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RESUMOS DAS OBRAS SELECIONADAS PARA O EXAME FINAL DE TEOLOGIA 2001

Instituto Concórdia de São Paulo

Escola Superior de Teologia

Resumos das Obras Selecionadas para o
Exame Final de Teologia – 2001

São Paulo

agosto de 2001

Índice

Livro 1............................................................................................................................................ 4

SCHLINK, Edmund. Teologia das Confissões Luteranas............................................................. 4

Livro 2.......................................................................................................................................... 25

CARSON, Moo e Morris. Introdução ao Novo Testamento........................................................ 25

Livro 3.......................................................................................................................................... 41

LASOR, Introdução ao Antigo Testamento................................................................................. 41

Livro 3,5....................................................................................................................................... 48

ATLAS Vida Nova e da História do Cristianismo....................................................................... 48

Livro 4.......................................................................................................................................... 50

DREHER, Martin N., Org. Imigrações e História da Igreja no Brasil......................................... 50

Livro 5.......................................................................................................................................... 55

HÄGGLUND, Bengt. História da Teologia................................................................................ 55

Livro 6.......................................................................................................................................... 78

WHITE, James. Introdução ao Culto Cristão............................................................................... 78

Livro 7.......................................................................................................................................... 81

CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, Templo e Mercado: Organização e Marketing de um Empreendimento Neopentecostal........................................................................................................... 81

Livro 8.......................................................................................................................................... 90

SAARNIVAARA, Uuras. Lutero Descobre o Evangelho............................................. 90

Livro 9.......................................................................................................................................... 93

SOGAARD, Viggo. Mídia na Igreja e na Missão – Comunicando o Evangelho........... 93


Livro 1

SCHLINK, Edmund. Teologia das Confissões Luteranas.

Prefácio do autor à edição americana

As Confissões Luteranas (CL) têm o caráter de afirmação de fé com vistas à comunhão de quem as confessa. Assim, as CL também têm a capacidade de reconhecer irmãos nas outras igrejas cristãs (p. iii). As marcas da Igreja são também o centro das CL: a Palavra e os Sacramentos (p. iv).

A obra surgiu no contexto da II Guerra Mundial e apregoa um ecumenismo sadio, isto é, calcado no ensino bíblico e confessional luterano (p. iv). A obra quer ser uma dogmática simplificada, sistematizando a Teologia das CL. O autor aplica Lei e Evangelho a cada um dos documentos das CL, tendo sempre em vista os Sacramentos como tema principal.

Prefácio do tradutor

As principais CL estão agrupados no Livro de Concórdia (1580) e são:

1. Os três Credos Ecumênicos: Apostólico, Niceno e Atanasiano;

2. A Confissão de Augsburgo (CA) e sua Apologia (Ap.), de Melanchthon;

3. O Tratado (Tr), de Melanchthon;

4. Os Catecismos, Menor e Maior (Cm e CM), de Lutero;

5. Os Artigos de Esmalcalde (AE), de Lutero;

6. A Fórmula de Concórdia (FC), de Chemnitz e outros.

A presença dos Credos faz valer que os luteranos repudiam qualquer tipo de sectarismo. A CA é o mais central e fundamental dos documentos das CL, a partir da qual todos os demais documentos foram desenvolvidos (p. vii – xiii). O artigo central das CL e das Escrituras é a justificação pela fé (“o artigo pelo qual a igreja fica em pé ou cai”) (p. xviii).

INTRODUÇÃO

A Teologia das C L como Prefácio à Dogmática

A tônica da obra é a História e a Exegese Bíblica apresentada nas CL. As CL podem ser assim representadas (p. xiv):

W

&

Escrituras

Sagradas

Norma de Fé e Doutrina

Deus as deu a toda

a Igreja

W

&

Confissões

Luteranas

Exposição

das Escrituras e testemunho do Evangelho

Toda a Igreja deve tê-las,

confessá-las

e apoiá-las

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1. Devemos ter consciência de que as próprias CL declaram ser exposição normativa das Escrituras Sagradas. Não há contradição com as Escrituras, mas interpretação e complementação (p. xvii). As CL combatem as heresias, que são sempre as mesmas desde a Antiguidade.

2. É preciso termos clareza e firmeza quanto às CL serem exposição normativa da Igreja com relação às Escrituras. É preciso conhecê-las para refutá-las ou subscrevê-las.

O Evangelho e os Sacramentos são a melhor aproximação para entender as Escrituras; apenas a distinção entre Lei e Evangelho pode ser a chave para a compreensão correta das CL.

As CL são exposição correta das Escrituras, mas seus diversos autores divergem entre si, p. ex., quanto ao número de Sacramentos.

Capítulo I – AS ESCRITURAS E AS CONFISSÕES LUTERANAS

1. A única norma de todo ensinamento na igreja é a Sagrada Escritura do AT e do NT.

Não há artigo sobre as Escrituras, pois elas são a base iminente das CL; basta notar as centenas de citações bíblicas. São preferidas as passagens mais claras da Analogia Fidei.

As Escrituras se irradiam para a CA e, desta, para os demais documentos. Juntamente com as Escrituras, também são citados os Pais da Igreja, mas todos estão subordinados à Palavra de Deus.

A razão dos confessores também estava atada e submissa à Palavra. Somente a Palavra pode estabelecer os artigos de fé. Os confessores não questionam as Escrituras, apenas crêem nela.

2. A Sagrada Escritura é a norma única por ser o testemunho profético e apostólico do Evangelho.

Os confessores criam piamente na inspiração bíblica; daí não haver artigo sobre o assunto.

Os confessores dividem as Escrituras em Lei e Promessa (Ap IV). Eles também compreendem que o resumo das Escrituras é o Evangelho e, por isso, há mais ênfase no Evangelho. Aliás, toda a exegese das CL está pautada no Evangelho. O Evangelho dá às Escrituras unidade e simplicidade.

O Evangelho existe para ser proclamado, e as CL são proclamação deste Evangelho, desta Boa-Notícia de Cristo. Através desta proclamação, que é testemunho da Palavra, o Espírito Santo pode agir nos ouvintes.

3. As CL são exposição da Escritura, especificamente, um resumo das Sagradas Escrituras, ou seja, um testemunho do Evangelho.

Nas CL, “confissão” é usado num tríplice sentido:

a. confissão dos pecados;

b. confissão das boas obras que seguem a fé (confirmação da fé);

c. confissão de fé (escrito confessional).

Um elemento comum das CL é a resposta do homem à revelação de Deus. As CL são submissas às Escrituras. Por isso, a estrutura teológica de um documento confessional como as CL é:

a. Exposição das Escrituras, daquilo que é crido e pregado na Igreja de Cristo;

b. Resumo das Escrituras, como no CM e Cm, cujo centro é o Evangelho (CA IV);

c. Presente do Espírito Santo. As CL não são inspiradas, mas são fruto do meio da graça que é o Evangelho. São presente do Espirito Santo por nelas afirmarmos “cremos, ensinamos e confessamos”; ora, a fé é obra do Espírito Santo em nós.

4. As CL são exposição das Escrituras em consenso com os pais e irmãos. Isto assegura que a doutrina da Igreja se precaveja contra as heresias.

As CL não são propriedade dos luteranos; são da Igreja Cristã toda e de todos os tempos. São universais (católicas) e atuais, combatendo as heresias em geral.

5. Já que as CL são um resumo das Escrituras Sagradas, elas são o modelo obrigatório para toda a doutrina na Igreja.

O valor das CL não é de Escritura Sagrada, mas por causa das Escrituras Sagradas. As CL estão atadas às Escrituras. Não há liberdade confessional por causa das Escrituras. Assim, as CL incentivam a que a Igreja continue pregando o Evangelho e combatendo as heresias.

Inferências das CL para a composição de uma Dogmática:

1. A única norma para uma Dogmática é o AT e o NT. A Dogmática deriva da Palavra.

2. Dentro das Escrituras, o Evangelho – que é a promessa de perdão por causa de Jesus Cristo – é a norma da Dogmática.

3. O Evangelho é anúncio e doação do perdão.

4. O homem natural não pode crer ou conhecer o Evangelho, exceto através do Espírito Santo.

5. A Dogmática é pautada pelas CL como exposição das Escrituras.

6. A Dogmática é pautada pelas Confissões como testemunho do Evangelho nas Sagradas Escrituras.

7. A Dogmática é pautada pelas CL como exposição das Escrituras, como consenso dos pais e dos irmãos na exegese bíblica.

8. Cabe à Dogmática refutar heresias posteriores à Reforma com base nas Escrituras e no trabalho dos confessores.

9. As CL são da Igreja Cristã toda; a Dogmática pode ser de uma certa denominação.

10. A teologia das CL são, com justiça, um prefácio à Dogmática. Os dogmas surgiram do encontro impactante das Escrituras com a igreja. Este encontro ficou testemunhado nas CL, que procedem das Escrituras e precedem a Dogmática. É temerário escrever uma Dogmática sem ouvir os confessores luteranos.

Capítulo II – A REVELAÇÃO DE DEUS, O CRIADOR

Apesar de as CL enfatizarem mais o 2o Artigo do Credo, o 1o Artigo é fundamentalmente mencionado (CM, Cm e CA I).

1. Todos os seres humanos são criaturas de Deus e obras da pura bondade de Deus.

Deus criou e ainda cria, sustentando o mundo mesmo após o pecado. Os Catecismos não fazem diferença entre “criar” e “preservar”. Deus não criou o ser humano pecador, mas o ser humano pecador é inteira criação de Deus. Contudo, a graça que cria não é a mesma que perdoa; aquela (a graça criadora) vem a todos de modo imediado; esta (a graça redentora), somente através de Cristo.

2. Todos os seres humanos são pecadores e estão sob a ira de Deus.

O pecado não é falha, mas rebelião. Adão não descuidou-se, mas agiu voluntariamente contra Deus. Desde a queda, há uma inclinação natural do ser humano para o mal (pecado original, que gera o pecado atual). Pode-se falar de uma escravidão do pecado. O pecado original é hereditário, mas não faz parte da natureza humana essencial. Ninguém está fora do pecado, exceto Cristo.

3. O ser humano completo é uma criatura e totalmente corrupto ao mesmo tempo.

4. O homem natural não é capaz de reconhecer nem a bondade nem a ira de Deus, nem sua criação nem sua corrupção.

Deus está escondido do ser humano natural. Por causa do pecado original, o ser humano é ignorante de Deus. O ser humano pode apenas ver lampejos de Deus na criação, mas tal conhecimento é vago. Além disso, a consciência humana guarda rasgos dos Mandamentos. Mas não conhece o Criador amoroso. Tal conhecimento falho é Lei; sabem, p.ex,, que há um Deus, não quem é este Deus, a ponto de prestar culto às criaturas ao invés de ao Criador.

5. A Lei compreende os 10 Mandamentos escritos nas Escrituras; somente sob a Lei pode-se reconhecer a ira de Deus. O Evangelho é a segurança do perdão por causa de Cristo; somente no Evangelho a graça de Deus pode ser reconhecida.

A Lei revela a ira de Deus e aumenta a rebelião do ser humano natural ou o conduz ao desespero. A Lei revela o Deus da ira. Somente o Evangelho revela o Deus da graça. Esta tensão entre Lei e Evangelho é perene e inquebrável nas Escrituras. Não se trata de contradição. A Lei é a punição que o ser humano merece; o Evangelho é a mensagem da obra de Cristo por nós.

6. O reconhecimento da bondade criadora de Deus só é possível pela fé no Evangelho.

Assim, o Evangelho também trata de Deus Criador, que já começou a agir com graça desde os primeiros tempos. Somente o filho de Deus pode perceber isto. E isto só vem a partir de Cristo.

7. Confessar o Deus Criador significa confessar ao mesmo tempo a cruz de Cristo.

Sem Cristo é impossível ver a Deus.

8. Confessar o Deus Criador significa ao mesmo tempo confessar o Espírito Santo, que nos dá a vida.

9. Ao confessarmos o Deus Criador necessariamente confessamos o Deus Triúno.

O Deus Triúno sempre agiu em conjunto desde a criação. É Trindade, não triteísmo (como no Credo Atanasiano).

10. A doutrina da Trindade é a base para todas as afirmações das CL.

As CL contribuem com dois pontos para o estudo da Trindade: a. a elucidação das obras das pessoas; b. a clarificação de Lei e Evangelho na obra da Trindade.

Capítulo III – LEI E EVANGELHO

(Parte I)

1. A Lei de Deus está resumida nos Dez Mandamentos como registrados nas Sagradas Escrituras.

A Lei sempre demanda obediência perfeita e completa, verdadeiro temor a Deus e verdadeiro amor a Deus e ao semelhante. Esta é a “lex aeterna”. E condena a todos os seres humanos. É a Lei moral, exposta nas duas tábuas do Decálogo.

A Ap ensina que a Lei retratada nas CL está registrada no Decálogo, cujo resumo é o Primeiro Mandamento (o Mandamento da fé, da confiança única e absoluta somente no Deus verdadeiro). Trata-se da lei moral, não da civil e nem da cerimonial. Desde Cristo, estas duas últimas são desnecessárias. No AT, a proclamação do Evangelho dava-se através do sistema sacrificial, no qual uma vítima era punida pelos pecados de alguém, o que era aceito como justiça. Isto demonstra que:

a. Deus não quer a nossa justiça, mas a de outrem, ou seja, de Cristo;

b. Os cordeiros e animais sacrificados no AT eram tipos de Cristo;

c. Cristo foi o cumpridor perfeito e definitivo da Lei, pois ao mesmo tempo foi sacrifício e legislador, sacerdote e Deus.

A ignorância ou má compreensão disso leva à valorização das leis civis e cerimoniais, levando ao legalismo e ao fanatismo religioso, ao desespero e ao orgulho vão. Estes erros mancham o artigo central das Escrituras e das CL: a justificação pela fé.

O AT apresenta muitas sombras de Cristo. Mas tanto no AT como no NT, o Evangelho é perdão concedido pela morte de Cristo. A Igreja do AT recebia o perdão aguardando Cristo e seu sacrifício; a do NT recebe o perdão pelo que Cristo já fez. Cristo é o centro da história e do Evangelho; Cristo é o Evangelho encarnado.

Assim, a própria lei cerimonial do AT estava a serviço do Evangelho, pois cada sacrifício era feito na fé no Cordeiro que haveria de vir. Mesmo assim, o perdão já valia tal qual se Cristo já tivesse sido sacrificado. Cristo perdoava por sua própria causa e porque ainda viria a morrer. Logo, a salvação era igualmente pela fé no perdão que Deus prometia.

2. No ser humano corrompido pelo pecado, a lei de Deus produz franca rebelião, auto-justificação por meio de obras, ou desespero; o pecador não consegue obedecer a Lei de Deus.

A Lei conduz ao desespero ou à hipocrisia. A principal função da Lei é tornar manifesto o que contraria a vontade de Deus.

3. Através da Lei, Deus revela sua terrível ira contra o pecador.

Deus detesta o pecado e quem o comete. A Lei sempre acusa.

4. O Filho único de Deus tornou-se ser humano, prestou obediência completa sob a Lei e morreu na cruz. Com isto, ele aplacou a ira divina.

Cristo é apresentado pelas CL como a manifestação encarnada da obediência à Lei divina. A morte de Cristo foi o pagamento exigido por Deus (o sangue de Cristo não foi pagamento dado ao diabo em troca do ser humano; Deus o exigiu para si). A morte de Cristo é tudo o que Cristo fez por nós, desde seu nascimento até a ressurreição. Sem pecado, Cristo pagou o pecado. Deus aceitou este sacrifício de Cristo por causa das duas naturezas de seu Filho: ele precisava ser Deus para cumprir perfeitamente a vontade de Deus, e precisava ser verdadeiro homem para poder morrer por nós como um de nós. Conhecer a Cristo e nele crer é receber seus benefícios. A ponte entre Cristo e nós é a fé, em nós implantada pelo Espírito Santo através do contato com os meios da graça, o Evangelho e os Sacramentos.

5. Por seu sofrimento e morte, Jesus Cristo expiou todos os pecados e aplacou a ira de Deus.

As CL também insistem em que não se pode pregar só a Lei ou só Cristo; a tensão Lei x Evangelho deve ser lembrada. Mas não se pode esquecer que o Evangelho deve prevalecer, pois Jesus Cristo é tudo na salvação: o sacrifício (o Cordeiro) e o sacerdote. As CL usam partículas exclusivas para falar de Cristo: somente Cristo, nenhum outro senão Cristo e o sacrifício único de Cristo. O sacrifício de Cristo valeu por todos os pecados, não somente pelo pecado original. As CL retratam a obra de Cristo em termos de propiciação e reconciliação com Deus. A glória de Cristo consiste exatamente nisto, em ser ele o Salvador único e perfeito, cujo símbolo maior é a cruz (Teologia da Cruz); a isto se opõem os calvinistas, defensores da Teologia da Glória, segundo a qual Cristo é glorioso por sua natureza e atributos divinos.

6. Ao ato reconcilitório de Cristo, o ser humano corrompido responde ultrajando a honra de Cristo através das obras da Lei; o pecador não consegue saber o que Cristo faz pelo seu bem-estar.

O sacrifício de Cristo foi completo e suficiente para dar o perdão e a vida eterna a todos os que nele crêem imediatamente. As CL repudiam a “prima gratia” defendida pelos católicos, segundo a qual Cristo só dá ao pecador a graça inicial para que ele possa continuar galgando os degraus da salvação com seus próprios esforços. O ser humano natural não compreende a inteira salvação que Cristo dá. O pecador não pode nem obedecer à Lei nem crer no Evangelho; ele é escravo do pecado, que o cega para as coisas espirituais e o torna inimigo das coisas de Deus.

7. Deus declara o pecador justo por causa de Cristo, à parte da Lei, por graça.

Deus quer salvar a humanidade por causa de seu amor. Ao pecador converso, Deus perdoa por causa de Cristo; não por causa do desespero do ser humano e nem por causa do ato de confessar. A morter obediente de Cristo concedeu ao ser humano justificação e perdão dos pecados. As CL usam “justificar” como Paulo em Rm, no sentido forense. Justificar é declarar justo, pronunciar ou imputar justiça. Assim, o perdão é o não levar em conta os pecados de um crente por causa do que Cristo fez. E como a obra de Cristo está completa, a justificação concedida ao pecador também já é obra acabada, completa. Cristo atribui justiça; quem nele crê está escondido na justiça dele. As CL sempre repetem que “somos declarados justos por causa de Cristo”.

8. O pecador é justificado somente pela fé, sem as obras da lei.

A fé é solissalvante. É o instrumento que apreende o presente gracioso dado por Deus chamado salvação. Na salvação, a graça de Deus é ativa; o ser humano é passivo. A Palavra, que conduz a fé, precisa ser pregada em Lei e Evangelho, pois a fé é concebida nos terrores de uma consciência que sente a ira de Deus contra os nossos pecados e que, não vendo solução em si mesma, vê a oferta de Cristo e a ele se apega como única saída. Cristo é o objeto da fé justificadora. Nas CL, a ordem correta do enunciado da salvação é: 1o. por causa de Cristo; 2o. pela fé. A graça de Deus é concedida por causa do conteúdo da fé, Cristo. A fé não é obra do ser humano, mas é obra de Deus em nós.

9. Aquele que crê está livre da acusação da Lei. A fé é a obra do Espírito Santo.

Liberdade da Lei significa que o crente começa a fazer suas obras não em resposta à Lei, mas no poder de Jesus Cristo.

10. O Evangelho é a palavra do perdão através da qual Deus justifica o pecador por causa de Cristo.

O Evangelho é promessa de perdão e, ao mesmo tempo, já é perdão e graça propriamente ditos. Este Evangelho é meio pelo qual o Espírito Santo implanta a fé; por isso, precisa ser compreendido e distribuído.

Capítulo IV. LEI E EVANGELHO

(Parte II)

1. A fé não é apenas um ato de receber, mas também um poder renovador no coração, e isto não pode coexistir com o pecado. A justificação não é somente a imputação da obra de Cristo, mas também a regeneração, e isto não pode permanecer sem a nova obediência.

São benefícios da fé em Cristo a alegria da salvação, a coragem para viver e as boas obras com que se estende o amor de Deus ao semelhante. A fé gera obras, ainda que não se necessite das obras para a salvação.

2. A regeneração é a renovação do coração em direção à livre decisão a favor da vontade de Deus em alegre anuência à Lei de Deus. O ser humano regenerado está na Lei, não debaixo da Lei.

Regeneração é a obra do Espírito Santo em nós através da qual passamos da morte para a vida em Jesus Cristo. Assim, livres da maldição da lei, os regenerados amam a Lei e a obedecem.

3. A nova obediência consiste nas boas obras da obediência à Lei de Deus. Não é obra da lei, mas fruto do Espírito Santo.

As boas obras são fruto do Evangelho, não da Lei. Se forem da Lei, são hipocrisia e auto-justificação. Como fruto do Evangelho, são presentes de Deus que Deus mesmo demanda e dos quais se agrada. Assim, os Mandamentos não são mais “tu deves” ao cristão, mas “tu podes”. Tudo o que o cristão faz sem ferir a Lei de Deus é boa obra e agrada a Deus.

4. Assim como a justificação, também a regeneração e a nova obediência são presentes da graça de Deus.

A fé é obra do Espírito Santo em nós e, ao mesmo tempo, receptora do Espírito Santo. Não é possível, contudo, temporizar quando exatamente as coisas acontecem ou em que ordem; pode-se apenas ligar a recepção da fé e da salvação ao meios da graça.

5. Ao apresentar o tesouro de efeitos da graça divina em termos de regeneração e nova obediência, o status do ser humano é novamente questionado.

Apesar de ser nova criatura, coabita no ser humano o velho Adão. Cada cristão é, ao mesmo tempo, justo e pecador. A graça justificante, contudo, perdoa os pecados e motiva a vida com Deus. As obras, aliás, são frutos e sinais da fé. A mesma motivação da justificação (obra concluída), ou seja, o Evangelho de Cristo, é também a motivação para a santificação (obra não acabada).

6. Desde que o ser humano regenerado e sua nova obediência neste mundo permanece imperfeita, o ser humano regenerado não está somente na Lei, mas também sob a Lei. Neste sentido, tudo o que ele faz pode ser visto como pecado.

O ser humano regenerado ainda é impuro. Sua renovação não é completa. A santificação pode crescer, dizem os calvinistas, progressivamente (dia a dia mais santidade). Já os luteranos, baseados na vida dos heróis da fé, confessam a santificação relativa, ou seja, de altos e baixos (daí a importância do arrependimento diário.) Sem dúvida, a Lei no 3o uso sempre precisa ser pregada, mas mesmo esta Lei nunca irá salvar, pois a função precípua da Lei, mesmo como norma, é condenar. O que sempre salva e motiva a crescer na santificação é o Evangelho. Mas Lei e Evangelho não podem ser separados; precisam ser pregados conjuntamente a fim de que a glória de Cristo – sua inteira obra da salvação – seja honrada.

7. A justificação não ocorre por causa da regeneração.

Justificação e regeneração não podem ser separadas. Justificação é perdão. Regeneração é um declarar justo e um fazer justo. Fé é a recepção confiante e a renovação do coração, traduzindo em alegria, paz, etc. A justificação já é obra acabada; a regeneração, em processo.

Se nossa justificação dependesse de nossa regeneração, quando estaríamos justificados. Nosso perdão por causa de Cristo, pela fé, não pode ser questionado; caso nos falte certeza de que Cristo realmente nos justificou, faltar-nos-á igualmente certeza da salvação e a consciência ficará atribulada e aterrorizada.

8. A justificação não ocorre por causa da nova obediência.

A FC IV debate o assunto: “as boas obras são necessárias à salvação”. Os confessores condenam os romanistas e afirmam que “as boas obras não são necessárias à salvação”; necessária é a liberdade que os filhos de Deus têm de tentar servir a Deus de acordo com os Mandamentos. Por que, então, fazermos boas obras se já estamos salvos? Porque Deus ordena.

9. Embora na Lei (AT) o Evangelho também seja revelado – e no Evangelho (NT), Lei –, Lei e Evangelho sempre devem ser distinguidos.

Lei e Evangelho são duas proclamações de Deus. São diferentes, mas há unidade entre eles, apesar de estarem em tensão perene, pelo que precisam ser distinguidos com toda a diligência, a fim de que as Escrituras sejam expostas corretamente. A Lei sempre é “letra que mata”; o Evangelho sempre é o poder de Deus para a salvação do crente em Cristo. Podem ser distintos apenas pela fé, e a Igreja, em verdade, não possui esta distinção, mas a recebeu de Deus, pela obra do Espírito Santo.

É preciso lembrar que mesmo no AT a salvação dá-se pela fé, pela promessa de Deus. Até nos 10 Mandamentos há Evangelho; note-se a palavra “teu” no 1o Mandamento; o Deus Todo-Poderoso acha por bem revelar-se a nós e tornar-se acessível aos pecadores, entrando em aliança conosco. E no NT também há Lei; o Sermão do Monte, p.ex. é Lei. Além disso, um mesmo fato pode apresentar Lei e Evangelho. Tomemos, p.ex., a morte de Jesus: a morte de Jesus por nossa causa (por culpa nossa) é Lei; a morte de Jesus por nós (em nosso favor) é Evangelho.

10. Extritamente falando, a Palavra de Deus é Evangelho.

As CL sempre exaltam o Evangelho em sua comparação com a Lei. Elevar o Evangelho acima da Lei, aliás, é obra de Deus. O Evangelho é cura, é a obra própria de Deus, cuja vontade misericordiosa é consolar-nos em Cristo, com Cristo e por meio de Cristo. Pela Lei, o Espírito Santo mostra o pecado; pelo Evangelho, conforta o pecador arrependido. O Evangelho conforta as consciências pelos méritos de Cristo, dizendo: “Crente, você está livre da Lei!” Isto se aprende com grande certeza no estudo do Poder das Chaves; a voz do Evangelho é a absolvição do pecador. Assim, o resumo das Escrituras é o Evangelho. O final desta antítese Lei x Evangelho só se acaba no final dos tempos, quando a morte não mais existir e a própria carne for restaurada na ressurreição.

Capítulo V – O BATISMO E A CEIA DO SENHOR

1. O arrependimento diário através de contrição sob a Lei e através da fé no Evangelho é um “retorno” diário ao Batismo a um achegar-se diário à Ceia do Senhor.

As CL enfatizam muito que há Lei e Evangelho mesmo no arrependimento e na confissão. No arrependimento, a Lei gera a contrição e o Evangelho, a fé que se apega à promessa de perdão; na Confissão, a Lei leva à confissão dos pecados e o Evangelho concede a absolvição da parte de Deus.

Contrição é a tristeza que se sente no coração por causa dos pecados (por reconhecer-se totalmente pecador). Confiante no perdão de Deus, o cristão confessa, então, seus pecados. As CL enfatizam que não é necessário enumerar pecados na Confissão. Enfatizam também que ninguém recebe perdão por fazer confissão, mas por causa dos méritos de Cristo.

A Lei leva ao arrependimento; o Evangelho, à fé. O arrependimento é um retorno ao Batismo. Além disso, cada participação na Santa Ceia também é arrependimento. As CL falam de arrependimento como “um afogar o velho Adão para que o novo possa ressurgir”. No entanto, há um só Batismo, mas muitas Ceias do Senhor.

2. O Batismo não é só água natural, mas água compreendida na Palavra de Deus, ou seja, no mandamento e na promessa batismais que Cristo nos deu.

Lutero afirma nos AE que “o Batismo não é outra coisa senão a Palavra de Deus em água”, ou seja, o Batismo é água teologicamente significante. Há duas palavras em questão: um mandamento (batizar todas as nações em nome do Deus Triúno) e uma promessa (de redenção), cf. Mt 28.19. Mas não é mágica, é Sacramento (segundo Agostinho, um ato ordenado por Deus, em que a Palavra ligada a um meio externo, concede graça, perdão e vida eterna).

3. O Batismo é o lavar regenerador que efetua perdão dos pecados, libertação da morte e do diabo, e nos garante a vida eterna.

O Batismo perdoa a culpa do pecado original, mas o pecado original permanece em nós (Ap.). Além disso, o Batismo liberta da morte eterna, já que a libertação da morte terrena dar-se-á somente na ressurreição.

4. O benefício do Batismo é recebido apenas mediante a fé, a qual ao mesmo tempo é tanto produzida como fortalecida pelo Batismo.

O Batismo gera a fé e os seus benefícios.

5. A Ceia do Senhor não é apenas pão e vinho naturais, mas pão e vinho compreendidos na Palavra de Deus, ou seja, nas palavras da instituição de Cristo.

Na união da Palavra com os elementos externos, os elementos são inteiramente passivos na Ceia do Senhor, assim como é a água no Batismo. As CL preocupam-se com esta verdade, não querendo discutir o simbolismo do pão e do vinho (daí não discutirem o “quebrar o pão”), pois isto não é essencial ao Sacramento. O essencial são as palavras que Jesus disse na noite em que foi traído; são palavras divinas usadas pelo Senhor, por isso, convém sempre repeti-las no Sacramento. É esta Palavra que faz do pão e do vinho um Sacramento, trazendo perdão. Além disso, as palavras da instituição têm uma finalidade didática, a fim de ensinar e lembrar ao comungante o que ele recebe. Por fim, a Santa Ceia, como o Batismo, tem em si tanto um mandamento (“fazei isto...”) quanto uma promessa (“dado e derramado por vós”).

6. A Ceia do Senhor é o corpo e o sangue de Cristo dados e derramados para o perdão dos pecados.

Nas CL, a Santa Ceia é discutida no contexto da incarnação do Filho de Deus. Cristo precisava ser verdadeiro homem e verdadeiro Deus para que houvesse o Sacramento do Altar e todo o plano da salvação fosse perfeitamente concretizado. Assim, as palavras de Cristo no Sacramento referem-se à sua morte na cruz. No entanto, o corpo que recebemos na Santa Ceia é o corpo do Senhor ao mesmo tempo crucificado (humilhado) e ressurreto (exaltado). A presença deste corpo é a verdade a ser enfatizada na Santa Ceia. Este corpo é verdadeiro e consubstancial. Com esta presença, de acordo com os desígnios de Deus, a Santa Ceia pode ser considerada “antídoto contra todo veneno que ameace os batizados” e como “remédio” contra toda culpa que atribule presentemente os cristãos.

Logo, a Ceia do Senhor não é somente perdão, mas fortalecimento do crente. Fazendo uma analogia dos dois Sacramentos, podemos dizer que o Batismo tira o prisioneiro do domínio de Satanás e o põe sob Cristo; já a Ceia provê forças contra os ataques reiterados do diabo. Na Santa Ceia, estamos unidos com Cristo, aquele que não só foi oferta pelo pecado, mas que doou-se por nós e doa-se para nós. Tomamos a Ceia não por causa do Cristo que há de vir, mas pelo que já veio e está conosco. A Ceia como um todo é essência, efeito e benefício; receber o corpo e o sangue de Cristo já é receber o perdão. O descrente, no entanto, recebe a essência do Sacramento (corpo e sangue de Cristo), mas não recebe o benefício (perdão), tomando a Ceia para seu julgamento e condenação.

7. Na Ceia do Senhor, o pão e o vinho são o corpo e o sangue de Cristo; em, com e sob o pão e o vinho, o corpo e o sangue de Cristo são oferecidos e recebidos oralmente.

O centro da exegese da CL sobre a Santa Ceia reside na palavra “é”. O verbo ser não pode ser metaforizado, mas precisa ser lido e compreendido assim como expresso; se é, é. Lutero insistia na presença real em, com e sob o pão e o vinho. Em 1540, Melanchthon alterou a CA, eliminando o “em” e o “sob” e deixando só o “com”, o que dá margens a dúvidas quanto à unidade do elemento visível com o sacramental. As CL asseveram a “união sacramental” (duas essências completamente unidas: pão e vinho naturais + verdadeiro corpo e sangue presentes na terra), baseando-se na “união pessoal” das duas naturezas de Cristo. Corpo e sangue, pão e vinho são recebidos no comer e beber, com a boca e de modo espiritual (mas não é um comer canibal).

8. O benefício da Ceia do Senhor é recebido somente pela fé, a qual é, ao mesmo tempo produzida e fortalecida pela Santa Ceia. O descrente recebe o corpo e o sangue de Cristo para seu julgamento.

Os confessores insistem em que a verdadeira preparação consiste em ter fé nas palavras de Jesus “dado e derramado por vós”. A dignidade não leva em conta a disciplina externa, pois ninguém há que seja suficientemente puro para receber o corpo e o sangue de Cristo. A fé em Cristo é a única condição exigida por Deus. A fé é tanto o pressuposto quanto o fruto da Ceia. Assim, a Ceia é para aqueles que sentem-se fracos e cujas consciências estão atribuladas; a Ceia concede perdão, paz, fortalecimento da fé e vida eterna. Os descrentes, por conseguinte, não deveriam receber a Ceia, pois lhes falta a fé.

A expressão “em memória de mim”, segundo os confessores, não possibilita celebrar a Ceia apenas como um teatro, pois significa relembrar o sacrifício de Cristo “por nós” e não somente a história ocorrida naquela noite. A Santa Ceia é o mais poderoso testemunho do ofício próprio de Cristo, ou seja, salvar-nos.

9. Os Sacramentos são a aplicação individual da promessa do Evangelho sob sinais visíveis, sendo, de fato, a realização e o presente daquilo que foi prometido.

Desta maneira, a vida dos crentes dá-se entre os dois Sacramentos: Batismo e Santa Ceia. A própria vida cristã os tem como referência: o cristão volta ao Batismo a cada dia quando se arrepende e a Ceia o impulsiona para a frente. O Batismo é o início total do novo homem; a Santa Ceia é o Cristo na cruz, o Cristo ressurreto e o Cristo que vem dados a nós para nosso fortalecimento. O Batismo é o perdão da culpa do pecado original; a Santa Ceia é o perdão para viver.

Lutero, nos AE, relaciona cinco meios pelos quais o Evangelho vem a nós: 1. Pregação; 2. Batismo; 3. Santa Ceia; 4. Poder das Chaves; 5. Comunhão dos Irmãos. Isto demonstra a misericórdia de Deus, que deseja atingir a todos de diferentes maneiras. Palavra e Sacramentos são necessários porque Deus planejou assim, instituindo ambos.

A CA e a Ap. chamam de Sacramentos somente o Batismo e a Ceia (diferente dos sete Sacramentos defendidos pelos romanistas). Batismo e Ceia confortam indicidualmente o Evangelho aos crentes.

10. Mesmo que esteja exaltado à direita de Deus, Jesus Cristo ainda está presente na terra de acordo com sua natureza divina e humana.

A presença de Cristo é verdadeira. Cristo pode mesmo estar presente em muitos lugares, ilocalmente (ubiqüidade). “À direita de Deus Pai” não é um lugar físico no céu, mas aponta para a majestade e o governo do Cristo exaltado. Além de onipresente, dizem as CL que Cristo também é onipotente e onisciente, atributos estes que, como todos os demais, pertencem tanto à natureza divina quanto humana desde a união pessoal das naturezas de Cristo. As CL ensinam a cristologia sob diversas aproximações: a CA e a Ap. falam da salvação; a FC lança luzes sobre aspectos mais avançados, discutindo a presença e a comunicação das naturezas.

Capítulo VI – A IGREJA

As CL explanam o assunto do ponto de vista de uma luta entre “o Reino de Deus” X “o reino do diabo”.

1. O reino do diabo é a força tirânica com a qual o diabo ilude o ser humano decaído através de falsos ensino, o incita a vícios e o conserva prisioneiro na esfera do pecado e da morte.

O objetivo principal do diabo com as ilusões de seu reino é afastar o ser humano de Deus. As forças do mal não são invenção humana; a Palavra de Deus (p. ex.: Evangelhos), as CL e a História da Igreja as confirmam (p. ex.: as heresias). O diabo incita mesmo os filhos de Deus a todo tipo de pecado, tirania e traição contra Deus e contra o semelhante.

2. O reino de Cristo é o domínio através do qual Jesus Cristo redime o ser humano decaído do pecado, da morte e do diabo, dando ao ser humano justiça e vida eterna.

O reino de Cristo é governado pelo Criador; o do diabo, pela criatura. O reino de Cristo motiva à comunhão com Deus; o do diabo afasta de Deus. O reino de Cristo é liderado por um Senhor fiel e Salvador gracioso; o do diabo, por um usurpador tirano e traiçoeiro.

No reino de Cristo aprendemos a ser servos, irmãos e filhos. No do diabo, escravos e condenados. Quem vive sob Cristo e o serve governa com ele. Cristo dá a salvação e o Espírito Santo a seus filhos. O reino de Deus é o mesmo que o reino de Cristo.

Não se pode pertencer ao mesmo tempo ao reino do diabo e ao reino de Cristo.

3. A igreja é a “assembléia de todos os crentes, entre os quais o Evangelho é pregado em sua pureza e os santos sacramentos são administrados de acordo com o Evangelho” (CA, VII, 1).

A igreja é a comunidade dos que foram “chamados para fora” (ekklesia). É o reino de Deus na terra, formado por aqueles que crêem em Cristo. Cristo governa a igreja com a Palavra e os Sacramentos, visando o perdão e a salvação de seus filhos. Por governar com o Evangelho, a Igreja é um reino da graça de Deus. Palavra e Sacramentos é aquilo que cria a fé e a própria igreja, o que a sustenta e a desenvolve. Na Igreja, Cristo é o centro da pregação, pela qual vem o Espírito Santo. A “assembléia” coopera com a obra de Deus zelando pela pregação da Palavra e a administração correta dos Sacramentos. Assim, a Igreja não é formada por aqueles que fazem boas obras, mas aqueles que têm fé. Para pregar o Evangelho e administrar os Sacramentos publicamente e de forma ordeira, Cristo instituiu o Santo Ministério.

4. Enquanto assembléia de crentes, a Igreja é a comunhão.

As CL caracterizam o povo de Deus como uma comunhão de crentes/santos. Crentes e santos, diante de Deus, por causa dos méritos de Cristo, é a mesma coisa. A fé produz frutos e a fé justifica o pecador. A santidade da Igreja consiste no zelo pela Palavra de Deus e pelos Sacramentos, meios que levam à fé verdadeira.

5. O Espírito Santo congrega a Igreja sob Cristo, a cabeça, como “a igreja única, santa, católica e apostólica” (Credo Niceno).

É Igreja apostólica por fundamentar-se no Evangelho dos apóstolos. É católica por ser universal e única, somente percebida em sua totalidade por Deus. Sua essência não são tradições humanas, mas a Palavra e os Sacramentos. Sua unidade é a fé cristã verdadeira. A partir do momento que uma tradição toma o lugar da fé como critério de unidade da igreja e se diz necessário à salvação, isto vem do diabo, não de Deus. Pode haver diversidade de Confissões, mas não de fé.

6. O conflito entre o reino do diabo e o reino de Cristo não é somente travado entre Igreja e não-igreja, mas também dentro da comunhão externa da igreja.

