve para cristãos judeus que estão apostatando de sua fé em Cristo, em meio às perseguições, entre os anos 60 e 70 depois de Cristo. Deve ter escrito antes da destruição de Jerusalém. Cita que os hebreus "retrocederam" (Hb 10.39).
A parte maior da carta fala de Cristo, nosso Sumo-Sacerdote (Hb 4.14-10.18). Em Hebreus 9.15 a 10.18 o autor se ocupa com o tema do Mediador. O autor está tentando “vacinar" seus leitores contra a apostasia, remetendo-os a Cristo, o Sumo-Sacerdote, o que é "Superior" (palavra que aparece 13 vezes em Hebreus). O sacerdócio de Cris- to é superior ao da lei de Moisés, o sacerdócio araônico. Não descende de Arão, mas de Melquisedeque (rei de Justiça).
Ainda no contexto, o início do cap. 4 trata do perfeito repouso ou descanso que o povo de Deus recebe, pela fé, contrastando-o com o descanso temporário conseguido por Josué. E no cap. 3, Cristo é contrastado com Moisés e somos advertidos contra a incredulidade e conseqüentemente desobediência.
lll - O texto - (a) Hb 4.14-16 Vs. 14. É possível que a conjunção pois (oun) faça ligação direta com Hb 2.17-18. São ditas três grandes coisas sobre o Sumo-Sa- cerdote. (a) Ele é grande (megan) em relação aos outros que lhe são todos inferiores, (b) Ele penetrou os céus. Está diante do próprio Deus, com toda a Majestade divina. Através dele chegamos a Deus. (c) Ele é Jesus, o Filho de Deus. Há uma clara alusão às duas naturezas de Jesus. Jesus teve que ser Homem para que pudesse ser nosso Sacerdote. Ele é histórico. Ao mesmo tempo teve que ser Deus (Filho de Deus) para estabelecer sua superioridade. (Sugerimos que se leia o cap. VIII da Fórmula de Concórdia, Declaração Sólida, "Da pessoa de Cristo" para ver a inter-relação entre as duas naturezas de Cristo e o que isto significa para nós ao estudarmos o Ofício Sacer- dotal de Cristo). A propósito, pode-se ler também as páginas 109 a 117 do "Sumário da Doutrina Cristã, de Koehler, que tratam do Ofício Sacerdotal. Isto porque sempre é de bom alvitre "carregar" na doutrina para que os ouvintes realmente se firmem no Cristo verdadeiro, ainda mais que estamos numa data toda especial.
Apresentando o Sacerdote, somos advertidos: "Conservemos firmes a nossa confissão". O verbo "Kratômen" significa "apegar-se a". Em Hb 10.23 há um verbo seme- lhante, "katechômen", que também trata da confissão. O autor está exortando a que seus leitores se cheguem a Deus.
V. 15. Pois é este Sacerdote, que foi tentado, mas não pecou, que se "compadece” de nós. Ele "simpatiza" (sympatheo), "sofre junto com".
V. 16. Agora nos achegamos de Deus com "confiança" ou ousadia (parresia), sem medo, como no Pai Nosso, para recebermos "misericórdia" e "graça".
(b) Hb 5.7-9
V. 7. Aqui o autor deixa bem claro de estar tratando de um Cristo histórico e não de uma figura mística qualquer. Ele lembra o que aconteceu "nos dias da sua carne". Há uma referência à "orações e súplicas" do nosso Sacerdote que é muito interessante. A primeira palavra, "deesis" é usada no Novo Testamento para "oração" em geral, mas a segunda, "hiketéria", tem o forte sentido de "súplica", derivado do antigo costume de se estender um ramo de oliveira como sinal de apelo. Cristo em sua oração pelo seu povo chega ao "forte clamor e lágrimas", alusão ao Getsêmani. Ele ora "a quem o po- dia livrar da morte". Referência ao Pai.
V. 8. Cristo "aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu", referência à sua perfeita obediência (ativa e, principalmente, passiva aqui). Lembramos do Servo Sofre- dor de Isaías.
Vs. 9. A perfeição de Cristo é base para nossa salvação eterna. Ele "tornou-se Autor da salvação eterna". O "tornar-se", "egeneto", refere-se à realização da salvação, o que ele fez de uma vez por todas, por isso o verbo está no passado. Já "Autor", "ai- tios", só ocorre aqui no Novo Testamento e significa "causa".
A resposta de nossa parte à perfeita obediência do Sumo-Sacerdote é "obediên- cia". Pela fé, naturalmente. Os eleitos são "todos" os que lhe obedecem, de todas as nações e níveis sociais. O Sacerdote providenciou salvação para todos (justificação objetiva). A graça é universal. Daí a probidade do lema da IELB - 2000: "Cristo para to- dos". Na aplicação da mensagem podemos fazer alusão direta a este lema.
IV - Proposta homilética
Há várias maneiras de se enfocar o texto. Sugerimos que se comece por descrever a Cristologia. As duas naturezas de Cristo e a necessidade das mesmas na perfeita obediência de Cristo. Os aspectos do sacerdócio de Cristo, sua obediência, cumpri- mento da lei e morte, ressurreição e intercessão que ele faz ainda hoje pela humanida- de, tudo isto pode ser usado. No aspecto de lei temos que advertir contra a apostasia e contra o esfriamento da fé. Como "vacina" contra estes males vamos radicar nossos ouvintes no Cristo histórico e sua obra redentora. Na aplicação final da mensagem vamos lembrar que o sacerdócio de Cristo é "para todos" e ver como isto será efetiva- do no lugar, "Jerusalém", onde estamos e o que podemos fazer para que o sacerdó- cio se estenda "até os confins da terra". Dentro do PEM - IELB, podemos usar também a explicação do 2o Artigo, de Lutero.
Edgar Züge