INTRODUÇÂO
O fim do mundo é um tema muito discutido em nossos dias, pois já foram feitas várias previsões, as quais tinham como objetivo descobrir o dia do fim da humanidade, mas claro, todas essas tentativas foram frustradas.
Neste estudo tentaremos identificar quais os motivos que levaram os Tessalonicenses a pensar que o fim do mundo já era próximo. Serão descritos alguns eventos que poderão ser observados antes da Segunda Vinda de Cristo, dentre eles o principal que será a manifestação do anticristo. Teremos ainda algumas descrições do lugar aonde os ímpios irão após o dia do juízo final, quando forem condenados, e também o lugar dos fiéis, que serão salvos.
1 A Comunidade dos Tessalonicenses
A comunidade dos tessalonicenses foi fundada durante a segunda viagem missionária de Paulo. Não se sabe ao certo quanto tempo Paulo ficou junto dos cristãos da comunidade de Tessalônica, provavelmente apenas alguns meses. Depois foi obrigado a se retirar, pois estava em risco a sua vida, devido a algumas perseguições que os cristãos da comunidade de Tessalônica estavam sofrendo. As duas cartas de Paulo aos cristãos de Tessalônica foram escritas provavelmente da cidade de Corinto, com um pequeno intervalo de tempo entre as duas, sendo escritas por volta dos anos 51 ou 52.
Paulo sempre chama os seus congregados de irmãos, dando um clima de afetuosidade e familiaridade entre os crentes e seu pastor, pois Paulo não usa seu poder de apóstolo para com eles, mas antes os trata com amor, se igualando a todos os demais.
O principal motivo que levou Paulo a escrever a segunda carta aos tessalonicenses foi o fato de os cristãos estarem exaltados com uma falsa expectativa de que o dia da vinda do Senhor estava próximo, conforme encontramos descrito em Egenolf (1969, p. 46):
O rumor corria insinuante: É chegado o dia do Senhor! Tal noticia alarmou a muitos. Grande erra o alvoroço, e já não havia quem atendesse a ponderações sensatas e serenas.
Não sabemos ao certo o que levou os cristãos a pensarem que já era próxima a segunda vinda de Cristo, têm-se apenas algumas hipóteses. As principais seriam: que algum falso profeta tenha se infiltrado na comunidade, e estava a pregar o fim dos tempos, ou talvez ainda um membro que tenha feito apenas uma falsa interpretação de algum texto, a assim tenha causado todo esse rebuliço, ou ainda, um simples boato sem fundamento, o qual levou a comunidade a se exaltar de tal maneira.
Em 2Ts. 1.4 lemos: “a tal ponto que nós mesmos nos gloriamos de vós nas igrejas de Deus, à vista da vossa constância e fé, em todas as vossas perseguições e nas tribulações que suportais”, como vemos, a comunidade dos tessalonicenses estava sofrendo sérias perseguições, mas sua fé erra forte e eles não queriam abandonar a Cristo. Claro que, em meio a tanto sofrimento, quando surgiu qualquer palavra de que a segunda vinda de Cristo erra próxima, eles logo abraçaram a idéia, pois isso significava que então seus sofrimentos passariam, pois seriam reunidos para junto de Deus. E juntos de Deus eles sabiam que não sofreriam mais nenhum tipo de perseguição, não teriam mais problemas, e estariam a salvo de qualquer perigo.
Porém, eles não levavam em conta que antes do fim dos tempos, seriam ainda observados vários sinais, como mudanças na esfera da natureza, guerras, e o principal sinal descrito por Paulo, o aparecimento do anticristo, que viria para tentar desviar do caminho certo os que crêem, e levá-los para o caminho da perdição.
Talvez mais um motivo que favoreceu o fato de a comunidade se deixar levar tão facilmente por esses falsos ensinamentos seria que Paulo, como vimos, não pôde ficar muito tempo junto dos cristãos de Tessalônica, e não pôde lhes dar um ensino muito detalhado sobre a palavra, e assim, a comunidade não conseguiu lançar um alicerce firme o suficiente para não mais cair nessas armadilhas. Esse seria outro motivo para Paulo escrever suas cartas, instruir a comunidade um pouco mais na palavra de Deus.
