INSTITUTO CONCÓRDIA DE SÃO PAULO
ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA
EXEGESE DE APOCALIPSE
PROFESSOR: GERSON LUIS LINDEN
BIBLIOGRAFIA
COMENTÁRIOS
Barclay, William. Apocalipsis. In: El Nuevo Testamento Comentado. Vol. 16. Traduzido por Marcelo Perez Rivas. Doblas: La Aurora, 1975.
Becker, Siegbert W. Revelation - The Distant Triumph Song. Milwaukee: Northwestern, 1988.
Caird, G. B. A Commentary on the Revelation of St. John the Divine. New York: Harper and Row, 1966.
Charles, R. H. The Revelation of St. John. In: The International Critical Commentary. Ed.: S. R. Driver, A. Plummer, C. A. Briggs. Edinburgh: T. & T. Clark, 1966. 2 Volumes.
Cohen, Armando Chaves. Estudos sobre o Apocalipse. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das
Assembléias de Deus, 1987.
Corsini, Eugenio. O Apocalipse de São João. Traduzido por Ivo Storniolo e Carlos Vido. São Paulo: Paulinas, 1984.
Cothenet, E. Os Escritos de João e a Epístola aos Hebreus. São Paulo: Paulinas, 1988.
Ellul, J. Apocalipse: Arquitetura em Movimento. Traduzido por Maria Luiza de Albuquerque Silva. São Paulo: Paulinas, 1980.
Erdman, Charles R. Apocalipse de João. Traduzido por D. A. M. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1960.
Ferreira, Júlio Andrade. Apocalipse Ontem e Hoje. Campinas: Luz para o Caminho, 1984.
Fiorenza, Elisabeth Schuessler. Invitation to the Book of Revelation. Garden City: Image Books, 1981.
Ford, J. Massyngberde. Revelation. In: The Anchor Bible. Volume 38. Garden City: Doubleday, 1975.
Foulkes, Ricardo. El Apocalipsis de San Juan. Buenos Aires: Nueva Creación, 1989.
Franzmann, Martin H. The Revelation to John - A Commentary. St. Louis: Concordia, 1968.
Glasson, T. F. The Revelation of John. Cambridge: At the University Press, 1965.
Goekmein, G. Offenbarung St. Johannis. St. Louis: Concordia, 1900.
Gorgulho, G. S. e Ana Flora Anderson. Não Tenham Medo! Apocalipse. 4ª Edição. São Paulo: Paulinas, 1982.
Graham, Billy. O Tropel do Apocalipse. Traduzido por José Sanz. Rio de Janeiro: Record, 1983.
Guthrie, Donald. The Relevance of John's Apocalypse. Exeter: Paternoster, Grand Rapids: Eerdmans, 1987.
Hartingsveld, L. van. Revelation - a Practical Commentary. Traduzido por John Vriend. Grand Rapids: Eerdmans, 1985.
Hendricksen, W. More than Conquerors. Grand Rapids: Baker, 1978.
Kelly, W. O Apocalipse. Traduzido por Martins do Vale. Lisboa: Depósito de Literatura Cristã, 1989.
Ketter, Peter. Die Apokalipse. Freiburg: Herder, 1942.
Ladd, George Eldon. Apocalipse: Introdução e Comentário. Traduzido por Hans Udo Fuchs. 3ª Edição. São Paulo: Vida Nova, Mundo Cristão, 1984.
Lange, John Peter. Revelation. Traduzido e com adições por Philip Schaff. Grand Rapids: Zondervan.
Lenski, R. C. H. The Interpretation of St. John's Revelation. Minneapolis: Augsburg, 1963.
Little, C. H. Explanation of the Book of Revelation. Saint Louis: Concordia, 1950.
Lohmeyer, Ernst. Die Offenbarung des Johannes. Tuebingen, J. C. B. Mohr, 1953.
McDowell Jr., Edward A. A Soberania de Deus na HIstória - A Mensagem e Significado do Apocalipse. Traduzido por Robert G. Bratcher e Werner Kaschel. 2ª Edição. Rio de Janeiro: JUERP, 1976.
Mello, A. S. A Verdade sobre as Profecias do Apocalipse. São Paulo, 1959.
Morris, Henry M. The Revelation Record - A Scientific and Devotional Commentary on the Book of Revelation. Wheaton: Tyndale, San Diego: Creation-Life, 1986.
Morris, S. L. The Drama of Christianity - An Interpretation of the Book of Revelation. Grand Rapids: Baker, 1982.
Mounce, Robert H. The Book of Revelation. In: The New International Commentary on the New Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1983.
Poellot, Luther. Revelation - The Last Book in the Bible. St. Louis: Concordia, 1962.
Roberts, J. W. The Revelation to John. Austin: Sweet, 1974.
Rottman, Johannes H. Vem, Senhor Jesus. Porto Alegre: Concórdia, 1993.
Schick, Eduard. O Apocalipse. Traduzido por Francisco de Assis Pitombeira. Petrópolis: Vozes, 1980.
Summers, Ray. A Mensagem do Apocalipse: Digno é o Cordeiro. Traduzido por Waldemar W. Way. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1980, 4ª edição.
Swete, Henry Barclay. The Apocalypse of St John. Grand Rapids: Eerdmans, 1968.
Tenney, Merril C. Interpreting Revelation. Grand Rapids: Eerdmans, 1968.
Uma Leitura do Apocalipse. Vários autores. Traduzido por Monjas Dominicanas. São Paulo: Paulinas, 1978.
Wilcock, Michael. A Mensagem do Apocalipse. São Paulo: ABU, 1986.
ARTIGOS EM REVISTAS TEOLÓGICAS
Arndt, W. F. "Armageddon". Concordia Theological Monthly 22 (1951): 465-471.
Brakemeir, Gottfried. "Profecia - Seu Significado na Tensão entre Antigo e Novo Testamento". Estudos Teológicos 22/2 (1982): 146-169.
Bretscher, Paul M. "Syntactical Peculiarities in Revelation". Concordia Theological Monthly 16 (1945): 94-105.
CTCR - LC-MS. The End Times - A Study on Eschatology and Millennialism. Parecer da Comissão de Teologia e Relações Eclesiais da LC-MS. Traduzido por Gerson Luis Linden. (Xerox)
Ellwanger, W. H. "The Christology of the Apocalypse". Concordia Theological Monthly 1 (1930): 512-28.
Flor, Paulo F. "A Origem e a Natureza da Literatura Apocalíptica". Vox Concordiana - Suplemento Teológico 3/2 (1987): 6-12.
Guenter, Darlei. "A Carta de Cristo à Igreja de Pérgamo (Ap 2.12-17)". Igreja Luterana 34 (1973): 1-10.
Heimann, Leopoldo. "Novos Céus e Nova Terra". Igreja Luterana 31 (1970): 2-37.
Kretzmann, P. "Das Verhaltnis der Apokalypse zu den Prophetischen Schriften des Alten Testaments".
Concordia Theological Monthly 6 (1935): 340-347.
Nerbas, Paulo M., Walter A. Patzer e Carlos W. Winterle. "A Carta a Esmirna -Ap 2.8-11". Igreja Luterana 31 (1970): 75-82.
Odeberg, Hugo. "The Authorship of St. John's Gospel". Concordia Theological Monthly 22 (1951): 225-50
Ott, Norberto C. "A Igreja de Sardes e a Nossa". Igreja Luterana 36 (1976): 154-156.
Reader, William W. "The Twelve Jewels of Revelation 21.19-20: Tradition History and Modern Interpretations". Journal of Biblical Literature 100/3 (1981): 433-457.
Rubeaux, Francisco. "A Luta Permanente". Revista Eclesiástica Brasileira 45/178 (1985): 65-77.
Scholz, Vilson. "Nomes e Títulos do Jesus Glorificado no Apocalipse". Igreja Luterana 43 (1983): 20-30.
AUTORIA E ÉPOCA DA ESCRITA
Autoria
Ele se apresenta como "João", servo de Jesus Cristo. A tradição mais antiga o identifica com o apóstolo João, escritor do Evangelho e das três Epístolas. Assim testemunham:
- Justino, o Mártir
- Irineu (discípulo de Policarpo, bispo de Esmirna e que fora discípulo de João, o apóstolo, em Éfeso)
- Clemente da Alexandria
- Tertuliano
- Cânone de Muratori
- Hipólito de Roma
No terceiro século Dionísio de Alexandria e o presbítero Caio, de Roma, questionaram a autoria apostólica.
Fosse o livro um pseudoepígrafo, o autor certamente teria deixado mais claro a "autoria" de João, o apóstolo. assim ocorre nos Apocalipses Apócrifos, de Paulo e de João. No Apocalipse, pelo contrário, o autor não se apresenta como o apóstolo. Isso não desaprova a tese da autoria apostólica, mas não é o que se esperaria de um escritor que se quisese fazer passar por um apóstolo. (Swete, The Apocalypse of St. John, clxxiv, clxxv)
Data
Eusébio relata, em sua História Eclesiástica, que João foi levado ao exílio na ilha de Patmos no quinto ano do imperador Domiciano (governou entre 81 e 96 A.D.), portanto, no ano 85 ou 86.[1] Depois, também conforme Eusébio, ao entrar Nerva (ano 96) como imperador, este ordenou que as pessoas injustamente condenadas por Domiciano devessem voltar a suas casas.[2]
Clemente da Alexandria:
"Quando, logo após a morte do tirano (Domiciano), ele voltou da ilha de Patmos para Éfeso, tendo sido convidado, foi logo visitar as regiões vizinhas a fim de instalar bispos em alguns lugares; em outros, por em ordem as congregações; e, em outros ainda, ordenar aqueles que foram designados pelo Espírito Santo". (Rottmann, Vem, Senhor Jesus, 16)
Conforme os dados acima e a palavra do próprio João em Ap 1.9 (de que ele estava em Patmos) o livro deve ser datado entre 85 e 95 A.D.[3]
O LIVRO NA IGREJA ANTIGA
"Entre muitos cristãos este livro é quase que inteiramente negligenciado, em grande parte devido a suas aparentes obscuridades e distância da maneira atual de pensamento e expressão.[4] Mas tal negligência não caracterizou a história mais antiga do livro. Nem todos estiveram igualmente certos sobre o direito do livro ser incluído no cânone, mas mesmo aqui as maiores dúvidas não pertencem ao período mais antigo. Não há dúvida que a maioria valorizou o livro". (Guthrie, NTI, 929)
A Rápida Difusão do Livro
O reconhecimento rápido deste livro não é de surpreender:
- o endereçamento às sete igrejas da Ásia assegurou uma circulação sobre uma área considerável;
- sua mensagem possui uma aplicação geral, de modo que sua nfluência logo se faria notar além dos limites da Ásia.
Nos Pais Apostólicos
Apocalipse já era conhecido no período dos Pais Apostólicos. Há uma série de paralelos com o "Pastor de Hermas", que dificilmente podem ser explicados a menos que o Apocalipse tenha sido conhecido por aquela obra. Há também paralelos, menos claros, com Barnabé e Inácio de Antioquia.
Após os Pais Apostólicos
Após o período dos Pais Apostólicos o livro tem clara atestação de que circulou numa área considerável:
- Justino, o Mártir, conhecia o livro e o atribuía ao apóstolo João;
- Melito, bispo de Sardes, parece ter escrito um tratadosobre o Apocalipse (conforme Eusébio, HE 4 26);
- Teófilo de Antioquia cita o livro, mostrando que ele era conhecido na igreja síria;
- Irineu, escrevendo contra as heresias, cita o Apocalipse como tendo sido escrito por João, discípulo do Senhor. Ele menciona também cópias antigas do livro, mostrando que sabia que ele estava em circulação já a bastante tempo;[5]
- O Cânone Muratoriano mostra que não havia dúvidas na Igreja de Roma sobre o Apocalipse ao final do segundo século;
- Tertuliano cita o livro frequentemente e o considera como sendo da autoria do apóstolo João;
- Clemente da Alexandria aceitou o livro como de autoria apostólica e o cita como Escritura;
- Orígenes considera João, o apóstolo, como sendo o escritor do Apocalipse.[6]
Não há necessidade de mais atestação; poucos livros do NT têm tamanho testemunho.
Entre os que, já cedo na História da Igreja, colocaram dúvidas sobre o livro, podem ser citados:
- Marcião;
- os "Alogi" (pessoas que rejeitavam a doutrina do Logos);
- Jerônimo (mas com vacilação);
- Dionísio, no Oriente (mas ele mesmo considerava o livro inspirado por Deus; só disputava a autoria apostólica);
- Eusébio (que parece incerto quanto à posição do livro entre os escritos da época);
- Concílio de Laodicéia (360 AD) - não incluiu o livro entre os canônicos;
- A Versão Peshita (V séc.) não o inclui.
(Anotações baseadas em: Guthrie, Donald. New Testament Introduction)
LITERATURA APOCALÍPTICA E O APOCALIPSE
Literatura Apocalíptica
Sendo homem judeu, João estava a par de uma forma de literatura religiosa judaica, classificada como "apocalíptica". Há, inclusive, certos elementos de literatura apocalíptica no AT: Is 24-27; Zc 9-14; Ezequiel, Joel, Daniel. Tal literatura estava associada a uma interpretação da História com base em visões expressas pelo autor. Ointeresse especial era a Escatologia (o estudo das coisas do fim do mundo). Apresenta uso de figuras, alegorias e símbolos; números, cores e estrelas estavam entre as imagens às quais se associavam um profundo significado. (Franzmann, The Revelation to John, 28)
A literatura apocalíptica judaica surgiu após o exílio babilônico. É uma extensão do ofício profético do AT, mas com profundas diferenças. Os profetas trataram basicamente da era messiânica. Os Apocalípticos foram escritos para pessoas sem esperança neste mundo, mas cuja esperança podia estar em Deus, que viria para fazer um novo mundo. É extremamente dualística (a luta entre o bem e o mal). Além dos típicos Apocalipses judaicos, há Apocalipses cristãos não canônicos (Apocalipse de Pedro, Apocalipse de Paulo, etc.).
Os Apocalípticos:
- Daniel (?)
- Enoque
- Baruque
- 4 Esdras
- Livro dos Jubileus (Comentário de Gênesis)
- Assunção de Moisés
- Martírio de Isaías
- Salmos de Salomão
- Testamentos dos Doze Patriarcas
- Oráculos Sibilinos
Informações mais detalhadas sobre os Apocalípticos, ver:
Flor, Paulo F. Vox Concordiana - Suplemento (1987): 6-12.
Rowley, H. H. The Relevance of Apocalyptic. Greenwood: The Attic Press, 1980.
Semelhanças entre o Apocalipse e a Literatura Apocalíptica
1. Tratam especialmente da Escatologia - as coisas referentes aos tempos do fim (ainda que não exclusivamente).
2. Originaram-se em situação de perseguição e ameaça contra o povo de Deus.
3. Usam linguagem simbólica e, por vezes, fantástica.
Diferenças entre o Apocalipse e a Literatura Apocalíptica
1. Os Apocalípticos baseiam-se em grande parte no AT. Mas o Apocalipse o faz em escala ainda maior. Na verdade, o Apocalipse baseia-se muito mais no AT do que na literatura apocalíptica judaica.
2. Obras apocalípticas são normalmente pseudônimas (não apresentam o nome do autor) e pseudoepigráficas, isto é, os autores se escondem por detrás do nome de alguma figura importante do passado de Israel (Enoque, Baruque, etc), que teriam profetizado acerca das coisas relatadas pelo autor. João, no entanto, escreve em seu próprio nome.
3. Os apocalípticos têm interesse especulativo e tentam calcular tempos e épocas do fim do mundo. João não tem interesse especulativo; ele não tenciona satisfazer a curiosidade humana, mas trazer esperança e coragem ; e João não tenta calcular os tempos do fim.
4. As visões dos apocalípticos revelam um aspecto de sua origem: são fantasias de homens. As visões de João têm em si a estampa de uma experiência visionária genuína. Não são produtos de estudo e reflexão. Os apocalípticos podem ser considerados reflexões literário-teológicas sobre temas proféticos. O Apocalipse é profecia genuína, uma profecia que usa de motivos e formas apocalípticas até certo ponto, até o ponto em que sejam explicações legítimas de temas proféticos do AT e condizentes com a proclamação centrada em Cristo.
(Franzmann, The Revelation to John, 28,29)
5. O tempo da escrita: nos Apocalípticos é difícil determinar a época; no Apocalipse não há segredo quanto à origem e destino. As circunstâncias das 7 Igrejas praticamente determinam a data.
6. O Apocalipse é cristão - está longe da área com que os apocalípticos judaicos se ocuparam (esperanças nacionalistas). O Cristo do Apocalipse não é o Messias judeu dos apocalípticos.
(Swete, The Apocalypse of St. John, xxix)
O PROPÓSITO DE APOCALIPSE
O livro não apresenta novas doutrinas àquelas que são ensinadas no NT. Ele serve, mais propriamente, para trazer ao povo de Deus, que passa por tribulações e perseguição, uma janela para aquilo que há de vir. Mais, o livro mostra a vitória do Senhor, que é o Cordeiro que foi morto. Por isso, é um livro de consolo e fortalecimento para a Igreja militante.
Além disso, Apocalipse nos ajuda a sermos muito realistas quanto ànossa vida aqui neste mundo. Ele nos mostra:
1. Cristo reinando na glória. O livro não nos permite uma visão pessimista do futuro, pois Aquele que nos redimiu é vitorioso e nos tem preparado eterna salvação.
2. que, inspirados pela esperança da gloriosa vida com o Senhor, somos movidos pela Sua graça a vivermos com Cristo neste mundo, em Sua Missão.
A IMPORTÂNCIA DO APOCALIPSE
Archibald Hunter: "Não nos surpreendemos em saber que a Igreja antiga hesitou por longo tempo em incluir o Apocalipse no cânone: ele nos intriga, assim como os intrigou. Todavia, podemos nos alegrar pelo fato de que eles ao final decidiram pela sua inclusão; pois ele constitui um final glorioso para o NT. Os Evangelhos relatam como na plenitude dos tempos Jesus trouxe a salvação prometida de Deus aos homens. O livro de Atos relata como os apóstolos trouxeram as Boas Novas de Jerusalém para Roma. As Epístolas aplicam suas verdades aos multiformes problemas da vida diária no mundo. Mas há ainda uma nota no 'novo cântico' que precisa ser ouvida em sua plenitude e Apocalipse supre isto. Pois a nota final vem das trombetas do céu e o NT termina com um 'Coral de Aleluia' - com o som da grande multidão dos redimidos cantando seus hinos de redenção na presença de Deus e do Cordeiro". (Introducing the New Testament, 2ª edição, Revisada e Ampliada (Philadelphia: The Westminster Press, 1957), p. 186)
Relevância para os Dias de Hoje
1. É uma mensagem para um tempo de crise. Através dos horrores do mal, continua firme a verdade de que Deus está fazendo valer Seu propósito de julgamento e redenção. A causa do Seu povo não falhará.
2. Por detrás de uma linguagem estranha, fica evidente a expressão clara dos princípios eternos de Deus, de Seu governo no mundo. A batalha entre o bem e o mal, onde os cristãos podem estar certos de que Deus luta a seu lado e lhes dará vitória no final.
