DÉCIMO SEGUNDO DOMINGO APÓS PENTECOSTES
30 de Agosto de 1992
Lucas 12.32-40
Leituras do dia:
A partir das leituras do dia não encontramos dificuldades para determinar o tema do domingo. Ele salta aos olhos no conjunto dos textos indicados e podemos resumi-lo em poucas palavras, como, por exemplo, a excelência da fé.
O salmo transmite a verdade de que a excelência da fé produz o verdadeiro culto a Deus. Não são as cerimônias exte- riores e formais que estabelecem um cultuar correto ao Senhor. O culto exterior tem que ser precedido do culto interior tem que ser precedido do culto interior e este, por sua vez, nasce de um coração unido a Deus por meio da fé. Da comunhão interior com Deus procede uma vida cúltica, caracterizada não apenas pela observância de certos momentos de adoração, mas por uma seqüência de vida em que os atos expressam confiança no Senhor e amor por sua palavra.
A leitura do Antigo Testamento depõe a favor de Abraão e testemunha a respeito de sua confiança na palavra do Senhor. Seu exemplo de fé estimula a todos quantos o conhecem. Por confiar no que Deus disse, tornou-se herdeiro de uma maravilho- sa promessa.
O texto de Hebreus define o conceito de fé e divulga seus excelentes resultados espalhados no testemunho deixado pelos grandes heróis do Antigo Testamento.
Contexto do Evangelho
Jesus vem falando sobre a fé e seu valor na vida dos filhos de Deus. Falava ao povo (multidão, segundo Lc 12.1) e espe- cialmente aos discípulos (também 12.1). Ressaltou o valor da fé para enfrentar os adversários (12. 1-12); a superioridade da fé sobre a cobiça às riquezas (12. 13-21); o proveito da fé diante da ânsia e cuidado pelas necessidades corporais e materiais (12. 22-31): a fé como meio de recebimento do verdadeiro te- souro (12. 32-34): e a necessidade de conservar a fé para a vigi- lância diante da iminência da vinda de Cristo (12. 35-40).)
O texto
V. 32 — Um "pequenino rebanho": a expressão revela imediatamente uma idéia de fraqueza, de inferioridade em rela-
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cão ao que está ao redor. O grupo dos discípulos era um peque- no rebanho no meio do mundo que não deixaria de se opor a eles como se opôs ao seu Mestre. Os cristãos continuam sendo um pequenino rebanho em meio ao enorme mundo de descrentes ou seguidores de falsas crenças. Olhando só para eles e o que os cercava, os discípulos, certamente iriam se sentir desguarne- cidos, desprotegidos e, conseqüentemente, com medo. Pouca ou quase nenhuma é a força do homem frente às forcas que se con- jugam ao lado contrário. Por isso, quando está só ou num pe- queno grupo, não há lugar para outro sentimento no coração humano a não ser o temor.
O pequenino rebanho, porém, não estava só. Havia um fato relacionado a eles que transformaria completamente a si- tuação. Se os olhos do corpo podiam contemplar somente a vul- nerabilidade do grupo, por outro lado, todavia, era desvendado aos olhos da fé aquilo que é sempre um mistério, ou seja, a gra- ciosa providência de Deus em favor dos seus. É mistério porque não atinamos com nossa razão em. descobrir o que leva Deus a olhar benevolentemente para criaturas pecadoras. Sabemos ape- nas que isso significa que o Senhor se achega em graça junto aos pecadores. Em graça ele também se aproximava dos discí- pulos, "agradando-se" (sem mérito deles) em lhes dar o seu reino. Por isso, a graça divina a eles alcançada por intermédio de Cristo e aceita por eles através da fé, agigantava-os sobrema- neira, embora numericamente continuassem um pequenino re- banho. Desfrutavam do reino de Deus, sob os cuidados do Se- nhor, não estando mais à mercê do movimento de forças opostas, mas fundamentados na proteção amorosa de Deus.
V. 33 — Não há aqui nenhum conselho para se apossar de uma pobreza meritória. O rumo mostrado é outro. A confiança nos resultados da ação graciosa de Deus (agradou-se em dar-nos o seu reino) faz nosso coração repousar não na ilusória segu- rança dos valores materiais, como fez o rico insensato, descrito nos versículos 16 a 20. Guardou o que conseguiu em bolsas que se desgastaram e deixaram escapar tudo que havia ajuntado. O coração do filho de Deus encontra repouso na providência amo- rosa do Senhor como fruto de sua graça. Tal fé dirige toda a sua vida, libertando-o do domínio das posses a tal ponto que até pode delas se desfazer para a prática da caridade. Uma fé que se mostra assim ativa no amor coloca também a esperança de vida, tanto de agora quanto do depois, no único que pode concretizá-la: Deus. Dele vem à vida plena garantida pela in- termediação de Cristo com sua obra redentora. Tal vida se cons- titui no tesouro inextinguível imune ao ladrão e à traça. Por recebermos do Pai o seu reino, já desfrutamos em parte desta
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vida, deste tesouro, aqui na terra, enquanto aguardamos a sua plenitude nos céus.
