O desenho dos seres vivos
segundo a Teoria da Seleção Natural
Gustavo Caponi
CNPq // Departamento de Filosofia
Universidade Federal de Santa Catarina
1 APRESENTAÇÃO
Conforme já o dizia Niles Eldredge (1995, p.184), um dos biólogos evolucionistas mais importantes do século XIX, que “há desenho na natureza”, e que “é a seleção natural a que produz o ajustado encaixe entre o organismo e o ambiente” é um “credo que ninguém discute” nos mais altos estrados da Biologia Evolucionaria. Quer dizer: que os organismos são objetos desenhados e que a seleção natural é o agente ou processo que gera esse desenho, não é algo sobre o qual se discuta em Biologia Evolucionaria.
Sobre o que sim se discute é sobre a eficácia e os limites desse agente desenhador (Cf. Orzack & Sober, 2001), sobre a confiabilidade e o desempenho que se pode esperar dos seus produtos (Cf. Weibel et ao, 1998), e, mais em geral, sobre as exigências às que esses desenhos respondem. Títulos de obras chaves da Biologia Evolucionaria contemporânea como Princípios do desenho animal (Weibel et ao, 1998); Ótimos Animais (Alexander, 1996) ou Desenho Mecânico de Organismos (Wainwright et ao., 1980) estão longe de serem meras formas de dizer: eles são indicações claras e precisas de uma parte central da agenda de perguntas sobre os seres vivos que o darwinismo nos permite e nos exige formular.
Mais até: segundo já o consignava Darwin na introdução de Sobre a origem das espécies, o problema de Paley era uma das questões fundamentais que qualquer teoria da evolução devia resolver (Ayala, 2004, p.52). Na sua opinião, nenhuma explicação da origem das espécies seria satisfatória se ela não conseguisse mostrar “como as inumeráveis espécies que habitam este mundo se modificaram de maneira a adquirir a perfeição de estrutura e co-adaptação que tão justificadamente suscita a nossa admiração” (Darwin, 1859, p.3).
Para Darwin, poderíamos dizer seguindo a Camile Limoges (1976, p.51), o desenho dos seres vivos é um indício que “assinala aonde reside um problema fundamental da história natural”: um problema a ser resolvido e não a solução cômoda e imediata de todos os problemas.
Por isso, a identificação do mecanismo natural por meio do qual esse desenho é produzido e reformulado, me refiro à seleção natural, foi o tema central de Sobre a origem das espécies; e é a mostrar em que sentido podemos e devemos dizer que esse mecanismo opera como um genuíno agente desenhador que dedicarei esta exposição.
Assim, e seguindo de perto a análise da perigosa idéia de Darwin proposto por Daniel Dennett (1991; 1996; 2000) tentarei mostrar que Konrad Lorenz (1974, p.17 e p.45) e Rupert Riedl (1983, p.11) estavam certos quando sugeriam que a evolução biológica, vista da perspectiva darwinista, constitui um processo cognitivo. Me afastarei um pouco de Dennett, entretanto, na hora de identificar quais seriam os sistemas cognitivos que estariam envolvidos em dito processo.
Segundo este autor insistiu em diferentes trabalhos, o programa adaptacionista darwiniano constitui uma legítima e insubstituível translação ao domínio da Biologia do que ele chama perspectiva intencional; mas, para que essa tese, a primeira vista desconcertante, possa ser formulada apropriadamente, e ela não fique no plano da simples metáfora, é necessário esclarecer qual seria o sistema intencional ao qual abordaríamos desde essa perspectiva intencional.
E será nesse ponto particular que adotarei uma posição ligeiramente diferente daquela sustentada por Dennett: no lugar de dizer que esse sistema é a natureza como um tudo, ou a própria seleção natural, eu direi que, quando adotamos a perspectiva darwiniana, são as populações as que são consideradas como sistemas cognitivos. No meu modo de apresentar a perigosa idéia de Darwin, que ainda assim continuará a ser basicamente dennettiano, a seleção natural aparecerá caracterizada como um mecanismo de desenho que explica a evolução desses sistemas cognitivos particulares que são as populações.
2 PRECISÕES SOBRE O CONCEITO DE OBJETO DESENHADO
Mas, antes de prosseguir, quero deixar em claro que, quando eu uso o termo desenho para me referir àquilo que no Brasil se costuma chamar de projeto ou design, não o estou fazendo por desconhecimento da língua portuguesa. O Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis aceita a acepção de desenho que eu estou usando aqui; e acredito que vale a pena a preferir frente às outras duas opções. Projeto, me parece, carrega uma conotação muito forte de previsão ou planejamento; e isto nem sempre está presente nos objetos desenhados: ninguém duvidaria de que o machado paleolítico é um objeto desenhado; mas não acredito que se possa dizer que ele foi projetado. Ninguém se sentou a pensar como esse instrumento seria; mas, no entanto, os seus perfis respondem ao melhor cumprimento de uma função. Já design é uma expressão cuja tradução às línguas latinas não deixa de ser problemática; e acredito que se ganharia muito a evitando.