3. A realidade do mundo invisível aos olhos humanos. João coloca dois mundos lado a lado através de todo o livro: o mundo celeste, com sua beleza e glória, e o mundo terreno, convulsionado pelo mal. O Apocalipse mostra que o céu é real e mostra ao povo de Deus que vale a pena seguir na batalha contra as forças do mal.
(Hunter, Introducing the NT, 193,4)
Hendriksen, W. More Than Conquerors. Grand Rapids: Baker Book House, 1978.
Propósito: confortar a igreja militante na sua luta contra as forças do mal. Traz abundante consolo para crentes em aflição. É dada aos crentes a certeza que:
- Deus vê suas lágrimas - 7.17; 21.4.
- Suas orações governam o mundo - 8.3,4.
- Sua morte é preciosa aos olhos de Deus e sua alma imediatamente ascende aos céus. Um céu cuja glória ultrapassa grandemente a intensidade do sofrimento terreno - 14.13; 20.4.
- Sua vitória final está assegurada - 15.2.
- Seu sangue será vingado - 6.9; 8.3.
- Seu Cristo vive e reina para sempre. É Ele que governa o mundo no interesse de Sua igreja - 5.7,8.
- Ele virá novamente para tomar Seu povo para Si na "Ceia das Bodas do Cordeiro" e para viver com eles para sempre num universo rejuvenescido - 21.22. (11,12)
Tema: "A Vitória de Crsto e de Sua Igreja sobre o Dragão (Satanás) e seus ajudantes". A aparente vitória das forças do mal é sobrepujada pela certeza da vitória do Senhor. (12)
Para quem este livro foi escrito: Qualquer interpretação do livro deve partir do fato de que João escrevia para pessoas de sua época, que passavam por dificuldades na sua fé. No entanto, o livro não foi escrito apenas para ser lido e para atingir os leitores do final do 1º século. Razões para esta afirmação:
1. as aflições descritas são típicas daquelas a que os cristãos precisam suportar em toda a História (2 Tm 3.12) e, particularmente, nos tempos imediatamente antes da vinda de Jesus (Mt 24.29,30).
2. algumas das predições não podem ser confinadas a um cumprimento apenas em determinado ano ou século, mas perpassam os séculos (selos, trombetas, flagelos).
3. as cartas endereçadas a 7 igrejas - pela simbologia do nº 7 - são endereçadas à toda a Igreja.
4. Todos os que lêem o livro, em qualquer época, são chamados bem-aventurados (1.3), assim que ele é endereçado a pessoas das mais diversas épocas (22.18). (15)
Concordâncias entre os Escritos de João (incluindo o Apocalipse):
1. O título de Jesus como "Cordeiro": Jo 1.29 (amnos); e 29 vezes no Apocalipse (arnion).
2. O uso do título LOGOS em referência a Jesus: Jo 1.1ss; 1 Jo 1.1; Ap 19.13.
3. A representação de Cristo como pre-temporal, eterno: Jo 1.1ss; Ap 22.13; cf. 5.12,13.
4. A salvação é atribuída à graça de Deus e ao sangue de Cristo: Jo 1.29; 3.3; 5.24; 10.10,11; Ap 7.14; 12.11; 21.6; 22.17.
5. A doutrina da "qualquer que" (universalidade do convite àsalvação): Jo 3.16; 22.17. (18,19)
Aval da Igreja Primitiva para Autoria Apostólica:
1. Justino Mártir - c. 140 A.D.
2. Irineu - c. 180 A.D.
3. Cânone Moratório - c. 200 A.D.
4. Clemente de Alexandria - c. 200 A.D.
5. Tertuliano de cartago - c. 220 A.D.
6. Orígines de Alexandria - c. 223 A.D.
7. Hipólito - c. 240 A.D. (19)
Divisão do Livro: (em 7 seções)
1ª - Cap. 1 a 3 (Cristo em meio aos 7 candelabros).
2ª - Cap. 4 a 7 (os 7 selos).
3ª - Cap. 8 a 11 (as 7 trombetas).
4ª - Cap. 12 a 14 (a mulher e o menino perseguidos pelo Dragão e seus auxiliares).
5ª - Cap. 15 e 16 (os 7 flagelos).
6ª - Cap. 17 a 19 (a queda da grande meretriz e das bestas).
7ª - Cap. 20 a 22 (o julgamento do Dragão, seguido pelos novos céus e nova terra. (28)
Paralelismo entre as Trombetas e os Flagelos:
1. a 1ª trombeta afeta a terra - 8.7; assim o 1º flagelo -16.2.
2. a 2ª trombeta afeta o mar; assim, o 2º flagelo.
3. a 3ª trombeta refere-se aos rios; assim o 3º flagelo.
4. o 4º, em cada caso, se refere ao sol.
5. o 5º, o fundo do abismo e o trono da besta.
6. o 6º, em cada caso, referência ao Eufrates.
7. o 7º, em cada caso, referência à segunda vinda para julgamento. (26)
O argumento segue que as 7 seções são paralelas. Em cada uma delas focaliza-se o tempo da Igreja entre a 1ª e a 2ª vindas de Cristo. (28)
Nestas 7 seções há dois grupos:
- do cap. 1 a 11 vemos o conflito na superfície - a luta entre os homens (crentes e descrentes) - a Igreja sendo perseguida no mundo;
- nos cap. 12 a 22 vemos que o conflito tem raízes profundas, no ataque do Dragão a Cristo.
Assim, o livro de Apocalipse revela uma progressiva intensificaçao do conflito (29)
Mais importante que notar as divisões no livro é perceber a unidade do Apocalipse. Esta é ressaltada pelas muitas semelhanças entre diferentes seções. (32)
Paralelismo entre Cap. 1 e Cap. 2 e 3 (Descrição de Cristo):
1. 1.13,16 ..... 2.1 (7 estrelas e 7 candelabros)
2. 1.17,18 ..... 2.8 (o 1º e último, esteve morto, mas vive)
3. 1.16 ........ 2.12 (a cortante espada de dois gumes)
4. 1.14,15 ..... 2.18 (olhos de fogo e pés de bronze)
5. 1.4, 16 ..... 3.1 (7 espíritos e 7 estrelas)
6. 1.5,18 ...... 3.7 (fiel/verdadeiro; chaves)
7. 1.5 ......... 3.14 (fiel testemunha, primogênito dos mortos/princípio da criação) (33,34)
"As 7 seções do Apocalipse são arranjadas numa ordem ascendente, climática. Há um progresso na ênfase escatológica: o Julgamento Final éprimeiro anunciado, então introduzido; finalmente, é descrito. Da mesma forma, os Novos Céus e Nova Terra são descritos mais completamente na seção final do que naquelas que a precedem". (47)
Esta concepção do Apocalipse pode ser denominada PARALELISMO PROGRESSIVO, podendo ser assim configurada:
PARALELISMO PROGRESSIVO:
a igrejacom Cristo em seu meio, no mundo - cc 1-3
candeeiros
A IGREJA
A igreja sofrendo julgamento e perseguição - cc 4-7
selos
E O MUNDO
A igreja vingada, protegida, vitoriosa - cc 8-11
trombetas
Cristo é enfrentado pelo dragão e seus auxiliadores - cc 12-14
Cristo & Dragão
CRISTO
Juízo final sobre os inpenitentes - cc 15-16
vasos
E
A queda da Babilônia e das bestas - cc 17-19
Babilônia
O DRAGÃO
A condenação do Dragão,a vitória de Cristo da igreja - cc 20-22
consumação
MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO
As 4 Abordagens Interpretativas
1. PRETERISTA
Entende o Apocalipse do ponto de vista de seu cenário histórico do 1º século. O livro trataria unicamente dos acontecimentos contemporâneos a João. As profecias teriam se cumprido na queda de Jerusalém (70 A.D.) ou na queda de Roma (476 A.D.).
Mérito: interpreta o livro à luz da crise que cercou a Igreja no 1º século, sendo este um escrito de consolo para a Igreja em meio a tribulação.
Fraqueza: não explica como a vitória decisiva mostrada nos capítulos finais de Apocalipse nunca foi alcançada.
2. HISTORICISTA
O intérprete historicista entende o Apocalipse como uma previsão do curso da história até chegar ao seu próprio tempo. Pouca importância édada aos ouvintes originais. A subjetividade do método é prova de sua fragilidade, visto que não há concordância entre os defensores deste sistema.
O mérito desta explicação é notar que a filosofia de História revelada pelo Apocalipse tem encontrado cumprimento durante a história do homem (e, particularmente, da Igreja) até os dias de hoje.
3. FUTURISTA (ESCATOLÓGICA)
Escritores que vêem o Apocalipse enatizando a vitória final de Deus sobre as forças do mal. Também esta explicação, como a anterior, deixa o livro sem significado importante para aqueles a quem ele foi originalmente endereçado (as sete igrejas da Ásia, no final do 1º século).
O acerto deste método é notar que a mensagem central do Apocalipse é escatológica, mostrando que esta era chegará a um fim, quando Satanás e suas hostes serão derrotadas e o povo de Deus receberá a vitória plena.
4. IDEALISTA (ATEMPORAL)
Os defensores desta abordagem dizem que o Apocalipse não deve ser entendido como referindo-se a qualquer época ou acontecimento específicos, mas que seria a expressão dos princípios básicos com os quais Deus age na História. Esta abordagem segue, em linhas gerais, a interpretação alegórica que dominou a igreja no período medieval. A grande fraqueza desta visão é que nega ao livro qualquer cumprimento histórico específico.
Pode-se concordar com este ponto de vista que os eventos históricos de fato dão expressão a princípios básicos.
CONCLUSÃO: nenhuma destas abordagens serve para explicar completamente o Apocalipse, ainda que cada uma delas oferece algum bom subsídio para o estudo do livro. "O próprio autor poderia ser, sem contradição, preterista, historicista, futurista e idealista. Ele escreveu em vista de sua própria situação imediata; suas profecias viriam a ter um cumprimento histórico; ele realmente antecipou uma consumação final; e revelou princípios que estavam atuando por detrás do curso da história".[7]
O Método a ser adotado
"Achamos, como o único método aceitável de interpretar as grandes visões e revelações, uma espécie de história da igreja de Cristo, aqui na terra e no mundo hostil, desde o Gólgota até o fim do mundo e depois; história essa, no entanto, não contada consecutivamente ou cronologicamente, mas fenomenologicamente: blocos de fenômenos não-consecutivos aparecem como em projeção de eslaides ou diapositivos em quadros de medidas colossais; história da existência da igreja de Cristo, igreja essa que, no entanto, não só existe na terra mas também no céu como expressão do reino do Deus eterno. Por isso, os grandes quadros, que mostram a igreja na terra atingida por acontecimentos neste mundo, sempre de novo são intercalados com quadros que mostram a existência contemporânea da igreja no céu; história da igreja que termina na absoluta glória, quando o reino de Deus - depois da condenação e do afastamento definitivo de todos os inimigos - se torna realidade no novo céu e na nova terra".[8]
Assim sendo, é importante notar o caráter cíclico com que os acontecimentos são relatados. Para tanto ver material à parte sobre a estrutura do Livro de Apocalipse.
ESBOÇO DO LIVRO DE APOCALIPSE
(Traduzido de material de autoria do Dr. Louis Brighton)
Tema: A vitória e desvendamento de Cristo - sê fiel!
I. INTRODUÇÃO
O Apocalipse desvenda a vida celestial de nosso Senhor, assim como os Evangelhos mostram Sua vida terrena. Assim como os Evangelhos nos contam sobre a humilhação de nosso Senhor, o Apocalipse nos conta da glorificação do Cordeiro, estando Ele agora governando sobre todo o universo até a vitória nos céus.
A. O profeta é comissionado a escrever.
1. O prólogo (1.1-8)
2. A visão do comissionamento recebido do Cristo ressurreto e assunto (1.9-20)
B. Preparação para recepção da mensagem profética.
3. Mensagem às 7 igrejas (2.1-3.22)
C. A visão inaugural do céu.
4. A visão do trono de Deus e Sua corte celestial (4.1-11)
5. O rolo selado e o Cordeiro digno de abri-lo (5.1-14)
Os capítulos 4 e 5 são a visão inaugural que introduz toda a mensagem profética seguinte. Esta profecia diz respeito às coisas que hão de acontecer antes do fim. Estas coisas são vistas de diferentes pontos e através de ciclos e com diferentes ênfases; mas é sempre o mesmo período de tempo que está sendo descrito.
II. A PROFECIA
Deve-se entender que cada ciclo terreno cobre o mesmo período, ou seja, eles se repetem. Isto vale também para as duas visões cósmicas. Cada ciclo terreno e cada visão cósmica cobrem acontecimentos desde a Ascensão de Cristo até o fim. Quando um ciclo terreno ou visão cósmica está completo, começa o próximo ciclo ou visão cósmica no mesmo ponto de partida e sempre terminando no mesmo ponto do tempo, no fim.
A. Coisas que hão de acontecer na forma de tribulações entre a humanidade -
O PRIMEIRO CICLO TERRENO
6. A abertura dos primeiros quatro selos - Os quatro cavaleiros (6.1-8)
7. A abertura do 5º selo - O sofrimento dos santos (6.9-11)
8. A abertura do 6º selo - A descrição do fim e seu terror (6.12-17)
9. O selar dos 144.000 (7.1-8)
10. A multidão celestial vitoriosa (7.9-17)
11. A abertura do 7º selo - Introdução ao 2º Ciclo (8.1-5)
B. Coisas que hão de acontecer na forma de tribulações e sua associação com o mal -
O SEGUNDO CICLO TERRENO
12. As quatro primeiras trombetas - Tribulações na natureza (8.6-13)
13. A 5ª trombeta - As forças do mal vindas do abismo (9.1-12)
14. A 6ª trombeta - Destruição varre a humanidade (9.13-21)
15. O evangelho ainda é proclamado (10.1-11)
16. Os santos dão testemunho (11.1-14)
17. A 7ª trombeta - Descrição do fim e o júbilo por causa dele(11.15-19)
A'. A batalha cósmica entre Cristo e Satanás - entre os santos de Deus e as forças de Satanás -
O PRIMEIRO CICLO CÓSMICO
18. O sinal da mulher com bebê e o Dragão que os persegue (12.1-18)
19. A Besta que vem do mar (13.1-10)
20. A Besta que vem da terra (13.11-18)
21. O Cordeiro vitorioso e os 144.000 no monte Sião (14.1-5)
22. A derrota do Dragão e de suas Bestas é anunciada (14.6-13)
23. A visão da colheita no fim de tudo (14.14-20)
C. Coisas que hão de acontecer na forma de terror e mal -
O TERCEIRO CICLO TERRENO
24. Preparação para as últimas pragas (15.1-8)
25. Os primeiros 5 flagelos da ira de Deus (16.1-16)
26. O 7º flagelo - o fim - o mal é destruído (16.17-21)
III. O FIM
As coisas agora estão prontas para o fim. Tudo está preparado para a vinda do glorioso Filho de Deus para reclamar a vitória, executar o julgamento e levar Seus santos para o céu.
A. O julgamento e destruição das forças do Dragão
27. O julgamento da Meretriz (17.1-18)
28. A queda de Babilônia (18.1-19)
29. O júbilo dos santos (18.20-24)
B. Celebração da vitória
30. O cântico de vitória nos céus (19.1-4)
31. A festa das bodas do Cordeiro (19.5-10)
32. A visão do Vitorioso coroado indo receber a vitória (19.11-21)
B'. A batalha cósmica entre Cristo e Satanás - entre os santos de Deus e as forças de Satanás - a vitória de Cristo e Seu povo - A destruição de Satanás -
SEGUNDO CICLO CÓSMICO
33. O milênio (20.1-6)
34. A destruição de Satanás (20.7-10)
C. O novo mundo
35. A visão da ressurreição e do juízo final (20.11-15)
36. A visão dos novos céus e nova terra (21.1-22.5)
37. Epílogo - a promessa da volta de Cristo (22.6-21)
OBSERVAÇÕES SOBRE O ESBOÇO DO APOCALIPSE
O Primeiro Ciclo Terreno - Ap 6.1-8.5
1. Enfatiza o mal e tribulações entre os homens, causados pelo pecado do homem, tendo a morte como vencedora.
2. A Igreja sofre perseguições, mas está selada por Deus com a esperança e glória do céu.
O Segundo Ciclo Terreno - Ap 8.6-11.19
1. Enfatiza o mal na natureza, causando sofrimento ao homem, enquanto também enfatiza as forças do demônio, do inferno e sobre a terra, causando sofrimento ao homem.
2. A Igreja testemunha triunfantemente mesmo sendo perseguida.
O Terceiro Ciclo Terreno - Ap 15.1-16.21
1. Enfatiza os juízos de Deus derramados sobre o homem.
2. A Igreja canta e celebra a partir do julgamento das forças malignas do demônio e, assim, pelo triunfo do evangelho.
A Primeira Visão Cósmica - Ap 12.1-14.20
Mostra a causa das tribulações que acontecem sobre a terra e que o demônio está usando forças malignas para lutar contra a Igreja, mas Deus manifesta Seu julgamento, para julgar o mal e vingar a Igreja e o evangelho.
A Segunda Visão Cósmica - Ap 20.1-10
Mostra o triunfo do evangelho durante o tempo das visões dos ciclos terrenos e o julgamento final de Satanás.
ELEMENTOS REPETIDOS QUE LIGAM
OS 3 CICLOS TERRENOS E OS CONECTAM
AOS 2 CICLOS CÓSMICOS
A. Cada ciclo terreno é introduzido e estruturado a partir do nº 7 (7 selos, 7 trombetas, 7 flagelos).
B. A mesmo esboço aparece em cada ciclo terreno:
As tribulações são anunciadas
A Igreja é descrita
O fim é mostrado
C. O rio Eufrates é introduzido tanto pela 6ª trombeta, como pelo 6º flagelo (Ap 9.14 e 16.12), conectando assim o 2º e 3º Ciclos terrenos. Isto é conectado também a Gogue e Magogue na 2ª visão cósmica (Ap 20.8) que, por sua vez, está ligada a Armagedom (Ap 16.16), no 3º ciclo terreno.
D. O elemento temporal simbolizado pela expressão "Um tempo, tempos e metade de um tempo", 42 meses, 1260 dias - simbolizando o mesmo espaço de tempo - ligam o 2º ciclo terreno (Ap 11.2,3) ao 1º ciclo cósmico (12.6,14; 13.5).
E. O Falso Profeta, no 3º ciclo terreno (Ap 16.13) liga esta visão à 1ª visão cósmica (13.11 -onde se mostra que ele equivale à besta que vem da terra) e à 2ª visão cósmica (Ap 20.10) onde o Falso Profeta énovamente mencionado.
Observações:
1. A Besta que vem do mar é sempre mencionada como a besta (Ap 13.1ss; 11.7; 17.3,8,16; 19.20 e 20.10), mas a Besta vinda da terra (Ap 13.11ss) é chamada por diferentes nomes e símbolos, como o Falso Profeta (Ap 16.13; 19.20; 20.10) e a Meretriz (Ap 17.1ss).
2. Babilônia simboliza a Meretriz (chamada de Falso Profeta e da Besta que vem da terra) e a Besta que vem do mar trabalhando juntas como uma entidade.
