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CRONOLOGIA DO AT

A lista cronológica abaixo foi adaptada a partir de The Chronological Bible. O propósito é ajudar você a "enxergar" a ordem dos maiores eventos da Bíblia e das pessoas envolvidas. As datas são questionadas aqui e ali, mas, o objetivo principal é servir como uma referência no tempo.

A pré-existência de Cristo Jo 1:1 Da Criação ao Dilúvio
Criação Gn 1:1
Satanás expulso do céu Is 14:12-17
Seis dias da criação Gn 1:3-26
Jardim do Édem Gn 2:8-17
Queda de Adão e Eva Gn 3:1-7
Expulsão do Édem Gn 3:21-24
Caim mata Abel Gn 4
Nascimento de Noé Gn 5:28-29
O Dilúvio Gn 7:10:24
A Torre de Babel Gn 11 Do Dilúvio aos Patriarcas
Nascimento de Abrão (Abraão) Gn 11:27
Jó 1
Abrão torna-se Abraão Gn 17
Nascimento de Isaque, Jacó e José Gn 21-30
José é vendido como escravo no Egito Gn 37:28 Dos Patriarcas até o Êxodo
1606 - 1462 a.C.
Fome e ida dos Hebreus para o Egito Gn 41
A população de hebreus cresce Gn 47:27
A Escravidão e Opressão do povo Ex 8
Nascimento de Moisés Gn 21-30
A pragas contra o Egito Ex 7-11 O Êxodo para Canaã
(Ex 13 - Nm 21)
1462 - 1065 a.C.
Os Hebreus são libertos e depois perseguidos Ex 12
Atravessando o Mar Vermelho Ex 13-15
Recebendo os 10 Mandamentos Ex 20
Israel vagueia pelo deserto por 40 anos Nm 14
A conquista e a divisão de Canaã Js 6-12 Canaã até o reinado de Saul
(Js 1 - 1 Sm 8)
1422 - 1065 a.C.
Israel torna-se uma nação 1200-750 a.C.
Nascimento de Sansão Jz 13
Saul torna-se o primeiro rei 1 Sm 9
Davi mata Golias 1 Sm 17 O reinado de Davi
2 Sm 5 - 1 Rs 2
1025 - 985 a.C
Davi torna-se rei 2 Sm 5
Davi com Bateseba 2 Sm 11
A rebelião de Absalão 2 Sm 12
Davi prepara os materiais para o templo 1 Cr 22
Salomão torna-se rei 1 Rs 1 O reinado de Salomão
1 Rs 2 - 1 Rs 11
985 - 945 a.C.
Salomão pede a Deus sabedoria 1 Rs 3
A construção do Templo 1 Rs 6
Declínio de Salomão 1 Rs 11
A nação de Israel divide-se em duas: Judá ao Sul e Israel ao Norte. Neste período há uma sucessão de reis. Muitos eram maus, uns poucos eram louvados. Durante este tempo Elias realizou seu ministério. Jonas pregou em Nínive. Roma foi fundada. O templo foi restaurado. O Reino Dividido (Israel e Judá) de Salomão à Queda de Israel
945 - 721 a.C.

ATOS 2.1-21

A VINDA DO ESPÍRITO NO DIA DE PENTECOSTES - Atos 2.1-13
1 – Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar;
2 – de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados.
3 – E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles.
4 – Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem.
5 – Ora, estavam habitando em Jerusalém judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu.
6 – Quando, pois, se fez ouvir aquela voz, afluiu a multidão, que se possuiu de perplexidade, porquanto cada um os ouvia falar na sua própria língua.
7 – Estavam, pois, atônitos e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando?
8 – E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?
9 – Somos partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia,
10 – da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem,
11 – tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?
12 – Todos, atônitos e perplexos, interpelavam uns aos outros: Que quer isto dizer?
13 – Outros, porém, zombando, diziam: Estão embriagados!
1 Os apóstolos, juntamente com um grande grupo de discípulos de Jesus, entre os quais havia também mulheres e Maria, a mãe de Jesus, e seus irmãos de sangue (At 1.14), esperavam em oração pelo cumprimento das grandes promessas de Deus e, simultaneamente, pelo começo de seu serviço de testemunhas. Agora chegava esse cumprimento. Por essa razão Lucas inicia sua narrativa: “E ao começar a cumprir-se…” Esse cumprimento acontece por livre majestade unicamente do próprio Deus, no dia determinado por Ele. Os discípulos não ficam cada vez mais cheios do Espírito aos poucos, em silêncio. Muito menos tentam chegar à posse do Espírito através de quaisquer métodos religiosos. Sabem fazer uma coisa somente: esperar com fé pela ação do próprio Deus.
Essa ação acontece num dia festivo judeu, “ao começar a cumprir-se o dia de Pentecostes”. Podemos traduzir assim: “No início do dia de Pentecostes, todos estavam reunidos.” O grande evento ocorre logo na manhã da festa. Quando Pedro começa seu discurso são apenas 9 horas da manhã. A ordem do “ano eclesiástico” na antiga aliança previa três grandes festas: o passá, a festa da sega e a festa “quando recolheres do campo o fruto do teu trabalho” no final do ano (cf. Gn 23.14-17). Em Lv 23.15-22 a festa da sega passa a ser regulamentada com mais detalhes. Deve ser celebrada no 50º dia depois do passá. Em grego, o “qüinquagésimo” (dia) chama-se “pentekosté”; dele derivou-se mais tarde nosso termo “Pentecostes”. Em época posterior, Israel também não queria mais celebrar Pentecostes e a festa dos tabernáculos apenas como festas da natureza e da colheita. Sem dúvida continuava a receber com gratidão da mão de Deus também as dádivas naturais dos campos, pomares e vinhedos. Porém sabia que Deus havia ido a seu encontro em sua história de outras formas gloriosas e divinas. Por conseqüência, considerou os “tabernáculos” uma recordação da peregrinação pelo deserto, com suas tendas e com o maravilhoso auxílio e provisão até entrarem na terra prometida, e relacionou a festa de Pentecostes com a legislação no monte Sinai. É verdade que a comprovação dessa ligação existe somente na literatura pós-apostólica. Porém, não é possível que a memória do evento do Sinai no dia de Pentecostes já tenha estado viva antes entre o povo ? Seja como for, chama a atenção a profunda correlação que o acontecimento narrado por Lucas nesse dia de Pentecostes possui com a revelação de Deus no Sinai. Lá e cá ocorre a presença do Deus vivo para criar sua “igreja”, um povo santo, um reino de sacerdotes. Lá e cá acontecem tempestade e fogo como sinais visíveis da presença do Senhor. De acordo com a tradição judaica, os 70 povos do mundo teriam captado a proclamação divina no Sinai em sua respectiva língua, assim como agora pessoas de todo o mundo ouvem a exaltação dos grandes feitos de Deus em sua língua pátria. No entanto: agora acontece a nova aliança, profetizada por Jeremias (Jr 31.31-34) – não mais o serviço
de Moisés, da “letra”, da condenação e da morte, mas o serviço do Espírito, da justiça e da vida (cf. 2Co 3.4-9). Somente agora se forma de fato o “sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9). Como no “passá”, também no “Pentecostes” vemos lado a lado o Deus que não age arbitrariamente, mas numa seqüência planejada, ligada à sua ação anterior, que é acolhida e levada à perfeição, e o Deus que também não se deixa encerrar na bitola de revelações antigas, que cria coisas inéditas, por meio das quais mostra a glória plena daquilo que Ele já tinha em mente nas manifestações anteriores. Assim o “passar poupando” (é que significa o termo “passá”) de Deus diante do “sangue do Cordeiro” (Êx 12.13), de magnitude universal e validade eterna, se “cumpre” na morte e no sangue do Filho de Deus na cruz; e assim se “cumpre” agora em “Pentecostes”, ao ser derramado o Espírito de Deus em escala universal e realidade máxima, aquilo que Deus de fato havia previsto no Sinai quando vocacionou a Israel.
2 O que sucede em seguida não é apenas “acontecimento interior”. Afinal, não se trata de “espírito” no sentido da “intelectualidade” humana. Temos de nos libertar do idealismo grego que nos alienou. Trata-se do poder e da vida do Deus vivo. A esse Deus e Criador, porém, o mundo “exterior” pertence da mesma forma como o “interior”. Quando ele se aproxima, sua presença viva também se torna sempre audível e visível. Precisamente nisso, pois, também a história de Pentecostes revela que não se trata de processos dentro da psique que poderíamos explicar de uma ou outra maneira, mas sim da intervenção de Deus. “De repente, veio do céu um som, como de um vento poderoso que descia.” No grego, “pnoé” = vento, “pneuma” = Espírito são (como também no termo hebraico “ruach”) derivados da mesma raiz. P. ex., ao dialogar com Nicodemos, Jesus também tomou o misterioso sopro do vento como ilustração do sopro do Espírito. Obviamente é apenas uma “figura”. Notemos que Lucas diz expressamente: Soava “como” de um vento poderoso. O zumbido veio “do céu”, naturalmente não da atmosfera terrena, mas oriundo de Deus. Contudo penetra totalmente no mundo terreno e enche uma casa. Deus não está limitado a templos e lugares consagrados! Para a sua presença, ele seleciona um mísero arbusto espinhento no deserto, e agora uma casa secular, comum, em Jerusalém.
3 Na seqüência o Espírito também se torna “visível”. “E apareceram-lhes línguas separando-se, como de fogo.” João Batista já havia falado do batismo “com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3.11). Desde sempre o “fogo” foi, como a “luz” e a “tempestade”, um sinal da essência e da atuação divinas. Tanto aqui como na descrição da ascensão, Lucas, sóbrio e contido diante da singularidade dos acontecimentos divinos, sabe muito bem que pode aduzir somente comparações precárias. Podem ser vistas línguas “como” de fogo. Por essa razão seu relato também não representa uma contradição com a visão de João, que vê o Espírito descer “como uma pomba”. Quem jamais experimentou pessoalmente o Espírito Santo não sabe que Ele é “fogo”, aquecedor, purificador, consumidor, que incendeia o coração, que Ele é “tempestade” que impele com força irresistível, e que Ele apesar disso sempre aquele Espírito silencioso que se distingue completamente de toda agitação humana e de todo alvoroço demoníaco.
As línguas são descritas como “separando-se”. Talvez deveríamos traduzir diretamente: “distribuindo-se”. Não está sendo referida a imagem de labaredas repartidas, mas o compartilhamento pessoal do fogo do Espírito a cada indivíduo do grande grupo. Por isso Lucas continua no singular, apesar da recém-mencionada pluralidade de línguas: “… e ele pousou sobre cada um deles.” Nessa formulação aparentemente desajeitada expressa-se certeiramente que é o mesmo Espírito Santo indivisível que, não obstante, agora é concedido pessoalmente a cada um.
4 “E todos ficaram cheios do Espírito Santo.” O Espírito é como um mar de fogo que desce do alto, que com suas “línguas” alcança todos os reunidos. Recebem o Espírito não apenas os apóstolos, os “ministros”. Também os demais discípulos são presenteados com ele, inclusive as mulheres. Sim, desde o início vigora na igreja de Jesus que “não há… nem homem nem mulher” (Gl 3.28). É por essa razão que em seu discurso Pedro olha para a palavra de Joel, que cita expressamente as “servas” e “filhas”, ao lado dos “filhos” e “servos”, como destinatárias do Espírito e de seus efeitos.
O que, porém, o Espírito efetua? Somente cumprimento interior e alegria nos próprios agraciados? Isso seria uma contradição à linha básica de toda a revelação da Escritura. Jamais os poderosos feitos de Deus estão presentes apenas para nossa felicidade pessoal! Eles sempre preparam pessoas para Deus, para a honra de Deus e para a cooperação na história salvadora de Deus entre os seres humanos. Assim, pois, experimentam-no também os discípulos. “E passaram a falar em outras
línguas, segundo o Espírito lhes concedia que proferissem.” O Espírito Santo concede “proferir”. O termo grego usado refere-se a um falar inflamado ou entusiasmado. Os discípulos não estão “pregando”! Lucas expôs com muita clareza que a “pregação” propriamente dita, com suas exposições tranqüilas (ainda que poderosas para compungir o coração!), haveria de ser somente tarefa de Pedro. Como, afinal, 120 pessoas seriam capazes de “fazer pregações” ao mesmo tempo? Quem poderia prestar atenção neles? Igualmente é digno de nota que pessoas contrariadas entre a multidão podiam ter a impressão acerca dos discípulos de que: “Estão cheios de vinho novo.” Isso deixa claro que não podia tratar-se de “pregações em diversos idiomas ou dialetos”. Pois nesse caso, como cada ouvinte teria conseguido chegar perto justamente daquele discípulo que falava sua língua materna? E a pregação em diversos idiomas tampouco gera a impressão da “embriaguez”. Não, esse “falar com outras línguas” deve ter sido o primeiro “falar em línguas” do cristianismo. Diante desse fenômeno, o observador de fora podia dar de ombros e dizer: “doidos!” (1Co 14.23) ou, como aqui, “bêbados!”. Afinal, também possui redobrada importância que mais tarde Pedro faz um paralelo expresso entre o “falar em línguas” dos gentios presenteados com o Espírito e o evento de Pentecostes: At 11.15, 15.8 relacionado com At 10.44-46. O “falar em línguas”, porém, não era “pregação,” mas adoração, louvor, exaltação, gratidão (At 10.46; 1Co 14.14-17). Em consonância, os discípulos estão enaltecendo aqui, ao orar em línguas, os grandes feitos de Deus. Isso podia ser feito simultaneamente, no grande grupo. Com razão, a partir de amargas experiências, alimentamos desconfiança contra todos os fenômenos “entusiastas”. Contudo, isso não deve nos impedir de ver que em Atos dos Apóstolos o “falar em línguas” é considerado como sinal especial da eficácia do Espírito e que também o próprio Paulo falava muito em línguas (1Co 14.18). Sem nenhuma dúvida, Lucas se posiciona da mesma forma como Paulo em 1Co 14.5 na valoração do Espírito. Não é a jubilosa oração em línguas do grupo de discípulos que cria o movimento de arrependimento que leva à constituição da primeira igreja, mas o anúncio de Pedro (o “profetizar”). Apesar disso, o que aconteceu nessa manhã de Pentecostes continua sendo algo grandioso. Na verdade, os discípulos já sabiam antes de Deus e criam nele. Igualmente eram capazes de orar com uma seriedade e persistência que nos envergonha até mesmo antes do Pentecostes. Agora, porém, a realidade e glória de Deus estão diante deles no Espírito Santo, de maneira tão extraordinária que eles esquecem completamente de si mesmos e de tudo em torno de si, podendo tão somente adorar e exaltar a Deus. O que vêem diante de si, pelo Espírito, acerca da sabedoria, da santidade, do amor e da misericórdia de Deus excede todo pensar e falar humanos. Todas as palavras do linguajar comum fracassam diante disso. Somente “em outras línguas” ainda se pode adorar a “grandiosidade” (possível tradução para “grandes feitos” de Deus) da essência, dos pensamentos e dos feitos de Deus.
5/6 Em tudo os discípulos estão completamente voltados para Deus. “Pois quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus” (1Co 14.2a). Ainda assim sua oração se torna um “testemunho” e o começo de seu ministério de acordo com a promessa de seu Senhor (At 1.8). Todo esse evento não pode permanecer ignorado em Jerusalém. Na cidade não há apenas visitantes da festa, presentes temporariamente. Do judaísmo amplamente disperso no mundo41 eram atraídos à terra prometida e à sua capital precisamente os “homens devotos”, para fixar residência onde o Messias haveria de aparecer, no Monte das Oliveiras (Zc 14.4), e marchar até o templo (Ml 3.1). “Quando, pois, se fez ouvir aquela voz” – provavelmente “voz” designa todo o acontecimento audível, o zunido e o falar e louvar em alta voz pelos discípulos – “afluiu a multidão.” Sabemos como isso acontece: primeiro algumas pessoas notam o fenômeno e se aproximam, depois cada vez mais pessoas ficam paradas, e a notícia se espalha com rapidez, atraindo novas turmas.
Nesse momento alia-se ao primeiro acontecimento o verdadeiro milagre de Pentecostes. Sobre falar em línguas publicamente na igreja Paulo afirmou que somente faz sentido e tem razão de ser se houver alguém que o “interprete” ou “traduza” (1Co 14.13,27,28). Esse entendimento e tradução do falar em línguas igualmente representa um dom próprio do Espírito (1Co 12.10). No dia de Pentecostes, porém, o próprio Espírito Santo realiza esse serviço de tradução, sem mediação humana. E o faz tão intensamente que muitos na multidão não apenas entendem que os discípulos estão exaltando os grandes feitos de Deus, mas também ouvem-nos falar na própria língua materna conhecida. O evento de Pentecostes é, portanto, não apenas a primeira ocasião em que a igreja é presenteada com o “falar em línguas”, mas também um “milagre de audição”. Duas vezes Lucas salienta: “…cada um os ouvia falar na sua própria língua” (v. 6) e “… os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus” (v. 11). Não eram os discípulos que falavam idiomas
distintos, mas o ouvinte é que escutava todos os discípulos (“nós os ouvimos”) na sua língua, compreendendo-os diretamente. Nesse ouvir processa-se o efeito do Espírito Santo, que cria nos ouvintes a “interpretação” do falar em línguas, que mais tarde é conferida como dom espiritual específico a alguns membros da igreja (1Co 12.10; 14.5; 14.27).
Lucas não fez nenhuma tentativa de explicar o fenômeno, e nem sequer de descrevê-lo mais de perto. Isso teria sido impossível, assim como tampouco existe e nem pode haver uma “descrição” da ressurreição de Jesus, de seu corpo ressuscitado ou de sua ascensão. Aquilo que está ocorrendo agora é “sinal”, do mesmo modo como o vento impetuoso e o fogo com suas línguas. Isso é salientado pela circunstância de que não havia uma necessidade para esse milagre. Afinal, a multidão que afluiu não consistia de gentios nativos dos diversos países citados, que somente eram capazes de falar e entender seu próprio idioma, precisando por isso de um milagre para de fato conseguir ouvir os “homens galileus”. Conforme é dito expressamente, todos eram “judeus”. Que outras pessoas estariam morando em Jerusalém ou presentes à festa na cidade? Esses judeus, porém, falavam aramaico, ou pelo menos o entendiam, mesmo que fossem “helenistas” inteiramente acostumados à língua franca grega ou também às línguas locais da terra que haviam colonizado. Ao que tudo indica, Pedro pôde interpelá-los todos em sua pregação (aramaica), sem que outro milagre especial de línguas ou audição se torne perceptível novamente.
Contudo, como sinais, o acontecimento do falar em línguas e o milagre da audição no dia de Pentecostes se revestem de importância abrangente. Muitas vezes afirmou-se que Pentecostes seria a contrapartida da confusão lingüística babilônica após a construção da torre, e uma misericordiosa anulação da mesma. Mas isso não confere tão diretamente. Porque, em primeiro lugar, aquelas pessoas em Jerusalém não são membros dos diversos povos, mas somente judeus; e, em segundo lugar, eles não estão ouvindo um “esperanto divino”, que substitua os respectivos idiomas, mas cada qual ouve seu próprio dialeto. A diversidade das línguas, portanto, não foi anulada! E apesar disso é correto e necessário que o olhar da igreja de Jesus se volte constantemente de At 2 para Gn 11. A gravidade do juízo sobre a construção da torre não consiste primeiramente em que as pessoas passassem a falar diversas línguas, mas “que um não entende a linguagem de outro” (Gn 11.7). No dia de Pentecostes, porém, Deus concede através do Espírito Santo que, em meio à diversidade continuada das línguas, ainda assim se ouça e compreenda o louvor a Deus nos lábios dos discípulos. Mais uma vez se torna claro porque Pentecostes é tão significativo como “milagre de audição” e não como “milagre de línguas”. Porquanto esse “milagre de audição” se prolonga no sentido mais íntimo também no discurso aramaico de Pedro, o qual cada um podia acompanhar sem problemas em termos de língua. Também na “profecia”, i. é, na proclamação concedida e autorizada pelo Espírito de Deus processa-se o milagre da “compreensão”, que nenhuma arte humana consegue engendrar. É uma compreensão que primeiramente abre o coração para a palavra e toca as mais diversas pessoas do mesmo modo, colocando-as na presença de Deus (cf. 1Co 14.24!). Por isso a missão vive constantemente no capítulo do Pentecostes em Atos dos Apóstolos e constata que no milagre de Pentecostes se iniciou e prometeu sua ação mais própria. Porque também a missão não substituiu, por sua iniciativa, os idiomas das etnias por um idioma mundial qualquer, a fim de anular a “confusão de línguas”, mas se empenhou, com amor ardente e com diligência inédita dele resultante, em prol das línguas dos povos, entrando até em seus diversos dialetos. Verdadeiramente, no campo de missão os grandes feitos de Deus devem ser ouvidos por “cada um em sua própria língua”! Ao mesmo tempo, porém, o evangelho cria nesse evento a profunda compreensão e a unanimidade cordial entre pessoas que antes eram completamente estranhas entre si e se odiavam e matavam. Na essência isso corresponde exatamente ao evento de Pentecostes daquela época e à formação da primeira igreja em Jerusalém. Com razão e justiça enaltecemos até os dias de hoje a Deus e ao seu Espírito: “… que pela multiplicidade das línguas reuniste os povos de todo o mundo na unidade da fé.”
Nisso se explicita a importância duradoura do evento de Pentecostes. Ele é um episódio tão único e não-repetível quanto Natal, Sexta-Feira Santa e Páscoa. Somente uma única vez houve manjedoura e fraldas, cruz e coroa de espinhos, sepultura vazia e sudário dobrado. Também o ruído tempestuoso, o fogo e um ouvir nas respectivas línguas não se repetiu jamais. Apesar disso, os grandes feitos divinos de salvação se oferecem à igreja crente como posse duradoura. Ainda na parusia veremos no Filho de Deus a humanidade por ele assumida no Natal. Em cada dia e em todos os lugares possuímos a salvação que foi consumada no Calvário. Sempre e em todos os locais Jesus é nosso Senhor ressuscitado e presente. É assim que o Espírito que desceu no dia de Pentecostes habita na
igreja de todos os tempos. Repetidamente ele gera o verdadeiro “ouvir” e “entender” da proclamação e adoração, unindo pessoas para a irmandade da igreja. “Pentecostes” não precisa nem tolera uma repetição, assim como tampouco “Sexta-Feira Santa” ou “Páscoa”. Não nos cabe esperar por um “novo Pentecostes”, mas sim dar espaço ao Espírito que está presente desde o dia de Pentecostes.
8-11 Que excelente autor é Lucas! Ele não insere no v. 5 uma lista monótona dos muitos países, mas faz com que as pessoas comovidas digam com admiração de que regiões distintas cada uma veio. São citados somente aqueles países em que havia círculos judaicos especialmente numerosos e fortes. Podemos localizar facilmente todas as regiões no mapa, obtendo pessoalmente uma impressão da vastidão e multiplicidade que naquele tempo comoveu as pessoas em Jerusalém. “Ásia” referia-se naquela época ao nome da província romana (e não ao continente), àquilo que agora conhecemos como “Ásia Menor”, e somente o litoral ocidental dessa região. Chama atenção que se menciona a “Judéia” e ainda mais ligada à “Capadócia”. Na Judéia não se falava nenhum dialeto em especial. A rigor, também “cretenses” e “arábios” parecem ser um acréscimo, depois que Roma é citada na conclusão, levando à constatação de que havia na multidão tanto judeus de berço quanto também prosélitos. Talvez a menção da “Judéia” vise ressaltar mais uma vez (como no v. 5): são todos judeus, em parte de nascença, em parte integrados posteriormente, ao passo que “cretenses e árabes”, os moradores das costas e dos desertos, resume todos os citados como povos do Ocidente e Oriente. Nesse caso, a referência especial da “Judéia” confirmaria a tese de que a exaltação dos grandes feitos de Deus “em outras línguas segundo o Espírito lhes concedia que proferissem” era de fato o “falar em línguas” bíblico, que tinha de ser traduzido até mesmo para os judeus da terra judaica, antes de se tornar compreensível para eles em seu idioma.
Mais uma vez é enfatizado: “Nós os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus”. Os discípulos não falam de si, de seus pensamentos, descobertas, circunstâncias do coração e seus sentimentos. Tudo neles foi completamente conquistado pela magnitude e pela glória de Deus e por seus feitos redentores. E justamente isso constitui o sinal confiável da ação do Espírito! Por natureza nós nos preocupamos conosco mesmos. Por isso, quando constatamos que pessoas, por mais belas e bíblicas que sejam suas palavras, giram em torno de si mesmas e de sua própria situação, com certeza há muito pouco do Espírito Santo nelas. Mas quando pessoas são libertas de si mesmas e direcionadas para Deus, de sorte que seu coração e, por conseqüência, seus lábios são movidos por Deus e ficam repletos de Deus, então com certeza o Espírito Santo realizou a sua obra.
Da maior importância é o versículo final do presente trecho. Nele se torna claro mais uma vez porque a oração em línguas dos discípulos, causada pelo Espírito, apesar da “interpretação” através do próprio Espírito nos corações dos ouvintes, ainda não pode ser o momento essencial e decisivo do grande dia. Também nos casos favoráveis levou somente à admiração e à indagação perplexa: “Todos, atônitos e perplexos, interpelavam uns aos outros: Que quer isto dizer?” Em outros essa perplexidade foi acobertada pela zombaria: “Outros, porém, zombando, diziam: Estão cheios de vinho novo!” Nenhum deles havia sido interiormente vencido! A pergunta por enquanto impessoal “Que quer isso dizer?” ainda não chegou à pergunta pessoal, penetrante: “Que faremos, irmãos?” [v. 37]. Mais tarde Paulo formulou claramente nos cap. 12-14 de sua 1ª carta aos Coríntios: não é o “orar em línguas”, mas o “profetizar” que constitui o dom decisivo do Espírito, do qual a igreja tem a mais urgente necessidade. Porque somente a proclamação clara na autoridade do Espírito Santo atinge as consciências, revela a condição do ser humano e conduz à redenção e à conversão das pessoas. É por isso que o verdadeiro efeito da efusão do Espírito no dia de Pentecostes se manifesta somente na “prédica de Pentecostes” de Pedro.
O “SERMÃO PENTECOSTAL” DE PEDRO - Atos 2.14-36
14 – Então, se levantou Pedro, com os onze; e, erguendo a voz, advertiu-os nestes termos: Varões judeus e todos os habitantes de Jerusalém, tomai conhecimento disto e atentai nas minhas palavras.
15 – Estes homens não estão embriagados, como vindes pensando, sendo esta a terceira hora do dia.
16 – Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel:
17 – E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos;
18 – até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão.
19 – Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça.
20 – O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso Dia do Senhor.
21 – E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.