2 A Escatologia na Segunda Carta aos Tessalonicenses
2.1 O anticristo.
Os cristãos de Tessalônica estavam exaltados pelo fato de pensarem que a vinda de Cristo estava próxima, alguns até pensavam que segunda vinda já havia acontecido, porém, Paulo lhes advete dizendo que antes da segunda vinda de Cristo, ainda haveriam de observar alguns sinais, os quais serviriam de alerta para os cristãos de todo o mundo. O principal desses sinais será o anticristo, que virá tentando de qualquer jeito levar os cristãos a “άποστασίας” “apostasia”, ou seja, o afastamento de Deus, a rebeldia contra Deus. Em 2Ts. 2. 3 temos o apóstolo Paulo nomeando o anticristo como “ό άνθπωπος τής άνομίας” “o homem da iniqüidade”, “filho da perdição”.
No final dos tempos, o anticristo virá com toda a força, pois será afastado aquele que o detém, conforme vemos em 2Ts. 2. 6. A hipótese mais aceitável a respeito da questão de quem seria esse que o detém é dada por Marshall (1988, p.234):
É possível que Paulo tivesse em mente alguma figura angelical que estava conservando o mal sob restrição durante o período da pregação até sua manifestação final e aberta; se for assim não é muito difícil pensar nesta figura “afastando-se” mediante a ordem de Deus, no tempo determinado.
Entretanto, nada pode ser afirmado com toda certeza a respeito da identidade desse ser que detém o mal, pois a bíblia não diz claramente quem pode ser esse que mantém preso o mal durante o tempo determinado.
Entretanto, quando o anticristo for solto, ele virá com muito poder, e será capaz de realizar muitos “sinais e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos” 2Ts. 2. 9-10. Sabemos que todos que creram no anticristo serão condenados, pois não persistiram na fé em Cristo, mas creram nas palavras do iníquo, e portanto, são responsáveis por sua própria perdição.
Porém, mesmo com todo esse poder, o iníquo será insignificante, comparado ao poder de Deus. Podemos ter certeza de que não haverá nenhuma luta ou disputa entre o bem e o mal para vencer no dia do juízo, pois não há dúvida, Deus será o vencedor, porque ele é o Senhor de tudo. Em 2Ts. 2. 8 vemos que no dia em que o Senhor chegar, esse anticristo será destruído somente com o sopro da boca de Jesus, tamanho será o poder de Deus comparado ao poder de satanás. Nessa passagem onde Paulo diz que o iníquo será destruído com o sopro da boca de Jesus, ele provavelmente se refere à Palavra de Deus.
Diz Koehler (2002, p.196):
Sobre tudo isso o anticristo se exalta, sobre tudo isso reivindica autoridade e domínio, como vice-gerente de Deus na terra, vice-gerente ao qual estão subordinadas as ordens estabelecidas por Deus. E no santuário ou igreja de Deus, usurpa a autoridade de Deus, afirmando ser o mestre infalível em matéria de fé e moral, e ao qual toda a cristandade deve obedecer como se ele fosse o próprio Deus.
Como vemos, o anticristo não se mostrará abertamente contra Deus, pelo contrário, tentará se passar por Deus, e assim desviar os cristãos do caminho verdadeiro sem que eles mesmos percebam.
Observando todas essas descrições do anticristo, vemos que a pessoa que melhor se encaixa nesses moldes hoje seria o Papado Romano. Diz Koehler (2002, p. 197):
O papa não está fora mas dentro da igreja visível, e se levantou “contra tudo que se chama Deus, ou é objeto de culto” ( 2Ts. 2. 4.). Afirma que é o vigário de Cristo na terra e que tem supremacia sobre todo poder temporal, e certamente exerce autoridade suprema dentro de sua denominação.
Porém, mesmo que o papa pareça ser o anticristo, nada podemos afirmar com toda a certeza, visto que em outras épocas já se pensava que outras pessoas eram o anticristo, e a cada pouco tempo surgem novas hipóteses sobre quem realmente pode ser o iníquo. Ninguém pode ter certeza de quem realmente é o anticristo, já que a bíblia não nos diz com clareza quem ele realmente é, somente nos dá suas características, para que possamos estar vigilantes (Mt. 24. 42).