3. O fato que elementos se repetem, simbolizando os mesmos eventos no ciclos terrenos e nos cósmicos é uma das razões pelas quais precisamos interpretar o Apocalipse numa forma cíclica.
F. Satanás sendo expulso do céu na 1ª visão cósmica (12.9) é o mesmo que a estrela caindo dos céus que abre o abismo, para permitir as forças do mal virem sobre a terra (9.1ss), conectando assim a 1ª isão cósmica ao 2º ciclo terreno. O diabo sendo amarrado em Ap 20.1ss, na 2ª visão cósmica, é parte desta representação de Satanás.
CARACTERÍSTICAS PRÓPRIAS DE APOCALIPSE
(Material traduzido e adaptado de: Franzmann, Martin H. The Revelation to John. St. Louis: CPH, 1975, p. 7-27).
As Objeções de Lutero
No Prefácio ao NT, em 1522, Lutero manifestou-se sobre o Apocalipse: "Meu espírito não consegue se adaptar a este livro". Havia duas razões para tal posição:
1ª - (Razão Substantiva) "Para mim, uma razão para não tê-lo em alta estima é que nele Cristo não é ensinado nem reconhecido e este é, acima de qualquer outro, o assunto de um apóstolo, como Ele diz em Atos 1.8: Sereis minhas testemunhas. Por isso fico com os livros que ensinam Cristo de forma clara e pura".
2ª - (Razão Formal) "Os apóstolos não se ocupam com visões, mas profecia com palavras claras e diretas, como Pedro, Paulo e mesmo Cristo, nos evangelhos, também o faz. Pois ao ofício apostólico convém falar claramente, sem imagens e sem visões de Cristo e de Sua obra".
Obs.: em edição posterior do NT (1546) Lutero já manifestaa posição mais favorável ao Apocalipse.
Análise das Objeções de Lutero
1. Cristo no Apocalipse
Não é a ausência de Cristo que causa problemas para Lutero, mas a (aparente) ausência da Teologia da cruz! Basta, no entanto, lembrar que a 1ª doxologia de João (Ap 1.5) é uma doxologia ao Crucificado! Além disso, o título característico de Jesus no Apocalipse é"Cordeiro", algumas vezes especificamente identificado como o Cordeiro sacrificial, pela menção do sangue, ou do fato de que ele foi sacrificado.
2. O Estilo do Livro
Este é o aspecto que tem levado muitos outros estudiosos (desde a antiguidade) a considerarem o Apocalipse com muita restrição. O livro mostra uma quadro estranho e misterioso ao leitor. Usa uma linguagem difícil e que mais encobre do que revela a mensagem.
Parte de nossa dificuldade pode ser explicada pela natural barreira causada pelo uso de símbolos. O que é um símbolo? "Um símbolo é a forma mais breve de taquigrafia (estenografia). ... Um símbolo expressa pouco, mas sugere muito. Ele expressa pouco ... para aquele que está de fora. ... Um símbolo é uma linguagem de alguém de dentro para outro, que também está dentro." Assim, a força de um símbolo só pode ser sentida e apreciada por alguém que esteja dentro do contexto.
Os símbolos não têm a intenção de esconder a verdade, mas, como diz o título do Livro, revelar! Eles, na verdade, escondem a verdade àqueles que não estão dispostos a vir para dentro. Como alguém vem para dentro? Há certas portas, que o próprio livro fornece:
a. o Evangelho do Cristo crucificado;
b. o Antigo Testamento (especialmente Salmos, Isaías, Ezequiel, Daniel) - várias das figuras encontram explicação quase que imediata a partir do conhecimento do AT;
c. o conhecimento do contexto em que João viveu, ao final do século I (perseguições, culto ao imperador, literatura apocalíptica).
E X E G E S E
PRÓLOGO - 1.1-8
1
Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos Seus servos as coisas que devem acontecer em breve e comunicou enviando pelo Seu anjo ao seu servo João,
O título do livro - "Apocalipse de João" difere do texto em si, que apresenta-se como "Apocalipse (=Revelação) de Jesus Cristo".
"De Jesus Cristo" - genitivo objetivo ou subjetivo?
- subjetivo: Jesus é o que revela (fonte da revelação);
- objetivo: Jesus é o assunto (tema) da revelação.
Ambos são verdadeiros: "Apocalipse é divina revelação da qual Jesus é o recipiente e o doador".[9]
Apokalypsis - o ato de desvendar algo oculto, revelar; usado nas Epístolas escatologicamente:
1. em referência à revelação de Deus (Rm 2.5); de Cristo (1 Co 1.7; 2 Ts 1.7; 1 Pe 1.7,13; 4.13); e dos santos (Rm 8.19), que há de acontecer na Parousia.
2. para qualquer revelação feita agora para a Igreja (Rm 16.25; 1 Co 14.6,26; 2 Co 12.1,7; Gl 1.12; 2.2; Ef 3.3) através do Espírito, como o pneuma apokalypsews (Ef 1.17).[10]
O termo é usado aqui não como "uma classificação literária, mas indicando a natureza e propósito do livro."[11]
O Filho como receptor da mensagem e como revelador aos homens - é constante o ensino no Evangelho segundo João de que o Filho recebe o que Ele é e tem da parte do Pai (3.35; 5.20ss, 26; 7.16; 8.28; 12.49; 16.15; 17.2ss).[12]
"Os servos dele" - primariamente os Profetas (cf. Amós 3.7 -Deus revela a Seus profetas as coisas que Ele fará), mas sem excluir o restante da Igreja (7.3).
"devem acontecer" - o "dever" não é referência a um seguir cego da necessidade; mas refere-se ao cumprimento certo do propósito de Deus revelado pelos profetas (Mc 8.31; 9.11; 13.10; Lc 24.26; Jo 12.34.
"Em breve" - a perspectiva profética sempre tem o fim como algo iminente. Esta é a maneira como o NT como um todo vê o fim. Na verdade, se lembramos que em Cristo o Reino de Deus veio à terra (Mt 4.17; 12.28) e que os "fins dos séculos chegaram sobre nós" (1 Co 10.11), não nos admiramos de que os tempos do fim já estão em vigor. O livro do Apocalipse não só revela as coisas do fim do mundo, mas sobre os tempos do fim, antes da volta de Cristo, na vida da Igreja e do mundo.
2
o qual testemunhou[13] a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo, tanto quanto ele viu.
"O aoristo emartyresen é epistolar; do ponto de vista do leitor o testemunho de João foi dado quando ele escreveu o livro. Sr. Hort considera emartyresen como se referindo à confissão de Cristo da parte de João perante os homens e não às visões do Apocalipse".[14]
"Ele viu" - acentua o caráter de visão profética (cf. Is 1.1), que pervade todo o livro (1.12,17,19s; 4.1; 5.1s; etc).[15]
3
Bem-aventurado o que lê e os que ouvem as palavras da profecia e que guardam as coisas que estão nela escritas, pois o tempo está próximo.
O Apocalipse chama de "bem-aventurados":
- os que morreram no Senhor, pois suas obras os acompanham (14.13);
- os que estão preparados quando Cristo vem como ladrão (16.15);
- os que foram chamados para as bodas do Cordeiro (19.9);
- os que têm parte na 1ª ressurreição, pois a 2ª morte não terá poder sobre eles - eles reinarão com Cristo por mil anos (20.6);
- os que guardam as palavras da profecia deste livro (20.7);
- os que lavam suas vestes, pois terão parte na árvore da vida e entrarão na cidade pelos portões (22.14).
"Aquele que lê" - não é um leitor isolado, mas como a frase seguinte deixa claro ("os que ouvem"), é alguém que lê para a Congregação. Poderia ser traduzido: "Bem-aventurado o que lê em voz alta". A Igreja herdou a prática judaica de leitura na Congregação (Ex 24.7; Ne 8.2; Lc 4.16; At 13.15; 15.21; 2 Co 3.15). Na Igreja Apostólica, assim como na Sinagoga, a leitura das Escrituras era da responsabilidade dos presbíteros, que podiam atribuí-la a qualquer dos membros da Congregação, que fossem capazes e se dispusessem a fazê-lo. O escritor do Apocalipse explicitamente quer que o livro seja usado na Congregação, em leitura pública.[16] Sabendo que somente escritos do Antigo Testamento e dos apóstolos eram lidos nas Igrejas (cf. Justino, Mártir), pode-se concluir que o autor de Apocalipse colocou seu livro (recebido da parte de Deus) como ao nível daqueles lidos no culto público - era "Escritura Sagrada"!
A bem-aventurança é estendida aos leitores se eles "guardam" o que ouvem. É semelhante ao que Jesus diz em Lc 11.28 (só que aí Jesus usa o verbo fylassw, ao invés de terew). Pode-se lembrar também Tg 1.22 (não somente ouvinte, mas praticante da Palavra).
Ate aqui aula de 11 de Março. Inicio da aula de 16 de Março.
"Profecia" - o autor coloca seu escrito ao nível dos escritos proféticos do AT. O mesmo é colocado por ele em Ap 22.7,10,18s.[17]
"O tempo está próximo" - kairos denota um período, determinado por algum acontecimento, em distinção a xronos, que denota unicamente a extensão de tempo.[18] "No Novo Testamento ... designa quase sempre uma época ou um evento predeterminado por Deus e ligado à sua história da salvação; portanto, sem proporções exatas segundo o raciocínio humano."[19]
4
João às sete igrejas que estão na Ásia: graça a vós e paz da parte daquele que é e que era e que vem, e da parte dos sete espíritos que estão diante de Seu trono
A saudação vem caracterizar o livro como uma carta, na sua forma (ainda que é profético no seu conteúdo). A diferença básica está na maneira como Deus é apresentado, não de uma forma direta e clara, mas com o uso de designações que levam o leitor a refletir mais profundamente sobre Aquele que abençoa os leitores (e ouvintes) da carta.
"Sete igrejas" - pode-se explicar que as sete igrejas tinham posição privilegiada na Ásia, o que possibilitaria a melhor difusão do livro entre outras localidades. No entanto, o número 7, em si, pelo seu uso constante no Apocalipse, sugere outra razão para esta limitação (i.e., cartas para estas cidades e não para outras, onde também havia Igreja: Trôade, Hierápolis, Colossos, Magnésia, Trales).[20]
- O nº 7 - para os Semitas dava a idéia de algo completo. Por isso, tem sido sugerida a idéia de que as "sete igrejas" na verdade representam toda a Igreja de Cristo.[21] Ainda assim, não devemos esquecer o referente imediato, qual seja, as sete igrejas nomeadas. Elas foram as receptoras da profecia e não devem ser vistas simplesmente como uma alegoria da Una Sancta.
"Da parte daquele que é e que era e que há de vir" - a referência é evidentemente ao Pai (seguindo a maneira usual de Paulo fazer a saudação, iniciando por mencionar o Pai, cf. Rm 1.7; 1 Co 1.3; etc).
- ho wn - é a tradução da LXX para asher ehieh de Ex 3.14. Que Deus é "Aquele que é" enfatiza não só Sua existência, mas (com o contexto do AT), Sua ação como Senhor. Chama a atenção o uso da preposição apo, normalmente acompanhada pelo genitivo (como nos vv. 4b e 5) - aqui, com o nominativo! Possivelmente uma referência ao indeclinável nome de Deus. Estando no nominativo, enfatiza que Ele ésempre o sujeito da ação. Ele não é objeto de nossas reflexões, mas Aquele que vem e se revela, através de Seu Filho (como especificamente o faz aqui; como o fizera no ministério terreno de Jesus - Jo 1.18).
- ho erxomenos - manifesta um dos grandes pontos do livro, qual seja, a vinda de Deus para dentro da História de Seu povo. Sobre o Pai vir, ver João 14.23 (Meu Pai e eu viremos para aquele que me ama e guarda a minha Palavra).
"Os sete espíritos" - a mesma expressão aparece ainda em Ap 3.1; 4.5 e 5.6; pode ser também uma referência a Is 11.2 (as 7 qualificações do Espírito: 1. do SENHOR; 2. de sabedoria; 3. de entendimento; 4. de conselho; 5. de fortaleza; 6. de conhecimento; 7. de temor do SENHOR).
A referência só pode ser ao Espírito Santo, uma das Pessoas na Santíssima Trindade, pois a graça e a paz tem a Ele como fonte, ao lado do Pai e do Filho. Nenhuma criatura pode ser colocada ao lado de Deus Pai e do Senhor Jesus como fonte de Bênção.
Alguns tentam aplicar esta expressão aos 7 anjos que aparecem mais adiante no Apocalipse (8.2ss; 15.1ss). No entanto, a descrição dos 7 espíritos em 5.6 é claramente uma referência a Zc 4.10 ("Aqueles sete olhos são os olhos do SENHOR, que percorrem toda a terra"). Além disso, o NT muito raramente chama os anjos de pneumata (Hb 1.7,14, numa citação do AT; e em Ap 6.13, onde o substantivo é qualificado por akatharta e daimoniwn, o que tira toda ambiguidade). Além disso, uma pluralidade em conexão com o Espírito Santo aparece também em Hb 2.4; 1 Co 12.10; 14.32; Ap 22.6. Neste texto os "espíritos" são sete, pois estão relacionados às 7 igrejas![22] "É o Espírito de Deus em sua manifestação pela palavra às igrejas, ao povo de Deus, aqui na terra. Pelo seu Espírito Deus se comunica com o seu povo mediante a sua palavra.
5a
e da parte de Jesus Cristo, a testemunha fiel, o primogênito dos mortos e o governante (príncipe) dos reis da terra.
A bênção explicitamente trinitária conclui com a menção de Jesus, Aquele que revela o Pai (João 1.18) e envia Seu Espírito Santo, da parte do Pai (João 15.26) é fonte da graça e paz, assim como o Pai e o Espírito Santo. Negar a divindade do Filho (e do Espírito Santo) equivaleria a questionar a divindade do Pai (que seria fonte de bênção, ao lado de "criaturas"!).
É digno de nota a menção do Filho de Deus pelo nome "Jesus Cristo". Um detalhe é que este duplo nome não é mais usado no Apocalipse, onde aparece sempre "Jesus". Isso parece indicar que "o propósito do escritor foi enfatizar a humanidade do Cristo glorificado, identificando-o com a Pessoa histórica que viveu e sofreu".[23]
Seguem-se 4 nominativos caracterizando Jesus. Novamente o nominativo (como no caso do Pai) serve para enfatizar que Jesus é o Sujeito da ação (da Revelação). Ele é o centro das atenções no Apocalipse, o foco de todos os acontecimentos de Deus para com Suas criaturas.
"A Testemunha fiel" - Em vários locais no NT Jesus é caracterizado como uma Testemunha. Por exemplo, em Jo 3.11, 32s; 8.14s; 18.37; 1 Tm 6.13. É uma referência à obra de Cristo, no Seu ministério terreno, como Aquele que veio dar boa confissão. Ele manifestou ao mundo a vontade eterna do Pai; deu um testemunho que não se baseou em sabedoria humana, mas no conselho eterno de Deus. Mais, Ele, sendo a "imagem do Deus invisível" (Cl 1.15), vem para revelar o Pai (Jo 1.18), de modo que quem o vê, vê o Pai (Jo 14.9).
"Primogênito dentre os mortos" - mesma expressão é usada em Cl 1.18. Esta expressão tem pelo menos dois referenciais:
1) Jesus é o primeiro que ressuscitou para não mais morrer e, segundo Sua natureza humana, desfrutar da vida celestial plenamente.
2) Ele é a causa, a fonte, a base, a segurança da ressurreição de todos os que hão de ressuscitar. Ele "abriu o caminho" da ressurreição para os homens.
"Governante dos reis da terra" - João segue a linha do Sl 89.28, onde a primogenitura e o governo sobre os reis são colocados no mesmo contexto. Pela ressurreição Jesus conquistou domínio não só sobre a Igreja, mas sobre o mundo (Rm 14.9). Pela Sua morte e ressurreição Ele conquistou o que o diabo lhe havia oferecido na tentação.[24]
Esta designação de Jesus seria por certo de grande consolo para os leitores primeiros de João, que sofriam perseguições da parte de "reis da terra". Ele podiam estar certos que o poder do mal era controlado, não estava livre para fazer o que bem entendesse. O mesmo Senhor que os salvou pela Sua morte de cruz era aquele que estava governando os destinos do mundo, para o bem de Sua Igreja e para a proclamação de Seu evangelho da salvação.
Os três títulos (testemunha, primogênito, governante) respondem ao propósito tríplice do Apocalipse, qual seja: 1) um testemunho divino; 2) uma revelação do Senhor ressurreto; 3) uma antevisão dos destinos da história.[25]
5b,6
Ao que nos ama e nos libertou[26] com Seu sangue, e nos fez reino, sacerdotes para Seu Deus e Pai, a Ele a glória e o poder pelos séculos [dos séculos]. Amém.
Dois Particípios definem a maneira como Jesus Cristo se relaciona conosco; o primeiro é Partc. Presente ("nos ama") e o segundo é Partc. Aoristo. Levando em conta que o Partc. Aoristo é normalmente usado para manifestar uma ação anterior ao verbo principal. Neste caso, parece focalizar a obra completa de Cristo, quando pela Sua obediência ativa e passiva nos redimiu. O Seu amor é algo constante, permanente (por isso, o tempo Presente).[27]
Uma questão seria definir o "quando" Ele nos "fez reino e sacerdotes" (Aoristo Indicativo)! Possivelmente a melhor referência seja ao Batismo, quando a obra completa de Cristo foi aplicada a nós, por obra do Espírito Santo.
"Reino" - enfatiza a posição dos crentes em Cristo como sendo o povo de Deus. No AT Deus havia declarado que faria de Israel um "reino de sacerdotes" (Ex 19.6). Agora Israel não é mais o povo de Deus. A vinha foi entregue a outro povo (Mt 21.43 - a parábola dos lavradores maus). Os cristãos são povo de Deus e reino de Cristo. Neles Cristo reina, através de Seu Evangelho.
"Sacerdotes" - a função sacerdotal (também atribuída a Israel como um todo, no AT - Ex 19.6) enfatiza a possibilidade de se chegar diante de Deus para trazer ofertas e súplicas. Não é um termo que nos relacione ao próximo, mas a Deus. Temos acesso ao Pai, graças à obra vicária de Cristo.
A bênção com origem e fonte no Deus Triúno termina com uma doxologia a Cristo, Aquele que nos revela quem é Deus e que nos reconciliou com Deus, e que enviou Seu Espírito para nos santificar. O livro de Apocalipse começa, por assim dizer, com os dois elementos constantes do Culto cristão: Teofania (na manifestação de cada Pessoa da Trindade) e Doxologia (no louvor que a Igreja estende ao Deus único, reconhecendo Seus feitos de salvação). Estamos entrando num livro sagrado, num livro em que Deus se manifesta e nós só podemos ter uma atitude: de reverente ouvir e receber a Sua dádiva, Sua revelação em Jesus Cristo!
7
Eis Ele vem com as nuvens e todo olho o verá e todos os que o perfuraram[28] e todas as tribos da terra lamentarão por Ele. Sim. Amém.
O vir entre as nuvens é uma referência a Dn 7.13 (a chegada gloriosa do Filho do Homem) e lembra At 1.9ss, onde a volta de Cristo é anunciada pelos anjos.