É que, no português, ao igual que no castelhano e no francês, ela pode ser traduzida de duas formas: por desígnio ou por desenho no caso do português, por designio ou por diseño no caso do castelhano, e por dessein ou dessin no caso do francês. Sendo que nos três casos a segunda alternativa serve para designar, tanto o processo pelo qual se produz o modelo de alguma coisa, como o resultado mesmo desse processo; e igualmente nos três casos a primeira alternativa equivale a intenção ou a intuito.
O que ocorre é que, já no inglês, design é um termo definitivamente equívoco; e essa equivocidade foi secularmente explorada pelos defensores do argument from design porque ela reforça a proximidade entre a idéia de propósito e a idéia de desenho. Mas, essa superposição não é forçosa nas nossas línguas: distinguindo entre desenho e desígnio em português, ao igual que no castelhano ou no francês, se pode pensar, ou pelo menos falar, da produção de um desenho sem pressupor, imediatamente, num desígnio que oriente essa produção.
Para nós, em síntese, a idéia de que a seleção natural desenha os organismos sem desígnio algum não tem a aparência imediata de um contra-senso; e acredito que não estaria mal preservar e usufruir essa possibilidade de nossas línguas. Neste mundo, falar português ou castelhano traz, em geral, muitas desvantagens: não estaria mal aproveitar alguma das suas vantagens.
Mas, para além dessas questões terminológicas, nunca muito importantes, o que sim pode ser relevante aqui é dar uma definição precisa, mas ao mesmo tempo geral, do que haveremos de entender por objeto desenhado; e acredito que, ela poderia ser a seguinte: X é um objeto desenhado na medida em algum de seus perfis seja o resultado de um processo de mudança tendente a incrementar a eficiência com a que esse perfil cumpre uma função; e o que pode ser entendido por função é simplesmente o papel causal que algo cumpre no desenvolvimento de qualquer processo causal ou no funcionamento de qualquer sistema (cf. Cummins, 1975).
Mas, embora esta definição de função seja extremamente ampla, o conceito de objeto desenhado que se pode construir a partir dela certamente não é tão amplo assim. Segundo este modo de entender o conceito de função, qualquer processo causal pode ser analisado funcionalmente imputando a cada um dos seus elementos um papel causal no seu desenvolvimento; mas somente de alguns objetos muito particulares pode ser dito que eles estiveram submetidos a processos de mudança tendentes a incrementar a eficácia com a que alguns dos seus elementos desempenham um papel no seu funcionamento.
A lua, por exemplo, cumpre uma função no movimento das marés: ela tem um papel causal neste processo; mas nada na lua se modificou para melhor cumprir essa ou qualquer outra função; e, por isso não consideramos à lua como um objeto desenhado. Embora, claro, ela seja muito bonita. Por outro lado, ainda que, ao escolher pedras para as fazermos quicar num estanque, constatemos que as aplanadas são mais convenientes do que as esféricas, tampouco diremos que aquelas são objetos desenhados para praticar esse jogo: os seus perfis foram modificados por agentes físicos que nada tinham que ver com o cumprimento desta ou de outra função. Conveniência e Desenho não são sinônimos.
Muito diferente é o que ocorre, em troca, com os dispositivos técnicos construídos por agentes intencionais como os seres humanos e com os seres vivos produzidos pela evolução. No primeiro caso, as funções em questão são os papéis que esses objetos cumprem nos processos para cuja realização eles foram construídos ou adotados; e assim diremos que um machado paleolítico é um objeto desenhado na medida em que os seus perfis foram modificados para melhor cumprir com a função de cortar ou golpear. Ou diremos que uma semente cultivável é um objeto desenhado na medida em seus perfis respondem a um processo de hibridação, de seleção artificial ou de manipulação genética tendente a incrementar o seu rendimento em um determinado solo ou a sua resistência a uma praga. Enquanto isso, no caso dessas estruturas dos seres vivos que nunca estiveram submetidas a nenhum destes últimos processos, diremos que elas estão desenhadas na medida em que os seus perfis se modificaram, por seleção natural, em virtude de que estas modificações permitiam o melhor cumprimento de alguma função biológica; e por função biológica não devemos entender outra coisa do que o papel causal que as estruturas ou fenômenos orgânicos cumprem na realização do ciclo vital de um ser vivo.