14 Mesmo nas pessoas receptivas todos os fenômenos maravilhosos do dia de Pentecostes causam nada mais que consternação e a pergunta perplexa: “Que quer isso dizer?” Por essa razão não queremos ansiar de maneira falsa por milagres, como se eles já tr ouxessem decisões. A decisão é obtida somente pela palavra clara da proclamação autorizada. Novamente Pedro – agora também perante o grande público – assume sua tarefa. Coloca-se de pé e ergue sua voz. Ele o faz “com os onze”. Justamente perante Israel é importante o testemunho dos Doze, ainda que apenas Pedro faça uso da palavra entre eles e em nome deles.
15-36 Se analisarmos essa primeira “prédica cristã” como um todo, chama a atenção sua poderosa objetividade. Começa solucionando sucintamente a acusação zombeteira da embriaguez: às nove horas da manhã essa acusação perde sua força entre judeus sérios. Não, não é possível evadir-se tão facilmente assim do evento do Espírito. A prédica termina com um breve apelo, mas que também é antes uma importante constatação do que um verdadeiro convite: “Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Ungido.” De resto omite-se nessa pregação qualquer convocação, qualquer insistência na decisão, qualquer estímulo intencional das sensações; há unicamente palavras da Escritura e fatos, palavras da Escritura que lançam luz sobre os fatos, fatos que cumprem as palavras da Escritura, tornando-as uma realidade atual – é o que predomina em todo o discurso. Para esse grupo de ouvintes as palavras da Escritura obviamente eram autoridade absoluta por princípio, e esses fatos diziam respeito à própria existência dos ouvintes. O sermão de Pedro é sumamente atual. Não havia necessidade de apelos especiais nem de investidas contra os sentimentos. Os fatos e as palavras da Escritura em seu
relacionamento recíproco eram um ataque único à existência completa de cada judeu, atingindo-o diretamente no coração. Ademais, o discurso é simples e sem arte – o que não é uma arte quando se tem a dizer coisas tão portentosas como Pedro naquela hora!
Pedro expõe a seus ouvintes somente promessas da Escritura e seu cumprimento factual. Ainda não fornece uma interpretação teológica. Não diz que Jesus é Filho de Deus e existiu antes do mundo, designando Jesus apenas como “o homem aprovado por Deus”. Não diz nada sobre a necessidade e da compreensão salvífica da morte na cruz. Tampouco traz uma doutrina sobre “carne e espírito”. Pedro não onera sua pregação com coisas que seus ouvintes ainda não podiam entender e que no momento tampouco precisavam entender para sua decisão. A pregação do Pentecostes é proclamação genuína e exemplar também pelo fato de que se insere integralmente na situação dada e somente profere o que é necessário no aqui e agora.
16 Pedro respondeu sucintamente aos zombadores. Agora se dirige aos que perguntam abalados e consternados: “Que quer isso dizer?” Dá uma resposta clara e determinada a eles: “Isso é o que ocorre!”, a saber, aquilo “que foi dito por intermédio do profeta Joel.” Coloca diante deles Jl 2.28-32. E como outrora fez o próprio Jesus na pregação em Nazaré com a palavra de Isaías, assim Pedro afirma agora a respeito da profecia de Joel: “Hoje se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir” (Lc 4.16-21). É possível elaborar considerações sensíveis e corretas a respeito de ambas as profecias. Mas como é impactante anunciar às pessoas: profecia antiga se cumpriu diante de vossos olhos interiores! De objeto de observações edificantes, a antiga palavra da Bíblia passa a ser presença ardente no meio de vós! Hoje e aqui estais sendo partícipes da história divina!
17/20 A palavra de Joel, à qual Pedro recorre, é escatológica. Por meio dela Pedro declara: o acontecimento de Pentecostes é um acontecimento do fim dos tempos, “antes que venha o dia do Senhor, o grande e glorioso”. O tempo do fim, há muito anunciado, esperado e almejado – agora ele começa. Os ouvintes experimentam seu início na efusão do Espírito. Desse modo, todo o NT se apóia na certeza de se situar nos últimos dias.
Verificando o texto de Joel no próprio AT, notaremos que Pedro processa uma alteração explicativa em Jl 2.28ss. Deus havia ordenado ao profeta que anunciasse que nessa efusão do Espírito “sobre toda a carne” até escravos e escravas estariam incluídas (como também se cumpriu literalmente no primeiro cristianismo). Pedro, porém, formula assim: “…sobre os meus servos e sobre as minhas servas.” Porque era assim que Deus acabava de conceder o cumprimento de sua promessa: Ele começa nesse pequeno grupo de servos e servas de Deus, apresentado aos ouvintes nessas cento e vinte pessoas. Ainda estão por acontecer os “prodígios no céu” e os sinais “na terra”. O tempo escatológico é longo e rico em conteúdos. Contudo, já vimos em nossa geração coisas verdadeiramente apocalípticas em termos de “sangue, fogo e colunas de fumaça”.
21 Não há necessidade de nenhum “apelo” especial quando se testemunha às pessoas: vocês estão vivenciando o começo do tempo escatológico. Isso define para cada um a gravidade extrema da decisão. O fim dos tempos traz consigo o “dia do Senhor”, “grande e glorioso”, como Pedro afirma com as palavras da LXX. O texto original hebraico fala do “grande e terrível” dia do Senhor. De qualquer forma, porém, a salvação do ser humano está em jogo nesses dias. Quando se interrompe todo esse curso do mundo, quando o próprio Deus se mostra com toda a Sua santidade e justiça e realiza Seu julgamento infalível, quando ninguém mais consegue escapar e se ocultar, quando está em jogo a vida eterna ou a morte eterna – quem, então, pode ser salvo? A pergunta das perguntas! Toda vez que o NT fala de salvação, precisamos lembrar disso. Desde o início, a mensagem do NT não trata de proporcionar auxílio em várias dificuldades da vida ou de melhorar o ser humano moral ou religiosamente, mas da salvação no dia do Senhor, o grande, glorioso e terrível dia. Contudo a resposta de todo o NT também é unânime: “E acontecerá: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”. Por “Senhor” sempre se subentende “Senhor Jesus Cristo, o crucificado e ressuscitado”. É assim que a palavra de Joel também foi citada por Paulo em Rm 10.13.

ATOS 1.12-26

12 – Então, voltaram para Jerusalém, do monte chamado Olival, que dista daquela cidade tanto como a jornada de um sábado.

13 – Quando ali entraram, subiram para o cenáculo onde se reuniam Pedro, João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, filho de Tiago.
14 – Todos estes perseveravam unânimes em oração, com as mulheres, com Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele.

15 – Naqueles dias, levantou-se Pedro no meio dos irmãos (ora, compunha-se a assembléia de umas cento e vinte pessoas) e disse:
16 – Irmãos, convinha que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo proferiu anteriormente por boca de Davi, acerca de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam Jesus,
17 – porque ele era contado entre nós e teve parte neste ministério.
18 – (Ora, este homem adquiriu um campo com o preço da iniqüidade; e, precipitando-se, rompeu-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram;
19 – e isto chegou ao conhecimento de todos os habitantes de Jerusalém, de maneira que em sua própria língua esse campo era chamado Aceldama, isto é, Campo de Sangue.)
20 – Porque está escrito no Livro dos Salmos: Fique deserta a sua morada; e não haja quem nela habite; e: Tome outro o seu encargo.
21 – É necessário, pois, que, dos homens que nos acompanharam todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós,
22 – começando no batismo de João, até ao dia em que dentre nós foi levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição.
23 – Então, propuseram dois: José, chamado Barsabás, cognominado Justo, e Matias.
24 – E, orando, disseram: Tu, Senhor, que conheces o coração de todos, revela-nos qual destes dois tens escolhido
25 – para preencher a vaga neste ministério e apostolado, do qual Judas se transviou, indo para o seu próprio lugar.
26 – E os lançaram em sortes, vindo a sorte recair sobre Matias, sendo-lhe, então, votado lugar com os onze apóstolos.