"Todas as tribos da terra" - lembra Gn 12.3, quando é dito que na descendência de Abraão todas as famílias da terra seriam abençoadas. Agora que a promessa de Deus a Abraão fora completamente cumprida, a triste realidade é que muitos - para quem a bênção foi alcançada - não usufruíram dela. Para estes serã um dia de lamentação, pois estarão conscientes de que a promessa foi cumprida, mas que eles não tiraram proveito no tempo oportuno. Que advertência para cada cristão!
8
Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, o que é, o que era e o que vem, o Todo-poderoso.
Novamente o Pai se manifesta. Alfa e Ômega são as letras correspondentes ao Alef e Tau do Hebraico, que não são apenas a 1ª e última letras, mas cuja união engloba todas as letras. Simboliza totalidade. Significa não apenas eternidade, mas infinitude, a vida sem limites.[29] Além disso, lembrando que são letras, usadas para comunicar, revelar, manifestar, o uso de Alfa e Ômega parece denotar o sentido de completa revelação. Deus é Aquele que se manifesta na Palavra escrita e proclamada. É ali que podemos reconhecer Sua presença e atuação. Este mesmo título é atribuído a Jesus em Ap 22.13. Isso mostra a unidade das Pessoas da Trindade. Mostra especificamente a deidade de Jesus, que é tão enfatizada neste livro.
"Todo-poderoso" - o que pode tudo; o que governa sobre todas as coisas.
A VISÃO DO COMISSIONAMENTO RECEBIDO DO CRISTO RESSURETO E ASSUNTO -1.9-20
9
Eu, João, vosso irmão e companheiro na tribulação e reino e perseverança (expectativa) em Jesus, estive na ilha chamada Patmos por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus.
O escritor se identifica novamente (como nos vv. 1 e 4), mas se coloca como "irmão vosso", isto é, das igrejas. A designação de um apóstolo como "irmão" não é incomum: Pedro se refere assim a Paulo: 2 Pe 3.15; Os apóstolos se dão este designativo: At 15.23. [Em outras palavras, ao João autodenominar-se "irmão" não elimina seu caráter apostólico].
___________ - não somente "companheiro", mas alguém que participa nas mesmas coisas que o outro, ou alguém que reparte com o outro alguma coisa. Neste caso, com os dativos a seguir: ter algo em comum com outra pessoa; neste caso: tribulação, reino e perseverança (ou expectativa).
_______________________[30] - comunhão no sofrimento é algo que está enraizado na fé cristã, especialmente na Igreja primitiva: 1 Pedro; 2 Co 1.7; Fp 3.10; 4.14.
__________ - Reino - Lc 12.32; 22.29; Tg 2.5; 1 Ts 2.12; 2 Ts 1.5. Aponta não só para o reino da graça (a participação no Reino de Deus, com o desfrutar da comunhão com Cristo, pela fé operada pelos meios da graça), mas também para o reino da glória - a plenitude de bênçãos que nos aguarda.
_________ - Perseverança, paciência, resignação, firmeza - principalmente como se manifesta ao haver sofrimento (Lc 21.19; Rm 5.3,4; 2 Tm 2.12; 2 Ts 1.4). O outro significado da palavra é (paciente) expectativa[31] (Sl 9.18; 62.5).
____________ - modifica as três cláusulas anteriores. "Toda a vida de um cristão, esteja ele sofrendo ou reinando ou esperando, é em união com a vida do Filho encarnado".[32]
Patmos - a 1ª ou última parada na viagem de Éfeso para Roma e vice-versa. Naquela ilha existia um Mosteiro de São João, lembrando seu exílio naquele local.
_________________________________________ - o "por causa" pode significar duas coisas: que João foi para aquela ilha a fim de testemunhar (ainda que diá não signifique finalidade, mas sempre causa) ou que foi levado lá como castigo pelo seu testemunho anterior. A última explicação é confirmada: a) pelo uso em 6.9 e 20.4; b) pela sua designação como "companheiro na tribulação"; c) pela antiga e praticamente unânime tradição da Igreja (Tertuliano, Clemente, Orígines, etc.).
10
Estive em espírito no Dia do Senhor e ouvi atrás de mim uma grande voz, como de trombeta
____________ - "estar[33] no Espírito" é o estado natural de todos os cristãos, em contraste com o estar "na carne" (Rm 8.9); mas "vir a estar"[34] denota a exaltação do profeta sob inspiração divina (Ez 37.1; cf. 3.12,14 - ser tomado pelo Espírito; At 10.10; 2 Co 12.1-4; At 22.17 - estar em êxtase; cf. 12.11 - voltar a si). Importante é notar que não se pode isolar o "em espírito" do Espírito Santo. O uso do mesmo vocábulo para o nosso espírito e para o Espírito de Deus enfatiza que não pode haver vida espiritual em nós (o novo homem, a nova criação) sem a atuação do Espírito Santo. No caso do profeta, é importante que não se confunda seu estado com algum tipo de "transe sonambúlico" ou qualquer outro meio humano de se colocar em um estado diferente.
__________________ - 1 Co 16.2; Mt 28.1; At 20.7. Era o dia consagrado ao Senhor. Conforme outros escritos do final do 1º século e do 2º século, a expressão refere-se ao 1º dia da semana (Didaquê 14; Inácio de Antioquia; Evangelho [apócrifo] de Pedro; Melito de Sardes - todos escritos com origem na Ásia Menor). Antes mesmo do final do 2º século a expressão já tinha uso generalizado na Igreja (cf. Dionísio de Corinto; Clemente da Alexandria; Tertuliano de Cartago). É notável que o Senhor Jesus tenha escolhido como data de Sua especial revelação o mesmo dia que a Igreja - no uso da liberdade cristã - escolheu para o Culto, especialmente a celebração da Ceia do Senhor. A nós Ele também se revela neste dia, não porque nós decidimos nos reunir neste tempo, mas porque é um encontro em Seu nome e baseado na Sua promessa (Mt 18.20).
_________________________ - a cena lembra a Teofania no Sinai (Ex 19.16; Hb 12.19). A trombeta também lembra as palavras de Jesus sobre a Sua volta e o Juízo Final (Mt 24.31), a que Paulo também se reporta (1 Ts 4.16).
11
a qual disse: o que vês, escreve[35] em livro e envia às sete igrejas: para Éfeso e para Esmirna e para Pérgamo e para Tiatira e para Sardes e para Filadélfia e para Laodicéia.
O "livro" era em forma de rolo, preparado com papiro. Aqui se verifica novamente a intenção de que o livro fosse lido publicamente, diante da igreja, por um leitor (cf. 1.3).
As sete igrejas - ver comentário sobre o significado do número sete, acima (1.4). A ordem em que as sete igrejas são nomeadas corresponde à rota que o mensageiro tomaria de Patmos através das sete cidades, começando em Éfeso, a cidade mais próxima e seguindo rumo noroeste primeiro, depois sudeste até Laodicéia.
Conforme o estudioso Ramsey, as sete cidades eram os centros de distribuição para os sete distritos postais daÁsia Menor centro-oeste.[36]
É interessante que as cartas não foram enviadas cada uma para uma cidade, mas o livro todo (as coisas que João viu) foi enviado (incluindo as sete cartas) às sete igrejas. Isso mostra duas coisas:
1) que a mensagem dirigida especialmente para uma dizia respeito também às outras;
2) que não precisaria haver segredo tanto nas admoestações como nos elogios dirigidos a determinada Congregação. Isto serviria de exortação e orientação para as outras também.
12
E voltei-me para ver a voz que falava comigo e, voltando-me, vi sete candeeiros de ouro
13
e no meio dos candeeiros um semelhante a filho do homem, vestido até os pés[37] e envolvido[38]no peito com um cinto de ouro.
Nos versículos seguintes, Este que fala a João tem posição central na revelação e é identificado com Aquele que morreu e ressuscitou (1.18): Jesus. A forma como Ele se manifesta revela Sua posição de glória e majestade. Como lembra Irineu,[39] João vê Jesus numa forma ao mesmo tempo sacerdotal e real. Os sete candelabros, conforme explicação do próprio Senhor (1.20), são as sete igrejas para as quais o livro é escrito.
____________________ - lembra Ex 25.31-40 (o candelabro de ouro a ser colocado no Tabernáculo) e Zc 4.2 (também um candelabro com sete lâmpadas de azeite); e também 1 Re 7.49, onde se diz que havia cinco lâmpadas de cada lado, diante do Santo dos Santos. A cena, portanto, haveria de lembrar, a um judeu, o ambiente do Culto do povo de Deus, ambiente onde o nome do Senhor se manifestava, para ouvir as orações de Seu povo (1 Re 8.29).
____________ - o termo vem de Dn 7.14 e da auto-designação de Jesus. O significado desta expressão é de que Ele é homem verdadeiro; mais do que isto, que Ele é o representante da raça humana (é o "Novo Israel"), que veio para substituir a humanidade na obediência ativa e passiva diante do Pai. Já Jesus usara esta designação para falar de Sua exaltação (Mc 8.38; 13.26; 14.62 e paralelos).[40]
As vestes não somente o caracterizam de forma sacerdotal e real, mas lembram o personagem divino que se apresentou diante de Daniel (Dn 10.5).
14
e Sua cabeça e seus cabelos [eram] brancos como branca lã, como neve e os Seus olhos [eram] como chama de fogo
_____________________________________________________ - esta descrição se assemelha muito à de Dn 7.9, não do Filho do homem, mas do Ancião de Dias! "A cristologia de nosso escritor leva-o freqüentemente a atribuir ao Cristo glorificado atributos e títulos que pertencem ao Pai, por exemplo: 1.18; 2.8; 5.12; 22.13."[41] O branco do cabelo tem sido associado à pre-existência do Filho e o "como neve" à Sua impecabilidade (Sl 51.7; Is 1.18).[42] Também não se pode deixar de lembrar da glória mostrada no relato da Transfiguração (Mt 17.2) e na ressurreição (Mt 28.3) de Jesus.
______________________________ - a figura parece enfatizar o olhar penetrante do Senhor (especialmente usado nos Evangelhos para mostrar Sua capacidade de perceber o íntimo das pessoas e de investigar o que se passava à Sua volta (Mc 3.5, 34; 5.32; 10.21, 23; 11.11; Lc 22.61[43]).
15
e os Seus pés [eram] semelhantes a bronze,[44] como refinado[45] em forno e Sua voz [era] como barulho[46] de muitas águas,
Novamente a figura de Dn 10.3 pode ser lembrada; da mesma forma, Ez 1.7 (as quatro criaturas que se manifestaram a Ezequiel) e Ez 1.27 (o próprio Senhor que se manifestou a Ezequiel) e Ez 8.2. O metal lembra força e estabilidade (Dn 2.33,41).[47]
_________________________________ - em Ez 43.2 a voz de Deus é assim caracterizada. É interessante comparar com 1 Rs 19.12, onde Deus se manifesta numa brisa suave. Em Apo, como na passagem de Ezequiel, a glória surpreendente (e até apavorante) de Deus é enfatizada; Ele mesmo que, noutras ocasiões (como em 1 Rs) se manifesta da forma mais suave.[48]
16
e tinha[49] na Sua mão direita sete estrelas e de Sua boca [estava] saindo uma espada cortante com duplo fio[50] e o Seu aspecto exterior[51] como o sol brilha no seu poder.
Sobre a simbologia das "sete estrelas", ver v. 20 (abaixo). "Para a mente semítica as estrelas do céu estavam na mão de Deus (cf. Jó 38.31s; Is 40.12) e cairiam (Mc 13.25; Ap 6.13) se o suporte fosse retirado".[52]
ek tou stomatos autou romfaia distomos oxeia ekporeuomenh - a imagem da espada é usada em Ef 6.17 e Hb 4.12 em referência àPalavra de Deus. em Isaías 49.2, o Servo diz que Deus fez a sua boca como uma espada aguda. Em Ap 19.15 aparece na descrição de Jesus como o "Verbo de Deus" vitorioso. A figura da espada, pois, enfatiza a luta e a vitória contra o mal (ver Ap 2.16; 19.15,21). Há um paralelo interessante no livro apócrifo "Sabedoria", no cap. 18, vers. 14 a 16: "Quando um silêncio profundo envolvia todas as coisas e a noite mediava o seu rápido percurso, tua Palavra onipotente lançou-se, guerreiro inexorável, do trono real dos céus para o meio de uma terra de extermínio. Trazendo a espada afiada de tua ordem irrevogável, deteve-se e encheu de morte o universo: de um lado tocava o céu, de outro pisava a terra" (numa referência à morte dos primogênitos egípcios, que aqui se torna obra da Palavra de Deus).[53] Obs.: Romfaia era um tipo de espada longa, a ser manejada com duas mãos.
oyis autou ws o hlios fainei en th duvamei autou - se o João do Apocalipse é realmente o apóstolo João, ele certamente deve ter lembrado neste momento da aparência de Jesus na Transfiguração (Mt 17.2), que antecipou Sua aparição em glória. Também pode-se recordar de Ml 4.2 ("o sol da justiça" que nascerá).
Assim, pode-se notar que a descrição deste que fala a João tem todos os elementos derivados de figuras usadas no Antigo Testamento, e que combinam bem com a descrição e características de Jesus nos Evangelhos, ainda que enfatizando Sua glória e majestade e Seu caráter de Juiz.
17
E quando o vi, caí aos Seus pés como morto, e Ele colocou a Sua [mão] direita sobre mim, dizendo: Não temas! Eu sou o primeiro e o último,
A imagem que se tem não é de João atirando-se diante dele, mas realmente caindo como consequência da visão.[54] Foi algo espontâneo, como que em resultado de um poderoso choque vindo do Senhor glorificado. É a reação típica do profeta que se encontra com a manifestação espetacular de Deus - Ez 1.28; Dn 8.18.
A cena tem mais esta semelhança com o episódio da Transfiguração de Jesus, inclusive com o tocar de Jesus em Seus discípulos (Mt 17.6,7). "A mesma mão que sustenta a natureza e as igrejas ao mesmo tempo acorda e levanta as vidas individuais".[55]
mh fobou. Egw eimi - A primeira parte da frase poderia ser traduzida: "Não continues a ter medo" - Imperativo presente (ou, conforme Voelz, ação conectada ao sujeito). Palavras como estas eram por demais conhecidas aos ouvidos de um apóstolo, que andara por três anos com o Senhor (Mt 14.27). O "Eu sou" é particularmente importante, ao lembrarmos que no Evangelho, João cita várias ocasiões onde Jesus se apresentou com esta frase inicial (6.48 - o Pão da vida; 8.12 - a Luz do mundo; 10.9 - a Porta; 10.11 - o Bom Pastor; 11.25 - a Ressurreição e a Vida"; etc.).
O prwtos kai o escatos - Deus assim se apresenta em Is 44.6 e 48.12. João dá este atributo do Pai ao Filho, mostrando que sua Cristologia não permite ver Jesus à parte de Sua divindade (ao mesmo tempo, de Sua humanidade).
18
e [sou] o que vive e estive morto e eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno.
Aqui a identificação com o Jesus dos Evangelhos fica evidente. Ele é o mesmo que morreu e ressuscitou. É Aquele com quem João andara por três anos e contemplara em Sua glória (Jo 1.14; 2.11); é o mesmo ao lado do qual João estivera reclinado na última ceia (Jo 13.23,25). Que emoção especial João deve ter sentido ao ver, depois de aproximadamente 60 anos o mesmo Senhor, ressurreto e glorioso, com uma aparência temível, mas falando palavras de consolo!
o zwn - é outro título de Deus no Antigo Testamento: Js 3.10; Sl 42.2; 84.2; Os 1.10. O mesmo João, no Evangelho, mostra que Jesus é, como o Pai, Aquele que vive, e tem esta vida em conexão com o Pai - Jo 5.26. Também é tipicamente Joanina a diferença entre o "tornar-se" e o "ser" em Jesus (Jo 1.1,14; 8.58).[56]
exw tas kleis tou qanatou kai tou adou - "Morte" e "inferno" aparecem novamente juntos em 6.8 e 20.13s. Ter as chaves significa ter autoridade (Jo 5.26-28) sobre o domínio destes locais.[57] Também significa que Ele é quem tem a autoridade de abrir e fechar a entrada à morte e ao inferno.
19
Escreve, pois, as coisas que viste[58] e as coisas que são e as coisas que devem[59] acontecer depois destas.
Com o uso de oun há uma volta ao que foi dito no v. 11, agora tendo João já presenciado e tomar conhecimento de quem lhe está ordenando escrever.
a eides - isto é, a visão de Jesus Cristo glorificado.
a eisin - aquilo que está acontecendo (por vezes, de forma não perceptível aos olhos humanos) na Igreja e no mundo.
a mellei genesqai meta tauta - a revelação das coisas futuras, especialmente a vitória do Cordeiro sobre as forças do mal.
20
O mistério das sete estrelas que viste sobre a minha mão direita e dos sete candelabros de ouro: as sete estrelas são anjos (mensageiros) das sete igrejas e os sete candelabros são as sete igrejas.
musterion - cf. Mc 4.11, onde os mistérios do reino são revelados por Jesus aos seus discípulos, mas não aos "de fora". Como Jesus revelara a seus discípulos o que era necessário para que eles pudessem não só desfrutar, mas proclamar o reino, assim Jesus agora o faz com João ... e também conosco. É preciso que valorizemos o fato de que na Sua Revelação Jesus coloca a nós como recipientes dos Seus mistérios, a fim de que nós, desfrutando das bênçãos de Seu Reino, sejam também ptos a proclamar Sua verdade.
Aqui "mistério" significa especificamente o referente da visão simbólica.
aggeloi - pode ser traduzido tanto por "anjos", como por "mensageiros" (Mt 11.10; Lc 7.24; 9.52; Tg 2.25). A maneira como traduzimos aqui influenciará nosso entendimento do endereçamento das cartas às sete igrejas. Se traduzimos como "mensageiros" pode referir-a a pessoas enviadas por aquelas igrejas para Patmos e de lá voltando com o texto do Apocalipse,[60] ou aos pastores daquelas Igrejas, que deveriam receber a correspondência e cuidar em que fosse lida diante da Congregação (1.3). A tradução "anjos" não deve ser totalmente descartada a priori, visto que há textos na Escritura onde se fala de algum tipo de "anjo protetor" (Dn 10.13; 12.1; Mt 18.10; At 12.15). Outra explicação é que o "anjo" da igreja seja, na verdade, uma maneira de designar o "espírito" prevalecente na igreja, ou seja, seria uma referência àigreja em si.[61]
A identificação dos candelabros (lâmpadas) com as sete igrejas serve para enfatizar a mensagem de que Jesus está no meio das Suas igrejas (ou. da Sua Igreja). Entre elas Ele anda livremente, cumprindo Suas promessas feitas especificamente à Igreja (Mt 18.20) e ao Ministros desta Igreja (Mt 28.20). Outra idéia presente no candelabro é que a Igreja é luz para o mundo (Mt 5.14).