Este conceito de função biológica é, com efeito, um caso particular da noção sistêmica ou processual de função proposta por Cummins (1975). Trata-se simplesmente de uma versão específica desta última noção que seria própria das ciências biológicas. Segundo ela, dizer que E é a função de X no processo Z supõe: [1] que Z é o ciclo vital de um ser vivo; [2] que X produz E; e [3] e que E tem um papel causal na realização de Z.
Assim, tudo X tal produza um efeito E que contribua na preservação, desenvolvimento e reprodução de um organismo, num ambiente determinado, poderá ser descrito como possuindo uma função; e esta função não será outra que a contribuição de X no cumprimento dessa preservação, desse desenvolvimento e dessa reprodução. Mas eu insisto: possuir uma função não é o mesmo que estar desenhado. Para que um item funcional possa ser descrito como desenhado é necessário, como eu já disse, que os seus perfis tenham sido modificados em virtude de um melhor cumprimento dessa função. Por isso, embora um elemento ou característica orgânica possa cumprir uma função no ciclo vital de um organismo, até que não se comprove que ela se modificou em virtude de um cumprimento mais eficaz do seu papel causal ao interior desse processo, não se dirá que ela está desenhada para tal função.
Incidentalmente, o aroma que produz uma planta ao metabolizar uma substância tóxica que está poluindo o terreno em que ela cresce, pode ajudá-la a afugentar uns insetos que acabam de invadir a região; e então se poderá dizer que esse aroma acabou tendo uma função importante no ciclo vital da planta.
Mas, embora seja assim, não poderemos dizer que a capacidade de produzir esse aroma seja uma característica desenhada. Esta capacidade não surgiu como resposta à pressão exercida pela praga; ela, embora útil como recurso defensivo, não é uma adaptação para o cumprimento dessa função. E isto nos coloca ante a relação indissolúvel que existe entre desenho biológico e seleção natural: um perfil orgânico é um perfil desenhado, é uma adaptação, se e somente se, ele foi modificado por seleção natural em virtude de que essa modificação permitia um cumprimento mais efetivo de alguma função biológica.
Quer dizer: se pode caracterizar uma estrutura orgânica X como estando [naturalmente] desenhada para fazer E, se e só se, são satisfeitas as seguintes condições: [1] E é uma função biológica de X, e [2] X é o resultado de um processo de mudança produzido pela seleção natural em virtude de que X tenha sido mais eficiente do que suas alternativas na realização de E (Allen & Bekoff (1998, p.578).
Porem, para entender melhor em que sentido se pode considerar à seleção natural como um processo gerador de desenho, e não como um simples processo físico gerador de formas, tal como a erosão eólica que molda uma pedra, ou o jogo de forças que forma uma bolha de óleo numa massa de água, é necessário que analisemos mais de perto o seu modo de modificar as estruturas orgânicas otimizando o seu desempenho funcional; e é para isso, como eu disse no início, que apelaremos para essa relação que Daniel Dennett estabelece entre a perspectiva intencional e o programa adaptacionista darwiniano. Ela nos permitirá concluir que, longe de nos propor uma física dos organismos, o darwinismo nos põe ante a possibilidade de uma hermenêutica do vivente.
3 A HERMENÊUTICA DO VIVENTE[1]
Pensando somente em seu domínio mais óbvio e imediato de aplicação, isso que Dennett chama perspectiva intencional é uma estratégia global de interrogação e de controle dos objetos e fenômenos do mundo que, sendo claramente diferente dessa outra estratégia que é a perspectiva física, pode seguir duas vias possíveis e complementares de análise: podemos considerar a ação humana e seus produtos como resultantes de uma opção entre médios disponíveis para a realização de um fim, ou podemos considerá-la como obedecendo a um calculo de custos e benefícios.
Segundo o primeiro ponto de vista, que é do engenheiro, o processo de construção de qualquer objeto ou dispositivo técnico, ao igual que qualquer outra seqüência de ações, é considerada como uma série concatenada de opções entre meios alternativos cognitivamente disponíveis para o agente, tal que cada uma dessas opções resulta, em virtude das crenças e preferências desse agente, mais satisfatória dos que as outras para a consecução do fim ou meta que ele quer alcançar.
Enquanto isso, conforme o segundo ponto de vista, que é o do economista, qualquer ação ou decisão de um agente intencional será considerada como a resultante de um cálculo, mais ou menos informal ou vago, de custos e benefícios.
Mas, na realidade, este último ponto de vista é mais fundamental e mais importante que o primeiro: um meio sempre pode ser pensado como um recurso que se investe, ou um custo que se admite, em vistas à consecução de uma meta cuja consecução se considera um benefício; mas nem sempre é possível, ou intuitivo, considerar um custo como se fosse um meio: em alguns contextos, o desperdício de combustível de um motor defeituoso pode ser considerado um gasto razoável se o custo comprometido pela reparação do defeito acaba sendo maior do que o custo do combustível desperdiçado. É difícil dizer, entretanto, que esse desperdício seja um meio ou um recurso para fazer funcionar o motor; e isto é particularmente importante para entender como é que a atitude intencional entra na biologia evolutiva sob a forma do programa adaptacionista.
