Sexto Domingo da Páscoa
16 de maio de 1993
1 Pe 3.15-22
Contextualização do domingo no Ano Eclesiástico
Sexto domingo de Páscoa. Ainda persiste o clima de alegria pascal entre os cristãos. A mensagem: "Ele vive!" removeu o "aguilhão da morte". A tristeza da morte cedeu lugar à esperança da vida eterna. A igreja primitiva reconhecia a necessidade de perpetuar a alegria pascal. E fê-la expressar-se em seus "intróitos", "graduais" e " pró- prios" dos domingos entre Páscoa e Pentecostes. A cristandade atual não pode ficar cativa, em mera atitude contemplativa, diante da alegria pascal. Que o Espírito Santo nos assista, para que, a partir das reflexões sobre a vitória de Cristo sobre o "último inimigo" - a morte - "respondendo ao amor de Deus", possamos levar "Cristo para todos".
As Leituras do Domingo
SI 98 - O autor conclama a igreja a tributar o louvor devido ao Senhor, pois, salvou o seu povo de modo maravilhoso. Que esta proeza seja conhecida "aos olhos das nações" (Cristo para todos). Há também uma referência à promessa de salvação, feita por Deus a Abraão e sua descendência para sempre. Maria, em seu "Magnificat”, também usa palavras sintonizadas com este salmo: ”... A fim de lembrar-se de sua misericórdia a favor de Abraão e de sua descendência para sempre, como prometera aos nossos pais" (Lc 1.54,55).
Indícios levam a crer que este salmo foi compilado para a festa da Páscoa do ano 515 a.C. para enaltecer a Deus pela maravilhosa libertação do cativeiro babilônico. Um grande motivo para jubilar. Nosso motivo para exultar é ainda maior: A libertação do cativeiro espiritual. Éramos escravos do diabo, do pecado e da morte. Agora somos li- vres. Alegria deve reinar em nossos corações.
At 17.22-31 - O apóstolo Paulo tenta levar "Cristo para todos" os atenienses, apresentando-o como o Filho do Deus eterno. Ele o faz, citando termos elementares do Credo Cristão. Usa elementos do 1o e 2o Artigo. Entretanto, ao mencionar a ressur- reição dos mortos, é rejeitado pelos ouvintes. Mas nem por isso deixou de seguir pre- gando a Cristo aos demais homens.
I Pe 3.15-22 - Consideremos os destinatários da carta de Pedro. Diferentes dos atenienses, já eram cristãos. Eram forasteiros da Dispersão. Muitos eram cidadãos livres. Mas todos eram estrangeiros - sem cobertura dos direitos de cidadania. Confes- sando uma "nova religião", estavam sujeitos ao ódio e às arbitrariedades dos cidadãos da terra. Outros eram escravos, ocupados em trabalho braçal, escribas, professores e médicos. Como escravos, eram destituídos de qualquer direito e entregues "à própria sorte". Embora a opinião pública impusesse alguns limites a maus tratos contra escra- vos, os donos podiam ordenar açoitá-los até a morte, ou crucificá-los. No contexto desta carta, o apóstolo Pedro não emite juízo contrário ou favorável à prática de escra- vidão. Ele quer levar o cristão a dar-se conta dos seus direitos e deveres na sociedade em que vive, e leva uma vida digna do evangelho.
Jo 14.15-21 - É difícil ser cristão? E manter a fé? É humanamente impossível. Se ninguém pode dizer: Senhor Jesus, senão pelo Espírito Santo, também ninguém consegue permanecer na fé e enfrentar todas as dificuldades e tentações sem o apoio dele. Por isso Jesus promete aos seus discípulos a presença constante do Consolador.
Exegese do texto
V.15 - "Santificai a Cristo em vossos corações" - i.e. reconhecei a Cristo como Senhor e temei-o como tal, tendo receio de macular de forma alguma sua santidade (Is 8.13). Sejam "agiói" - guardai-vos incólumes do pecado, não descendo às suas provocações. Pois, em assim procedendo, os cristãos estarão preparados para a "apologían" de sua fé, não só perante autoridades, mas a todo aquele que "pedir razão da esperança que há em vós". Confessar a Cristo não se restringe a umas poucas palavras, mas inclui a refutação de críticas, preconceitos e equívocos dos adversários - até mesmo o martí- rio.