AS CARTAS ÀS SETE IGREJAS - Ap 2.1-3.22
INTRODUÇÃO
As Cartas às Igrejas seguem um padrão, com certas partes que se repetem em (quase) todas elas da mesma forma:
1. Endereçamento
2. Apresentação de Cristo
3. Elogio (exceto para Laodicéia)
4. Condenação (exceto para Esmirna e Filadélfia)
5. Advertência
6. Exortação
7. Promessa[62]
Éfeso Esmirna Pérgamo Tiatira Sardes Filadélfia Laodicéia
1. Endereçamento 2.1a 2.8a 2.12a 2.18a 3.1a 3.7a 3.14a
2. Apresentação 2.1b 2.8b 2.12b 2.18b 3.1b 3.7b 3.14b
3. Elogio 2.2,3,6 2.9 2.13 2.19 3.4 3.8-10 -----
4. Condenação 2.4 ---- 2.14,15 2.20 3.1c ---- 3.15-17
5. Advertência 2.5 2.10 2.16 2.21-25 3.2,3 3.11 3.18-20
6. Exortação 2.7a 2.11a 2.17a 2.29 3.6 3.13 3.22
7. Promessa 2.7b 2.11b 2.17b 2.26-28 3.5 3.12 3.21
CARTA À IGREJA EM ÉFESO (2.1-7)
1
Ao anjo da Igreja em Éfeso escreve: Assim diz Aquele que tem as sete estrelas na mão direita, o que anda no meio dos sete candelabros de ouro:
Anjos - termo usado muitas vezes no Apocalipse, em referência a seres espirituais. Mas aqui, e cada vez nas cartas às sete igrejas, recebe a definição de "da Igreja", ou "das Igrejas". Éuma referência não a seres espirituais, mas aos mensageiros das Igrejas, seus pastores. O termo é usado em referência a mensageiros humanos no AT e também no NT: Ag 1.13; Ml 2.7; 3.1; Mc 1.2.[63] Por que razões optamos por entender os "anjos" como sendo os pastores da Igreja? Por duas razões: 1) Os "anjos" recebem a mensagem em nome e em lugar da Igreja e fica subentendido que ele deve repassar esta mensagem à Congregação. Esta não era a tarefa de anjos de Deus, mas dos pastores que Deus colocou nas Igrejas. 2) Por vezes (excessão de Esmirna e Filadélfia) é feita uma condenação que envolve o "anjo", apesar de que não é dirigida especificamente a ele somente. A um santo anjo estas palavras não se aplicariam, mas se aplicam aos pastores da Igreja, que são responsáveis pelo povo a eles confiado, de modo a que se tornam participantes do pecado quando o conhecem e não agem.
Éfeso era cidade importante da Ásia, sede do governo proconsular (At 19.38) e era conhecida especialmente pelo seu templo a Diana (At 19.27,35). A Igreja naquela cidade foi fundada por Paulo (At 18.19ss).
A descrição de Jesus - apesar de que nem sempre isso é bem evidente, cada descrição combina em algum aspecto com o caráter da Igreja para a qual Ele está se dirigindo. Vale lembrar que as sete assim chamadas "cartas" não são, de fato, cartas, mas pronunciamentos e julgamentos do Senhor às Suas Igrejas. À Igreja em Éfeso, "mãe" das Igrejas na Ásia, Ele se dirige com títulos que expressam Seu relacionamento com as Igrejas em geral. Aqui a Igreja em Éfeso representa a todas as sete.[64] Mais especificamente, ao apresentar-se como aquele que tem na mão as sete estrelas - os ministros da Palavra, Ele faz o contraste com os "falsos apóstolos" que apareciam em Éfeso (2.2), que não procediam da Sua mão.[65]
2
Conheço as tuas obras e o teu labor e a tua perseverança e que não podes suportar os maus e que tens provado os que se dizem a si mesmos apóstolos e não são e que tens os achado falsos
kopos - quase um termo técnico para o trabalho cristão: Rm 16.6,12; 1 Co 3.8; 15.10, 58; 16.16; 2 Co 6.5; 11.23; Gl 4.11; Fp 2.16; Cl 1.29; 1 Ts 5.12; 1 Tm 5.17; Ap 14.13.[66]
Os "maus" não são pessoas de fora, mas os que são referidos a seguir, os que se fazem passar por irmãos. Estes falsos apóstolos foram previstos já por Paulo (At 20.29) e pelo próprio Jesus (Mt 7.15)
peirazw - tentar, provar, testar. Aqui significa descobrir o caráter de alguém através de um teste. No caso em questão, em se falando de falsos profetas ("os que se dizem a si mesmos apóstolos"), o teste se dá ao se examinar o ensino e a prática destes à luz da revelação de Deus.
3
e tu tens perseverança e suportaste por causa do meu nome e não ficaste cansado,
O "ficar cansado" aqui tem o sentido de esmorecer, desanimar. É o mesmo termo de Mt 11.28: "todos os que estão cansados e sobrecarregados ...".
4
mas tenho contra ti que deixaste o teu primeiro amor.
O fervente amor dos cristãos de Éfeso aparece em At 19.20; 20.37; Ef 1.3ss. Agora eles eram ainda muito ativos como Igreja e perseverantes na verdade, mas deixaram o amor de lado. A dúvida que se levanta é: a que se refere este "primeiro amor" especificamente?
- Comentaristas gregos explicaram esta falta do primeiro amor àindiferença para com irmãos mais pobres.[67]
- o amor em geral.[68]
- o amor como tônica da vida cristã, que em Éfeso tomava mais a figura de cumprimento de uma obrigação. A ausência de profunda devoção a Cristo (como em certa época de Israel - Js 24.31; Jz 2.7,10,11).[69]
Aqui pode-se lembrar a tradição de que o idoso João, após voltar da ilha de Patmos, tinha de ser levado à Igreja devido àvelhice, e que sempre admoestava a Congregação com as palavras "Filhinhos: amai-vos uns aos outros!"[70]
5
Lembra-te, pois, de onde caíste e arrepende-te e faze as primeiras obras. Se não, venho a ti e tirarei o teu candelabro do seu lugar, se nao te arrependeres.
Mnhmoneue - Particípio Presente - uma ação que deve ocorrer continuamente. Os outros dois particípios são Aoristos. Este lembrar-se precede o verdadeiro arrependimento e volta às obras realmente boas. Éum lembrar-se de onde já se estava, pela graça de Deus. É certamente uma referência à obra de Deus realizada pelos meios da graça, particularmente pelo Batismo.
6
Mas isto tens, que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio.
Nicolaítas - cf. Irineu e Hipólito, grupo fundado por Nicolau, prosélito de Antioquia e um dos sete de At 6.5. Mas tal interpretação foi questionada desde cedo (Clemente, Eusébio). Possivelmente um grupo gnóstico antinomiano.[71]
7
O que tem ouvido ouça o que o Espírito diz às Igrejas. Ao vencedor darei-lhe de comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus.
O ecwn ous - expressão usada por Jesus em Mt 11.15; 18.9, 43 e paralelos. É um chamado a que cada ouvinte da carta (1.3) aplique a si as advertências e consolo contidas em cada declaração do Senhor. Note-se que o texto coloca com recipientes da mensagem do Espírito "as Igrejas" e não "a Igreja".
Jesus é Aquele que está se dirigindo a cada Igreja (2.1; etc). Ainda assim, é possível dizer que o Espírito está falando. Ele é o Espírito de Jesus, assim como Espírito de Deus (Rm 8.9). Deus está falando às Igrejas, assim como falara pelos profetas (2 Pe 1.21).
dwsw autw fagein ek tou xulou ths zwhs - uma referência à expulsão dos primeiros homens, do paraíso, para que não pudessem comer da árvore da vida (Gn 3.22s). Pela vitória da fé em Cristo os homens poderão novamente ter acesso à Árvore da vida, cujo comer representa o usufruir de tudo o que a vida na bem-aventurança tem reservado para os salvos.[72]
APLICAÇÃO PARA A IELB
Pode-se resumir a característica da Igreja em Éfeso com alguns tópicos:
- firmeza na doutrina
- repulsa a falsos mestres
- zelo pelo trabalho
- frieza no amor
Este parece ser um quadro que combina bem com o que é a IELB. Há uma séria advertência, de que não sejamos frios no nosso relacionamento fraternal, de que em nossas ações seja refletido aquele amor doação, dAquele que nos amou primeiro e nos ensinou a amar, e nos capacita a amar.
Há também uma palavra de consolo, de que o Senhor está conosco quando repudiamos falsas doutrinas e denunciamos a falsidade de um ecumenismo que não atenta para a Palavra, mas para opiniões humanas.
E há uma advertência, do arrependimento que precisa começar sempre numa avaliação do que nós, unicamente por graça de Deus, somos! Ou seja, o povo de Deus, redimido por Cristo, lavado no Batismo, alimentado pelo Evangelho, perdoado na Absolvição, comungando com o Senhor na Ceia. É preciso lembrar sempre do que significa ser Igreja de Cristo, de que se tem necessidade constante do evangelho, dos meios da graça; de que a Igreja não atinge nunca um estágio onde se pode falar de ações sem arrependimento e fé; de que a proclamação da Justificação pela fé não pode nunca cessar; que Lei e Evangelho precisam ser a tônica constante nos sermões, estudos e devoções.
CARTA À IGREJA EM ESMIRNA (2.8-11)
8
E ao anjo da Igreja em Esmirna escreve: Assim diz o Primeiro e o Último, o qual se tornou morto, e viveu:
Esmirna - uma das mais prósperas cidades da Ásia Menor. Cidade portuária, que já era fiel a Roma mesmo antes desta ter domínio mundial. Tinha grandes e magníficos edifícios públicos. Tinha um porto que foi usado até aproximadamente o ano 1400 A.D. como via para as Índias. Marco Aurélio a reconstruiu no 2o século A.D. O evangelho chegou lá possivelmente no tempo em que Paulo esteve em Éfeso (At 19.10).[73]
A auto-designação do Senhor combina com a situação da Igreja.[74] Para uma Igreja que sofre a ameaçã da morte, Ele se mostra como Aquele que morreu - conhece o poder da morte, teve de se submeter a ela; mas venceu-a, na ressurreição.[75] E Ele, tendo vencido a morte, écapaz de amparar aqueles que estão sujeitos a ela.
9
Conheço tua tribulação e tua pobreza, mas és rico, e a blasfêmia dos que dizem ser judeus e não são, mas [que são] sinagoga de Satanás.
A "pobreza" - frequentemente os cristãos perdiam seu emprego por causa da fé. Além disso, eram normalmente pobres em bens terrenos. Do ponto de vista humano, tornar-se cristão era, sem dúvida, um sacrifício.[76] Também se pode lembrar como fatores que contribuiam para a pobreza material: as exigências advindas de sua fé (cf. 2 Co 8.2) e as pilhagens (cf. Hb 10.34).[77] Mas eles tinham aquela riqueza de que o próprio Senhor havia falado, o tesouro no céu (Mt 6.20; 19.21; Lc 12.21).
Se diziam judeus, mas não eram, de fato: cf. Rm 2.28; Gl 6.15,16; Jo 8.44.[78]
A referência aos judeus como "sinagoga de Satanás" pode ser uma dupla alusão: 1) ao fato que se consideravam "sinagoga de Deus" (Nm 16.3 - LXX: "Sinagoga de Javé"); 2) porque seguiam a estratégia de Satanás, de ser o "acusador" (Ap 12.10; Jó 1.9-11), acusando publicamente os cristãos diante de tribunais romanos, num tempo de perseguição.
Versículo 10
Não[79] temas as coisas que irás sofrer. Eis que o diabo está para lançar [alguns] dentre vós em prisão, a fim de serdes tentados[80] e tereis[81] tribulação de dez dias. Continua sendo[82] fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida.
"Tentados" pelo diabo, mas "provados" por Deus, a fim de que sua fé fosse purificada, apegando-se eles nas promessas de Deus e desfrutando da força que o próprio Senhor concede (1 Co 10.13). Éimportante notar que por detrás da perseguição que o mundo pagão provoca contra a Igreja, está a ação maligna do próprio Satanás.
"Dez dias" - um período definido, completo, mas breve.[83]
"Isso foi exemplificado com a coragem com que o idoso presbítero Policarpo recusou-se a retratar-se; foi ali martirizado em c. de 155/156 D.C."[84] É possível que o próprio Policarpo tenha sido pastor da Igreja em Esmirna na época da escrita do Apocalipse.[85]
A "coroa da vida" (Tg 1.12) pode ser um trocadilho com as coroas de louros dadas ao vitoriosos nos jogos, "ou possivelmente com um punhado de ótimos edifícios que coroavam certa colina, e que era conhecido como a 'coroa de Esmirna'",[86] o "monte Pagos".[87] Aquela "coroa" não é real, mas um símbolo de festividade. A coroa da vida -éepexegético: a coroa, que é a vida.[88]
Versículo 11
O que tem ouvido ouça o que o Espírito diz às Igrejas. O vencedor de maneira nenhuma receberá dano[89] da segunda morte.
A "segunda morte" é uma referência à condenação eterna, pelo juízo de Deus (Ap 20.6,14; 21.8). Os crentes poderão sofrer a primeira morte (temporal), mas não a segunda! Que enorme conforto - o de saber que a morte já não é mais um inimigo a ser temido, pois seu aspecto eterno foi vencido por cristo e seu aspecto temporal tem muito mais o caráter de passagem para a bem-aventurança do que de castigo.
APLICAÇÃO PARA A IELB
Possivelmente um ponto de contato entre a situação de Esmirna e da IELB é a questão da pobreza/riqueza da Igreja. Vivemos tempos difíceis, para o país (nos aspectos econômico, social e moral) e isso se reflete na Igreja. Lamentamos nossa "pobreza", reclamamos de nossa incapacidade de responder à altura o desafio de nos auto-sustentar financeiramente. Por um lado, é verdade, deve-se desmascarar a preguiça e pouco caso pelo trabalho na missão de Deus, que muitas vezes nos caracterizam; por outro lado, não devemos deixar que a nossa situação econômica dite nosso estado de riqueza! Somos, de fato, muito ricos, porque temos recebido muito do Senhor: o maior dom de todos - o Espírito Santo, dado no Evangelho; com Ele: o perdão dos pecados, a certeza da salvação, a bendita vida em comunhão com Deus, e tantos bens e dons que acompanham o dom maior da fé. Somos ricos e temos de valorizar isto, não para nossa vanglória - porque nada fizemos e nada merecemos - mas para a glória de Deus e para que usemos responsavelmente o que Deus nos concedeu, para o trabalho no Seu reino.
CARTA À IGREJA EM PÉRGAMO - 2.12-17
Versículo 12
E ao anjo da Igreja em Pérgamo, escreve: Assim diz o que tem a cortante espada de dois gumes:
Pérgamo - cidade bastante antiga. Em 29 a.C. foi ali edificado um templo ao culto ao imperador romano (no caso, em homenagem a Augusto). Era centro do culto a Zeus, Atenas, Dionísio e Asclépio (ou: Esculápio). Foi capital de toda a província, concentrando em si, então, a autoridade e o centro da religião oficial do império.[90] Esculápio, o deus da cura, era adorado sob o símbolo da serpente. Para os cristãos era, sem dúvida, uma representação de Satanás. Havia também um grande altar a Zeus. (Talvez por isso a cidade é caracterizada como o local onde está o trono de Satanás - v, 13).[91]
A apresentação de Jesus, como Aquele que tem a espada cortante, combina com sua ação de vir contra os nicolaítas em juízo (v. 16).
Versículo 13
sei onde moras, onde [é] o trono de Satanás e tu conservas o meu nome e não negaste a minha fé[92] e nos dias de Antipas, a minha fiel testemunha, o qual foi morto diante de vós, onde Satanás habita.
O "trono de Satanás" - cf. acima (v. 12), pode ser uma referência ao templo a esculápio, ou o trono, em forma de altar, para Zeus (chamado "Zeus Soter" - Salvador, devido à vitória sobre os bárbaros) ou o próprio culto ao imperador, que na cidade capital da província teria seu centro.
qronos - no NT é sempre um assento oficial, seja de um juiz (Mt 19.28), seja de um rei (Lc 1.32,52), ou mesmo de Deus ou de Cristo (Mt 5.34; 15.31).[93]
Versículo 14
Mas tenho contra ti poucas coisas, porque tens lá os que conservam o ensino de Balaão, o qual ensinava[94] Balaque a lançar armadilha diante dos filhos de Israel, para comerem coisas sacrificadas a ídolos e para se prostituírem.
O problema da Igreja: descuido com a disciplina dentro da Congregação, ao ponto de haver pessoas com doutrina nociva e, pelo que parece, nenhuma atitude havia sido tomada contra eles. "Alguns dos membros da Igreja haviam participado de festas pagãs e, provavelmente, também participaram nas imoralidades que caracterizavam estas festas".[95]
O ponto aqui é que a Igreja que conseguia resistir ao "trono de Satanás", confessando o nome de Cristo, não conseguiu resistir a uma heresia que brotava de seu próprio meio.[96]
O "comer de coisas sacrificadas a ídolos e prostituir-se" vem de Nm 25.1s (onde aparece a ordem inversa, seguida por Ap 2.20).
Versículo 15
Assim também tu tens os que semelhantemente conservam o ensino dos nicolaítas
Versículo 16
Arrepende-te, pois; se não, venho a ti logo e lutarei com eles com a espada da minha boca.
"Arrepende-te" - significa aqui o reconhecimento do pecado da tolerância ao erro. Implica também a reconsagração da Congregação, que deveria estar consciente de que uma situação em que alguém estivesse vivendo em pecado, e a Congregação nada fizesse, levaria a Congregação como um todo a estar em pecado (cf. 1 Co 5.1ss).
É digno que nota que o Senhor diga que virá lutar "contra eles", isto é, contra os que sustentam a doutrina de Balaão e os nicolaítas. Isso mostra que a Congregação como um todo, ainda que tolerante, não participava diretamente no erro.
Versículo 17
O que tem ouvido, ouça o que o Espírito diz às Igrejas. Ao vencedor darei a ele do maná escondido e darei a ele uma pedra branca e sobre a pedra escrito um novo nome, que ninguém conhece, senão o que recebe.
O "maná escondido" - Cristo e Sua plenitude (Jo 6.33,38), escondido do mundo, mas revelado aos crentes já aqui no mundo, e especialmente na eternidade. Um contraste com os alimentos sacrificados aos ídolos, que caracterizavam as festas pagãs.[97] O "escondido" deve ser uma referência ao maná que estava no pote de ouro, dentro da Arca da Aliança (cf. Hb 9.4). Aqui deve simbolizar "o poder sustentador da vida, que vem da humanidade santa agora escondida com Cristo em Deus (Cl 2.7), da qual o crente tem uma prova na Eucaristia, mas que será conhecido pessoalmente somente pelo vencedor".[98]
Pedra branca - possivelmente uma referência a pedras que eram usadas para ingresso em determinado local.[99] Talvez uma representação da própria pessoa (pedra, como símbolo de resistência, durabilidade; branca - símbolo de pureza). O nome seria o nome da própria pessoa, novo porque a pessoa está entre os redimidos. Sobre o receber de um novo nome: Is 62.2; 65.15. Ou então, que seria o nome de Cristo, como Senhor na vida dos que com Ele venceram.[100] Em 3.12 (na carta a Filadélfia), Cristo novamente fala do novo nome, mas então éexpressamente dele.