Os darwinistas clássicos tenderam pelo geral a considerar as estruturas orgânicas em termos do par solução-problema: para eles a seleção natural operava como um engenheiro que, dentro de um leque limitado de alternativas, sempre encontrava o melhor modo disponível de resolver um problema. Orientados à identificação dos benefícios produzidos pelas estruturas adaptativas, Darwin e seus seguidores mais imediatos não deram muita atenção aos custos implicados pela aquisição e sustento dessas estruturas.
O darwinismo atual, entretanto, ao levar mais em conta o ponto de vista econômico, nos conduz a considerar que uma estrutura adaptativa não somente tem que poder resolver um problema colocado pelo ambiente, mas também o tem que fazer a um custo sustentável (Cronin, 1991, p.66). Mas, além disso, esse ponto de vista econômico nos permite entender o fato de que certas características produzam algumas claras desvantagens para os seus portadores.
Tais desvantagens podem ser consideradas como custos compensados por benefícios que essa mesma estrutura produziria, e que talvez nos tínhamos negligenciado; ou, em todo caso, elas podem ser contabilizadas como custos compensados pelos benefícios produzidos por uma segunda estrutura cuja presença supõe ou implica a presença da primeira.
Assim, ante uma espécie de pássaros que põem, pelo geral, quatro ovos, e não cinco, ou três, como os de outra espécie com a qual ela está genealogicamente vinculada, o darwinismo nos leva pensar que deve haver alguma [boa] razão para que as coisas sejam desse modo.
Para esses pássaros, se pressupõe, dadas as condições na qual eles vivem, quatro ovos devem ser melhores, em certo modo, que três ou cinco; e, a partir dessa hipótese de maior satisfactoriedade relativa frente às alternativas disponíveis (Dennett, 1991, p.234// Simon, 1996, p.29), se ensaiam estimativas sobre gastos de energia, probabilidade de sobrevivência, escassez de comida, etc.; que servirão de base para a formulação de uma hipótese contrastável segundo a qual, nesse contexto local e dadas as alternativas presumivelmente disponíveis, aquela era a melhor alternativa viável (Dennett,1991, p.247).
A explicação darwinista é sempre, neste sentido, a explicação de algo assim como uma opção entre dois, ou mais, modos alternativos de desenhar um órgão ou um padrão comportamental (Cronin, 1993, p.67); e ela pretende nos dar a conhecer às razões pela qual a alternativa preferida foi beneficiada em detrimento das preteridas.
Ou como o próprio Dennett (1991, p.238) o explica: “quando os biólogos formulam a pergunta por que dos evolucionistas, eles estão procurando uma razão de ser que explique por que foi escolhida determinada característica”; e isto significa que não se trata já de somente explicar como algo atua ou o quê faz, mas sim de mostrar por que isso pôde ser melhor do que outra coisa que, naquele contexto específico, se apresentava como uma alternativa. Quer dizer: não se trata simplesmente de saber qual é a função biológica cumprida por uma estrutura; mas sim de saber por que ela a cumpre melhor que alguma outra variante em cujo detrimento ela foi selecionada.
É por isso que não se pode identificar a explicação seleccional darwiniana com uma simples análise funcional. Como o arqueólogo que quer compreender uma máquina antiga; o biólogo darwiniano não só quer saber o que é o que essa máquina fazia, ou como ela e cada uma de das suas partes funcionava; ele, o arqueólogo, também quer saber por que a máquina estava construída do modo em que ele estava construída e não de outro modo supostamente possível. Por isso é que se pode dizer que a explicação por seleção natural explica o desenho, e não o funcionamento, dos seres vivos.
Malgrado Haeckel (1947[1879], p.89), Darwin não foi, nem quis ser, o Newton da folinha de erva que Kant (1992[1793], §75) reputou impossível na Crítica da Faculdade de Julgamento. Muito longe de perseguir uma explicação mecânica da evolução, Darwin nos propunha isso que me já me permiti caracterizar como uma hermenêutica do vivente.
E a isso aludia com toda clareza aquela passagem da conclusão de Sobre a origem das Espécies, no qual Darwin (1859, pp.485-486) nos convida a deixar “de olhar a um ser vivo como um selvagem olha um navio”, para começar contemplá-lo “aproximadamente da mesma forma em que nos olhamos qualquer grande engenho mecânico; isto é: como resultado do trabalho, da experiência, da razão, e inclusive da estupidez de numerosos trabalhadores”. Quer dizer: considerando que “cada produção da natureza teve uma história” e que “toda estrutura complexa e todo instinto” é “a soma de múltiplas artimanhas (contrivances), cada uma útil para seu possuidor”.