Cristo profetizou que haveria joio em meio ao trigo; assim, na terra, a igreja comporta hipócritas e cristãos verdadeiros. Estes membros mortos espiritualmente são, na verdade, membros da reino do diabo. E o diabo sempre novamente tenta arrebanhar os filhos da luz para o seu reino; algumas de suas principais armas, conforme as CL, são a auto-justiça, o orgulho e o fanatismo.

7. A Igreja deve excluir de sua comunhão aqueles que persitem na falsa doutrina, que manifestam vícios e desprezam os Sacramentos.

A Igreja recebeu de Deus o poder para reter e perdoar pecados (Ofício ou Poder das Chaves). As CL insistem em que quem deve ser excluído da Igreja são os pecadores impenitentes e os hereges, não o que errou ingenuamente apenas uma vez. Também os que negligenciam a participação na Ceia devem ser admoestados, pois estão desprezando o perdão. Como o Ofício das Chaves foi dado à Igreja, cabe à Igreja excomungar, não ao ministro em particular.

8. Neste mundo, a igreja deve tolerar membros do reino de Satanás em sua comunhão externa.

Mesmo munida da excomunhão, a Igreja não consegue purgar-se completamente neste mundo. Até Cristo voltar, todos os que freqüentam a Igreja parecem ter algo de bom, mas nem todos têm a fé. As CL não usam os termos “igreja visível” e “igreja invisível”; esta terminologia pertence a Calvino, mas está correto usá-la. Lutero, no entanto, prefere usar o termo “igreja escondida”, segundo o qual a Igreja verdadeira só é conhecida no coração de Deus.

9. Embora a igreja verdadeira esteja escondida debaixo da comunhão externa dos membros de Cristo e dos membros do reino do diabo, a igreja verdadeira, contudo, é uma realidade nesta terra e pode ser reconhecida pela pregação do Evangelho e a administração dos Sacramentos de acordo com o Evangelho.

A Igreja realmente existe e pode ser reconhecida pelas suas marcas, a saber, a Palavra e os Sacramentos. A Ap. também aponta as Confissões – os documentos que preservam o Evangelho - uma terceira marca, mas o restante das CL a consideram derivada da Palavra e dos Sacramentos. As obras dos santos e a disciplina na igreja não a caracterizam como verdadeira igreja. Mas desde que há outras denominações que pregam o Evangelho e administram os Sacramentos (ainda que não corretamente em sua totalidade), as CL admitem haver cristãos em outras igrejas, inclusive na Igreja Católica, onde há pessoas que “ouvem a voz do Bom Pastor”.

10. Também é ensinado entre nós que a verdadeira Igreja Cristã permanecerá para sempre entre nós.

A promessa de Cristo é clara e graciosa: o Evangelho pode ser combatido e até suprimido peremptoriamente, mas nunca exterminado ou extinto.

Capítulo VII – GOVERNO CIVIL E ECLESIÁSTICO

1. O governo civil é a força da espada, que existe em função da justiça e da paz externas.

Schlink fala do governo em relação aos cristãos. Para ele, em consonância com as CL e as Escrituras, a força do governo civil está na espada, sinônimo de poder e autoridade. Esta espada existe, primeiramente, para manter a ordem, punindo os malfeitores e aqueles que ameaçam o governo e a paz (cf. Rm 13.1-7, a passagem chave sobre a autoridade). Zelando pela paz e a ordem, o governo está igualmente zelando pelo pão diário.

Conquanto instituído por Deus, o governo não existe para proclamar a Deus. Sua atuação reside na 2a Tábua dos Mandamentos, sendo sua função precípua defender o semelhante. Assim, as CL são pródigas em demonstrar que o governo civil não protege a alma, mas deve manter a boa ordem e zelar pelo corpo e os bens.

2. O governo espiritual é o ofício de pregar o Evangelho e administrar os Sacramentos.

O poder do governo civil é a espada; do governo espiritual é a Palavra (Evangelho) e os Sacramentos, que também representam a essência do ofício pastoral. Assim, enquanto o governo civil preocupa-se em fazer cumprir as leis, o governo espiritual cuida de distribuir o perdão entre os seres humanos.

Esta doutrina do governo espiritual nunca deve ser separada da doutrina da Igreja Cristã. O ministério pastoral está comprometido e deve estar empenhado neste governo espiritual. A Igreja deve supervisionar o ensino da Palavra e a administração dos Sacramentos.

3. A autoridade civil e espiritual são ordenanças divinas e derivam sua dignidade da Palavra de Deus.

Ambos as formas de governo são bênçãos de Deus e os cristãos precisam honrar a ambas. As pessoas não crentes, contudo, não compreendem isto, mas Deus age por seres humanos em ambos os governos. No mundo, as autoridades e os ministros do Evangelho são instrumentos de Deus por excelência.

Deus age no mundo: através do governo civil, ele se mostra Criador e preservador; através do governo espiritual, como o novo Criador, Redentor e Santificador. Neste sentido, o Evangelho não pode ser considerado ou aplicado como a nova lei do governo civil, pois o Evangelho pertence à esfera do governo espiritual.

Outra coisa que aprendemos das Escrituras é que mesmo com todos os esforços da Lei, o governo civil não consegue obter paz e justiça completas neste mundo. A felicidade e a paz dependem da bênção de Deus e ele pode permitir muito bem que a felicidade venha a um povo estando no poder tanto um pagão quanto um cristão. Deste modo, nos AE Lutero louvou a atitude de turcos e tártaros por espetarem o papa em seu tempo; a Igreja não podia fazer isto, pois a Igreja não atua diretamente na política. De acordo com as Escrituras e as CL, pode perfeitamente acontecer de um pagão fazer um governo bom e capaz porque quem realmente determina o que acontecerá não é o governante, mas Deus; chama-se isto de ofício funcional da autoridade (quem determina o resultado do governo não é o ocupante, mas Deus).

Contra qualquer forma de governo opõe-se o diabo, que o inimigo de Deus, difamador de sua obra, mentiroso e atrapalhador das coisas de Deus.

A dignidade de ambos os governos está na Palavra de Deus. Deus, por sua vez, quer conservar as criaturas (governo civil) e salvá-las pelo Evangelho (governo espiritual). Às vezes, a dignidade do governo civil, contudo, está escondida; ela só se torna visível na Palavra de Deus.

Os Mandamentos são uma espécie de lei universal, com a qual mesmo o governo civil rege, ainda que imperfeitamente, o mundo.

4. O governo civil é a uma criação boa e uma boa ordenança de Deus.

Deus criou o governo civil com um bom propósito: preservar a criação, combatendo o caos e impedindo a destruição total. O governo civil recebeu autoridade para fazer valer a ordem. Esta autoridade do governo civil é semelhante àquela concedida aos pais; as CL, aliás, chamam o governo civil de “pais” na esfera do Estado. A estes “pais” civis cabem, por exemplo, reconhecer o casamentos de dois de seus “filhos”, já que o casamento não começa quando duas pessoas crêem na Palavra de Deus (o que está na esfera da Igreja e não do Estado).

As leis do Estado, por sua vez, aplicam-se tanto a cristãos quanto a pagãos. As leis precisam ser “legítimas”, isto é, garantir o pão, a proteção e a segurança aos cidadãos de um certo lugar. Zelando pela 2a Tábua dos Mandamentos, o Estado vai cumprindo a vontade divina, mesmo que não o queira e não o saiba.

A Igreja sempre fala do governo civil com base na Palavra de Deus, no Evangelho, compreendendo o governo como bênção que auxilia a própria Igreja no cumprimento de sua missão no mundo.

5. O ofício espiritual foi instituído (ordo) por Deus no chamado (ordinatio) dos apóstolos através de Jesus Cristo.

O governo espiritual foi ordenado por Deus e ordenados foram os apóstolos para completarem a evangelização do mundo (Jo 20.21: “como o Pai me enviou, eu também os envio”). Este é, enfim, o ministério público da Palavra e dos Sacramentos de Deus.

Por sua estreita interação com o sacerdócio real, alguns afirmam que o ministério público é apenas uma emanação do sacerdócio real de todos os crentes, sendo somente uma concentração e uma organização do mesmo. Contudo, as CL discordam disso; segundo elas, conquanto o sacerdócio real e o ministério público desempenhem funções similares, não se pode subordinar o ministério público ao sacerdócio real. Nas CL, o ministério público brota de Deus em função da pregação pública do Evangelho e da administração correta e responsável dos Sacramentos. Assim, cada cristão é convocado a ser um soldado de Cristo em seu Batismo, mas o pastor recebe de Deus um chamado para exercer publicamente esta função em nome de Deus e da Igreja, no seio da Igreja e da sociedade. O conceito de que o ministério pastoral recebe sua autoridade do sacerdócio real é totalmente estrangeira às CL. Ainda que o pastor seja chamado pela congregação (o que pode ser confundido com receber autoridade dos crentes), ele é ordenado por Deus. Deus, na verdade, previu que sua obra necessitaria tanto dos pastores quanto dos leigos, havendo uma interação entre ambos e de ambos uma dependência de Deus, pois as autoridades de ambos promanam do Evangelho e dos Sacramentos.

6. A função, mas não a forma concreta de ambas as autoridades, é revalada na Palavra de Deus. Apenas de acordo com as leis humanas o ofício do governo eclesiástico é diferenciado do ofício pastoral.

Deus não prescreve as formas de governo, mas prescreve somente o princípio, o ofício. Assim como isto se aplica ao governo civil, também ao eclesiástico, para o qual não são prescritas formas nem títulos a quem desempenha ou ocupa o ofício. Quanto a títulos, as CL mencionam, assim como as Escrituras Sagradas, o episcopado; contudo, é de foro da Igreja enquanto organização externa denominar os seus ministros como melhor entender. O mais importante na doutrina do ministério pastoral, conforme as CL, é o chamado pastoral com que se constituem os pastores; o direito de chamar pertence à igreja e é divino, não humano. A centralidade do chamado na doutrina do ministério reside sobre o fato de o ministro não falar ou agir em seu nome, mas em nome de Deus, na Igreja e no mundo, enquanto houver pessoas que precisem aprender o Evangelho e “dois ou três” puderem reunir-se em torno da Palavra de Deus.

O termo “direito divino” também é aplicado nas CL no contexto do Ofício das Chaves. A Igreja perdoa ou retém pecados de acordo o direito divino que recebeu de Jesus Cristo. No tocante a aspectos externos (p. ex., organizar uma congregação ou sínodo), a Igreja age sob o “direito humano”, submetendo-se sempre que necessário aos trâmites legais do Estado à sua volta. A forma do ofício pastoral deve favorecer a comissão divina (instituição de Deus).

7. Deus exige de cada ser humano obediência a ambas as autoridades (civil e eclesiástica).

As Escrituras Sagradas e as CL não falam de obediência dos pagãos, mas dos cristãos. Isto é assim porque somente os cristãos podem mais ou menos compreender a necessidade de obedecer às autoridades no Estado e na Igreja; o Evangelho ordena que os filhos de Deus obedeçam o governo por causa da boa consciência. Logo, obedecer ao governo constitui-se em ato de amor que agrada a Deus. Dentro desta obediência, acrescente-se o orar pelas autoridades, pois a obtenção e o provimento do “pão nosso de cada dia” está relacionado com a boa ordem e a paz do Estado. Quanto a obedecer às autoridades eclesiásticas, isto se faz pela e por causa da fé no Evangelho. De acordo com as CL, nenhum cristão existe sozinho, mas é membro em uma congregação; isto leva à convivência natural entre pastores e leigos, mas ambos estão subordinados ao Evangelho e os leigos, à responsabilidade e guarda espiritual dos ministros do Evangelho. Os cristãos têm uma dupla cidadania: aqui e no céu. Em suma, o cristão obedece ao governo civil por causa do governo espiritual de Deus em sua vida. Recapitulando, ao ofício espiritual pertence a pregação do pecado e da graça a todos os seres humanos, e ao governo civil cabe proteger todas as pessoas contra qualquer injustiça externa.

8. Os ofícios civil e espiritual não devem ser misturados, mas diferenciados.

Estes governos devem ser considerados como as duas principais bênçãos de Deus na terra. Suas naturezas ou finalidades não podem ser confundidos. Aliás, eles só podem ser honrados se forem convenientemente distinguidos (Ap XXVIII). Um não pode invadir as funções do outro. É também um erro achar que o governo espiritual tem proeminência sobre o governo civil; é também erro pensar o contrário. Ambos são necessários; p. ex.: o governo civil pode punir os pecados, mas não perdoá-los. O princípio da tirania e das heresias instaura-se quando os ofícios são confundidos, surgindo os papados espirituais-seculares (o Papado romano) e os regentes cabeças da Igreja (como Henrique VIII, do Anglicanismo). É preciso sempre zelar pela correta separação entre os ofícios, já que nenhuma constituição terrena pode garantir que os mesmos não serão misturados.

9. O limite da obediência de cada um dos dois ofícios é o mandamento de Deus.

A obediência a cada um dos ofícios só vai até o ponto em que não se quebrem os Mandamentos de Deus. A ordinatio Dei ao mesmo tempo institui os ofícios e os limita. O princípio de Pedro sempre precisa ser lembrado: “Antes importa obedecer a Deus do que as homens (At 5.29, CA XVI). Contudo, as CL negam à Igreja o direito de depor o direito civil. Quando, então, desobedecer licitamente a autoridade civil? Enunciam-se quatro casos: a. quando ocorre quebra da vontade de Deus (p. ex: liberação do aborto); b. quando a autoridade opõe-se à pregação do Evangelho; c. quando esta desobediência for contra o Papa (por achar-se Deus); d. quando for para a separação de uma Igreja herética (como aconteceu na Alemanha em relação à Igreja do Estado). Em algumas questões mais específicas, as CL são vagas (p. ex.: a questão do escrutínio ou voto universal); muitos desses aspectos são tratados como adiáforos. Em questões que envolvem a conduta do cristão na sociedade civil, é importante observar que não se deve agir sob coerção, mas de acordo com a fé, de boa consciência. A Igreja usa sua liberdade em função do Evangelho proclamado.

10. Ao confundir-se a autoridade civil com a autoridade eclesiástica, a tirania do reino de Satanás invade tanto uma quanto outra.

Quando misturados, o poder do diabo invade a ambos os ofícios. Autoridades misturadas são o princípio da tirania diabólica, em que consciências são atribuladas e almas, perdidas. Na opinião dos confessores, o Papa e o Papado romano são o maior exemplo desta mistura amaldiçoada, em que nem um nem outro ofício estão preservados, havendo apenas uma caricatura de ambos. É a luta do reino de Satanás contra o reino de Deus; apenas a promessa de que Jesus Cristo estará com a sua Igreja até o fim dos dias pode consolar e consola os cristãos.

Capítulo VIII – O ÚLTIMO DIA

As CL não dedicam um artigo específico ao tema “escatologia”. O assunto encontra-se espalhado em diversas passagens, como na CA XVII e no 2o Artigo do Credo Apostólico. Schlink procura reunir estas passagens e comentá-las.

1. A Confissão da Igreja é um testemunho escatológico.

Confessando o Evangelho hoje, a Igreja já testemunha seu aguardo da vinda de Cristo no futuro. Testemunha-se isto pela pregação da mensagem evangélica.

2. O Ùltimo Dia é esperado e atestado na distinção entre criação e corrupção.

Todo ser humano é uma criatura de Deus e, igualmente, corrompido pelo pecado em toda a sua natureza. Até que venha o Último Dia, não se podem separar estas duas realidades (criação e pecado). Naquele Dia, o pecado original será definitivamente removido.

3. O Último Dia é esperado e atestado na distinção entre Lei e Evangelho.

Ensinando corretamente as Escrituras Sagradas em Lei e Evangelho, as CL reconhecem que Jesus Cristo, no Último Dia, separará os seres humanos em crentes e descrentes. Naquele Dia, a Lei terá conseqüências eternas para os descrentes. Há, contudo, toda uma dialética em torno do Último Dia: até lá, somos justos e pecadores ao mesmo tempo.

4. O Último Dia é esperado e atestado na distinção entre a verdadeira igreja e a comunhão eclesiástica externa.

Neste mundo, a Igreja verdadeira só é conhecida em sua íntegra por Deus. No Último Dia, a Igreja verdadeira de todos os tempos será revelada, sendo composta por todos aqueles que esperaram e confiaram em Cristo Jesus como seu Salvador.

5. O Último Dia é esperado e atestado na distinção entre o poder civil e eclesiástico.

Enquanto este mundo durar, Deus continuará se agradando em preservar o corpo e a alma de seus filhos e dos homens em geral pelo poder da espada (autoridade civil) e do Evangelho (autoridade eclesiástica), através dos quais advém, respectivamente, preservação e redenção aos seres humanos. No Último Dia, contudo, Cristo reinará.

6. Na promessa do Evangelho e na distribuição dos sacramentos, a esperada vida eterna é uma realidade presente.

Os meios da graça antecipam a vida eterna para os cristãos, presentificando em parte os efeitos graciosos do Último Dia. Neste sentido, pela fé, o cristão vive uma tensão: já tem a vida eterna, mas ainda não em sua plenitude (“já agora, mas ainda não”).

7. A esperança do Último Dia determina não somente a afirmações doutrinárias específicas, mas, muito além disso, os conceitos gerais e os padrões de pensamento nas CL.

Compreender bem a escatologia é ter uma boa Teologia; esta doutrina determina muitos outros ensinos certos ou errados no corpo doutrinário de uma Igreja. Os milenistas (ou quiliastas), por exemplo, ao mal interpretar a escatologia, lêem todas as Escrituras Sagradas erroneamente, cultivando heresias e mais heresias. Outro ponto errôneo é defendido pelos calvinistas, que, ao afirmarem a dupla predestinação, distorcem o conceito escriturístico de vontade de Deus. É preciso compreender bem que, após a queda em pecado, Deus preserva o mundo para “destrui-lo” e “recriá-lo” quando julgar por bem. Até a volta de Cristo, cabe à Igreja seguir pregando a Lei e o Evangelho ao mundo; a Lei, aliás, pregada ao descrente está ainda por cumprir-se, mas ao cristão, já foi cumprida por Cristo.

8. Este velho mundo está se aproximando do Último Dia do mesmo modo que o diabo desencadeia sua última demonstração de poder no reino do Anticristo.

As CL, inspiradas nas Escrituras Sagradas e na concepção escatológica de Lutero, afirmam que o mundo está cada vez pior. O principal sinal do fim tratado pelas CL é a instauração do reino do Anticristo. E cada vez o reino do Anticristo parece ser mais poderoso que o do “pequenino rebanho” de Cristo. A estratégia diabólica nestes últimos tempos não tem sido mais a de propagar o ateísmo, mas o universalismo, o humanismo e o esoterismo. O Anticristo tem investido na mistura do poder civil e espiritual, espalhando a tirania entre os seres humanos. De todas as formas, o diabo tenta usurpar o Reino de Deus, desviando os seus filhos. Na opinião de Lutero e dos confessores, o Anticristo era o Papa romano (por sentar-se no trono de Deus e tomar o lugar de Deus, ofuscando os méritos de Cristo). Um segundo suposto Anticristo seriam os turcos. Tal era a percepção de maldade dos confessores que eles achavam que Cristo viria em seus dias. Quanto a outros sinais do fim, as CL calam-se, não por negá-los, mas a fim de abreviar a discussão. Além disso, as CL não falam nada sobre o estágio intermediário da alma (só rejeitam o purgatório).

9. O Último Dia é o retorno glorioso de nosso Senhor Jesus Cristo, que ressuscitará os seres humanos, os julgará, dará vida eterna aos crentes, e condenará os descrentes à morte eterna. Seu Reino não terá fim.

Apesar de o Reino de Deus já existir na terra sob a forma de Igreja, sua revelação plena só acontecerá no Último Dia. Naquele dia, as ações de Cristo serão atemporais. Uma destas principais ações será a ressurreição de todos os seres humanos já falecidos desde o começo do mundo. Isto acontecerá para que todos – juntados corpo e alma – recebam o que merecem por aquilo que fizeram; mas deve ficar claro que o critério para receber o céu ou o inferno continuará sendo a fé em Cristo, a qual se revela e atua em amor verdadeiro e desinteressado em favor do semelhante. Os crentes receberão uma vida de alegrias eternas, em que não serão mais necessários Lei e Evangelho, pois tudo será “bom”, como no Éden.

10. Antes da criação do mundo, Deus elegeu seus filhos à vida eterna em Cristo.

Nas Escrituras, os cristãos são chamados de “eleitos”. Esta doutrina, contudo, é chamada de “a cruz dos teólogos” (“por que uns e não outros?). O Espírito Santo dá a fé onde e quando lhe agrada e não se pode manipulá-lo, mas isto não quer dizer que haja uma dupla predestinação na Bíblia (uns para o céu, outros para o inferno). As CL falam apenas de eleição para a salvação. A causa da condenação de alguém não é Deus, mas sim a rebeldia e a falta de fé de alguém. Ainda que Deus saiba previamente o que acontecerá, isto não quer dizer que ele tenha determinado isto (pré-conhecimento é diferente de predestinação). Além disso, falar em Lei e Evangelho também não dá margens à dupla predestinação. Alguém se encontra atribulado pela doutrina da dupla predestinação precisa ser consolado com o Evangelho, fortalecendo esta pessoa com o fato de que Deus a ama tanto que a escolheu em Cristo desde a eternidade para morar no céu, bem como a todos aqueles que igualmente crêem em Cristo. Enfim, não se pode investigar o conselho secreto de Deus. Quem com fé ouve a Palavra e participa dos Sacramentos pode estar certo de que seu nome está no livro da vida. Logo, o segredo da vida eterna já está revelado, sendo também o artigo central das Escrituras Sagradas e das CL: quem crê em Cristo é por ele justificado e dele recebe a vida eterna.


Livro 2

CARSON, Moo e Morris. Introdução ao Novo Testamento.

SINÓTICOS

JOÃO

Ministério de Jesus na Galiléia è Peréia e JudéiaèJerusalém.

Se concentra em Jerusalém.

Exorcismo e Parábolas

Não traz parábolas e poucos exorcismos

Narram acontecimentos.

Discursos de Jesus.

- Como surgiram os Sinóticos?

- Lc aponta fontes: oculares, fonte oral e outros relatos. (lc 1.1-4).

Crítica da Forma: Se se aceita como 50 a data de Mc, a etapa oral (Crítica da forma) durou 20 anos. Princípios:

A) Relatos sobre a vida de Jesus circulavam em pequenas unidades independentes.

B) Não foram pessoas individualmente, mas comunidade é que dá forma e transmite.

C) Relatos de Jesus assumem certas formas padronizadas.

D) De acordo com a crítica forma é possível a determinação do Sitz in leben, seu conceito na vida da igreja primitiva, que tem suas condições e necessidades existenciais bem definidas.

E) A igreja cristã deu forma e também mudou o material sob pressão de suas necessidades de situações.

F) As pessoas tendem a encompridar relatos, acrescentando-lhe detalhes, conformando-o com sue linguajar e crenças. Assim, relatos menores são mais confiáveis.

Crítica das Fontes: Trata da problemática dos primeiros escritos.

- Escritos sobre Jesus, maior parte vem depois da fase da tradição oral, e que vieram a formar o cânon.

- A pergunta é que fontes cristãs haviam para ter tanta semelhança entre os evangelhos? Além disto, ao lado das semelhanças, existem diferenças enigmáticas.

- O problema ainda é maior, pois seguem a mesma ordem dos acontecimentos sem haver um motivo claro para tanto.

Solucões:

A) Dependência comum de um evangelho original, escrito em hebraico ou aramaico. (Lessing).

B) Dependência comum de fontes orais. (Herder).

C) Diversos fragmentos que foram gradualmente crescendo, até serem incorporados nos sinóticos.

D) Interdependência: 2 evangelistas se utilizaram de um ou mais evangelhos para comporem o seu.

- Teorias de Interdependência:

- Interessante é que quase nunca Mateus e Lucas juntos em oposição a Marcos. Desta forma, Mt e Lc tem um relacionamento com Mc que pode levantar 3 possibilidades: Mc é anterior aos outros; é posterior aos outros ou é um ponto-médio.

- Entretanto, não se pode excluir a dependência entre Mt e Lc, o que gera 6 possibilidades.

- Agostiniana: Mateus foi o primeiro a ser escrito, então Marcos faz uso tanto de Mt e Lc dos outros dois. Foi advogada por Santo Agostinho, mas hoje não encontra muita ressonância.

- Hipótese dos “Dois Evangelhos”: Mt foi o primeiro a ser escrito, e Mc usou tanto de Lc como Mt para ser escrito o seu.

- Hipótese das “Duas Fontes”: Mc foi o primeiro ao lado de uma fonte “Q”, uma coleção das declarações de Jesus que foi perdida. B.H. Streeter defendeu a existência de mais outras duas fontes: M (que deu origem a Mt) e L (que deu origem a Lc). A hipótese das duas fontes tem sido duramente criticada, mas os autores apontam com a melhor teoria existente atualmente. Vejamos as diversas tendências dentro desta teoria:

A)Primazia de Marcos: Um argumento a favor é a brevidade de Mc, além de 97% e 88% das palavras de Mc se encontram em Mt e Lc, sucessivamente. Entretanto surge outra teoria, de que Mc seria um resumo de Lc e Mt. Na questão verbal e a ordem dos acontecimento, Mc é semelhante a Lc e Mt. Mc apresenta mais irregularidades que Lc e Mt, o que reforça sua anterioridade, tendo em vista que os outros evangelistas iriam remover estas irregularidades. Além disto, aponta-se também para a teologia mais primitiva de Mc, contendo passagens mais complicadas.

- Fonte “Q”: Shcleiermacher foi o primeiro a propor a existência de uma coletânea sobre a vida de Jesus, cf citado em Papis. Esta teoria foi retomada e a maioria dos estudiosos que aceitam a primazia de Mc, defendem a existência da fonte “Q”.

- Existem perto de 20 vs. Que aparecem em Mt e Lc e não constam em Mc. A teoria de que se utilizou do outro é aniquilada quando se observa as diferenças de seqüência e verbais entre ambos.

- Argumentos a favor da fonte Q:

A) Semelhanças nos discursos sendo este argumento de peso limitado.

B) Há histórias que aparecem mais de uma vez no mesmo evangelho, o que leva a crer que foi copiado de Q e posteriormente de Mc, ou vice-versa.

C) Há uma diferença enorme entre a forma de agrupamento do material entre Mt e Lc.

- Há alguns que defendem ser a fonte Q um conjunto de discursos de Jesus, que não formariam uma unidade documental.

- Os que defendem que Lc usou Mt, utilizam das correspondências menores entre Mt e Lc em oposição a Mc. Isto pode ser explicado por corrupção textual devido à mania dos copistas de tentarem harmonizar os evangelhos e o uso comum de tradições orais que foram sobrepostos a Mc.

- Teorias de um Proto-evangelho: Como alternativa para preencher lacunas deixadas pela teoria das duas fontes, estudiosos têm proposto a existência de uma edição anterior de cada um dos sinópticos. Mc seria o mais antigo, e os outros podem ter utilizado de uma edição anterior de Mc.

- Tem sido muito popular a concepção de que Mt escreveu uma edição de seu evangelho em aramaico (levantada por Papias), que então foi utilizada por Mc e Mt se utilizou de Mc em grego para fazer o Mt em grego. Entretanto, o texto de Mt grego não parece ser uma tradução do aramaico e uma tradição antiga afirma que Mc redigiu seu evangelho com base na pregação de Pedro.

- Com relação Lc há a hipótese de que numa primeira edição Lc mesclou as fontes Q e L, o que é comprovado por sua tentativa de seguir seu próprio caminho e por ter colocado o material de Mc em blocos. Então somente numa segunda edição é que anexou o material de Mc.

- Conclui dizendo que a melhor teoria global para os sinópticos é oferecido pela teoria das duas fontes, que como toda hipótese apresente suas falhas não podendo ser tratada como algo definitivo, devido à complexidade da composição dos evangelhos sinópticos.

Etapa Final de Composição: A Crítica da Redação

- Procura descrever os objetivos teológicos dos evangelistas ao analisar a maneira como empregam suas fontes. Chama atenção para os evangelistas, que mesmo reunindo fontes tinha objetivos teológicos próprios, reunindo todo material numa unidade literária própria.

- Princípios:

A) Faz distinção entre tradição e redação.

B) A redação dos evangelistas se manifesta em várias situações: 1) Dados que escolheram incluir e excluir; 2)Disposição dos dados; 3)Transições que o evangelista se utiliza para juntar suas fontes, mostrando sus preocupações.4)Acréscimo aos dados, mostrando as preocupações dos autores; 5)Omissão de dados que podem ser motivadas por preocupação teológica; 6)Alteração nas frases.

C) Críticos procuram ver padrões com esses tipos de mudanças em determinado evangelho, mostrando as principais preocupações teológicas.

D) Diante desta visão teológica geral, procura-se estabelecer um contexto para a elaboração do evangelho.

- O precursor desta crítica foi William Wrede. Entretanto logo de início não foi levado em conta. Daí, surgiu os trabalhos sobre a teologia de Lc, teologia de Mc, etc.

- Avaliação:

1) Para ser válida, a crítica da redação depende da nossa capacidade de fazer distinção entre tradição e redação.

2) Muitas vezes se supõe que todas as modificações que os evangelistas fizeram tem motivação teológica.

3) Muitas vezes as “ênfases redacionais” de cada evangelista são vistas como alterações teológicas.

4) A tentativa de se identificar o local da escrita tomando-se por base o local em que foi escrito, é bem mais específico que as informações podem tolerar.

5) Freqüentemente a crítica da redação é feita de um modo que se questiona a fidedignidade histórica das informações dos evangelhos. Isto se deve ao fato de que muitos dos críticos tem como pressuposto de que não havia uma preocupação dos evangelistas com a historicidade dos fatos. Entretanto há outros que diferem entre tradição e redação para poderem melhor compreender o evangelho, não que uma seja historicamente inferior a outra.

6) A crítica da redação fornece elementos significativos para o intérprete e teólogo.

7) A crítica da redação lembra-nos que os evangelistas tinham preocupação em aplicar os ensinos de Jesus na vida das pessoas. Tinha preocupações teológicas, não somente históricas.

8) Os 4 evangelhos nos mostram a singularidade e multiplicidade dos relatos e preocupações quando se trata da vida de Jesus.

Gênero Literário dos Evangelhos

- A palavra Evangelho como nomenclatura para os livros canônicos do NT surge em fins do séc. I e início do II, sendo que Justino é o primeiro autor a empregar a palavra evangelho.

- O moderno estudo do gênero tem colocado como literatura popular, o que me implica em tratá-lo de acordo com as regras de transmissão da cultura popular. Assim não seriam mais tanto biografias de Cristo, mas quérigma sobre Cristo, sendo os evangelhos uma etapa final da tradição oral. Atualmente a maioria dos estudiosos acham que os evangelhos não se enquadram em qualquer categoria literária estabelecida. No entanto, há propostas de se enquadrá-los em gêneros literários. A mais popular é a de que são uma biografia, havendo semelhanças e diferenças com as biografias greco-romanas.

A Nova Crítica Lieterária

- designação que abrange uma ampla variedade de enfoques contemporâneos dos evangelhos, com o intuito de aplicar teorias literárias contemporâneas a estes enfoques. Em vez de se estudar a pré-história do texto, quer se estudar como o texto é, aplicando-a teorias literárias contemporâneas. O significado que ela transmite não está preso à sua origem histórica, de modo que não se pode falar de significado verdadeiro ou errôneo de um texto, mas apenas significado para mim e para você.

- Este movimento chamou atenção para o texto como temos hoje, o que veio a ser um vantagem.

- Entretanto existe uma reação contra a análise histórica, esquecendo-se até mesmo de quem escreveu, em que situação, para quem, de forma a permitirem inúmeras interpretações. Ainda há uma tentativa de aplicar categorias de interpretação literária modernos à textos bíblicos, escritos há 2mil anos atrás. E por fim há grandes indagações sobre o estruturalismo.

Jesus e os Evangelhos Sinóticos

- como harmonizar os 4 evangelhos, se eles são relatos historicamente confiáveis sobre a vida de Jesus?

- No iluminismo há uma crítica à historicidade dos relatos dos evangelhos, principalmente referindo-se aos milagres. Aqui se destacam Riemarus e Lessing.

- Esta onda racionalista foi quebrada por D.F. Strauss que defendeu que os evangelhos, através de seus mitos davam idéias sobre o “espírito absoluto”(Hegel).

- Uma ataque a estas tendência foi se dizer que Mc não era teólogo, dando portanto um relato confiável sobre o Jesus Histórico.

- Schweitzer acabou com esta discussão fazendo uma retrospectiva histórica desde Reimarus comprovando que na verdade o Jesus Histórico era determinado pelo período histórico do teólogo. No final do XIX chegou-se a conclusão da impossibilidade de se alcançar um relato não-teológico e não-tendencioso do Jesus Histórico.

- Bultmann então irá afirmar que podemos saber pouca coisa do Jesus Histórico, sendo que o que temos são relatos que foram muitas vezes reinterpretados. Mas para Bultmann o interessante era que se possa experimentar um encontro com Jesus nos dias de hoje. Desenvolveu o programa de demitologização. Devido à sua teoria, há uma volta à pesquisa do Jesus Histórico.

- Entretanto, não há muito fundamento para haver um cetismo tão grande com relação aos relatos dos evangelhos e sua historicidade.

A Possibilidade de um Esboço Histórico

- Existe possibilidade de harmonizar os 4 evangelhos para formar uma história da vida de Jesus? Uma barreira são as muitas passagens com contradições de ordem histórica, o que não invalidam como relatos históricos.

- A seqüência cronológica nem sempre é acompanhada de uma concordância quanto a episódios individuais, o que pode ser explicado da forma como as fontes se organizavam, ou seja, por tópicos, dificultando para o evangelista, não havendo também muita preocupação cronológica por parte deste.

A Cronologia dos Evangelhos

- As citações que se faz com relação à história secular da época nos permitem uma melhor datação dos fatos.

- Nascimento de Jesus: Jesus nasceu não muito antes de 4 aC. Augusto governo entre 31ac. E 14 D.c, não sendo possível a datação do censo.

- Início do Ministério de Jesus: Lucas diz que foi no 15º de Tibério. Entretanto Lc pode ter começado a contar em 11 ac. Quando Tibério tornou-se co-regente ou começa a contar em 14dc. Quando assume definitivamente?

- Duração do ministério: João fala em 3 páscoa, o que nos leva a concluir em pelo menos 2 anos de ministério.

- A morte de Jesus: Deve ter ocorrido em 30 dc. ou depois, havendo dificuldades para se estabelecer se foi em 14 ou 15 do mês de Nisã. Entretanto Hoehmer que foi depois de 31 por razões históricas. Há também a data de 33, por dados astronômicos, o que complica devido à conversão de Paulo sendo muito tardia se aceita esta data.

MATEUS

Conteúdo

- Surgem discordâncias quanto à estrutura deste evangelho, para são quais existem três teorias:

A) Alguns aponta uma estrutura geográfica, relacionada com o evangelho de Marcos. Entretanto esta teoria não nos aponta nada sobre a especificidade de Mateus.

B) Outros defendem três seções firmemente amarradas: 1)A pessoa do Messias; 2)A proclamação do messias; 3)Sofrimento, morte e ressurreição do Messias. Entretanto, esta proposta é fraca em sustentação, sendo que a pessoa de Cristo permeia todo o evangelho, sendo difícil a distinção entre proclamação...

C) Divisão do livro em 5 discursos, que terminam com a frase: “E aconteceu, quando Jesus tinha terminado de dizer estas coisas, ... ainda que tenham algumas partes que não se encaixam dentro disto, o esboço é válido por sua grande consistência, de forma que é impossível que Mateus não o tivesse planejado.

- Utilizando-se deste esquema anterior chega-se a um esboço de 7 partes: Prólogo; Evangelho do reino; reino expandido sobre a autoridade de Jesus (vários milagres, Jesus come com pecadores); o ensino e pregação do evangelho do reino: oposição crescente (ex. do conflito com relação ao sábado); glória e a penumbra: polarização progressiva (multiplicação dos pães, caminhada sobre as águas ou seja o poder do ministério de Jesus e como não se havia compreendido); Oposição e escatologia: o triunfo da graça (mostra a conduta daqueles que queriam seguir a Jesus e várias discussões e parábolas); Paixão e ressurreição de Cristo.

Autor

- Muitas vezes se diz ser uma obra anônima. Entretanto, não temos registros de que as obras circularam sem a designação adequada (Kata Maththaion). Eruditos defendem a idéia que o nome foi colocado somente em 145d.c., entretanto Hengel mostrou que os nomes das obras não andavam sem título e que havia unanimidade no séc. II sobre o nome dos livros, que só podem ter sido dados no séc. I.

- No entanto, a teoria de Hengel se baseia muito em hipótese sobre o séc. I com base no séc. II., além de a ananomía ser menos ameaçodora que Hengel leva a crer. A expressão Katá necessariamente não tinha o significado de “segundo”. Entretanto parece muito forte o argumento que desde cedo já aparecia nos evangelhos o nome de seu autor.

- Papias afirmou que originalmente Mt foi escrito em aramaico e traduzido para o grego por outros. Entretanto há fortes argumentos contrários. As citações do AT não são feitas em aramaico, mas em grego e outras traduções que o autor fez para o grego. 2) As fortes semelhanças lingüísticas entre Mt e Mc, sugerem que aquele não foi escrito em aramaico primeiramente. Ainda, o texto grego não soa como uma tradução.

1) Alguns interpretam a afirmação de papias como se referindo a declarações independentes de Jesus, talvez até a fonte Q, de forma que Papias confundiu a fonte e o Mateus canônico.

2) Há a hipótese de que a palavra logia se refira a testemunhos do AT, o que parece pouco provável.

3) Kürzinger afirma que o logia ser refira ao Mt canônico, mas a segunda parte da afirmação de Papias indica a forma como o livro foi organizado, de acordo com recursos literários semíticos. Entretanto é uma proposta improvável.

- Pais da igreja interpretaram como se Mateus tivesse escrito em aramaico primeiramente.

- A Palavra logia era utilizada para se referir ao que o Senhor disse e fez, o que leva a crer que na verdade Papias estava se referindo ao evangelho canônico de Mt. Conclusão é difícil, mas parece que Papias estava errado. E se estava, também não errou quando atribuiu a autoria ao apóstolo Mateus?

- Ao que parece Papias acha a idéia do aramaico interessente, tendo em vista que Jesus viveu com Hebres, andou com eles e nada mais natural que o 1 evangelho fosse escrito em aramaico, ainda mais que no séc. II o helenista não tinha muita noção do quanto se falava aramaico na Palestina do I, além de ele poder ter se confundido com outro evangelho (existem evangelho segundo os hebreus, p.ex.).

- Sobre a questão da autoria e esta falha de Papias, as duas questões não estão intimamente interligadas, se ele errou numa coisa não significa que necessariamente a autoria esteja certa.

- Argumentos pró-Mt:

1) Somente este evangelho traz referência a “Mateus, o publicano”.

