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diaballô (formado de dia, "através de", e ballõ, "jogar") significa "jogar por cima ou através de", "dividir", "semear contendas", "acusar", "fazer acusações", "caluniar", "informar", "rejeitar", "descrever falsamente", "enganar". No NT é empregado somente em Lc 16:1 a respeito do Mordomo Infiel que (com justiça!) foi acusado de desfalque e denunciado (-> Casa, art. oikonomia NT 1 (a)). Do vb. deriva o subs. diabolos, "caluniador", "acusador", "diabo". É raramente achado fora do NT e da LXX.
AT 1. Na LXX diabolos ocorre 21 vezes (13 vezes em Jó 1 e 2). Com a exceção de Et 7:4 e 8:1 (que têm sàr e sórèr, "adversário") sempre traduz o Heb. satãn, que também é transcrito três vezes simplesmente por satan (1 Rs 11:14, 21a, 25b). A forma aram. é sãtãnã'. Satanás no AT significa um "adversário" ou "oponente maligno". Em 1 Sm 29:4 satãn (LXX epiboulos) é empregado para um sabotador em potencial entre as fileiras; em 1 Rs 11:23, 25 denota o líder de uma facção e, mais tarde, rei da Síria, Rezom (mas ver também SI 109 [108]:6, onde a LXX tem diabolos). satãn também é empregado para o anjo que barrou o caminho de Balaão (Nm 22:22, 32). Éno prólogo a Jó que Satanás aparece pela primeira vez como ser celestial, que acusa os justos diante de Deus (o Promotor Público no céu!). Aparece de modo semelhante em Zc 3:1-2. A palavra é empregada pela primeira vez como nome pessoal em 1 Cr 21:1, onde Satanás instiga -* Davi a empreender o censo do povo. O relato mais antigo enfatiza a ira de Javé (2 Sm 24:1). No AT, Satanás não é o diabo no sentido posterior da palavra; não é um princípio maligno que se opõe a Deus. A LXX talvez mostre uma leve mudança nesta direção, quando evita o emprego de diabolos na tradução das referências em Números e Samuel; torna a palavra menos ambivalente, e coloca a ênfase principal em Jó. Outras ocorrências de diabolos na LXX são Sab. 2:24; e 1 Mac. 1:36. A Vulgata traduz o Heb. hêlèl (LXX heõsphoros) em Is 14:12 por "Lúcifer", lit. "aquele que brilha", i.é, a Estrela da Manhã (ARA). A referência não é a Satanás mas, sim, ao rei da Babilônia (-► Luz, art. phôs NT 4).
2. No judaísmo posterior, o diabo é especialmente identificado com a "inclinação maligna" e com o "anjo da morte". Agora tem um caráter claramente maligno. Como no AT, é o acusador dos homens diante de Deus. A queda dos -* anjos desempenha um papel grande (sendo ligado com Gn 6:1 e segs.; -> Demônio, art. daimonion AT 2) sem ter qualquer significado fundamental (Enoque Et. 86:1-88:3; Jub. 5:1-12; CD 2:18-21). Os espíritos impuros que enganaram os netos de -> Noé são filhos dos "Vigilantes" (Jub. 19:28). A grande maioria destes espíritos foi destruída, mas uma décima parte permaneceu, e com estes espíritos Mastema consegue realizar seu propósito entre os homens (Jub. 10:8). Do resto, os demônios ficam lado a lado com Satanás por seu próprio direito, ao passo que este funciona como único acusador diante de Deus. Não há relato da sua queda do céu: senão, não poderia ser o acusador. Procura acima de tudo desfazer o relacionamento entre Deus e Israel, mas também se esforça para separar de Deus o restante da humanidade. Sua atividade é descrita de modo resumido porém eficaz em Baba Bathra 16a: "Foi ensinado em Baraitha: Satanás desce e engana, sobe e acusa, toma pela força o poder e as almas". São apenas tradições posteriores que declaram que Satanás tinha sido um anjo de alta categoria. Os rabinos concediam que o homem tinha livre arbítrio, para capacitá-lo a guardar a lei e a repudiar a inclinação maligna ou Satanás-Samael.