A grande ruptura do darwinismo não foi fazer ingressar na vida na ordem da necessidade galileana; e sim a fazer ingressar na ordem da necessidade econômica: essa é a necessidade que limita os acasos da variação genética. A teoria da seleção natural leva aos biólogos a pensar que, sob o impiedoso império da luta pela existência, não há estrutura que perdure ou se difunda sem que isso não comporte alguma vantagem ou não seja o custo residual de tal vantagem; e isto faz que o biólogo evolucionario possa colocar e responder perguntas sobre o por quê das estruturas biológicas, sobre o seu desenho, desde uma perspectiva que é muito próxima daquela outra perspectiva que, perante qualquer ação ou omissão de um agente intencional, nos faz pensar que este agente agiu ou deixou de agir em virtude de alguma [boa] razão que cabe a nos elucidar (Dennett, 1996, p.129).
Não devem nos surpreender, neste sentido, os ares de família que guardam entre si as explicações darwinistas e as explicações das ciências humanas que apelam ao modelo da opção racional (Mueller, 1996, p.105). De fato, e tal como Herbert Simon (1996, p.8) assinalou em As Ciências do Artificial, “o papel jogado pela seleção natural na Biologia Evolucionaria é análogo ao papel jogado pela racionalidade nas ciências do comportamento humano”.
Ambos os termos, racionalidade e seleção natural, designam processos que, partindo de um conjunto restringido de modos ou recursos alternativos para resolver um problema ou cumprir uma função, determinam qual desses meios alternativos disponíveis é o que, em um contexto específico, resulta o mais conveniente. Por isso se pode dizer que a explicação darwiniana é uma explicação por razões: uma explicação, como eu já disse, da razão de ser das estruturas orgânicas (Dennett, 1991, p.230; 1996, p.76).
Mas claro, para nós razões são sempre razões de alguém: razões de um sujeito ou agente que sabe porque ele atua como atua; e, por isso, a idéia de pensar à explicação darwiniana como um tipo peculiar de explicação por razões pode nos parecer uma forma encoberta de incorrer no mais grosseiro antropomorfismo teológico. Dizer que procuramos as razões da difusão de uma determinada coloração em uma população de mariposas pareceria implicar que procuramos os motivos que explicariam a ação de uma inteligência demiúrgica que teria disposto essa difusão. Contudo, se em lugar dessa concepção usual, mas estreitamente psicologista, do conceito de razão optamos por uma mais ampla segundo a qual uma razão é qualquer fator que determina e permite explicar e antecipar o comportamento de um sistema cognitivo, é possível que possamos evitar incorrer em uma representação antropomórfica da explicação darwiniana.
4 AS POPULAÇÕES COMO SISTEMAS COGNITIVOS
O problema, por isso, reside menos no conceito de razão que na correta definição de qual seria o sistema cognitivo cujo comportamento se estaria explicando apelando a essas supostas razões. Ao respeito deste ponto, os textos de Dennett (1996, p.133) nos propõem duas possíveis respostas: a primeira fica sugerida ao se considerar que uma alternativa legítima seria a possibilidade de personificar uma espécie e a tratar como se ela fosse um agente ou um raciocinador pratico; a segunda resposta, no entanto, é a que se desprende da alternativa de se considerar à própria seleção natural, “jocosamente personificada como Mãe Natureza”, e não à espécie, como se ela fosse o agente produtor dos desenhos biológicos. Sendo esta última, de fato, a alternativa que Dennett (1996, p.228) privilegia quando insiste na idéia de que “a tarefa da retro-engenharia em biologia é, representar o que a mãe natureza tinha em mente”. Mas não sendo a mãe natureza outra coisa do que a própria seleção natural; podemos dizer que para Dennett (1991, p.230 e 2000, p.341), a seleção natural seria o sistema cognitivo responsável pela evolução biológica. Acredito, entretanto, que esta resposta apresenta algumas dificuldades.