2) Há teoria que Levi (presente nos outros sinóticos) seja a designação de sua tribo e não um nome, o que vem a explicar seu conhecimento sobre o AT. Entretanto, a teoria mais plausível indica que Levi seja um outro nome. (Pedro = Cefas).

3) A idéia de que Mt, um coletor de impostos foi o autor deste livro se harmoniza com diversos detalhes: sua familiaridade com operações financeiras que aparecem nos seus evangelhos.

4) Há pessoas que defendem uma autoria tardia de Mt, que eliminaria todo seu caracter apostólico, pois nenhuma testemunha ocular estaria viva.

5) Alguns argumentam que autor não poderia ter sido um apóstolo judeu pelo seu caráter anti-semita (entretanto o evangelho foi escrito para judeus e apresenta Jesus como enviado especilamente para Israel, etc.) e seu desconhecimento da cultura judaica (esta é fortemente contestado).

- A autoria de Mateus parece bastante plausível, sendo importante para uma reconstrução do ambiente da igreja primitiva.

Lugar de Origem

- Kilpatrick sugeriu que este livro é resultado de uma comunidade (ou melhor uma escola, uma parte de dentro de uma comunidade), coletando materiais que circulavam e então Mateus o teria compilado tentando mostrar a relação entre AT e o cristianismo. Entretanto, a crítica da redação combateu muito desta teoria.

- Local mais provável é a Síria. A Palestina não poderia ser por depois de 70d.C. esta região estava bastante destruída. Streeter defende que é de Antioquia, por Inácio citá-la já no princípio do II. Antioquia havia uma população numerosa de judeus e lá também é o primeiro centro que procurou alcançar o mundo gentílico. Isto fecha bem com o caráter do livro que se dirige a judeus, mas vê com bons olhos a missão entre os gentios.

Data

- Há um consenso de que a obra foi escrita durante o período de 80 a 100 d.C.

1) Mt se utilizou de Mc que situa entre 55 e 70 d.C, o que inviabiliza uma data para Mt antes de 80d.C. entretanto este ponto de vista parte do princípio da primazia de Mc e há tempo plausível do livro ter sido escrito antes. (se Mc=60, Mt pode ser muito bem=70).

2) Redação posterior a 70 pode ser fundamentada pela referência a destruição de uma cidade (Jerusalém) e as referências à igreja. Autor aponta para a fraqueza destes argumentos. Ex. Fp 1.1 foi escrito antes de 70 e aparece o termo igreja, e não precisa ser necessariamente uma referência a uma organização eclesiástica.

3) Utilização do termo “até o dia de hoje” sugere uma distância do tempo dos fatos e quando Mt escreve. Mas este argumento é muito relativo.

4) No momento em que é escrito a tensão entre cristãos e judeus deveria estar muito forte, o que aconteceu em 85d.C. (concílio de Jâmina). Mas é preciso lembrar que conflito entre judeus e cristãos já vinham da época de Paulo, e quem falou que seu ápice é neste concílio?

Argumentos a favor de antes de 70d.C.

1) Se foi escrita pelo Mt apóstolo, é provável que tenha sido escrito antes de 70.

2) Os pais da igreja primitiva são unânimes em atribuir a Mt uma data anterior, entretanto este dado não tem muito peso visto esta idéia estar associado à primazia de Mt.

3) Algumas colocações de Mt dão idéia de que o templo ainda estava de pé. Um ex. é a questão do imposto no templo que antes da queda era visto como solidariedade (sem muita importância) e depois de 70 como idolatria. Se ele destaca era pq considerava importante.

4) Não há pontos comuns com Paulo, o que viabiliza a idéia de que foi escrito antes de 90, onde a igreja não era tão influenciada por Paulo e suas idéias.

- nenhum dos dados é conclusivo e o autor é mais propenso a aceitar antes de 70, provavelmente na década de 60.

Destinatários

- Leitores da sua própria região.

Propósito

- há vários temas dominantes em Mt e não há como tentar propor um único propósito para o livro.

- Devido ao grande número de citações do AT há propostas de que o livro foi escrito para ensinar os cristãos a lerem suas Bíblias (ou seja, o AT). Outros propõe que, por sua ênfase na lei, Mt estava lutando contra o anti-nomismo e até mesmo o paulinismo. Outros propõe que Mt queria uma volta à tradição mais antiga, contra a institucionalização da igreja.

- Principais propósitos:

1) Jesus é o filho de Deus prometido.

2) Líderes judeus pecaram em não reconhecer nele o filho de Deus.

3) Reino escatológico despontou.

4) Reinado messiânico continua no mundo à medida que crentes submetem-se à autoridade de Jesus.

5) Volta de Cristo, como cumprimento do reinado messiânico.

- Foi universalmente aceita no Cânon, sendo muito citada.

Mateus em Estudos Recentes.

- Nas últimas 3 décadas tem-se dado muita atenção para a crítica da redação de Mt. Tem-se estudado principalmente a sua relação com Mc e a fonte Q.

Contribuição de Mates

- Os sinóticos em geral, dão uma visão basilar do ministério e vida de Jesus, ao lado de João.

- Mt:

1) Preservas grandes blocos de ensino de Jesus.

2) Dá uma visão do nascimento virginal de Jesus, apresentando-o a partir da perspectiva de José.

3) Citações e a forte relação entre a antiga e nova aliança.

4) Mt afirma inúmeras vezes que Jesus veio para cumprir a lei.

MARCOS

Conteúdo

- O relato de Mc dá ênfase a ação, aparecendo sempre o conectivo “Logo”.

1) Antecedente do ministério de Jesus;

2) 1º parte do ministério na Galiléia

3) 2º parte do ministério na Galiléia, concentrando-se na imensa popularidade de Jesus.

4) Fase final do ministério na Galiléia, transportando-se para Nazaré.

5) Caminho da glória e do sofrimento: concentra-se no discipulado.

6) Ministério final em Jerusalém, que é iniciada com a entrada triunfal de Jesus.

7) Narrativas da paixão e do túmulo vazio.

Autoria

- Nos dias de Eusébio sabe-se que Mc escreveu o livro, obtendo informações de Pedro, não havendo ordem no que escreveu. Estas idéias estão disseminadas entre os pais.

- Hoje em dia se ataca a dependência de Pedro, sendo uma forma utilizada por Papias para defender o livro contra ataques.

- O Mc que se fala está presente em várias espístolas neotestamentárias, sendo o mesmo que participou de uma viagem missionária com Paulo, mas voltou do meio do caminho e que depois provoca discórdia entre Barnabé e Paulo e vai com aquele. Era filho de uma influente mulher em Jerusalém. É o jovem desnudo no getsêmani.

- Alguns estudiosos atacam esta idéia, apontando uma ignorância do autor com relação a costumes e a geografia da Palestina, o que não subsiste diante de um exame mais cuidadoso. O estilo do grego bem simples e direto fundamenta sua origem na Palestina.

- Com relação a Pedro e Mc na redação dos evangelhos, estudos recentes acham que os evangelhos são produtos de um longo e complexo processo da hist. Das tradições tem dificuldades em aceitar esta proposta.

- Esta escola tem suas falhas, mas deve-se admitir que Mc usou de outras fontes. Há uma riqueza de detalhes enorme que sugerem uma testemunha ocular. Pedro aparece com destaque, havendo uma crítica aos apóstolos, o que somente poderia ser feito por outro apóstolo por ter autoridade. E o evangelho segue o esquema da pregação de Pedro em At.

Local de Origem

- Há uma tendência da tradição mais antiga de ser originária de Roma, o que pode ser fundamentado pela presença maciça de latinismos, alusões aos sofrimentos, o público que se dirige parece ser gentílico.

- Na tradição antiga defende-se também a origem no Egito.

- Há outros que defendem ser sua origem em Antioquia (proximidade com a Palestina) e ainda outros bem genéricos atribuem sua origem no Oriente. Marxsen defende a idéia de que teve origem na Galiléia, devido ao lugar proeminente desta região no evangelho. Mas esta é sem fundamento.

Data

- Década de 40: Torrey defende que “a abominação da desolação” é uma referência ao projeto de Calígula de pôr sua imagem no templo, e então o evangelho foi escrito após este fato. Imporvável. Há outras teorias improváveis.

- Década de 50: Há documentos que comprovam a estada de Pedro em Roma, em meados da década de 50. E além disto, se Lucas escreveu seu evangelho até 62, e utilizou-se do Mc canônico, este deveria ter sido escrito até 60.

- Década de 60: Mais aceita pelos estudiosos por 3 motivos: tradições mais antigas favorecem uma data posterior à morte de Pedro; maioria deles evidencia um ambiente de perseguição; Mc reflete a situação da Palestina durante a revolta judaica, logo antes dos romanos entrarem em Jerusalém (68 ou 69).

- Década de 70: Mc 13 reflete a experiência do saque em Jerusalém. Muito fraca esta proposta.

- A melhor data parece algo entre o final dos anos 50 ou meados dos anos 60.

Destinatário e Propósito

- Provavelmente para romanos gentios, que fica evidente pelos latinismos e explicação dos costumes judaicos.

- Propósito tem sido difícil por não haver como a crítica da redação descobrir as fontes que Mc se utiliza.

- Há 3 interpretações típicas:

1) Escatológica: Marxsen achava que Mc tinha a intenção de reunir na Galiléia todos os cristãos para a Parousia iminente. Entretanto esta posição é difícil de sustentar.

2) Cristológica: Mc destaca a humanidade e o sofrimento de Cristo em oposição à idéia de um super-Cristo, idealizado onde sua morte recebia pouca ênfase. Mas em Mc parece não haver nenhuma evidência de polêmica.

3) Apologética: Mc foi escrito para encobrir o caráter político de Cristo que era um revolucionário contra Roma, sendo morto por estes. Mc então coloca a culpa, o quanto pôde, nos judeus e encobre este caráter político de Cristo. Difícil sustentação.

- Mc quer mostrar que Jesus é o filho sofredor de Deus, e que os crentes devem seguir o seu caminho: humildade, sofrimento e se necessário se submeter à morte. Mostra quem é Jesus e o que o seu discipulado implica. Além disto não podemos nos esquecer que o Mc tinha o propósito de evangelizar.

Fontes

- havia uma teoria, hoje não tanto destacada, que haveria um relato da paixão de Cristo antes de Mc. Mas a fonte que Mc usou foi o testemunho de Pedro, caso se aceite esta teoria.

Texto

- Há um problema com relação ao final do evangelho, havendo argumentações contra a autoria de Mc, mesmo que apareça em grande parte dos manuscritos.

- Os melhores manuscritos não constam este final; Jerônimo e Eusébio também aponta que nas fontes que tinham não consta esta final. Existem outros manuscritos com um final mais curto e outros com final longo, mas com uma interpolação, o que sugere incerteza quando ao final de Mc. Ainda, o final longo contém muitas expressões não utilizadas por Mc, além de soar estranho ao restante do evangelho.

- Então o que seria este final?1)Mc pode ter sido impedido de terminar de escrevê-lo; 2)Mc pode ter escrito um final mais longo, que foi perdido na tramissão; 3)Mc terminou deliberadamente seu evangelho no v. 8.

Estudos Recentes

- Mc sempre foi relegado a um segundo plano, até que Wrede defendeu a idéia do Segredo Messiânico, ou seja, Mc cita que Jesus pediu silêncio sobre o que fizera foi acrescentado por Mc para explicar o motivo de Cristo não ter sido reconhecido como o filho de Deus. Esta obra trouxe interesse para Mc, ainda que hoje não seja aceita tal idéia.

- Há atualmente uma análise sociológica e outro rumo é a análise utilizando-se recentes técnicas literárias, que traz foco não sobre o que Mc diz, mas sobre o “mundo narrativo”.

Contribuição de Marcos

- há a idéia de que a importância de Mc se deva ao fato de ser o primeiro a escrever, servindo de base para os outros. O que seria um grande mérito, pois Mc cria uma espécie de biografia misturado com quérigma. Mc segue uma seqüência utilizada na igreja primitiva.

- Mc destaca que os doze não são exemplos a serem seguidos de forma mais incisiva que nos outros evangelhos.

LUCAS

Conteúdo

- Dividia em 5 partes: Primórdios cristãos; Jesus na Galiléia; viagem de Jesus da Galiléia para Jerusalém; Jesus em Jerusalém; A crucificação de Jesus.

Autor

- O autor deste evangelho e de Atos são o mesmo, de forma que isto concorda com a tradição antiga que não atribui nenhum outro nome a este livro. É reforçado pelo prefácio que mostra que o autor não foi testemunha ocular dos fatos.

- Antes se tentava fundamentar a autoria de Lc relacionando com a linguagem médica usada no livro, entretanto Cadbury mostrou que não tem muita importância, visto que esta linguagem era empregada por pessoas comuns em seus escritos.

- A objeção da autoria lucana é apontado por aqueles que vêem dificuldades em conciliar o que Paulo e o autor de Atos dizem, não podendo ser companheiro de viagem de Paulo.

- Em geral acredita-se que Lc é um cristão gentio, de boa cultura, usando o grego helenístico no seu escrito de forma a lembrar a LXX. Há uma tradição que aponta sua cidade natal sendo Antioquia.

Local de Origem

- Há hipótese de que escreveu seu livro em Roma, Antioquia e mais provável que seja em Acaia.

Data

- Há hipótese para a data no início dos anos 60:

1) Não menciona perseguição de Nero;

2) Não menciona nada sobre a execução de Paulo. O relato termina com a prisão em Roma.

3) As epístolas paulinas não são mencionadas.

- Outra corrente aponta para entre 75 e 85d.C.:

1) Dependendo da data que se aceita que Mc foi escrito, joga-se Lc para no mínimo 70 d.C.

2) Lc deve ser colocado numa data perto de Mt. Este aceita-se que foi escrito em 80d.C.

- Outros defendem uma data no séc. II, de forma que Lc utilizou-se da obra de Josefo (93d.C.). Mas este argumento não tem peso nenhum.

Destinatários

- Parece que Teóflio era um homem de posição que paga a publicação do livro de Lc, o que não significa que Lc queria que o livro dirigisse apenas a ele. Ele teve em mente cristãos gentílicos, evitando expressões aramaicas.

Composição de Lucas

- provavelmente Lc se utilizou de Marcos e da fonte Q, fazendo alterações para melhorar o estilo destes documentos.

- Interessante é que em Lc há uma omissão dos sentimentos de Jesus, prendendo-se mais no que Jesus fez e falou.

- Alguns levantam a hipótese de um proto-lucas. Alguns tem também proposto que Lucas utilizou 3 fontes: Q+L+Mc.

- Interessante é que Lc, apesar de seguir a estrutura de Mc, em determinado momento omite um histórica, encaixando-a em outro local.

- Lucas usa inúmeras vezes a palavra Kýrios, sendo que os críticos atribuem este uso ao proto-lucas, não sendo colocado na redação final do livro, mas anteriormente.

- Os que combatem a idéia do proto-lucas não explicam duas coisas: 1)Lc combina seu L com Q, mas nunca com Mc; 2) por que ele se afasta radicalmente de Mc no ponto alto do seu livro, na narração da morte e ressurreição de Cristo? A melhor hipótese é que Lucas estava envolvido com 2 fontes antes de conhecer Mc: Q e L.

- Aspecto interessante é a semelhança de informações que mantém com João.

Texto

- Não aparecem no texto latino importante algumas frases, havendo neste também acréscimos importantes que não constam em outras obras. Ele omite formas que estão bem presentes em outras fontes.

Aceitação no Cânon

- como Lc fala da utilização de outros materiais, não dá pra saber quando ele é citado, afinal que o utiliza pode estar utilizando a tradição oral ou outro doc que Lc usou. Mas com certeza a Didaquê e Evangelho de Pedro utilizam Lc.

Lucas em Estudos Recentes

- apesar de haver pesquisa olhando-se Lc como historiador, recentemente tem-se visto como teólogo, considerando-o um dos grandes 3 teólogos da igreja antiga.

- Conzelmann chama atenção para o fato de que Lc era influenciado pela demora da Parousia, o que leva a desenvolver temas relacionados com a vida cristã, assumindo uma atitude mais reflexiva.

- Escritos recentes vem a frizar a idéia de que Lc tem o interesse de institucionalizar a igreja, exatamente por sua posição frente a Parousia. Entretanto, este ponto de vista está longe de ser comprovado. É interessante notar que Lc pouca fala sobre ministério e sacramentos, que são fundamentais não institucionalização da igreja.

- Há uma ênfase na palavra e no seu cumprimento em Cristo. Esta ênfase é fundamental pois mostra a igreja como agência da salvação à medida que fornece o contexto em que ocorre a pregação da Palavra.

Contribuição de Lucas

- Lc traz muitas informações que temos somente em seu evangelho. Nascimento de João Batista e muito sobre nascimento e infância de Jesus.

- Seu interesse teológico o leva a ressaltar verdades que são de importância permanente para a vida da igreja.

- Trata incisivamente do tema da salvação, colocando-a como evento histórico que se manifestou na morte e ressurreição de Cristo. Agora a salvação é uma realidade presente. Esta salvação está aberta a todos, abarcando os samaritanos, viúva de Sarepta e o sírio Naamã, etc.

- Jervell destaca em Lc que ele entende que a lei deve ser seguida pelos novos crentes, sendo que na verdade existe um grande povo de Israel, ou seja, os novos crentes também fazem parte deste povo. Meio complicado de sustentar esta teoria.

- Um aspecto interessante em Lc é sua atenção para pessoas que eram vistas como sem valor no séc. I: mulheres, crianças, pobres e pessoas de má fama. Interessante que há também muitas advertências contra as riquezas. Fica claro que Lc tem um profundo interesse pelo fato de que Jesus deseja salvar pecadores, e como isto choca as pessoas.

- Lucas tem profundo interesse pelo ES, o que fica evidenciado principalmente em At, sendo que o ES está vinculado ao ministério de Jesus de diversas formas.

- Lc destaca fortemente a questão da oração.

- Há destaque também para o júbilo e o louvor, sendo graças a Lc que tem-se vários cânticos (simeão, Zacarias, Maria).

- Ainda que Lc não deixe tão claro como nos outros evangelistas a função vicária da cruz, o termo “salvador” destaca o aspecto soteriológico. Ele destaca a morte de Cristo, mas sem dar muita ênfase ao aspecto do triunfo de Cristo, não que ele não compreendesse isto, mas apenas não enfatiza.

JOÃO

Conteúdo

- Jo tem uma estrutura simples: Prólogo; livro dos Sinas, Livro da Glória e epílogo.

- O que chama atenção é como o evangelho está unificado e organizado rigidamente, havendo o que se chamou de perícopes ponte.

- O fato de haver tanto discussão quanto à estrutura se deve ao fato de João debater repetidamente sobre poucos assuntos.

- Após o prólogo Jesus se revela por meio de palavras e ações, que pode ser divida em 3 seções: 1) fase inicial do ministério de Jesus; 2)Sinais, obras e Palavras, mas num ambiente de oposição; 3)Transição para outra parte estrutural do livro.

- Outra parte destaca a morte e ressurreição de Jesus com ênfase especial na realeza de Jesus.

Autoria

- O primeiro escritor a fazer referência ao 4º evangelho atribuindo a João foi Teófilo de Alexandria (181d.C.) ainda que já haja referência anteriormente. Este João é o apóstolo filho de Zebedeu. Ireneu atribui este livro ao apóstolo.

- Há um prólogo antimarcionita ao livro de João, onde se diz que João ditou para Papias (de Hierápolis e mais chegado de João)que escreveu o livro e Marcião foi expulso pelo próprio João. Apesar de erros que aprecem neste documento a autoridade de João não é posta em dúvida.

- Irineu, Clemente e Tertuliano foram firmes testemunhas a favor da autoria joanina.

- Taciano faz uma narrativa harmonizando os evangelhos, de forma que o 4º evangelho serve de moldura, o que vem a afirmar a sua autenticidade.

- No final do II os únicos que não aceitava a autoria joanina era os alogoi (ignorantes).

- Ainda que as evidências externas que fundamentem a autoria joanina sejam tardias, não há nada que contrarie tal posição.

- Uma afirmação de Papias põe me cheque a visão dos pais, dizendo que houve confusão entre o são João e outro João que poderia ser autor do evangelho. Argumentos contrários:

1) entretanto, quando Eusébio fala de apóstolos e presbíteros faz distinção entre ambos.

2) Quando Papias fala de João como presbítero, poderia estar se referindo ao João apóstolo, pois não faz distinção como Eusébio.

Ver livro, pg,160-161 sobre tese de Hengel. Defende que o evangelho foi escrito pelo presbítero João que tinha grande admiração por São João e que procurará trazer para mais próximo de seu contemporâneos a imagem de Jesus, idealizando o seu mestre como um exemplo de discípulo.

Evidências Internas

- autor: Judeu da Palestina (estes fatos são inquestionados)

- há uma discussão em torno do discípulo amado, que no epílogo do cap. 21 se atesta como escritor. O discípulo amado tem sido tradicionalmente considerado João, filho de Zebedeu.

- O outro filho de Zebedeu, Tiago, não pode ser por ter sido logo martirizado (41-44d.C.), ao passo que o discípulo amado viveu por muito tempo. E é interessante que nem Tiago e João são chamados pelo nome, ao passo que discípulos proeminentes (Pedro) são tratados pelo nome.

- Tem havido propostas, como a de que o autor seria Lázaro, que se chamava discípulo amado como uma forma apropriada.

- Entretanto, João e Tiago são sempre apresentados como sendo incultos, e como então poderiam escrever um evangelho com tal profundidade e correção lingüística. Entretanto tem-se apontado que o texto de At4.13 não significa que eles fossem ignorantes, mas os avalia do ponto de vista teológico. Além disto, sua íntima ligação com Pedro, favorece a autoria de João.

- Um argumento contra é o de que na Palestina não se poderia escrever num grego tão fluente, o que é desmentido diante de constatação de que nesta região as pessoas eram bilingües e até trilingües.

- Hoje, comumente, acha-se que João, filho de Zebedeu, esteja por detrás do quarto evangelho, que recebeu uma redação final por um outro autor (talvez presbítero). Fatores que devem ser levados em conta para que João, o evangelista não é o mesmo que o João filho de Zebedeu:

1) A própria expressão “Discípulo amado”, afinal nenhum cristão chamaria a si mesmo de “discípulo amado”. Argumento muito fraco quando vemos como Paulo fala pessoalmente de obra redentora de Cristo. Interessante é que não há nenhuma menção do nome do apóstolo João, o que vem a combater esta tese.

2) Sempre que aparece João e Pedro, é destacado a superioridade daquele sobre ele. Será que João teria dito isto dele? Outros expositores têm afirmado que na verdade não se destaca a superioridade de um sobre o outro, mas se destaca dons diferentes.

3) A hipótese de que João usou de um amanuense para escrever a carta é pouco provável.

Unidade Estilística e a “Comunidade” Joanina

- A maior oposição à autoria joanina é a pressuposição de que o evangelho foi escrito por um círculo ou uma comunidade joanina.

- Tem-se reconhecido a dificuldade em se traçar as fontes do 4º evangelho.

- Há uma consenso em torno da unidade estilística que há em João, sendo que suas falas se aproximam muito com as citações que faz de Jesus.

- João pode ter se utilizado de fontes, mas é quase impossível discerni-las, inclusive a idéia do evangelho dos sinais tem apresentado imensa dificuldade em ser fundamentada.

- Brown, ao invés de trabalhar com fontes, procura as tradições distintas que influenciaram a escrita do 4º evangelho.

- Há de certa forma, o pressuposto de que é possível delinear a história e interferência das idéias de uma comunidade joanina, ainda que seja enormemente complicado. Pode ter havido uma várias comunidades sob autoridade de uma só pessoa, mas é muito complicado a idéia de haver uma escola de escritores com alunos responsáveis pelo quarto evangelho.

- Há possibilidade de a obra ter sido escrita em etapas, mas pouco provável que foi editada em etapas, devido a sua unidade estilística.

- Por que o evangelista impõe seu estilo também às falas de Jesus?

1) não se deve exagerar tanto com relação à unidade do evangelho. Reynolds destaca 150 palavras que Jesus utiliza e João não.

2) Para se contar uma história não precisa citar literalmente alguém, o que leva a crer que João tinha em mente uma visão universalista, de forma que a linguagem não represente uma barreira na comunicação.

3) Não precisamos ir ao outro extremo e negar a sua fidelidade (testemunha ocular) aos fatos ocorridos.

4) Tem-se visto a semelhança entre o evangelho de João e comentários rabínicos de época, de forma que alguns aceitam a unidade de alguns discursos mas não sua autenticidade cristológica (de Cristo).

Local de Origem

Geográfica

- Tem-se proposto 4 lugares: 1)Alexandria, devido semelhanças com Filo. 2)Antioquia, devido à influência da Odes de Salomão no 4º evangelho. 3) Palestina, devido aos detalhes existentes com relação à Palestina. 4)Éfeso, se aceitarmos as grandes citações que os pais da igreja fazem com relação a esta cidade.

Conceitual

- a partir do final do XIX até década 60 afirmou-se o vínculo entre o 4º evangelho e o mundo helenístico, formado por 4 influências principais: 1)Filo, especialmente na utilização do termo lógos. 2)Escritos Herméticos: gnosticismo que extrema o dualismo, de forma que destaca a importância da pessoa nascer de novo quando adquire novo conhecimento de Deus. 3)Gnosticismo: originário do dualismo neoplatônico. 4) Mandeísmo: espécie de gnosticismo que destaca o batismo como descida do “conhecimento da vida” onde se é liberto dos poderes dos demônios.

- Entretanto, com exceção do 1º, os demais movimentos são do II e III, e descobertas do Mar Morto têm mostrado uma ligação de João com movimentos da Palestina do que propriamente com movimentos helenísticos. Não se pode negar totalmente a influência de outras religiões neste evangelho que fica evidenciado nos termos (luz/trevas, p.ex.) e que aponta a universalidade com que João queria atingir, não apenas repetindo uma tradição que havia recebido, mas transformando-a utilizando-se de outros termos.

Relacionamento com os Sinóticos

- João não relata muitos temas e fatos centrais no sinóticos (parábolas, instituição da ceia), mas traz grandes discursos de Jesus, suas visitas constantes a Jerusalém, o que pode ser explicado pelo fato de João enfatizar o ministério de Jesus no sul (Judéia e Samaria) enquanto que os Sinóticos enfatizam a Galiléia. Em João Jesus é identificado com Deus.

- Há problemas cronológicos difíceis de harmonizar com os sinóticos (data da paixão, p.ex.).

- Todos 4 evangelhos apontam Jesus referindo-se a si mesmo como filho do homem, filiação de Deus Pai.

- Muitas passagens encontram explicação melhor em João. Por exemplo, acusação de que Jesus teria ameaçado a destruição do templo encontra explicação em Jo2.19.

- Resumo do debate erudito em torno da relação entre Jo e Sinóticos:

1) ainda que a maioria dos estudiosos neguem a qualquer influência sinótica, é provável que João tenha lido Mc ou Lc para escrever seu evangelho. Não se pode esquecer que Pedro estava por detrás do evangelho de Mc e da íntima amizade que havia entre Jo e Pe.

2) Relacionamento de Jo e sinóticos determina debates sobre autoria e data de composição dos 4 evangelhos.

3) Ambos abordam realidades históricas distintas, de forma que um lança luz sobre o outro.

4) Jo declara claramente Jesus como Deus, ao passo que os sinóticos não o fazem abertamente.

Data

- datas do sec. II são facilmente eliminadas por descobertas recentes, mas qualquer data entre 55 e 95 é possível, ainda que Jo21.23 sugira uma data mais para o final deste período.

- Jo21.19 nos leva a inferir uma data posterior a 64 ou 65 quando Pedro foi martirizado.

- Para alguns o silêncio da queda de Jerusalém representa forte indício para uma data anterior a 70, o que é problemático devido à variada importância do templo na mentalidade dos judeus da diáspora.

- Argumentos a favor de uma data entre 85 e 95 d.C.:

1) Testemunho dos pais que afirmam ser Jo o último a escrever seu evangelho e apontam para uma morte tardia, talvez em torno de 98d.C.

2) O termo “Expulsar da singoga” aponta um anacronismo, ou seja, a decisão do concílio de Jâmnia de expulsar os cristãos das sinagogas.

3) Detalhes como omissão dos saduceus e sacerdotes que terão profunda influência até 70d.C. apontam para uma data posterior.

4) Dentro da história da igreja primitiva Jo se harmoniza com uma data posterior devido à temas e a forma de abrodagem.

- Data que o autor sugere para a publicação do 4º evangelho entre 80 e 85 devido ao fato de se aceitar as cartas joaninas como combate à compreensão errônea do 4 evangelho pelos gnósticos, uma data posterior a 90 é de complicada sustentação. E ainda uma data seguida a 70 seria complicada devida à repercussão da queda de Jerusalém em todo império, mesmo onde o templo não tinha importância fundamental.

Destinatário

- se Jo, filho de Zebedeu, escreveu em Éfeso, teria em mente leitores desta região. Mas parece que o livro queria ter uma abrangência mais ampla possível.

Propósito

1) No início do século se propôs que Jo escreveu seu evangelho com propósito de suplementar e corrigir os sinóticos.

2) Outros trabalham com a influência da comunidade joanina defendem que Jo seria um resumo dos conflitos desta comunidade com a sinagoga, visando fortalecer os novos convertidos.

3) Mussner levanta a hipótese de que o 4 evangelho seja tão influenciado pelo presente (quando escritor escreve) que é difícil distinguir o Jesus Histórico, assim seu propósito é o presente. Freed aponta que Jo tem por fim conquistar samaritanos.

4) Jo20.31 aponta para o objetivo do evangelho de Jo: manter os que já estão na fé e a conversão dos judeus da diáspora, o que clarifica as inúmeras citações do AT, tradução de expressões semíticas (o que pressupõe que os leitores sabiam grego), etc.

Texto e Cânon

- existem poucas dificuldades com relação ao texto. E todos os 4 evangelhos foram aceitos em pé de igualdade com o AT já antes do final do II.

João em Estudos Recentes

- Análise da comunidade joanina a partir deste evangelho.

- O Espírito Santo no quarto evangelho.

- O mais importante estudo é a aplicação de várias formas de crítica literária ao quarto evangelho.

Contribuição de Jo

1) Contribuiu com outros elementos que não aparecem nos sinóticos, dando uma visão mais ampla do ministério de Jesus.

2) Jo mostra a íntima relação entre Jesus e Deus Pai, mostrando a obediência incondicional.

3) Jo enfatiza a capacidade que temos de desfrutar das bênçãos escatológicas no tempo presente (eternidade tem influência no aqui e agora).

4) Expressa mais claramente elementos da trindade do que outros escritos do NT.

5) Nenhum outro livro mostra tão bem como Jesus foi mal compreendido por seus contemporâneos, especialmente por seus seguidores.

6) João aprofunda temas restritos mais do que os sinóticos.

Frederico Pieper Pires

São Paulo, Setembro de 1999.


Livro 3

LASOR, Introdução ao Antigo Testamento.

AUTORIDADE DO AT PARA OS CRISTÃOS

- Era a Bíblia que os cristãos dos dois primeiros séculos e o próprio Jesus usou, era também o escrito que os primeiros cristãos usavam para evangelizar.

- Jesus, apesar de discordar em muitos pontos com os judeus, em momento algum questionou a inspiração das sagradas escrituras, assim como os judeus aceitavam sua autoridade.

- Diferença de interpretação entre Jesus e os judeus: 1)Jesus deu novo significado ao AT, não de legalismo, mas de amor, perdão e piedade interior.2) Jesus viu que o objetivo e todo o resumo do AT estava nele, Jesus era a razão de ser do AT.

- Pg. 638 compara Jesus à Moisés, no sentido de que ele deu uma nova lei, uma visão legalista????

- Aponta semelhança entre a interpretação de Jesus e de Paulo. Este se utiliza de muitos temas, citações e meios de argumentação calcado no AT. Ele aceitava a autoridade e inspiração do AT, estabelecendo padrão para todos que tratam com os oráculos de Deus.

- Importante notar a transformação que Paulo sofreu do seu entendimento do AT, afinal passou de perseguidor para ver em Cristo a chave de entendimento do AT.

- A tipologia bíblica tem fator importante nas epístolas de Paulo e atualmente vem tendo crescente interesse à medida que vem a ressaltar a unidade do AT e NT. Paulo via que o mesmo Deus que agia no At agia também no NT, e que as ações dele naquele eram protótipos de sua ação no presente e futuro.

- Paulo via importância, autoridade e inspiração do AT não por seu caráter místico e alegórico, mas pelo fato de ter uma mensagem redentora de Deus claramente exposta.

- Paulo interpretava o AT dando atenção ao seu sentido histórico e gramatical, entretanto sempre com uma visão, apontando para um cumprimento no futuro: Cristo.

- Os intérpretes do NT viam no AT não uma coleção de leis, mas atos de misericórdia e salvação.

- O AT não é somente do povo judaico, mas de todos, pois mostra como Deus tem agido em favor da humanidade.

- Para entender o AT é preciso: 1) Ver com os olhos de Cristo e dos apóstolos; 2) Ver em seu contexto original, para não cair no erro de se destorcer as escrituras conforme nossos interesses.

REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO DO AT

- Jeremais 18.18 alista 3 canais de revelação: 1) Sacerdotes que ensinavam a Torah; 2) Os sábios que ofereciam conselhos; 3) Profetas que proferiam a mensagem de Deus para o povo, o que fica evidenciado em frases como: “Assim diz o Senhor”. O AT é o registro escrito destas três formas de revelação, afinal eram feitas de forma oral.

- Na Torah se transmite a idéia de uma íntima relação entre Deus e os homens na sua revelação. (Dt 34.10), tanto que NT fala-se da Torah como lei do Senhor, lei de Deus.

- Interessante notar que há uma abertura no conceito de revelação que do conceito oral passa para uma revelação escrita.

- 1Tm 3.16 fala na verdade da inspiração do AT em que Timóteo foi criado, e aqui “inspirado pelo ES tem o sentido de insuflado, aludindo à obra do ES na revelação dos ensinos de Deus.

- Nega a doutrina da flauta na inspiração da Bíblia, não foi um ditado. Os escritores tinham consciência de que estavam transmitindo a verdade Bíblica.

- Fala de um complexo processo atrás da escrita inspirada dos profetas. Havia pesquisa em fontes seculares, editores, adaptadores e círculos que preservaram as tradições orais e as apresentavam às gerações posteriores. Isto se destaca principalmente no Pentateuco, onde tradições orais, escritas, legas, narrativas, foram unidas num livro após séculos.

- Mais no final do período do AT, parece que todos escritores que receberam revelação no AT passaram a ser tratados como profetas.

- O AT testamento revelam duas verdades: éticas e teológicas. Ele mostra em que os cristãos deviam ou não crer e como deviam ou não comportar. (2Tm 3.16).

- O AT é verdade infalível de Deus, contém a verdade. O problema é que não devemos procurar na Bíblia questões que não lhe interessam, que ela não se preocupa.

- Defende a idéia de que não é preciso inferir à Bíblia a doutrina de inerrância e assim ficar procurando argumentos protetores ao redor. Afinal a revelação Bíblica foi dada num contexto específico com as limitações culturais daquele povo, assim não podemos esperar encontrar padrões técnicos na área de geografia, história, ciências...., mas isto não indica que a Bíblia contém a palavra de Deus, mas que ela é a palavra de Deus.

O CONCEITO DE CÂNON

- Cânon – significa vara de medida, e desde o séc. IV tem sido usado para designar a lista regulamentar dos livros que são norma de fé e vida para os cristãos.

- Divisão doAT: Lei, profetas e outros escritos. Esta tradição já vem de 130 a.C.

- Defende um certo destaque ao pentateuco por parte dos outros escritos canônicos, vendo em Moisés o grande profeta do AT.

- Aponta duas concepções errôneas com relação ao Cânon: 1) De que teria sido concluído por volta de 90 d.C em Jânia. Neste momento o cânone já estava estabelecido, e o que havia era uma discussão de grupos insatisfeitos com a presença de Cantares e Eclesiastes no Cânone. 2)a concepção de que nos círculos de judeus helenistas havia um número maior de livros cânonicos que no judeus da Palestina. Filo, por exemplo, nunca citou nada dos livros apócrifos que foram posteriormente acrescido no cânon católico. Ao que parece estes livros eram na verdade hábitos de leitura dos primeiros cristãos.

- O autor aceita a canonização ocorrendo quando Judas Macabeu, após a guerra contra Antíoco Epifânio, reúne os livros sagrados, o que é atestado por Josefo e a literatura rabínica primitiva. Como conseqüência parece que Daniel na sua forma final foi incluído por Macabeu, Ester (que não aparece nos escritos de Qumran).

- O nr. de livros: Há duas tradições. Uma afirma haver 22 livros, mas que tem por objetivo colocar no número de livros = ao número de letras do alfabeto para mostrar a completude da revelação de Deus, fazendo assim a junção de alguns livros, como por ex. lamentações e Jeremias; Esdras e Neemias, etc. a outra tradição afirma haver 24 livros canônicos.

- Os cristãos vão mudar a ordem dos livros, colocando os profetas em último, para preparar caminho para o cumprimento em Cristo. Interessante é notar que ainda no concílio de 394 em Hipona não havia uma clara distinção ente livros canônicos e eclesiásticos, por outro lado a igreja ocidental tendiam manter o cânon judaico mais limitado, ao qual optaram os reformadores do XVI.

- Há duas formas de ver a questão do Cânon: 1) que o livro no seu sentido original tem uma mensagem central para determinado perído; 2)A mensagem pode ser aplicada criteriosamente a todos os tempos para os fiéis.

A FORMAÇÃO DO AT

- Duas línguas: Aramaico e hebraico, que são línguas semíticas.

- Hebraico: há uma grande similaridade com outras línguas cananéias, sendo isto de muita utilidade para se compreender o hebraico, visto a escassez de literatura contemporânea do antigo testamento. Os textos mais antigos foram escritos em paleo-hebraico (bem próximo ao fenício) e posteriormente foi substituído pela forma quadrática, bem mais próxima ao aramaico, sendo que aí não aparece sinais vocálicos, que somente foram dados no séc. V d.C pelos massoretas, que em muito diferem da pronúncia original e dificulta perceber a mudança ocorrida durante o tempo em que foram escritos os livros.

- Aramaico: Quando o império assírio começou a entrar no Ocidente em meados do séc. VIII, o aramaico foi adotado como língua oficial desde Egito até a Pérsia. As conquistas helenizantes de Alexandre é que fizeram com que o grego substituísse gradualmente o aramaico. Os judeus já conheciam o aramaico antes do exílio, mas este veio a ter dominância significativa após o exílio, como mostram Esdras e Neemias.

- Material e Métodos de Escrita: os txts eram escritos em rolos de couro (pergaminho) que eram costurados um ao outro, como é o caso de Isaías que chega atingir 7.5m. Os doc. Mais antigos do AT foram escritos em papiros que já era conhecido desde o terceiro milênio antes de Cristo na Feníncia. Eram raros rolos maiores de 9m, o que pode explicar a divisão dos livros de Reis, Samuel, Crônicas, etc.). os instrumentos de escrita eram bastante variáveis, variando de acordo com o sistema de escrita em uso. Se utilizava também pontas de cana com tintas de ótima qualidade.

