Como ser um servo pastoral positivo, alegre, esperançoso e dedicado
Charles S. Mueller
Em julho de 1997 tive o privilégio de coordenar um "Curso de Aperfeiçoamento" nos seminários de São Paulo, SP, e São Leopoldo, RS. Foram vinte e quatro horas, em cada local, de alegre convivência e compartilhamento sobre o ministério e as congregações nos Estados Unidos e no Brasil. As sementes deste conteúdo foram semeadas numa conversa com um pastor do Brasil alguns anos atrás. Trabalhava então num livro que levava o título provisório de "A Alegria do Ministério". Este colega gostou do título e do conteúdo, mas o livro não foi publicado. Quando o submeti aos editores, eles o devolveram com a seguinte nota: - Conquanto esta possa ser a maneira como você encara o ministério, não é assim que a maioria o vê.
Nunca tive um manuscrito devolvido, nem antes e nem depois. Fiquei muito contrariado porque justamente este livro, que dava expressão aos meus mais profundos sentimentos sobre o ministério pastoral, foi o primeiro a ser devolvido. Mesmo que tenha havido uma ponta de elogio na nota de rejeição do editor. Depois de pensar melhor sobre o assunto e trocar idéias com amigos, cheguei a conclusão de que a editora provavelmente estava certa. Eu realmente estava em descompasso com muitos pastores. Mas não estava em descompasso com o apóstolo São Paulo e muitos outros que serviram ao Senhor desde os tempos primitivos da igreja até hoje.
O tema da alegria na carta de Paulo aos Filipenses, escrita da prisão em circunstâncias cruéis, aponta para isto: "Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos" (Fp 4.4). Eu creio que o ministério pastoral deve ser cheio de alegria.
Mas por que há tão pouca alegria na igreja, como o editor sugeriu e outros concordam? Por que tantos rostos tristes, tão pouca exuberância, conduta tão reservada e toda esta inflexibilidade pastoral?
Como eu contei aos colegas no curso, quando comecei a andar pela igreja procurando uma resposta, encontrei algumas, mas não no mesmo lugar. As respostas estão espalhadas pelas congregações.
Muita falta de alegria pode ser creditada ao fato de que muitos pastores hesitam diante destas questões chave:
1. Você crê que sua congregação devia crescer?
2. Você é capaz de aceitar orientação, conselho e exemplo de alguém?
3. Você é capaz de mudar?
O ministério não trará muito prazer ao pastor que disser "não" para uma, duas ou as três perguntas.
E se o pastor disser "sim" para todas as três, mas os líderes disserem "não", então o ministério se tornará um peso insuportável e cheio de murmuração, como experimentou Moisés quando liderou os israelitas por quarenta anos no deserto. As três perguntas, que discutimos exaustivamente, e como elas são respondidas, ajudam a determinar quanta alegria haverá no seu ministério.
Num outro canto da "The Lutheran Church-Missouri Synod eu encontrei outras partes desta questão. Pastores me disseram:
1. - Ninguém me disse que se esperava de mim que eu fosse um líder na minha paróquia. Eu não sei como fazer isto e ninguém me ensinou.
2. -Ninguém me disse que se esperava de mim que eu ajudasse uma congregação a crescer. Eu não sei como fazê-lo e ninguém me ensinou.
3. -Ninguém me disse que se esperava de mim que eu continuasse a crescer espiritualmente. Eu não sei como fazê-lo e ninguém me ensinou.
Estas são três coisas preocupantes para serem ditas por um pastor. Mas em todas as partes onde eu as mencionei a pastores me foi assegurado que eram acuradas. Nenhum nunca discordou publicamente das três, inclusive da última, mesmo sentindo que alguns gostariam de discordar. Pastores que carregam em seu coração estas três afirmações, especialmente a terceira, vão encontrar pouco espaço para alegria. Os pastores no curso me disseram que isto também é verdadeiro entre obreiros do Brasil. Muitas vezes a primeira reação tem sido assim: -Por que os seminários não ensinaram estas coisas?
Penso que esta não é uma pergunta legítima. Os seminários não estão em falta. A sua tarefa primordial é ensinar pastores em formação a pensarem teologicamente. Na minha avaliação, eles o fazem bem. Além disso, nada mais espero, exceto uma coisa.
