DÉCIMO OITAVO DOMINGO APÓS PENTECOSTES
11 de Outubro de 1992
Lucas 16.1-13
1. Leituras do dia: SI 119.33-40; Am 8.4-7; 1 Tm 2.1-8; Lc 16.1-13, A ênfase das leituras deste domingo gira ao redor da obediência ou desobediência da Lei de Deus, aplicados à administração dos bens terrenos: a obediência é sinal de sabedoria e resulta numa boa administração dos bens; por outro lado, a desobediência é atitude tola e iníqua, que será condenada ao Juízo Final.2. Contexto:
2.1. Contexto literário: A parábola do administrador infiel é precedida pela parábola do filho pródigo (15.11-32). Ambas possuem elementos semelhantes: o contraste entre o Pai e o filho e entre o Senhor e o administrador, o desperdício da herança e dos bens, a misericórdia do Pai e do Senhor, o retorno do filho e a solução sábia do administrador. Tais semelhanças demonstram uma continuidade no ensino de Cristo sobre a situação do homem que está fora do âmbito da vivência com Deus e a necessidade do arrependimento e da fé na misericórdia divina. Além disso, o advérbio "também" (16.1: kaí) indica uma conexão com a parábola anterior.
Do mesmo modo, a história (ou parábola) que segue, ou seja a história do rico e do Lázaro (Lc 16.19-31), é uma ótima ilustração para os ensinamentos de Jesus acerca do uso dos bens materiais (vv. 9-13). O rico não soube "fazer amigos das riquezas iníquas", isto é, não usou seus bens para o auxílio e bem-
estar do seu próximo, o que demonstrou que ele amava mais o “deus Mamom" do que o Deus verdadeiro (v. 13) e lhe custou a condenação eterna (pois o amor a Deus se concretiza no amor ao próximo).
2.2. Contexto histórico-cultural: Conhecer o fundo cultural no qual está baseada esta parábola é indispensável para a sua interpretação teológica. Devido ao fato de que esta parábola é uma das mais difíceis de se interpretar, os exegetas dão diversas explicações. 0 contexto cultural mais provável para esta parábola é o de uma propriedade rural com um administrador (oikonomos) que tinha autoridade para executar os negócios da propriedade. Os devedores eram provavelmente arrendatários que haviam concordado em pagar uma quantidade fixa de produtos pelo seu aluguel anual. O administrador sem dúvida estava recebendo dinheiro extra "por baixo do pano", mas essas quantias não apareciam nas contas assinadas. Ele era um oficial assalariado. O Senhor era um homem de nobre caráter, respeitado na comunidade, que se interessava suficientemente pela sua riqueza, a ponto de despedir um administrador infiel (para maiores detalhes, conferir BAILEY, Kenneth, As parábolas de Lucas.
3. O texto:
Vv. 1.2. Esta parábola é dirigida aos discípulos, mas provavelmente os fariseus também a ouviram, pois zombaram daquilo que Jesus disse (vers. 14). Além disso, o suborno praticado pelo administrador da parábola era prática comum entre os fariseus, que haviam interpretado a Lei de Moisés conforme os seus interesses (a Lei proibia a cobrança de juros sobre empréstimos feitos entre judeus, cf. Ex 22.25, Lv 25.36, Dt 23.19-20). O termo “administrador" (oikonomos), quando usado nas parábolas, possui sempre o sentido metafórico que está relacionado ao uso ou administração de tudo o que Deus concede ao homem (vida, corpo, tempo, bens, etc). A raiz desse termo é oikos (casa). O povo de Deus é sua casa, cuja administração foi confiada aos cristãos, que são meros mordomos dos dons que lhes foram dados por Deus e que devem prestar contas da sua mordomia (Lc 16.2, 19.11; Mt 25.14 e segs.)