- Padronização do Texto: as traduções e versões mais antigas parece haver uma certa liberdade por parte dos escribas nas cópias, ocorrendo falhas, entrando inclusive mudanças de leitura ou variantes foram introduzidas no txt.

- Surgiram alguns erros inevitáveis, visto que não tinham divisão de versículos, capítulos, e a audição poderia causar alteração nas palavras.

- Surge então a crítica textual que tem a tarefa de detectar erros e restaurar o hebraico de forma que fique mais próximo do sentido original.

- Analisam repetição ou exclusão de letras, frases, etc; é preciso ver mudanças que os escribas faziam, substituindo palavras, fazendo notas explicativas para o txt ficar mais claro ou mesmo mudando sentido da palavra por pré-conceitos teológicos. Outro aspecto é que podem haver duas versões orais para o txt, ou mesmo a versão escrita do txt se difere da versão oral. Em oposição ao cristianismo após a destruição de Jerusalém, os judeus se preocuparam em padronizar o txt hebraico, ao que parece influencia até nos dias de hoje. grande nome por trás deste movimento é Akiba (Fal. 135 d.C.). Os massoretas também terão papel importantíssimo na preservação e transmissão do txt hebraico.

- A Prática da Crítica Textual: Há problemas em algumas passagens que o txt massorético se torna enigmático, e que curiosamente em outras versões estas passagens também se tornam complicadas. O que fazer então? Comparar que versão tem mais autoridade e pode se apresentar como sendo mais próximo do original, comparação, etc. entretanto, nenhum destes problemas se dá em txts cruciais, mas apenas em algumas palavras que ocorrem uma ou duas vezes na Bíblia.

VERSÕES ANTIGAS

- São traduções do AT que se tornam importantes à medida que se tem pouco acesso a fontes originais hebraicas.

- Pentatêuco Samaritano: Pela rivalidade entre judeus e samaritanos criaram um pentateuco bem específico, não aceitando os profetas e demais que entraram no cânone judeu e cristão. Aqui fatores teológicos irão trazer algumas diferenças nos txts que geram contínuos debates.

- Targuns Aramaicos: tradução feita para o aramaico após o exílio. A melhor tradução é o Targum de Onkelos. Há outros targuns, mas normalmente são paráfrases feitas tardiamente (Séc. X) o que diminui sua utilidade para crítica.

- Septuaginta (LXX): Sua origem é obscurecida por lendas e perdida na antigüidade. Parece ter surgido em Alexandria entre 250 e 100 a.C.. Ela é importante na crítica pois a tradução se fez antes da pradonização do hebraico, o que pode solucionar alguns problemas.

- Outras versões gregas: há várias versões gregas, inclusive superiores à LXX, mas que nos restam apenas fragmentos. Um exemplo é a Hexapla de Orígenes.

- Versões Siríacas (peshita): Tradução para o siríaco (dialeto do aramaico) feito nos primeiros séculos da nossa era, que tem sua utilidade para a crítica relativizada por se utilizar de outras versões além do hebraico (como a própria LXX).

- Versões Latinas: Foram feitas primeiramente em Alexandria e sul da Gália. São mais úteis para o txt grego do que para o hebraico. Devido à várias versões latinas, Dâmaso encarrega Jerônimo para fazer uma tradução, que tem também fatores que relativizam a confiança no txt.

- Outras versões secundárias: Tradução copta que é o último estágio da língua grega. Traduções feitas do séc. IV e V que foram preservadas pelo clima seco do Egito. Há também tradução etíope, começada no IV mas que apresenta grande influência da LXX, sendo alterada por versões arábicas medievais. As traduções mais recentes são as arábicas e armênicas.

GEOGRAFIA

- Palestina se localiza no sudoeste do crescente fértil, parte mais pobre, mas sendo por outro lado local de passagem de linhas comerciais terrestres.

- Palestina: O nome Palestina se deve aos seus primeiros habitantes (Filisteus), mas que a Bíblia se refere como Cananéia (Cananeus) e que por fim ficou conhecida como terra de Israel.

- A promessa que Deus fizera a Abraão inclui uma faixa de terra maior que a Palestina. Gn 17.8 fala “Toda terra de Canaã. Somente sob Davi e Salomão que se alcançou uma extensão maior de terra, ocupando grande parte desta área. Pode-se dividir a terra Santa nas seguintes zonas geográficas:

1) Planície costeira: No norte é bem estreita alargando-se à medida que se caminha para o sul. Sempre teve um acesso limitado para o mar, fazendo com que Israel nunca fosse uma potência marítima. Havia nesta região uma estrada que ligava o Egito a Damasco e depois à Mespotâmia.

2) Cordilheira Central: Forma a espinha dorsal do território. Que pode ser divido em subregiões: Galiléia; Samaria; Judá (bem mais fértil que Samaria); há uma região que cai para o mar Morto, conhecido como deserto de Judá

3) A Falha do Jordão: Entra o mar da Galiléia que recebe outros nomes, que na verdade é um lago com 21 Km de comprimento e 13 Km de largura. Tem um clima subtropical, com mar sujeito à tempestades repentinas e severas.

Rio Jordão: Do mar da Galiléia ao mar Morto, cerca de 97 Km, carregando quantidade respeitável de sal para o Mar Morto.

Mar Morto: Depressão de cerca de 395 m abaixo do mar, possuindo grande quantidade de sal de modo que nada sobrevive nele.

4) Transjodânia: Planalto que se estende desde uma falha do Jordão até o desertos da Síria e Arábia, com ótimo sistema de drenagem fornecido pelos rios da região.

a) Basã: Mais ao norte, formada principalmente por rochas vulcânicas.

b) Gileade: terra com numerosos vales e boa pastagem.

c) Amom; d) Moabe; e) Edom; f) Midiã.

CLIMA

- Influenciado por ventos vindos do noroeste e do Deserto há duas estações bem definidas: uma chuvosa (dezembro e março) e de seca (maio a setembro) Entre Abril e Junho há um vento chamado Síroco que eleva muito a temperatura.

- Temperatura: No litoral não há grande variação de temperatura; na cordilheira o verão é quente; há grandes variedade de clima dependendo do local que se trata.

- As chuvas: variam de ano para ano; sendo que são mais pesadas no norte e nas montanhas.

- O relevo: Nos ajuda a compreender certo isolamento dos isreaelitas tendo em vista que se concentravam mais nos montes, e as vias passavam sempre pela costa.

ARQUEOLOGIA

- O interesse da arqueologia são as pessoas e se utiliza dos objetos de uso para descobrir os homens. A função da arqueologia Bíblica deve ser a de lança luz para uma compreensão melhor da Bíblia, e neste sentido pode haver arqueologia de Gabinete.

- A grande dificuldade estava no debate de se pode ou não confiar na Bíblia como história verídica. Atualmente o grande debate dentro da arqueologia bíblica é até que ponto se pode confiar no relato bíblico quando não há provas que venham a fundamentar o que é relatado no txt bíblico.

- Nova Arqueologia: Vem no sentido de reformular muitos erros da arqueologia do passado que em cima de um dado construíam todo um sistema de crenças, relações sociais que nada mais seriam do que especulação.

Características da Nova Arqueologia:

- Há uma interdisciplinidade, precisando-se de profissionais especializados em várias áreas.

- Há também uma importância para aspectos climáticos, topográficos (presença ou não de água no solo) para se entender melhor o papel que aquela cidade tinha.

- Para uma escavação é importante que se tenha em mente qual é a intenção dos escavadores, o que têm em mente, que irá determinar todo o seu trabalho, e além disto de 24 em 24 horas é preciso fazer uma relatório do andamento das pesquisas para se ter sempre um registro de tudo.

MÉTODOS DE CAMPO

- Ama-se o teodolito (medidor da altura em relação ao mar);

- Ua-se o magnetômetro, que revela diferenças no campo magnético da terra.

- Radar de pentração: tentam vasculhar o subsolo, fazendo uma espécie de ultra-sonografia.

- Estratiografia: divisão do campo estudado em estratos e partindo deste se analisa as cerâmicas e outros materiais que podem ser úteis.

- Há duas escolas na arqueologia bíblica: 1) Americana e a 2) Israelense.

1) Escave o máximo que puder; 2) valoriza a qualidade. Delimite um pedaço e escave lentamente. 2) Estudar unidades arquitetônicas completas (uma sala inteira e não apenas uma parte dela), e também releva-se a importância de não se estudar pedaços de cerâmicas, mas todo o complexo. Além disto os israelenses tendem a escavar levando em consideração os campos ao redor, de outros sítios arqueológicos.

TÉCNICAS MODERNAS DE DATAÇÃO

- Radiocronometria: ou seja Carbono 14. Mas é muito inseguro.

- Potássio-Argônio: funciona no mesmo esquema do carbono 14.

- Termoluminescência: aquecidos no laboratório certos materiais emitem luz que varia de intensidade de acordo com a quantidade de radioatividade que foram expostos desde seu último aquecimento.

APLICAÇÃO DA ARQUEOLOGIA

- A função da arqueologia não é provar a bíblia visto que ela pode dar uma pálida visão do mundo bíblico e muda constantemente sua conclusão.

- A subjetividade na interpretação dos dados coletados;

- Informações que arqueologia fornece são parciais e mutáveis.

- Dentre os períodos, o melhor documentado é o da monarquia dividida. No período de ocupação da terra santa há descobertas que fundamentam o relato bíblico e há outras que colocam dúvidas.

Ascalom: Cidade costeira com uma proteção de muros com cerca de 2Km de cumprimento em redor da cidade.

Gezer: Cidade levítica, mencionada nas campanhas de Davi contra os filisteus. Dada a Salomão como dote de casamento com a filha do Faraó. Apresenta muitas cisternas cavadas na pedra com abundância de água. Apresenta traços de destruição, provavelmente uma investida do Faraó antes de cedê-la a Salomão. O período helênico aponta momento de grande atividade em Gezer.

Hazor: Na Bíblia há uma explicação por parte do escriba que somente ela foi queimada por Josué, e além disto escravizada para que edificar a casa do Senhor e a sua própria casa, cf. 1Rs9.15.

Hesbon: Habitadas por amorreus, concedida a Rúbem na conquista, importante sítio no período helenístico, romano e bizantino.

Jericó: Mandou-se espias; israelitas andaram em torno dos seus muros; sde de uma escola de profetas.

Laquis: Cidade inferior apenas a Jerusalém no período do reino de Judá, e alguns acreditam que foi fortificada por Roboão. Foi destruída por Nabucodonosor (586/87). Foram descobertos os maiores portões do tempo do reinado

Megido: Cidade forte que os descendentes de Manassés foram incapazes de tomar;

Samaria: Capital do reino do Norte desde o tempo de Onri(884-874), e poderosamente fortificada por Acabe, conservando alguma importância sob os persas. Foi descoberto um palácio feito por Onri e expandido por Acabe. Grande muralha que sobreviveu ao ataque dos assírios.

Jerusalém: Antes de Davi era habitada por Jebuseus. Mesmo depois da divisão do reino Jerusalém sempre continuou sendo o centro de sentimento nacionalista.

- Um arqueólogo conseguiu reconstruir a planta da cidade no período jebuseu (séc. X a.C).

- Nenhuma escavação conseguiu fazer descobertas relacionadas com o templo.

- No século VIII ao VI a.C Jerusalém atingiu seu auge, com várias fortificações para se proteger contra os assírios, sendo o período mais importante da história de Jerusalém.

Siquém: Ligação com Abraão, Jacó, José. Local de santuário e renovação de aliança. Era uma das cidades de refúgio.

A PROFECIA MESSIÂNICA

- Defende que a profecia messiânica deve ser vista também em seu contexto, para não incorrer numa visão teleológica.

- A profecia messiânica tem dois sentidos: para o contexto que foram escritas e para a posteridade. Dentro disto: Até que ponto as pessoas do AT (Lv, por exemplo), tinham noção de que aquilo era uma preparação para a vinda de Cristo/

- Palavra: Messias (hebraico) = Cristo (grego).

- Profecia está ligada com atos de Deus que ligue o presente com os propósitos últimos de Deus.

- Profecia messiânica em três partes:

1) Profecia Soteriológica: passagens que falam da salvação que Deus proverá para o homem (Gn 3.15, p. ex.);

2) Profecia escatológica: profecias que falam do tempo da vinda de Cristo, como em Am Naquele dia, levantarei o tabernáculo caído de Davi. (Am 9.11);

3)Profecia messiânica: Pode ser classificada aqui quando é claro que seu sentido está voltado para o messias.

- Quando a profecia messiânica é clara? Quando usa termos como Filho de Davi, que no NT passou a ser designado para se referir a Jesus. Também quando se fala da descendência davídica pode estar se referindo a Jesus. (Ex 2Sm7.11). Interessante é que a dinastia de Davi continuou no Sul até o exílio e até períodos pós-exílicos, e Jesus (como rei) era descendente de Davi, o que dá uma importância especial.

- Salmos Reais: Há passagens que dão a idéia de um rei que seja superior ao governante de Israel. Ex Sl 2 ; Sl 110. Algumas expressões e passagens deixam transparecer que o trono de Davi era algo maior no tempo e no espaço.


Livro 3,5

ATLAS Vida Nova e da História do Cristianismo

O Crescente Fértil

- Palestina: cultivavam-se uvas e azeitonas.

- Babilônia (ovelhas) pois a lã abastecia importante comércio de produtos têxteis. Criava-se cavalos e jumentos (importante no transporte de cargas) e depois de 1200aC. Camelo passa a ter importância na Arábia.

- Mar morte era infindável fonte de sal, importante na conservação dos peixes.

Viagens de Abraão

- Saiu de Ur (sul do Iraque) -> Harã. Abraão nunca se fixou completamente num lugar, ficando na região onde haviam os cananeus (heteus, pex).

Os Patriarcas

- Abraão e Isaque ficaram no sul de Canaã. Esaú fixou-se ao sul da transjordânia. Contudo foi a visita dos filhos de Jacó ao Egito que fez com que fez que sua família saísse de Canaã.

Israel em Canaã

- Batalha mais importante na conquista: Js 11.1-11. Israelitas foram tomando regiões montanhosas e fixando-se ali, devido ao fato dos cananeus possuírem carros de ferro, prevaleceram nas regiões mais baixas.

Filisteus

- Entre 1250-1150 houve ressurgimento de um grande número de povos marítimos, entre eles os filisteus, sendo que somente Sansão conseguiu êxito temporário contra eles.

Reino de Saul e Davi

Povo começou acreditar que não ganhavam devido à desfragmentação do reino nas mãos dos juizes, de forma que pedem um rei e é escolhido Saul.

Com a expansão atingida por Saul, Davi pôde expandir seu império e Saul morre em batalha contra os filisteus em Gilboa. Conquista de Davi se consolida com a tomada de Jerusalém dos Jebuseus, de forma que anexou terras desde Dã até ribeiro do Egito.

Salomão

- Diplomacia e administração foram seus pontos fortes. Dividiu o reino em 12 distritos administráveis. Entretanto a extravagância de seus projetos e trabalhos forçados deixaram problemas para seu sucessor.

- Entre Israel e o sul da Arábia havia um comércio florescente de especiarias.

Divisão do Reino

- Roboão foi conhecido como novo rei de Judá e o N, por este querer elevar os impostos elegeram Jeroboão. De forma que os reinos ficaram em muito enfraquecidos.

- Após a divisão, Onri (IX) mudou capital do norte para Samaria, período de relativa paz. Seu filho Acabe casa com Jezabel (filha do rei de Tiro) que implanta a cultura fenícia, de forma que surgem profetas para combater o culto a Baal (Elias e Eliseu) e após isto surgem profetas que deixam escritos.

Tiglate-Pileser III

- Depois de 740 assírios começam a pressionar Israel e Judá. De forma que em 733 toma Israel.

Senaqueribe

- Alarga o império Assírio que quando caminha em direção a Jerusalém tem o exército assolado por uma praga (texto bíblico: anjo do Senhor).


Livro 4

DREHER, Martin N., Org. Imigrações e História da Igreja no Brasil.

Introdução: “Desde meados do século XIX a questão imigratória, tornou-se o tema central no Brasil, e vai ter também, consideráveis conseqüências para a vida do País.”(p.07) Várias são as razões para a imigração a partir de 1808: “O imigrantes entraram no país como: soldados, povoador, abastecedor de centros urbanos, produtor de pequena propriedade, além de ser usado contra o negro. Foi tido como mão-de-obra barata, esperando-se também de que com ele viesse a ser branqueada a raça”. (p.07)

Causas da imigração: Europa passava por profundas transformações;

O rural europeu estava em colapso, sonha-se por um pedaço de terra;

Ocorre a revolução industrial, onde ocorrem mudanças nas técnicas e

na agricultura da Europa.

Há um excedente de mão-de-obra e populacional na Europa;

I - AS IGREJAS E A IMIGRAÇÃO

As causas do Brasil apoiar a imigração:

1. Os imigrantes serviriam como lavradores e soldados;

2. Há a necessidade de povoamento do interior do país;

3. Existe a necessidade do abastecimento dos centros urbanos que estavam em rápido crescimento;

4. A imigração iria criar a pequena propriedade familiar e não o latifúndio;

5. A interrupção do tráfico de escravos e a lei do ventre livre, tornaram escassa a mão-de- obra;

6. Aumento da população branca, em contraste com a negra que era a grande maioria;

A economia brasileira estava baseada no latifúndio, na monocultura, na exportação da produção e no regime escravocrata. Tentou-se por vários meios manter este regime, mas não foi possível. Muitas ‘soluções” encontradas, como o “viveiro” para criar escravos no Brasil, ou transferência de escravos para outras regiões, fracassaram. Desta forma, surge a busca de uma nova sociedade, com padrões inversos ao do latifúndio:

1. Pequena propriedade, em vez da grande;

2. Cultivadores livres, em regime familiar, em vez de escravos;

3. A policultura deveria substituir a monocultura;

4. A produção deveria se destinar ao mercado interno e não ao externo;

Mas a grande propriedade não foi extinta, ocorreu a troca da mão-de-obra. Propõe-se um sistema de parceria entre proprietários e colonos. Ocorrem grandes problemas: A parceria era uma espécie de regime semi-escravocrata. Os colonos mantinham relações forçadas com os proprietários, estavam condenados com dividas, e não possuem seu pedaço de terra. Conclui-se daí que o imigrante não se enraíza, não se cria um povo.

Igreja e Imigração - Debate Imigratório

“Somente os imigrantes que receberam terras, organizaram-se religiosamente logo de inicio, escolhendo seu líder, estabelecendo calendário religioso.” (p.31) Quer fossem católicos ou protestantes. Os protestantes sofriam tríplice marginalização: estrangeiros, não proprietários, não católicos. A política imigratória assegurava que os imigrantes teriam liberdade religiosa, que a constituição do império não assegurava.

Os imigrantes sofreram vários problemas de ordem religiosa: Não havia registro civil e nem casamento civil. Nos cemitérios só eram sepultados católicos, nos casamentos mistos, a parte não-católica era convidada a conversão e os filhos criados de acordo com a fé católica. A questão do Casamento civil foi resolvido em parte com a proclamação da república. Inclui-se aqui a má preparação do clero, tanto católico como o protestante. Enfatiza-se também o reduzido número de sacerdotes presentes no país.

Em 1836, surgiu o decreto que habilitava os pastores a oficiarem e registrarem casamentos de luteranos.

- Fim do regime de concubinato. (p.38)

- 1850 - no Rio de Janeiro, laicização dos cemitérios.

- 17/04/1863 - Lei que permitia não-católicos casamentos legais perante seus próprios ministros.

- 1891 - Cemitérios públicos.

Devido a escassez de sacerdotes, os próprios colonos começaram a se organizar. Construíram suas igrejas e escolheram alguém de seu meio para ser o “padre” ou o “pastor”. Surgiram desta forma os assim chamados:

Padre-Leigo: ‘padre-capela” assumiram todos os ritos do domingo e dias santos de guarda. (p.45-46).

Pastores-leigos: aceitos e eleitos pelo povo, sem formação teológica e ordenação. Em 1863, um decreto possibilitou o registro desses pastores.

Aparecem vários problemas: 1. Conflito dos sacerdotes com formação teológica com os sacerdotes-leigos; 2. Surgiram falsos sacerdotes, que apresentavam documentos falsos; 3. Nas áreas de colonização surgiu um sentimento de racismo: em relação ao índio, negro e mulatos. Eram contrários ao catolicismo luso-afro-brasileiro.

Ocorre também a europeização das igrejas, onde se destruí a organização leiga, surgiram irmandades, ocorre a romanização da igreja e enfatizou-se a clericalização.

II - O CATOLICISMO DE IMIGRAÇÃO

Podemos apontar três tipos de catolicismo presentes na história do Brasil:

1. O catolicismo luso-brasileiro: Religião das gerações portuguesas nascidas no Brasil, que foi se adaptando as tradições e costumes típicos dos negros e índios. Surgiu um sincretismo religioso.

2. Catolicismo de Imigração: Trazido pelos imigrantes, conforme era vivido pelos colonos em suas regiões de origem. Era parte da identidade cultural.

3. Catolicismo romanizado: Tentativa de reformar o catolicismo luso-brasileiro. É uma adequação do modelo tradicional de fé vivenciado pelo povo brasileiro, imprimindo as marcas e as características do catolicismo romano.

Tanto o catolicismo romano como o de imigração apoiaram-se nos mesmos fundamentos teológicos: na doutrina elaborada pelo Concílio de Trento e a perspectiva ultramontana do Concílio do Vaticano I.

A implantação do Catolicismo de Imigração: Primeiramente foi feito pelos próprios colonos, na etapa de sua fixação ao solo. Em segundo lugar, foi orientada pelo clero vindo da Europa para o atendimento religioso dos imigrantes.

A perspectiva Teológica do Catolicismo de Imigração: Seguia a perspectiva teológica do Concílio de Trento. O sacerdote é instrumento de salvação, profunda influência monacal e claustral. Formou-se uma ética puritana, onde o celibato e a virgindade era os grandes valores, em detrimento da própria vida matrimonial.

O Transplante Cultural da Fé: Na maior parte dos locais ocupados pelos imigrantes, ocorre a simples transposição da cultura européia para o Brasil. Não existe nenhum vínculo com a cultura nacional. Se afirmava a superioridade da cultura e religião européia.

Características do Catolicismo de Imigração: Apresenta elementos típicos do catolicismo luso-brasileiro unidos a aspectos do catolicismo romanizado. Podemos citar o seguinte como características distintivas: 1. Apresentou-se um esforço das próprias famílias para preservar a religião de seus pais e de sua região de origem; 2. Havia um aspecto comunitário, onde cada comunidade possui seu próprio templo, etc. 3. Decorrente da doutrina tridentina, dava-se grande importância à doutrina. um exemplo prático era o ensino do catecismo para os filhos.

III - DISCURSO CATÓLICO E DISCURSO ESTRANGEIRO

Com a imigração entram em choque duas culturas, a já existente no Brasil e a trazida pelos imigrantes. Ocorre um desprezo da cultura “nacional”. Existe um preconceito contra o negro, o índio, o caboclo, o sertanejo, o caipira, o mulato. Critica-se a forma de culto do povo, que era geralmente festivo e cheio de vitalidade. Parece uma religião irracional fora dos padrões ortodoxos. Ao mesmo que se desprestigia o catolicismo mestiço se exalta a religião praticada pelos imigrantes.

Em meio a isso, surge a corrente liderada por Feijó. A “igreja patriótica”, liderada por Feijó, tinha três proposta: 1. Combateu a existência dos seminários; 2. Propôs o fim do celibato obrigatório Para o clero; 3. Combateu o estudo formal e desligado da realidade a partir dos modelos clássicos. Feijó combatia o hábito de imitar tudo o que vinha de fora.

IV - PROTESTANTISMO DE IMIGRAÇÃO NO BRASIL

Foi um protestantismo de classe média. As causas da imigração na Europa foram: 1. Falta de terras, pobreza, falta de trabalho; 2. Urbanização e industrialização mostram-se incapazes de observar aos excedentes populacionais; 3. Promover a migração - livrar-se da parte do “problema social”; 4. Aplicam-se imensos capitais na marinha mercante.

Pregação Protestante: “transformar o convertido em tipo ideal para nova sociedade. Cria o individualismo. Religião não é mais familiar, mas dele.”

Outros fatores: 1. branqueamento da raça; 2. eliminação do índio; 3. valorização fundiária; 4. mão-de-obra barata; 5. segurança nacional - manter livres as estradas e fornecer alimentos para os militares; 6. construção estrada; 7. criação da classe média - pequenos proprietários ocupariam espaços vazios - seriam um mercado consumidor e produziria aqueles gêneros que o latifúndio não produzia. Em 1850, já existia a primeira elite burguesa no RS - antigos colonos transformaram-se em comerciantes.

A organização da vida religiosa passou por diversas dificuldades. A constituição não permitia a existência do protestantismo no país. O protestante é um cidadão de segunda categoria. O governo tentou contratar pastores para os colonos, mas estes não eram suficientes. Tal situação levou os colonos a organizarem sua própria vida religiosa. Três livros receberam importância fundamental: a bíblia, o Catecismo e o Livro de Cânticos. Instituíram alguém como pastor e mestre-escola. Surgem em seu meio uma igreja que chamam de “nossa”.

- Em 1868, Borchard cria o Sínodo Evangélico Alemão - igrejas de pastores extinto em 1875.

- Movimento dos mucker - fim da igreja dos colonos.

- P. Dr. Wilhehn Rotemund - SL - 1874 forma o Sínodo Riograndense. Órgão representativo dos evangélicos.

Entre os imigrantes Luteranos havia: agricultura diversificada, industria artesanal familiar, apoio na área liberal. Mas não houve integração com a cultura local.

- Governo Getúlio Vargas (1930-1945) medidas arbitrárias.

- Após a guerra - Reflexão - “choque foi benéfico”.

- Surgimento “empresa agrícola”, proletariado luterano, tirando o luterano do isolamento.

- A segunda guerra e o Estado Novo levaram a nacionalização do clero.

V - PROTESTANTES DA DIÁSPORA

Em 28 de janeiro de 1808 ocorre a abertura dos portos as nações amigas, o que facilitou as nações protestantes. Começaram a chegar ingleses com comércio de tecidos, ferragens, bem como suíços, irlandeses e outros. Ofereceu-se uma liberdade religiosa que estava baseada nos seguintes princípios: podiam construir capelas, desde que não tivessem aparência de capelas; Não poderiam falar mal da igreja católica e nem fazer proselitismo; poderiam ter seu próprios cemitérios e realizar seu funerais de acordo com seus rituais. Constituição de 1824, concedia “Liberdade religiosa para todas as pessoas”.

Os Ingleses se estabeleceram nas cidades costeiras. Construíram a primeira capela inglesa em 1819 na Rua dos Barbonas, em São Paulo.

Dois pólos atraíram imigrantes alemães no Brasil: o sul, com seus grandes espaços desocupados e clima atraente e as áreas dos cafezais, que exigia mão de obra. Os que se estabeleceram nas áreas de café, passavam por dificuldades nas mãos do fazendeiro, que não distinguia entre o trabalhador livre e o escravo. Os que conseguiam se livrar do domínio do fazendeiro se dedicavam a policultura no sistema familiar.

Como contribuições dos imigrantes pode-se citar: 1. Foram os agentes da modernização agrícola; 2. Forneciam o produto de consumo que as grandes lavouras de café não fornecia; 3. Contribuíram com a educação, métodos agrícolas (escolas de agricultura em fazenda modelo), transporte e indústria (tecelagem, roda de aro de ferro e raio de madeira, lâmpada de querosene).

A diferença religiosa entre os protestantes do sul e de São Paulo está no sistema de assentamento dos imigrantes. No sul, foram assentados em pequenas áreas, em São Paulo nas fazendas de café, sob a tutela dos fazendeiros. Desta forma, acontece uma neutralização da vida religiosa dos imigrantes que se limitam ao silêncio religioso e a oração familiar aos domingos.

O movimento migratório dos EUA foi causado pelo ambiente social e político do pós-guerra. Não teve grande êxito. Não estava relacionada com a instalação das igrejas protestantes. Os imigrantes queriam viver sua vida, se possível conservando seus antigos padrões. As missões queriam implantar a religião norte-americana no Brasil e influenciar a cultura através da educação.

VI - IMIGRANTES NAS TERRAS DO CAFÉ

São Paulo foi o estado que mais recebeu imigrantes, seguido do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O cultivo do café era o grande atrativo nas terras paulistas. Um grande número de italiano se estabeleceu nestas áreas. A religião católica teve um papel significativo para a integração dos italianos com os locais e para uma aceitação mútua. A identidade religiosa facilitou a integração dos italianos e as questões referentes ao casamento. Outro fator que facilitou a imigração italiana foi o fato de imigrarem em famílias.

Dos 1900 dos italianos entraram no Brasil 70% eram homens e 30% eram mulheres e logo se misturaram, também facilitando a integração.

VII - AS RELIGIÕES DOS IMIGRANTES JAPONESES NO BRASIL

No Japão pré-moderno não havia conceito de religião. As religiões eram designadas como lei, doutrina, caminho. Os sentimentos religiosos eram considerados como forma ou caminhos estéticos. Foi o ocidente que deu o conceito religioso aos japoneses. As doutrinas tradicionais praticadas no Japão contém além do aspecto religioso, ético, filosóficos e até mesmo, rudimentos de ciência.

A vida espiritual japonesa é sincretista. Novas religiões: “São movimentos de cunho sincretista que alcançam grande popularidade junto as massas, graças a práticas de magias e curandeirismos que apresentam como meios infalíveis para solucionar os problemas que mais angustiam o povo: doenças e conflitos familiares.” Procuram impor-se como crenças vividas e praticadas a nível individual, ao contrário das religiões tradicionais que estavam a nível família.

As imigrações de japoneses a partir do século XX, começaram a ser dificultadas divido a concorrência com os imigrantes europeus, que trabalhavam por um salário menor. Os imigrantes japoneses vieram para o Brasil antes da segunda guerra, sem a intenção de ficarem. Com a derreta dos aliados, foram obrigados a ficarem no Brasil. As missões só começaram a serem fixadas no Brasil a partir de 1952.

Suas principais religiões são:

Xintoísmo: religião nacional do Japão, implica na fecundidade, nascimento e crescimento.

Confucionismo: sentimento piedoso filial, lealdade aso governantes - Religião do lar, informal, filosofia moral, patriarcalismo, ética de trabalho - seriedade e honestidade.

Budismo: Introduziu no Japão Séc. VI d. C. - religião de ritos fúnebres. Atrai idosos. Escolas de línguas e culturas japonesas para crianças e atividades culturais. Doutrinas e ritos centralizados nos patriarcas e não no buda histórico.

Da cultura japonesa surgiram muitas das assim chamadas “novas religiões”, que possui uma grande presença na sociedade brasileira. Sua doutrinas são muito simples e pouco profundas. Praticam a magia e o curandeirismo e sessões de aconselhamento pessoal. Atraem o público jovem.

Há um conflito entre a nova e a velha geração, esta se apega às tradições da pátria de origem, aquela quer viver como autêntico brasileiro.

VIII - VISÃO DOS PADRES HOLANDESES E ALEMÃES SOBRE O CLERO BRASILEIRO E A DEVOÇÃO POPULAR

Redentoristas: Alemães e Holandeses. “Era preciso juntar os pedaços, montar um novo projeto de Igreja. Para isso faltava o clero.” Deferiam dos holandeses, queriam a união da igreja com o povo, sem busca de prestígio político.

Em 1878-9, novo pedido de entrada de redentoristas no Brasil. Com a república abriram-se as portas. Em 8/7/1893, 28/10/1894 assumiram o Santuário Aparecida

Holandeses: Pensaram missão populares. Consolidar as reformas católicas. Estes cuidaram dos alemães católicos literalmente “abandonados”(p.186). Tentaram transportar para o Brasil o modelo católico europeu. O povo é culpado e só se salvará impondo-se-lhe um modelo de religiosidade européia. Perde-se a tradição de catequese em família. Lamenta-se a escassez de sacerdotes e a existência de muitos padres negros. Introduziram diversas ligas e associações. Vieram para moralizar a religião (p.189) Representavam a linha tridentina no Brasil. Contato com o povo nas missões e Santuários exercem papel de mudança.


Livro 5

HÄGGLUND, Bengt. História da Teologia

I PARTE: A ERA DOS PAIS ECLESIÁSTICOS
1)Os Pais apostólicos

· São escritos do final do I séc. e início do II, que nos dão uma idéia de como eram os costumes no início do cristianismo, não havendo nenhum desenvolvimento maior da teologia.

· Estes escritos se diferem do NT:1) Seu moralismo (nomismo), tendo em vista que se dirigia à congregações novas e pessoas que haviam há pouco tempo abandonado o paganismo. Tratavam Cristo como um novo legislador. Viam em Cristo um exemplo a ser seguido para a salvação. 2)Justiça: Era vista não como algo dado por Deus ao homem, mas um conduta a ser seguida. 3)Salvação: é apresentada como imortalidade, indestrutibilidade. Outro aspecto destacado é que Cristo nos trouxe o conhecimento da verdade. 4)Pecado: É destacado como corrupção, maus desejos e cativeiro sobre o poder da morte. Não se acentua muito a questão da culpa. 5)Graça: É vista como um dom que Deus deu ao homem em Cristo de andar no caminho da obediência para atingir a salvação eterna.

· Chama atenção para o fato de que os Pais Apostólicos são escritos direcionados a neófitos e portanto não podem ser considerados expressões do pensamento da época como um todo.

· Conceito de escritura: Aceitavam a autoridade intrínseca do AT e aparecem citações de vários livros que mais tarde viriam a compor o NT.

· Conceito de Deus: Salientavam a crença em um único Deus. Dogma da trindade ainda não estava bem desenvolvido mas aparecia em algumas formas litúrgicas. Enfatizava-se também a divindade de Cristo. Há também uma luta contra o docetismo, que aparece em vários aspectos. Cerinto afirmara o adopcionismo e que Jesus teria abandonado Cristo antes da morte, etc. o problema do docetismo era negar a verdadeira morte e ressurreição de Cristo.

· Conceito de Igreja: O bispo era visto como continuidade da tradição apostólica (tanto doutrinária como na ordenação. Esta idéia vem do AT, da sucessão de Arão) e os fiéis eram exortados a se aterem aos seus bispos. Inicialmente os anciãos e os bispos tinham a mesma importância, mas neste momento os bispos passam a ter uma predominância maior.

· Escatologia: Acreditavam que o fim era iminente e a realização do milênio seria terrestre.

2)Os Apologistas (pg.21).

· Autores do segundo século que se preocuparam em defender o cristianismo das acusações de sua época, vindas tanto do meio grego como judeu. Se destacam na sua tentativa de elucidar conceitos cristãos utilizando de termos da filosofia da época. Também procuraram defender os cristãos de acusações que lhes eram feitas, como a impiedade, hábitos anormais e inimizade em relação ao estado.

· Tinham a filosofia em alta estima. Justino (principal) via a filosofia como forma de proporcionar o verdadeiro conhecimento de Deus. O cristianismo é visto como a filosofia por excelência, capaz de nos proporcionar verdadeiro conhecimento de Deus. Era filosofia pois se fundamentava na revelação divina e não em especulações racionais, ainda que em suas abordagens, os apologistas, revelam uma tendência de intelectualizar a fé.

· Alguns viam a filosofia grega com bons olhos, enquanto que há críticas por parte de outros. Percebem algumas similaridades de alguns filósofos com relação ao cristianismo e há algumas especulações em torno.

· Adotam a figura do lógos universal estóica para se aplicar à relação entre o Pai e Cristo. Injustamente, ataca-se os apologistas por estar implícito nesta doutrina a idéia de que o Lógos (Cristo) foi criado em certo momento, era assim subordinado ao Pai.

· Tinham uma visão moralista e pecado identifica-se com ignorância.

· Principal contribuição se deu no fato de tentarem realizar uma aproximação entre fé cristã e intelectualidade grega.

3)O Cristianismo Judaico e Gnosticismo

· Cristianismo judaico é o termo usado para identificar grupos sectários que derivaram da congregação de Jerusalém depois de se ter transferido esta para a região ao leste do Jordão. Uma das característica deste cristianismo ebionita é sua confusão entre elementos cristãos e judaicos. Desta forma, defendiam a validade da lei de Moisés e o estabelecimento do reino messiânico em Jerusalém. negavam a interpretação paulina de lei e suas epístolas. Cristo é colocado no mesmo nível dos profetas. Negavam a preexistência de Cristo e seu nascimento virginal. Por outro lado, não aceitavam a salvação pela morte e ressurreição de Jesus, mas achavam que aconteceria apenas com a segunda vinda de Cristo e o estabelecimento do seu reino em Jerusalém. Eram adopcionistas. Estas idéias não exerceram grande influência no cristianismo mas é fundamental para se entender o islamismo.

· Gnosticismo: tentativa de enquadrar o cristianismo dentro da filosofia corrente da época. Caracteriza-se por suas especulações místicas e cosmológicas, dualismo entre matéria e espírito.

· Gnosticismo, como religião, já existia antes do cristianismo, sendo sincrética. Veio do oriente, chegando em Samaria e ali assumindo características judaicas. Com Simão, o mágico (que era gnóstico) começa sua influência no cristianismo. Havia inúmeras tendências gnósticas.

· Metafísica era dualística: matéria/espírito; bem/mal; Deus supremo (está longe do mundo)/deus inferior (este criou o mundo material- Deus do AT). Valentino dividia o mundo em 30 éons, do qual o mundo material é o último éon. Cristo tem a função de restaurar o eon caído ao Pléroma. Assim, a salvação consistia em libertar o homem do mundo material. Esta salvação dependia de um conhecimento superior reservado apenas aos pneumáticos. Cristo era visto como salvador por ter trazido o verdadeiro conhecimento ao mundo. Mas não é o Cristo da Bíblia, afinal ele não poderia ter assumido uma forma espiritual (docetismo). Defendiam que a salvação vem pela participação nos mistérios (Ceia e batismo) que traz o verdadeiro conhecimento. Por seu dualismo, a ética vai ser ascética ou libertina.

· Negavam os três artigos do Credo: criação, redenção pela morte e ressurreição, ES como emanação de um dos eons e negação da ressurreição.

· Marcião não era gnóstico: não aceitava a mitologização do cristianismo, não aceitava a divisão dos homens em estágios, a gnose particular. Havia redescoberto Paulo e justificação pela fé numa época em que o cristianismo havia se perdido num moralismo. Fazia distinção entre lei e evangelho, antiga e nova aliança, e achava que o evangelho deveria ser pregado sem nenhuma lei. Sua cristologia era docética. Apesar de apresentar um deus misericordioso (sem leis) era extremamente ascético. Definiu o seu cânone onde negava o AT (era manifestação do deus da lei) e aceitava 10 cartas de Paulo e uma versão mutilada do evangelho de Lucas. acreditava que só a alma poderia ser salva, não o corpo.