V.16 -"... Com mansidão e temor..." - O testemunho, porém, não deve ser com envolvimento carnal, passional, com agravo pessoal, como o retrucar áspero, a gros- seria e as ameaças. Estes modos de tratamento destoam do louvor ("ação de gra- ças"), que deveria povoar sempre a mente, a boca e a vida do cristão - sepultadas as artimanhas do velho homem.
V.17 - A colocação dos termos deste versículo leva à expressão suscinta e axiomá- tica daquilo que já havia sido dito em I Pe 2.15,19, 20 e 3.14 e, mais adiante, em 4.14-19 - a saber, que o "sofrer por causa da justiça... é grato a Deus". Pedro não está que- rendo dizer que devemos assumir atitude masoquista, mas que o nosso "temor" a Deus, nossa mansidão, sejam constantes e superem a injustiça, sem "pagar mal por mal". Louvor e júbilo não podem ser tolhidos por sofrimento de injustiça. O motivo de nossa alegria é maior: O amor de Deus, que nos libertou de um sofrimento incompara- velmente maior - a condenação eterna. Assim, quando ele nos reservar sofrimentos, suportemo-los como resposta ao que nos amou primeiro. O versículo seguinte de nosso texto nos ajuda nesta compreensão...
V.18 - Em vez de "apétanem" (morreu), alguns textos originais (Vaticanus, Koinê e outros) usam "épaten" (sofreu). Esta última forma parece coadunar melhor no contex- to da linha de raciocínio: existem sofrimentos causados por injustiça? - Cristo também os sofreu! Sendo inocente! E, ainda, pelos pecados de outrem! Mas, depois disso, as- sumiu o "status gloriosus", com o qual também nos acena.
V.19 - Este versículo trata especificamente da descida de Cristo ao inferno, depois de vivificado. Acerca dos "espíritos em prisão", a Escritura conhece apenas um único lugar para confinar "espíritos": o "Hades", o "gehena" de fogo (Mt 5.22 e 18.9). Como subsídio para pregação de Lei, temos como informação de que o inferno é uma reali- dade! E que, efetivamente, muitos já estão nele na qualidade de "espírito em prisão", a saber, os que no tempo de Noé (et al) "foram desobedientes".
V.20 - "... A longanimidade de Deus..." pode ser usada como elemento de evange- lho no sermão, como referência a um prazo "sobremodo oportuno" e tempo suficiente para aceitar a salvação - o caminho que desvia da condenação. Deus é longânimo em Cristo. Urge, pois, neste "tempo sobremodo oportuno" proclamar "Cristo para todos".
Neste versículo há também um elemento de consolo para nossa missão. É a pala- vra "poucos". Os fiéis sempre são minoria ("pequenino rebanho"). Sua missão será sempre evangelizar a "maioria", para que não venham a tornar-se em "espírito em prisão".
V.21 - Este versículo faz referência ao batismo - por meio do qual Deus nos faz a proposta de uma boa consciência. E a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos tornou isto possível (Rm 6.4). Também após sua ressurreição, Jesus instituiu o batis- mo (Mt 28.19), com a promessa que salva (Mc 16.16). Sem a ressurreição não tería- mos batismo, não haveria salvação, nem boa consciência para com Deus. Sem ressur- reição não haveria justificação. A redenção foi consumada na cruz (Jo 19.30), mas a ressurreição é o próprio atestado de Deus para seu efeito (At. 2.36, 38 e 5.30-32).
Considerações homiléticas
O grande objetivo do apóstolo é consolar os fiéis. Fortalecer-lhes a fé. Animá-los a continuar carregando a sua cruz - a perseverança! Seu escrito não é prioritariamente de cunho doutrinário. É mais de característica ilustrativa e de persuasão.
Nossa sugestão para mensagem é a seguinte:
SANTIFICAI A CRISTO COMO SENHOR
I - Ele sofreu pelos vossos pecados Il - Agora está entronizado à destra de Deus OU ALEGRAI-VOS SEMPRE NO SENHOR, porque ...
I - Na igreja militante ele mitiga vosso sofrer
lI - Na igreja triunfante vos dará um galardão eterno
Elberto Manske