Vv. 3-7. O administrador esbanjador, avisado já da sua demissão e devendo prestar contas ao seu Senhor, tem um plano e o coloca rapidamente em ação: ele chama os arrendatários e retira a parte de juros a mais que seria o seu beneficio. Dessa forma, sabiamente ele faz com que os arrendatários, que ele explorava, o vejam como um homem bom e generoso. V. 8. Não podendo mais voltar atrás e desfazer o que o administrador havia feito, o Senhor apenas pode elogiá-lo. É aqui. Que está a "crux interpretorum", que causa más interpretações da parábola de Jesus, Mas entendida corretamente, vemos que o Senhor elogia a forma sábia do procedimento do administrador, que soube reverter a situação para o seu favor, mas não elogia a sua desonestidade. O advérbio "sabiamente" (phronimos) tem, suas raízes no Antigo Testamento, de forma especial, na Literatura Sapiencial, onde o significado que prevalece é o de. "Discernimento". Nos evangelhos, o termo se confina a parábolas ou à linguagem figurada e se refere ao comportamento sábio e judicioso que deve caracterizar aqueles que estão no Reino de Deus (cf. Mt 7.21, 25. ss, 24.45ss). A sabedoria que se propõe aos discípulos, como aquela que se harmoniza com o Reino de Deus, não é mero bom senso humano, mas está ligada com o conceito veterotestamentário de sabedoria: o sábio é aquele que faz a vontade do Senhor (Mt 7.24). Por isso, a sabedoria do crente se acha na sua obediência.
Vv. 9-13: Esta seção que segue à parábola é uma exortação quanto ao uso correto das posses e riquezas deste mundo, o que faz parte da boa administração do mordomo de Deus. Especificamente, o mordomo deve usar suas posses para o bem do próximo (vers. 9) e de forma piedosa, ao contrário do que fazem, os "filhos do mundo". Esses "amigos" do vers. 9 talvez se refiram, àquelas pessoas que receberam benefício do emprego piedoso das riquezas. O jogo de palavras do vers. 11 contrasta o valor relativamente mínimo das coisas materiais com as riquezas verdadeiras que existem num plano superior e pessoal. 0 discípulo deve provar sua mordomia fiel das posses que são de "outro" (o que temos neste mundo não é nosso, cf. as parábolas das minas, Lc 19, e dos talentos, Mt 25), para então receber as que são dele próprio. O discípulo não pode ser servo de "mamom", que personifica o domínio que as riquezas podem exercer sobre o homem pecador ao ponto de ele amar mais o dinheiro do que a Deus (Mt 6.24).
4. Sugestão homilética:
Idéia Central: A parábola do administrador infiel é mais uma que Jesus usa para alertar os seus discípulos sobre a administração sábia dos dons concedidos e confiados por Deus. Ela possui um caráter escatológico, pois se refere à "cobrança de contas". Em conexão com, as demais leituras e levando em conta o domingo do ano eclesiástico, a idéia central para a mensagem é esta: o cristão deve administrar sabiamente os bens que lhe foram confiados neste mundo, em obediência à vontade de Deus (e não do "deus mamom") e para o engrandecimento e propagação do Reino de Deus, enquanto o Juízo Final não chega.
Assim interpretada e aplicada, a parábola pode oferecer subsídios para o lema da IELB: "Cristo para todos, Respondendo ao amor de Deus".
5. Objetivo, moléstia e meio: o objetivo pode ser o de alertar e motivar para uma sábia e cristã administração (mordomia) dos bens; a moléstia é o perigo sempre constante do amor ao “deus Mamom"; e o meio para se atingir o objetivo é o evangelho salvífico que transforma o coração humano e o faz viver
de acordo com a vontade de Deus.
Disposição:
Tema: Sejamos bons administradores dos dons de Deus
I. Agindo com; sabedoria neste mundo (tratar os aspectos básicos sobre mordomia: o que é, porquê, como, etc).
II. Não nos apegando aos bens deste mundo mostrar que para que haja verdadeira mordomia é necessário que Deus seja o Senhor em nossos corações pela fé em Cristo, ou seja, a motivação e o alvo final: propagação do Reino de Deus, "Cristo para todos".
João Carlos Schmidt
São Leopoldo, RS.