4)Pais Antignósticos (p. 35)

· O conflito com os gnósticos deixou sua marca na igreja. Vemos na igreja primitiva um maior desenvolvimento da doutrina da criação, encarnação de Cristo e ressurreição. A tendência moralista ainda vigora, até porque precisa fazer frente ao anti-nomismo gnóstico.

· Irineu que ataca principalmente Valentino por tentar diminuir a distância que havia entre cristianismo e religiões pagãs. É considerado o primeiro dogmático da igreja. Rejeitou a filosofia (ao contrário dos apologistas) e se baseava apenas na Bíblia como norma de fé e vida.

· Não faz distinção entre tradição e escritura. Mas foi o primeiro a fazer uma sucessão apostólica dos papas para mostrar quem estava na verdadeira tradição, se opondo doutrinariamente aos gnósticos. Irineu objetivava mostrar que como a salvação ocorreu dentro da história e não fora dela como queriam os gnósticos. Procura mostra que o mesmo Deus que cria o mundo, o salva, o que se opõe à doutrina gnóstica de dois deuses. Para Irineu a salvação seria a restauração da criação, de forma que esta atinja o destino que Deus lhe reservara. Quando o homem foi criado não era a semelhança de Deus, mas deveria se desenvolver para que atingisse a semelhança de Cristo.

· A redenção também pode ser vista de forma legalista: Cristo restaurou a lei original. Para Irineu vida e morte se relacionam na redenção. Quando o homem obedece os mandamentos recebe vida de Deus, quando desobedece, morte. A salvação outorga o dom da imortalidade. Cristo é o segundo Adão, mas reverso ao primeiro Adão. Descreveu a salvação com o termo “recapitulatio” afinal é uma repetição da criação.

· Irineu entendia que para a salvação Cristo deveria ser verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Irineu procurou aderir à escritura sem utilizar de nada da filosofia. Há certa semelhança de sua doutrina com a doutrina quiliasta.

· Tertuliano (pg.42) é considerado o fundador da teologia ocidental por seu interesse em questões práticas e adesão à realidade. Defendeu o cristianismo da religião pagã, gnosticismo e modalismo. Atacou com veemência o filosofia, talvez por ter percebido que há distinção epistemológica entre fé e razão. Entretanto, em outras partes aparece uma visão mais positiva da razão humana. Defendia um conhecimento natural de Deus. Acreditava no traducionismo (alma é transmitida de pai para filho) enquanto também havia o criacionismo (alma é criada diretamente nas mãos de Deus.). desenvolve bastante o problema da trindade e cristologia: Cristo é um com Deus mas distinto e subordinado ao Pai. Para isto Tertuliano usa termos como substância e Persona, é a doutrina econômica da trindade. Quanto à pessoa de Cristo são duas substâncias diferentes que se uniram numa pessoa.

· Via Jesus como um novo legislador que ensina como andar nos caminhos de Deus. O conceito de mérito é presente. Relação entre homem e Deus é concebida em termos judiciais. Tem a concepção de que a corrupção está na própria natureza e é transmitido pelo nascimento. A graça é visto como poder que capacita o homem a viver de acordo com a vontade divina.

· Hipólito: (pg.47): Bispo de Roma que fez uma apanhado enciclopédico das heresias da época e as atacou.

5)Teologia de Alexandria

· A teologia alexandrina foi a primeira tentativa sistemática da junção do cristianismo com filosofia grega. Procuravam se manter fiéis à tradição baseando-se na bíblia, porém inserindo a revelação num contexto apropriado.

· Aí surge o método alegórico de interpretação, sendo que Orígines é contemporâneo de Plotino, tendo ambos o mesmo professor Amônio Sacas, sendo de grande influência platônica. Diante disto, Deus era visto como transcendente, acima tudo e todos.

· Clemente: Defendia a pedagogia de Deus. A alma caída precisa de educação para ascender ao divino. Isto acontece através da disciplina e do castigo, admoestações e instrução e é para isto que existe o mundo material. Esta educação tem seu auge em Cristo. Mas para clemente houve outras fases da pedagogia do homem. A lei judaica e a filosofia grega representam uma preparação para a vinda de Cristo e já são ultrapassadas. Para Clemente o conhecimento fica acima da fé.

· Orígines: Apesar de ser considerado herege sua teologia tem grande influência, principalmente na teologia oriental. Acreditava existir um sentido espiritual em cada texto da escritura, assim como homem compõe-se de corpo, alma e espírito a escritura tinha literal, moralista e espiritual. Além disto, achava que pequenos detalhes citados na escritura revelam grandes verdades universais. Dá forte ênfase à educação dizendo que a providência divina tinha o objetivo de restaurar a origem divina às criaturas racionais, que estão aprisionadas em seus corpos. Defendia o livre arbítrio do homem. Concebia Deus como um ser elevado e distante do material o quanto fosse possível. A doutrina do subordicionismo aparece em sua teologia. Acreditava que o homem tinha caído do mundo inteligível (mundo espiritual) e para se encontrar com Deus precisava voltar para este mundo. Cristo era fundamental neste processo como o que revela os mistérios da fé. Negava ressurreição do corpo.

6)Monaquismo: O Problema Trinitário

· Duas escolas que receberam o mesmo nome e negavam a trindade devido à incompatibilidade que viam entre trindade e Deus único. Esta concepção tem sua raiz na influência do conceito grego de Deus.

· Monaquismo Dinamista (Adopcionista): Teodoto chegou a Roma vindo de Bizâncio em 190 e opunha-se à divindade de Cristo, dizendo que Jesus vivera como homem normal até seu batismo quando o elemento divino lhe foi outorgado e só se uniu a Deus após sua ressurreição. Maior defensor deste monaquismo foi bispo de Antioquia Paulo de Samosáta que acreditava ser Jesus apenas homem e o ES graça de Deus derramado sobre os apóstolos.

· Modalismo: Noeto negava o conceito econômico, cristologia do lógos e tendências subordinacionistas. Para ele o Pai e o Filho são os mesmos em essência (em contraposição ao monarquismo dinamista), sendo o mesmo Deus sob nome e forma diferentes. Praxeas atenuou isto dizendo que Deus sofreu na cruz. Sabélio atenuou ainda mais dizendo que Pai, Filho e ES são um podendo ser diferenciados apenas pelo nome. O filho e o ES são apenas formas que a Divindade assumiu quando apareceu no mundo. Entretanto, o modalismo peca em não distinguir a divindade de Cristo.

· A igreja atacou estes ensinos destacando a verdadeira humanidade e divindade de Cristo. Neste ponto destaca-se Novaciano.

7)Arianismo: O concílio de Nicéia

· Ário foi bispo de Alexandria em 310 e seu mestre era seguidor de Paulo de Samósata. Na sua compreensão Jesus não poderia ser Deus na acepção completa do termo, ele era criado. Jesus é alguém que está entre Deus e os homens, que foi criado primeiro e por meio de quem Deus criou o mundo. Foi excomungado em 320. Diante de ameaça da unidade da igreja, Constantino convoco um concílio para 325 em Nicéia onde havia três grupos diferentes: Arianos puros, Arianos moderados e anti-arinanos. Duas críticas foram feitas à Ário: 1)introdução de idéias politeístas e adoração da criatura; 2)destruição da base da fé por negar a divindade de Cristo. No final do concílio acabou-se adotando a posição intermediárias, sendo o credo reformulado no final do IV século.

8)Atanásio: A Formação da Doutrina Trinitária

· Maiores opositores do arianismo. Procurou formular a doutrina a partir da escritura negando o uso de sistemas filosóficos fechados para e entender e explicar a fé cristã. Negava uma interpretação legalista da Bíblia, afirmando que esta deve ser entendida a partir do seu centro: Cristo. Uma prova é que seu entendimento da trindade tinha como centro a salvação operada por Cristo. Assim como Irineu, entendia a doutrina da salvação em íntima conexão com a criação. O principal sentido da salvação é que o pecado e a morte foram retirados.

· A manifestação de Jesus tem duas funções: perdão de pecados e mostrar quem governa no mundo, o lógos. Contra o arianismo afirmava o homooúsios. Dizia que também o ES é da mesma substância que o Pai e o Filho.

· As pessoas que seguiram a linha de pensamento de Atanásio foram conhecidas como os 3 capadocianos. Basílio, o Grande foi o principal artífice na teologia proto-nicena; Gregório de Nissa desenvolveu a doutrina ortodoxa de forma mais especulativa e Gregória Nazianzo mais retórica. Estes partiram da idéia de três pessoas distintas, mas que formavam uma unidade. Desenvolveram a distinção entre o termo ousia (seria a essência, p.ex. o que todos seres humanos têm em comum) e hipóstasis (o que cada ser humano tem de particular). Este desenvolvimento que se viu no oriente influenciou Agostinho para o desenvolvimento da doutrina trinitária no ocidente, ainda que este parta de um princípio diferente, da unidade da essência de Deus. O credo Atanasiano foi feito por algum seguidor de Agostinho no IV ou V século. Interessante é ver como na própria forma deste há uma unidade, enquanto que nos outros credos aparece divisão em três partes, correspondente às três pessoas.

9)Problema Cristológico

· Como pode o fato que o lógos é de uma só substância com o pai (homoóusios) ser combinado com o fato de aparecer como forma humana?

· Apolinário acreditava que o corpo de Cristo não foi formado por Maria, mas Cristo trouxe um corpo celestial e o ventre de Maria serviu apenas como local de passagem, assim Cristo tinha apenas a natureza do lógos. Seus opositores afirmavam que Cristo não somente tinha corpo humano, como também alma, afinal corpo e alma formam a essência humana.

· Escola de Antioquia combateu Apolinário enfatizando a natureza humana de Cristo, dizendo que ocorreu um processo de forma que Cristo se uniu cada vez mais com a divindade. Este processou foi concluso na ressurreição. Aintioquianos destacavam as duas naturezas apontando para suas peculiaridades.

· Havia neste momento um debate entre as escolas de Antioquia (enfatizava o aspecto histórico – Cristo homem) e Alexandria (metafísico – filosofia grega – docetismo).

· Nestório era representante da escola de Antioquia e foi acusado, injustamente, de ensinar a doutrina de dois Cristos: Um divino e um humano. O problema é que por questões políticas o seu opositor Cirilo o interpretou de forma errônea provocando conflito entre ambos. Esta interpretação foi feita diante de descobertas recentes. Sua cristologia era semelhante a da escola de Antioquia que defendia a distinção entre as duas naturezas de Cristo. Nestório também se opôs à teologia alexandrina ao chamar Maria mãe de Deus, sem pecado, reforçando assim o culto à Maria que começa a crescer. Dizia que a divindade de Cristo não tinha ligação com Maria, e por isso foi acusado de negar a divindade de Cristo. O problema é que suas afirmação dão entender que não havia uma união simultânea entre a natureza divina e humana de Cristo.

· Cirilo (bispo de Alexandria e também queria primazia sobre o Oriente) venceu Nestório no concílio de Éfeso onde Maria como Theotókos foi aceita. Cirilo defendia que haviam duas naturezas em Cristo e cada uma delas tem suas próprias qualidades, defendia que há união substancial das duas naturezas em Cristo.

· Em 451 foi convocado por Leão I um concílio em Calcedônia com o fim de decidir a questão cristológica. Condenou-se os que proclamavam “dois filhos” e os que diziam haver duas naturezas antes da união.

· Pg. 83 Resumo de toda controvérsia cristológica.

· Calcedônia teve sua importância por ser a união entre as diferentes cristologias. Depois do concílio ocorreram várias controvérsias.

· Duas escolas monofisitas: Severo que apenas trocou os termos usados no concílio de Calcedônia sendo considerado herege. 2)Cristo não poderia ter a mesma natureza humana que nós. Sua natureza humana era envolta pela divina.

· Leôncio de Bizâncio: usou da filosofia de Aristóteles. Não entendi?? (pg.86).

· Cristo tem uma ou duas vontades? Para o monoletas, apesar das duas naturezas, tinha apenas uma vontade, a do lógos divino. Os dioteletas afirmavam que haviam duas vontades, uma puramente humana e outro puramente divina, de forma que esta controla aquela. Foi aceito pelo VI concílio ecumênico.

· João de Damasco (VIII) fechou a questão cristológica, utilizando-se da filosofia aristotélica e neoplatônica. Afirmou a unidade do corpo de Cristo. Salientava as diferenças entre as duas naturezas e sustentava o ponto de vista dioteleta. Dizia que em vista da unidade da pessoa, ocorre uma penetração mútua onde o lógos assume a natureza humana e lhe comunica os atributos. Salientava que a divindade ficou intocada pelo sofrimento.

10) Desenvolvimento do Conceito de Igreja

· Inácio, frente ao gnosticismo, salientou a importância do bispo. Ainda afirmava que a unidade da igreja está na sua função sem igual de administrar os sacramentos. O conceito de igreja estava ligado com o problema da penitência.

· Tertuliano e outros Pais, viam no batismo a primeira penitência e aquele achava que não poderia haver uma outra penitência para pecados mortais. Este era o grande problema que se levantou com respeito à penitência: poderia haver ou não uma segunda penitência. Foi neste contexto que Calixto de Roma promulgou uma ordem autorizando uma segunda penitência e os bispos deveriam administrar esta praxe da igreja. Hipólito e Tertuliano se opuseram afirmando que somente Deus pode perdoar pecados e rejeitavam a opinião dos bispos como sucessores de Pedro tivessem tal poder.

· Após este debate houve outro: Quem, durante a perseguição de apostatar da fé pode retornar? Cipriano responde que os bispos deveriam tomar decisão com respeitos a estes casos. Novaciano se opôs dizendo não ser possível receber de volta os que havia negado sua fé diante da perseguição. Um sínodo em Cartago afirmou a posição de Cipriano e o conceito de igreja passa a girar em torno dos episcopado, dada a ênfase de Cipriano à autoridade do bispo. O desenvolvimento destas idéias leva a fundação do papado romano, já em 254-257 por Estevão, bispo de Roma. Cipriano defendia o episcopado dotado do ES enquanto que Estevão enfatizava a hierarquia.

11)Agostinho

· sintetizou a cultura da antigüidade com a herança da teologia cristã.

· Conheceu mais profundamente o cristianismo por meio de Ambrósio que tinha grande influência da filosofia oriental e em alta estima a justificação pela fé em Cristo. Agostinho, que se convertera ao maniqueísmo, não aceita a concepção deste de Deus e mal ao conhecer a concepção neo-platonista.

· Após sua conversão ainda é possível ver até o final de sua vida traços neo-platônicos que o ajudaram a enxergar o cristianismo (como o próprio afirma). Antes tinha uma visão mais racionalista, mas depois “Creio para que possa compreender”. Via no cristianismo a resposta ao que a filosofia perguntava, ainda que apresentasse o cristianismo com os pressupostos da filosofia neo-platonista. Um exemplo é que o neo-platonismo via que todo o esforço humano tinha como alvo a felicidade, o homem deseja algo que seja transcendente, permanente, imutável: Summum et incommutabile bonum. Diferenciava entre o amor ao bem supremo e ao mundo (inferior, falso). Não prega o desprezo a este mundo, mas que ele não deve ocupar o primeiro lugar.

· Quanto à criação fez a distinção entre uti (uso) e fruti(deleitar-se). A criação de Deus dever ser usada e até objeto de amor como algo que leva ao objetivo final, o bem supremo. Esta distinção foi a base para um amplo sistema quanto à conduta do homem face a Deus e o mundo.

· Como ser criado o homem deve procurar a felicidade fora dela. Por sua natureza corrupta busca-a em coisas mundanas, entretanto somente na conversão é que acha a verdade. O homem por si só é incapaz de realizar tal, de forma que deve ser algo fora dele, o Espírito Santo. Em Cristo tem-se a graça encarnada, que desce até nós.

· Doutrina da Igreja em Agostinho: Irá se desenvolver contra a concepção donatista (Novaciana), reconhecendo apenas como bispos os que demonstravam em suas vidas serem portadores dos dons do Espírito (Cipriano), enfatizando a dependência dos sacramentos em relação ao bispo que os realiza. Agostinho vai contra estas idéias negando a necessidade de haver um rebatismo ou re-ordenação de algum bispo. A validade do sacramento não dependia de que oficia. Agostinho faz distinção entre o Sacramento em si e a eficácia do Sacramento, resolvendo assim o problema do batismo realizado entre hereges e na igreja ortodoxa. Entendia que os sacramentos são sinais externos de uma realidade espiritual (influência do neoplatonismo).

· Agostinho entendia igreja aquela presente em todo mundo, onde a palavra e os sacramentos são administrados de forma correta. (fazia a distinção entre organização externa e comunhão dos santos). Ainda usa uma terceira definição de igreja, fazendo referência à eleição de Deus.

· A concepção que transparece no Cidade de Deus e Cidade dos Homens são duas sociedades que estão em conflito desde a fundação do mundo. A Cidade de Deus é a comunhão dos santos, igreja interna, não a hierarquia. E a Cidade dos Homens é composta por homens ímpios, não necessariamente o Estado. Entretanto, na IM a interpretação que reinou foi da subordinação do Estado temporal à Igreja, ainda que esta não seja a intenção de Agostinho quando escreve.(111).

· Doutrina de Pecado e Graça: Pelágio acreditava no livre arbítrio do homem em escolher entre o bem e o mal, apelando em suas pregações para isto, consistindo o pecado apenas em atos isolados da vontade, o pecado não é defeito da natureza mas da vontade, sendo assim as crianças estão livres do pecado, sendo que para este a graça de Deus apenas dá uma ajuda para que o homem possa escolher pelo bem mais rapidamente.

· Nesta questão do livre arbítrio Agostinho define o homem em 4 estágios: Antes da queda, depois da queda, depois da conversão e na perfeição. O pecado não são apenas atos, mas corrupção total da natureza, resultando uma vontade deturpada herdada de Adão e assim crianças não batizadas estavam sujeitas à condenação. E o homem não pode cooperar na sua salvação que é meramente obra da graça de Deus revelada em Cristo que dá perdão de pecados e regenera o homem de forma que este é capaz de obedecer aos mandamentos de Deus, sendo a vida aqui apenas um início.(116). A salvação é resultado do perdão de pecados, mediante a fé, independente do mérito humano, afinal não há nada que o homem possa fazer de si mesmo para sua salvação. Ao lado da graça, Agostinho também reconhece a importância do amor que Deus derrama no coração do homem, o que merece destaque é a transformação que causa no indivíduo.

· Neste ponto entra a doutrina da predestinação, onde a graça de Deus é a sua vontade e decreto de Deus em favor do homem, de forma que aqueles que um dia chegaram a crer não podem cair novamente. Concluiu também que se alguém não é salvo isto tem origem na vontade de Deus.

II PARTE: A IDADE MÉDIA – DE AGOSTINHO A LUTERO

12)Controvérsia Sobre o Agostinianismo até o Sínodo de Orange, 529.

· Ainda quando Agostinho era vivo suscitaram grandes discussões. Uns interpretavam-no dizendo que a as obras dos homens não teriam valor algum para o juízo final, enquanto que outros afirmavam que sua doutrina apoiava o livre arbítrio de forma que os homens seriam julgados de acordo com suas obras.

· Contra Agostinho surgiu a escola “semipelagiana” (principal expoente foi João Cassiano). Achava que o pecado herdado de Adão está no sentido de que toda a raça humana participa dela e que não é possível ao homem viver de forma agradável a Deus sem graça deste, afinal a graça de Deus reaviva as sementes presentes na vida humana e pelo libre arbítrio o homem pode rejeitar o dedicar-se à graça de Deus (120). Na verdade era uma junção da tradição agostiniana e tradição oriental pré-pelágio.

· Fulgência (bispo no N da África) afirmava veementemente a doutrina da predestinação de Agostinho. No concílio de Orange os conceitos Agostinianos foram impostos significando o fim do debate semi-pelagiano, enfatizando a impossibilidade do homem de se achegar a Deus. Nem a fé, nem o amor e nem as boas obras resultam da atividade do livre arbítrio, mas dependem da graça divina.

13)A Transição do Período Antigo ao Medieval: Gregório, o Grande

· Quando os germanos passaram a ascender ao domínio político os líderes da igreja davam cada vez menos atenção às questões teológicas.

· Boécio que traduziu algumas obras de Aristóteles utilizadas na IM

· Dionísio, o Areopagita que deu à IM idéia de como era a cosmovisão e religião neoplatônica.

· Cassiodoro que era colecionador e enciclopedista.

· Isidoro de Servilha: reuniu o conhecimento científico e teológico daquela época e o tornou acessível às gerações seguintes.

· Assume o papado um ex-prefeito de Roma: Gregório que é visto na história do Dogma como o divisor de águas da antigüidade e IM. Aceitava a doutrina de graça de Agostinho, entretanto via como finalidade da graça produzir boas obras que podem ser recompensadas (na forma de regeneração e salvação do homem). Conceito que permeia a IM. Apresentou Cristo como exemplo e a ceia como um novo sacrifício. Entre seus escritos há o comentário do livro de Jó que lança os aspectos éticos medievais, especialmente o caráter ascético. Em seus Diálogos, destaca milagres que homens haviam feitos influenciando a IM. Combinou a melhor tradição teológica com piedade popular.

14) Teologia Carolíngia

· Neste período aparecem alguns grandes teólogos: Rabano (856); Radberto (865) e Ratramno (868). Entretanto apenas repetiram tradição antiga sem darem novos rumos à teologia. Há o inglês Venerável Beda que escreveu História Eclesiástica do Povo Inglês.

· Eipano traz à tona uma controvérsia cristológica antiga defendendo o adopcionismo. Alcuíno foi contrário à esta cristologia. O adopcionismo foi condenado em vários sínodos.

· Uma adição no credo do Filioque, ou seja O ES procede do Pai e do Filho foi adotado nesta época (Ratramno) e o ponto de vista oriental foi considerado ariano neste sentido, por defender uma maior autoridade do Pai em relação às outras pessoas. O credo no oriente permaneceu inalterado.

· Outra controvérsia se deu no apoio de um concílio à idéia de adoração de gravuras (ou da realidade que elas expressam) não foi aceita pelos francos (Carlos Magno) mas em 870 Roma aceita esta decisão.

· Gottschalk (séc. IX) levou a doutrina da dupla predestinação ao extremo dizendo que Cristo morreu apenas pelos eleitos. Seus ensinos foram condenados.

15) A Ceia do Senhor na Primeira Parte da Idade Média

· Havia desde Gregório a noção de repetição do sacrifício de Cristo. A presença real era inquestionada, o problema é se esta presença deveria ser interpretada literal ou simbolicamente? Radberto disse que depois da consagração apenas existem corpo e sangue de Cristo, o mesmo que nasceu da virgem Maria. Isto se dava de forma misteriosa. Entretanto Ratramno, seguindo tradição agostiniana, interpretava a ceia simbolicamente. A doutrina de Radberto foi a que teve maior influência na IM.

16) Doutrina da Penitência na Primeira Parte da Idade Média

· Na igreja Antiga penitência era readmissão dos que haviam caído em pecado mortal após o batismo, público, realizável apenas uma vez. Entretanto, gradualmente (800 já havia desaparecido) este sentido foi se perdendo passando a ser uma ato privado, de confissão ao sacerdote, satisfação e readmissão, sendo que a penitência foi estendida à pecados veniais. Esta forma de penitência se desenvolveu em terras Celtas e tornou-se popular.

· Dividia-se em: Contrição, confissão (feita ao sacerdote), absolvição e satisfação. Absolvição vinha muitas vezes antes da satisfação.(136).

· Desta forma o confessionário tornou-se o meio mais importante de disciplinar o povo, vínculo mais forte entre sacerdote e povo.

17)Fase Inicial da Escolástica

· Teologia surgida no XI nas universidades ocidentais característica pelo uso da filosofia. Utilizavam o método dialético que leva à divisão infinita dos problemas teológicos. Ainda que haja apenas um termo para designar, a escolástica não representou uma escola única, existindo várias tendências.(140). Dois fatores são fundamentais para o surgimento da escolástica: Renovação da igreja e utilização da filosofia na educação da época.

· Neste período Berengário levanta-se contra a idéia de que os elementos da ceia se transformam após a consagração, defendendo uma posição mais agostiniana. Recebeu oposição de Lafranc e outros teólogos, sendo que em 1215 foi aceita oficialmente a doutrina da transubstanciação como doutrina adotada pela igreja.

· Realismo (platônico) X Nominalismo (aristotélico). Anselmo acusa o nominalismo de negar a doutrina da trindade, visto que para eles a substância está ligado a uma coisa específica, assim na trindade teria que haver três substâncias, isto vale também para a cristologia. Havia também os realistas extremistas que diziam que os objetos individuais tornavam-se apenas modificações da substância comum. Pedro Abelardo se opôs a esta forma de ver o problema e também ao nominalismo. Abelardo diz que os universais existem como padrão na mente de Deus, mas não deixam de ser designações da realidade por parte dos homens.

· Anselmo procurava avançar da fé para as especulações racionais, empregando as forças da razão (ver o sua prova ontológica de Deus).

· Pedro Abelardo partia do princípio que fé e razão não podem se contradizer tendo em vista que ambas partem da mesma verdade divina. Ele foi quem introduziu a dialética na metodologia teológica desta época.

· Hugo de S. Vitor distinguia entre meditação (seu objetivo era despertar o amor de Deus nos corações) e contemplação que podia ser especulação (desapaixonada) e especulação propriamente dito (pressupõe alma cheia de paz e alegria).

· Pedro Lombardo juntou a adaptação mediativa de Anselmo e a dialética de Abelardo. Reconhecia o poder da filosofia em ajudar até certo ponto, tendo uma posição bem moderada sobre os problemas que trata.

· Anselmo: Creio para que possa compreender. Abelardo destacou que a fé é uma forma de conhecimento necessário, análogo ao conhecimento filosófico (posição mais racionalista).

· Anselmo acreditava que o homem havia sido criado para a glória de Deus. A queda em pecado representou uma desonra para Deus, que então castiga ou corrige este erro humano. Daí vem a concepção de castigo ou perdão pelo pecado. O homem é incapaz de dar satisfação suficiente para o pecado e ninguém pode pagar a Deus o que deve, exceto aquele que é maior que tudo que existe, o próprio Deus-homem. A teoria da expiação de Anselmo abriu caminho para encará-la como sendo ato forense de Deus, provando assim para Anselmo a lógica da necessidade da encarnação de Cristo, independentemente do uso da Bíblia.(148).

· Na concepção de Abelardo Cristo só tem poder salvador porque desperta em nossas vidas amor recíproco e assim destrói nossos pecados. Esta sua concepção não foi muita aceita, dominando a idéia de graça infusa.

· Graça e Natureza: Esta primeira fase da escolástica viam a obra da graça como restauração da natureza que leva o homem a exigir e praticar o que é correto. Fé e justiça cooperam entre si. Este conceito é derivado da teologia Agostiniana.

18) A Alta Escolástica

· Escolástica atingiu seu ápice no XIII. A universidade de Paris substituiu as escolas catedrais do XII. Os franciscanos e dominicanos incentivaram e contribuíram para o estudo teológico. O conhecimento de Aristóteles contribuiu para o desenvolvimento da erudição. A instrução teológica era feita através de preleções sobre textos bíblicos e debates em torno de problemas dogmáticos específicos. Agora se compreendia para crer. Fé e razão andavam de mão dadas.

· Agostinianismo e neoplatonismo influenciaram os franciscanos. Aristotelismo os dominicanos, sendo que Tomás de Aquino era mais aristotélico.

· Epistemologia agostiniana: Homem participa do divino e seu intelecto possui por si mesmo a capacidade de criar a percepção (fé infusa).

· Aristotélico: Conhecimento vem de fora (fé vem pelo conhecimento da palavra).

· Alexandre de Hales: Escolástica autêntica de corrente agostiniana, o conhecimento de Deus se encontra no homem desde o início dos tempos.

· Bonaventura: Tudo que existe, existiu antes no pensamento de Deus, por isso pela natureza pode se saber algo de Deus. Reuniu erudição escolástica com misticismo.

· Alberto: Tornou conhecida a filosofia aristotélica para seus contemporâneos, conservando o ponto de vista agostiniano na maioria das vezes.

· Tomás de Aquino: Integração numa unidade orgânica de conceitos aristotélicos e tradição cristã. Sua obra prima, Summa Teológica, se divide: 1)Ser divino; 2)Deus como alvo da atividade humana; 3)Cristo: Caminho para o alvo. A criação nos dá um conhecimento imperfeito de Deus. A revelação complementa este, e nos mostra a verdadeira face de Deus. Nega a concepção agostiniana, apontando, aristotelicamente, Deus como a 1º causa, ou seja, o motor. Fé e razão estão em harmonia. Teologia é uma ciência que se baseia em verdades sobrenaturais (ciência mais elevada) embora não saiba provar ou compreender estes princípios.

· Duns Scotus: Aristotélico, mais empirista que ao contrário de Tomás colocava ênfase no individual e não somente na validade universal. Mostrou que existe uma distância entre conhecimento científico e teológico. Aquele trata dos universais, este dos individuais. Para ele a teologia é conhecimento prático, não teórico. Era voluntarista (vontade soberana de Deus).

· Comparando Tomás e Scotus: 1) Na doutrina de Deus Tomás o aponto como ser supremo, cuja vontade sempre coincide com a ordem que estabeleceu. Para Scotus a ênfase recai sobre a vontade de Deus, Deus age como ele quer. 2) Na expiação Tomás desta a divindade de Cristo, e sua morte como meio de obter perdão de pecados; Scotus destaca humanidade de Cristo e este sacrifício somente foi válido porque Deus aceitou este sacrifício, depende da vontade de Deus.

· Na alta escolástica era marcante a idéia de mérito e recompensa, havendo uma espécie de semipelagianismo, sendo introduzida a idéia de ações preparatórias, que é tudo que Deus dá ao homem (sem mérito e que o auxilia na salvação como dons, graça infusa, etc...).

· Neste sistema há pouca ênfase na palavra, que nada mais é que uma nova lei, recaindo a ênfase nos sacramentos que nos capacitam a cumprir a lei. A graça de Deus é que o torna agradável a Deus tornando acessível à natureza humana qualidades superiores necessárias para fazer boas-obras e alcançar o mérito genuíno. A graça justificante é um habitus infuso.

· Tomás: Nega algum preparo do homem. Graça é sobrenatural que só pode ser alcançada pela graça infusa. A graça eleva a natureza humana a um nível superior, capacitando-o a realizar obras meritórias.

· Há forte presença da doutrina da dupla predestinação

· Alta Escolástica e os Sacramentos: Pedro Lombardo: 7 sacramentos que eram vistos como portadores da graça do sofrimento vicário de Cristo. Entretanto, Scotus e franciscanos defendiam ação de Deus ao lado dos sacramentos (simbólico) e Tomás via neles a comunicação real da graça de Deus, sendo que a eficiência do sacramento era independente da fé nas palavras da promessa.

· Batismo, confirmação e ordenação eram feitos somente uma vez.

· Ceia era a mais importante, por sua ligação com o sofrimento de Cristo (transubstanciação).

· Duns defendia consubstanciação que foi adotada pelos nominalistas.

· A penitência era composta por 3 partes: contrição, confissão e satisfação (jejuns e orações). Baseava-se no ofício de chaves para defender a troca da satisfação.

· Ordenação: Graça invisível.

· Matrimônio: símbolo do amor de Cristo à igreja.

19) A Fase final da Escolástica

· Occamismo: Baixa Idade Média, rebateu e em muitos aspectos contrapôs a escolástica, entretanto completou-a e eternizou-a. Defendeu uma posição nominalista, fazendo conjeturas mais abstratas que os realistas.

· Nega a existência de uma prova racional de Deus, e a prova de que ele seria a primeira causa. Deus é um ser individual (oposição ao universalismo de Tomás). A trindade não pode ser ponderada de maneira racional. Aceitava a trindade como pressuposta da posição realista viso que as relações ocorrem independentes da forma como pensamos.

· Fazia separação entre teologia e ciência (Filosofia). Os artigos de fé não podem ser provados logicamente, mas usava método dialético e lógico na sua teologia. A teologia deve estar baseada na fé na escritura, ela é a única autoridade, em virtude disto desenvolveram a doutrina da inspiração.

· Occam não aceitava o pecado original como depravação da natureza humana. A graça é meramente perdão de pecados. Foi influenciado pelo pelagianismo: o homem é capaz de ter méritos que Deus retribui com dons. Com relação à obra meritória, Deus escolhe (por sua vontade) se uma obra é ou não meritória.

· Na Baixa Idade Média começa haver oposição ao papado, havendo fortes críticas de Wiclif, que também negava a doutrina da transubstanciação.

20)Os Místicos Medievais

· Misticismo tem origem na teologia agostiniana e na piedade monacal. O misticismo não era contrário à escolástica, mas se relacionava com esta. Enfatizavam a experiência religiosa pessoal. Os maiores místicos medievais eram os dominicanos alemães, ligados à teologia de Tomás, sendo Eckhart de Hochheim, João Tauler.

· Eckhart aproximava-se muito de um panteísmo, ainda que destaca-se com freqüência criatura e criador. A encarnação era o centro de sua teologia. O homem é salvo morrendo para o mundo e recolhendo-se para dentro de si, a ponto de unir-se com o ser divino. Isto ocorre em três etapas: 1)Purificação: arrependimento; 2)Iluminação: Imitação dos sofrimentos de Cristo. Fazer o que é bom, contemplar os sofrimentos de Cristo; 3)União total com Deus, negação do mundo e de si mesmo, tornado-se um com Deus. aqui aparecem visões. Deus é a única validade, enquanto que a criação não é nada. O homem pertence a este nada, e tem por objetivo unir-se a Deus (negando o mundo e a si mesmo).

· Bernardo de Claraval: ênfase nas meditações sobre a vida de Cristo.

· Tauler: Mais prático e popular. Há alguns pontos evangélicos em sua doutrina.

III PARTE – O PERÍODO MODERNO – DESDE A REFORMA ATÉ O PRESENTE

21) Lutero

· Tem influência nominalista, familiarizando no mosteiro com a teologia occamista. Quando se maltratava para alcançar a graça de Deus vemos a influência occamista e da predestinação, até que Stauptz (místico e tomista) diz para Lutero contemplar Cristo, ao invés de ser preocupar se era ou não um dos eleitos. Apresentava profunda influência agostiniana, identificando muitas de suas posições com a de Agostinho.

· Criticava o pelagianismo occamista e a fusão de teologia e filosofia (escolástica).

· Diferentemente do occamismo que destacava o voluntarismo de Deus, ou seja, Deus salva quando quer, Lutero diz que somente o que Cristo fez na cruz salva o homem. Para aqueles especulação filosófica e conhecimento teológico deveriam ser colocados no mesmo nível, enquanto que para Lutero a razão não pode perscrutar a revelação de Deus, afinal a razão é cega por causa do pecado.

· Místicos: velho homem X Novo homem (influenciou Lutero), entretanto Lutero não concordava com o posicionamento dos místicos em relação ao conceito de pecado original e união mística com Deus, mas os tinha em alto conceito por sua doutrina sobre salvação.

· A palavra é o fundamento da teologia e Cristo é o centro. Fé é fundamental para interpretação bíblica, que não dever ser feita legalisticamente. A Bíblia interpreta-se a si mesma.

· Ao invés de adotar distinção entre corpo e alma, poderes inferiores e superiores, Lutero adota o conceito do homem na sua totalidade. O homem todo tem o pecado original.

· Escolasticismo defendia que pecado original é removido pelo batismo ficando apenas propensão ao mal. Lutero concorda que remove o pecado original, mas suas conseqüências devastadoras ainda permanecem no homem justs e pecatus.

· A idéia de mérito congruo cresceu na IM. Lutero afirmou o Servio arbítrio.

· Conceito novo de vocação em Lutero. Diante de Deus não há ofícios mais ou menos dignos.(pg.199).

· Com sua doutrina dos dois reinos Lutero se opôs à teologia medieval da igreja e aos entusiastas

· Lutero critica a missa por não ter pregação da palavra e ter como objetivo agradar a Deus e não comunhão em torno dos sacramentos e Palavra. A comunidade é o motivo básico para o culto.

· Igreja = comunhão dos santos. Fazia distinção entre igreja invisível e igreja externa. Recusou a idéia de que o sacerdócio araônico seria uma antecipação do papado.

22)Melanchthon

· Criou uma teologia independente da reforma, uma teologia sua. escreveu obras na área da teologia e também de filosofia. Melanchthon divergiu em alguns pontos de Lutero, o que fica perceptível nas várias edições do loci comunes.

· O grande mérito de Melanchthon foi ter dado forma à educação teológica da reforma, influenciando futuramente a reforma, dando-lhe maior amplitude e infiltração no campo acadêmico.

· Em 1521 nos Loci concentrou-se principalmente na lei/evangelho, pecado/graça. Com respeito ao homem no início aceitava o servo arbítrio. Em 1530 fala da ajuda humana na conversão, que era composta de 3 fatores: Palavra, Espírito e homem, apresentando uma espécie de predestinação que veio a negar mais tarde.

· DÚVIDA NA PG.214 (DUPLA PREDESTINAÇÃO DE LUTERO).

· Formulou a doutrina da justificação luterana e acrescentou o aspecto da participação do homem nos méritos de Cristo como imputação da graça.

· Em Melanchthon aparece de certa forma a idéia de fases na vida cristã

· Considerava a lei como uma ordem de Deus a qual o homem deve obedecer. Acrescentou o terceiro uso da lei.

· Acrescentou como marca da igreja visível a doutrina pura. Enfatizava bastante os ensinos da igreja antiga. Um exemplo disto é a crítica que fez a Lutero por defender a doutrina da ubiqüidade de Cristo. Defendia presença real, mas achava que devia ser defendida de outra maneira.

· Pressupostos filosóficos tiveram profunda influência na sua teologia.

· Em muitos pontos a ortodoxia luterana foi contra Melanchthon.

23)Zwínglo

· Em 1516 conheceu Erasmo e foi influenciado por seus escritos. Em 1519 rompe com Erasmo e seu conceito do homem, afirmando a total depravação do homem. Foi bastante influenciado por Agostinho. Sua teologia era uma mistura da teologia antiga, da reforma e da renascença. Negava o pecado original e defendia que alguns pagãos, por meios racionais, haviam conseguido a salvação.

· Salientava o contraste entre matéria e espírito, não enfatizando a palavra visto que Deus ES age diretamente no Cristão. Seus escritos eram bem práticos e políticos, morreu num campo de batalha lutando pela unificação da suíça em 1531.

24) Calvino

· Teve como predecessor Martin Bucer que em muitos aspectos antecipou a teologia calvinista. Organizou a reforma em Genebra, impondo uma dura moral. Apesar de se considerar fiel seguidor de Lutero, sua teologia apresenta conceitos bem próprios.

· O propósito da história é a glória de Deus e a vida do cristão deve ter como alvo ressaltar a glória de Deus.