3. Nos escritos de Cunrã, Belial aparece como nome do espírito maligno. Deus criou dois espíritos, o espírito da luz e o espírito ou anjo das trevas (Belial), sendo que os
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dois exercem seu poder no presente (1QS 1:18; 2:5, 19; 3:20-23). Belial é o anjo da malevolência (1QM 13:12), que vive no coração dos seus seguidores, os "filhos das trevas" (1QS 1:10) e que governa através do pregador da apostasia (CD 12:2). Os inimigos dos justos estão cheios das "manhas de Belial" (1QH 2:16-17; 6:21; 7:4). Os seguidores de Belial são chamados sua "congregação" (1QH 2:22). A incastidade, as riquezas e a profanação do templo são as "três redes de Belial" (CD 4:15). Seu poder é como uma inundação, que ameaça o mundo e os justos (1QH 3:29, 32; 5:39). Deus, porém, protege Seus justos (1QM 14:9). Belial e seus seguidores são solenemente amaldiçoados (1QS 2:4-9; 1QM 13:4-5). Os "espíritos da sua companhia" são "anjos de destruição" (1QM 13:12). Nos últimos dias, depois da comunidade de Cunrã ter-se separado do restante do povo, Belial é solto contra Israel (CD 4:13). No fim dos dias, na guerra final, os "filhos das trevas" se constituem em exército de Belial (1QM 1:1, 13). Será destruído, porém (1QM 11:8-9), porque o próprio Deus está lutando contra Belial (1QM 15:3; 18:1, 3), e Sua ira violenta está despertada contra ele (1QM 4:1-2). A -> maldição de Josué (Js 6:6) significa que um homem maldito, alguém da companhia de Belial, voltará a edificar Jerico (4Qtest 23). Nestes escritos, portanto, Belial já não aparece como acusador e, portanto, não tem acesso ao céu nem a Deus. Não se declara, ainda, que foi Belial aquele que enganou, -> Adão e assim trouxe o pecado para o mundo. Esta mesma figura aparece como Beliar em Test. XII, e, segundo Eno-que Et. 54:6, Azazel e suas hordas ficaram sendo súditos de Satanás.
4. Beelzeboul é substantivo indeclinável (outras versões têm Beezeboul e Beelze-boub). A origem e o significado deste nome não estão inteiramente claros. Em 2 Rs 1:2-3 e 6:16 ba'al zebüb, "Senhor das Moscas", parece ser o deus de Ecrom. Beelzeboul pode ser derivado de ba'al zebúl, "senhor das alturas", i.é, do céu, e assim, "senhor do céu" ou "Deus do céu". Mais provavelmente, Bee(l)zeboul deriva-se de baal zibbül (do Heb. pós-AT zebelf "estéreo", "estrume"; sendo que zibbül significa um sacrifício idolatra) — "senhor do sacrifício idolatra" — que ao mesmo tempo é equiparado com estéreo. Há a possibilidade adicional de derivar o nome de um deus-corço heteu, Zaparwa que, através da forma Zebaba, ficou sendo ba'alzebüb para os filisteus em Ecrom. A derivação do Aramaico levaria a be'el debãbã, "senhor da inimizade", "inimigo"; ou a be'el dibaba, "senhor das moscas" (cf. o Aram. da Galiléia, dibabã, "mosca").
NT 1. No NT diabolos ocorre 37 vezes, Satanas 36 vezes, Bee(l)zeboul 1 vezes. Além disto,há os seguintes nomes: o -> "inimigo", echthros; o -> "maligno", ho ponèros; o "príncipe deste mundo", ho archõn tou kosmou toutou (-> Princípio); o "adversário", antidikos, que é uma tradução literal de satãn no AT (1 Pe 5:8). Marcos usa exclusivamente satanas. Lucas prefere esta palavra na sua matéria especial, mas não é possível estabelecer qualquer diferença básica de significado em contraste com diabolos. Este último nunca é empregado como forma de trato (cf. Mt 4:10 com 4:1, 5, 8,11).
2. Em Mt 25:41, "anjos do diabo" (tou diaboloü) são mencionados (cf. também 2 Co 12:7; -> Fruto, art. skolops). De modo semelhante, no relato da tentação (Mt 4:1-11, par. Mc 1:12-13, Lc 4:1-13), o diabo, como nos escritos de Cunrã, arroga a si mesmo a posição de senhor do mundo, esperando, mediante a transferência deste título, desviar Jesus do Seu caminho (-> Tentar). Apropriadamente é chamado o "príncipe deste mundo" (archõn tou kosmou toutou, Jo 12:31; 14:30; 16:11). O lugar do diabo não é o -> inferno; o fogo eterno está preparado para o diabo e todos os seus anjos (Mt
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25:41). Assim como no AT, tem acesso a Deus, a fim de acusar a humanidade (Lc 22: 21; Jo 12:31; 16:11). Logo, Jesus ora em favor da fé dos Seus discípulos e os ensina a orar em prol da libertação do maligno (Mt 6:13).