APLICAÇÃO PARA A IELB
Duas aplicações imediatamente vêm à mente:
1. A Igreja vivendo numa sociedade pagã, onde, devido aos cultos idólatras que se multiplicam, bem se pode dizer que Satanás tem colocado seu trono neste meio. Assim é a Igreja em todos os tempos, também hoje, numa sociedade pluralista e que defende o Unionismo, não a concórdia, com base na doutrina, mas o Unionismo em torno de objetivos sociais. Tenta-se assim minimizar o valor da doutrina, do ensino da Escritura. A IELB tem resistido a tais investidas e precisa continuar a defraldar a bandeira da proclamação pura da Palavra de Deus como o único meio para se celebrar a verdadeira unidade, que o próprio Espírito Santo efetua.
2. A tolerância com o pecado manifesto, com a imoralidade, ainda que não podem ser atribuídos à Igreja como um todo, são, sem dúvida, perigos que sempre rondam as Congregações. è verdade que a prática da Disciplina Eclesiástica em alguns lugares se tornou uma arma do legalismo. Por outro lado, é em grande parte uma prática pouco exercida pela Congregação no ataque ao pecado manifesto e em busca do arrependimento do pecador.
CARTA À IGREJA EM TIATIRA - 2.18-29
Versículo 18
E ao anjo da Igreja em Tiatira escreve: Assim diz o Filho de Deus, o que tem os seus olhos como chama de fogo e seus pés são semelhantes a bronze.
A cidade de Tiatira ocupava uma posição estratégica - abrigava uma guarnição destinada a proteger o local contra investidas de inimigos, pois ficava no caminho para Pérgamo e Laodicéia. Era uma cidade comercial. Daí conhecemos Lídia (At 16.14). Havia agremiações por trabalhos determinados (lã, linho, couro, etc.). Para a pessoa ter sucesso era necessário pertencer a um destes grêmios, com seu conseqüente culto a um deus particular e participação dos festivais, que se caracterizavam pela imoralidade. (Hendricksen, 87,88)
"O Filho de Deus" - único local no Apocalipse onde esta designação é utilizada. Está implícita em 1.6; 2.28; 3.5, 21; 14.1. (Swete, 41)
"Olhos como chama de fogo" - olhar penetrante - vê o pecado escondido, dissimulado. Desmascara a falsa profecia.
A referência ao bronze lembra que a cidade era famosa por trabalhos naquele metal.
Versículo 19
Conheço as tuas obras e o teu amor e a tua fé e teu serviço e a tua perseverança e as tuas últimas obras, mais abundantes do que as primeiras.
Há aqui uma diferença marcante com Éfeso. Os atos de serviço não diminuíram, mas aumentaram. (Swete, 42) Havia progresso nos atos da Congregação.
Versículo 20
Mas tenho contra ti que deixas a mulher, Jezabel, a que chama a si própria profetiza e ensina e engana os meus servos a se prostituirem e a comerem comida sacrificada a ídolos.
Jezabel - nome da esposa do rei Acabe (1 Rs 16.31), que o levou a adorar ídolos. Há uma variante textual - "tua mulher". Hugo Grotius propôs que fosse a esposa do pastor da Igreja. (Swete, 43) Mas a variante tem fraca atestação para ser levada em conta.
Ao quer parece, Jezabel se colocava como um instrumento paralelo da proclamação da vontade de Deus, ao lado do pastor da Congregação. Possivelmente tinha bastante sucesso em persuadir outros membros da Igreja a seguir sua maneira de ensinar.
Aparentemente ela argumentava que para combater Satanás, o cristão tem de conhecer-lhe as "coisas profundas". (Hendricksen, 88)
A "prostituição" pode tanto significar literalmente uma vida imoral, o que fazia parte dos cultos pagãos. Ou era uma referência à adoração de ídolos, comparada no AT com prostituição (infidelidade para com Deus).
Versículo 21
E dei a ela um tempo para que se arrependa, e (mas) não quer se arrepender de sua prostituição.
O propósito de Deus era benigno para com a falsa profetiza. Também para ela valia o desejo de Deus que se arrependesse e tivesse vida. Mas o viver no pecado estava já enraizado. Ela mantinha-se surda à admoestação da lei.
Versículo 22
Eis que a lanço na cama e aos que adulteram com ela em grande tribulação, se não se arrependerem das obras dela.
As pessoas que eram enganadas estavam participando do erro. Por isso, seriam chamadas às contas. Mas ela era a fonte do erro. A atitude deles deveria ser de rejeitá-la.
Versículo 23
E aos filhos dela eu matarei[101] e saberão todas as Igrejas que eu sou o que investiga (examina) mentes[102] e corações e darei a cada um de vós conforme as vossas obras.
"Filhos" - provavelmente uma referência a filhos naturais, visto que os seguidores são mencionados no v. 22.
"Investiga mentes e corações" - "mentes" = literalmente, rins - considerados como sede da vontade e afeições. "Corações" - sede dos pensamentos. (Swete, 45) Jesus vê os motivos excusos - no caso, o não querer sofrer por Cristo - para as ações de Jezabel e seus seguidores.
Versículo 24
Mas digo a vós, os restantes em Tiatira, todos quantos não têm este ensino, os quais não conheceram as coisas profundas de Satanás, como dizem: Não lanço sobre vós outro peso,
"Coisas profundas de Satanás" - expressão usada por seitas gnósticas do 2o século. (Swete, 45) É de se admirar (e motivo de profunda preocupação) que seitas satânicas florescem em diversos locais do mundo, principalmente acopladas a grupos musicais. Parece que se quer emoções mais profundas, mais misteriosas, a qualquer custo.
"Outro peso" - mesma expressão usada no decreto apostólico, em At 15.28,29. Há aqui um contraste com os fariseus, cfe. Mt 23.4 (que atavam pesados fardos nos outros, mas eles próprios não os carregavam). Mostra o espírito nào legalista que permeia as ações do Senhor para com Sua Igreja.
Versículo 25
Apenas conservai o que tendes até que eu venha.
"O que tendes" - antes de mais nada, a fé em Cristo, mas também tudo o que é mencionado no v. 19: "obras, amor, fé, serviço, perseverança".
"Conservar" - significa reter com firmeza, para não perder. Pode se referir a Cristo, como cabeça (Cl 2.19); o ensino (2 Ts 2.15); a confissão (Hb 4.14); a esperança (Hb 6.18). É fundamental o trabalho do pregador da Palavra para que os membros da Congregação retenham com firmeza aquilo que lhes é dado pelo Senhor, já no Batismo. Isso implica um trabalho de base, de profunda fundamentação, ao qual o próprio pastor deve se submeter antes de mais nada. E esta mesma fundamentação sólida será então aplicada à Congregação.
Versículo 26
E o vencedor e o que retém até o fim as minhas obras, darei a ele autoridade sobre as nações.
"As minhas obras" - a pureza da vida cristã, oposta às obras de Jezabel (v. 22).
"Autoridade sobre as nações" - são palavras de promessa (junto com o v. 27), que vêm do Sl 2.8,9 (aplicado ao Messias). Jesus tem esta autoridade, como homem, na Sua exaltação (Mt 28.18). E nós reinaremos com Cristo - Mt 19.28; 1 Co 6.2,3; Ap 20.4. O referente para este "ter autoridade" é discutido abaixo, no v. seguinte.
Versículo 27
E as governará (pastoreará) com cetro (vara) de ferro, como os vasos de barro se quebram.
É uma promessa significativa, para um local onde a sociedade pagã queria controlar (governar) a atitude dos indivíduos.
Isto se cumpre:
1) na influência positiva da Igreja cristã na sociedade, particularmente pela proclamação do Evangelho.
2) plenamente, no juízo final (como mostram os textos bíblicos citados na explicação ao v. acima).
Versículo 28
Como também eu recebi de meu Pai e darei a ele a estrela da manhã.
"A estrela da manhã" - refere-se a Cristo em Ap 22.16. É símbolo de governo (Nm 24.17; Mt 2.2). Os crentes receberão do esplendor e domínio que pertencem a Cristo. (Hendricksen, 90) É significativa esta promessa, pois as igrejas são lâmpadas; os anjos, estrelas. Mas Cristo mesmo é a estrela de maior brilho, de onde a Igreja recebe luz. (Swete, 48)
Versículo 29
O que tem ouvido ouça o que o Espírito diz às Igrejas.
APLICAÇÃO À IELB
A não conformidade com este século. Ainda que a tentaçzào é sempre forte para acatar o modelo do mundo, ao invés de transformá-lo.
O uso da disciplina eclesiástica.
CARTA À IGREJA EM SARDES - 3.1-6
Versículo 1
E ao anjo da Igreja em Sardes escreve: Assim diz o que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas: conheço as tuas obras, que tens nome de que vives, mas estás morto.
Sardes - capital do antigo império da Lídia. Cidade muito rica. Tinha ouro. Era uma cidade fortaleza, quase inpenetrável. Sob o domínio romano, não teve a mesma supremacia que anteriormente. Apesar da defesa natural do local onde estava edificada (local de difícil acesso), foi conquistada duas vezes (549 a.C. , por Ciro, da Pérsia; 218 a.C., por Alexandre Magno).[103] Seu povo era orgulhoso sobre o passado, mas devia aprender mais para o presente.
Aqui, diferente de outras Igrejas (Pérgamo, Tiatira), a Congregação como um todo estava com, sérios problemas espirituais. estava praticamente morta! A fé estava se apagando. esta é a pior situação de todas as 7 Igrejas.
A auto-designação de Jesus é muito apropriada para a situação de Sardes:
"Tem os sete Espíritos de Deus" - uma referência ao Espírito Santo (cf. 1.4). Para uma Igreja que está morrendo, Jesus se apresenta como Aquele que tem (e envia) o Espírito Santo. Ele é o "Espírito da vida" (Rm 8.2), o "Senhor e Doador da vida" (Credo Niceno). Ele confere vida pelo evangelho; regenera e renova pelo Batismo (Tt 3.5).
"Tem as sete estrelas" - referência ao ministério pastoral (os "anjos" das Igrejas). Cristo envia à Sua Igreja ministros que proclamem o evangelho salvador, pelo qual o Espírito da vida é dado. Aqui a função soteriológica do ministério deve ser lembrada!
Versículo 2
Sê vigilante e fortalece (sustenta) o resto que estava para (devia) morrer, pois não encontrei tuas obras completas diante de meu Deus.
"Sê vigilante" - ainda há vida, mas o pouco existente ameaça morrer. Por isso, ainda há possibilidade de exortação.
"Fortalece" - coloca sobre um fundamento sólido! Verbo usado em At 18.23; Rm 1.11; 16.25; 1 Ts 3.2 em referência à obra de "confirmar" alguém com o evangelho. É a proclamação do evangelho por parte de um apóstolo ou outro ministro da palavra, para fortalecer a Igreja na fé verdadeira.
"O resto" - neutro plural - as coisas (geral) que estão para morrer (pessoas e/ou instituições). Aí há um sinal de esperança - Deus preserva para Si um "remanescente fiel".
“Completas" - a palavra grega correspondente traz consigo um conceito forte no NT. As obras só são realmente completas quando operadas pelo Espírito da vida.[104]
Versículo 3
Lembra, pois, como recebeste e ouviste e guarda e arrepende-te. Se, pois, não vigiares, virei como ladrão e de maneira nenhuma saberás que hora virei sobre ti.
"Recebeste e ouviste" - o Indicativo da graça, antes do Imperativo "evangélico".
"Recebeste" - Perf. - ação que continua manifestando seu valor. A fé como algo confiado a nós (o receber: Mt 25.20ss; 1 Co 4.7).[105]
"Ouviste" - Aor. - a fé (que vem pelo ouvir) como algo que ocorreu historicamente, pelo ouvir do evangelho: Rm 10.17; 1 Ts 1.5s; 2.13).
"Virei como ladrão" - referência às investidas de Ciro e Alexandre, que vieram por pontos desguarnecidos e conquistaram a cidade. Houve também um terremoto, em 17 A.D., que destruiu parcialmente a cidade.[106]
Versículo 4
Mas tens poucos nomes em Sardes que não macularam suas vestes e andarão comigo em branco [com vestes brancas], pois são dignos.
O "remanescente fiel" - sempre existe onde os meios da graça estão sendo administrados. Note-se que viviam numa Congregação que estava morrendo. Eram desafiados na fé não só no contato com a sociedade pagã, mas com seus próprios "irmãos".
As vestes brancas talvez façam referência ao principal comércio da cidade: vestes de lã e tinturaria.[107] São as vestes da salvação - a justiça de Cristo recebida no Batismo (Gl 3.27).
"Dignos" - é atributo dos cristãos (Lc 20.35; Ef 4.1; Fp 1.27), enquanto ligados a Cristo, que nos dá Sua dignidade.
Versículo 5
O vencedor desta maneira será vestido com vestes brancas e de maneira nenhuma apagarei seu nome do livro da vida e confessarei o seu nome diante do meu Pai e diante dos Seus anjos.
O branco denota: - a) festividade (Ec 9.8);
b) vitória (2 Macabeus 11.8);
c) pureza (Ap 7.9ss);
d) o estado celestial (Dn 7.9; Ap 4.4; 6.11).[108]
"Confessarei" - lembra a promessa de Jesus, ainda em Seu ministério terreno: Mt 10.32; Lc 12.8. Confessar significa tanto reconhecer publicamente o pecado,[109] como (no AT) louvar e agradecer a Deus. De qualquer forma, lembra uma afirmação pública.
Versículo 6
O que tem ouvido ouça o que o Espírito diz às Igrejas.
APLICAÇÃO À IELB
1. A triste realidade de locais onde a fé está morrendo. Tanta preocupação com outras coisas, mundanismo invadindo a igreja, com conseqüente pouca atenção dada à Palavra de Deus.
2. O remanescente fiel - não desprezemos nenhuma Congregação - o evangelho produz resultado: conversão, fé, crescimento; mesmo que não o vejamos.
3. Na auto-designação de Jesus está a resposta para os problemas da Igreja: o Espírito Santo, o Doador da vida, que vem a nós em Palavra e Sacramentos; o Ministério da Palavra, como instrumento para a administração dos Meios da graça.
CARTA À IGREJA EM FILADÉLFIA - 3.7-13
Versículo 7
E ao anjo da Igreja em Filadélfia escreve: Assim diz o Santo, o Verdadeiro (Genuíno), o que tem a chave de Davi, o que abre e ninguém fecha e que fecha e ninguém abre.
Filadélfia - fundada por Eumenes, rei de Pérgamo, no séc. II a.C. Situada no limiar de uma terra muito fértil. Tinha grande prosperidade comercial. Era sujeita a freqüentes terremotos. Em 17 d.C. um terremoto destruiu a cidade. Havia grande numero de templos e diversas festividades religiosas.[110]
O "Santo" - título divino (Mc 1.24; Jo 6.69; At 4.27,30).
O "Verdadeiro" - (Genuíno) - como Aquele que é a Verdade e que revela a verdade. Combina com o caráter fiel da Igreja em Filadélfia e contrasta com os falsos judeus.
"Chaves" - sinal de autoridade (chaves de Davi - Is 22.22 -autoridade e estabilidade). Em Is 22.22, as chaves foram dadas a Eliaquim. Assim Deus confere as chaves a Seus instrumentos humanos, para que sejam usadas já no tempo da graça (Mt 16.19).
Versículo 8
Conheço as tuas obras (eis que dei diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém é capaz/tem poder para fechar) que tens pouco poder, mas guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome.
Não há nenhuma palavra de censura para esta Igreja. O pecado dos membros da Congregação não comprometia a vida da Congregação como um todo. Neste sentido, era um exemplo para todas as demais igrejas.
A metáfora da "porta aberta" é conhecida: At 14.27 (porta da fé); 1 Co 16.9; 2 Co 2.12; Cl 4.3 (a porta da proclamação da Palavra). É provavelmente esta última que está em vista.[111] Oportunidades missionárias são dádiva de Deus. Tais "porta, antes de serem obrigação, são oportunidade e privilégio que o Senhor nos dá para participarmos na Sua missão.
"Pouco poder" - talvez pouca influência dos membros na sociedade, por serem pobres e simples.[112]
Versículo 9
Eis que dou dentre a sinagoga de Satanás - dos que se dizem ser judeus e não são, mas mentem - eis que farei que eles venham e se prostrem diante dos teus pés e saibam que eu te amei.
Também aqui, como em Esmirna (2.9), havia judeus que causavam problemas à proclamação do evangelho. Sua mentira contrasta com o caráter genuíno de Jesus, conforme Sua apresentação no início da carta.
"Prostrar-se-ão" - nos profetas, é dito que as nações hão de se prostrar diante do povo de Deus e da cidade, ao reconhecerem que o Deus verdadeiro se revelou ali - Is 45.14; 49.23; 60.14; Zc 8.20,23. O interessante é que a promessa feita a Israel cumpre-se na Igreja de Cristo! Os judeus não são mais o povo de Deus, mas fazem parte das nações. Este prostrar-se provavelmente tem o sentido de que as nações, reconhecendo em Cristo a salvação, buscarão no Seu povo o evangelho.
Versículo 10
Porque guardaste a palavra da minha paciência (perseverança), também eu te guardarei da hora da provação/tentação que está para vir sobre todo o mundo habita, para provar os que habitam sobre a terra.
"Palavra da minha paciência" - parece ser melhor do que "perseverança; ou seja, trata-se de um genitivo subjetivo (Deus é o autor da paciência - Ele é paciente), não objetivo (perseverança em Deus). É a paciência de Deus em Cristo - 2 Ts 3.5;[113] Hb 12.2.[114]
"Hora da provação" - pode ser uma referência às perseguições sofridas pelos cristãos no tempo do imperador Trajano (98 A.D.), figura da provação final.
"Habitam sobre a terra" - 6.10; 8.13; 11.10; 13.8,14; 17.8 - uma referência aos pagãos, sempre em contraste com os filhos de Deus.
A hora da provação é sobre o mundo inteiro, mas não causa destruição à Igreja de Cristo. É de fato uma prova, pela qual a Igreja é edificada ao permanecer firme na Palavra (recebendo perseverança da perseverança de Cristo).
Versículo 11
Venho logo! Segura o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.
A provação não é interminável. A Parousia é o limite. Sabendo de sua proximidade, a Igreja encontra forças para suportar.
"Coroa" - cf. 2.10 - símbolo de vitória e festividade, pela salvação em Cristo.
Versículo 12
O vencedor farei dele coluna no templo do meu Deus e para fora de maneira nenhuma sairá. E ainda escreverei sobre ele o nome do meu Deus e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, da parte do meu Deus, e o meu novo nome.
"Coluna no templo" - símbolo de estabilidade, em contraste com a fragilidade da cidade de Filadélfia, várias vezes sacudida por terremotos.[115]
"De maneira nenhuma sairá" - é a confirmação final na perfeição, de onde será impossível cair. Enquanto lâmpadas, podem ser movidas (2.6); mas, como pilares, os cristãos não serão removidos.[116]
Os "nomes" - a cidade de Filadélfia recebera, em sua história, nomes novos em homenagem aos imperadores divinizados (Neocesaréia,[117] Flávia[118]). Os cristãos recebem novos nomes, que denotam sua participação permanente na cidade de Deus.[119]
O nome de Deus - já na Bênção araônica (Nm, 6.27) era colocado sobre o povo, numa prova de que era o povo exclusivo de Deus e que Ele o abençoaria.