12 A palavra dos anjos faz parte da instrução que os apóstolos receberam do próprio Jesus diretamente antes de sua despedida. Os apóstolos compreendem a situação! Compreendem o que Jesus sintetizou na sucinta palavra: “Negociai até que eu volte!” (Lc 19.13). Não é hora de ficar olhando com saudades ou admiração enquanto Jesus se afasta. Tão logo vier o Espírito, começará o grande trabalho em Jerusalém. Nesse trabalho eles sentirão que o Senhor invisível age com poder (At 2.47). Todo o trabalho, porém, está debaixo da responsabilidade do Senhor, que no Seu dia novamente estará “presente” e “visível” e examinará nossa obra pelo fogo (2Co 5.10; 3.11ss). É por isso que, obedientes, eles tiram as conclusões corretas. Não solicitam aos anjos mais esclarecimentos escatológicos, mas “voltaram para Jerusalém”.
Agora também é mencionado o local da ascensão: o monte que traz o nome de “Jardim das Oliveiras” ou “Horto das Oliveiras” e que conhecemos como “Monte das Oliveiras”. Bem diante deles, “distante como a jornada de um sábado”, está a cidade, à qual retornam, rumo à emocionante história de sua vida, com seus altos e baixos, com os acontecimentos esperados e inesperados que Lucas deseja relatar.

14 – Todos estes perseveravam unânimes em oração, com as mulheres, com Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele.
13 Os discípulos cumprem a ordem de Jesus: “Esperem!” Para isso, recolhem-se ao silêncio oferecido pelo “cenáculo” [recinto superior], diferente das peças da casa no andar de baixo. Lucas afirma expressamente que esse não apenas era um encontro isolado depois da ascensão, mas que levou a uma reunião permanente durante todos os dias. Sim, teremos de imaginar essa casa com a peça no
andar superior como sendo o local de permanência constante dos apóstolos enquanto de fato estavam em Jerusalém.
A espera não é nem impaciente e agitada, nem vazia e inativa. É plena de “perseverar em oração”. Todo israelita conhecia a oração desde a infância. Mais tarde os discípulos haviam recebido o ensino de Jesus sobre como orar, tendo sempre diante de si o Seu exemplo. Naturalmente não precisamos imaginar que ali ficavam de joelhos da manhã até a noite, proferindo orações. Contudo, esses dias foram determinados pelo falar com Deus, relembrando tudo o que haviam vivenciado, e em expectativa esperançosa pelo que lhes havia sido prometido e ordenado. Essa oração não era algo ligado ao sentimento religioso, mas era trabalho sério da vontade. É assim que se preparam acontecimentos divinos: na espera por determinadas promessas de Deus e na oração consistente e perseverante.
Recebemos a informação sobre quem esteve reunido naqueles dias de preparação. Em primeiro lugar são os onze apóstolos. São arrolados expressamente pelo nome. Muitas vezes Atos dos Apóstolos foi criticado porque a obra de modo algum faz justiça ao seu nome. Na realidade estaríamos ouvindo pormenores somente sobre Pedro, e nem sequer a respeito dele haveria uma história abrangente de sua vida e atuação. O que os demais fizeram em sua vocação apostólica nem sequer estaria sendo contado. Mas também nesse caso a Bíblia difere substancialmente de nosso interesse por pessoas de renome. Na Bíblia não existe nenhuma “biografia”, nem mesmo as de Isaías ou Jeremias. Homens como o profeta Micaías em 1Rs 22.28 surgem e desaparecem, sem que sejamos informado a respeito de sua atuação, que de forma alguma se limitou a essa uma aparição. Da mesma forma, Lucas também não escreve nada sobre a história de cada apóstolo. No entanto, a reunião deles em oração, a vivência conjunta da história do Pentecostes, a contribuição na construção da primeira igreja e a participação na liderança da igreja em formação é obra apostólica completa (cf. At 2.1,14,37,42; 4.33; 5.15,40-42; 8.14). Eles não importam como originais isolados, biograficamente interessantes, mas como grupo de doze, que o próprio Jesus havia convocado e que está solidariamente no serviço.
No entanto, agregavam-se aos apóstolos também “mulheres”. Dificilmente eram apenas esposas dos apóstolos e dos irmãos de Jesus, mas sobretudo aquelas mulheres às quais justamente Lucas atribui uma participação importante na obra de Jesus: Lc 8.2s; 23.49,55; 24.10. É significativo para a igreja de Jesus que nela a mulher receba um papel bem diferente do que na sinagoga. Isso também aflora intensamente neste momento: mulheres participam do preparo de Pentecostes pela oração (cf. também o comentário a At 8.3).
Também Maria, a mãe de Jesus, está presente com os irmãos de Jesus. É nesse ponto que o NT cita pela última vez o nome de Maria. Não a encontramos numa posição de honra, mas colocada lado a lado com as demais mulheres com um singelo “e”. Sobre a posição anterior dos irmãos de Jesus lemos em Mc 3.31-35 (v. 21!); Jo 7.3-8. O próprio Jesus havia recusado todas as reivindicações de sua família. Contudo, nos dias de Páscoa ele também foi ao encontro de seu irmão Tiago (1Co 15.7), e Tiago chegou à fé. Ao que parece, isso fez com que a família toda entrasse na igreja, na qual Tiago obteve uma posição de liderança ao lado dos apóstolos (cf. o comentário sobre At 12.17; Gl 2.9; At 15.13ss).
14 “Todos esses perseveraram unânimes em oração.” Existe também “unanimidade” no campo contrário: At 7.57; 18.12; 19.29; é a unanimidade da excitação acalorada. Tanto mais importante é a tranqüila e concentrada unanimidade dos discípulos de Jesus, que leva à comunhão de oração. De acordo com a promessa do Sl 133 ela constitui uma premissa básica para bênçãos divinas. Ninguém em Jerusalém deve ter dado muita atenção ao pequeno grupo que se reunia ali em segredo, no recinto superior de uma casa. Muito menos alguém em Roma e na corte do imperador tinha qualquer suspeita disso. Não obstante: aqui acontecia algo que superava todos os grandes e ruidosos processos da política e da economia, tornado-se a premissa para uma história de alcance mundial, que inclui também a nós e desemboca no futuro eterno.

Agora vemos que “aqueles dias” de fato não estavam preenchidos apenas com a oração como tal. Oração verdadeira sempre nos insere também nas nossas tarefas. Os discípulos falam com Deus sobre o envio do Espírito e sobre a imensa obra que se abre diante deles, pessoas humildes da Galiléia. Em vista disso, eles se deparam com a enigmática e dolorosa situação de que há uma lacuna em seu grupo. Foram doze os apóstolos que o Senhor convocara para as doze tribos de Israel; e agora perfazem apenas onze. Não precisam se tornar completos antes de começar a trabalhar em Israel?
15 Pedro assume a tarefa que Jesus lhe deu em Cesaréia de Filipe (Mt 16.18s) e que lhe transferiu novamente após a Páscoa no mar de Tiberíades (Jo 21.15-17). Ele reúne um círculo grande de discípulos de Jesus, de sorte que cerca de cento e vinte “nomes” estavam reunidos “no mesmo lugar”. A expressão “nome” representa o que nós designamos com a palavra “pessoa”. O local da reunião dificilmente seria o cenáculo, que não ofereceria espaço para cento e vinte pessoas, mas outra sala, talvez também o pátio da casa. No Oriente, a vida transcorre muito mais ao ar livre do que entre nós.
Pedro “levanta-se no meio dos irmãos” e toma a palavra. Aqui algo muito grandioso se torna visível: a realidade plena do perdão! Quem está se levantando no meio dos irmãos é aquele homem que traiu o Senhor. Todos os reunidos têm conhecimento disso. Será ele ainda “digno” de ser o dirigente em seu meio? Acaso não havia perdido toda a autoridade? Não se manifesta desprezo e rejeição contra ele? Nem aqui nem mais tarde palavra alguma é dita a respeito disso! Milagrosamente, a primeira igreja foi capaz de ambas as coisas: não dissimular a queda de Pedro, mas relatá-la com toda a clareza no próprio evangelho, e ao mesmo tempo reconhecer sem restrições em Pedro o cabeça do grupo dos discípulos. O perdão que Jesus concedeu a Pedro, como a todos eles, havia apagado integralmente a culpa dele, como a deles também. Conseqüentemente, o próprio Pedro também não está diante deles inseguro, com sentimentos de inferioridade. Também ele acolhe o perdão com toda a sua glória, assumindo seu lugar com uma obediência objetiva.
Em sua atitude Pedro traz no coração a palavra de Jesus que exclui do grupo dos discípulos qualquer dominação mundana (Mt 20.25-28). Por isso Pedro não ordena as coisas de forma determinante a partir de si mesmo (“episcopalmente”), e tampouco delibera sobre elas no círculo de seus colegas apóstolos, mas dirige-se conscientemente à “igreja”, ainda que agora ela seja formada apenas por esse grupo variável de discípulos.
16/19 De acordo com o costume da Antiguidade e também do judaísmo, ele interpela somente os “homens e irmãos”. É assim que está registrado também nas cartas apostólicas. Nosso costumeiro “Amados irmãos e irmãs!” é desconhecido no NT. Ocorre, porém, que são precisamente as cartas que mostram – basta lembrar a “lista de saudações” em Rm 16! – com que intensidade as mulheres também estavam envolvidas na construção da igreja. Por isso, conforme diz o v. 14, com certeza elas estavam presentes nessa primeira “assembléia da igreja” e de fato incluídas na interpelação.
Para o discurso subseqüente vale o que afirmou G. Stählin (op. cit., p. 23): “É a forma artística do assim chamado discurso breve. Consiste somente de frases que de fato poderiam ter sido ditas num discurso verbal, mas em termos de conteúdo representa tão somente um resumo sucinto do verdadeiro discurso.” Ademais, o v. 19 não deve pertencer diretamente ao discurso do próprio Pedro, mas ser uma “anotação” de Lucas. Isso porque Pedro falava a seus companheiros na língua aramaica que o povo de Jerusalém usava, e para eles não haveria necessidade de traduzir a palavra “Aceldama”. Para Teófilo, porém, e os leitores gregos de Atos dos Apóstolos essa referência que Lucas intercala nas considerações de Pedro era necessária.
Os informes sobre os quais Lucas alicerça seu relato divergem daquilo que Mateus nos conta sobre o fim de Judas e sobre o “Campo de Sangue” (Mt 27.3-10). Isso não é surpreendente. Nós mesmos já presenciamos diversas vezes como pessoas, que haviam sido testemunhas oculares de determinado acontecimento, mais tarde dão descrições bastante diferentes do mesmo entre si. E até quando compartilhamos lembranças de experiências que tivemos em conjunto, como é diferente a maneira como cada um guardou as imagens em sua memória. Isso não deve levar à conclusão tola de que o respectivo acontecimento nem teria acontecido e que os informantes teriam apenas imaginado tudo. Pelo contrário, as variações comprovam a autenticidade das declarações das testemunhas: nada foi combinado e ajeitado. E tudo aquilo que é essencial é apresentado de forma concordante nos diversos relatos. É o que também acontece aqui. Não visamos harmonizar artificialmente a tradição de Mateus com a de Lucas. Mas queremos prestar atenção nas linhas essenciais que são iguais em ambos: o traidor chegou a um fim terrível pouco tempo depois de seu ato; seu dinheiro tornou-se funesto para ele. Isso não ficou oculto, mas tornou-se de domínio público em Jerusalém. A memória disso – como costuma acontecer entre o povo – fixou-se ao nome de um terreno que se relaciona com o dinheiro do sangue do traidor e por isso é chamado de “Campo de Sangue”. É isso que precisamos saber. Nisso mostra-se a seriedade do juízo divino.
16/17 Essa seriedade determina a atitude de Pedro. Ressalta mais uma vez o lado terrível do ato de Judas. Aquele homem que “era contado entre nós e obteve parte neste ministério” tornou-se “o guia daqueles que prenderam Jesus”. Não se ensaia nenhuma palavra para explicar profundamente esse processo. Aqui, como em todo verdadeiro “pecado”, não há o que “explicar”. Qualquer “explicação” seria um passo para anular a culpa. Contudo, tampouco se diz alguma palavra ofensiva sobre Judas. O que Pedro afirma está completamente isento do odioso prazer com que nós facilmente nos levantamos, cheios de indignação, contra um culpado. Deus já julgou de forma suficientemente grave, toda Jerusalém o sabe. Nessa questão o veredicto humano pode e deve calar-se.
16 Ainda se ouvem resquícios da consternação: “Era contado entre nós!” Contudo, essa consternação foi superada por meio do refúgio na palavra da Escritura. Foi isso que a igreja de Deus experimentou em todos os tempos, até hoje: justamente na hora dos eventos enigmáticos, difíceis de suportar, abre-se subitamente para nós uma palavra da Escritura. Ela adquire um sentido completamente novo para nós e lança sua luz sobre a escuridão dos fatos. Percebemos com gratidão: o que era incompreensível para nós, o que nos causou tamanhas preocupações e aflições, foi previsto por Deus e incluído em Seu plano. Há muito tempo Deus já deu Sua palavra a esse respeito. Então não existe objeção a que a respectiva palavra bíblica “objetiva” ou “historicamente” fale de algo bem diferente. Obviamente os Sl 69.25 e 109.8 inicialmente eram orações gerais de fiéis contra inimigos cruéis. Esses salmos já haviam sido orados várias vezes desse modo por pessoas aflitas. Mas quando Pedro refletiu com os demais apóstolos sobre o episódio com Judas, essas antigas palavras o atingiram de forma nova. Não foi a ação de Judas como tal que havia sido “predestinada”! Na Bíblia não se buscam teorias sobre a relação entre determinações divinas e culpa humana. Ambas as realidades vigoram assim como as experimentamos pessoalmente: o governo divino que a tudo abrange, e a liberdade e responsabilidade próprias do ser humano (sobre isso, cf. sobretudo Rm 9 e a explicação desse capítulo na série Comentário Esperança). Por isso Pedro não soluciona o terrível mistério em torno da traição de Judas e não afirma: essa traição precisava acontecer, porque a Escritura a predisse. Mas de qualquer forma ela foi vista e classificada por Deus. Isso se torna claro no fim do traidor, que corresponde à profecia no salmo de Davi.
20 Foi em vão a tentativa de Judas de assegurar para si uma morada com o “salário da injustiça”! Não, Deus o declarou: “Fique deserta a sua morada; e não haja mais quem habita nela.” De forma correspondente, Deus executou o fim horrível do traidor, provavelmente no terreno recém-adquirido.
Então, porém, é preciso compreender igualmente a outra palavra do salmo: “Tome outro seu cargo de supervisão.” E para isso a assembléia fora convocada.
21/22 Pedro constata inicialmente as exigências imprescindíveis a um “apóstolo”. Um “apóstolo” é acima de tudo uma “testemunha da ressurreição de Jesus”. A ressurreição de Jesus é – obviamente mediante ligação indissolúvel com sua cruz! – o evento decisivo que realmente faz do evangelho um evangelho. Sem o acontecimento do dia da Páscoa, o “cristianismo” jamais teria surgido no mundo. Não teria significado extremo para nós e para o mundo todo o fato de que o ser humano Jesus de Nazaré viveu, ensinou, curou, amou e sofreu, se esse Jesus não tivesse sido despertado por Deus e transformado em seu “Senhor e Cristo” (cf. At 2.32-36; 3.13-15; 4.10-12; 13.38s; 17.30s). Jesus foi “designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos” (Rm 1.4). Essa ressurreição dentre os mortos, contudo, constitui ao mesmo tempo o “impossível”, o humanamente inconcebível e por isso escandaloso, irritante e ridículo (At 17.32). Por isso o testemunho originário do apostolado, fundador da igreja, somente pode ser prestado nesse mundo alienado de Deus por aquela pessoa que presenciou pessoalmente o fato inaudito da ressurreição de Jesus e que experimentou sua verdade. Essa ressurreição, porém, não é um evento isolado em si. Jesus, e unicamente Jesus, é aquele que ressuscitou dentre os mortos! E precisamente Jesus é, como o Ressuscitado, de fato o Salvador glorioso de que os pecadores precisam. Por isso a testemunha de sua ressurreição igualmente precisa ter conhecido bem a Jesus pessoalmente. No entanto, ele não é “apóstolo” como pessoa isolada e solitária, mas – já falávamos disso – unicamente como membro do grupo de apóstolos. Por isso precisa ter estado em contado desde o início com esse grupo a que deverá pertencer integralmente. Ele deve exercer o ministério “conosco”.
23 Havia homens com essa qualificação entre os cento e vinte. Dois deles pareciam especialmente dignos de confiança aos que estavam reunidos. Destacaram José, chamado Barsabás, com o cognome Justo, e Matias. Contudo, nem eles nem os apóstolos queriam tomar pessoalmente a decisão definitiva. Afinal, o Espírito Santo, que mais tarde – p. ex., em At 13.2 – separa e convoca para o ministério, ainda não está presente.
24 Por isso voltam-se ao que “conhece os corações” e em oração perguntam pela vontade dele.
25 Expõem diante dele a necessidade de suas preces. É o que podemos fazer na oração. Judas se demitiu da “vaga neste ministério e envio”, para ir “para seu próprio lugar”, i. é, para a perdição. O lugar vazio precisa ser preenchido e assumido por outro.
26 O Senhor deve decidir agora através do sorteio. O texto não deixa inequivocamente claro se eles “lançam sortes por eles” (assim traduz A. Schlatter) ou se fazem que os dois tirem a sorte. Seja como for, o sorteio indicou Matias como aquele que foi eleito pelo Senhor, e “foi acrescentado aos onze apóstolos” [NVI].
Portanto, tão vivos e múltiplos eram os acontecimentos no começo da igreja! Pedro age a partir de si com sua própria autoridade. Na igreja existem homens que a lideram. Mas então ele convoca a própria igreja para agir, depois que lhe mostrou sobre o que deve dirigir sua atenção. E em oração a igreja entrega a última decisão na mão do Senhor, recorrendo uma vez, aqui no começo, ao método do sorteio. Não se implanta nenhum princípio, nem “episcopal”, nem “democrático”, nem tampouco se estabelece um direito de gozar constantemente da maravilhosa direção através do Senhor. De forma livre fez-se justiça a tudo, conforme a respectiva situação demandava.
Às vezes se afirmou que apesar disso a igreja agiu com precipitação. O décimo segundo apóstolo preparado pelo Senhor seria Paulo, por cuja vocação a igreja deveria ter esperado. Porém, será que a igreja podia esperar durante anos por algo incerto? Para isso ela teria necessidade de uma instrução clara do Senhor. Sobretudo, porém, Paulo nunca se considerou entre os “Doze”, aos quais diferencia expressamente de si em 1Co 15.5 como sendo um grupo especial. Em sua característica numérica, os Doze se dirigiam a Israel. Quem desejasse pertencer a eles de fato precisava ter vivenciado, como Pedro está demandando aqui, a história especial de Deus no âmbito de Israel desde o movimento de arrependimento desencadeado por João até o último desfecho na ascensão de Jesus. Nesse sentido, Paulo não podia ser um apóstolo. Em vista disso, Paulo se considerou pessoalmente uma exceção muito peculiar: 1Co 15.8-10. Ele tinha consciência de ser um “apóstolo das nações”, embora, nessa tarefa, fosse plena e integralmente um “apóstolo” – Paulo lutou com todas as forças pelo reconhecimento de seu envio e autoridade apostólicos – mas não como um dos “Doze”, que juntos exerciam seu ministério em Jerusalém, sobretudo em prol de Israel.