· Tudo que acontece, acontece por vontade de Deus. As ações más dos homens não são apenas permitidas por Deus, mas acontecem por sua vontade que não podemos entender. Assim se o homem caiu em pecado foi por vontade divina, aqui também se inclui a condenação e a eleição de alguns (dupla predestinação). O conceito de justiça de Calvino vai além de tudo o que homem concebe como justiça.

· Defendia a conceito de inspiração da Bíblia como flauta, ditada pelo ES aos homens que a escreveram.

· De certa forma, atribuía valor permanente à lei mosaica por defender sua validade moral para os homens do NT e para a sociedade. Enfatizava a lei como forma de aumentar a glória de Deus e certeza da eleição de Deus. A lei é a norma da vida santificada. Fazia distinção entre igreja visível e igreja invisível.

· Idealizou uma organização eclesiástica derivada da Bíblia, com uma moral rígida (questão do julgamento de heresia em Genebra).

· Na ceia, acreditava que o corpo de Cristo estava localmente limitado, não podendo participar da infinitude da divindade, por isso não está na ceia (presença real). Considerava a presença de Cristo apenas no plano espiritual (comer espiritual) e não substancialmente nos elementos.

25)Teologia Reformada até o Sínodo de Dort.

· Ao contrário dos luteranos não tinham uma confissão de fé comum, cada país tinha a sua.. Teodoro de Beza foi o mais fiel seguidor da teologia calvinista, que recebeu este nome da ortodoxia luterana do XVII.

· Sínodo de Dort se reuniu para analisar as idéias de Jacob Armínio que tiveram grande influência.

26)A Teologia em Áreas Luteranas até a Fórmula de Concórdia (1577).

· Olavus Petri foi seguidor de Lutero na Suécia, enfatiza a conexão entre fé e obras, aquela gera uma nova vida.

· João Brenz realizou a reforma em Wütemberg e foi um dos primeiros e mais fiéis seguidores de Lutero, desenvolvendo bastante a idéia da ubiqüidade de Cristo.

· Uma característica da reforma foi o grande desenvolvimento da teologia bíblica.

· Discípulos de Melanchthon são teólogos que assumiram posição intermediária entre Calvino e Lutero.

· Matim Chemitz participou da composição do livro de Concórdia defendendo um luteranismo puro.

· Controvérsias teológicas:Giravam principalmente em torno da salvação e como adquiri-la.

· Atinomista: Agrícola defendia que a lei não deveria ser pregada para cristãos.

· Sinergismo: surgiu na década de 50-60 entre filipistas que declaravam que a vontade pode cooperar até certo ponto na conversão.

· Osiandro defendia que os pecados eram expiados não pela morte de Cristo, mas pelo Cristo que habita dentro de nós quando vem o evangelho, ou seja, com a natureza divina. Na verdade misturou teologia da reforma com misticismo.

· Majorística: defendia que as obras são necessárias à salvação. Nesta formulação deu muito problema, visto que o que defendia na verdade era que as obras devem acompanhar a fé, pois sem aquelas esta morre. Amsdorf (atacou Major) disse que as obras são prejudiciais à salvação, dando também várias discussões.

· 2º controvérsia antinomista: se deu com relação ao terceiro uso da lei. Os gnésios-luteranos defendiam que a nova vida não são reguladas pela lei (no sentido que não são uma obrigação). Foram chamados de atinomistas e consensuou -se no terceiro uso da lei.

· Adiáforo: Melanchthon concedeu liberdade para se adotar algumas cerimônias que tinham sido abandonadas. Luteranos inflexíveis acusaram de traição os que queriam fazer tal.

· Santa Ceia: Depois da morte de Melanchthon debateu-se sobre a presença real da ceia, sendo que filipistas da faculdade de Wüttemberg negaram a utilização da doutrina da ubiqüidade para fundamentar a posição luterana. Logo os professores da faculdade de Wüttemberg foram substituídos e denominados de Cripto Calvinistas.

27)A Fórmula de Concórdia

· Depois de muito tempo com colaboração de Chemmitz e Jacob Andreä foi elaborado a Fórmula de Concórdia com o fim de separar o calvinismo e luteranismo. Foi aceito por 2/3 da Alemanha e passou a ser a confissão de fé do luteranismo. Rechaçou-se doutrinas errôneas e a doutrina da predestinação como aparece em Lutero. Em 1580 sai o livro de Concórdia com coleção de vários documentos que passaram a ser reconhecidos até mesmo fora da Alemanha.

· A confissão de Augsburgo aponta na introdução como sendo uma “confissão de nossa época”.

· Destaca o pecado original como herdado que fica agarrado à natureza humana até a ressurreição. Repudiam qualquer forma de pelagianismo ou conversão sem usos dos meios da graça; Cristo está fisicamente presente na ceia; na cristologia Cristo é homem em toda sua natureza havendo uma comunicação entre os atributos humanos e divinos.

28) Contra-Reforma: Teologia Católica Romana.

· Aponta a contra-reforma como continuação do desenvolvimento da escolástica católica sob novas condições, devido à criação de novas ordens (Jesuítas e Carmelitas). Tomás de Aquino passou a ser o centro da educação teológica, sendo que Summa Theologica tomou lugar das Sentenças de Pedro Lombardo.

· O grande evento do XVI foi o concílio de Trento. Neste concílio fixou-se o cânone católico, Vulgata como normativa e os pais eclesiásticos e a tradição como autoridades para se fixar doutrina.

· Com relação à justificação falou-se em certa preparação para a justificação, sem falar se era ou não meritório, sem tomar assim uma posição entre o tomismo e o escotismo. Negam que se possa ter certeza da salvação e o ensino de que se é justificado somente por Cristo é anatemizado ao extremo. Diz que depois do concílio a teologia escolástico predominou por mais de 1século. O mais destacados entre os teólogos católicos deste período foi Francisco Soarez.

· Destaca-se também o grande misticismo que irradiou da Espanha (Inácio de Loyola com seus Exercícios Espirituais, p.ex.). A partir do XVII há uma desintegração da teologia escolástica motivada pelo ataque jansentista assim como pelo iluminismo.

29) A Teologia na Inglaterra a Partir da Reforma

· A reforma ocorrida na Inglaterra foi diferente do luteranismo e do calvinismo.

· Tomas Cranmer foi o grande líder da reforma teológica elaborando o livro de Oração comum, 42 artigos (que depois se tronaram 39), tendo contato com Martinho Bucer. Na questão da ceia adotou uma posição próxima do calvinismo retificada nos 39 artigos. Foi morto no reinado de Mária, a Sangüinária. No reinado de Elizabeth I foi aceito o Livro de Oração Comum, afirmou-se os 39 artigos com dependência da reforma e características bem próprias, como a negação da tradição, livros apócrifos foram rejeitados. Não se reconhece a dupla predestinação. Afirmam a supremacia do rei sobre a igreja.

· Puritanos não aceitaram o sistema episcopal estabelecido por Elizabeth I e protestaram. Um autor anônimo propôs um programa semelhante ao presbiteriano.

· Hoocker desenvolveu a defesa do sistema anglicano defendendo sua autoridade divina, o que não significa que deva seguir os modelos de organização que aparecem na Bíblia.

· Os presbiterianos consideravam que a Anglicana tinha elementos do romanismo e desejavam fazer uma reforma na reforma. Puritanos defendiam que cada congregação deve individualmente tomar suas decisões. Este esquema foi idealizado por Robert Browne que nem com ele deu certo. John Smyth desmembrou-se do congregacionalismo e fundou a igreja batista que defendiam ardorosamente a tolerância religiosa e liberdade de pensamento.

· Willian Laud (arcebispo de Cantuária) foi forte oponente do puritanismo, e do ponto de vista teológica era arminiano atacando o calvinismo extremado dos puritanos.

· No XVII o anglicanismo foi gradualmente se afastando do calvinismo, ainda que alguns de seus teólogos tenham participado do Sínodo de Dort, aceitando inclusive a dupla predestinação.

· Na restauração acabou havendo a expulsão dos presbiterianos, tornando-os independentes, sendo que o maior teólogo presbiterianos deste período foi Baxter.

30)Ortodoxia Luterana

· Foi um período de aprofundamento da doutrina da reforma exposta no Livro de Concórdia. Adotaram o neo-aristotelismo. Não é fácil determinar a influência da filosofia na teologia luterana, visto que se fazia distinção entre filosofia e teologia.

· O neo-aristotelismo adotou a visão escolástica de conhecimento (pela realidade externa e somente podemos conhecer as coisas (substâncias) através da forma. Nesta época Jacó de Zarabella distingiu duas formas de apresentar proposições no campo da ciência: Ordo ompositivus: parte dos princípios para as conclusões; Ordo Resolutivus onde parte-se do alvo e então se estabelece os meios para se atingi-los. Posteriormente a teologia protestante adota este método em lugar dos loci.

· A adoção da escolástica permitiu um tratamento mais científico das verdades cristãs, sendo que seus argumentos repousavam sobre a Bíblia. Colocavam a escritura acima da razão.

· As primeiras tentativas de se interpretar a Bíblia historicamente foram feitas no séc. XVII em meios não luteranos. Na hermenêutica excluíram o tradicionalismo como determinante em questões de doutrina.

· Dividi-se a ortodoxia em duas partes: 1)Clássica: primeira metade; Hutter, Gerhard.; 2)Após Westfália, onde se lutou contra o sincretismo e por uma posição mais dogmática.

· George Calixto acreditava que podia-se unir as diversas confissões baseando-se na tradição mais antiga como definidora da fé. Abraão Calov foi veemente oponente.

· Examen Theologico-acroamaticum de David Hollaz é considerado o última grande sistema dogmático da ortodoxia, apresentando influência pietista.

· A)Sagradas Escrituras: Palavra inspirada e infalível de Deus, contendo todo o necessário para a salvação; a Escritura interpreta-se a si mesmo. O Espírito age em e com a Palavra quando é ouvida e lida. Rejeitou-se posições espiritualistas.

· B)Doutrina de Deus: Deus é o princípio do ser da teologia, pois ele revela-se a si mesmo, sendo assim por causa deles temos conhecimento da sua pessoa. Fazia-se distinção entre conhecimento natural e sobrenatural de Deus.

· Com relação à trindade dividiam as obras: Pai (criador); filho (redentor); ES (Santificador), mas os três participam nestes atividades.

· Aceitaram as duas naturezas de Cristo, defendendo a comunicação entre os atributos: (idiomático; Majestatico e Apostelemático).

· C)Criação e Queda do Homem: Deus criou o mundo do nada para sua glória. Mundo perfeito e depois da queda corrompido pelo pecado.

· D)Providência e Predestinação: Deus não apenas criou as coisas, mas ainda preserva. A Predestinação de Deus somente se refere àqueles que foram salvos.

· E)Livre Arbítrio: O homem não pode cooperar em nada com sua vontade com relação às coisas espirituais. Concordaram com as fases que Agostinho defendia.

· F)Lei e Evangelho; arrependimento: A palavra tem sua função elucidada pela distinção entre lei e evangelho. Apresentam a lei apenas como reveladora do pecado humano e assim não pode ser apresentada como regra de vida.

· G)Fé e Obras: A finalidade das boas-obras é glorificar a Deus e bem-estar do próximo. As obras são frutos da fé.

· H)Sacramentos, Igreja e Escatologia: Batismo e ceia era vistos como réplica da circuncisão e páscoa judaica.

· Distinguiam entre igreja visível e invisível.

· Escatologia ocupa lugar central na ortodoxia, sendo que defendiam a destruição e recriação do novo mundo.

· Conflito contra o Socinianismo

· Originários da Itália, desenvolveram-se onde não havia perseguição religiosa, sendo seu grande teólogo Fausto Socino. Eram racionalista com relação à escritura e anteciparam vários pontos da teologia iluminista. Eram atintrinitários, pelagianos, homem tinha livre arbítrio. Deus por sua livre vontade, independentemente do sacrifício de Cristo, pode outorgar salvação para os que procuram viver em inocência. Tinham uma visão radicalmente racionalista da fé cristã.

31)Pietismo

· Aponta o pietismo como uma nova posição teológica, e não uma crítica à tradição anterior.

· Suas idéias remontam ao misticismo medieval, tendências reformadas e o socianismo. E com a conexão que se tem feito do pietismo com tendências subseqüentes colocam sua relação com o iluminismo.

· Spener transmitiu idéias moderadas do peitismo. Em Pia Desideria propôs um estudo da Bíblia (não de forma dialética, mas devocional), exercício do sacerdócio universal na cura d’almas. O pietismo surgiu como uma reforma prática, mas que logo mudou o campo e perspectiva teológica. Há uma destaque para a experiência pessoal. Qualquer pessoa pode ter conhecimento da verdade bíblica (conhecimento morto) mas apenas o regenerado pelo espírito (experiência) pode ter verdadeiro conhecimento. Esta regeneração dá uma cristão a nova vida, ou seja, há uma conexão entre justificação e santificação de forma a comporem uma unidade. O pietismo conduziu a uma mais rigorosa aos cristãos do que ao restante dos homens.

· A teologia do pietismo centrava-se na problemática da salvação, conversão e conduta de vida, questões metafísicas foram deixadas de lado. O pietismo tratava do conhecimento dando-lhe uma conotação subjetiva, enquanto que a ortodoxia, presa à palavra, tratava-o mais objetivamente.

· Pietismo de Halle: A recente fundada faculdade de Halle contratou vários professores de tendência pietista (Francke). No currículo ênfase na Bíblia, não se utilizando somente do sentido literal do texto, mas assumindo-se outros sentidos. Estudos dogmáticos foram reduzidos à insignificância. A nova vida é caracterizada pelo rigoroso auto-exame e supressão de sentimentos naturais. O cristão piedoso iria se abster de diversões mundanas (jogos, danças, etc.).

· Pietismo Radical: Fanático e com forte crítica à doutrina da igreja. João Guilhermos Petersen (extremado quiliasta). Mas o mais radical foi João Dippel.

· Herrnhutismo: Uma comunidade “irmãos moravianos” fundado por Zinzerdof, que tinham a igreja em alta estima. Para este o sentimento de comunhão com Cristo era obtido através da contemplação da cruz de Cristo. Toda experiência da cruz era substituída pela experiência da cruz e da expiação. Era completamente subjetivo.

· Pietismo de Wüttemberg: Bengel trouxe grandes contribuições para exegese bíblica, procurando a interpretação histórica, livre do formalismo filosófico. Roos era membro da escola de Bengel quanto à exegese bíblica.

· Pietistas sofreram ataques dos ortodoxos em alguns pontos controvertidos: Palavra e Espírito, milenismo, subjetivismo, conversão, santificação, etc.

32) Iluminismo

· Séc. XVIII como fruto do socianismo, deísmo, desenvolvimento tecnológico e do conhecimento. Conceitos metafísicos foram substituídos por conceitos atomistas. O sujeito ocupa o primeiro lugar na busca do conhecimento. Procurava-se explicar o mundo com base nos princípios da razão.

· Houve uma mudança no conceito de educação, apoiando-se as diversas áreas do conhecimento humano no chamado sistema natural.

· Humanismo pôs sua fé no homem e suas potencialidades.

· Moralidade baseada na razão humana.

· O conceito de Estado passou a ser baseado no homem destinado a promover a ordem pública, caindo-se no absolutismo.

· Foi apenas na segunda metade do XVIII que começou haver a teologia racionalista, sendo a maior influência o conceito de religião natural. Herberto de Cartuby destacou que há uma religião natural comum a todos os homens pelo qual podem tornar-se bem-aventurados e Cristo é apenas um exemplo de boas virtudes. E ainda Mateus Tindal com O Cristianismo tão velho como a Criação.

· A teologia tornou-se dependente da filosofia. Paralelamente a isto havia a tendência de ver a religião com função moralizadora. O racionalismo levou ao individualismo das pessoas; religião é assunto privado.

· Teologia Inglesa na Era do Iluminismo

· Na Inglaterra não era tão enfatizado o deísmo, mas achava-se que a religião revelada tem melhor sustentáculo na razão. Locke defendeu que as posições da fé e da razão se alicerçam em bases completamente distintas. Havia na teologia inglesa a tentativa de expor a doutrina bíblica verdadeira de forma objetiva. Esta tendência exposta era o latitudinarismo. Havia também os deístas (John Toland). Esta tendência foi combatida por Josef Butler que defendia a necessidade da revelação. Este procurou demonstrar as analogias que existem entre natureza e religião, defendendo dogmas como expiação de Cristo que começou ser considerado supérfluo pelos deístas.

· Outro movimento é o metodismo. John Wesley recebeu influências do herrnhutismo, da tradição latitudinária e socianiana. Defendia a justificação pela fé, ao contrário da teologia inglesa da época que enfatizava as obras como alvo da fé. Gradativamente Wesley foi se afastando da posição da reforma se aproximando desta. Haviam duas facções: Calvinista e arminiana que levou a uma divisão do metodismo.

· Teologia de Transição: São teólogos alemães que combinaram uma atitude conservadora em face à posição filosófica da parte inicial do iluminismo e do pietismo.

· O alvo da teologia era a apresentação daquilo que o homem necessita para ser salvo. Religião natural era colocado ao lado da revelação.

· Teólogos deste período: Buddeus, Mateus Pfaff.

· Wolffianismo Teológico: Christian Wolff procurou edificar um sistema filosófico usando matemática, sendo bastante racionalista. Enquanto que a escolástica anterior tratava empiricamente das coisas, Wolff era extremamente lógico. Achava que a teologia deveria ser submetida à argumentação racional.

· Jacob Baumgarten foi influenciado por Wolff e aceitava pacificamente a relação entre razão e revelação, e esta é uma complementação da conhecimento natural e há provas racionais de que a Bíblia é a revelação de Deus.

· Neologia: Período da teologia em que o iluminismo se infiltra na teologia.

· Foram negados cristologia tradicional, pecado original, trindade, e aqui se introduz o método histórico.

· Foi introduzido o estudo histórico da Escritura, vista como fruto do desenvolvimento humano. A ênfase recai na moral, minimizando-se os dogmas. Há também o psicologismo moralista. O Espirito Santo era apenas um poder para se fazer o bem. A partir deste momento se fala em novo protestantismo com suas ênfases próprias. Destaca-se João Frederico Guilherme Jerusalém.

· Semler introduziu a aplicação do método histórico-crítico, com intuito de renovar a teologia. Achava que a escritura deve ser julgada por padrões moralistas. Semler tentou harmonizar tradição antiga com novas concepções fazendo distinções entre teologia (mutável, determinada historicamente, o que os professores de teologia discutem) e religião (piedade viva que coincide com revelação cristã).

· Semler teve como seguidor Schleiermacher que fez uma crítica ao dogma e escritura como eram aceitos anteriormente.

· João Ernesti era mais conservador que Semler mas queria fazer uma exegese livre de dogmas, e o trabalho na área da filosofia era ponto de partida.

· Racionalismo e Supernaturalismo: Lessing que dizia ser a revelação período ultrapassado, o homem está agora na era da razão, o conteúdo da revelação deveria ser transformado em conteúdo racional.

· Júlio August Wegscheider foi o maior dogmático deste período, que negava ou deturpava as principais doutrinas cristãs. Negava milagres, ascensão, sacramentos eram símbolos, etc.

· Racionalismo sofreu oposição do supernaturalismo que valorizava a revelação e autoridade da escritura. Mas ambos tinham concepções intelectualista da religião.

· Este conflito foi resolvido com as novas proposições de Scheleimacher influenciando pelo romantismo.

33) Correntes Teológicas do Século XIX

· Schleiermacher: Foi educado em ambiente moraviano, que rompeu com 19 anos associando-se ao romantismo. Schleiermacher tinha um conceito de unidade universal e de identificação com o universo de Deus, bem característico do romantismo. A religião era definida como sentimento absoluto de dependência do infinito. O objetivo e o subjetivo se fundem num só. Queria eliminar o dualismo: Deus e o mundo são na verdade um só. Negava existência de espíritos maus e demônios. Para ele a salvação consiste na tomada de consciência devota (sentimento de dependência foi alcançado.

· A função da teologia é descrever a fé cristã como se encontra na igreja em determinado momento histórico. Com base neste princípio edificou um sistema uniforme que incluía vários ramos da teologia.

· O mundo é dependente de Deus e a criação não ocorre num tempo no espaço. Nega intervenção divina e milagres ou revelação.

· O pecado é o sentimento de desconforto mental sempre presente quando se está consciente de Deus. pecado é oposição entre carne e espírito, conflito que dificulta a autoconsciência de dependência. Pecado é natureza não desenvolvida e não contrário à criação. Junta monismo com cristianismo.

· Salvação era transição para uma consciência superior de Deus que pode ser alcançado na congregação cristã pela fé em Cristo. A obra de Cristo (morte e bem-aventurança) nada significam para a salvação.

· Trindade: Trindade é una e as pessoas são apenas formas desta revelação desta substância. ES é espírito público que aviva a comunhão dos crentes.

· Schleiermacher afirmava a restauração universal, negando a condenação eterna.

· Apenas o NT é normativo, o AT encontra-se em conexão com aquele. A Escritura não pode servir de base para a fé.

· Hegel e a Teologia Especulativa. Hegel se voltou contra os românticos e Schleiermacher. Hegel foi criado em um meio onde dominava o Antigo Protestantismo. Hegel introduziu o desenvolvimento histórico em seu sistema, constituindo sua mais importante contribuição filosófica. Religião e filosofia estão em harmonia no sistema hegeliano, pois ambos visam o absoluto. O cristianismo é a religião absoluta, tendo o método dialético presente na trindade. Hegel influenciou enormemente seu tempo e posteriormente.

· Teologia da Restauração Depois do romantismo e idealismo, surge o materialismo e o mundo está em transformação (1830-40) com a revolução industrial de forma que se tentou alternativas para dar respostas ao mundo: ou se subordinava totalmente ao espírito da época ou voltava-se à tradição mais antiga com intuito de preservar a doutrina da igreja. Houve também movimentos de restauração (1817) reivindicando Lutero como seu patrono, mas sem se distinguir entre doutrina reformada e luterana. A aplicação da moderna ciência à teologia foi rejeitada. Suas realizações foram limitadas por falta de atenção à teologia de Lutero. Paralelamente houve um movimento dos neoluteranos que negavam interpretação subjetiva da religião e defendiam a igreja como base objetiva que pode garantir a existência permanente da igreja. Fridrich Sathl forneceu base legal para tal. Os sacramentos receberam ênfase. Lohe também era desta tendência. O problema é que enfatizaram demais na eclesiologia.

· Teologia Mediadora; A Questão Cristológica. Tradição de Schleiermacher levada adiante recebe este nome. Sua proposta era mediar a fé bíblica e o moderno espírito científico. Principais autores: Immanuel Nitzsch, August Twesten. Na cristologia diziam que a divindade de Cristo se dá apenas quando se une com o pai, negando a cristologia tradicional. Outra opção foi o quenoticismo que dizia que Cristo abandonara seus atributos divinos e quando foi glorificado os retomou. Mais notável representante: Ricardo Rothe.

· A problemática do XIX era: como o cristianismo com suas antigas concepções podiam ser combinadas com os modernos pontos de vista?

· A Escola de Erlangen. Aproximavam-se bastante do grupo confessional, sendo seu principal expoente Hofmann que fez grandes contribuições no campo da interpretação bíblica. Para ele a “experiência” configurava-se como parte da história da salvação. Seu método subjetivo aproximou-o de Scheleiermacher e do avivamento. Para ele a morte de Cristo foi apenas uma demonstração de obediência e amor, sem ter o aspecto satisfatório diante de Deus.

· Kierkegaard. Foi escritor tendo como preocupação primordial como ser cristão dentro do cristianismo. Procurou fazer uma crítica à filosofia especulativa do seu tempo e do espírito da igreja. Fazia distinção em 3 estágios, que são na verdade 3 formas diferentes de ver a realidade: estético, ético e religioso. Este seu conceito de existência parte do problema de explicar o que é ser cristão.

· Estético: vive exclusivamente para alvos visíveis, temporais e incidentais, julgando a vida em função da beleza. Não vive alheio à decisão ética.

· Ético: Quando enfrenta a exigência absoluta de Deus na escolha entre bem e mal. Aqui o homem percebe sua eternidade, mas gera tremor diante do fato de não conseguir cumprir os mandamentos da divindade. É então que o estágio ético leva o religioso.

· Religioso: Pode haver o cristão verdadeiro e a religiosidade geral. Naquele a síntese entre eternidade e tempo é concretizado. Para ele pensamento objetivo é fuga da existência, da decisão, assim subjetividade é verdade. Para ele o cristianismo se concretiza apenas na fé do indivíduo, e não da massa.

· Teve grande influência em nosso século, principalmente na filosofia existencialista.

· Ritschl e seus Discípulos: fundador de uma nova forma de teologia liberal. Para ele a única função da teologia é descrever a comunhão do homem com Deus, como expressa no cristianismo histórico. Ritschl procurava lançar um fundamento intelectual sólido para o cristianismo contra os ataques da ciência naturalista.

· O elemento religioso está subordinado ao ético, sendo dois focos da religião cristã. Doutrinas tradicionais foram reinterpretadas.

· A divindade de Cristo é apenas figurada, se mostra na unidade de vontade com o pai. Também acreditava na redenção universal, afinal Deus é amor e ponto.

· A função da teologia era harmonizar a doutrina tradicional com o homem moderno.

· Principal seguidor foi Herrmann que aprofundou e completou em muitos sentidos as idéias do mestre.

· Teologia Inglesa no XIX. Mov. De Oxford: John Keble que critica a posição liberal parlamentar da época e sua intervenção do parlamento em questões eclesiásticas. Newman propôs, por meio de panfletos, programa para a igreja com forte tendência romanizante (sacramentos, p.ex.).

· Samuel Coleridge influenciado por tendência contemporâneas a ele, se opôs ao deísmo oscilando entre o panteísmo e posição ortodoxa, numa tentativa de harmonizar filosofia e religião. Há elementos platonizantes em sua teologia. Introduziu a crítica histórica da Bíblia na teologia inglesa.

· Teologia Católica Romana no Século XIX. Com o romantismo houve uma visão mais positiva da igreja medieval, fazendo com que a ICAR voltasse à cena da teologia. Tübingen fez contribuição pioneira para renovação da teologia católica do XIX, interessando-se especialmente pela teologia histórica.

· Surgiram duas tendências, que foram repudiadas, que trabalharam o problema revelação e razão. Este problema foi solucionado com o neo-escolasticismo com o notável Josepg Kleutgen de Tübingen.

· Em 1864 Pio IX condenou fenômenos modernos (panteísmo, racionalismo). O auge foi com Pio X que atacou as posições modernistas, considerando-as heréticas. Mesmo assim continuou haver desenvolvimento da teologia crítica em meios católicos.

· Möhler, Scheeben ressaltavam que a tradição é na verdade uma continuação da revelação, e não algo que está ao lado da revelação. Aquele complementa esta.

· Movimentos Reavivamentistas no Séc. XIX. Movimentos de reavivamentos surgidos principalmente em igrejas livres em vários países. Posição intermediária entre pietismo e mov. De igreja livres do XIX, chamado movimento neo-evangélico, sentidos principalmente por batistas e metodistas ingleses. O grande avivamento americano ainda remontava ao “Grande Avivamento” de 1734.

· 1)Regenração e santificação: Justificação era entendida no sentido luterano, ainda que Waldentröm defende-se que esta é uma mudança de mente no homem e não sacrifício de Cristo. A Santificação era um crescer contínuo, prolongamento da regeneração.

· 2)Igreja: Apenas aqueles que aceitam viver em santidade são aceitos na igreja.

· 3)Sacramentos: não são considerados meios da graça, pelos quais se obtêm perdão de pecados.

34)A Teologia na Parte Inicia do Século XX, Tendências contemporâneas

· Harnack considerava o que de Jesus está registrado nos evangelhos como sendo verdade, que deve ser interpretada historicamente em cada época. Assim o cristianismo estava situado no tempo, mas ao mesmo tempo fora do tempo.

· Considerava os dogmas como desenvolvimento helenístico no solo do evangelho. Através da história pode-se encontrar a proclamação original de Jesus, que representa o ideal religioso.

· Kähler (Halle) atacou a tentativa dos liberais de se fazer um retrato do Jesus Histórico, até mesmo pela falta de fonte. O importante para a fé cristã não esta no contexto da história, mas no Cristo histórico da Bíblia.

· Billing procurou demonstrar que a revelação é um processo dinâmico, assim o cristianismo não é um sistema lógico impecável, mas está em constante transformação. Foi responsável pelo “renascimento de Lutero”, volta aos estudos do reformador na Suécia. Defendia uma certa independência da igreja de uma igreja estatal.

· A Escola da História das Religiões. Seguidores de Harnack que considerava o cristianismo como desenvolvimento que restaurou parte da religião oriental antiga e helenística. Assim esta religião é válida para o homem moderno? Esta escola desmontou várias idéias que a escola liberal havia levantado. Um exemplo é Weiss que num estudo exegético mostrou que o Reino de Deus em Jesus era uma realidade futura.

· Schweitzer foi o mais radical representante da escola histórica das religiões que dizia que como o reino de Deus não se cumpriu a igreja deu outra interpretação. Tese que foi logo abandonada.

· Teologia Dialética. Após 1º Karl Barth lança comentário sobre Romanos atacando toda tradição que vinha de Schleiermacher e fundamentava na experiência humana e o método histórico crítico. Era teólogo reformado, apoiando apenas batismo de crianças.

· Formulou um sistema dialético diferente do utilizado pelos reformadores afinal a dialética se dá entre eternidade e tempo, Deus como Deus e o homem como homem. Deus é completamente outro.

· Barth lança a noção de quérigma, até mesmo porque quando começa a escrever era pastor e achava que a teologia deveria servir exclusivamente à pregação. Para ele a Bíblia dá testemunho da revelação do Deus oculto, ou seja de Cristo. Este é o único ponto de ligação entre a divindade e a criação, sendo portanto, o ponto central de toda a teologia. Aceita a dupla predestinação, entretanto esta signfica que Deus aceitou seu filho e o rejeitou (de forma que morreu e sofreu as conseqüências do pecado) em lugar dos condenados, ou seja, Cristo toma sobre si mesmo a condenação, sendo possível a salvação de todos. Barth interpreta a morte e ressurreição de Jesus como processo eterno de Deus rejeitar e escolher o filho.

· Barth, diante de Brunner, negou a possibilidade de haver um ponto de contanto entre uma teologia natural do homem e a revelação. O conceito de salvação em Barth enfatiza o conhecimento: morte e ressurreição de Cristo deram a conhecer ao homem que a salvação eterna consiste nisto, que o Pai primeiro rejeitou e então elevou o filho.

· Paul Tilich. Vinha de uma formação mais antiga, tratando da relação entre filosofia e religião, teologia e cultura.

· Tilich combinou em sua teologia análise existencial e uma maneira estritamente idealista de se ver a coisa. Para ele o objeto da teologia deve ser a nossa preocupação última: ser ou não ser. Deus que é o “Ser em si” é a resposta às questões últimas dos homens. Tilich procurou criar uma síntese cultural harmonizando humanismo e cristianismo

· Rudolph Bultmann; o Debate Sobre Querigma e História. Achava que o NT com seus milagres, demônios eram incompatíveis com a realidade do homem moderno e estes mitos envolvem questões fundamentais para a fé. A solução liberal de ignorar não é satisfatória, e aceitá-los simplesmente porque está na Bíblia não seria honesto. A solução é a demitificação, de forma que o mito cai por si mesmo. Esta demitificação deve ocorrer antropologicamente (existencialmente), visando as possibilidades que o homem tem de alterar sua existência e de se tornar livre.

· Os evangelhos não visam apenas fornecer uma biografia de Jesus, mas apresentar a própria mensagem de Jesus e das primeiras congregações cristãs. Bultmann mescla idéias da crítica da forma, teologia querigmática e antropologia existencialista.

· Bultmann considera apenas a crucificação como fato histórico, não a ressurreição.

· Após Bultmann grande debate se deu em torno do Jesus histórico e Cristo do Quérigma, especialmente Cullmann.

Frederico Pieper Pires – Governador Valadares, Julho de 1999.


Livro 6

WHITE, James. Introdução ao Culto Cristão.

Capítulo 1 – Que Queremos Dizer com “Culto Cristão”?

· Destaca o culto como sendo serviço que o homem presta a Deus e vice-versa.

· Chama atenção para o caráter comunitário do culto.

· Culto é proclamação de juízo e promessa para a sociedade secular, mesmo que esta não se importe com que aconteça num domingo de manha numa igreja.

· Linguajar do culto deve primar pela comunicação da mensagem aos ouvintes.

· Sentido original de leitorgia está relacionado com serviço que eram prestados em favor da cidade, do estado. Isto também deve ser recuperado no sentido hoje, é serviço que se presta à todas as pessoas, inclusive de fora da igreja.

· Culto deriva da palavra agrícola cultivar; proskyneîn sublinha a realidade corpórea do culto. Para o autor o termo ritual deveria ser evitado devido a sua falta de sentido.

· Aponta para a diversidade cultural e como cada elemento da liturgia é interpretado nestas condições, apontando 9 tradições diferentes de culto protestante. Mas um aspecto presente em todas as formas de cultos ocidentais são um hinário e a Bíblia.

· Reforma: unidade do culto nas diversas regiões era considerado avanço, e hoje?

Capítulo 2 – A Linguagem do Tempo

· O tempo é central para a fé cristã, pois o próprio age no e através do tempo.

· Na igreja antiga a memória do tempo girava em torno da páscoa e da descida e presença do ES. Isto aparece na centralidade do domingo, lembrando que Cristo ressurgira da morte.

· Ligado com a páscoa surge a quaresma, que talvez tenha sua origem relacionada com a preparação dos catecúmenos para o batismo no dia da páscoa. Mas o período de pentecostes era muito mais lembrado e celebrado do que a quaresma, afinal era o aniversário da igreja (inverso do que acontece hoje).

· No IV surge a epifania (mais antiga que o natal, enfatizando a encarnação e o que Jesus fez em prol do pecador). A partir daí se dividiu em natal e advento. A primeira referência ao natal aparece em 354, tomando significado com o passar do tempo. Em 380 se fixa 40 dias antes do natal (06/01), ficando posteriormente 4 domingos.

· Posteriormente foram acrescidos o dia da Trindade e de Todos os Santos.

· Observância do calendário cristão leva a uma imensa variedade nos cultos cristãos, levando em conta que eles possuem tudo que necessitamos lembrar e relembrar para nossa fé.

Capítulo 3 – A Linguagem do Espaço

· Arquitetura reflete a forma como os cristãos em diferentes épocas prestam culto.

· Espaço deve levar em conta a comunicação entre emissor e ouvinte, além da auto-doação de Deus no culto (aqui entra sacramentos).

· Culto precisa de 6 espaços litúrgicos: espaço do encontro; de locomoção, congregacional, coral, batismal, mesa do altar.

· Igrejas atuais levam em conta a questão da utilidade, levando em consideração a intimidade. Em todos aspectos, a beleza deve ser levado em conta, mas não em detrimento da utilidade e de tornar a mensagem eficaz na sua transmissão.

· Artes na igreja deve se levar em conta o aspecto comunitário, não somente o individual.

Capítulo 4 – Oração Pública Diária

· IV orações diárias dos cristãos nos templos antes das atividades do dia a dia, que desaparece-ram com o monasticismo.

· O luteranismo de certa forma retoma esta oração, mas para o autor o grande sucesso foi atingido por Cranmer. Depois volta a ter força com pietismo e metodismo.

· Reforma também ressalta o culto familiar.

Capítulo 5 – A Liturgia da Palavra

· Liturgia da palavra extremamente influenciada pelo judaísmo, pela lembrança da história constante na memória.

· A leitura já era o início do culto (Agostinho), mas tal simplicidade não durou muito tempo. Foram adicionados elementos penitenciais e outros cantos, que os reformadores assimilaram.

· A importância da palavra é evidente, afinal é por meio dela que Deus fala conosco.

· Elementos a serem levados em consideração na liturgia: centralidade da escritura, senso de progressão, clareza de função.

Capítulo 6 – O Amor de Deus Tornado Visível

· Trabalha com o conceito de sacramento que destaca certos atos-sinal para expressar o encontro entre Deus e as pessoas. Maior dívida do cristianismo com o judaísmo se dá nesta área.

· Coloca que o homem inventou os sacramentos a partir de suas necessidades de forma a se relacionar com Deus.

· Agostinho deu início à tentativa de definir o que seria um sacramento, que seria sinal externo de uma realidade invisível.

· VII penitência deixa de ser um ato público para ser algo privado.

· Pedro Lombardo definiu 7 sacramentos. Para o autor, séc. XIII foi marcado pela transfor-mação dos sacr. em palavras. Fala que houve um desmantelamento do sistema sacramental com a reforma. Com iluminismo os sacramentos eram meros exercícios da memória. Aponta para uma tendência atual de se recuperar o valor dos sinais e qualidade das celebrações.

Capítulo 7 – Iniciação Cristã

· Problemática se o NT fala sobre o batismo de crianças, sabe-se que no V estava disseminado.

· O ápice da iniciação cristã era feito no dia da páscoa. Havia vários exorcismos e unções. Teria que haver a confirmação dos bispo, que no or. Passou a ser feita com óleo abençoado pelo bispo, chamando-se a cerimônia de crisma.

· Fala do problema que os reformadores enfrentaram com a confirmação, de forma que passou a ser vista como uma formatura, dependendo da intelectualidade da pessoa.

· 5 metáforas no NT para o rito de iniciação: União com Cristo, incorporação na igreja, renascimento, perdão do pecado e recepção do ES. A ênfase medieval fez com que se caísse para o perdão de pecados.

· A iniciação é evangelização, é o meio como a igreja cresce.

Capítulo 8 – A Eucaristia

· Jesus aproveitou um costume que já havia entre os judeus, Jesus escolhe a páscoa, um momento especial para os judeus.

· Há algumas tradições do ósculo da paz, que simbolizava amor e unidade na igreja. Com o tempo vai havendo necessidade de se fixar alguns textos. Há todo o desenvolvimento medieval de quem os reformadores foram herdeiros. Há atualmente forte tendência de se valorizar a antigüidade, vendo a IM como deturpação do sentido original da ceia.

· Um dos pontos centras da Igr. Primitiva era a ação de graças (herança do judaísmo). Ainda que a obra do ES não seja explicitada na escritura, na literatura cristã primitiva há referências.

· Desenvolvimento da Santa Ceia como sacrifício e suas conseqüências na IM.

· SC tem também o seu sentido escatológico, apontando para o banquete celestial.

Capítulo – Jornadas e Passagens

· Eventos cíclicos – jornadas; eventos únicos – passagens.

· Diz que reconciliação (confissão e absolvição) foi perdida com a reforma, isto na verdade é fruto da visão de White que valoriza os aspectos visíveis.

· Assistência aos doentes – na Igr. Primitiva havia unção onde também se primava pelo perdão de pecados da pessoa doente. Reforma abandona esta prática.