Conforme Lc 10:18, Jesus viu a queda de Satanás (o acusador no céu). Aconteceu depois da volta alegre dos setenta que dizem a Jesus: "Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome!" (Lc 10:17). Ap 12:5, 7-12 liga esta queda de Satanás com o aparecimento do próprio Jesus. Em Ap 12:9, diabolos e Satanas ficam lado a lado como palavras de igual peso e significado, ao passo que no v. 8 esta figura é descrita como sendo um drakôn, -> "dragão", ou ophis, "serpente", e no v. 10 como -» acusador, katègõr. Este fato desfaz o conceito dualista do mundo sustentado em Cují-râ: Jesus derrotou e desarmou o diabo, e, portanto, pode tirar dele a sua presa — i.é. Jesus pode curar os que estão endemoninhados (Mt 12:27-29). (Quanto à luz que isto lança sobre a questão do milênio -> Número, art. chilias NT 4).
Mas ainda que Satanás tenha sido expulso do céu, nem por isso deixa de ser capaz de agir. Os judeus descrentes são do pai deles, o diabo (Jo 8:44). Pedro foi tratado de "Satanás" e identificado com ele, porque procurou desviar Jesus do Seu caminho da obediência com sofrimento (Mt 16:23 par. Mc 8:53). Também pode ser dito que Satanás entrou em Judas, quando este se dispôs a trair a Jesus (Lc 22:3; Jo 13:27; cf. Jo 6:70; 13:2 [diabolos]). A hora das trevas é a hora dele (Lc 22:53; note a terminologia dualista). Satanás pode — mas não necessariamente! — ficar por detrás das doenças (Lc 13:16; çf. 2 Co 12:7; e At 10:38 [diabolos]). Arrebata a palavra salvadora dos corações dos homens para evitar que creiam e sejam salvos, na parábola do semeador (ho ponêros, "o maligno", Lc 8:12). Mas não é somente com relação a indivíduos, mas também em relação à -» igreja que alguém pode ser chamado diabolos, se procura impedir a palavra salvífica de Deus. Por exemplo, na parábola do joio e do trigo (Mt 13: 24-30), a presença do "mal" na comunidade é explicada pela atividade do -» "inimigo". Ao registrar esta -> parábola, Mateus está fazendo um contraste implícito com i solução que Cunrã deu ao problema. Ali, os violadores da lei são excluídos da comunidade do povo de Deus pelas medidas disciplinares da própria comunidade antes do juízo final, deixando apenas a comunidade pura e salva. A parábola ensina a impossibilidade de uma igreja absolutamente pura; a igreja na terra é inevitavelmente um corpo misto. A separação é a tarefa especial somente do juiz escatológico (-> Presente: art. A Parusia e a Escatologia no NT; -* Julgamento).
Sobre o "mal" no Pai Nosso e outras ocorrências de ponêros -> Mal; -* Oração, art, proseuchomai NT 2.
3. (a) Nos escritos paulinos, diabolos acha-se somente em Ef 4:27 e 6:11 (e 6 vezes nas Epístolas Pastorais: 1 Tm 3:6-7, 11; 2 Tm 2:26; 3:3; Tt 2:3). De resto, Satanas ê a palavra regular (e ela, por sua vez, aparece nas Pastorais somente em 1 Tm 1:20, retomando o uso lingüístico de 1 Co 5:5 e 1 Tm 5:15 para os cristãos que recaem no dis-cipulado de Satanás [-> Discípulo, art. opisõ]). Mas este nome não é muito comum, tampouco; há apenas 10 referências (Rm 16:20; 1 Co 5:5; 7:5;2 Co 2:11; 11:14; 12: 7; 1 Ts 2:18; 2 Ts 2:9; 1 Tm 1:20; 5:15). Em 2 Co 6:15 Paulo faz uso do nome Belkr. que se acha nos escritos de Cunrã. Na realidade, a totalidade da seção 2 Co 6:14 e segs. relembra o pensamento de Cunrã, com seus pares de idéias contrárias, tais como a justiça e a injustiça, a luz e as trevas, Cristo e Beliar, a crença e a descrença, o templo de Deus e os templos dos ídolos. Paulo também atribui muitos infortúnios e dificuldades à obra de Satanás. O "espinho na carne" é um "mensageiro de Satanás" enviado para esbofeteá-lo (2 Co 12:7; -> Fruto, art. skolops). Satanás quer lograr Paulo (2 Co 2:11).