V. 34 — O coração sempre pende para aquilo que é o te- souro de alguém. A oferta do reino trazida por Jesus ao peque- nino rebanho quer mover os corações dos discípulos em direção ao tesouro incorruptível e glorioso. Que diferença em relação ao rico insensato anteriormente mencionado!
Vv. 35-40 — Em lugar da análise exegética de cada destes versículos em separado, podemos agrupá-los e extrair do con- junto a verdade neles englobada. A ênfase está na vigilância diante da iminência da chegada do senhor, apontando para o Filho do homem que virá. Trará com ele a consumação de tudo aquilo que agora é parcial (por ex., nosso tesouro). Pela fé nele teremos acesso a tal plenitude. Será a vez do pequenino reba- nho, tão inexpressivo frente aos grandes e poderosos do mundo, ser alçado à glória e ao poder com. aquele que é o Senhor da glória e do poder.
Para se chegar a esse final feliz da história de nossa vida, há que existir a vigilância. Não há da parte do Senhor nenhuma menção com referência ao momento de sua vinda, o que requer vigilância constante dos servos que o aguardam, com os corpos cingidos e as candeias acesas. Pois o que conserva os discípulos vigilantes é a fé no Senhor Jesus e na promessa do seu regresso. Mais uma vez comprova-se a excelência da fé! É nada menos do que confiança naquilo que a graça divina já operou a nosso favor — deu-nos o reino do Pai, sendo esta dádiva possível pela intermediação de Cristo; ofereceu-nos um tesouro inextinguível e incorruptível (lembre 1 Pe 1.4) — e ainda quer realizar: trazer o Filho do homem novamente ao mundo para nos transformar num rebanho triunfante.
A fim de garantir a subsistência de coisa tão excelente, a fé, nosso Senhor Jesus providencia sua permanência operante em nossa vida. Esteve pessoalmente com os discípulos e chega a nós pelos meios da graça, pelos quais opera em defesa e para crescimento da fé.
Proposta homilética
Tema: A Excelência da Fé
Introdução: A fé, algo tão precioso, não pode ser mal avaliada. O que pouco vale facilmente é abandonada. Mensagem visa co- locar diante do ouvinte a preciosidade da fé.
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I — O pequenino rebanho e seus medos
1) O contexto do capítulo 12 de Lucas até o versículo 29 fala dos medos comuns àqueles que se sentem peque- nino rebanho.
II — O pequenino rebanho não está só e desguarnecido
1) Sobre ele paira o favor (graça) do Pai: dá o seu reino.
A — Em vez de estar abandonado diante dos perigos e inquietações, percebe a ação do Pai em seu be- nefício: nada menos do que a oferta de ingresso no reino do Pai todo-poderoso.
2) Forma de aceitar a dádiva do reino: pela fé em Cristo tão somente. Eis a excelência da fé!
III - O pequenino rebanho no reino do Pai
1) Entre outras bênçãos ali recebidas, descobre o verdadeiro tesouro.
2) A fé nas promessas do Pai inclina os corações para o verdadeiro tesouro, ao mesmo tempo em que liberta da escravidão aos tesouros guardados em bolsas que se desgastam. Eis novamente a excelência da fé!
IV - O pequenino rebanho prepara-se para a vinda do Pastor
Jesus
1) No reino do Pai caminha para a glória.
A — Ainda, porém, não chegou lá. Atitude a ser to- mada durante o tempo do "ainda não": Vigilân- cia!
B — Apenas saber que Cristo virá não garante encon- tro feliz com ele. É preciso também o preparo adequado.
2) A vigilância evita surpresas desagradáveis.
A — Conserva-se vigilante aquele que permanece em fé no Salvador Jesus. A excelência da fé!
B — A providência divina para conservar e fortalecer em nós coisas tão excelente: ação do Espírito Santo pelos meios da graça.
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Conclusão: Toda a graça que o Pai dispensa ao pequenino re- banho (dá o seu reino, opera a fé, conserva-a para que a vigi- lância seja mantida, oferece o tesouro incorruptível da vida eterna) motivo-o a uma vida de serviço voluntário dedicada ao Pastor Jesus.
Paulo Moisés Nerbas
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VOLUME 51 JUNHO 1992 NÚMERO 1