· Casamentos da Igr. Primitiva eram feitos em tavernas, havendo menor envolvimento possível da igreja, eram vistos como atos públicos no qual a igreja não devia se meter. Últimos tempos matrimônio tem sido visto mais como pacto do que contrato (o que é +).

· Aceita que as cerimônias fúnebre são feitas para consolar enlutados e encomendar a alma falecida. Atitudes frente à morte: Ant. era consolador; IM medo e hoje em dia evita-se de pensar sobre a morte.


Livro 7

CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, Templo e Mercado: Organização e Marketing de um Empreendimento Neopentecostal.

O protestantismo histórico está perdendo a batalha para as novas formas de cristianismo. O autor do livro Teatro, Templo e Mercado: Organização e Marketing de um Empreendimento Neopentecostal, Leonildo Silveira Campos, apresenta um novo perfil do sagrado, as estratégias de propagação, tomando por paradigma a Igreja Universal do Reino de Deus, sem dúvida, a maior expoente desta batalha.. Segundo ele, a ação deste sagrado acontece em 3 divisões espaço-temporais, quais sejam “teatro, templo, mercado”.

Sob o título o autor quer discutir a origem e desenvolvimento de uma “mentalidade neopentecostal”, que resultou em um empreendimento religioso-empresarial. Em que sentido a IURD é um fenômeno específico dentro do campo protestante e pentecostal? No sentido em que já adquiriu uma enorme visibilidade social. Já faz parte da história do campo religioso brasileiro[1]. Que critérios são usados para seu sucesso? É possível ver nela traços de uma religiosidade pós-moderna que permite a expressão individualista e privativista da experiência religiosa.

Capítulo 1 – Pentecostalismo e Neopentecostalismo no Vaivém das Pesquisas e Paradigmas

Na análise de tal fenômeno, faz-se necessário discutir aspectos epistemológicos e metodológicos, seu processo discursivo e comparações com os demais comportamentos religiosos.

1.1. Pentecostalismo: pesquisas e paradigmas

Analisa alguns elementos, quais sejam o pobre, o rico, os “mágicos” e os sacerdotes. Surgiram novos movimentos religiosos. A secularização, capitalismo e modernidade são processos históricos culturais interligados para o crescimento do pentecostalismo ligado ao aumento de sua literatura[2]. O paradigma ou teoria da secularização continua provocando discussões. O pentecostalismo encontrou formas de acomodação no interior da velha cultura latino-americana e da nova sociedade de consumo, incorporando símbolos e discursos que também se viu forçado a abandonar a postura contracultural e caminhar a uma religiosidade em uma sociedade dominada pelo mercado neoliberal.

Também se aborda o pentecostalismo na aplicação da tipologia “seita-igreja”, mostrando como funcionam a religião na sociedade. Cada grupo pentecostal procura construir uma identidade que expresse seu modo particular, colocando os demais como seitas e heresias. Seu conflito com a realidade social observa as duas classes, do “rico-dominador”’ e do “pobre-dominado”, ajudado pela teologia da libertação. Existe uma oposição entre religião e magia, esta que inverte os rituais da religião cultivadas na Universal - mágico dentro da religiosidade cristã. Os pastores devem descobrir em que as pessoas crêem e a partir disso realizar um trabalho pedagógico de aproximação - empregando elementos com eficácia mágica. A pós-modernidade tem sido apresentada como uma das causas do surgimento de novos movimentos religiosos no Ocidente, com a necessidade que as pessoas tem de reordenar a vida numa sociedade materialista e secularizada[3]. A IURD desenvolveu suas próprias técnicas de provocar êxtases e despertar nas pessoas um sentimento de busca interior da divindade.

1.2. As tipologias e reconstruções do pentecostalismo

A variedade de paradigmas e metodologias formou termos e teorias, como neo e pentecostalismo. Grupos desenvolveram teologias próprias, métodos peculiares de evangelização e organização; e a mentalidade pentecostal gerou adeptos a uma renovação espiritual. Sendo de um pentecostalismo autônomo, a IURD quer adequar sua mensagem às necessidades e desejos de um determinado público; atua dentro de um pluralismo religioso - capitalismo tardio onde o marketing desempenha um importante papel. Descobriu formas peculiares de atender a demanda por seus produtos - oferecer às pessoas o que estavam ansiosas por adquirir[4]. Conclui-se, portanto, que ela é teatro, templo e mercado, estes três dando eficácia à sua comunicação.

1.3. O esforço da pesquisa e as implicações do método

Os discursos surgem de experiências pessoais e exigem explicações. O mundo da vida religiosa continua fechado. Há um constante rodízio de pastores como de campanhas e dias especiais. Campos afirma que, dentro do aspecto metodológico usa termos como “neopentecostalismo” e “iurdiano”, pois encara o universo pentecostal e o campo brasileiro como um cenário onde fenômenos complexos acontecem.

Capítulo 2 - Teatro e Religião: A Teatralização do Sagrado na Igreja Universal

Muitas características do culto iurdiano são típicas de uma prática teatral do sagrado onde todos participam como atores; o culto neopentecostal é um espetáculo de fé e ser vivido. A metáfora da dramatização é uma das maneiras dos humanos vivenciarem as suas relações com o sagrado - religião e espetáculo teatral[5].

2.1. Religião e Dramaturgia

O teatro é uma rebelião contra a ordem estabelecida. O termo, originário da palavra grega “theastai’ - ver, olhar - era tanto espaço geográfico como a ação. Ouvir histórias e pensar na realidade humana, no imaginário, na representação. Teatro e religião são processos sociais para se atingir as coisas intangíveis, o que atrai as pessoas. O protestantismo eliminou o culto aos santos e propôs a secularização dos lugares onde o serviço religioso deveria acontecer. A Reforma colocou a platéia ao redor do púlpito; e aí surge o ritual[6]. O pentecostalismo mantém no seu culto uma proximidade entre religião e espetáculo. Como então, estabelecer limites entre teatro e templo?

2.2. Religião e Teatro nas teorias sociológicas

Na dramatização, o agente intermediário religioso, o pastor neopentecostal coordena o drama local usando até equipes de representação para a manutenção da fachada do espetáculo.

2.3. O Templo-Teatro, cenário, objetos cúlticos e símbolos

Os cultos da IURD são espetáculos onde o espaço litúrgico se torna um teatro. Valoriza-se o visual e auditivo. Contrasta com algumas práticas litúrgicas com o protestantismo histórico como o rompimento com o modelo tradicional de 2 sacramentos, incluindo novos sinais visíveis da graça invisível[7]. Surge um calendário litúrgico centrado em “campanhas de fé”. A administração central oferece somente a matriz com um enredo principal. Une-se a ação do pastor, o espaço, objetos e símbolos para oferecer um espetáculo alegre ao participante. Seus templos parecem mais um teatro ou salão comercial do que um templo. Seu interior é dividido entre palco e platéia; espaço de cenas está ligado a um contexto geográfico para o êxito do ritual, havendo uma padronização de cenários e materiais.

Um objeto que é usado tem valor somente quando representa e contribui para dar status ao homem no espaço social; é portador de um bem intangível, um eficiente meio de comunicação com Deus. Trazem os sinais de outros cenários, tempos e lugares[8]. Os objetos valem pelo uso e são considerados como ponto de contato, amuleto ou isca, para “despertar a fé” nas pessoas e colocá-la em ação - tomar uma decisão na vida, contribuir. A Bíblia passa a ser mais um depósito de símbolos, cenas dramáticas e até amuletos para exorcizar e curar, do que a palavra de Deus infalível. Banaliza os símbolos de outros grupos e os destrói. Seus cultos raramente acontecem fora dos templos para um melhor controle da densidade e dramatização.

2.4. A Dramaturgia religiosa em ação: Atores, equipes e platéia

Com participação de todos, existe o pastor-ator, o qual tem técnicas que integram a todos e criam um ambiente mágico; é o ator-mediador que chama a atenção dos ouvintes tendo seu domínio e a admiração de todos. A platéia participa do espetáculo de alto dramaturgia. Mas nenhum destes deve receber maiores louvores que o próprio Edir Macedo, líder da igreja.

Seus cultos são avaliados pelos milagres realizados; o sucesso da igreja depende da habilidade do pastor em arrecadar o sangue da igreja - o dinheiro. Deve provocar emoções, ter intimidardes como Deus. Exige-se obediência absoluta e suas palavras devem ser acatadas sem críticas. O pastor, assim, deve ter capacidade de levar as pessoas acreditarem em sua sinceridade. É auxiliado por uma equipe, geralmente tendo pastores auxiliares para cobrir a falta ou insucesso. Quando isso acontece, são enquadradas no “mentiras de nossos perseguidores”[9].

2.5. Estranhos: Os atores indesejáveis

Tem havido conflito entre jornalistas e obreiros da IURD devido sua desconfiança de pessoas que queiram somente registrar o que acontece no templo. Não há espaço para assistentes isolados na platéia. Os obreiros são responsáveis em estimular a platéia a participar com emoção. Em síntese, a IURD é um teatro permanente que consegue unir a necessidade de participação dos fiéis e oferta de produtos simbólicos.

Capítulo 3 – Templo e Religião: Espaço Cúltico e Ritos na Igreja Universal:

3.1. O Templo enquanto Hospedaria do Sagrado

Os protestantes quase geral, vê o templo um espaço sagrado somente quando nele se instala um grupo de adoradores. Os pentecostais dão valor somente aos eventos que aconteciam dentro do espaço[10]. Há uma tensão entre a sacralização e dessacralização.

3.2. O templo como um espaço energético

Para o crente da IURD o templo está associado ao milagre da conversão - há sempre um pastor e um milagre que esperam por você e você precisa comparecer para continuar recebendo as bênçãos desta vida, cura e libertação. Ela é o lugar onde o ritual acontece por isso o crente precisa dirigir-se ao lugar da bênção. Sua meta é levar pessoas para o templo.

O pentecostalismo está voltado a objetivos extra-mundanos, aceitando a idéia de que é natural o enriquecimento; no caso IURD, o templo é o início de uma vida no paraíso, agindo no mundo profano com uma nova fé, bateria recarregada - o crente luta pelos seus direitos como filho de Deus[11]. Os templos são um modelo voltado para a participação e não contemplação.

3.3. Templo, tempo e ritos na IURD

O rito é uma grande ação simbólica onde se revive experiências fundamentais - na leitura da Bíblia pelo pastor; eles permitem a invasão do presente por forças do passado embutidas em si mesmas, alterando o presente. A Igreja Universal regula os tempos e movimentos em ritmos programados racionalmente, há menos referência as festas tradicionais cristãs. Seu calendário se divide em correntes (atividades semanais) e campanhas (que, conforme a situação, duram dias). Seus locais de reuniões impedem a privacidade e impõem uma religiosidade pública; enquanto espetáculo de auditório, não constrói comunidades plenas de unidade[12]. Ela é atrativa devido a sua prática ritual. É uma religião de provocação e de desafios que são uma antiga forma de dramatização das relações entre os homens e o sagrado. Nesta guerra a pessoa faz um sacrifício financeiro, expressando a sua adesão ao exército de Deus.

Capítulo 4 – Religião e Mercado: A Igreja Universal e a Teoria da Mercantilização do Sagrado

4.1. Religião e Mercado: Aspectos Históricos

O cristianismo surgiu numa sociedade habituada à comercialização do sagrado. Na Idade Média a monetarização fez com que as relíquias e sacramentos chegassem a ser trocadas por moedas. O protestantismo acusava a católicos de mercantilizar a fé, aproveitando-se da ignorância da fé das massas.

4.2. A IURD e a mercantilização do sagrado

Em nosso meio, tal mercantilização se refere algo negativo, quando aplicada. Mesmo com suas declarações de boas intenções, a imprensa a trata duramente acusando-a de ter a finalidade de comercializar sagrado[13]. A mídia sempre esteve contra as seitas religiosas; uma neutralidade desta foi o que levou a uma visão distorcida do pentecostalismo. A IURD foi mais atacada nos anos 80. O que mais perturbou a mídia fora a compra, feita por Macedo, da Rede Record. O centro de acusação da mídia reside sempre ao redor de um ponto: “arrecadação de dinheiro”.

4.3. O perfil dos fiéis da Igreja Universal

São estes fiéis ou clientes? Existem ambos no mesmo lugar. A IURD é considerada uma igreja de massa onde se perde o controle sobre o grau de integração. Em última análise, os fiéis é que estão levando-a a ser uma “igreja”. Os fiéis acreditam na capacidade dela para solução de seus problemas - crença na eficácia de algo satisfaz as necessidades humanas gerais. Esta igreja age dentro destas necessidades. A sociedade industrial abriu o mercado de consumo religioso, o que criou condições para o surgimento de um marketing religioso.

Capítulo 5 – Marketing e Religião: A Marketização do Sagrado na IURD

A Igreja Universal está centrada, diferentemente das cristãs tradicionais, nas necessidades e desejos das pessoas, mudando seus “produtos” e tendo o marketing como estratégia de crescimento, conjunto de técnicas empregadas e ações humanas - conhecimento do mercado. Por isso mercantilização explica-se em nível de senso comum e ideológico.

5.1. O marketing e a ação social

O marketing procura facilitar a intervenção nos processos de troca; é atividade humana para a satisfação das necessidades e desejos através do processo de trocas e concretização dos seus objetivos[14]. O que pode complicar esse sistema é o conflito pelo poder de impor a própria vontade.

5.2. O marketing aplicado à religião

A nível do Brasil é uma palavra nova; é uma atividade humana e não prática bíblica.

5.3. Marketing na expansão do cristianismo

Os metodistas foram os primeiros a tentarem adequar o protestantismo às necessidades de uma massa urbana. No pentecostalismo houve uma explosão de movimentos religiosos adequados aos meios de comunicação de massa, lançando-se assim, raízes deste movimento.

5.4. O marketing da IURD

Sua estratégia de marketing preocupa-se com a reprodução e continuidade de seus próprios privilégios, sondando as necessidades de seu público usando a propaganda e combinando o velho com o novo - a ligação entre magia e religião. Pede, roga e exige de Deus o cumprimento das promessas feitas, defendendo os interesses dos seguidores[15]. As mega-igrejas possuem formas de prestação de serviço às necessidades humanas, usando canais de distribuição como o templo. Mostra-se através da mídia, que é uma igreja de resultados. O preço é a medida do valor de troca de um bem ou serviço. Macedo reconhece ser uma religião que fala em dinheiro porque “nem o próprio Deus escapou dessa lei quando deu o seu próprio Filho”.

Capítulo 6 – Propaganda e Religião: A Comunicação na IURD

Campos analisa as maneiras pelas quais ela faz a sua propaganda, empregando os meios de comunicação de massa. Mostra que esta igreja é um sistema de comunicação que não teria sucesso se não fossem estes meios.

6.1. Propaganda, publicidade e religião

A propaganda, incluindo publicidade e marketing, é uma conseqüência direta de um sistema de se articular a vida ao redor do mercado, utilizado por esta igreja em seu processo de expansão.

6.2. A propaganda religiosa: Entre a voz e letra

A maior parte da história da expansão da fé cristã se deu num mundo dominado pela cultura oral.

6.3. A Igreja Universal e a Mídia Impressa

Primeiro vem a oralidade; depois passa-se à confecção de jornais e panfletos. Depois do púlpito, rádio e televisão, o jornal “Folha Universal” - um serviço a Deus, é o principal meio de comunicação usado.

6.4. Os Neopentecostais na TV

A TV é um meio frio de comunicação porque oferece ao receptor imagens prontas. A mídia se tornou agressiva desde que Macedo comprou a Record, o que introduziu no Brasil uma estratégia pentecostal surgida nos Estados Unidos. Fez do tripé “exorcismo-cura-prosperidade” as suas vigas mestras. Ela consegue coordenar a propaganda com as atividades do templo, voltada às outras religiões e seitas.

6.5. Religião e Retórica: o Discurso da Igreja Universal

Todo seu discurso religioso é articulado em contextos sociais específicos, relacionando-se com as transformações internas e externas da mesma. Tornou-se impossível falar em marketing e crescimento de organizações sem fazer referências aos atos retóricos.

6.6. As partes do discurso da Igreja Universal

Sua retórica como forma de construção simbólica da realidade está presente na Record. O locutor tem o objetivo de se atingir a subjetividade do receptor; para ter o que dizer, o pastor faz uma coleta de exemplos tirados do cotidiano, conciliando-os retoricamente. A igreja é apresentada como a responsável pelo desencadeamento daquela ação e por ter criado condições para a transformação; o pastor combina bem o papel de sedutor, empregando palavras emocionantes e fortes. Sua retórica fala de um Deus que age e cuja ação acontece num templo da IURD, sob a eficiência de seus pastores.

Capítulo 7– Religião e Retórica – Direcionamento da Comunicação

Na retórica usam-se palavras como se fossem armas de guerra, com tendência a empregar palavras em desuso. Uma das estratégias da IURD é transformar boatos em notícias positivas para a igreja. Existe um clima de guerra entre Globo e Record, o que afetou os pastores. A palavra é uma eficiente arma de ataque e defesa, criando-se slogans - eficiente instrumento divulgador de ideologias - para mobilizar massas. Para se destacar dos outros, elaborou um conjunto de signos visuais, com nome e desenho da marca. Em resumo, sua retórica alia poesia e razão, criatividade e controle.

Capítulo 8 – A Teologia da Igreja Universal

Sua teologia aborda o conjunto de expressões elaboradas por todos, atores. Os agentes procuram sistematizar e tornar, mais ou menos coerente a sua visão de mundo - um guia para a ação. Para Macedo, religião é algo diabólico e procura desvincular sua igreja, atrapalha a comunhão do homem com Deus; o cristianismo jamais foi religião, mas sim a vida com abundância[16]. Todas as formas e todos ramos da teologia são fúteis; nada acrescentam a fé. A teologia é uma acomodação da “teologia” pentecostal, a qual acomoda as demandas das massas por cura, liberdade e prosperidade material.

8.1. Corpo e Teologia

A IURD usa o corpo e faz de suas reações o centro de uma liturgia ágil e viva, que pode deixar de ser morada do demônio sob o exorcismo.

8.2. Exorcismo e Libertação

Acontece na IURD a amarração de demônios, sendo atividade constante. Deus e o diabo estão em luta constante por causa do homem. Por isso o exorcismo é ponto de partida para a vida cristã, o qual tem um efeito terapêutico É um espetáculo de fé; todos participam deste ato, com o pastor que é o herói pelo exemplo de sua vida. Para Macedo os demônios são espíritos revoltados contra Deus; procura ser um especialista nestes. Existe uma relação de possessão e doenças, demônios com poderes. A igreja deve oferecer um serviço espiritual. Neste culto-espetáculo o exorcismo e a cura provocam alívio nas pessoas abatidas.

8.3. Cura e Salvação

Vivem os dons espirituais, cura de exorcismo. Adquire muitos adeptos decepcionados com a medicina oficial. Fundamenta seu ministério de cura numa vertente da tradição cristã: Javé, Deus que cura - Cristo taumaturgo, encarnação de Deus médico expressado no poder do Espírito Santo. Se como um ministério que prolonga a ação de Jesus. Para Macedo, a fé precisa ser despertada constantemente e tudo depende de um querer humano e de um se abrir-se ao sagrado. A evangelização só se completa quando há curas de enfermidades e expulsão de demônios.

8.4. Teologia e Prosperidade

A “Teologia da prosperidade” é o termo técnico cunhado para descrever a “dogmática” da IURD. Esta nega o sofrimento que vem do diabo, ligado à New Age. A prosperidade é um direito de cada cristão fiel; Deus não se contenta com a pobreza de seus filhos. Basta exigir de Deus a realização dos desejos. Na oferta, Deus vê o valor que a pessoa traz, o que restou no bolso.

Capítulo 9 – Organização e Religião: Dilemas Administrativos da IURD:

9.1. A IURD: de Movimento a Organização

Teve seu início como movimento religioso, uma seita pentecostal. Sua transformação se deu em condições históricas e sociais. Sua pregação está no projeto terreno de vida e ligada às carências mundanas. É ideologia circunscrita às estruturas da sociedade.

9.2. A cultura organizacional

Uma cultura tanto resulta de uma determinada forma de organização como também direciona essa organização para alvos e metas considerados ideais. A passagem de movimento para organização afeta muito de perto a cultura de um determinado grupo. A IURD possui uma cultura de guerra santa contra as outras religiões. Macedo é o modelo, um escolhido; representa uma liderança religiosa onde se misturam características carismáticas e burocráticas.

9.3. Liderança, dominação e conflito

Nasceu da associação de um pequeno grupo de pessoas. Tendo o Espírito Santo como líder e o bispo Macedo como administrador, a IURD “leva Jesus a quem sofre”[17]. Isto denota uma centralização de poder. Seu quadro administrativo é composto por alguns profissionais que atuam nas empresas ligadas à igreja. Por isso, considera o mundo como um campo de batalha.

9.4. Recrutamento e funções do pastor

O pastor iurdiano possui o status de homem de Deus; cala-se diante a morte, a qual é associada às forças demoníacas. Poucos deles nasceram na igreja; a maioria vem de várias experiências religiosas. Seu preparo é prático no próprio palco sob orientação de outro pastor, porque o público quer espetáculo. Não pode , em hipótese alguma, dar despesas à igreja.

9.5. Os desafios organizacionais de um crescimento mundial

Atribui-se o crescimento às estratégias de sedução, propaganda e manipulação colocadas em prática. A Universal optou por um modelo episcopal de governo.

Capítulo 10 – Questões que Desafiam o Futuro da IURD

10.1. Os dilemas da transição do local para o universal

Na sua expansão, a igreja sofreu algumas dificuldades com outras seitas por os terem igualados aos demônios. Mas, por outro lado, é um verdadeiro sincretismo religioso. Na África a IURD está nos territórios em que surgiram algumas vertentes do candomblé e outros cultos brasileiros. Existem também ali os movimentos e seitas que proporcionam o enriquecimento de seus líderes pelas contribuições. Um fato que ajuda no crescimento da IURD na África é que há semelhanças de cosmovisões entre africanos e pentecostais. Portugal é onde a igreja mais cresce depois do Brasil, onde a igreja católica é considerada como a grande inimiga da nação portuguesa. A solução para os problemas das cidades norte-americanas passa pelo exorcismo. Há uma incapacidade de compreensão das peculiaridades culturais européias, norte-americanas e japonesas pelos pastores da IURD. A busca do Deus pregado pela IURD é considerada a única saída para o povo japonês.

10.3. As questões de gênero na IURD

A presença da mulher é forte nesta igreja que é dirigida por homens. A mulher do pastor é mulher de Deus tendo por função auxiliar no desempenho ministerial dos pastores; mas sempre deve estar submissa, inferior, tendo grande experiência religiosa. Existe uma ênfase na família; as mulheres vivenciam com maior intensidade as contradições da sociedade e os seus efeitos sobre a família.

10.4. A Igreja Universal e os políticos de Cristo

A Universal conseguiu impulsionar o seu projeto particular de fazer política de maneira “cristã”. Nas campanhas políticas a própria igreja tem seus candidatos, e os fiéis são induzidos a apoiá-los. Nas eleições para presidente em 1989 e 94, tiveram uma participação mais importante. Cria-se que Deus revelou a Macedo que Collor era o mais indicado, e este em sua campanha visitou vários templos. Lula era como a presença do demônio[18]. Faziam de seus templos um comitê para Collor. Para explicar o insucesso de Collor fora usado o velho truque da ação do demônio. Afinal, ela precisa de um grupo de pessoas de confiança para defender seus interesses nas várias instâncias políticas, ou os “políticos de Cristo”.

Em síntese, vemos que muitas das dificuldades enfrentadas pela IURD decorrem do fato de ela não estar preparada no aspecto administrativo ou de recursos humanos. A estratégia para explicar insucessos ou escândalos é arrumar sempre um inimigo, outras religiões.

Em vista do exposto, a IURD é a expressão religiosa de um mercado, que adota uma estrutura administrativa centralizadora. Resulta de um processo de recriação eletrônica. Tem uma intensa necessidade de conviver com os contrários; não é nada sem os seus adversários - guerra santa. Atende um público formado de pessoas egoístas - características da pós-modernidade.


Livro 8

SAARNIVAARA, Uuras. Lutero Descobre o Evangelho

Após sua entrada no mosteiro, Lutero experimentou duas grandes crises. A primeira foi a conversão ou sua vinda para uma fé pessoal no perdão dos pecados em Cristo. Isto ocorreu no ano de 1512, provavelmente acerca do fim de outubro ou em novembro. A questão central nesta crise foi como ter a certeza do perdão de Deus, que é, como estar assegurado que Deus verdadeiramente esqueceu seus pecados quando a absolvição foi proclamada para ele. Seu falso conceito de expiação, absolvição, e predestinação foram grandes obstáculos em seu caminho para este ponto. Um outro erro que obstruiu foi a tradicional forma não-evangélica de absolvição, que estava em uso na ordem monástica.

Pelos conselhos de Staupitz, Lutero obteve a correta compreensão destas questões, e logo foi capaz de apropriar a garantia do perdão dos pecados pronunciados por Staupitz. E logo "a luz do Evangelho começou a brilhar" em seu coração, e ele "comeu os primeiros frutos da fé e o conhecimento de Cristo," como ele mais tarde relatou. Inseparavelmente associado com a influência de Staupitz era a de Agostinho, Bernhard, e o misticismo. Staupitz mesmo era fortemente influenciado por estes.

Ainda que Lutero possuía uma fé salvadora já em 1512, seu conceito de justificação não era a mesma do seu período maduro. Ele entendia justificação como um processo gradual de religião e renovação moral, ou cura da natureza humana da corrupção do pecado. Não-imputação de pecados, que é, não "ajuste de contas" de pecados que permanece, por causa de Cristo, era objeção um suplemento temporário para este processo de cura. Realmente, Lutero às vezes disse, seguindo Agostinho, que esta não-imputação formou a grande porção de justificação, desde que a atual justiça do crente era um mero início na sua vida terrestre.

Esta época, entre o tardio outono de 1512 e o verão de 1518, pode bem ser designado o período decadente da Reforma. Os primeiros raios de sol da graça e justiça foram logo iluminando o céu na vida espiritual de Lutero, mas o atual romper da aurora ainda não havia tomado lugar. A completa luz da introspecção evangélica na justificação ainda não alcançou sua alma. A luz que ele possuía, contudo, era aproximadamente suficiente para quebrar os vínculos da Igreja Romana, como tinha sido o caso também com Wycliffe e Huss, que tinham sobre outro tanto revelado a eles como Lutero neste tempo privado, mas que não conhecia a doutrina evangélica da justificação. Em suas batalhas contra os abusos dentro da igreja, Lutero, por este tempo, dirigiu seus esforços para a remoção de erros na esfera das doutrinas em que ele tinha já ou quase alcançada a introspecção evangélica, principalmente, a doutrina da expiação.

A segunda grande crise, o atual romper da aurora, no desenvolvimento de Lutero, foi a sua experiência da torre em torno do fim do ano de 1518. Isto resultou ou consistiu na sua descoberta da introspecção, evangélica ou da Reforma, na justificação. Dois grupos de documentos históricos dão evidência desta grande mudança: (1) Prefácio de Lutero à suas obras, escrito em 1545, e afirmações espalhadas em suas conversas de mesa de diferentes datas; (2) leituras e escritos de Lutero. O primeiro grupo de documentos contém questões de natureza e data da descoberta da pena e boca do próprio Lutero. O segundo grupo cede informação concernente à concepção de Lutero da justificação no período mais antigo de sua vida. Ambos em suas próprias maneiras de testificar irrefutavelmente ao fato que Lutero descobriu seu conceito de justificação da Reforma pelo fim do ano de 1518. Este é o ano que marca o início do movimento da Reforma no mais profundo significado da palavra, com tal slogan de justificação pela imputação graciosa de Deus apropriada por meio da fé. Este slogan foi desconhecido anterior ao ano de 1519. Fechadamente conectado com a descoberta do real significado de Romanos 1.17, como um tipo de pré requisito, foi a rejeição dos quatro sentidos da Escritura e, como inevitável conseqüência, a rendição do misticismo.

A descoberta na torre, contudo, não resultou o naufrágio de Lutero ao mar com sua antiga visão e todo o resto. Isto foi impossível desde que muitos de seus conceitos pré reformadores foram perfeitamente escriturísticos. Ao verdadeiro fim, ele continuou a ensinar que esta graça é conferida apenas ao submisso e contrito no coração, que também a criança justificada de Deus são pecadores em si mesmas, e sua batalha contra o pecado e a mortificação gradual da carne nunca deve cessar nesta vida presente. Estes crentes, juntos com a convicção de que o homem é inteiramente dependente da graça de Deus para a salvação, pertencem à fundamental introspecção de Lutero em todo o período de sua vida. Ao verdadeiro fim, ele concordou com Agostinho na interpretação de Romanos 7, e de uma similar passagem em Gálatas 5.16ss, a saber, que Paulo fala neles primeiramente como um crente. Conseqüentemente, muitas das afirmações nos escritos mais antigos e mais recentes de Lutero são similares ou quase.

A diferença básica entre a pré reforma de Lutero e sua doutrina da salvação da Reforma encontra-se na concepção de natureza e essência da justificação. A experiência da torre abriu seus olhos para ver de acordo com a Escritura, e Paulo em particular, que a justificação pela fé não é um processo gradual de renovação ou tornar-se justo. Isto é antes, a aplicação da justiça de Cristo por imputação. Deus justifica o pecador perdoando seus pecados e considerando-o inocente e responsável por causa da obra expiatória de Cristo. Este ato de absolver, Deus pronuncia através do Evangelho, promessas proclamadas pelo ministério da reconciliação. Pela fé o pecador recebe esta divina dádiva prometida e oferecida a ele. O alicerce da justificação e também o objeto da fé e confiança do crente não são o que Deus tem feito e faz, mas o que Cristo fez.

Na conversão o homem recebe o Espírito Santo, que toma seu coração, desse modo renovando-o no coração e na vida. Esta renovação, ou santificação, ocorre basicamente no novo nascimento e então continua como um processo de crescimento no conhecimento de Deus e Cristo e na santidade de vida efetuada pela operação da habitação do Espírito.

Isto não foi uma conversão de Lutero ou a vinda de uma fé pessoal que foi o fator primário em seu tornar o reformador, conquanto isto foi um pré requisito necessário. Apenas um crente pode ser um reformador da igreja, mas a maioria dos crentes não são reformadores. Sem sua experiência da torre, Lutero tornar-se-ia um reformista – como Wycliffe, Huss, Savonarola, e outros – mas nunca o Reformador.

Nem mesmo isto era uma mera "experiência religiosa" que fez de Lutero um reformador. Sua tarefa não era proclamar ao mundo algum tipo de nova revelação mística sobrenatural. Ele foi mais do que um profeta de uma nova "idéia" religiosa. Milhares de falsos profetas receberam seus "chamados" nesta maneira, mas não Lutero.

Lutero tornou-se o reformador pela descoberta do real significado da Palavra de Deus escrita, particularmente a Palavra concernente à justificação. Realmente, sua descoberta na torre foi também uma profunda experiência religiosa em que ele encontrou paz e alegria até então desconhecidas para ele. Mas o que ele sentiu e experimentou não foi a coisa central ou primária. Esta foi a descoberta do caminho escriturístico da salvação e especificamente da justificação. Jamais foi o propósito primário de Lutero proclamar idéias ou experiências religiosas. O conteúdo de sua mensagem foi a eternamente válida e efetiva verdade divina, revelada por Deus, registrada nas Escrituras, e pregada na igreja. Experiências religiosas foram efeitos da fé na verdade e promessa do evangelho. O inteiro conteúdo de sua descoberta na torre foi a introspecção esta, de acordo com o simples e literal significado de sua Palavra de Deus escrita, que o homem é justificado pela graciosa imputação de Deus quando pela fé ele apropria-se da promessa do evangelho de perdão dos pecados no sangue de Cristo. A descoberta de Lutero da introspecção da Reforma na justificação e santificação continha ambos os princípios da reforma: (1) a Escritura é a Palavra de Deus revelada e inspirada e tal como é o maior e único padrão e norma de fé e vida cristã; (2) de acordo com a Escritura, o pecador é justificado pela graça apenas, através da fé em Cristo, quando ele confiantemente estendeu a ação da promessa do evangelho e ofereceu o perdão dos pecados. O formador não foi o novo elemento na descoberta, mas antes foi o pré-requisito. Este último foi a nova introspecção que Lutero descobriu ou redescobriu. Isto não foi uma nova idéia, de que Lutero estava convencido, mas o antigo e original Evangelho que os apóstolos de Cristo tinham proclamado, mas, que tinha sido escondido sob concepções errônea e falsa doutrina. Com este invólucro removido, a verdade central da fé original dos apóstolos foi novamente trazida à luz e começou a brilhar fortemente, primeiro no coração de Lutero e então através do seu ministério nos corações das multidões de muitas nações e línguas.

Lutero certa vez disse, e nós citamos sua afirmação mais antiga em nosso estudo, que um volume contendo seus pensamentos do período anterior à sua descoberta do completo evangelho foi de pouco uso na nova era do evangelho do meio-dia. Estas palavras podem ser aplicadas à inteira herança literária do "Lutero jovem". Os escritos deste período não podem ser usados ao lado de obras da era da Reforma. A Igreja Luterana segue o correto instinto em apropriar-se de suas verdadeiras posses espirituais apenas cujos escritos de Lutero datam do ano de 1519 ou mais tarde. Quase sem exceção, a instrução na igreja tem sido baseada sobre estes, enquanto os escritos produzidos anteriormente a 1519 têm sido amplamente esquecidos, até que estudiosos de Lutero de nossa própria geração trouxeram-lhes à luz. A igreja como um todo tem tido o sentimento de que as obras mais antigas de Lutero refletem um espírito diferente e estranho e dão expressão a uma concepção não-evangélica da fé e vida cristã. Verdadeiramente "luteranos" são apenas os escritos após 1518.

A pesquisa moderna de Lutero inverteu o lugar neste ponto. Muitos dos estudos da teologia de Lutero falharam em distinguir entre as leituras e escritos mais antigos e mais recentes. Sobre a base de nosso estudo nós devemos considerar como um procedimento errar seriamente tanto quanto ao método que causa muita confusão. Desde que a produção literária de Lutero mais antigo de 1519 é de uma pré-reforma e tipo de sub-reforma, nenhum estudo de Lutero pode dispor-se de fazer uso não crítico dos escritos antes e depois de 1518-19, como se eles fossem em qualquer circunstância igual. Contudo, perigosamente, uma grande parte da moderna pesquisa de Lutero tem cometido justamente este erro e está, entretanto, em necessidade de uma completa revisão.

Em 1938, Otto Wolff fez a afirmação que tão distante quanto o moderno estudo de Lutero está interessado, a redescoberta do completo Evangelho da Reforma do reformador é ainda uma coisa do futuro. A investigação de Lutero de nossos dias ainda está viva e andando às apalpadelas abundantemente em um período de "pré-reforma". É isto que faz com que tenhamos ainda mais esperança de que como a Primeira Guerra Mundial foi seguida por uma "revivificação" do "Lutero jovem," a Segunda Guerra Mundial será seguida por uma "revivificação" do completo Evangelho da Reforma de Lutero – e da Escritura?

Livro 9

SOGAARD, Viggo. Mídia na Igreja e na Missão – Comunicando o Evangelho

Comunicação – Evangelismo – Mídia

Essas palavras andam juntas no ministério cristão. O evangelismo é a atividade envolvida em trazer o evangelho de Jesus Cristo às pessoas que já não o tenham ouvido ou ainda não seguem a Cristo. O evangelismo envolve comunicação. Na verdade poderia argumentar-se que evangelismo é comunicação. A religião cristã em si mesma é uma religião de comunicação com um Deus comunicador que utilizou uma grande variedade de mídias. A Bíblia é uma narrativa desta comunicação de Deus à humanidade: através da criação, através dos profetas, através dos “Seus maravilhosos feitos”, através do seu Filho, Jesus Cristo, através do Espírito Santo e através de seu povo, a Igreja. A mensagem de Cristo devia ser comunicada para todas as pessoas no mundo, e a mídia pode desempenhar papel importante como instrumento deste ministério.

Durante meus anos de envolvimento no ministério cristão minha principal responsabilidade tem sido a da comunicação. Como muito do tempo foi desempenhado na Tailândia, foi um desafio constante ser efetivo na comunicação entre um povo com uma visão de mundo drasticamente diferente. É um país com uma pequena e fraca igreja, constituída por menos de 1% da população, um povo com baixo conhecimento do evangelho de Cristo e onde entendimentos incorretos são facilmente introduzidos. O desafio de comunicar o básico do evangelho de Cristo ao povo da Tailândia levou-me ao uso da mídia no ministério, concentrado principalmente em dois meios: rádio e fitas cassete. Como nós nos empenhamos em usar esses meios, essa mídia efetivamente, fomos “forçados” a um estudo sério da teoria e estratégia da comunicação. Através de estudos posteriores, projetos de pesquisa, consultas e seminários este interesse foi aprimorado, e agora tenho minha confiança no potencial das “ferramentas” que temos disponíveis para a comunicação cristã.

Durante meus anos como missionário, usando moderna mídia de comunicação, tenho freqüentemente ficado abismado pelo fato de que tão pouco auxílio podia ser obtido dos materiais escritos. Como nós experimentamos novas idéias, tivemos que aprender nossas próprias lições. Ao redor do mundo esta falta de bons livros-texto tem resultado em muito trabalho cristão de mídia que parece funcionar sem qualquer entendimento claro do processo de comunicação, sem entendimento relevante da mídia e sem pesquisa efetiva e sistemas de informação.

Ainda, como um consultor, tem sido minha experiência que os trabalhadores cristãos precisam de muito auxílio em desenvolver ministérios efetivos baseados na mídia. Nós sabemos de exemplos e experiências e de uma considerável corpo de material de pesquisa, que a mídia pode ser usada efetivamente na causa da missão e que auxílio pode ser fornecido àqueles engajados em tais ministérios. E também a pastores e líderes da igreja que querem ver suas igrejas crescer e comunicar efetivamente nas comunidade onde estão trabalhando.

Nosso Deus, o Comunicador

Auxílio também é necessário na área da teologia bíblica. O Cristianismo pressupõe que Deus existe e que Ele criou este mundo. Ele é o Único que revelou seu nome como Iahweh, Eu Sou, a Moisés (Ex 3.14). Como cristãos nós cremos nele, e que ele revelou-se a si mesmo a nós na pessoa de Jesus Cristo (Jo 3.16). Da análise atual dos países ocidentais nós sabemos que a situação de muitas pessoas é que eles acreditam em “Deus”1, mas pesquisas adicionais indicam que esta crença é em grande parte não em um Deus vivo e pessoal, mas em alguma força cósmica. Os comunicadores precisam aprender como comunicar o conceito de um Deus vivo em um mundo confuso. Consequentemente, nós precisamos enfatizar o aspecto “cristão” de nossa comunicação, e junto a isso, a autoridade da Bíblia como a Palavra de Deus. A Bíblia contém a mensagem que proclamamos bem como os métodos e a orientação sobre como comunicar essa mensagem.