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Para evitar que Paulo faça uma viagem (I Ts 2:18), Satanás pode transformar-se em -> anjo de -> luz, e, com este disfarce, disseminar pensamentos impuros através daqueles que envia (2 Co 11:14). Tenta as comunidades cristãs (1 Co 7:5; 2 Co 2:1; 1 Ts 3:5). E astuto e enganoso (Ef 6:11; aqui, e nas referências seguintes, usa-se diabolos); monta armadilhas (1 Tm 3:7; 2 Tm 2:26) e é encontrado na calamidade e no pecado como "príncipe da potestade" do ar (Ef 2:2, -* Demônio, art. aêr).
(b) Em 1 Co 5:5 o pecador infame deve ser excluído da congregação e entregue a Satanás para a morte (-> Destruir, art. olethros). Este anátema (-* maldição) visa possibilitar ao pneuma, ao -> espírito (a -> alma?) deste homem que seja salvo. Desta maneira, Himeneu e Alexandre devem ser entregues a Satanás para serem punidos, e dissuadidos das suas blasfêmias (1 Tm 1:20); não devem ser mortos (cf. At 5:5 e segs.). Por detrás destas instruções disciplinares há o conceito judaico de Satanás como senhor da morte e da destruição, e como executor da ira divina, de cujo controle a membre-zia da congregação obtinha a libertação, e para cujo controle o culpado agora é jogado de volta.
4. A área de atividade do diabo é primariamente o mundo não-cristão (At 26:18; cf. 2 Co 6:16), e, portanto, a -> magia é vinculada com ele (At 13:10). Um história apocalíptica, cuja origem é, presumidamente, a Assunção de Moisés, e que conta de um ataque do diabo contra o arcanjo Miguel, é pressuposta em Jd 9 (-> Anjo, art. Michaèl; -> Blasfêmia, art. blasphêmeõ NT 6). At 5:3; Ap 2:9-10 e 20:7 também falam da luta de Satanás contra a comunidade cristã.
5. No tempo do fim, Satanás envia o -* Anticristo (2 Ts 2:3-12; a besta de Ap 13: 17; -> Animal, art. thèriún). Mt 25:41; Ap 20:10 (cf. 1 Jo 3:8; Hb 2:14), e possivelmente também Rm 16:20, falam da destruição do diabo no fim. Furioso e violento, reconhece que até então tem pouco tempo, e esbraveja loucamente contra o povo de Deus (Ap 12:12, 16-17). Sobre a prisão de Satanás e a questão do milênio -* Número, art. chilias NT 4.
6. Tudo que pode ajudar contra a tentação é a armadura de Deus (Ef 6:11, 16; -> Guerra), uma volta resoluta a Deus (Tg 4:7) e uma fé sóbria e alerta. Somente isto pode levar o diabo a perder seu poder, embora fique andando em derredor como leão que ruge, irritado e perigoso (1 Pe 5:8). A razão final da sua derrota, no entanto, é o "sangue do Cordeiro" (Ap 12:11), ou seja, a vitória de Jesus mediante Sua morte na ->cruz.
7. O NT não contém especulação alguma acerca da origem ou da natureza do diabo. Não é equiparado com a inclinação maligna ou com o anjo da morte. Na realidade, faz-se distinção entre a -+ morte e o diabo (Ap 20:10, 14); Satanás, pois, tem poder sobre a morte (Hb 2:14).