A mais óbvia reside no fato de que as adaptações, o resultado da seleção natural, não são atributos, nem dos organismos individuais, nem da natureza ou da vida como um tudo: elas são atributos de linhagens particulares; e, aquilo que explicamos apelando para a Teoria da Seleção Natural é o comportamento ou a evolução dessas linhagens, e não o comportamento ou a evolução da natureza como um tudo. Por outro lado, também é digno de ser sublinhado que a seleção natural é um fenômeno que, em sentido estrito, ocorre primariamente ao interior dessas linhagens que chamamos populações ou espécies: a natureza está em guerra; mas a luta pela existência que opera como motor da seleção natural ocorre basicamente dentro de cada espécie ou, mais em geral, dentro de cada população. Por isso, a seleção natural, entendida como um fenômeno único e universal, não existe: unicamente existem pressões seletivas concretas atuando dentro ou sobre uma população. As diferentes linhagens de seres vivos não estão submetidas a um fator único chamado seleção natural: elas estão submetidas a diversas pressões seletivas que são específicas a cada uma delas; e personificar a seleção natural numa Mãe Natureza pode nos levar a negligenciar esses importantes aspectos da teoria darwiniana.
Por isso, na base destas considerações, mas ainda respeitando o núcleo fundamental das teses de Dennett, me permito sugerir que a melhor resposta à pergunta sobre a identidade do agente das mudanças evolutivas é aquela que o próprio Dennett deixou do lado: os sistemas cognitivos cujas razões tentamos desentranhar e cujos desempenhos procuramos compreender na Biologia Evolucionaria não são outros do que as populações consideradas como linhagens e não como simples multidões de indivíduos. Esse é o objeto privilegiado da hermenêutica do vivente proposta por Darwin. Sob esta óptica, a seleção natural não seria já o agente dos processos evolutivos; mas sim o procedimento ou o processo por intermédio do qual uma população explora e avalia o universo das soluções disponíveis para os distintos problemas adaptativos que ela deve enfrentar para se sustentar (Dennett, 1996, p.133//Cronin, 1991, p.67). A seleção natural é, como o próprio Dennett (1996, p.185) já o dizia, Research & Development: um processo de descobrimento e otimização de recursos adaptativos produzido por cada população. Um processo sem o qual, tais populações seriam incapazes, não somente de responder aos sempre renovados desafios de um entorno em permanente mudança, mas também de aproveitar as mudanças que este entorno pode criar.
Diferentemente de um termostato, cujo patrão de resposta às mudanças do entorno é constante, e não pode ser modificado ou otimizado pelo próprio sistema, as populações, como os animais capazes de aprender, não somente podem modificar esse patrão, mas também podem o melhorar; e isso nos indica que estamos ante sistemas que, embora desde uma outra óptica eles possam, como ocorre com os cérebros, continuar a serem considerados como sistemas físicos, se desempenham de um modo que não encontra paralelo em outros sistemas físicos como nuvens ou pedras, ou, incluso, como muitos organismos que, como as bactérias, são incapazes de aprender.
Claro: ao igual que todos os outros sistemas cognitivos realmente existentes, as populações biológicas também operam na base de fontes e mecanismos de processamento de informações que são de eficiência limitada. Assim, a maior e mais clara limitação da seleção natural, em quanto que procedimento de descoberta e desenho, radica no fato de que ela só pode registrar lucros imediatos e individuais. Uma modificação, para ser favorecida pela seleção natural tem que representar uma vantagem imediata para o organismo individual que a possui: além destas vantagens, ela é cega. Ela premia o que beneficia o sucesso reprodutivo de alguns indivíduos sem levar em consideração os custos ou as conseqüências futuras para o resto da linhagem. Mas este fato, que geralmente é lembrado dizendo que a seleção natural não age para o bem da espécie, não deve nos levar a esquecer que, sem a seleção natural, as linhagens não poderiam, nem responder às mudanças das demandas do entorno, nem aproveitar as novas oportunidades que este entorno pode apresentar.
É mister reconhecer, de todo modo, que as populações são incapazes de algumas operações cognitivas que podem ser realizados por outros sistemas cognitivos não muito sofisticados: nós, sem irmos mais longe. Por isso, qualquer explicação relativa à retenção de uma estrutura no interior de uma população, por benéfica que essa estrutura resulte, terá que poder mostrar como é que a sua utilidade pôde ser descoberta dentro do marco dessa limitação cognitiva que se desprende do fato de que somente as vantagens individuais e locais sejam registradas. Mas isto é algo que também encontra seu análogo em outros sistemas cognitivos.
Assim, toda explicação relativa a como um determinado grupo ou indivíduo chegou a descobrir ou a desenhar qualquer recurso tecnológico, deverá assumir como limite os conhecimentos e as possibilidades desse grupo ou desse indivíduo. Podemos imaginar, com efeito, o caso de um cachorro cuja resposta ante uma situação resulta ser tão ajustada e adequada que, em uma primeira aproximação, ela só pareça explicável atribuindo ao animal capacidades cognitivas superiores, humanas. Contudo, por difícil que isso seja, qualquer tentativa de explicar o comportamento desse cachorro terá que aceitar que existem operações cognitivas e informações sobre o mundo que são inacessíveis para ele. Do mesmo modo em que não aceitaríamos como valida a explicação da adequação da resposta a uma situação dada por qualquer agente humano que atribua a este uma possível percepção extra-sensorial; tampouco aceitaríamos uma explicação do comportamento do cachorro que lhe atribua a capacidade de adaptar o seu comportamento individual a riscos futuros sobre os quais ele não teve nenhuma experiência no passado.