O único e eterno Deus, Criador e Senhor do mundo, é também o Deus que ama todas as pessoas, e que tem insistentemente chamado as pessoas a si mesmo. Textos familiares da Escritura falam disto: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito...” (Jo 3.16), e ele “demonstrou este amor por permitir que Cristo morresse por nós enquanto nós ainda éramos pecadores” (Rm 5.8). Nós podemos também citar a primeira das conhecidas quatro leis espirituais usadas por Campus Crusade para Cristo: “Deus ama você e tem um maravilhoso plano para sua vida”.

Há uma grandeza potencial em todos seres humanos. Nós podemos freqüentemente ser cegados pelo mal que vemos exibido através da mídia, mas nós não devemos esquecer que Deus disse “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança” (Gn 1.26). Uma pessoa que é criada na imagem de Deus tem dignidade e um potencial tremendo para a grandeza, independente da raça dele ou dela, cor, cultura ou classe. A Bíblia refere-se aos seres humanos com termos tais como “herdeiros do reino”, “sacerdotes” e “reis” (1 Pe 2.9-10). Este potencial dos seres humanos é completo através do relacionamento com Cristo, e é tornado possível pelo Espírito.

Os conteúdos fornecidos neste capítulo estão direcionados a situar o estágio prover uma base para discussão de princípios e teorias de comunicação cristã.

Básico para nosso entendimento de comunicação cristã é o fato que Deus é um comunicador que faz-se conhecido a nós, e busca um relacionamento conosco que resultará em nossa resposta a ele através de oração e louvor e pelo envolvimento em sua missão. O modelo principal que ele forneceu-nos é a encarnação.

Sua comissão a nós não apenas permeia a Escritura mas também constitui um foco central em todo nosso ministério. Nossa tarefa é a única de comunicar, tornando Cristo conhecido e entendido. Nosso métodos deve tomar seu ponto de partida nos métodos usados por Deus, e nossa mensagem é Jesus e seu reino. No reino de Deus a atmosfera é “shalom”, ou seja, paz verdadeira e relacionamentos perfeitos, e nossa tarefa é facilitar tal cura real para todas as pessoas.

Permeando todo nosso ministério estão certos fatores constantes que põe-se ao lado da comunicação cristã. É nesta base que nós objetivamos nossa estratégia, e como tal não é necessário a nós fazer referências constantes ao trabalho do Espírito Santo. Ele é tido por concedido, garantido.

Alguns dos fatores constantes tratados neste capítulo são (1) a presença e atividade dos poderes das trevas, (2) a natureza corrompido dos seres humanos, (3) a revelação de Deus, (4) a obra do Espírito, (5) fé, (6), a Palavra de Deus, e (7) a meta do discipulado. Estes são as constantes que dá a comunicação cristã sua natureza especial.

Para a aplicação da mídia em nossas estratégias de comunicação, nós também precisamos entender as variáveis que dão contexto e direção a nossa comunicação. Neste capítulo nós também olhamos para (1) o contexto cultural, (2) a sociedade, (3) a posição espiritual do receptor, e (4) a personalidade e dons do comunicador. Muitos problemas de comunicação são devidos a uma confusão em fatores constantes e variáveis. Isto é particularmente verdade do uso cristão da mídia de comunicação.

O próximo capítulo fornecerá um resumo da teoria da comunicação que deverá ajudar-nos a entender as várias dimensões de nossa tarefa de comunicação. Esta seção incluirá também capítulos sobre estratégia e recursos, todos dirigindo-se a um capítulo de resumo que põe-se a caminho das dimensões da maneira de abordagem para a comunicação cristã.

Deus criou em nós, seres humanos, uma capacidade de conceituar e teorizar. É pelo estudo de teoria e conceitos que nós encontramos direção para nosso trabalho e fornecemos os fundamentos básicos nos quais o bom planejamento pode ser feito. Em nenhuma outra área isto é mais importante que quando nós estamos tratando com o uso da mídia. Cada pessoa envolvida na mídia cristã deveria contar com o máximo no campo da teoria de comunicação cristã e usar isso em seu trabalho diário.

A palavra comunicação é derivada da palavra latina communis, e inclui o conceito dos relacionamentos. A assim chamada comunicação unilateral pode, portanto, não ser realmente definida como comunicação. Isso vale tanto para o pastor de uma igreja local como para o usuário de mídia. A audiência deve ser levada em conta no processo de comunicação.

Muitos tipos diferentes de situações de comunicação podem ser visualizadas, partindo da comunicação intrapessoal e interpessoal ao uso de mídia de massa. Em cada tipo de situação novas dimensão estão incluídas. Mas a fim de entender estas complexidades, diferentes escritores têm desenvolvidos modelos de comunicação que tentam explicar os relacionamentos. Neste capítulo, nós apresentamos o desenvolvimentos de um modelo composto, indicando os aspectos importantes e diferentes do processo de comunicação. O modelo utiliza conteúdos extraídos de diferentes escritores e recentes modelos.

Ênfase especial foi dada à interação entre remetente e receptor. A questão básica da confiança foi vista como uma reivindicação prévia para a comunicação eficiente.

Pela padronização do tópico da teoria da comunicação, a pessoa envolvida na mídia cristã terá uma estrutura conceitual na qual ele ou ela podem desenvolver bons ministérios. A partir de tal base, nós podemos proceder em direção a estratégia e desenvolvimento de planos compreensivos para alcançar as pessoas com o evangelho de Jesus Cristo.

O planejamento estratégico é importante para o efetivo trabalho em mídia, e existem modelos úteis que podem servir como ferramentas no desenvolvimento de boas e relevantes estratégias. O termo estratégia é um termo útil, que descreve um plano inteiro ou uma forma de abordagem de como nós iremos alcançar nossos objetivos ou resolver nossos problemas. É um meio conceitual de antecipar o futuro. Como cristãos, declarações relacionadas a nossos objetivos estratégicos e metas são declarações de fé.

Um modelo circular de desenvolvimento estratégico em onze passos foi apresentado com uma ferramenta útil que nos ajudará a fazer as perguntas certas e levar-nos a um processo ordenado de desenvolvimento estratégico

A fim de fornecer uma “estrutura”, nós apresentamos neste capítulo um modelo de decisão espiritual. O propósito é apresentar uma estrutura estratégica para o desenvolvimento de estratégias e para o comunicar o uso da mídia a outros. O modelo é construído sobre duas dimensões: conhecimento e atitudes. Não é a intenção de que os modelos devam ilustrar ou responder todas as questões relativas a processos de decisão espiritual. Os modelos desenvolvidos não obstante estão ainda em processo de desenvolvimento, sendo modificados conforme aprendamos mais e entendamos melhor. Eles não estão afirmando serem o cominho, mas antes, que este é o meio pelo qual nós tentamos ilustrar o que entendemos, baseados em nossos conhecimentos atuais.

É a visão deste escritor que o relacionamento entre nosso trabalho e a obra do Espírito não devam ser apresentados como uma parceria. É necessário descrever o relacionamento de uma perspectiva encarnacional, Cristo em nós e trabalhando através de nós.

Em resumo, a pesquisa pode ser usada para:

- aprimorar a visão

- fornecer informação sobre a audiência

- tornar possível a comunicação orientada pelo receptor

- ajudar a avaliar produtos e programas de mídia

- assistir o desenvolvimento estratégico

- dirigir para o estabelecimento da meta

- orientar o planejamento

- testar a eficiência de nosso ministério

- revelar a necessidade de buscar a orientação de Deus

Todas as organizações de comunicação cristã precisam de um sistema de informação para fornecer dados úteis para o desenvolvimento estratégico. As ferramentas e metodologias de pesquisa estão disponíveis para reunir tal informação.

A pesquisa de comunicação utiliza metodologias e técnicas que foram principalmente desenvolvidas por pesquisadores sociológicos e de marketing. Vários aspectos da pesquisa antropológica são também valiosos para certos tipos de pesquisa necessários para os comunicadores cristãos.

Como em outras áreas de pesquisa, nós precisamos de procedimentos e técnicas de medição específicos a fim de obter informação de confiança. Este processo não é apenas uma atividade realizada pelo pesquisador. O gerenciamento deve estar essencialmente envolvido, e os produtores devem também estar envolvidos no processo de mídia e teste de cópia. Os procedimentos para tal teste estão prontamente disponíveis para nosso uso.

Resumindo as Dimensões da Comunicação Cristã

Uma teoria cristã de comunicação que nos assistirá na utilização eficiente da mídia no ministério cristão será construída sobre um conjunto adequado de princípios baseados em teoria, estratégia e pesquisa de comunicação. Este capítulo, em particular, servirá como um resumo dos capítulos anteriores, organizado num conjunto de sete dimensões que nos fornecerão uma estrutura conceitual para a comunicação cristã aplicada e uso da mídia.

A lista seguinte não está exaustivamente trabalhada, mas consiste daqueles princípios fundamentais sobre os quais nosso ministério em mídia deve repousar. Juntos eles constituem uma forma de abordagem. Nós podemos não estar aptos a realizar todos estes ideais completamente, mas os sete pontos podem dirigir e governar nossas ações e fornecer uma grade para testar nossas posições em relação ao uso da mídia no ministério.

Nós podemos resumir uma forma de abordagem orientada pelo receptor pelas quatro questões seguintes:

1. QUEM é meu ouvinte/leitor/espectador?

2. ONDE está eu ouvinte/leitor/espectador?

3. QUAIS são as NECESSIDADES de meu ouvinte/leitor/espectador?

4. COMO posso ir de encontro às necessidades do meu ouvinte/leitor/espectador?

Um resumo dos elementos de uma adequada teoria de comunicação foi tratado neste capítulo. Através dele seria difícil fazer uma declaração concisa que definisse a teoria de comunicação cristã; nosso principal interesse é a formulação de um fundamento conceitual que posa ser aplicado para a seleção e uso da mídia. Teorias de comunicação adequadas já estão disponíveis. Nossa necessidade principal é, portanto, não procurar um teoria mas aplicar as teorias já desenvolvidas.

Uma dependência do Espírito Santo é um fator constante que permeia toda comunicação cristã. Conforme submetemos nossas vidas e ministérios à condução do Espírito, tornamo-nos suas “extensões” ou embaixadores. A comunicação cristã deve ser centrada na pessoa, e disto Jesus é o principal exemplo. A Palavra tornou-se um ser humano que viveu entre nós. A comunicação em mídia deve portanto ser avaliada sobre a base de sua capacidade para comunicar personalidade.

A orientação pelo receptor é obrigatória para a comunicação cristã. Cristo foi orientado pelos receptores e ele falou às necessidades e contexto do receptor. A comunicação orientada por um processo é uma conseqüência lógica da orientação pelo receptor e da comunicação centrada na pessoa. Tanto a fonte quanto o receptor vivem através de processos e uma relevante estratégia de comunicação deve seguir estas estes processos.

A comunicação cristã deve ser vista à luz de uma perspectiva intercultural. Nossa cultura fornece um “grid” pelo qual nós vemos e entendemos a realidade. Nós comunicamos e entendemos cada outro pela percepção específica fornecida por este “grid” cultural.

Se os sete tópicos fornecidos neste capítulo fossem unidos num modelo verbal, nós poderíamos chegar a um set adequado de diretrizes para a comunicação cristã. Tal modelo verbal pode então ser usado como uma “lista de checagem” no desenvolvimento de estratégias para a seleção de mídia e seu uso na comunicação cristã. A declaração poderia ser construída como segue:

As aplicações da teoria da comunicação para a comunicação cristã, e em particular para a seleção e o uso da mídia,

- devem refletir uma dependência do Espírito Santo

- devem ser centradas na pessoa

- devem ser orientadas pelo receptor

- devem ser baseadas na igreja

- devem ser um processo orientado

- devem ser baseadas em pesquisa

- devem ter uma perspectiva intercultural.


[1] CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, Templo e Mercado: Organização e Marketing de um Empreendimento Neopentecostal. Petróplis, São Paulo, São Bernardo do Campo: Vozes/Simpósio/UMESP. 1997, p.15.

[2] Id., p. 31.

[3] Id., p. 46.

[4] Id., p. 53.

[5] Id., p. 62.

[6] Id., p. 67.

[7] Id., p. 72.

[8] Id., p. 80.

[9] Id., p. 109.

[10] Id., p. 118.

[11] Id., p. 136.

[12] Id., p. 151.

[13] Id., p. 178.

[14] Id., p.207.

[15] Id., p. 225.

[16] Id., p. 328.

[17] Id., p. 389.

[18] Id., p. 462.

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1 CO 1.18-25 1 CO 12.2 1 CO 15.20-28 1 CO 15.50-58 1 CO 2.1-5 1 CO 6.12-20 1 CO2.6-13 1 CORÍNTIOS 1 CR 28.20 1 JO 1 JO 1.1-10 1 JO 4.7-10 1 PE 1.13-21 1 PE 1.17-25 1 PE 1.3-9 1 PE 2.1-10 1 PE 2.18-25 1 PE 2.19-25 1 PE 2.4-10 1 PE 3.13-22 1 PE 3.15-22 1 PE 3.18-20 1 PE 4.12-17 1 PE 5.6-11 1 PEDRO 1 RS 19.4-8 1 RS 8.22-23 1 SM 1 1 SM 2 1 SM 28.1-25 1 SM 3 1 SM 3.1-10 1 TIMÓTEO 1 TM 1.12-17 1 Tm 2.1-15 1 TM 3.1-7 1 TS 1.5B-10 10 PENTECOSTES 13-25 13° APÓS PENTECOSTES 14° DOMINGO APÓS PENTECOSTES 15 ANOS 16-18 17 17º 17º PENTECOSTES 1CO 11.23 1CO 16 1º ARTIGO 1º MANDAMENTO 1PE 1PE 3 1RS 17.17-24 1RS 19.9B-21 2 CO 12.7-10 2 CO 5.1-10 2 CO 5.14-20 2 CORINTIOS 2 PE 1.16-21 2 PE 3.8-14 2 PENTECOSTES 2 TM 1.1-14 2 TM 1.3-14 2 TM 2.8-13 2 TM 3.1-5 2 TM 3.14-4.5 2 TM 4.6-8 2 TS 3.6-13 2° EPIFANIA 2° QUARESMA 20º PENTECOSTES 24º DOMINGO APÓS PENTECOSTES 25º DOMINGO PENTECOSTES 27-30 2CO 8 2º ADVENTO 2º ARTIGO 2º DOMINGO DE PÁSCOA 2TM 1 2TM 3 3 3 PENTECOSTES 3º ARTIGO 3º DOMINGO APÓS PENTECOSTES 3º DOMINGO DE PÁSCOA 3º DOMINGO NO ADVENTO 4 PENTECOSTES 41-43 4º DOMINGO APÓS PENTECOSTES 4º DOMINGO DE PENTECOSTES 4º FEIRA DE CINZAS 5 MINUTOS COM JESUS 5° APÓS EPIFANIA 500 ANOS 5MINUTOS 5º DOMINGO DE PENTECOSTES 5º EPIFANIA 5º PENTECOSTES 6º MANDAMENTO 7 ESTRELAS Abiel ABORTO ABSOLVIÇÃO ACAMPAMENTO AÇÃO DE GRAÇA ACIDENTE ACIR RAYMANN ACONSELHAMENTO ACONSELHAMENTO PASTORAL ACRÓSTICO ADALMIR WACHHOLz ADELAR BORTH ADELAR MUNIEWEG ADEMAR VORPAGEL ADMINISTRAÇÃO ADORAÇÃO ADULTÉRIO ADULTOS ADVENTISTA ADVENTO ADVERSIDADES AGENDA AIDS AILTON J. MULLER AIRTON SCHUNKE AJUDAR ALBERTO DE MATTOS ALCEU PENNING ALCOOLISMO ALEGRIA ALEMÃO ÁLISTER PIEPER ALTAR ALTO ALEGRE AM 8.4-14 AMASIADO AMBIÇÃO AMIGO AMIZADE AMOR André ANDRÉ DOS S. DREHER ANDRÉ L. KLEIN ANIVERSARIANTES ANIVERSÁRIO ANJOS ANO NOVO ANSELMO E. GRAFF ANTHONY HOEKEMA ANTIGO TESTAMENTO ANTINOMISTAS AP 1 AP 2 AP 22 AP 22.12-17 AP 3 APOCALIPSE APOLOGIA APONTAMENTOS APOSTILA ARNILDO MÜNCHOW ARNILDO SCHNEIDER ARNO ELICKER ARNO SCHNEUMANN ARREBATAMENTO ARREPENDIMENTO ARTHUR D. BENEVENUTI ARTIGO ASAS ASCENSÃO ASCLÉPIO ASSEMBLEIA ASTOMIRO ROMAIS AT AT 1 AT 1-10 AT 1.12-26 AT 10.34-43 AT 17.16-34 AT 2.1-21 AT 2.14a 36-47 AT 2.22-32 AT 2.36-41 AT 2.42-47 AT 4.32-37 AT 6.1-9 AT 7.51-60 ATANASIANO ATOS AUDIO AUGSBURGO AUGUSTO KIRCHHEIN AULA AUTO ESTIMA AUTO EXCLUSÃO AUTORIDADE SECULAR AVANÇANDO COM GRATIDÃO AVISOS AZUL E BRANCO BAIXO BATISMO BATISMO INFANTIL BELÉM BEM AVENTURADOS BENÇÃO BENJAMIM JANDT BIBLIA ILUSTRADA BÍBLIA SAGRADA BÍBLICO BINGOS BOAS NOVAS BOAS OBRAS BODAS BONIFÁCIO BOSCO BRASIL BRINCADEIRAS BRUNO A. K. SERVES BRUNO R. VOSS C.A. C.A. AUGSBURGO C.F.W. WALTHER CADASTRO CAIPIRA CALENDÁRIO CAMINHADA CAMPONESES CANÇÃO INFANTIL CANCIONEIRO CANTARES CANTICOS CÂNTICOS CANTICOS DOS CANTICOS CAPELÃO CARGAS CÁRIN FESTER CARLOS CHAPIEWSKI CARLOS W. WINTERLE CARRO CASA PASTORAL CASAL CASAMENTO CASTELO FORTE CATECISMO CATECISMO MENOR CATÓLICO CEIA PASCAL CÉLIO R. DE SOUZA CELSO WOTRICH CÉLULAS TRONCO CENSO CERIMONIAIS CÉU CHÁ CHAMADO CHARADAS CHARLES S. MULLER CHAVE BÍBLICA CHRISTIAN HOFFMANN CHURRASCO CHUVA CIDADANIA CIDADE CIFRA CIFRAS CINZAS CIRCUNCISÃO CL 1.13-20 CL 3.1-11 CLAIRTON DOS SANTOS CLARA CRISTINA J. MAFRA CLARIVIDÊNCIA CLAÚDIO BÜNDCHEN CLAUDIO R. SCHREIBER CLÉCIO L. SCHADECH CLEUDIMAR R. WULFF CLICK CLÍNICA DA ALMA CLOMÉRIO C. JUNIOR CLÓVIS J. PRUNZEL CODIGO DA VINCI COLÉGIO COLETA COLHEITA COLOSSENSES COMEMORAÇÃO COMENTÁRIO COMUNHÃO COMUNICAÇÃO CONCÓRDIA CONFIANÇA CONFIRMACAO CONFIRMAÇÃO CONFIRMANDO CONFISSÃO CONFISSÃO DE FÉ CONFISSÕES CONFLITOS CONGREGAÇÃO CONGRESSO CONHECIMENTO BÍBLICO CONSELHO CONSTRUÇÃO CONTATO CONTRALTO CONTRATO DE CASAMENTO CONVENÇÃO NACIONAL CONVERSÃO CONVITE CONVIVÊNCIA CORAL COREOGRAFIA CORÍNTIOS COROA CORPUS CHRISTI CPT CPTN CREDO CRESCENDO EM CRISTO CRIAÇÃO CRIANÇA CRIANÇAS CRIOULO CRISTÃ CRISTÃOS CRISTIANISMO CRISTIANO J. STEYER CRISTOLOGIA CRONICA CRONOLOGIA CRUCIFIXO CRUZ CRUZADAS CTRE CUIDADO CUJUBIM CULPA CULTO CULTO CRIOULO CULTO CRISTÃO CULTO DOMESTICO CULTO E MÚSICA CULTURA CURSO CURT ALBRECHT CURTAS DALTRO B. KOUTZMANN DALTRO G. TOMM DANIEL DANILO NEUENFELD DARI KNEVITZ DAVI E JÔNATAS DAVI KARNOPP DEBATE DEFICIÊNCIA FÍSICA DELMAR A. KOPSELL DEPARTAMENTO DEPRESSÃO DESENHO DESINSTALAÇÃO DEUS DEUS PAI DEVERES Devoção DEVOCIONÁRIO DIACONIA DIÁLOGO INTERLUTERANO DIARIO DE BORDO DICOTOMIA DIETER J. JAGNOW DILÚVIO DINÂMICAS DIRCEU STRELOW DIRETORIA DISCIPLINA DÍSCIPULOS DISTRITO DIVAGO DIVAGUA DIVÓRCIO DOGMÁTICA DOMINGO DE RAMOS DONS DOUTRINA DR Dr. RODOLFO H. BLANK DROGAS DT 26 DT 6.4-9 EBI EC 9 ECLESIASTES ECLESIÁSTICA ECUMENISMO EDER C. WEHRHOLDT Ederson EDGAR ZÜGE EDISON SELING EDMUND SCHLINK EDSON ELMAR MÜLLER EDSON R. TRESMANN EDUCAÇÃO EDUCAÇÃO CRISTÃ EF 1.16-23 EF 2.4-10 EF 4.1-6 EF 4.16-23 EF 4.29-32 EF 4.30-5.2 EF 5.22-33 EF 5.8-14 EF 6.10-20 ÉFESO ELBERTO MANSKE Eleandro ELEMAR ELIAS R. EIDAM ELIEU RADINS ELIEZE GUDE ELIMINATÓRIAS ELISEU TEICHMANN ELMER FLOR ELMER T. JAGNOW EMÉRITO EMERSON C. IENKE EMOÇÃO EN ENCARNAÇÃO ENCENAÇÃO ENCONTRO ENCONTRO DE CRIANÇA 2014 ENCONTRO DE CRIANÇAS 2015 ENCONTRO DE CRIANÇAS 2016 ENCONTRO PAROQUIAL DE FAMILIA ENCONTROCORAL ENFERMO ENGANO ENSAIO ENSINO ENTRADA TRIUNFAL ENVELHECER EPIFANIA ERA INCONCLUSA ERNI KREBS ERNÍ W. SEIBERT ERVINO M. SPITZER ESBOÇO ESCATOLOGIA ESCO ESCOLAS CRISTÃS ESCOLÁSTICA ESCOLINHA ESCOLINHA DOMINICAL ESDRAS ESMIRNA ESPADA DE DOIS GUMES ESPIRITISMO ESPÍRITO SANTO ESPIRITUALIDADE ESPÍSTOLA ESPORTE ESTAÇÃODAFÉ ESTAGIÁRIO ESTAGIÁRIOS ESTATUTOS ESTER ESTER 6-10 ESTRADA estudo ESTUDO BÍBLICO ESTUDO DIRIGIDO ESTUDO HOMILÉTICO ÉTICA EVANDRO BÜNCHEN EVANGELHO EVANGÉLICO EVANGELISMO EVERSON G. HAAS EVERSON GASS EVERVAL LUCAS EVOLUÇÃO ÊX EX 14 EX 17.1-17 EX 20.1-17 EX 24.3-11 EX 24.8-18 EXALTAREI EXAME EXCLUSÃO EXEGÉTICO EXORTAÇÃO EZ 37.1-14 EZEQUIEL BLUM Fabiano FÁBIO A. NEUMANN FÁBIO REINKE FALECIMENTO FALSIDADE FAMÍLIA FARISEU FELIPE AQUINO FELIPENSES FESTA FESTA DA COLHEITA FICHA FILADÉLFIA FILHO DO HOMEM FILHO PRÓDIGO FILHOS FILIPE FILOSOFIA FINADOS FLÁVIO L. HORLLE FLÁVIO SONNTAG FLOR DA SERRA FLORES Formatura FÓRMULA DE CONCÓRDIA Fotos FOTOS ALTO ALEGRE FOTOS CONGRESSO DE SERVAS 2010 FOTOS CONGRESSO DE SERVAS 2012 FOTOS ENCONTRO DE CRIANÇA 2012 FOTOS ENCONTRO DE CRIANÇAS 2013 FOTOS ENCONTRO ESPORTIVO 2012 FOTOS FLOR DA SERRA FOTOS P172 FOTOS P34 FOTOS PARECIS FOTOS PROGRAMA DE NATAL P34 FP 2.5-11 FP 3 FP 4.4-7 FP 4.4-9 FRANCIS HOFIMANN FRASES FREDERICK KEMPER FREUD FRUTOS DO ES GÁLATAS GALILEU GALILEI GATO PRETO GAÚCHA GELSON NERI BOURCKHARDT GENESIS GÊNESIS 32.22-30 GENTIO GEOMAR MARTINS GEORGE KRAUS GERHARD GRASEL GERSON D. BLOCH GERSON L. LINDEN GERSON ZSCHORNACK GILBERTO C. WEBER GILBERTO V. DA SILVA GINCANAS GL 1.1-10 GL 1.11-24 GL 2.15-21 GL 3.10-14 GL 3.23-4.1-7 GL 5.1 GL 5.22-23 GL 6.6-10 GLAYDSON SOUZA FREIRE GLEISSON R. SCHMIDT GN 01 GN 1-50 GN 1.1-2.3 GN 12.1-9 GN 15.1-6 GN 2.18-25 GN 21.1-20 GN 3.14-16 GN 32 GN 45-50 GN 50.15-21 GRAÇA DIVINA GRATIDÃO GREGÓRIO MAGNO GRUPO GUSTAF WINGREN GUSTAVO D. SCHROCK HB 11.1-3; 8-16 HB 12 HB 12.1-8 HB 2.1-13 HB 4.14-16 5.7-9 HC 1.1-3 HC 2.1-4 HÉLIO ALABARSE HERIVELTON REGIANI HERMENÊUTICA HINÁRIO HINO HISTÓRIA HISTÓRIA DA IGREJA ANTIGA E MEDIEVAL HISTÓRIA DO NATAL HISTORINHAS BÍBLICAS HL 10 HL 164 HOMILÉTICA HOMOSSEXUALISMO HORA LUTERANA HORST KUCHENBECKER HORST S MUSSKOPF HUMOR IDOSO IECLB IELB IGREJA IGREJA CRISTÃ IGREJAS ILUSTRAÇÃO IMAGEM IN MEMORIAN INAUGURAÇÃO ÍNDIO INFANTIL INFERNO INFORMATIVO INSTALAÇÃO INSTRUÇÃO INTRODUÇÃO A BÍBLIA INVESTIMENTO INVOCAÇÕES IRINEU DE LYON IRMÃO FALTOSO IROMAR SCHREIBER IS 12.2-6 IS 40.1-11 IS 42.14-21 IS 44.6-8 IS 5.1-7 IS 50.4-9 IS 52.13-53-12 IS 53.10-12 IS 58.5-9a IS 61.1-9 IS 61.10-11 IS 63.16 IS 64.1-8 ISACK KISTER BINOW ISAGOGE ISAÍAS ISAQUE IURD IVONELDE S. TEIXEIRA JACK CASCIONE JACSON J. OLLMANN JARBAS HOFFIMANN JEAN P. DE OLIVEIRA JECA JELB JELB DIVAGUA JEOVÁ JESUS JN JO JO 1 JO 10.1-21 JO 11.1-53 JO 14 JO 14.1-14 JO 14.15-21 JO 14.19 JO 15.5 JO 18.1-42 JO 2 JO 20.19-31 JO 20.8 JO 3.1-17 JO 4 JO 4.5-30 JO 5.19-47 JO 6 JO 6.1-15 JO 6.51-58 JO 7.37-39 JO 9.1-41 JOÃO JOÃO 20.19-31 JOÃO C. SCHMIDT JOÃO C. TOMM JOÃO N. FAZIONI JOEL RENATO SCHACHT JOÊNIO JOSÉ HUWER JOGOS DE AZAR JOGRAL JOHN WILCH JONAS JONAS N. GLIENKE JONAS VERGARA JOSE A. DALCERO JOSÉ ACÁCIO SANTANA JOSE CARLOS P. DOS SANTOS JOSÉ ERALDO SCHULZ JOSÉ H. DE A. MIRANDA JOSÉ I.F. DA SILVA JOSUÉ ROHLOFF JOVENS JR JR 28.5-9 JR 3 JR 31.1-6 JUAREZ BORCARTE JUDAS JUDAS ISCARIOTES JUDAS TADEU JUMENTINHO JUSTIFICAÇÃO JUVENTUDE KARL BARTH KEN SCHURB KRETZMANN LAERTE KOHLS LAODICÉIA LAR LC 12.32-40 LC 15.1-10 LC 15.11-32 LC 16.1-15 LC 17.1-10 LC 17.11-19 LC 19 LC 19.28-40 LC 2.1-14 LC 23.26-43 LC 24 LC 24.13-35 LC 3.1-14 LC 5 LC 6.32-36 LC 7 LC 7.1-10 LC 7.11-16 LC 7.11-17 LC 9.51-62 LEANDRO D. HÜBNER LEANDRO HUBNER LEI LEIGO LEIGOS LEITORES LEITURA LEITURAS LEMA LENSKI LEOCIR D. DALMANN LEONARDO RAASCH LEOPOLDO HEIMANN LEPROSOS LETRA LEUPOLD LIBERDADE CRISTÃ LIDER LIDERANÇA LILIAN LINDOLFO PIEPER LINK LITANIA LITURGIA LITURGIA DE ADVENTO LITURGIA DE ASCENSÃO LITURGIA DE CONFIRMAÇÃO LITURGIA EPIFANIA LITURGIA PPS LIVRO LLLB LÓIDE LOUVAI AO SENHOR LOUVOR LUCAS ALBRECHT LUCIFER LUCIMAR VELMER LUCINÉIA MANSKE LUGAR LUÍS CLAUDIO V. DA SILVA LUIS SCHELP LUISIVAN STRELOW LUIZ A. DOS SANTOS LUTERANISMO LUTERO LUTO MAÇONARIA MÃE MAMÃE MANDAMENTOS MANUAL MARCÃO MARCELO WITT MARCIO C. PATZER MARCIO LOOSE MARCIO SCHUMACKER MARCO A. CLEMENTE MARCOS J. FESTER MARCOS WEIDE MARIA J. RESENDE MÁRIO SONNTAG MÁRLON ANTUNES MARLUS SELING MARTIM BREHM MARTIN C. WARTH MARTIN H. FRANZMANN MARTINHO LUTERO MARTINHO SONTAG MÁRTIR MATERNIDADE MATEUS MATEUS KLEIN MATEUS L. LANGE MATRIMÔNIO MAURO S. HOFFMANN MC 1.1-8 MC 1.21-28 MC 1.4-11 MC 10.-16 MC 10.32-45 MC 11.1-11 MC 13.33-37 MC 4 MC 4.1-9 MC 6.14-29 MC 7.31-37 MC 9.2-9 MEDICAMENTOS MÉDICO MELODIA MEMBROS MEME MENSAGEIRO MENSAGEM MESSIAS MÍDIA MILAGRE MINISTÉRIO MINISTÉRIO FEMENINO MIQUÉIAS MIQUÉIAS ELLER MIRIAM SANTOS MIRIM MISSÃO MISTICISMO ML 3.14-18 ML 3.3 ML NEWS MODELO MÔNICA BÜRKE VAZ MORDOMIA MÓRMOM MORTE MOVIMENTOS MT 10.34-42 MT 11.25-30 MT 17.1-9 MT 18.21-45 MT 21.1-11 MT 28.1-10 MT 3 MT 4.1-11 MT 5 MT 5.1-12 MT 5.13-20 MT 5.20-37 MT 5.21-43 MT 5.27-32 MT 9.35-10.8 MULHER MULTIRÃO MUSESCORE MÚSICA MÚSICAS NAAÇÃO L. DA SILVA NAMORADO NAMORO NÃO ESQUECER NASCEU JESUS NATAL NATALINO PIEPER NATANAEL NAZARENO DEGEN NEEMIAS NEIDE F. HÜBNER NELSON LAUTERT NÉRISON VORPAGEL NILO FIGUR NIVALDO SCHNEIDER NM 21.4-9 NOITE FELIZ NOIVADO NORBERTO HEINE NOTÍCIAS NOVA ERA NOVO HORIZONTE NOVO TESTAMENTO O HOMEM OFERTA OFÍCIOS DAS CHAVES ONIPOTENCIA DIVINA ORAÇÃO ORAÇAODASEMANA ORATÓRIA ORDENAÇAO ORIENTAÇÕES ORLANDO N. OTT OSÉIAS EBERHARD OSMAR SCHNEIDER OTÁVIO SCHLENDER P172 P26 P30 P34 P36 P40 P42.1 P42.2 P70 P95 PADRINHOS PAI PAI NOSSO PAIS PAIXÃO DE CRISTO PALAVRA PALAVRA DE DEUS PALESTRA PAPAI NOEL PARA PARA BOLETIM PARÁBOLAS PARAMENTOS PARAPSICOLOGIA PARECIS PAROQUIAL PAROUSIA PARTICIPAÇÃO PARTITURA PARTITURAS PÁSCOA PASTOR PASTORAL PATERNIDADE PATMOS PAUL TORNIER PAULO PAULO F. BRUM PAULO FLOR PAULO M. NERBAS PAULO PIETZSCH PAZ Pe. ANTONIO VIEIRA PEÇA DE NATAL PECADO PEDAL PEDRA FUNDAMENTAL PEDRO PEM PENA DE MORTE PENEIRAS PENTECOSTAIS PENTECOSTES PERDÃO PÉRGAMO PIADA PIB PINTURA POEMA POESIA PÓS MODERNIDADE Pr BRUNO SERVES Pr. BRUNO AK SERVES PRÁTICA DA IGREJA PREEXISTÊNCIA PREGAÇÃO PRESÉPIO PRIMITIVA PROCURA PROFECIAS PROFESSORES PROFETA PROFISSÃO DE FÉ PROGRAMAÇÃO PROJETO PROMESSA PROVA PROVAÇÃO PROVÉRBIOS PRÓXIMO PSICOLOGIA PV 22.6 PV 23.22 PV 25 PV 31.28-30 PV 9.1-6 QUARESMA QUESTIONAMENTOS QUESTIONÁRIO QUESTIONÁRIO PLANILHA QUESTIONÁRIO TEXTO QUINTA-FEIRA SANTA QUIZ RÁDIO RADIOCPT RAFAEL E. ZIMMERMANN RAUL BLUM RAYMOND F. SURBURG RECEITA RECENSÃO RECEPÇÃO REDENÇÃO REENCARNAÇÃO REFLEXÃO REFORMA REGIMENTO REGINALDO VELOSO JACOB REI REINALDO LÜDKE RELACIONAMENTO RELIGIÃO RENATO L. REGAUER RESSURREIÇÃO RESTAURAR RETIRO RETÓRICA REUNIÃO RICARDO RIETH RIOS RITO DE CONFIRMAÇÃO RITUAIS LITURGICOS RM 12.1-18 RM 12.1-2 RM 12.12 RM 14.1-12 RM 3.19-28 RM 4 RM 4.1-8 RM 4.13-17 RM 5 RM 5.1-8 RM 5.12-21 RM 5.8 RM 6.1-11 RM 7.1-13 RM 7.14-25a RM 8.1-11 RM 8.14-17 ROBERTO SCHULTZ RODRIGO BENDER ROGÉRIO T. BEHLING ROMANOS ROMEU MULLER ROMEU WRASSE ROMUALDO H. WRASSE Rômulo ROMULO SANTOS SOUZA RONDÔNIA ROSEMARIE K. LANGE ROY STEMMAN RT 1.1-19a RUDI ZIMMER SABATISMO SABEDORIA SACERDÓCIO UNIVERSAL SACERDOTE SACOLINHAS SACRAMENTOS SADUCEUS SALMO SALMO 72 SALMO 80 SALMO 85 SALOMÃO SALVAÇÃO SAMARIA Samuel F SAMUEL VERDIN SANTA CEIA SANTIFICAÇÃO SANTÍSSIMA TRINDADE SÃO LUIS SARDES SATANÁS SAUDADE SAYMON GONÇALVES SEITAS SEMANA SANTA SEMINÁRIO SENHOR SEPULTAMENTO SERMÃO SERPENTE SERVAS SEXTA FEIRA SANTA SIDNEY SAIBEL SILVAIR LITZKOW SILVIO F. S. FILHO SIMBOLISMO SÍMBOLOS SINGULARES SISTEMÁTICA SL 101 SL 103.1-12 SL 107.1-9 SL 116.12-19 SL 118 SL 118.19-29 SL 119.153-160 SL 121 SL 128 SL 142 SL 145.1-14 SL 146 SL 15 SL 16 SL 19 SL 2.6-12 SL 22.1-24 SL 23 SL 30 SL 30.1-12 SL 34.1-8 SL 50 SL 80 SL 85 SL 90.9-12 SL 91 SL 95.1-9 SL11.1-9 SONHOS SOPRANO Sorriso STAATAS STILLE NACHT SUMO SACERDOTE SUPERTIÇÕES T6 TEATRO TEMA TEMPLO TEMPLO TEATRO E MERCADO TEMPO TENOR TENTAÇÃO TEOLOGIA TERCEIRA IDADE TESES TESSALÔNICA TESTE BÍBLICO TESTE DE EFICIÊNCIA TESTEMUNHAS DE JEOVÁ Texto Bíblico TG 1.12 TG 2.1-17 TG 3.1-12 TG 3.16-4.6 TIAGO TIATIRA TIMÓTEO TODAS POSTAGENS TRABALHO TRABALHO RURAL TRANSFERENCIA TRANSFIGURAÇÃO TRICOTOMIA TRIENAL TRINDADE TRÍPLICE TRISTEZA TRIUNFAL Truco Turma ÚLTIMO DOMINGO DA IGREJA UNIÃO UNIÃO ESTÁVEL UNIDADE UNIDOS PELO AMOR DE DEUS VALDIR L. JUNIOR VALFREDO REINHOLZ VANDER C. MENDOÇA VANDERLEI DISCHER VELA VELHICE VERSÍCULO VERSÍCULOS VIA DOLOROSA VICEDOM VÍCIO VIDA VIDA CRISTÃ VIDENTE VIDEO VIDEOS VÍDEOS VILS VILSON REGINA VILSON SCHOLZ VILSON WELMER VIRADA VISITA VOCAÇÃO VOLMIR FORSTER VOLNEI SCHWARTZHAUPT VOLTA DE CRISTO WALDEMAR REIMAN WALDUINO P.L. JUNIOR WALDYR HOFFMANN WALTER L. CALLISON WALTER O. STEYER WALTER T. R. JUNIOR WENDELL N. SERING WERNER ELERT WYLMAR KLIPPEL ZC ZC 11.10-14 ZC 9.9-12