2.2 A segunda vinda de Cristo, a ressurreição dos mortos e o juízo final
O dia da vinda de nosso Deus é desconhecido a todos, ninguém senão o pai tem conhecimento dessa data, e não cabe a ninguém especular quanto a isso, a única coisa que nos cabe fazer é vigiar para que na hora em que ele chegar estejamos preparados. A única coisa de que realmente podemos ter certeza é que Cristo virá, sem sombra de dúvida, para julgar tanto vivos como mortos, e os que nele não creram serão lançados no inferno, e os que creram serão levados com ele para os céus (Mt. 25. 46). Temos um resumo dos sinais do fim dos tempos em Mueller (2004, p.575):
Entre os sinais dos tempos, as Sagradas Escrituras mencionam as condições anormais: a) na esfera da atividade e vida humanas (guerras, ódio à Igreja, pestilências, fomes, aflição geral, grande iniqüidade, esfriamento do amor, violência) (Mt. 24. 5-14, 37-39); b) no reino da natureza (terremotos, enchentes, distúrbios nos movimentos dos corpos celestes) (Lc. 21.25,26) c) na esfera da igreja (o surgimento de falsos mestres, a apostasia de Cristo, o Anticristo) (Lc. 21.8, 16,17; 2Ts. 2.3,4); etc. assim como a enfermidade é sinal da iminente dissolução da pessoa individual (microcosmo) também os distúrbios no mundo (macrocosmo) prenunciam sua destruição final.
Não sabemos nada certo de como será o fim do mundo, a única coisa da qual podemos ter certeza é que os céus e a terra hão de passar (Lc. 21. 33). Quanto ao modo, à maneira de como vão passar céus e terra, existe uma grande discussão entre vários dogmáticos, os quais não conseguem chegar a um comum acordo, concordam apenas que o mundo irá passar em sua forma atual.
No dia da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, todos os mortos serão ressuscitados, tanto os que morreram crendo em Cristo como os que morreram renegando o seu nome. A ressurreição significa ter novamente restituído o seu verdadeiro corpo, assim, corpo e alma se reunificarão, tanto para justos como para ímpios.
Logo após a segunda vinda de Cristo e a ressurreição dos mortos, será o juízo final, nessa hora todas as pessoas serão julgadas, tanto cristãos como não-cristãos, vivos como mortos.
Os que creram na palavra de Cristo e nele tiveram fé, serão separados dos que não creram, os crentes irão para o lado direito de Deus, receberão agora a vida eterna, felicidade e paz, gozarão de eterna glória junto de Deus, terão a eterna bem-aventurança, e seus corpos serão perfeitos e santos. Os ímpios irão para o lado esquerdo de Deus, e serão condenados a viver eternamente em tormento e tristeza, sofrerão eternamente no inferno, afastados de Deus, e não terão mais nenhuma chance de se arrependerem e obter o perdão de Deus.
3 O Destino dos Ímpios e dos Justos
3.1 A condenação eterna
Os ímpios irão para o lado esquerdo de Deus, serão condenados e lançados no inferno junto do diabo. No inferno sofrerão os mais terríveis tormentos, viverão eternamente apartados de Deus, e não terão mais nenhuma chance de se salvarem, pois já tiveram sua chance na terra e não a souberam aproveitaram. Pois Cristo veio ao mundo para morrer pelos pecados de todos os seres humanos, o perdão já estava conquistado também para esses que agora são condenados, porém, eles não quiseram aceitar a Jesus pela fé. Lastimavelmente, queriam viver no pecado, e não deram ouvidos a Jesus, mas sim a satanás, agora viverão para sempre junto dele, de corpo e alma, na mais horrível aflição e dor. “E serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos.”Ap. 20. 10.
3.2 A vida eterna.
“Porque Deus vos escolheu desde o princípio para salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade.” 2Ts.2. 13.