O nome da nova Jerusalém - é ser um dos seus moradores. Já o somos agora, pela fé - Gl 4.26; Fp 3.20.
O novo nome de Cristo - símbolo da glória plena de Sua Pessoa, assim como será revelada na Parousia.[120]
Versículo 13
O que tem ouvido ouça o que o Espírito diz às Igrejas.
APLICAÇÃO PARA A IELB
Não raras vezes deixamos que pequenos números nos assustem e causem desânimo. É importante, então, lembrar que Deus exige de nós, acima de tudo, fidelidade à Sua palavra e confiança na Sua graça e paciência.
A porta aberta é uma realidade muito presente também para nós hoje, para quem Deus tem dado muitas oportunidades de proclamação do evangelho.
CARTA À IGREJA EM LAODICÉIA - 3.14-22
Versículo 14
E ao anjo da Igreja em Laodicéia escreve: Assim diz o Amém, a Testemunha Fiel e Verdadeira, o Princípio da criação de Deus:
Laodicéia - fundada no séc. III a.C. por Antíoco II. Era um centro comercial importante, por se localizar na confluência de duas estradas de intenso movimento. Como não houvesse suprimento de água na cidade, esta era trazida por tubulações (pedras cúbicas furadas colocadas lado a lado) de fontes termais, chegando à cidade ainda morna.[121] Tão rica era a cidade que seus habitantes declinaram de receber auxílio do governo quando houve um grande terremoto.[122]
"Amém" - cf. 2 Co 1.20, Ele é o cumprimento perfeito de todas as promessas de Deus. Nele Deus tem o Seu "Sim"! Seu caráter e natureza são, em si mesmos, uma garantia para a verdade do Seu testemunho".[123]
"Princípio da criação de Deus" - não a primeira criatura, mas Aquele por meio de quem toda a criação veio a existir. No AT, a Sabedoria personificada, em Pv 8.22, que estava com Deus antes de toda a criação. No NT, em Jo 1.3 é dito que tudo veio a existir por meio dele. Em Cl 1.15 Ele é chamado de "primogênito de toda a criação, e isto é explicado no v. 16, porque nele tudo foi criado. Apesar de ser linguisticamente possível traduzir a expressão como "primeiro dentre a criação", esta não é uma possibilidade na Escritura; especialmente no caso de João, tanto no Evangelho como no Apocalipse, fica claro que tal interpretação não é possível.
Versículo 15
Conheço as tuas obras, que nem és frio, nem quente. Oh! Que fosses frio ou quente.
A explicação usual da metáfora da temperatura: o frio se refere àqueles que ainda não ouviram o evangelho, o quente, aos verdadeiros crentes; e o morno seria uma referência aos indiferentes, aos que conhecem o evangelho, mas tratam-no com desdém.[124] Outra explicação (que leva em conta a água), no entanto, pode ser verdadeira: tanto a água fria como a quente tem uso. Mas a água morna causa mal-estar.[125]
Versículo 16
Assim, porque és morno, e nem quente, nem frio, estou para te vomitar da minha boca.
Ao dizer "estou para" e não "vomitar-te-ei" Cristo deixa aberta a possibilidade de arrependimento.
Versículo 17
Porque dizes: "Sou rico e me tornei abastado e não necessito de nada" e não sabes que tu és miserável e digno de pena e pobre e cego e nú!
Está aí caracterizada a "temperatura morna" dos cristãos de Laodicéia: eram cheios de si, orgulhosos, distantes de qualquer sombra de arrependimento.
"Miserável" - Rm 7.24 ("desventurado" - por causa do pecado que habita em mim).
"Digno de pena" - 1 Co 15.19 (é o que seríamos se Cristo não tivesse ressuscitado).
Versículo 18
Aviso-te (aconselho-te) que compres de mim ouro purificado no fogo, para que te tornes rico, e roupas brancas, para que vistas e não apareça a vergonha da tua nudez, e colírio para ungir os teus olhos, para que vejas.
"De mim" - parece residir aí a ênfase da expressão toda - a verdadeira riqueza está em Cristo. Fora da comunhão com Ele, só há miséria. Cristo, como "Princípio da criação de Deus", chama-os a serem novas criaturas, por arrependimento e fé nele.
"Colírio" - talvez uma referência à Escola de Medicina que havia na cidade e ao medicamento usado pelos médicos para problemas oculares.
O significado:
- ouro: a fé genuína, acompanhada das suas obras (Tg 2.5; 1 Tm 6.18);
- vestes brancas - a vida purificada em Cristo, sem a mácula do mundo (Gl 3.27; Tg 1.27);
- colírio - a ação do Espírito Santo, que convence do pecado, justiça e juízo (Jo 16.8ss), restaurando a visão espiritual.[126]
Versículo 19
Eu a tantos quantos amo, corrijo/reprovo e disciplino (instruo, treino, educo). Sê zeloso, pois, e arrepende-te.
A manifestação da graça de Cristo para com Sua Igreja - a maneira dura como Ele se refere à Igreja em Laodicéia não é demonstração de ódio ou aversão, mas de amor!
"Corrijo" - Mt 18.15; 2 Tm 4.2; Hb 12.5. É o desejo de corrigir, pelo uso da palavra.[127]
"Disciplino" - com o uso de punição - Hb 12.6. É a correção com o uso de meios externos (atos de correção).
"Sê zeloso" - por Cristo, pelo Seu evangelho, pela Sua causa.
Versículo 20
Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei junto a ele e jantarei com ele e ele comigo.
O "estar à porta" é escatológico: Mt 24.33; Tg 5.9. O abrir da porta é a resposta jubilante da Igreja ao chamado final do Senhor (cf. Lc 12.36).[128] Assim, não é um "decidir" por Jesus, mas o fruto da ação do Espírito Santo, que chama à fé e a conserva pelo evangelho.
A ceia era a refeição principal do dia e ocasião para hospitalidade; além disso, pode ser uma alusão à "Ceia do Senhor".[129]
Versículo 21
O vencedor lhe darei sentar comigo no meu trono, como eu venci e sentei com meu Pai no Seu trono.
Uma extensão da promessa feita aos Doze (Mt 19.28). Sinal de autoridade e glória. Os cristãos compartilharão da glória de Cristo.
Versículo 22
O que tem ouvido ouça o que o Espírito diz às Igrejas.
APLICAÇÃO PARA A IELB
Saibamos olhar para a riqueza que nos é oferecida em Cristo. Tenhamos cuidado para não buscarmos riqueza mundana, como fruto do nosso próprio esforço e vaidade.
A Visão do Trono de Deus e Sua Corte Celestial - 4.1-11
Versículo 1
Depois destas coisas vi, e eis uma porta aberta nos céu e a primeira voz, que eu ouvira como trombeta, falando comigo, dizendo: Sobe aqui e mostrar-te-ei as coisas que devem acontecer depois destas.
"Depois destas coisas vi" - é uma fórmula que serve para introduzir uma nova visão de importância especial: 7.1, 9; 15.5; 18.1. "Estas coisas" - se refere à visão que iniciou em 1.12. A primeira visão foi acerca do Cristo glorificado andando em meio às Suas Igrejas e enviando-lhes mensagens. Agora, há uma visão da corte celestial. Nos capítulos 1 a 3 Cristo falava a João sobre a Igreja militante, no tempo do próprio João. Agora o foco da profecia é a proximidade e chegada do fim, com o grande julgamento.
A porta aberta - não a porta da oportunidade (3.8), mas a a porta da revelação.
A primeira voz - cf. 1.10. Era o próprio Cristo glorificado.
Versículo 2
Logo vim a estar no espírito e eis um trono estava colocado[130] no ceú e sobre o trono [alguém] sentado.
O "estar no espírito" refere-se a um estado extático, como em 1.10. Somente assim ele pode presenciar as coisas que vão lhe ser reveladas. O homem natural, no seu estado natural, não pode ver a glória do céu. É somente graças à intervenção especial de Deus na vida de João que este é capacitado a ver as coisas que estará escrevendo às igrejas.
O centro da visão é Aquele que está no trono, revelado ser o Deus de Israel (v.8). No AT Ele é apresentado algumas vezes como tendo Seu trono nos céus: Is 66.1; Sl 11.4.[131]
Versículo 3
E o que estava sentado [era] semelhante à aparência de jaspe e sardônio e um arco-íris em volta do trono, semelhante à aparência de esmeralda.
Não há uma referência à forma de Deus. Detalhes antropomórficos são deixados de lado, para enfatizar a glória de Deus. O arco-íris pode ser um símbolo da misericórdia de Deus, já manifesta no arco-íris da aliança com Noé (Gn 9.12ss).
Versículo 4
E em volta do trono [havia] vinte e quatro tronos e sobre os tronos vinte e quatro anciãos sentados, vestidos em roupas brancas e sobre as suas cabeças coroas de ouro.
Os vinte e quatro anciãos - várias explicações têm sido oferecidas: os anciãos de Israel (Ex 24.9-11, onde há setenta anciãos; Is 24.23); ou os vinte e quatro turnos dos filhos de Arão (1 Cr 24.1-19); ou até mesmo numa referência às 24 estrelas da astrologia babilônica (que traz consigo a idéia absurda de que João teria se baseado em crenças pagãs). A melhor explicação já foi dada pelo mais antigo comentarista latino, Vitorino: "doze apóstolos, doze patriarcas". A duplicação do número das tribos de Israel (o povo de Deus na sua totalidade) pode indicar a presença de dois em cada tribo, o elemento judeu e o gentio, que são um em Cristo. Os anciãos seriam, pois, um símbolo da Igreja de Cristo, já vista na glória. Isso só se realizará na Parousia, mas é potencialmente realizado desde a Ressurreição e Ascensão de Jesus (Ef 2.6).[132]
Versículo 5
E saíam do trono relâmpagos, vozes e trovões, e [havia] sete lâmpadas de fogo, queimando diante do trono, as quais são os sete Espíritos de Deus.
A cena lembra em parte a manifestação de Deus no Sinai (Ex 19.16). A tempestade é uma figura usada nos livros poéticos do AT como símbolo do poder e glória de Deus (1 Sm 2.10; Jó 37.4s).[133]
As sete lâmpadas - referência ao Espírito Santo (como em 1.4 e 3.1, septiforme). O número sete serve como ponte entre Deus e a Igreja. São sete Igrejas, que representam a Una Sancta e assim são também sete Espíritos, que na verdade é o Espírito Santo, que faz arder o fogo da fé na Igreja.
Versículo 6
E diante do trono como um mar transparente semelhante a cristal (gelo?). E no meio do trono e em volta do trono quatro seres[134] viventes cheios de olhos em frente e atrás.
Lembra Ex 24.10, onde Deus foi visto sobre um pavimento brilhante como de pedra de safira. Na visão de Ezequiel Deus também é visto sobre um pavimento brilhante (Ez 1.22,26). Um mar imenso de cristal lembra glória imensa (especialmente se se leva em conta que na antiguidade o vidro era algo caríssimo). Mais ainda, este mar que está à frente do trono vem mostrar que mesmo João estando às portas do céu ainda tem entre ele e Deus uma vasta distância.[135]
O chão de cristal em torno de Deus também representa Sua santidade.[136]
Os quatro seres viventes - é difícil imaginar fisicamente a posição destas criaturas. A expressão toda parece dar a idéia de que uma das criaturas era vista em frente ao trono e as outras em volta, talvez todas em constante movimento. Em Ezequiel,[137] os seres viventes são querubins (Ez 9.3; 10.2ss, 20ss). Aqui no Apocalipse parecem simbolizar a criação de Deus.[138] Mesmo que representem anjos (como em Ezequiel), ainda assim sua aparência que lembra animais sugere que sejam anjos que representam o cuidado divino pela criação.
Os querubins aparecem ainda em Gn 3.24 e em Ex 25.20, como guardiões das coisas sagradas de Deus.[139]
Os olhos por toda a parte parecem indicar a permanente vigilância de Deus sobre a Sua criação.[140]
Versículo 7
E o primeiro ser era semelhante a um leão e o segundo ser era semelhante a um bezerro e o terceiro ser tinha aparência (rosto) como de homem e o quarto ser era semelhante a um águia voando.
Os animais aí descritos são os mesmos de Ez 1.1,10; 10.14. Os animais sugerem o que há de mais nobre, forte, sábio e rápido na natureza. O pai apostólico Irineu identificou os quatro animais com os quatro evangelistas.[141]
Hendriksen atribui a cada animal as características de, respectivamente, força (leão), serviço (boi), inteligência (homem), rapidez (águia). Tais características são atributos dados a anjos em outros textos bíblicos: Sl 103.20,21; Hb 1.14; Dn 9.21; Lc 12.8; 15.10.[142]
Versículo 8
E os quatro seres viventes, cada um deles tendo seis asas cada, em volta e por dentro cheios de olhos, e não tinham descanso dia e noite, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos exércitos, o que era, que é e que vem.
As seis asas lembram os serafins, de Is 6.2, texto que tem semelhanças com o presente relato no Ap.[143]
Se os seres representam a natureza, seu louvor sem descanso retrata bem o fato de que sob a divina providência, toda a criação atua sem cessar, num tributo de louvor ao Criador.[144]
"Santo, Santo, Santo ...- lembra o cântico dos anjos em Is 6.3.
"O que vem" - cantado pela natureza, lembra a "ardente expectativa" de toda a criação, pelo dia do juízo (Rm 8.19ss; Ap 21.1ss).[145]
Versículo 9
E quando os seres viventes derem glória e honra e ação de graças ao que está sentado sobre o trono, ao que vive pelos séculos dos séculos,
Versículo 10
cairão (prostrar-se-ão) os vinte e quatro anciãos diante do que está sentado no trono e adorarão ao que vive pelos séculos dos séculos e lançarão suas coroas diante do trono, dizendo:
Os dois atos ocorrem simultaneamente. Natureza e a Igreja unem-se no louvor a Deus. Quando uma inicia seu cântico, é sinal para que a outra se prostre diante do trono de Deus. Olhando para nossa própria época, onde tantas maravilhas da natureza são descobertas e estudadas com espanto pelo homem, é de se reconhecer que cada nova descoberta deveria levar a Igreja a celebrar ainda mais a grandiosidade do Criador.[146]
As coroas dos anciãos não são coroas reais,[147] mas coroas de vitória, símbolo da vida eterna (2.10; 3.11). O ato dos anciãos representa seu reconhecimento de que a salvação é dádiva gratuita de Deus.[148]
Versículo 11
Digno és - o Senhor e Deus nosso - de receber a glória e a honra e o poder, porque tu criaste todas as coisas e por causa da tua vontade existiram (eram) e foram criadas.
Aqui é focalizada a obra da criação. A Igreja se une à natureza para cantar louvores a Deus por tudo o que foi criado. O 1o. artigo do Credo continua sendo confissão de fé da Igreja até os fins dos tempos.
O objetivo dos capítulos 4 e 5 é ensinar-nos que todas as coisas estão sendo governadas a partir do trono celeste. As tribulações, que serão mencionadas a partir do capítulo 6, também![149]
O capítulo 4 (juntamente com o 5, com a aparição do Cordeiro) declara a verdade que o trono é o centro do Universo. Não geofísico, mas espiritual. O Apocalipse ensina, pois, não o geocentrismo, nem o heliocentrismo, mas o Teocentrismo! Assim fazendo, este capítulo imprime em nós uma filosofia de História. Consideremos, portanto, a história do mundo a partir da perspectiva do trono de Deus. E da obra do Cordeiro, que vem descrita no capítulo 5.[150]
O Rolo Selado e o Cordeiro Digno de Abri-lo - 5.1-14
Versículo 1
E vi sobre a mão direita do que estava sentado sobre o trono um livro escrito por dentro e por fora, selado com sete selos.
O Biblion é um rolo de papiro.[151]
Um livro selado é uma figura conhecida nos escritos do AT:
- em Ez 2.9s um rolo escrito dentro e fora, com lamentações, suspiros e ais; o profeta deve comer o livro e então ele é doce.
- em Is 29.11ss - a Palavra de Deus veio para o povo, que tinha o coração distante de Deus (v.13), como um livro selado, que ninguém podia ler.
- em Dn 12.4,9 o profeta é comandado a concluir as palavras e selar o livro até os tempos do fim.
O livro selado traz, assim, a imagem da mensagem de Deus sendo trazida, mas que não pode ser recebida por aqueles que tem o coração distante de Deus. Para estes tal palavra é juízo.
A mensagem do livro diz respeito, por certo, às coisas futuras que hão de acontecer (1.19). É o livro dos destinos da humanidade.[152]
Versículo 2
E vi um anjo forte proclamando com grande voz: Quem é digno de abrir o livro e quebrar (desatar) os seus selos?
"Digno" - Propriamente significa "a outra haste da balança", "equilibrar" e, daí, algo que é "equivalente". O uso desta palavra mostra que duas magnitudes são equivalentes. No texto presente o sentido parece ser "estar numa posição para".[153]
Aquele que é digno o é com base moral. Somente o moralmente apto poderia tomar o livro e abri-lo.[154]
Ser digno, neste texto, implica pegar o livro que está nas mãos daquele que é o centro do céu e que tem poder e glória supremos. Quem estaria à altura para fazê-lo? é quase uma pergunta retórica, com a óbvia resposta: "ninguém"! Nenhuma criatura seria digna! E é exatamente o que João vê a seguir (v.3)
Versículo 3
E ninguém podia, no céu, nem sobre a terra, nem de debaixo da terra, abrir o livro nem olhar para ele.
Versículo 4
E comecei a chorar (chorava)[155] muito, porque ninguém foi achado digno para abrir o livro, nem para olhar para ele.
A falta de habilidade/capacidade/poder[156] significava falta de condições morais para agir como era necessário.
Versículo 5
E um dentre os anciãos me diz: Não chores![157] Eis que venceu o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, para abrir o livro e seus sete selos.
"Leão de Judá" - nos escritos rabínicos é uma designação para o Messias. A expressão vem de Gn 49.9, onde Judá é comparado a um leão.
"Raiz de Davi" - vem de Is 11.1. Com estas designações o Cordeiro é identificado com a figura histórica de Jesus. Não há como interpretar de outra forma. Na verdade, mais pode ser dito: Sua natureza humana é aqui enfatizada. Da mesma forma, mais adiante, Sua divindade será declarada (ver exegese do v. 13).
A vitória - a conquista do mundo, pelo sacrifício da cruz e ressurreição - Jo 16.33; Ap 1.18; 3.21. Um dos frutos de Sua vitória é que Ele é o único que pode abrir o livro de Deus, sobre o destino do mundo; Ele somente pode comandar a História do mundo, com base na Sua obra.[158]
Versículo 6
E vi no meio do trono e dos quatro seres viventes e no meio dos anciãos um Cordeiro parado, como tendo sido morto,[159] tendo sete chifres e sete olhos, os quais são os [sete] Espíritos de Deus, enviados[160]para toda a terra.