ATOS 17.16-34

7 – PAULO EM ATENAS - Atos 17.16-34
16 – Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se revoltava em face da idolatria dominante na cidade.
17 – Por isso, dissertava na sinagoga entre os judeus e os gentios piedosos; também na praça, todos os dias, entre os que se encontravam ali.
18 – E alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele, havendo quem perguntasse: Que quer dizer esse tagarela? E outros: Parece pregador de estranhos deuses; pois pregava a Jesus e a ressurreição.
19 – Então, tomando-o consigo, o levaram ao Areópago, dizendo: Poderemos saber que nova doutrina é essa que ensinas?
20 – Posto que nos trazes aos ouvidos coisas estranhas, queremos saber o que vem a ser isso.
21 – Pois todos os de Atenas e os estrangeiros residentes de outra coisa não cuidavam senão dizer ou ouvir as últimas novidades.
22 – Então, Paulo, levantando-se no meio do Areópago, disse: Senhores atenienses! Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos;
23 – porque, passando e observando os objetos de vosso culto, encontrei também um altar no qual está inscrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Pois esse que adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio.
24 – O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas.
25 – Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais;
26 – de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação;
27 – para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós;
28 – pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele também somos geração.
29 – Sendo, pois, geração de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem.
30 – Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam;
31 – porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos.
32 – Quando ouviram falar de ressurreição de mortos, uns escarneceram, e outros disseram: A respeito disso te ouviremos noutra ocasião.
33 – A essa altura, Paulo se retirou do meio deles.
34 – Houve, porém, alguns homens que se agregaram a ele e creram; entre eles estava Dionísio, o areopagita, uma mulher chamada Dâmaris e, com eles, outros mais.
16 “Enquanto Paulo os esperava em Atenas…” Agora Paulo está em Atenas! Não foi seu plano pessoal que o conduziu até o centro intelectual daquele tempo. Foi o plano de Deus. Havia sido empurrado adiante, de cidade em cidade, de fato “empurrado” pelas reiteradas oposições e perseguições que não lhe permitiam permanecer em nenhum lugar. Timóteo está com ele nos primeiros dias, até que o envie com muitas preocupações para Tessalônica (1Ts 3.1s). Era difícil para ele ficar sem os companheiros e irmãos de oração nesse mundo estranho. Aquilo que ele vê em Atenas “revolta seu espírito”, enche seu coração de tristeza e ira. Não consegue contemplar os numerosos templos e as estátuas de deuses com um catálogo turístico na mão, deleitando-se como entendido da arte. Sendo alguém que conhece o Deus santo e vivo, ele constata aqui todo o descaminho da humanidade. Ainda que naquele tempo Atenas não fosse mais a grande Atenas clássica, mas uma cidade relativamente pequena, não obstante era “a cidade universitária” da época, o lugar em que muitos buscavam sua formação intelectual. E as pessoas de um lugar assim passavam ao largo de Deus, apesar da abundância de suas “religiões” e de suas “visões de mundo”. Por isso “seu espírito se revoltava em face da idolatria dominante na cidade”.
17 Paulo não despende os dias com espera ociosa e revolta interior. Procura as pessoas e o diálogo com elas. Ele é e não deixa de ser missionário. Também Atenas possui uma comunidade judaica e uma sinagoga. Como sempre, Paulo vai primeiramente até eles e “discutia na sinagoga com judeus e com gregos tementes a Deus” [NVI]. Não ouvimos nada sobre um sucesso como em Tessalônica ou Beréia. Contudo, também o movimento na praça lhe oferece oportunidade para falar “todos os dias
com aqueles por ali se encontravam” [NVI]. Será que Teófilo, ao ler a presente passagem do livro dedicado a ele, se lembrou de Sócrates, que muito tempo antes também falara dessa forma com as pessoas em Atenas? Sem dúvida Sócrates era pobre em comparação com o que Paulo possuía em sua mensagem para as pessoas!
18 Nesses diálogos ele rapidamente encontra “filósofos”. A filosofia, “amor pela verdade”, é em si algo grandioso. Faz parte da nobreza do ser humano que ele pergunte, busque pela causa e natureza do mundo, busque por sua própria existência, pelo alvo e sentido de sua vida. Não deixa de ser significativo quando esse questionamento acaba, como no caso de Sócrates, na confissão “Eu sei que nada sei”. Perigosas, porém, tornam-se a filosofia e a visão de mundo quando proporcionam à pessoa um abrigo para a medrosa e orgulhosa proteção de seu eu, no qual ele se esquiva justamente das perguntas que pressionam sua existência. Obviamente é diferente se o ser humano busca o sentido da existência com os “epicureus”, realizando-o ao desfrutar a vida com requinte, dando somente de ombros para tudo o que vai além disso, ou se ele reconhece com os “estóicos” uma razão universal acima das coisas, tentando, através de seu engajamento em prol da virtude, libertar a pessoa da coerção dos destinos extrínsecos e do domínio de suas pulsões e paixões. Contudo, nenhum dos dois acerta a verdade essencial, ainda que estóicos como Sêneca ou o imperador Marco Aurélio humanamente possam conquistar nossa sincera admiração. Ambas as filosofias conhecem tão somente o ser humano desprendido de Deus e baseado sobre si mesmo, que jamais poderá encontrar sua verdade real, uma vez que ela reside – como Paulo depois evidenciará – justamente em seu relacionamento com o Deus vivo.
Além disso, não havia naquela época em Atenas nenhum mestre realmente importante da filosofia. Todos tinham um aspecto precário e epigônico, sendo justamente por isso repletos do orgulho da ingenuidade. É o que aparece imediatamente nas controvérsias com Paulo. Alguns são rápidos em sentenciar: “Que quer dizer, afinal, esse catador de grãos?” [tradução do autor]. A zombeteira ofensa “catador de grãos” foi tomada da imagem do pássaro que recolhe seus grãos aqui e acolá. Um “catador de grãos” é, portanto, uma pessoa que, sem pensamento próprio e sem clareza sistemática, se apropriou de uma porção de idéias pelo ouvir e pela leitura, as quais ele passa a transmitir aleatoriamente como verdade sua. É assim que essas pessoas vêem justamente alguém como Paulo! Outros ouvem apenas superficialmente o que Paulo afirma sobre Jesus e a “Anástasis” (a “ressurreição”). Afinal, haviam ouvido dizer que das bandas do Oriente sempre surgiam novos deuses e deusas, cujos cultos misteriosos eram propagados em uma geração cansada e decepcionada. Logo, esse “Jesus” e essa “Anástasis” também devem ser um novo casal de deuses. Nessa opinião também pode estar contida uma ameaça velada: será que esse judeu também estava trazendo uma “religio licita”, uma religião permitida pelo Estado? O Estado romano era muito disposto a fazer concessões às religiões de outros povos. No entanto, o mínimo exigido era que se tivesse essa concessão quando se queria divulgar “novos deuses”.
19/20 Será que na seqüência realizou-se um processo oficial? Esta é a interpretação preferencialmente dada à frase seguinte: “Então, tomando-o consigo, o levaram ao Areópago, dizendo: Poderemos saber que nova doutrina é essa que ensinas? Posto que nos trazes aos ouvidos coisas estranhas.” Nesse “tomar” e “levar” de Paulo – são expressões que de fato também ocorrem na linguagem do tribunal – estaria expressa uma espécie de “aprisionamento” e nas “coisas estranhas”, uma acusação. Nesse caso, o “Areópago” não seria tanto o local sobre a “colina de Ares” a noroeste da Acrópole, a famosa fortaleza de Atenas, mas uma autoridade que nos tempos romanos aparentemente exercia uma certa supervisão sobre as religiões, as escolas e os bons costumes. No entanto, as referências a esse respeito são incertas e controvertidas. Acima de tudo: a descrição de Lucas caracteriza a situação de forma bem diferente. Após concluir seu discurso “Paulo se retirou do meio deles”. Isso não combina com um “interrogatório”, por mais brando que possa ser. E, como justificativa, a pergunta “Poderemos saber que nova doutrina é essa que ensinas?” não é seguida por uma referência a quaisquer determinações oficiais, mas uma descrição da desperta curiosidade da população ateniense.
21 “Pois todos os de Atenas e os estrangeiros residentes de outra coisa não cuidavam senão dizer ou ouvir as últimas novidades.” Paulo chamou a atenção de uma série de pessoas com seus diálogos. Não estão entendendo bem o que ele diz. Há o desejo de ouvir “o que vem a ser isso” de uma forma conexa e básica, explicando o que, afinal, está querendo dizer com tudo isso. Opta-se, para tanto, por um local de reuniões nobre e até certo ponto oficial, o Areópago. É um momento memorável este,
quando Paulo precisa expor sua mensagem nesse local de Atenas! Agora ele realmente está na “Europa”. Sem dúvida é uma Europa degenerada. Não existe a busca séria e sincera pela verdade. Aqui prevalece a avidez pela novidade e pelo novíssimo. Na melhor das hipóteses, o evangelho poderá ser “interessante” por alguns dias, como novidade sensacional, dando rapidamente lugar a outra atração. O “insucesso” em Atenas pode ser esperado de antemão. A manifestação pública de alguém como Paulo nessa cidade não traz consigo nenhuma guinada decisiva, mas permanece um episódio sem grande repercussão. Apesar disso Lucas se encontrava sob a direção do Espírito Santo quando descreveu esse “episódio” de modo tão exaustivo e com todo o vigor literário. Porque também o “insucesso” possui um significado profundo para a causa de Deus. O evangelho sempre é também “cheiro de morte para morte” [2Co 2.16]. O “não” do ser humano vale perante Deus da mesma forma como seu “sim”. Em Atenas Deus torna eternamente claro o que Paulo depois declara aos coríntios, em 1Co 1.26ss: Deus escolheu “aquelas que não são, para reduzir a nada as que são.” Cumpre-se a jubilosa oração de gratidão de Jesus, de que Deus o “ocultou aos sábios e instruídos e as revelou aos pequeninos” [Mt 11.25]. Nós constantemente queremos conquistar justamente “Atenas” e desprezamos as “mulheres de Filipos”. Deus, porém, sem dúvida também leva pessoas como Paulo até Atenas, fazendo com que lutem com todo o empenho pela cidade. Porém Paulo não escreve uma “carta aos atenienses”, enquanto sua carta aos filipenses lança até hoje sua luz radiante.
Agiremos bem se não analisarmos imediatamente os pensamentos do discurso de Paulo. Poderíamos ouvi-los de modo demasiado abstrato e, conseqüentemente, sem vivacidade, e não como testemunho de um pregador autêntico, que permite que sua palavra seja moldada pelo local em que ele se encontra e pelo que ele tem diante dos olhos ali. Permitamos que um cristão que esteve pessoalmente no Areópago nos descreva o impacto sofrido ali. “Um mundo de indescritível beleza se estende a nossos pés. Numa estimulante diversidade alternam-se morros e planícies, terra e mar. Lá embaixo, a cidade, cujo quadro revela singularmente o templo de Teseu, com seu mármore de coloração vermelha e dourada, e a planície de Ática, com seus jardins e hortos de oliveiras e os dois rios Quefisor e Iliso. Como uma ampla auréola acomodam-se em redor as montanhas vestidas de perfume colorido, o Himeto, o Pentêlico, a cúpula audaciosa e repentina do Licobeto e, ao norte, fechando o círculo, o Parnaso. A oeste, porém, lampeja o mar, o vasto e majestoso golfo de Egina.
Nessa colina postou-se Paulo, cercado por muitos atenienses. Cerca de cem pessoas podem assentar-se lá no alto. Paulo não viu apenas a beleza da natureza. Diante de seus olhos descortinavam-se também com esplendor cativante as obras mais belas e magníficas que a arte humana jamais construiu e elaborou sobre a face da terra.
Paulo tinha olhos abertos para todas as coisas. É como se ele apenas lesse seu famoso discurso do Areópago a partir dessa natureza, dessa arte e desse povo que o fitava de todos os lados” (D. L. Schneller, “Paulus”. Leipzig 1926, p. 210).
Na seqüência, vejamos o próprio discurso do Areópago, com o qual Lucas obviamente não queria apenas caracterizar uma hora histórica, mas ao mesmo tempo visava mostrar como Paulo evangelizava de forma geral no mundo grego.
22 Os pontos de conexão e introdução da evangelização eram ao mesmo tempo amáveis e hábeis. Enquanto inicialmente a distorção e o obscurecimento, com os quais pessoas no auge da cultura trocam “a glória do incorruptível pela imagem de homem corruptível” (Rm 1.23; cf. o comentário sobre esse texto na Série Esperança, p. 46ss) o irritaram, ele agora, ao questionar as pessoas, constata nisso uma conotação “religiosa”. De fato Atenas era considerada na Antigüidade como “cidade devota”. Toda a “religião” é ambígua com tal. Pensa falar de “Deus” de algum modo, mas ao mesmo tempo é cega para Deus.
23 Parece a Paulo que os próprios gentios se aperceberam dessa ambigüidade, quando erigem altares para “deuses desconhecidos”. Com isso eles mesmos admitiam que, apesar de todos os seus templos, imagens e sacrifícios, não chegavam à certeza grata e tranqüila que tinha uma consciência clara de Deus. É com essa incerteza e com o anseio que inconscientemente lhe subjaz que Paulo estabelece contato: “Aquilo que adorais assim, sem o conhecer, é o que eu vos venho anunciar” [TEB]. Também hoje a evangelização entre pessoas “religiosas” não poderá proceder de outro modo. No entanto, ocorre imediatamente a séria palavra sobre o “desconhecimento”, que retorna com clareza no final do discurso (v. 30). Uma palavra dura. Toda a “filosofia” e “ciência”, das quais Atenas (e todo o mundo civilizado do Império Romano!) se orgulhavam tanto, não deixa de ser “desconhecedora” em relação ao mais sublime e mais necessário, e sobre o que é preciso ter plena certeza! “Anseio e busca”
religiosos não constituem distinção, mas miséria e culpa! O mensageiro de Jesus, porém, não acaba com essa “ignorância” pelo fato de, por sua vez, trazer o verdadeiro “conhecimento”, a “filosofia religiosa” superior, mas por “anunciar”. Aqui no Areópago, diante de filósofos, Paulo não pode agir diferentemente do que fazia também na sinagoga de Tessalônica ou de Antioquia: anunciar a mensagem (At 13.32; 17.3). Pois também Israel é “desconhecedor” como Atenas, motivo pelo qual teve de cumprir as palavras dos profetas justamente por não compreendê-las (At 13.27). Em toda a humanidade, portanto, o evangelista terá de afirmar: “Aquilo que adorais assim, sem o conhecer, é o que eu vos venho anunciar.”