A recompensa dos que resistiram firmes em Cristo, até o fim, será a vida eterna junto de Deus. A eterna visão bem aventurada de Deus, face a face, sem nenhum obstáculo, nos dará a felicidade suprema.
Conforme o que lemos em John Theodore Mueller (2004, p. 593) vemos que no céu teremos todos os tipos de bênçãos, nada nos irá faltar. O diabo não poderá mais nos tentar, a morte não mais existirá; não teremos mais fome, sede, não sofreremos mais com doenças, essas serão as bênçãos privativas, ou seja, essas coisas nós não vamos sentir. Teremos também bênçãos positivas, as quais vamos sentir, elas se classificam em: bênçãos internas da alma : a iluminação do intelecto,a retidão completa da vontade e dos desejos, a mais alta segurança com respeito à duração perpétua dessa bem-aventurança; e as bênçãos positivas internas do corpo: invisibilidade, espiritualidade, impalpabilidade, ilocalidade, subtilidade, agilidade, impassibilidade, imortalidade e incorruptibilidade, força e sanidade, esplendor e beleza.
Quanto às bênçãos positivas externas lemos em Mueller (2004, p. 593):
Teremos ainda as bênçãos positivas externas, que são as que os bem-aventurados experimentam fora deles. Dessas, são duas as principais: a) a mais deleitante comunhão com Deus, com os anjos e com todos os bem-aventurados, a qual consiste em presença mútua, nas mais agradáveis conversações e na expressão de honra mútua juntamente com amor mútuo; e b) a mais bela e magnificente habitação.
Essas qualidades do corpo dos salvos citadas acima são opiniões de estudiosos, mas claro, ninguém pode dizer se realmente vai ser exatamente assim, o que podemos ter certeza é que será inexplicavelmente prazeroso viver na bem-aventurança eterna, junto de Deus, pois o simples fato de estarmos juntos de Deus já vai nos proporcionar alegria e bem-estar tamanhos, os quais nunca imaginamos sentir aqui na terra.
Conclusão
Assim, concluímos esse trabalho que teve em vista o estudo relacionado à escatologia na segunda carta aos Tessalonicenses. Podemos assim observar que o anticristo virá, não sabemos onde, nem como e nem quando, não sabemos quem ele é, por isso, devemos estar alertas para não cair em suas presas, pois todos os que não resistirem aos falsos ensinamentos que ele trará, serão condenados. No decorer do estudo, vimos quão cruel será o destino dos que não quiseram dar ouvidos a Deus, e de quão bem-aventurado será o destino daqueles que creram em sua palavra, por isso, cuidemos sempre para nunca cair na fé, pois assim, teremos tudo que precisamos, herdaremos a mais bela habitação celestial, estaremos juntos de Deus para sempre, e seremos felizes por toda a eternidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CARSON, Donald; MOO, Douglas J. ; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. Traduzido por Márcio Loureiro Redondo. São Paulo: Vida Nova, 1997.
EGENOLF, Hans Andréas. Novo Testamento: Comentário e Mensagem de 2ª Tessalonicenses. Traduzido por José e Irene Klöh. Rio de Janeiro: Vozes Ltda. e Petrópolis, 1969.
KOEHLER, Edward W. A. Sumário da Doutrina Cristã. Traduzido por Arnaldo Schüler. 3ªedição revista e atualizada, Porto Alegre, Concórdia, 2002.
MARSHALL, I. Howard. I e II Tessalonicenses: Introdução e Comentário. Traduzido por Gordon Chown. São Paulo: Mundo Cristão, 1988.
MUELLER, John T. Dogmática Cristã. Traduzido por Martinho L. Hasse. 4ª edição revista e ampliada. Porto Alegre, Concórdia, 2004.
SCHOLZ, Vilson. Novo Testamento Interlinear Grego-Português. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2004.
SILVA. Valmor da. Segunda Epístola aos Tessalonicenses, Não é Fim do Mundo. Petrópolis, RJ: Vozes e Sinodal, 1992.
THUMS. Jorge. Acesso à realidade: técnicas de pesquisas e construção do conhecimento. Porto Alegre, RS: Ulbra, 2000.