Contudo, que neguemos ao homem ou ao cachorro uma ou outra capacidade cognitiva, não significa que já não os pensemos como sistemas cognitivos.
A recorrente insistência na cegueira, miopia ou oportunismo da seleção natural pode nos levar a negligenciar que nós mesmos, em qualquer momento de nossa existência, trabalhamos carecendo de informações que outro pode possuir; e calculamos, ou pensamos, seguindo procedimentos falíveis e passiveis de serem aprimorados: de fato, todo sistema cognitivo pode ser comparado com outro sistema cognitivo, real ou imaginário, de nível superior, tal que, nessa comparação, o primeiro apareça como míope e oportunista. E aqui não posso evitar lembrar uma charge do meu conterrâneo, Roberto Fontanarrosa que, faz já muitos anos, apareceu na Ciência Hoje. Nela se podia ver um cientista que, ante um colega, se confessava consternado pelo fato de que o desenvolvimento da Inteligência Artificial acabaria nos levando à produção de máquinas mais inteligentes do que o homem; e ao qual esse colega lhe respondia: “não se preocupe, a sua inteligência já foi superada pela inteligência da maquina de lavar roupa”.
Mas, na realidade, o fato de que a seleção natural tenha que ser pensada como um procedimento de descoberta muito limitado, já constitui um argumento a favor da tese que aqui defendi: qualquer estratégia de explicação do desempenho de um sistema cognitivo que apele para pressupostos que façam ininteligíveis os seus erros e imprevisões, seria uma teoria incompleta. A não ser, claro, que o sistema cognitivo em questão seja considerado, por definição, infalível ou onisciente. Parece-me, entretanto, que essa teoria do sistema cognitivo perfeito pertenceria mais ao domínio da teologia do que ao domínio da ciência empírica. A economia, das duas últimas décadas, sem irmos mais longe, caiu numa teologia do mercado no qual este era idolatrado como um sistema cognitivo prefeito.
No domínio empírico, no domínio das coisas deste mundo, entre tanto, no há conhecimento que não seja a retificação dum erro e que, por sua vez, não seja retificável o ajustável; e isto, quando falamos em termos de desenho pode ser exprimido dizendo que unicamente há desenho onde há imperfeição. Quer dizer: todo desenho é o aprimoramento de um modo menos satisfatório ou conveniente de cumprir uma função; mas também, todo desenho é sempre melhorável ou, pelo menos, substituível. Se não fosse assim, estaríamos perante uma necessidade e não uma alternativa; e isto seria o mesmo que dizer que estamos fora do âmbito do desenho.
Isto o vemos muito bem no caso da Teoria da Seleção Natural: ela permite não somente explicar o predomínio dos desenhos satisfatórios, mas ela também explica que esses desenhos nunca sejam perfeitos ou finais (Williams, 1996, p.264). Os desenhos orgânicos sempre podem ser melhorados. Para todos e cada um deles cabe sempre a pergunta fundamental das Ciências do Artificial. Ela é como poderíamos fazê-lo melhor e mais barato? (Cf. Simon, 1996, p.114); e a seleção natural está procurando, constante e minuciosamente, a forma de respondê-la mediante o permanente aproveitamento de mínimas vantagens que se acumulam e a simultânea cooptação de velhas estruturas para novas funções. E aqui chegamos a um tema fundamental.
5 O MODUS OPERANDI DA SELEÇÃO NATURAL
A seleção natural, é claro, não desenha nunca do nada, nem procede multiplicando combinações fortuitas de elementos que depois serão retidas ou eliminadas em virtude da sua conveniência. Ela parte sempre de entidades pré-existentes, que ou já são o resultado de um processo anterior de desenho ou, pelo menos, já estão funcionando; e, a partir daí, ela premia qualquer mínima mudança ou diferencia nelas que, ou aprimore este desenho prévio, ou que simplesmente faça mais sustentável o seu funcionamento. Por outro lado, ela também pode operar, e em geral o faz assim, como o bricoleur que aproveita uma estrutura preexistente para fazê-la cumprir uma função que antes ela não cumpria; e premiando a continuação qualquer mudança nela que otimize a realização desta nova função. Como o escultor que monta uma estatua a partir da armação de aço de uma máquina velha, e depois remodela diferentes detalhes desta armação para melhor os aproveitar na sua obra, a seleção natural premia modificações em estruturas preexistentes que permitem que essas estruturas desempenhem funções que elas antes não desempenhavam. E tudo isto é fundamental para entender o modo pelo qual a evolução gerou órgãos de extrema complexidade como o olho.