8. Nos escritos joaninos há referências ocasionais (Ap 12:9; possivelmente também Jo 8:44; 1 Jo 3:8) ao papel do diabo na história primeva de Gênesis 3. A exegese judaica interpretava a serpente como o diabo. O diabo, portanto, é pecador desde o princípio (1 Jo 3:8), e foi homicida desde o princípio (Jo 8:44b). Não tem participação na verdade; mente, fala por sua própria conta (Jo 8:44c). Este é o modo histórico e não-metafísico de a Bíblia falar. Mas é digno de nota aqui que a dependência do podei do diabo pode mostrar-se não somente nas ações como também nas decisões: os efeitos desta dependência são expressados por João mediante as declarações predicativas de descendência e relacionamento. Quem peca pertence ao diabo, como Caim (1 Jo 3:8,12);ou ele mesmo é um diabo, como Judas, o traidor (Jo 6:70). Logo, os filhos de Deus podem ser contrastados com os filhos do diabo (1 Jo 3:10; cf. Cunrã ^
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supra AT 3). Os inimigos de Jesus são chamados filhos do diabo, i.é, aqueles que par
ticipam da sua natureza e comportamento (Jo 8:44). Quando os "jovens" conseguem
derrotar o maligno (1 Jo 2:13-14), trata-se de um dom da parte de Cristo (cf. Jo 17:
15). Jo 8:44 não fala de um pai do diabo; pelo contrário, tou diabolou está em apoação com patros, i.é, "do vosso pai, a saber: do diabo". H. Bietenliard
9. Bee(l)zeboul no NT é o nome de um demônio principal. Os inimigos de Jesus O acusaram de ser possesso por aquele: "Os escribas, que haviam descido de Jerusalém, diziam: Ele está possesso de Belzebu, e: É pelo maioral dos demônios que expele os demônios" (Mc 3:22; cf. par. Mt 12:24 e o par. em Mt 9:34 "o maioral dos demônios", Lc 11:15; cf. também Mt 10:25; 12:27; Lc 11:18-19 para mais usos do nome). Como resposta, "convocando-os Jesus, lhes disse, por meio de parábolas: Como pode Satanás expelir a Satanás? Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode subsistir; se uma casa estiver dividida contra si mesma, tal casa não poderá subsistir. Se, pois, Satanás se levantou contra si mesmo, e está dividido, não pode subsistir: mas perece. Ninguém pode entrar na casa do valente para roubar-lhe os bens, sem primeiro amarrá-lo; e só então lhe saqueará a casa. Em verdade vos digo que tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados, e as blasfêmias que proferirem. Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo não tem perdão para sempre, visto que é réu de pecado eterno. Isto porque diziam: Está possesso de um espírito imundo" (Mc 3: 23-30; cf. par. Mt 12:25-37; Lc 11:17-23; 12:10, 43 e segs.; e também Jo 8:48-59 sobre a sugestão de que Jesus era um -> samaritano e tinha um diabo). Acusações semelhantes persistiam nos documentos judaicos, atribuindo as obras de Jesus à -> magia: "Yeshu de Nazaré foi enforcado no dia da preparação para a Páscoa porque praticava a feitiçaria e enganava o povo" (Sanhedrin 43a; cf. Sanhedrin 107b; Sotah 47a; T. J. Hagigah 2:2; e as referências nos Pais cristãos, Justino,Zfe/. 69; Origines, Contra Cels. 1, 6, 28, 68, 71; 2, 9, 14, 16,44,48,49, 51; 3, 1; 5, 51; 8, 9, 39; Tertuliano, Adv. Marc. 3, 6; W. L. Lane, The Gospel ofMark, NLC, 1974, 142; H. van der Loos, 77ie Miraclesof Jesus, Supplements to NovT9,1965,158-67).
W. L. Lane comenta: "Ao tacitamente substituir 'Belzebu' por 'Satanás', Jesus traz a controvérsia para dentro da perspectiva da Sua missão como confrontação direta com Satanás. Seu argumento é cumulativo na sua força: Se aquilo que dizeis é a verdade, existe a circunstância impossível de Satanás estar destruindo seu próprio reino. Pois é evidente em si que o reino dividido contra si cairá, e um lar dividido contra si mesmo não poderá ser estabelecido. Se vossa acusação for real, então Satanás dividiu-se nas suas lealdades. Isto deve significar que perdeu seu poder. Mas claramente não é assim, Satanás permanece forte, e este fato desmascara a falácia da vossa acusação" (op. cit.. 142-3). A evidência que comprova por que Satanás permanece forte pode ser dupla. De um lado, há sua atividade entre aqueles que já estão possessos por demônios. (É a missão de Jesus e dos Seus discípulos pregar e expulsar demônios, cf. v. 15.) Do outro lado, há sua atividade entre aqueles que se opõem a Jesus e que atribuem a obra do Espírito Santo (v. 29) a Belzebu. No v. 27, Jesus trata da acusação de que Ele é possesso por demônios. "Satanás é o valente cuja força é evidenciada na escravidão dos homens através do pecado, possessão, doenças e da morte; os demônios são seus servos nesta obra destrutiva... A capacidade de Jesus de expulsar demônios significa que alguém mais forte do que Satanás veio refrear sua atividade e libertar os escravizados. O âmago da missão de Jesus é confrontar Satanás e esmagá-lo em todas as frentes, e no cumprimento da Sua tarefa é consciente de ser o agente de poder irresistível. A