O "Cordeiro" como designação de Jesus: Jo 1.29,[161] 1 Pe 1.19,[162] Is 53.7.[163] Jesus é chamado de Cordeiro 29 vezes no Apocalipse.[164]
Chama a atenção o fato de que Jesus é chamado "Leão" e "Cordeiro" no mesmo contexto. Isto parece acentuar majestade e mansidão ao mesmo tempo, qualidades que caracterizaram a vida terrena de Jesus.[165]
Digno de nota é o fato que Jesus aparece como Cordeiro que havia sido morto (=sacrificado). As marcas de Sua morte são agora marcas de vitória, pois Ele está vivo.
Os "sete chifres" - sinal de força (Dt 33.17). Os sete chifres simbolizam o poder pleno que Cristo tem, como vitorioso Senhor que é. (cf. Mt 28.18; Jo 17.1).[166]
Os "sete olhos" - os sete Espíritos de Deus - lembra onisciência. a expressão sobre o Espírito lembra Zc 4.10. Jesus envia o Seu Espírito para a missão que Ele prometeu aos apóstolos (Lc 24.49; Gl 4.6).[167]
Versículo 7
E veio e tomou [o livro] da mão direita do que estava sentado sobre o trono.
O tomar do livro serve como símbolo da entronização do Cordeiro. Pode muito bem ser uma figura da Ascensão de Jesus. Esta seria, então, a visão celestial da Ascensão. Os céus se alegram (v. 12-14) quando o Filho vem de volta!
Versículo 8
E quando Ele tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos se prostraram diante do Cordeiro, tendo cada um harpa e bacias[168] de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos,
"Harpa" - instrumento tradicional para salmodia (Sl 33.2; 98.5).
O uso da simbologia do incenso para a oração é usado no Sl 141.2. Como os anciãos representam a totalidade da Igreja, sua ação retrata bem o culto da Igreja ao seu Senhor, reconhecendo ser Ele o único que é digno para salvar.
"Se prostraram" - demonstra o caráter divino do Cordeiro. O verbo piptw é usado 22 vezes no Apocalipse (cfe. Moulton-Geden, Greek Concordance, 105):
- 12 vezes - alguém caindo (cidade, reis, estrela;
- 1 vez - cair da fé;
- 9 vezes - para adoração
. 2 x - diante do anjo, que não aceitou - 19.10; 22.8
. 4 x - diante do Pai - 4.10; 7.11; 11.16; 19.4
. 1 x- diante do Pai e de Jesus - 5.14
. 2 x - diante de Jesus - 1.17; 5.8.
Versículo 9
e cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e abrir-lhe os selos, porque foste morto e compraste para Deus com teu sangue de toda tribo, língua, povo e nação
"Novo cântico" - é a primeira vez que se menciona o cantar no céu. Outras ocasiões aparecerão - 14.2,3; 15.3. O cantar de um cântico novo já é mencionado no AT: Sl 33.3; 40.3; 96.1; 98.1; 144.9; 149.1; Is 42.10. Lá denotam um cântico de louvor vibrante pelos feitos de Deus. Aqui no Apocalipse é o cântico em que a Igreja celebra a salvação concretizada por Cristo. está dentro de um contexto onde há muitas coisas novas: um novo nome (2.17; 3.12); nova Jerusalém (3.12; 21.2); novos céus e nova terra (21.1); todas as coisas novas (21.5).[169]
A pergunta do anjo (v. 2) havia sido sobre quem seria digno; na resposta aparece Cristo, o vitorioso. A dignidade de Jesus não se prende à Sua natureza divina. Ela não vem da Sua relação única com o Pai, com quem é consubstancial (Credo Niceno). A dignidade está ligada à Sua vitória, que vem da Sua morte sacrificial e substitutiva. Esta mesma verdade também é expressa em At 2.36; Deus, o Pai, fez de Jesus Senhor e Cristo, e isto está ligado à obra da salvação. É por isso que não é possível ter verdadeira fé em Deus sem a fé na obra de Cristo, particularmente na Sua morte de cruz. Uma fé que não se apegue na cruz não é fé verdadeiramente cristã. Um "Cristo" proclamado à parte da cruz não é o Cristo digno de abrir o livro da História do mundo!
Versículo 10
e os fizeste para nosso Deus reino e sacerdotes, e reinarão sobre a terra.
"Reino" - neles Deus manifesta o Seu reinar, pelo Evangelho. "Sacerdotes" - pois podem chegar diante de Deus, pelo sacrifício único já realizado por Jesus.
"Para nosso Deus" - o ser reino e sacerdote é uma situação aqui descrita dentro do relacionamento com Deus, não com o próximo. Fomos redimidos para poder ser povo de Deus e para poder levar até Ele nosso culto de adoração. Pode-se dizer que este aspecto do nosso ser reino e sacerdote manifesta-se de forma especial no culto da Igreja, quando ainda aqui no tempo rendemos a Deus honra e glória e lhe dedicamos a vida que Ele nos deu, com tudo o mais que a acompanha.
"Reinarão" - desde já (ver leitura variante), na proclamação do evangelho; plenamente, com Cristo, no juízo.
Versículo 11
E olhei e ouvi voz (som) de muitos anjos em volta do trono e dos seres viventes e dos anciãos, e era o seu número de miríades[170] de miríades e milhares de milhares,
O fato de que os anjos são aqui apresentados ao lado dos anciãos e seres viventes, não identificando-se com eles (apenas no objetivo, de louvar a Deus), mostra que devemos identificar aqueles seres e os anciãos não com anjos. Isso é mais evidente no caso dos anciãos; no entanto, também com os seres viventes - talvez seja, por isso, apropriado considerá-los, se anjos, como anjos numa função especial como guardiões da natureza (e aqui, seus representantes).
Versículo 12
dizendo com grande voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder e riqueza e sabedoria e força e honra e glória e louvor.
Anjos não são apenas desinteressados espectadores, mas vibram com a obra de Cristo na Igreja (Ef 3.10; 1 Pe 1.12).[171]
Qual o referente para este "receber" ? Primeiro, o fato do Pai entregar a Jesus, segundo a natureza humana, toda a autoridade (Mt 28.18), glorificando-o acima de tudo (Fp 2.9-11). Depois, por toda a criação, que se curva ante a obra de Jesus e ao reconhecimento do Pai.
Versículo 13
E toda criatura que [está] no céu e sobre a terra e debaixo da terra e sobre o mar e todas as coisas que estão neles, ouvi dizendo: Ao que está sentado sobre o trono e ao Cordeiro [sejam] o louvor e a honra e a glória e o poder pelos séculos dos séculos.
"Toda a criatura ..." - a expressão é a mesma do v. 3. Os "indignos" louvam Aquele que foi digno e fez para eles o que a eles era impossível.
A natureza agora, na sua totalidade e não apenas por representantes, celebra o Criador. Aqui se manifesta a razão de existir de todas as coisas - foram criadas para a glória de Deus, para lhe render louvor.
No cântico de louvor, o Cordeiro é colocado ao mesmo nível do Pai, que está sentado no trono. Vale lembrar que este livro é escrito para cristãos em grande parte de origem judaica. Para os judeus, louvar alguém outro que não Deus é blasfêmia. Este é, pois, um dos claros testemunhos da Escritura da divindade de Jesus, ao atribuir a Ele o mesmo culto que é dado a Deus Pai.
Versículo 14
E os quatro seres viventes disseram: Amém! E os anciãos se prostraram e adoraram.
Anotações de aula de autoria do Rev. Gérson Luis Linden
para o curso de Exegese de Apocalipse
Matarial sedido pelo autor e compilado sem correções por Cláudio Horst Morgentern, 01.1996.
[1]Ecclesiastical History, 101.
[2]Ibid., 103.
[3]Para uma proposta muito diferente, de que João teria escrito o Apocalipse entre 68 e 70, ver: Robinson, John A. T. Redating the New Testament (London: SCM Press, 1976), 221-253.
[4]Não houve negligência eem relação ao livro nos círculos escolásticos. E. Lohmeyer escreveu artigos teológicos (TR) em 1934 e 1935, mostrando o grande número de artigos e livros sobre o Apocalipse entre 1920 e 1934, e desde então o volume de publicações não diminuiu.
[5]Ecclesiastical History, p. 188.
[6]Eusébio, EH, 246.
[7]Material traduzido e adaptado a partir de: Robert H. Mounce, The Book of Revelation, NICNT, 41-44.
[8]Johannes H. Rottmann, Vem, Senhor Jesus, 27.
[9]Swete, 1.
[10]Swete, 1.
[11]Mounce, Robert H. The Book of Revelation, 64.
[12]Swete, 2.
[13]Deu testemunho.
[14]Swete, 3.
[15]Swete, 3.
[16]Swete, 3.
[17]Swete, 3.
[18]Cf. anotações do Prof. Paulo Flor.
[19]Rottmann, Johannes H. Vem, Senhor Jesus, 37.
[20]Swete, 4.
[21]Como vários pais argumentaram - cf. Swete, 4.
[22]Swete, 5,6.
[23]Swete, 6.
[24]Swete, 7.
[25]Swete, 7.
[26]Partc. Aor. A leitura variante traz loysanti, do verbo louw, lavar, banhar (referindo-se muitas vezes à purificação ritual antes dos sacrifícios e de entrar no Templo).
[27]Swete explica a diferença entre o Presente e o Aoristo neste caso como um "contraste entre o permanente agape e o ato completo da redenção" (7).
[28]ekkentew - atravessar, perfurar, traspassar. Só usado neste texto e em João 19.37 (citação de Zc 12.10), numa referência à morte de Cristo na cruz.
[29]Swete, 11.
[30]pressão, opressão, aflição. Angústia e sofrimento causados por circunstâncias externas (normalmente perseguição).
[31]BAGD, 846.
[32]Swete, 12.
[33]verbo eimi.
[34]verbo ginomai.
[35]Aoristo imperativo - parece denotar um "escreve já", à medida em que a revelação é recebida.
[36]Mounce, 76.
[37]ou: com um talar.
[38]perizwnnumi - cingido.
[39]cf. Swete, 15.
[40]Donald Guthrie mostra que Jesus usou este título para falar tanto do Seu ministério terreno, como de Seu sofrimento e morte e posterior exaltação. Tomando por base Dn 7, que une sofrimento e glória, Guthrie propõe que Jesus usou este título como uma declaração de Sua messianidade. Ele preferiu este título a "Messias", pois este último traria consigo conotações políticas, que Ele quis evitar (New Testament Theology, 278-281).
[41]Swete, 16.
[42]Swete, 16.
[43]Esta com uma particular importância: o olhar de Jesus a Pedro, quando este o negava; e que o levou a sair dali, em choro de arrependimento.
[44]Há uma dificuldade na tradução desta palavra, visto aparecer apenas aqui e em Ap 2.18. A versão Siríaca traduz como um metal do Líbano e as latinas, como uma liga de ouro, uma mistura de metais.
[45]lit.: aquecido até o ponto de brilhar.
[46]lit.: voz.
[47]Swete, 17.
[48]Swete, 18.
[49]lit.: tendo (Particípio Presente ativo).
[50]"de dois gumes", Hb 4.12.
[51]aparência, face.
[52]Swete, 18.
[53]Bíblia de Jerusalém, 1236.
[54]BAGD, 659, coloca como significado de piptw "cair, o passivo da idéia dada por ballw".
[55]Swete, 19.
[56]Swete, 20.
[57]Swete, 21.
[58]Aoristo 2, Ind. oraw.
[59]Usado com o Aoristo infinitivo para designar algo que: está para acontecer; acontecerá inevitavelmente; está no propósito para ocorrer; necessariamente acontecerá em razão de um decreto divino (como neste caso). BAGD, 500,501.
[60]Swete, 22.
[61]Swete, 22.
[62]W. Hendricksen, More Than Conquerors, 75.
[63]Rottmann, 79.
[64]Swete, 24.
[65]Hendriksen, 77.
[66]Swete, 25.
[67]Swete, 26.
[68]Rottmann, 87.
[69]Hendriksen, 77,78.
[70]Hendriksen, 76.
[71]Rothmann, 89,90.
[72]Swete, 30.
[73]E. M. B. Green, Novo Dicionário da Bíblia, I:539. Segundo Swete (30) a Igreja ainda existe lá, constituindo-se a metade da população de ortodoxos gregos. Há também, ainda segundo Swete, uma grande e rica Biblioteca de material cristão.
[74]Talvez também com a própria situação da cidade, que fora destruída, mas que "ressurgiu" após um período de obscuridade - havia sido destruída pelos lídios no século VII a.C. Foi nundada novamente no século III a.C. (O Novo Dicionário da Bíblia, I:539)
[75]O uso do Aoristo parece querer focar a atenção no fato histórico da ressurreção (Swete, 31).
[76]Hendriksen, 80.
[77]Swete, 31.
[78]Swete, 31,32.
[79]Seguindo a leitura variante. No texto de Nestle-Aland: Nada. Note-se que na edição anterior de Nestle-Aland, a leitura variante estava no texto.
[80]ou: provados.
[81]A evidencia textual e a seguinte:
- exete - ("tereis" - Futuro)_ 046 1006 1611, etc, it vg syr cop alguns pais.
- ecete - ("tendes" - Presente) - C 2053 etc.
- echte - ("que vos tenhais" - Aoristo Subjuntivo) - A P 1854 etc.
[82]Imperativo Presente de ginomai. Swete propõe como tradução: "Prove ser fiel..." (32).
[83]Hendriksen, 81. Tempo que aponta para um final que vem chegando (Swete, 32).
[84]Novo Dicionário da Bíblia, I:539.
[85]Hendriksen, 79.
[86]Novo Dicionário da Bíblia, I:539.
[87]Hendriksen, 79.
[88]Swete, 33.
[89]Passivo do verbo adikew (causar mal)com a preposição ek, que denota a fonte de onde vem o dano, a injúria, o mal.
[90]O Novo Dicionário da Bíblia, III: 1272.
[91]Hendriksen, 82.
[92]Gen. objetivo: "fé em mim"; ou gen. subjetivo: "minha fidelidade". Provavelmente o primeiro.
[93]Swete, 34.
[94]Imperfeito.
[95]Hendriksen, 83.
[96]Swete, 36.
[97]Hendriksen, 84.
[98]Swete, 39.
[99]O Novo Dicionário da Bíblia, III: 1272.
[100]Hendriksen, 84-86.
[101]Lit.: "matarei na morte".
[102]Lit.: rins.
[103]O Novo Dicionário da Bíblia, III: 1439.
[104]Swete, 50.
[105]Swete, 50.
[106]Hendricksen, 90.
[107]NDB, III: 1489.
[108]Swete, 51,52.
[109]É um verbo que vem do uso legal: "um homem concorda com a declaração de outro, concede ou confessa algo (e.g. sua culpa diante do juiz), concorda com algo (e.g. a vontade de outra pessoa), e assim promete. Este acordo se expressa num ato de compromisso, promessa ou confissão num tribunal ou num contrato legal" (D. Fuerst, O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, I: 465.
[110]O Novo Dicionário da Bíblia, II: 619.
[111]Swete, 54.
[112]Swete, 54.
[113]"Constância de Cristo" - Almeida R.A.
[114]"Suportou a cruz" - Almeida R.A.
[115]O Novo Dicionário da Bíblia, II: 619.
[116]Swete, 57.
[117]Em gratidão a Tibério, pela sua ajuda na reconstrução da cidade após um terremoto (cf. R. H. Mounce, The Book of Revelation, In NICNT, 121.
[118]Cf. o nome de família de Vespasiano; cf. Mounce, 121.
[119]O Novo Dicionário da Bíblia, II: 619.
[120]Swete, 58.
[121]NDB, II: 908.
[122]Hendriksen, 93,94.
[123]Swete, 59.
[124]Uma explicação semelhante é oferecida por J. Rottmann, Vem, Senhor Jesus, 132,133. Também por Swete, 60.
[125]NDB, II: "Apesar de toda a sua riqueza, a cidade não podia produzir nem o poder curativo da água quente, como a sua vizinha Hierápolis, nem o poder refrescante da água em Colossos; mas podia produzir apenas água morna, útil apenas como vomitório" (908).
[126]Swete, 62,63.
[127]Swete, 63.
[128]Swete, 63.
[129]Swete, 64.
[130]Imperfeito de keimai (que pode ser usado como passivo de tiqhmi).
[131]Swete, 67.
[132]Swete, 69.
[133]Swete, 70.
[134]Zwa - plural de zwon, que pode significar:
1) seres (denotando criaturas que não são nem bem humanas, nem animais de espécies usuais) - por exemplo, o mitológico Fênix. Aqui no Ap. lembram os seres de Ez 1.5ss (querubins). (Ap 5.6,8,11,14; 6.1,3,5-7; 7.11; 14.3; 15.7; 19.4)
2) animal (2 Pe 2.12; Jd 10).
3) criaturas viventes, englobando tanto homens como animais.
[135]Swete, 70.
[136]Hendriksen, 104.
[137]Hendriksen aponta as semelhanças entre a cena descrita no Ap 4 e em Ezequiel, sobre os seres viventes:
1. São chamados da mesma forma - Ez 1.5; Ap 4.6.
2. O número simbólico é o mesmo (4) - Ez 1.5; Ap 4.6.
3. Sua aparência se assemelha, em ambos os casos, ao leão, novilho, homem e águia - Ez 1.10; Ap 4.7.
4. Em ambos os casos os seres estão intimamente associados ao trono -Ez 1.26; Ap 4.6.
5. Em ambas situações fogo vem de entre os seres - Ez 1.13; Ap 4.5.
6. Os seres estão cobertos de olhos - Ez 1.18; cf. 1.12; 10.12; Ap 4.8.
7. Em ambos os casos um arco-íris envolve o trono, com o qual os sers estão associados - Ez 1.28; Ap 4.3. (Hendriksen, 106).
[138]Swete, 71.
[139]Hendriksen, 106.
[140]Swete, 71.
[141]Swete, 71,72.
[142]Hendriksen, 107.
[143]Swete, 72.
[144]Swete, 72.
[145]Swete, 73.
[146]Swete, 73.
[147]diademata.
[148]Swete, 74.
[149]Hendriksen, 101.
[150]Hendriksen, 103.
[151]Swete, 75.
[152]Swete, 75.
[153]Werner Foerster, TDNT, I: 379.
[154]Swete, 76.
[155]O significado do Imperfeito:
1) ação contínua - eu estava chorando.
2) ação habitual - eu costumava chorar.
3) ação inceptiva - eu comecei a chorar.
4) ação conativa - eu tentei chorar.
5) ação repetitiva - eu repetidamente chorava.
Só o contexto pode determinar qual das cinco possibilidades é a mais apropriada num determinado caso.
(James W. Voelz, Fundamental Greek Grammar, 63)
[156]dunamis.
[157]Pres. Imperativo: "Não continues a chorar", ou: "Pare de chorar".
[158]Swete, 77.
[159]Particípio Perfeito Passivo de sfazw.
[160]Nom. pl. masc. do Particípio Perfeito Passivo. leitura variante: Nom. pl. neutro do Particípio Presente Passivo.
[161]amnos.
[162]amnos.
[163]probaton, amnos.
[164]Swete, 78.
[165]Swete, 78.
[166]Swete, 78.
[167]Swete, 79.
[168]Normalmente usadas em sacrifícios.
[169]Swete, 81.
[170]Miríade = 10.000.
[171]Swete, 83.