Os seminários deviam trabalhar um pouco mais intensamente na ajuda ao candidato para sua compreensão de que é necessário que ele continue aprendendo pelo resto de sua vida. Graduação é apenas um "gradus", degrau. Assim como Jesus, em Lucas 2.52, os pastores vão ocupar-se pelo resto de suas vidas "esforçando-se para a frente" ou "tendo sua imagem forjada", como sugere a palavra grega prokopto. Eu estou diante de vocês com 68 anos de idade e com tanto ainda por aprender quanto eu consegui até agora e mais ainda. E isto não é apenas um arroubo de modéstia. E um fato. Eu preciso continuar a crescer intelectualmente, fisicamente, espiritualmente e socialmente, como o fez nosso Senhor Jesus. Prokopto é uma contínua e permanente atividade pela vida afora. Ai de quem pára ou pensa que sabe o suficiente. Ele impede seu próprio crescin~entoe - pior do que isso - ele inibe o crescimento da sua congregação. Estou encantado com o fato de tantos de vocês terem decidido continuar seu aprendizado.
Mas voltemos ao que eu estava expondo sobre a alegria no ministério. Eu cheguei a conclusão de que pastores passam dificuldades com as três perguntas e as três afirmações - e prokopto - porque eles não se decidiram a trabalhar as coisas necessárias para ajudar as congregações a funcionar em 1997, para a glória de Deus e o bem do seu povo. Eles não estão se preparando para "... um tempo como este" (Et 4.14) porque não entenderam o seu tempo.
O que teria feito Lutero com um computador ou o apóstolo São Paulo com um avião a jato? E como não teriam feito seu trabalho nossos pais e mães espirituais da Igreja Luterana, se tivessem conhecido a respeito de princípios de gerência que nós aprendemos e os dons de planejamento como SMART (acróstico que em inglês significa "inteligente", usado para dizer que uma meta precisa ser: específica, mensurável, atingível, haver recursos e tempo definidos) e o círculo de decisão (os diversos passos da realização de um plano) com os quais trabalhamos? Nunca saberemos. E esta não é nossa preocupação. Eles eram fiéis com aquilo que tinham no seu tempo. Agora o refletor está focalizado sobre nós. - O que faremos nós com estas bênçãos seculares que são nossas para uso? Somos suficientemente sábios para juntar este "maná" para seus propósitos? Ou vamos obstinadamente recusar-nos a aprender e santificar a alegria neste processo?
Um magnífico exemplo de abençoado uso dos recursos seculares é o profeta Neemias. Os princípios de liderança secular são todos apresentados na Palavra de Deus - por isso, quem sabe, não é "liderança secular" mas conceitos divinos de liderança que nós negligenciamos e que o mundo nos tomou. Lembrem Neemias e o que aconteceu no seu tempo.
Hanani veio até ele e relatou que os muros de Jerusalém estavam caídos em ruínas. Este relato não era novo, assim como a notícia de que nossa igreja não está crescendo muito bem de modo algum é nova. Estes muros estavam em ruínas há muitos anos. Mas de alguma maneira esta mensagem penetrou na consciência de Neemias. E fez com que compreendesse a vergonha que significava a negligência do povo em relação aos muros de Jerusalém. O que ele fez?
Primeiro chorou e, orando, se confessou. Mas sua oração foi diferente da oração de muitos de nós: ele confessou os pecados de "sua casa", falou do dever se sua família. Ele não apontou o dedo para outros. Ele assumiu responsabilidade pessoal. E decidiu agir.
E qual foi sua ação? Depois de orar, criou um plano, usando muitos dons que nós estivemos estudando. Então ele esperou pelo momento certo. Quando chegou a hora da pergunta do rei, ele estava preparado. Ele havia elaborado os detalhes em sua mente, inclusive os vistos que era exigidos, os salvo-condutos que desejava, os homens que o rei podia oferecer, os materiais para requisitar e o tempo de que precisaria. Usando todos os seus dons de gerenciamento, no contexto de seu tempo, ele agiu.
Este não foi o fim disso tudo. Mais tarde, em Jerusalém, ele desenvolveu um plano para unir o povo ao introduzir o pronome "nós". Ele deu, a cada um, um senso de participação. E quando o perigo aparece, ele dividiu os trabalhadores. Metade para servir; a outra metade para defender.
Defender e construir. Nos Estados Unidos, treinamos um ministério para defender; muito poucos com a competência de construir. Nós precisamos de ambos! Mas, nós precisamos de ambos!
Construtores que não sabem como construir não podem ser alegres em seu trabalho. Seu espírito é de tristeza e não de satisfação.