24 Na seqüência o discurso adquire imediatamente sua característica decisiva. Sem dúvida também a filosofia e visão de mundo gregas eram em grande medida “religiosas” e falavam de “deus”. Mas nessa visão de mundo religiosa o ser humano e o mundo aparecem sempre como algo certo e claro, a partir do qual o “divino” surge no horizonte do pensamento como o incerto e duvidoso. Contra essa circunstância se projeta o testemunho do mensageiro de Deus. Ele não tem opiniões, conclusões, raciocínios que se ocupam do imenso desconhecido, mas ele depõe diante de seus ouvintes com certeza plena, jubilosa e respeitosa: “Deus!” Deus é a única coisa certa, firme e clara. Somente a partir dele o mundo, a humanidade e o indivíduo passam a ter firmeza e sentido. “Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe” – o mundo com toda sua esplendorosa beleza, que pode ser visto do Areópago, apenas possui consistência na palavra criadora de Deus. ”Ele, o Senhor do céu e da terra” – de máquina gigantesca que gira sem sentido e sem rumo em torno de si mesma o mundo somente passa a ser uma construção com sentido porque possui esse Senhor.
25 Conseqüentemente, será sem sentido toda a “religião” que deseja prestar serviços a Deus, construir belas casas para Deus e lhe fazer gentilezas, “como se de alguma coisa precisasse”, enquanto ele, afinal, é totalmente aquele que dá, e não aquele que necessita, uma vez que sua natureza divina reside justamente em criar e doar. Com essas palavras, qualquer “religião”, a grosseira e a refinada, está sendo arrancada pela raiz, e abre-se espaço para o evangelho, para a palavra de Deus que doa e presenteia.
26 Em seguida o olhar se volta para o ser humano e sua história. Com que desprezo Atenas, com todas as suas glórias culturais, flagrantes a cada pessoa no Areópago, olhava para os povos “bárbaros”! Como os homens gregos, que estavam escutando a Paulo, tendiam a nem sequer reconhecê-lo plenamente como pessoa! Porém diante de Paulo a humanidade aparece como uma única grande unidade: “De um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra.” É óbvio que isso não transforma a humanidade numa massa indiferenciada. O missionário Paulo já conheceu muitas etnias, ouvindo sobre sua história, e agora encontra-se em chão eminentemente histórico na colina do Ares. Mas também essa história não é nada em si mesma. Novamente é Deus o fundamento claro e firme até mesmo nas imprevisíveis ondas e tempestades da história da humanidade: “Fixou os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação.”
27 Além disso, o “sentido” da história de todos os povos e raças é somente um único: “Buscar a Deus se, porventura, tateando, o possam achar”. No entanto, será que Deus pode ser achado? Independentemente das dificuldades que possamos ter com isso, Paulo estava convicto de que sim. Em Rm 1.19s ele o escreveu de próprio punho: “Porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas”. Da mesma maneira, embora de forma muito simples para pessoas sem estudo, ele o disse em Listra (At 14.15-17). Agora expressa o mesmo fato de forma diferente:
28 “Bem que não está longe de cada um de nós, pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos.” A rigor, aqui isso está sendo dito de modo mais penetrante do que na carta aos Romanos. De fato não existe uma verdadeira “incredulidade para com Deus”! Todo ser humano é abrangido por Deus e se depara com o poder eterno e com a divindade de Deus não somente nas obras, mas também pode ter cada pulsação vital, cada movimento muscular, cada segundo de sua existência unicamente “em Deus” e por meio dele! É isso que Paulo vê expresso no verso do poeta grego Arato: “Também somos descendência dele” [NVI]. Porque justamente a vida interior, as emoções e o interior da pessoa também são dádiva de Deus. A citação é audaciosa! O sentido dado pelo próprio poeta é o daquele parentesco natural e inato com Deus, daquele “Deus em nós” que constitui o exato oposto da
mensagem bíblica. Por essa razão é que a pessoa religiosa moderna também não consegue ouvir o evangelho, porque ela imediatamente se escuda por trás desse pensamento: de qualquer modo sou parte de Deus, encontro Deus na natureza, trago Deus dentro de mim mesmo! Paulo, porém, vê a mesma verdade numa luz completamente diferente. A percepção de Deus na natureza torna-se acusação inescapável contra o ser humano, tornando-o indesculpável (Rm 1.20). Ademais, a condição real do ser humano como imagem de Deus (Gn 1.27) nada mais produz do que revelar todos os descaminhos e trevas do atual ser humano “gentio”.
29 Que descaminho e deturpação quando se pensa agora que “a divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem.” O mesmo vale para situações em que as imagens de Deus não são mais feitas de ouro, prata e pedra, mas de idéias e opiniões. O mais nobre “deus dos filósofos” não passa de um “fabrico da arte e imaginação do homem”. Também nesse caso acontece aquela “inversão” própria de todas as religiões: o “fabrico”, o ser humano, torna-se “fabricante” de Deus em pedra ou em pensamentos. O Deus vivo é transformado em “imagem divina” que o ser humano adapta segundo sua conveniência. O Único, integral e completamente “Sujeito”, é transformado em “objeto” do ser humano, de sua filosofia da religião, de sua teologia, de seu culto a Deus.
30 Na seqüência a evangelização desemboca em seu verdadeiro alvo: o chamado ao arrependimento, lançado aos gregos eruditos com a mesma seriedade que a Israel no dia de Pentecostes. Enquanto naquela ocasião o chamado designava Israel como uma “geração corrompida” [NVI], e sua suposta justiça como pecado, ele agora chama a orgulhosa cultura e sabedoria dos gregos e toda a sua “religião”, com todos os templos e cultos, de “ignorância”. Deus “não levou em conta os tempos da ignorância”. Será que a carta aos Romanos fala de outro modo? Sem dúvida, ele diz que o mundo dos povos foi “entregue” à degradação moral por terem mudado a verdade de Deus em mentira. Paulo não afirma isso agora, no Areópago. No entanto, é obrigado a dizer tudo em todos os lugares? Será que um evangelista não tem todo o direito de, vez ou outra, deixar de pronunciar certas verdades numa situação? Por outro lado, também a carta aos Romanos está ciente de que Deus se contém, “tolerando” temporariamente os pecados (Rm 3.25), e que somente “no tempo presente” traz o desfecho de tudo. Esse “agora” decisivo é proclamado por Paulo também no Areópago!
31 Esse “agora” possui peso total porque Deus “estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça”. Essa mensagem do juízo constitui de fato uma verdade, que se demonstra “à consciência de todo homem, na presença de Deus” (2Co 4.2). Paulo conta com o fato de que também no peito dos atenienses, que o escutam por curiosidade, a testemunha dessa poderosa verdade poderá levantar sua voz. Em tempos antigos se realizava julgamentos de sangue aqui sobre a colina do Ares. Todo juízo humano, porém, constitui tão somente uma sombra antecipada do juízo infalível que o próprio Deus realizará. Ali no escuro penhasco do Areópago se prestava sacrifício às “erínias”, aquelas terríveis deusas da vingança, que perseguiam implacavelmente todo ímpio. Também nessa prática residia um pressentimento “do dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus” (Rm 2.5). Essa verdade obviamente não é uma “novidade” artística ou filosófica, sobre a qual se pode discutir com interesse! Paulo realça toda a realidade e proximidade desse juízo com o fato de que o Juiz já foi nomeado e incumbido. De novo Deus ocupa o centro da cena como aquele que age. Por isso ninguém poderá escapar desse juízo. Deus julga todo o “mundo”. E o faz “com justiça”. Nele não prevalecerá o renome da pessoa, a fama literária, um relacionamento influente, uma anedota elegante. Todos eles, os quais Paulo tem diante de si, terão de responder por sua vida diante desse juízo e de sua insubornável justiça.
O texto subseqüente permite duas interpretações diferentes. Literalmente consta: “fé oferecendo a todos”. Isso pode ter o significado de “tornar digno de crédito a todos”, “fornecer uma prova a todos”. Nesse caso, Paulo teve a intenção de afirmar que o fato de Deus ter realmente autorizado esse homem e nenhum outro como Juiz do juízo universal é comprovado pelo fato de que o fez ressurgir dentre os mortos. Como mais tarde perante Félix, com o encerramento, assim formulado, de seu discurso, Paulo teria salientado a gravidade da responsabilidade perante Deus, chamando a partir dele para o arrependimento, sem mostrar o caminho da salvação desde já em pormenores. Isso poderia e deveria ser feito somente quando também aqui brotasse a pergunta: o que haveremos de fazer para ser salvos? O discurso do Areópago ficaria exatamente paralelo à pregação de Pedro em Pentecostes. No entanto, também pode-se fundamentar a compreensão antiga: “A todos Deus oferece a fé redentora.” Nesse caso, Paulo anuncia, no fim de seu discurso, o evangelho propriamente dito e
mostra a seus ouvintes que o Juiz universal instituído por Deus agora ainda é o Salvador vivo ressuscitado da morte, ao qual podem vir todos, a fim de obter perdão e salvação. Esse entendimento é plausível porque, diferente da pregação de Pedro em Pentecostes, o chamado ao arrependimento constitui o verdadeiro vetor do discurso do Areópago. No dia de Pentecostes o “arrependei-vos” vem a ser somente a resposta à aflita pergunta dos ouvintes. Aqui, com toda a ênfase de que “todos, em toda parte” se arrependam, ele constitui o conteúdo da própria proclamação. Nesse caso, porém, era preciso dizer para onde, afinal, esse “arrependimento” deve levar. Do contrário ele se tornaria uma manobra moral arbitrária, incapaz de ajudar a alguém. Um chamado ao arrependimento sem citar o Salvador ao qual podemos chegar seria outra vez uma “lei”, e não “evangelho”. É por essa razão que também no dia de Pentecostes consta, além do “arrependei-vos”, imediatamente o segundo elemento “e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados”. Diante de gentios, porém, era cabalmente necessário citar de modo concreto aquele em quem de fato podiam encontrar o “Deus desconhecido”. Nessa situação a “ressurreição” desse “um varão” se revestia de importância decisiva. Somente podemos “chegar” e “dar meia-volta” em direção de uma pessoa viva e presente. Do contrário o chamado ao arrependimento se torna uma frase devota, e seu cumprimento uma mera emoção da vida interior, sem verdade e sem poder.
Obviamente o discurso de Paulo no Areópago não durou os poucos minutos de que necessitamos para ler hoje o presente texto. Recordamo-nos aquilo que ficou claro já na p. … [42] sobre a transcrição que Lucas faz dos discursos em Atos. Especialmente na decisiva parte final Paulo não disse apenas uma frase, que da forma como está teria de ser completamente incompreensível para os ouvintes. Lucas somente fornece o “lema” dessa parte. De qualquer forma, seu conteúdo estava claro para os leitores de At. De maneira extensa, porém, Lucas reproduziu a “introdução” e a primeira parte do discurso, porque visava mostra-nos com isso que assim Paulo falava a “gentios”, assim ele abria o caminho, assim ele trazia seus ouvintes até o ponto em que ele podia apresentar sua mensagem propriamente dita. A prova de que nem mesmo em Atenas, com seus “filósofos”, Paulo deixou essa mensagem central à margem é trazida pelo relato sobre seus diálogos na praça: “Jesus” e “a ressurreição” evidentemente estavam no centro deles (cf. v. 18). Porventura agora, na análise mais detalhada, ele repentinamente deixaria fora de seu ensino, para o qual fora expressamente convidado, essas “coisas estranhas” [v. 20], justamente sobre as quais estava sendo perguntado?!
32 De forma cordial Paulo fez uma conexão com a situação em que se encontravam seus ouvintes, mas em seguida não os poupou de nada: ao invés de discussões interessantes, o chamado ao arrependimento; ao invés de pensamentos elaborados, o duro fato do juízo universal; ao invés de moral e religião pessoais, a ressurreição de um Salvador, no qual é preciso crer. Não é de surpreender que a maioria dos atenienses permaneceu incompreensiva, utilizando a palavra da ressurreição de mortos para zombar publicamente. Mas outros, apesar de tudo, se tornaram pensativos e declaram: “A respeito disso te ouviremos noutra ocasião.” É claro que isso pode muito bem ser uma maneira cortês de se esquivar, como mais tarde no caso de Félix (At 24.25). A “outra ocasião” nunca se concretizou, o hoje se tornou uma oportunidade perdida. Nenhum evangelista, nem mesmo alguém tão poderoso quanto Paulo, pode evitar isso.
33 “Com isso, Paulo retirou-se do meio deles.” Não acontecem novos diálogos como no dia de Pentecostes ou como em Antioquia da Pisídia. Por sua iniciativa Paulo tampouco tenta concretizar esses diálogos a qualquer custo. “Ele se retira do meio deles”. Outra vez ocorre a atitude “apostólica” que já encontramos em At 13.46. Os mensageiros de Jesus conhecem a árdua luta pela salvação de pessoas perdidas, até com o empenho da própria vida (1Ts 2.8), mas não “correm atrás”, não “mercadejam” o evangelho a qualquer custo. Têm consciência de toda a magnitude da dádiva que trazem; quem não deseja obtê-la, há de correr imperiosamente para a morte. “A palavra da cruz é loucura para os que se perdem”, escreveu Paulo aos coríntios (1Co 1.18). É por isso que os mensageiros de Jesus sabem “retirar-se”, como fez o próprio Senhor Jesus, o que significa uma sentença de morte (Jo 8.21).
34 Na seqüência, porém, acontece o fato admirável que nos impede falar de um “insucesso” de Paulo em Atenas: “Houve, porém, alguns homens que se agregaram a ele e creram; entre eles estava Dionísio, o areopagita, uma mulher chamada Dâmaris e, com eles, outros mais.” Um membro do supremo tribunal foi atingido e comovido pelo anúncio do juízo final, e com ele uma mulher de renome e mais alguns. Não chegou a ser formada uma igreja completa; não temos conhecimento de uma “carta aos atenienses” escrita por Paulo. Contudo, quando Paulo saúda aqueles cristãos da
Grécia que em seus lugares “invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo” na primeira carta aos corintios (1Co 1.2), ele também tinha em mente aqueles que viviam com fé em Jesus em Atenas.