Em primeiro lugar, o que deve ser apontado é que o processo não começou com uma linhagem de animais cegos na qual começaram a aparecer alguns indivíduos que, numas cavidades da sua cabeça, apresentavam combinações fortuitas das peças de um olho, e que, depois, seriam selecionados pelo fato de serem ou não portadores de combinações destas peças que permitissem ver. Por esta via, é claro, seria muito difícil chegar até o mais humilde olho de um crustáceo.
Mas não é assim que a seleção natural procede. Ela, como eu acabo de dizer, sempre trabalha por uma permanente reforma e cooptação daquilo que já estava funcionando; ainda que seja funcionando de uma outra coisa diferente de aquela para a qual funciona hoje.
A evolução do olho somente pode ter começado com alguma estrutura preexistente cuja função não era a de ver; e que por isto ela estava submetida a pressões seletivas que não tinham relação alguma com a visão. Pensemos num tecido sensível á luz que permitisse que certos moluscos registrassem mudanças de luz e escuridão relevantes para a regulagem do seu metabolismo interno.
Tais estruturas, claro, estariam sempre vigiadas pela seleção natural para não perder a sua capacidade de discriminar luz e escuridão; e, eventualmente, qualquer mudança que as fizesse mais eficientes na realização desta função, ou que as fizesse menos onerosas metabolicamente sem comprometer a sua eficácia, seria também premiada com o sucesso reprodutivo dos seus portadores. Mas, poderia ser que uma destas mudanças, premiadas pelo fato de permitir um cumprimento mais eficiente ou mais econômico dessa função primitiva, lhe outorgasse a esta estrutura outra capacidade: tal vez a de captar movimentos ou deslocamentos no entorno. Esta capacidade, claro, pode não ser necessária para o cumprimento da função de registrar simples mudanças de luminosidade; mas ela pode ser o resultado colateral de um aprimoramento desta última.
Todavia, na medida em que esta capacidade permite registrar movimentos no entorno imediato do animal, ela pode vir a cumprir uma função importante como produtora de informação sobre esse entorno: informações que, ademais, podem facilitar o ajuste dos comportamentos alimentares ou defensivos de nosso coitado molusco sem olhos; e esta função de produção de informação, ao cair sob o escrutínio minucioso da seleção natural, pode nos levar, por passos análogos aos anteriores, na direção de alguma coisa semelhante à visão e, finalmente, até algo que realmente mereça este nome.
O importante é compreender que historia do olho não é exatamente a historia da visão; e é este tipo de raciocínio genealógico, que foi aplicado no caso deste velho baluarte da teologia que é o olho, que tem que ser aplicado em qualquer desenho biológico: seja qual for o seu grau de complexidade. Não fazer isto, e apelar para um desenho último que não seja a reforma ou cooptação de nada anterior, é pular para o incondicionado; é fazer teologia e não ciência natural.
Queiro esclarecer, por fim, que este modo de entender as origens do desenho biológico não é em absoluto incompatível com o reconhecimento de que a operação da seleção natural está sempre limitada pela natureza dos materiais com as quais ela trabalha e pelos fatores que regem a conformação das estruturas sobre as que ela opera.
Como o engenheiro cujas produções devem se ajustar às limitações físicas dos seus materiais, a seleção natural somente pode trabalhar dentro do fisicamente permitido; e, também ao igual que o engenheiro, ela deverá sempre trabalhar partindo das limitações dos processos que regem a conformação e o desenvolvimento das estruturas sobre as que ela opera. Podemos imaginar reformas muito ousadas para nosso apartamento; mas sabemos que elas têm que ser feitas sem ter que demolir antes o prédio; e podemos imaginar mudanças dos desenhos biológicos que, a primeira vista, pareceriam sumamente convenientes, mas elas podem vir a ser desenvolvimentalmente impossíveis: as reprogramações da ontogenia necessárias para chegar até elas podem resultar inviáveis[2]. E estes limites estruturais deixam suas marcas nos desenhos dos seres vivos como também as deixariam nas reformas de nosso apartamento: elas, poderíamos assim dizer, são as marcas da finitude que nunca poderiam ser encontradas na obra de um desenhista onipotente que cria do nada e segundo os materiais que ele mesmo gerou.
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[1] Em Caponi 2002 poderá ser encontrado um tratamento mais detalhado e aprofundado das teses desenvolvidas nesta secção e na secção seguinte.
[2] Desenvolvi temas vinculados com a Biologia Evolucionária Desenvolvimental em alguns artigos recentes: Caponi 2008a; Caponi 2008b; e Caponi 2008c.