Provêm de uma sensação de que algo está errado. É como os quatro leprosos em 2 Reis 7.9, que descobriram que os sírios haviam fugido e começaram a pilhar o acampamento em seu próprio beneficio. Até que um deles disse: "Não fazemos bem: este dia é dia de boas novas, e nós nos calamos ..."
Alegria não é característica pessoal. E a reação natural ao prokopto pastoral em meio ao mundo das preocupações de uma congregação. Duas semanas atrás estive na Concordia Publishing House, em Saint Louis, planejando uma publicação ampliada da matéria que estivemos discutindo nos cursos de julho. Será oferecida a Igreja no outono (primavera no Brasil) de 1998 sob o título provisório de "Congregações, congregações, congregações". Uma das razões que me trouxe a este intercâmbio com vocês foi verificar como o conteúdo básico desta matéria seria visto através dos olhos de obreiros chave no Brasil. Eu sei que vocês são obreiros chave no Brasil porque há muito tempo aprendi que aqueles que não têm uma paixão pelos perdidos, que não conseguem adaptar-se ao que é novo e que não querem mudar não vêm para eventos como este. Isto não quer dizer que todos os que não vieram são diferentes de vocês. Mas quer dizer que vocês que vieram são uma esperança para a Igreja.
E há esperança! Sempre houve esperança como a carta aos Hebreus, cap. 11, tão claramente explica. Inicia com a afirmação de que fé e esperança estão ligadas na "certeza de coisas que se esperam". Depois o escritor sacro repete as histórias do que aconteceu " ... pela fé". Muitas mudanças. Muitas coisas novas. A adoção de maneiras novas de fazer as coisas. Crescimento espiritual. Colocando tudo isso em ação nos leva a Hebreus 12.1 e a "nuvem de testemunhas", olhando para nosso Senhor Jesus " ... que por alegria ..." suportou a cruz, não despreza a vergonha e está sentado no trono de Deus! Sua alegria promove a nossa alegria. Nenhum de nós pode saber quão bem sucedido será nosso trabalho no futuro ou quão eficientes se tomarão nossas paróquias. Mas nós influenciamos o futuro que vamos encarar: o provável, o possível ou o preferível. Mas o que nós sabemos - sim - é que temos que ser os melhores servos de Deus que conseguimos ser.
Nós não temos nenhum tipo de controle sobre qualquer coisa a não ser sobre nos mesmos. Mas este nós temos. Ao servi-lo, nós podemos ter a emoção de usar tudo aquilo que Ele colocou a nossa disposição, para a Sua glória.
Esta é a fonte de alegria no ministério: dando o melhor de nós sob o Espírito, com aquilo que ele nos deu. E ele nos deu tanto!
Repito agora o que disse quando começamos o curso. Fui chamado por Deus para ser um pastor paroquial. O interesse primordial na minha vida é a prática do ministério pastoral. Eu não sou um remoto teórico. Se " ...fé sem obras é morta ..." (Tg 2.17) assim também é a teoria congregacional sem a prática. Existem outras coisas importantes para fazer na igreja. Como preparar pastores e professores para o serviço, ou administrar os programas da igreja. Mas não são meu primeiro interesse. Meu interesse são congregações, leigos e pastores paroquiais. O que eu vim fazer com vocês que são pastores paroquiais é compartilhar a melhor prática pastoral do mundo moderno que eu conheço. Nas horas em que estive com vocês, que perfazem 10% dos pastores paroquiais da IELB, verifiquei que não sou o Único que tem esse interesse. Eu aprendi muitas coisas com vocês, por exemplo, vocês encontraram um nome melhor para um dos tipos de congregação que estudamos, a congregação de equipes ou departamentalizada. Apesar de saber que aquilo que cada um de nós faz no ofício pastoral pode ser muito diferente, uma coisa é certa: na essência nosso trabalho flui das mesmas sólidas convicções. E assim, o Senhor nos dá alegria no ministério.
Ficou bem evidente que ele deu muita alegria a vocês nesta sala. Que Ele continue a fazer assim. É meu desejo. Nunca queiram impedi-lo.
Charles S. Mueller
Dr. Charles S. Mueller é pastor assistente da Trinity Lutheran Church,
Roselle, IL. Dr. Mueller presta consultoria a conselheiros e congregações
da Lutheran Church-Missouri Synod, exercendo também a função
de assessor da Wheat Ridge Ministries. Este artigo é parte do Curso
de Aperfeiçoamento ministrado pelo DK Charles Mueller no Seminário
Concórdia de 14-1 7 de julho de 1997. A tradução do original
inglês foi feita pelo Rev. Bruno F Rieth.