ATOS 6.1-9; 7.51-60

A ESCOLHA DOS SETE - Atos 6.1-7
1 – Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária.
2 – Então, os doze convocaram a comunidade dos discípulos e disseram: Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas.
3 – Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço;
4 – e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra.
5 – O parecer agradou a toda a comunidade; e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia.
6 – Apresentaram-nos perante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos.

8 – Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo.
9 – Levantaram-se, porém, alguns dos que eram da sinagoga chamada dos Libertos, dos cireneus, dos alexandrinos e dos da Cilícia e Ásia, e discutiam com Estêvão;

7 – Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé.
1 Lucas foi criticado porque estaria traçando uma imagem ideal demais do primeiro cristianismo. Nesse trecho, no entanto, ele relata tranqüilamente as consideráveis mazelas que levaram a uma tensão na jovem igreja e à murmuração explícita. A igreja era perpassada por uma diferença natural: havia “helenistas”, i. é, judeus dos países ocidentais, que falavam grego, e “hebreus”, os judeus de língua aramaica da Palestina (e do Oriente propriamente dito). Diferenças assim nunca deixam de ser significativas. A unidade da igreja de Jesus não se estabelece pelo fato de que as diferenças são simplesmente ignoradas. Os grupos de língua grega passavam por dificuldades nos encontros cristãos, nos quais se falava – inclusive por parte dos apóstolos – o aramaico. Deve ter surgido rapidamente uma tendência para realizar reuniões próprias no idioma familiar grego. Por outro lado, a beneficência da igreja, que de acordo com At 4.35 não podia mais ser um empreendimento meramente pessoal em vista do crescente número de cristãos, mas acontecia pela mediação dos apóstolos, não alcançou de maneira plena esses grupos “helenistas”. As viúvas “estavam sendo esquecidas na distribuição diária”. Mais uma vez notamos como toda a narrativa de Lucas é sucinta. “E se distribuía a cada um segundo a necessidade da pessoa” (At 4.35). Assim ele escrevera, sintetizando brevemente o essencial. Para ele deve ter sido evidente que entre os “necessitados” estavam em primeiro lugar as “viúvas”. De 1Tm 5.3-16 depreendemos que a previdência para as viúvas continuou sendo uma área central do serviço da igreja. Na Antigüidade simplesmente não havia uma possibilidade de ganho próprio para mulheres. Se uma viúva não tinha filhos que providenciassem seu sustento, ela se encontrava em grande aflição. Nessa situação, porém, estavam sobretudo as viúvas dos “helenistas”. Depois de velhos, casais haviam se mudado do exterior para a Terra Santa, sobretudo para Jerusalém. Estando morto o marido, e vivendo os filhos numa terra longínqua, o que seria da esposa agora? Começou o serviço beneficente da igreja, inicialmente da judaica, e agora também da cristã. Conseqüentemente, as diferenças lingüísticas e a grande extensão da igreja transformaram-se em empecilhos. Naquele tempo as viúvas viviam uma vida sossegada e recatada. Provavelmente os apóstolos conheciam melhor as viúvas do grupo aramaico e viam-nas com mais freqüência. As viúvas helenistas eram “esquecidas”. Tampouco Lucas relatou que essa “distribuição para cada um de acordo com sua necessidade” já levara a uma forma de ajuda regular. Uma atividade dessas se consolida inesperadamente numa instituição. Ao que parece, portanto, desenvolveu-se a prática de alimentar regularmente os necessitados, de realizar refeições diárias para as quais as viúvas helenistas não eram convidadas. Porém, a circunstância de que determinadas pessoas não apenas se viam excluídas de uma doação livre e eventual, mas de uma assistência regular, que parecia conceder também a elas um “direito” a determinados benefícios, gera especial tristeza e amargura. Todos sabemos com que rapidez nos sentimos magoados, com que facilidade suspeitamos de “intenções” por trás de esquecimentos que na realidade se explicam por razões bem inofensivas. Rapidamente generalizamos casos isolados, e o egoísmo coletivo acaba exacerbando tudo. “Houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária.”
2 Que bom que essa murmuração chega até os apóstolos! Representava uma acusação também contra eles, em cujas mãos estavam a aplicação e a distribuição das dádivas. Mas os apóstolos não reagem melindrados, e sim objetivamente. Não tomam simplesmente uma decisão por conta própria, mas envolvem a igreja toda na dificuldade que emergiu (como já fizeram em At 1.15ss e tornarão a fazer em At 15.4,22). “Convocam a multidão dos discípulos”, e os “Doze” dão a declaração unânime: “Não é agradável a Deus que nós negligenciemos a palavra de Deus para servir às mesas.” Que palavra cheia de clareza do Espírito Santo! Os apóstolos não estão primeiramente comovidos com a murmuração e as acusações. Não se desculpam nem prometem trazer uma solução imediata. Tampouco olham primeiro para a carência existente, por mais “cristã” que essa atitude poderia parecer. Imediatamente levantam os olhos para o Senhor e perguntam pela vontade dele. Isso é viver “com fé”! Esse olhar torna a pessoa livre e objetiva! Pois é evidente que “negligenciar a palavra” não pode ser a vontade e incumbência de Deus. Os apóstolos realmente honram a Deus como Deus, e confirmam que o ser humano não vive somente do pão, mas de toda palavra que procede da boca de Deus, e que a mensagem que lhes foi confiada compõe-se literalmente de “palavras desta vida” (At 5.20), das quais depende a vida eterna das pessoas. Essa mensagem precisa, pois, ser comunicada de qualquer maneira. A esse ministério precisam ser devotados todo o tempo e toda a energia dos mensageiros.
3 No entanto, os Doze não estavam menosprezando a assistência material. Não se pode simplesmente tolerar que viúvas padeçam fome. É preciso providenciar uma solução cabal. Porém – aí está a igreja! “Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos dessa tarefa”. Hoje escolheríamos mulheres da igreja para uma tarefa assim. A princípio, naquele tempo isso era impossível, ainda que a ruptura com os costumes da época tenha acontecido de maneira relativamente rápida justamente nesse ponto (Febe!). Para esse momento, portanto, é preciso escolher homens capazes. As pessoas a quem se confia dinheiro precisam ter “boa reputação”. Os apóstolos não dizem por que devem ser justamente “sete”. Contudo, nas comunidades judaicas a diretoria local geralmente era formada por sete homens, os quais eram chamados “os sete da cidade”. Por isso os apóstolos podem ter pensado involuntariamente nesse número. Seja como for, esses homens depois são denominados “os Sete” (At 21.8), mas não “diáconos”, como muitas vezes dizemos sem conferir as fontes. Agora é mencionado o pré-requisito interior: “cheios do Espírito e de sabedoria.” Também esse “serviço à mesa” é, numa igreja de Jesus, um “ministério espiritual”, e não mera “questão administrativa” que pudesse ser enfrentada simplesmente com forças e dons mundanos. Nessa circunstância fica singularmente claro como a frase dos apóstolos sobre seu próprio trabalho era de fato “objetiva”. Ela não significava, p. ex., que: pessoas mais insignificantes também podem cuidar de coisas tão simples, nós apóstolos somos grandes demais para isso. Não, a beneficência na igreja demandava homens primorosos, “cheios do Espírito e de sabedoria”. Na narrativa de Lucas ainda não existe qualquer escalonamento dos “cargos”, com o qual a igreja em breve se adequou ao “esquema” deste mundo, dando assim vazão a todas as pulsões da natureza humana que contradizem profundamente a palavra e essência de Jesus, a saber, a ambição, a ânsia por direitos e privilégios, a insistência em posições exteriores. Lucas não está descrevendo como um cargo “inferior”, o da “diaconia”, é criado ao lado do cargo mais alto de “apóstolo”. Não contribui para o “surgimento da constituição eclesiástica”. Pelo contrário, está mostrando como uma igreja viva sabe tomar providências práticas quando aparecem dificuldades e carências, vendo também em atividades dessa natureza repercussões do Espírito de Deus que nela habita.
4 Agora também apreciaremos a frase seguinte com sua límpida objetividade: “Quanto a nós, porém, perseveraremos na oração e no ministério da palavra.” Aliás, é com essa objetividade que também deveríamos ouvir essa frase para a situação atual! Teríamos muitas formulações edificantes para contradizer os apóstolos e lhes mostrar que de fato teriam cumprido a incumbência do Mestre se tivessem “servido às mesas” de modo humilde e amoroso. Essa teria sido a melhor e mais eficaz pregação! Pelo menos grande parte de nós pensa que hoje a ação de ajuda seria a única proclamação que de fato ainda “chega” nas pessoas, porque a “palavra” estaria esvaziada e impotente. Com toda a naturalidade esperamos que os “servos da palavra” dediquem considerável parcela de seu tempo e suas energias em “servir às mesas”. Para isso não carecemos de justificativas teológicas cristãs convenientes. Na verdade, o resultado desse sistema já deveria ter nos despertado há tempo. Deveríamos ouvir de forma nova o que os apóstolos expressam com tanta clareza e determinação. Em primeiro lugar citam a necessidade da oração! De fato, quanto tempo e quantas energias requer a vida de oração do servo da palavra, se tiver o propósito de corresponder pelo menos satisfatoriamente a tudo que está diante dele apenas na congregação que lhe foi confiada! Será que a flagrante impotência de nossa igreja não tem como raiz o fato de que nossos ministros não conseguem mais “perseverar na oração” por causa de tantas sobrecargas? Mais uma vez admiramos a força de formulação do Espírito Santo quando Pedro acrescenta à oração o “serviço da palavra”. Os apóstolos não visam esquivar-se do “servir” e assim manter-se aristocraticamente em altitudes edificantes. Estão conscientes de que Jesus os chamou para “servir”. Não querem servir menos do que os Sete que a seguir serão eleitos, não querem ser menos “diáconos” que eles. Porém seu serviço se realiza em outra área, exigindo tudo deles. O “serviço da palavra” simplesmente não deixa sobrar tempo e força para outro ministério. Será que isso realmente seria diferente nos dias de hoje?
5 “A palavra agradou a toda a multidão.” Lucas emprega uma expressão do AT conforme a encontrava em sua Bíblia grega (p. ex., em 2Sm 3.36). O AT já chamava toda a comunidade de Israel de “toda a multidão” (2Cr 31.18). “E elegeram…”; a multidão “elegeu”, sem que obtenhamos informação sobre o procedimento usado. Os nomes dos eleitos têm uma entonação grega. Devem ter sido nomeados justamente “helenistas” porque a negligência em relação às viúvas deles havia sido a causa de toda essa ação. Nicolau é chamado expressamente de “prosélito de Antioquia”. Pela primeira vez aparece
um grego de nascença, um “gentio” no âmbito da igreja de Jesus, ainda que pela via do ingresso na cidadania israelita. Pela primeira vez soa também o nome “Antioquia”, que mais tarde se torna tão importante em Atos dos Apóstolos. Sendo o próprio Lucas originário de Antioquia, ele dispunha de conhecimentos especialmente precisos. Em contrapartida, uma pessoa como Filipe, apesar do nome grego, dificilmente seria um helenista. Mais tarde, atuou intensamente na Samaria, ou seja, numa área de língua aramaica.
No caso desses homens ocorre algo semelhante como no caso dos apóstolos. Na seqüência ouviremos mais somente sobre Estêvão e Filipe; os demais não são mais citados em Atos dos Apóstolos. Prestaram o serviço para o qual foram eleitos neste momento, e isso basta. Porém descobrimos Estêvão e Filipe no serviço de evangelistas! Isso somente nos causará espécie enquanto ainda permanecermos presos à idéia dos “cargos”. Mas Schlatter tem razão: “Atos dos Apóstolos nos mostra que os encarregados que assumiam compromissos concretos junto com determinada incumbência não perdiam nada de seu direito de cristãos, e de forma alguma se pensava que Estêvão prepararia o sopão, e deixaria a palavra por conta dos outros. Pelo contrário, ele continua sendo o que é, servo da igreja, membro do corpo do Senhor, e por isso testemunha de sua graça, lutador pelo direito dele, e morre sem que fosse alvo da crítica: „Teu diaconato te enviou para a cozinha, e não ao posto de mártir‟.”
6 “Apresentaram-nos perante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos.” Cabe-nos observar ambos os aspectos. Por um lado são os apóstolos que investem os eleitos no serviço. A imposição das mãos mediante oração não é apenas uma confirmação formal da eleição. Para as pessoas do pensamento bíblico, desde o AT a imposição das mãos era uma transferência real de plenos poderes e força para o ministério (Nm 27.18-23; Dt 34.9), o que é enfatizado seriamente pela imagem negativa oposta, de transmissão real da culpa pela imposição das mãos (Êx 29.15; Lv 16.21; Nm 8.12). Nesse ato não apenas se indica simbolicamente, mas se age de modo eficaz. Por outro lado, porém, como mostra At 13.3, esse ato não tinha o sentido oficial e hierárquico de uma “função” puramente “apostólica”.
7 “E crescia a palavra de Deus.” Como também em 2Ts 3.1, “a palavra” é considerada como uma grandeza independente com vitalidade e poder vivificador próprios. Realmente não somos mais que “servos” dessa palavra, que não precisamos tornar grande e eficaz com base no nosso empenho e no nosso esforço. A Deus seja rendida sincera gratidão porque também nós podemos presenciar como a própria palavra “corre” e “cresce”. Isso nos compromete ainda mais a dedicar todo o nosso amor e energia no serviço, libertando ao mesmo tempo nosso serviço de qualquer supertensão temerosa.
“E, em Jerusalém, aumentava muito o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé.” Lucas nos havia mostrado que a categoria dos sacerdotes era a verdadeira adversária de Jesus e depois também da mensagem de Jesus. Contudo, agora acontece o milagre (Jo 7.48s!) de que a palavra invade até as fileiras desse adversário. Justamente aqui Lucas formula de forma precisa: “Obedeciam à fé.” Esses sacerdotes não eram atraídos a Jesus por um entusiasmo súbito. A fé tinha de mostrar-se a eles com seu direito divino e sua necessidade interior, de sorte que davam o passo até Jesus como um passo de obediência, contrariando toda a sua postura anterior e todas as dificuldades. No idioma grego o imperfeito novamente assinala que esse “tornar-se obediente” diante da fé aconteceu apenas aos poucos, passo a passo. Nesse processo também a “multidão de sacerdotes” pode ter sido grande apenas em relação à atitude geral da categoria sacerdotal, e não um contingente numericamente “grande”. Porém no caso dos sacerdotes torna-se especialmente explícito o que é inerente à fé genuína. A fé autêntica não é arbitrária, não é “sentimento”; tampouco é apenas aceitar uma grande felicidade. Do contrário, com que rapidez poderíamos nos tornar novamente inseguros quando os sentimentos desaparecem ou quando, em lugar da felicidade, grandes aflições decorrem de nossa fé. A fé somente será clara e firme quando ela se submeter obedientemente a uma verdade que está diante de nós de modo irrefutável na ação de Deus em Jesus. Ao mesmo tempo, no entanto, a expressão também mostra que nunca chegamos à fé de forma mecânica, através de uma “subjugação” qualquer. Nosso coração acomodado muitas vezes deseja ser subjugado, de modo que ficaríamos isentos de crer. A verdade de Deus nos é mostrada com clareza; essa é a obra de Deus. Agora, porém, é a nossa tarefa “obedecer” pessoalmente à fé, superando consideráveis resistências em nós e em torno de nós.

8 Com habilidade literária, Lucas nos concedeu uma visão das condições da igreja antes de iniciar o relato do terceiro processo, de sangrenta gravidade. Pudemos tomar fôlego (como a própria igreja) antes de presenciar atentamente o destino de Estêvão. “Estêvão”, esse nome aparece diretamente no topo da nova passagem. Acabamos de conhecê-lo na eleição dos “Sete” como “homem cheio de fé e do Espírito”. Agora se afirma que era “cheio de graça e poder”. Os homens da Bíblia não são pensadores e teóricos, que desenvolvem sistemas de visão de mundo ou teológicos sobre Deus, mas são testemunhas do Deus vivo, por meio dos quais ele atua. Porque a graça de Deus, por sua vez, tampouco é mera intenção amigável dele, e sim uma ação poderosa de socorro. “Graça e poder” formam uma unidade. Graça impotente de nada adianta, e poder sem graça é terrível. Porém “graça e poder” fazem “grandes prodígios e sinais entre o povo”. Curas e outros auxílios de cunho admirável na atuação de Estêvão dirigem o olhar para Jesus.
Portanto, os apóstolos não são os únicos que Deus confirma através desses meios.
9 Deus não está amarrado a determinadas pessoas, nem mesmo quando lhes concedeu tarefas extraordinárias. Nada o impede de atuar também por meio de outras pessoas. Estêvão é autônomo também nos caminhos de sua evangelização. Em Jerusalém havia, além do templo, as “sinagogas”. Nelas a Escritura (i. é, o “AT”) era lida e explicada pelos escribas. No entanto, como sabemos fartamente da vida de Jesus e da história de Paulo, na sinagoga todo israelita podia ler da Escritura e comentar algo a respeito da leitura (cf. Mt 9.35; Lc 4.16-22; At 13.14-16; 17.2; 18.4; 19.8). Não nos surpreende que Estêvão faça uso desse direito, a fim de levar a mensagem de Jesus também desse modo para dentro do povo. Ele próprio era “helenista”, motivo pelo qual procurava as sinagogas helenistas de Jerusalém. Não depreendemos com certeza das palavras de Lucas se ele tem em mente cinco sinagogas diferentes ou apenas duas, de sorte que os “Libertos” usavam a mesma sinagoga junto com os judeus de Cirene e Alexandria, enquanto os da Cilícia e da província romana da “Ásia” (cf. acima o exposto sobre At 2.10) tinham à disposição uma segunda casa de oração. Com certeza também Saulo de Tarso estava na sinagoga dos cilícios naquela época, ouvindo assim a mensagem cristã pela primeira vez por meio de uma pessoa como Estêvão.
Uma sinagoga “helenista” parecia oferecer um campo de trabalho singularmente profícuo. Os judeus da diáspora ocidental tinham visão mais ampla e eram mais versáteis que os judeus de Jerusalém. O pensamento grego não deixou de exercer influência sobre eles. Contudo, em breve se constatou que justamente por isso também eram mais perigosos do que os “mestres da lei” do antigo tipo hebreu. Enquanto estes se interessavam mais por detalhes da interpretação da Escritura, aqueles captavam com maior rapidez e clareza as conseqüências de cada idéia no conjunto total. Os “prodígios e sinais” como tais novamente não foram capazes de conduzir à fé. Tão somente puderam despertar perguntas e incomodar uma falsa tranqüilidade. Essas perguntas começam a se manifestar. Homens das sinagogas helenistas “levantaram-se e discutiam com Estêvão”. Uma vez que em seguida a acusação contra Estêvão se concentrava em “temos ouvido esse homem proferir blasfêmias contra Moisés e Deus” e “esse homem não cessa de falar contra o lugar santo e a lei”, a discussão deve ter versado mais e mais sobre os dois pontos “templo” e “lei”. Ao que parece, aconteceu algo muito similar ao que sucedeu mais tarde com Martinho Lutero. Os arautos do novo evangelho falaram primeiramente com alegria do positivo, daquilo que Jesus traz, daquele a quem Deus “exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados”
(At 5.31). O caso de Estêvão não deve ter transcorrido de outro modo que o dos apóstolos. Agora, porém, Estêvão, como depois Martinho Lutero, é obrigado pelos adversários a traçar as conseqüências negativas. E os “helenistas”, ágeis no raciocínio, conseguem impeli-lo para idéias cada vez mais ousadas de forma mais eficaz do que os hierosolimitas, que ficam atolados numa indignação genérica e proíbem, sem justificativa clara, o “falar com base no nome de Jesus”. Os apóstolos associavam sua nova notícia com uma óbvia fidelidade ao templo e à lei, assim como Martinho Lutero também queria continuar sendo um bom católico depois de sua redescoberta do evangelho. Na discussão, porém, certas perguntas são dirigidas a Estêvão : se o perdão de todos os pecados é concedido em Jesus e sua cruz, que sentido ainda possuem o templo e todas as cerimônias no templo? Se a nova igreja está edificada sobre a “fé”, e se ela possui pela “fé” o relacionamento decisivo com Deus e sua justiça perante Deus, que, então, significa ainda a lei? São as questões que mais tarde também ocuparam vivamente as próprias igrejas cristãs (cf. as cartas aos Romanos, Gálatas, Hebreus!).

 

51 – Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis. (Êx 32.9; 33.3; Lv 26.41; Jr 9.25; 6.10; Is 63.10).
52 – Qual dos profetas vossos pais não perseguiram? Eles mataram os que anteriormente anunciavam a vinda do Justo, do qual vós agora vos tornastes traidores e assassinos,
53 – vós que recebestes a lei por ministério de anjos e não a guardastes. (2Cr 36.16; Gl 3.19; Hb 2.2).

54 – Ouvindo eles isto, enfureciam-se no seu coração e rilhavam os dentes contra ele.
55 – Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus e Jesus, que estava à sua direita,
56 – e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, em pé à destra de Deus.
57 – Eles, porém, clamando em alta voz, taparam os ouvidos e, unânimes, arremeteram contra ele.
58 – E, lançando-o fora da cidade, o apedrejaram. As testemunhas deixaram suas vestes aos pés de um jovem chamado Saulo.
59 – E apedrejavam Estêvão, que invocava e dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito!
60 – Então, ajoelhando-se, clamou em alta voz: Senhor, não lhes imputes este pecado! Com estas palavras, adormeceu.

 

51-53 Na seqüência Estêvão tira do abrangente testemunho bíblico as conseqüências para a atualidade. Realmente não devemos entender essas últimas frases de seu discurso como um “xingar”. O homem que com o semblante de um anjo encarava seus juízes, que os tratara conscientemente como irmãos e pais, agora no final não se deixa arrastar pela carne e pelo sangue para uma agressividade vulgar. Precisamos ouvir todas as suas palavras como ditas com uma dor ardente por seu povo e com profunda seriedade perante Deus. Assim também Paulo, quando levanta suas mais duras acusações contra Israel, continua sendo ao mesmo tempo aquele que tem “grande tristeza e incessante dor no coração” por seus irmãos de Israel (Rm 9.1-5). Não estamos lidando com um teólogo frio e ávido por ter razão, mas com homens que haviam recebido o amor de Jesus, embora fosse o amor que vê implacavelmente a realidade destrutiva. “Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis” Também essas gravíssimas acusações são, até na formulação, bíblicas! Novamente Estêvão afirma apenas o que afirma a Escritura. Ele vê e caracteriza “Israel” de ontem e de hoje como uma unidade. Vê os profetas rejeitados e perseguidos, justamente porque “anteriormente anunciaram a
vinda do Justo”. Não é surpreendente que agora os filhos desses assassinos de profetas se tornaram ainda piores, “traidores e assassinos” desse Justo que acabara de vir.
A acusação contra Estêvão e os cristãos brota de uma imagem profundamente mentirosa e autocomplacente que Israel elaborou de si mesmo e de sua história. Considera-se como o povo privilegiado por Deus que, com o templo e com a lei, se apresenta com uma bela religiosidade diante de Deus, e fica indignado quando essa vã presunção é atacada com a mensagem de Jesus. Porém é precisamente “a lei”, a Escritura, à qual se apegam, que destrói a mentirosa quimera e revela a verdadeira imagem de Israel. Sem dúvida eles têm a lei, também “a lei” no sentido mais restrito; foi “promulgada por meio de anjos” e a receberam por mediação sagrada (cf. Gl 3.19). Porém cumpri-la? Jamais o fizeram!
Esta é a exaustiva e profunda resposta de Estêvão à pergunta do sumo sacerdote. É assim que precisamos ler o AT como cristãos, e ver a história de Israel – de forma totalmente diferente como também o fazemos muitas vezes no cristianismo, quando num falso resplendor vemos Israel como “o povo da religião”. Sem dúvida oscilaremos entre a falsa glorificação de Israel e o “anti-semitismo” enquanto não reconhecermos, com genuíno arrependimento, como a mentira de Israel constitui também a quimera de nossa própria “piedade” e de nosso próprio orgulho eclesiástico, enraizado nas camadas mais profundas de nosso “cor incurvatum in se ipsum”, nosso “coração retorcido sobre si próprio” (Lutero). Por essa razão, reagimos como “pessoas religiosas” ao ataque do evangelho, ao chamado para nos converter a Jesus, à palavra da cruz, com a mesma indignação que naquele tempo eclodiu contra Estêvão. Por isso não podemos ler o discurso de Estêvão apenas sob enfoque “histórico-crítico”, mas temos de ouvi-lo com arrependimento, sendo pessoalmente atingidos por ela.

Uma palavra sucinta de Pedro em At 5.33 já havia “serrado” os corações do Sinédrio e suscitado o desejo de matar. O discurso de Estêvão, porém, representa um ataque bem diferente, e de antemão a situação está bem mais carregada de ressentimentos. Por isso, não nos podemos surpreender com as repercussões desse discurso, e Estêvão não deve ter esperado outra coisa. “Ouvindo eles isto, cortou-se-lhes o coração, e rilhavam os dentes contra ele.” Ainda se contêm, primeiro é preciso decretar a sentença. Mas a irritação interior os leva a ranger os dentes. Comentaristas críticos sentiram falta de alguém como Gamaliel se levantando novamente e aconselhando a esperar. Contudo, a sessão do Sinédrio não chega ao fim, porque a exclamação seguinte de Estêvão faz eclodir o tumulto. Em segundo lugar, a situação toda e a colocação da acusação são completamente diferentes do que no capítulo 5. E, em terceiro lugar, o grupo fariseu também foi atingido pelo discurso de Estêvão de maneira bem diferente do que pela palavra e pelo testemunho de Pedro. “Não cumpristes a lei”, essa asserção retirava o chão em que se apoiava a existência dos fariseus. Alguém como Gamaliel podia ouvir com ponderação que Jesus ressuscitou e curou esse homem coxo, que Jesus é o Messias. “Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito
Santo” – isso representava também para ele uma afronta desmedida e insuportável para Israel e seus fiéis. Agora a continência de alguém como Gamaliel chegou ao fim!
55 No entanto, nem sequer acontece uma deliberação e votação. Nesse instante é concedida a Estêvão, por meio do Espírito Santo, a visão do mundo de Deus. Ele vê “a glória de Deus e Jesus, parado à direita de Deus”. Tinha consciência de sua situação e da morte certa. Agora ele é arrebatado interiormente de tudo e confrontado com aquela realidade que ele aceitara e testemunhara com fé. A “glória” de Deus sempre é também o resplendor luminoso de Deus. Como ela resplandece maravilhosamente para Estêvão nas trevas da incompreensão e do ódio que o cercavam! Ele vê Jesus, que conforme o Sl 110.1 está sentado à direita de Deus, e espera (Hb 10.12s), “parado à direita de Deus”. Será que Jesus se levantou para saudar a primeira testemunha de sangue? Será que ele demonstra precisamente agora no início da primeira perseguição de sua igreja que ele não observa passivamente, mas que está agindo, já preparando-se para sua parusia? Isso são apenas suposições. Estêvão o vê dessa maneira, e Lucas não nos informa mais nada. Contudo, ele declara o que vê, esquecendo-se de sua situação e de seus inimigos:
56 “Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, em pé à destra de Deus.” Foi isso que o próprio Jesus declarou perante o mesmo Sinédrio: “Entretanto, eu vos declaro que, desde agora, vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso” (Mt 26.64). Naquela ocasião o sumo sacerdote rasgou sua veste, e o Sinédrio proferiu a sentença de morte. Agora a irritação explode com ímpeto ainda maior:
57 “Eles, porém, clamando em alta voz, taparam os ouvidos e, unânimes, arremeteram contra ele.” Não há mais sentença, nem a ponderação de que para uma execução era necessário o consentimento do procurador romano. A declaração de que um ser humano está à direita de Deus era uma insuportável violação da majestade e singularidade de Deus para qualquer ouvido judaico. E, ademais, esse ser humano deveria ser a pessoa que fora pendurada no madeiro maldito pelos líderes influentes de Israel? Essa blasfêmia era tão terrível para eles que taparam os ouvidos e gritaram em voz alta, em parte por pavor, em parte para encobrir as palavras de Estêvão. Quando arrastaram Estêvão para fora da cidade, não precisaram se lembrar expressamente da determinação legal de Lv 24.14; Nm 15.36; Dt 17.5. Aconteceu de forma bem natural. Obviamente o primeiro mártir cumpriu o que foi declarado em Hb 13.12s. O apedrejamento como tal não aconteceu de acordo com a regra que conhecemos da Mishná, a tradição judaica. Simplesmente se lançaram as pedras sobre Estêvão no campo aberto. Apenas se cumpriu a determinação de Dt 17.7: as testemunhas contra Estêvão jogaram as primeiras pedras.
58 A capa, que as atrapalhava no apedrejamento, foi depositada “aos pés de um jovem chamado Saulo”.
É assim que, com destreza de escritor, que Lucas introduz Paulo em sua obra histórica: “um jovem chamado Saulo”. Até então ninguém suspeita, muito menos ele próprio, o que será dele. Porém o leitor de Atos dos Apóstolos sente e estremece: uma vez que a primeira testemunha de Jesus morre como mártir, Jesus já escolheu para si o novo mensageiro, no meio da multidão de seus inimigos. A causa de Jesus não pode ser detida, não por processos, nem por ódio e derramamento de sangue. De acordo com a palavra e vontade de Jesus o evangelho precisa ser levado até os confins da terra. E precisamente o homem que está tentando aniquilá-lo seriamente terá de ser o cooperador central dessa expansão! O termo grego com o qual é caracterizado não significa um “jovem” conforme nós o entendemos, e sim o homem entre vinte e quatro e trinta anos. Em Israel não era possível que um homem assumisse um papel de liderança antes dos trinta anos. Não devemos imaginar esse Saulo que desencadeia a primeira perseguição da igreja como demasiadamente jovem. Aqui não lhe é atribuída nenhuma posição oficial, assim como ele tampouco a menciona em seu próprio retrospecto sobre seu passado em Fp 3.5s. No entanto, deve ter gozado de uma reputação especial, para que depositassem as vestes das testemunhas justamente aos pés dele. Por que, afinal, não haveria de ser assim, visto que podia dizer de si próprio: “E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais” (Gl 1.14)?
59 Estêvão ora sob as pedradas, a princípio ainda de pé, à semelhança da oração do Sl 31.5, com a qual, ao morrer, também Jesus formulou sua súplica ao Pai. Acontece, porém, que a oração do discípulo se dirige ao próprio Jesus e é formulada com mais modéstia: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito.” Não podemos saber com detalhes o que está por trás da morte física. Nossas concepções
terrenas não o alcançam. Contudo há uma coisa que o cristão pode pedir ao morrer, na certeza de ser ouvido: Jesus está aí, Jesus acolhe nosso espírito.
60 Em seguida Estêvão cai de joelhos sob as pedradas, e em alta voz ressoa seu grito sobre seus adversários: “Senhor, não lhes imputes este pecado!” Confirma-se o que afirmamos acima a respeito do encerramento de seu discurso. Nem mesmo agora está buscando a vingança e punição de Deus sobre aqueles que o levam à morte de forma tão injusta. Por essa razão também esse morrer difícil e violento é um “adormecer” em profunda paz.

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1 CO 1.18-25 1 CO 12.2 1 CO 15.20-28 1 CO 15.50-58 1 CO 2.1-5 1 CO 6.12-20 1 CO2.6-13 1 CORÍNTIOS 1 CR 28.20 1 JO 1 JO 1.1-10 1 JO 4.7-10 1 PE 1.13-21 1 PE 1.17-25 1 PE 1.3-9 1 PE 2.1-10 1 PE 2.18-25 1 PE 2.19-25 1 PE 2.4-10 1 PE 3.13-22 1 PE 3.15-22 1 PE 3.18-20 1 PE 4.12-17 1 PE 5.6-11 1 PEDRO 1 RS 19.4-8 1 RS 8.22-23 1 SM 1 1 SM 2 1 SM 28.1-25 1 SM 3 1 SM 3.1-10 1 TIMÓTEO 1 TM 1.12-17 1 Tm 2.1-15 1 TM 3.1-7 1 TS 1.5B-10 10 PENTECOSTES 13-25 13° APÓS PENTECOSTES 14° DOMINGO APÓS PENTECOSTES 15 ANOS 16-18 17 17º 17º PENTECOSTES 1CO 11.23 1CO 16 1º ARTIGO 1º MANDAMENTO 1PE 1PE 3 1RS 17.17-24 1RS 19.9B-21 2 CO 12.7-10 2 CO 5.1-10 2 CO 5.14-20 2 CORINTIOS 2 PE 1.16-21 2 PE 3.8-14 2 PENTECOSTES 2 TM 1.1-14 2 TM 1.3-14 2 TM 2.8-13 2 TM 3.1-5 2 TM 3.14-4.5 2 TM 4.6-8 2 TS 3.6-13 2° EPIFANIA 2° QUARESMA 20º PENTECOSTES 24º DOMINGO APÓS PENTECOSTES 25º DOMINGO PENTECOSTES 27-30 2CO 8 2º ADVENTO 2º ARTIGO 2º DOMINGO DE PÁSCOA 2TM 1 2TM 3 3 3 PENTECOSTES 3º ARTIGO 3º DOMINGO APÓS PENTECOSTES 3º DOMINGO DE PÁSCOA 3º DOMINGO NO ADVENTO 4 PENTECOSTES 41-43 4º DOMINGO APÓS PENTECOSTES 4º DOMINGO DE PENTECOSTES 4º FEIRA DE CINZAS 5 MINUTOS COM JESUS 5° APÓS EPIFANIA 500 ANOS 5MINUTOS 5º DOMINGO DE PENTECOSTES 5º EPIFANIA 5º PENTECOSTES 6º MANDAMENTO 7 ESTRELAS Abiel ABORTO ABSOLVIÇÃO ACAMPAMENTO AÇÃO DE GRAÇA ACIDENTE ACIR RAYMANN ACONSELHAMENTO ACONSELHAMENTO PASTORAL ACRÓSTICO ADALMIR WACHHOLz ADELAR BORTH ADELAR MUNIEWEG ADEMAR VORPAGEL ADMINISTRAÇÃO ADORAÇÃO ADULTÉRIO ADULTOS ADVENTISTA ADVENTO ADVERSIDADES AGENDA AIDS AILTON J. MULLER AIRTON SCHUNKE AJUDAR ALBERTO DE MATTOS ALCEU PENNING ALCOOLISMO ALEGRIA ALEMÃO ÁLISTER PIEPER ALTAR ALTO ALEGRE AM 8.4-14 AMASIADO AMBIÇÃO AMIGO AMIZADE AMOR André ANDRÉ DOS S. DREHER ANDRÉ L. KLEIN ANIVERSARIANTES ANIVERSÁRIO ANJOS ANO NOVO ANSELMO E. GRAFF ANTHONY HOEKEMA ANTIGO TESTAMENTO ANTINOMISTAS AP 1 AP 2 AP 22 AP 22.12-17 AP 3 APOCALIPSE APOLOGIA APONTAMENTOS APOSTILA ARNILDO MÜNCHOW ARNILDO SCHNEIDER ARNO ELICKER ARNO SCHNEUMANN ARREBATAMENTO ARREPENDIMENTO ARTHUR D. BENEVENUTI ARTIGO ASAS ASCENSÃO ASCLÉPIO ASSEMBLEIA ASTOMIRO ROMAIS AT AT 1 AT 1-10 AT 1.12-26 AT 10.34-43 AT 17.16-34 AT 2.1-21 AT 2.14a 36-47 AT 2.22-32 AT 2.36-41 AT 2.42-47 AT 4.32-37 AT 6.1-9 AT 7.51-60 ATANASIANO ATOS AUDIO AUGSBURGO AUGUSTO KIRCHHEIN AULA AUTO ESTIMA AUTO EXCLUSÃO AUTORIDADE SECULAR AVANÇANDO COM GRATIDÃO AVISOS AZUL E BRANCO BAIXO BATISMO BATISMO INFANTIL BELÉM BEM AVENTURADOS BENÇÃO BENJAMIM JANDT BIBLIA ILUSTRADA BÍBLIA SAGRADA BÍBLICO BINGOS BOAS NOVAS BOAS OBRAS BODAS BONIFÁCIO BOSCO BRASIL BRINCADEIRAS BRUNO A. K. SERVES BRUNO R. VOSS C.A. C.A. AUGSBURGO C.F.W. WALTHER CADASTRO CAIPIRA CALENDÁRIO CAMINHADA CAMPONESES CANÇÃO INFANTIL CANCIONEIRO CANTARES CANTICOS CÂNTICOS CANTICOS DOS CANTICOS CAPELÃO CARGAS CÁRIN FESTER CARLOS CHAPIEWSKI CARLOS W. WINTERLE CARRO CASA PASTORAL CASAL CASAMENTO CASTELO FORTE CATECISMO CATECISMO MENOR CATÓLICO CEIA PASCAL CÉLIO R. DE SOUZA CELSO WOTRICH CÉLULAS TRONCO CENSO CERIMONIAIS CÉU CHÁ CHAMADO CHARADAS CHARLES S. MULLER CHAVE BÍBLICA CHRISTIAN HOFFMANN CHURRASCO CHUVA CIDADANIA CIDADE CIFRA CIFRAS CINZAS CIRCUNCISÃO CL 1.13-20 CL 3.1-11 CLAIRTON DOS SANTOS CLARA CRISTINA J. MAFRA CLARIVIDÊNCIA CLAÚDIO BÜNDCHEN CLAUDIO R. SCHREIBER CLÉCIO L. SCHADECH CLEUDIMAR R. WULFF CLICK CLÍNICA DA ALMA CLOMÉRIO C. JUNIOR CLÓVIS J. PRUNZEL CODIGO DA VINCI COLÉGIO COLETA COLHEITA COLOSSENSES COMEMORAÇÃO COMENTÁRIO COMUNHÃO COMUNICAÇÃO CONCÓRDIA CONFIANÇA CONFIRMACAO CONFIRMAÇÃO CONFIRMANDO CONFISSÃO CONFISSÃO DE FÉ CONFISSÕES CONFLITOS CONGREGAÇÃO CONGRESSO CONHECIMENTO BÍBLICO CONSELHO CONSTRUÇÃO CONTATO CONTRALTO CONTRATO DE CASAMENTO CONVENÇÃO NACIONAL CONVERSÃO CONVITE CONVIVÊNCIA CORAL COREOGRAFIA CORÍNTIOS COROA CORPUS CHRISTI CPT CPTN CREDO CRESCENDO EM CRISTO CRIAÇÃO CRIANÇA CRIANÇAS CRIOULO CRISTÃ CRISTÃOS CRISTIANISMO CRISTIANO J. STEYER CRISTOLOGIA CRONICA CRONOLOGIA CRUCIFIXO CRUZ CRUZADAS CTRE CUIDADO CUJUBIM CULPA CULTO CULTO CRIOULO CULTO CRISTÃO CULTO DOMESTICO CULTO E MÚSICA CULTURA CURSO CURT ALBRECHT CURTAS DALTRO B. KOUTZMANN DALTRO G. TOMM DANIEL DANILO NEUENFELD DARI KNEVITZ DAVI E JÔNATAS DAVI KARNOPP DEBATE DEFICIÊNCIA FÍSICA DELMAR A. KOPSELL DEPARTAMENTO DEPRESSÃO DESENHO DESINSTALAÇÃO DEUS DEUS PAI DEVERES Devoção DEVOCIONÁRIO DIACONIA DIÁLOGO INTERLUTERANO DIARIO DE BORDO DICOTOMIA DIETER J. JAGNOW DILÚVIO DINÂMICAS DIRCEU STRELOW DIRETORIA DISCIPLINA DÍSCIPULOS DISTRITO DIVAGO DIVAGUA DIVÓRCIO DOGMÁTICA DOMINGO DE RAMOS DONS DOUTRINA DR Dr. RODOLFO H. BLANK DROGAS DT 26 DT 6.4-9 EBI EC 9 ECLESIASTES ECLESIÁSTICA ECUMENISMO EDER C. WEHRHOLDT Ederson EDGAR ZÜGE EDISON SELING EDMUND SCHLINK EDSON ELMAR MÜLLER EDSON R. TRESMANN EDUCAÇÃO EDUCAÇÃO CRISTÃ EF 1.16-23 EF 2.4-10 EF 4.1-6 EF 4.16-23 EF 4.29-32 EF 4.30-5.2 EF 5.22-33 EF 5.8-14 EF 6.10-20 ÉFESO ELBERTO MANSKE Eleandro ELEMAR ELIAS R. EIDAM ELIEU RADINS ELIEZE GUDE ELIMINATÓRIAS ELISEU TEICHMANN ELMER FLOR ELMER T. JAGNOW EMÉRITO EMERSON C. IENKE EMOÇÃO EN ENCARNAÇÃO ENCENAÇÃO ENCONTRO ENCONTRO DE CRIANÇA 2014 ENCONTRO DE CRIANÇAS 2015 ENCONTRO DE CRIANÇAS 2016 ENCONTRO PAROQUIAL DE FAMILIA ENCONTROCORAL ENFERMO ENGANO ENSAIO ENSINO ENTRADA TRIUNFAL ENVELHECER EPIFANIA ERA INCONCLUSA ERNI KREBS ERNÍ W. SEIBERT ERVINO M. SPITZER ESBOÇO ESCATOLOGIA ESCO ESCOLAS CRISTÃS ESCOLÁSTICA ESCOLINHA ESCOLINHA DOMINICAL ESDRAS ESMIRNA ESPADA DE DOIS GUMES ESPIRITISMO ESPÍRITO SANTO ESPIRITUALIDADE ESPÍSTOLA ESPORTE ESTAÇÃODAFÉ ESTAGIÁRIO ESTAGIÁRIOS ESTATUTOS ESTER ESTER 6-10 ESTRADA estudo ESTUDO BÍBLICO ESTUDO DIRIGIDO ESTUDO HOMILÉTICO ÉTICA EVANDRO BÜNCHEN EVANGELHO EVANGÉLICO EVANGELISMO EVERSON G. HAAS EVERSON GASS EVERVAL LUCAS EVOLUÇÃO ÊX EX 14 EX 17.1-17 EX 20.1-17 EX 24.3-11 EX 24.8-18 EXALTAREI EXAME EXCLUSÃO EXEGÉTICO EXORTAÇÃO EZ 37.1-14 EZEQUIEL BLUM Fabiano FÁBIO A. NEUMANN FÁBIO REINKE FALECIMENTO FALSIDADE FAMÍLIA FARISEU FELIPE AQUINO FELIPENSES FESTA FESTA DA COLHEITA FICHA FILADÉLFIA FILHO DO HOMEM FILHO PRÓDIGO FILHOS FILIPE FILOSOFIA FINADOS FLÁVIO L. HORLLE FLÁVIO SONNTAG FLOR DA SERRA FLORES Formatura FÓRMULA DE CONCÓRDIA Fotos FOTOS ALTO ALEGRE FOTOS CONGRESSO DE SERVAS 2010 FOTOS CONGRESSO DE SERVAS 2012 FOTOS ENCONTRO DE CRIANÇA 2012 FOTOS ENCONTRO DE CRIANÇAS 2013 FOTOS ENCONTRO ESPORTIVO 2012 FOTOS FLOR DA SERRA FOTOS P172 FOTOS P34 FOTOS PARECIS FOTOS PROGRAMA DE NATAL P34 FP 2.5-11 FP 3 FP 4.4-7 FP 4.4-9 FRANCIS HOFIMANN FRASES FREDERICK KEMPER FREUD FRUTOS DO ES GÁLATAS GALILEU GALILEI GATO PRETO GAÚCHA GELSON NERI BOURCKHARDT GENESIS GÊNESIS 32.22-30 GENTIO GEOMAR MARTINS GEORGE KRAUS GERHARD GRASEL GERSON D. BLOCH GERSON L. LINDEN GERSON ZSCHORNACK GILBERTO C. WEBER GILBERTO V. DA SILVA GINCANAS GL 1.1-10 GL 1.11-24 GL 2.15-21 GL 3.10-14 GL 3.23-4.1-7 GL 5.1 GL 5.22-23 GL 6.6-10 GLAYDSON SOUZA FREIRE GLEISSON R. SCHMIDT GN 01 GN 1-50 GN 1.1-2.3 GN 12.1-9 GN 15.1-6 GN 2.18-25 GN 21.1-20 GN 3.14-16 GN 32 GN 45-50 GN 50.15-21 GRAÇA DIVINA GRATIDÃO GREGÓRIO MAGNO GRUPO GUSTAF WINGREN GUSTAVO D. SCHROCK HB 11.1-3; 8-16 HB 12 HB 12.1-8 HB 2.1-13 HB 4.14-16 5.7-9 HC 1.1-3 HC 2.1-4 HÉLIO ALABARSE HERIVELTON REGIANI HERMENÊUTICA HINÁRIO HINO HISTÓRIA HISTÓRIA DA IGREJA ANTIGA E MEDIEVAL HISTÓRIA DO NATAL HISTORINHAS BÍBLICAS HL 10 HL 164 HOMILÉTICA HOMOSSEXUALISMO HORA LUTERANA HORST KUCHENBECKER HORST S MUSSKOPF HUMOR IDOSO IECLB IELB IGREJA IGREJA CRISTÃ IGREJAS ILUSTRAÇÃO IMAGEM IN MEMORIAN INAUGURAÇÃO ÍNDIO INFANTIL INFERNO INFORMATIVO INSTALAÇÃO INSTRUÇÃO INTRODUÇÃO A BÍBLIA INVESTIMENTO INVOCAÇÕES IRINEU DE LYON IRMÃO FALTOSO IROMAR SCHREIBER IS 12.2-6 IS 40.1-11 IS 42.14-21 IS 44.6-8 IS 5.1-7 IS 50.4-9 IS 52.13-53-12 IS 53.10-12 IS 58.5-9a IS 61.1-9 IS 61.10-11 IS 63.16 IS 64.1-8 ISACK KISTER BINOW ISAGOGE ISAÍAS ISAQUE IURD IVONELDE S. TEIXEIRA JACK CASCIONE JACSON J. OLLMANN JARBAS HOFFIMANN JEAN P. DE OLIVEIRA JECA JELB JELB DIVAGUA JEOVÁ JESUS JN JO JO 1 JO 10.1-21 JO 11.1-53 JO 14 JO 14.1-14 JO 14.15-21 JO 14.19 JO 15.5 JO 18.1-42 JO 2 JO 20.19-31 JO 20.8 JO 3.1-17 JO 4 JO 4.5-30 JO 5.19-47 JO 6 JO 6.1-15 JO 6.51-58 JO 7.37-39 JO 9.1-41 JOÃO JOÃO 20.19-31 JOÃO C. SCHMIDT JOÃO C. TOMM JOÃO N. FAZIONI JOEL RENATO SCHACHT JOÊNIO JOSÉ HUWER JOGOS DE AZAR JOGRAL JOHN WILCH JONAS JONAS N. GLIENKE JONAS VERGARA JOSE A. DALCERO JOSÉ ACÁCIO SANTANA JOSE CARLOS P. DOS SANTOS JOSÉ ERALDO SCHULZ JOSÉ H. DE A. MIRANDA JOSÉ I.F. DA SILVA JOSUÉ ROHLOFF JOVENS JR JR 28.5-9 JR 3 JR 31.1-6 JUAREZ BORCARTE JUDAS JUDAS ISCARIOTES JUDAS TADEU JUMENTINHO JUSTIFICAÇÃO JUVENTUDE KARL BARTH KEN SCHURB KRETZMANN LAERTE KOHLS LAODICÉIA LAR LC 12.32-40 LC 15.1-10 LC 15.11-32 LC 16.1-15 LC 17.1-10 LC 17.11-19 LC 19 LC 19.28-40 LC 2.1-14 LC 23.26-43 LC 24 LC 24.13-35 LC 3.1-14 LC 5 LC 6.32-36 LC 7 LC 7.1-10 LC 7.11-16 LC 7.11-17 LC 9.51-62 LEANDRO D. HÜBNER LEANDRO HUBNER LEI LEIGO LEIGOS LEITORES LEITURA LEITURAS LEMA LENSKI LEOCIR D. DALMANN LEONARDO RAASCH LEOPOLDO HEIMANN LEPROSOS LETRA LEUPOLD LIBERDADE CRISTÃ LIDER LIDERANÇA LILIAN LINDOLFO PIEPER LINK LITANIA LITURGIA LITURGIA DE ADVENTO LITURGIA DE ASCENSÃO LITURGIA DE CONFIRMAÇÃO LITURGIA EPIFANIA LITURGIA PPS LIVRO LLLB LÓIDE LOUVAI AO SENHOR LOUVOR LUCAS ALBRECHT LUCIFER LUCIMAR VELMER LUCINÉIA MANSKE LUGAR LUÍS CLAUDIO V. DA SILVA LUIS SCHELP LUISIVAN STRELOW LUIZ A. DOS SANTOS LUTERANISMO LUTERO LUTO MAÇONARIA MÃE MAMÃE MANDAMENTOS MANUAL MARCÃO MARCELO WITT MARCIO C. PATZER MARCIO LOOSE MARCIO SCHUMACKER MARCO A. CLEMENTE MARCOS J. FESTER MARCOS WEIDE MARIA J. RESENDE MÁRIO SONNTAG MÁRLON ANTUNES MARLUS SELING MARTIM BREHM MARTIN C. WARTH MARTIN H. FRANZMANN MARTINHO LUTERO MARTINHO SONTAG MÁRTIR MATERNIDADE MATEUS MATEUS KLEIN MATEUS L. LANGE MATRIMÔNIO MAURO S. HOFFMANN MC 1.1-8 MC 1.21-28 MC 1.4-11 MC 10.-16 MC 10.32-45 MC 11.1-11 MC 13.33-37 MC 4 MC 4.1-9 MC 6.14-29 MC 7.31-37 MC 9.2-9 MEDICAMENTOS MÉDICO MELODIA MEMBROS MEME MENSAGEIRO MENSAGEM MESSIAS MÍDIA MILAGRE MINISTÉRIO MINISTÉRIO FEMENINO MIQUÉIAS MIQUÉIAS ELLER MIRIAM SANTOS MIRIM MISSÃO MISTICISMO ML 3.14-18 ML 3.3 ML NEWS MODELO MÔNICA BÜRKE VAZ MORDOMIA MÓRMOM MORTE MOVIMENTOS MT 10.34-42 MT 11.25-30 MT 17.1-9 MT 18.21-45 MT 21.1-11 MT 28.1-10 MT 3 MT 4.1-11 MT 5 MT 5.1-12 MT 5.13-20 MT 5.20-37 MT 5.21-43 MT 5.27-32 MT 9.35-10.8 MULHER MULTIRÃO MUSESCORE MÚSICA MÚSICAS NAAÇÃO L. DA SILVA NAMORADO NAMORO NÃO ESQUECER NASCEU JESUS NATAL NATALINO PIEPER NATANAEL NAZARENO DEGEN NEEMIAS NEIDE F. HÜBNER NELSON LAUTERT NÉRISON VORPAGEL NILO FIGUR NIVALDO SCHNEIDER NM 21.4-9 NOITE FELIZ NOIVADO NORBERTO HEINE NOTÍCIAS NOVA ERA NOVO HORIZONTE NOVO TESTAMENTO O HOMEM OFERTA OFÍCIOS DAS CHAVES ONIPOTENCIA DIVINA ORAÇÃO ORAÇAODASEMANA ORATÓRIA ORDENAÇAO ORIENTAÇÕES ORLANDO N. OTT OSÉIAS EBERHARD OSMAR SCHNEIDER OTÁVIO SCHLENDER P172 P26 P30 P34 P36 P40 P42.1 P42.2 P70 P95 PADRINHOS PAI PAI NOSSO PAIS PAIXÃO DE CRISTO PALAVRA PALAVRA DE DEUS PALESTRA PAPAI NOEL PARA PARA BOLETIM PARÁBOLAS PARAMENTOS PARAPSICOLOGIA PARECIS PAROQUIAL PAROUSIA PARTICIPAÇÃO PARTITURA PARTITURAS PÁSCOA PASTOR PASTORAL PATERNIDADE PATMOS PAUL TORNIER PAULO PAULO F. BRUM PAULO FLOR PAULO M. NERBAS PAULO PIETZSCH PAZ Pe. ANTONIO VIEIRA PEÇA DE NATAL PECADO PEDAL PEDRA FUNDAMENTAL PEDRO PEM PENA DE MORTE PENEIRAS PENTECOSTAIS PENTECOSTES PERDÃO PÉRGAMO PIADA PIB PINTURA POEMA POESIA PÓS MODERNIDADE Pr BRUNO SERVES Pr. BRUNO AK SERVES PRÁTICA DA IGREJA PREEXISTÊNCIA PREGAÇÃO PRESÉPIO PRIMITIVA PROCURA PROFECIAS PROFESSORES PROFETA PROFISSÃO DE FÉ PROGRAMAÇÃO PROJETO PROMESSA PROVA PROVAÇÃO PROVÉRBIOS PRÓXIMO PSICOLOGIA PV 22.6 PV 23.22 PV 25 PV 31.28-30 PV 9.1-6 QUARESMA QUESTIONAMENTOS QUESTIONÁRIO QUESTIONÁRIO PLANILHA QUESTIONÁRIO TEXTO QUINTA-FEIRA SANTA QUIZ RÁDIO RADIOCPT RAFAEL E. ZIMMERMANN RAUL BLUM RAYMOND F. SURBURG RECEITA RECENSÃO RECEPÇÃO REDENÇÃO REENCARNAÇÃO REFLEXÃO REFORMA REGIMENTO REGINALDO VELOSO JACOB REI REINALDO LÜDKE RELACIONAMENTO RELIGIÃO RENATO L. REGAUER RESSURREIÇÃO RESTAURAR RETIRO RETÓRICA REUNIÃO RICARDO RIETH RIOS RITO DE CONFIRMAÇÃO RITUAIS LITURGICOS RM 12.1-18 RM 12.1-2 RM 12.12 RM 14.1-12 RM 3.19-28 RM 4 RM 4.1-8 RM 4.13-17 RM 5 RM 5.1-8 RM 5.12-21 RM 5.8 RM 6.1-11 RM 7.1-13 RM 7.14-25a RM 8.1-11 RM 8.14-17 ROBERTO SCHULTZ RODRIGO BENDER ROGÉRIO T. BEHLING ROMANOS ROMEU MULLER ROMEU WRASSE ROMUALDO H. WRASSE Rômulo ROMULO SANTOS SOUZA RONDÔNIA ROSEMARIE K. LANGE ROY STEMMAN RT 1.1-19a RUDI ZIMMER SABATISMO SABEDORIA SACERDÓCIO UNIVERSAL SACERDOTE SACOLINHAS SACRAMENTOS SADUCEUS SALMO SALMO 72 SALMO 80 SALMO 85 SALOMÃO SALVAÇÃO SAMARIA Samuel F SAMUEL VERDIN SANTA CEIA SANTIFICAÇÃO SANTÍSSIMA TRINDADE SÃO LUIS SARDES SATANÁS SAUDADE SAYMON GONÇALVES SEITAS SEMANA SANTA SEMINÁRIO SENHOR SEPULTAMENTO SERMÃO SERPENTE SERVAS SEXTA FEIRA SANTA SIDNEY SAIBEL SILVAIR LITZKOW SILVIO F. S. FILHO SIMBOLISMO SÍMBOLOS SINGULARES SISTEMÁTICA SL 101 SL 103.1-12 SL 107.1-9 SL 116.12-19 SL 118 SL 118.19-29 SL 119.153-160 SL 121 SL 128 SL 142 SL 145.1-14 SL 146 SL 15 SL 16 SL 19 SL 2.6-12 SL 22.1-24 SL 23 SL 30 SL 30.1-12 SL 34.1-8 SL 50 SL 80 SL 85 SL 90.9-12 SL 91 SL 95.1-9 SL11.1-9 SONHOS SOPRANO Sorriso STAATAS STILLE NACHT SUMO SACERDOTE SUPERTIÇÕES T6 TEATRO TEMA TEMPLO TEMPLO TEATRO E MERCADO TEMPO TENOR TENTAÇÃO TEOLOGIA TERCEIRA IDADE TESES TESSALÔNICA TESTE BÍBLICO TESTE DE EFICIÊNCIA TESTEMUNHAS DE JEOVÁ Texto Bíblico TG 1.12 TG 2.1-17 TG 3.1-12 TG 3.16-4.6 TIAGO TIATIRA TIMÓTEO TODAS POSTAGENS TRABALHO TRABALHO RURAL TRANSFERENCIA TRANSFIGURAÇÃO TRICOTOMIA TRIENAL TRINDADE TRÍPLICE TRISTEZA TRIUNFAL Truco Turma ÚLTIMO DOMINGO DA IGREJA UNIÃO UNIÃO ESTÁVEL UNIDADE UNIDOS PELO AMOR DE DEUS VALDIR L. JUNIOR VALFREDO REINHOLZ VANDER C. MENDOÇA VANDERLEI DISCHER VELA VELHICE VERSÍCULO VERSÍCULOS VIA DOLOROSA VICEDOM VÍCIO VIDA VIDA CRISTÃ VIDENTE VIDEO VIDEOS VÍDEOS VILS VILSON REGINA VILSON SCHOLZ VILSON WELMER VIRADA VISITA VOCAÇÃO VOLMIR FORSTER VOLNEI SCHWARTZHAUPT VOLTA DE CRISTO WALDEMAR REIMAN WALDUINO P.L. JUNIOR WALDYR HOFFMANN WALTER L. CALLISON WALTER O. STEYER WALTER T. R. JUNIOR WENDELL N. SERING WERNER ELERT WYLMAR KLIPPEL ZC ZC 11.10-14 ZC 9.9-12