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TEOLOGIA PASTORAL

SEMINÁRIO CONCÓRDIA DE SÃO LEOPOLDO

FACULDADE DE TEOLOGIA

TEOLOGIA PASTORAL

Traduzido em 2004.

Editado em 2005.

George Kraus

Norbert H. Mueller


ÍNDICE

PREFÁCIO....................................................................................................................................... 04

UNIDADE I....................................................................................................................................... 05

Introdução ao Ministério Pastoral................................................................................................... 05

O Ministério Pastoral em Perspectiva.............................................................................................. 07

UNIDADE II..................................................................................................................................... 09

O Pastor, O Ofício e a Igreja........................................................................................................... 09

O Ofício Pastoral, O Pastor como Pessoa........................................................................................ 16

O Pastor como Pessoa, O Pastor e a Igreja..................................................................................... 22

O Pastor e a Igreja, Começando o Ministério................................................................................. 27

Começando o Ministério, Entre Pastor e Pastor............................................................................. 34

Entre Pastor e Pastor, Organizações Seculares e Semi-religiosas.................................................. 38

UNIDADE III.................................................................................................................................... 44

O Pastor Ministra a Palavra e os Sacramentos na Comunidade Reunida...................................... 44

O Culto, Proclamando o Evangelho................................................................................................. 49

Proclamando o Evangelho, O Batismo............................................................................................ 53

O Batismo, O Sacramento do Altar................................................................................................. 60

UNIDADE IV.................................................................................................................................... 68

O Pastor Ministra a Palavra a os Sacramentos em Circunstâncias Individuais............................ 68

O Pastor Chamado, Confissão e Absolvição Individual.................................................................. 73

Confissão e Absolvição Individual, Aconselhamento....................................................................... 77

Aconselhamento, Os Idosos.............................................................................................................. 84

Os Idosos, Os Moribundos e os Enlutados....................................................................................... 89

Os Moribundos e os Enlutados, O Sepultamento Cristão................................................................ 96

O Sepultamento Cristão, Dependentes Químicos / Co-dependentes................................................ 101

Dependentes Químicos / Co-dependentes, Necessidades Especiais.................................................. 106

Necessidades Especiais, Cultos Pagãos / Novas Religiões................................................................ 112

Cultos Pagãos / Novas Religiões, Admoestação / Disciplina............................................................ 115

UNIDADE V...................................................................................................................................... 119

O Pastor Cuida da Família............................................................................................................... 119

Homem e Mulher, O Casamento...................................................................................................... 124

O Casamento, O Noivado................................................................................................................. 134

O Noivado, O Culto do Amor Próprio............................................................................................. 141

O Culto do Amor Próprio, O Divorcio e o Recasamento................................................................ 146

UNIDADE VI.................................................................................................................................... 151

O Pastor como Equipador................................................................................................................ 151

Missão / Evangelismo, Administração............................................................................................. 156

Administração, Mordomia Cristã.................................................................................................... 165

Mordomia Cristã, Educação Cristã................................................................................................. 170

ABREVIAÇÕES

RSV - The Bible (Revised Standard Version), New York, American Bible Society, 1972.

NIV - The Holy Bible (New International Version) (Grand Rapids, Zondervan, 1979).

NVI - O Novo Testamento (Nova Versão Internacional), São Paulo, Sociedade Bíblica Internacional, 1993.

LW - American Edition of Luther's Works (Philadelphia and St. Louis, 1966-1986)

REFERÊNCIAS DO LIVRO DE CONCÓRDIA (São Leopoldo, Sinodal & Concórdia, 1983.)

CA - Confissão de Augsburgo

Lat. - Versão Latina da Confissão de Augsburgo

Ap. - Apologia da Confissão de Augsburgo

AE - Artigos de Esmalcalde

Tr. - Tratado sobre o Poder e Primado do Papa

CMe. - Catecismo Menor

CMa. - Catecismo Maior

FC - Fórmula de Concórdia

DS - Declaração Sólida da Fórmula de Concórdia

Ep. - Epítome da Fórmula de Concórdia


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PREFÁCIO

Desde a fundação do Sínodo de Missouri, em 1847, três livros-texto moldaram os estudantes que se preparavam para o ministério pastoral neste corpo eclesiástico: a Pastoral Theologie, de C. F. W. Walther (1872), a Pastoral Theology, de John H. C. Fritz (1932) e The Pastor at Work (1960, de vários autores).

Questões atuais, no entanto, criaram a necessidade de um outro livro-texto de teologia pastoral, mas também baseado em princípios teológicos sadios. Devido à complexidade destas questões, os editores que coordenaram esta obra decidiram desde o início tratar os assuntos mencionados com a assistência de teólogos com competências especiais. As pessoas que contribuíram representam pastores paroquiais, autoridades distritais, secretários executivos do Sínodo e professores de Faculdades e de Seminários. Cada um deles têm ampla experiência no ministério pastoral e cada qual cumpriu a tarefa com um coração pastoral.

Contribuíram para o texto David Bush, Eugene Bunkowske, Charles Evanson, L. Dean Hempelmann, Arthur A. Just, Charles Knippel, Philip Lochhaas, Roger Pittelko, Gary e Shirley Schaper, Richard L. Schlecht, Randall Shields, Rex Spicer, George Wollenburg, George Kraus e Norbert H. Mueller. Estes dois últimos também serviram como editores coordenadores.

Inúmeras pessoas contribuíram substancialmente através da revisão do manuscrito original e de várias revisões do mesmo. Aqueles que digitaram a cópia original merecem uma menção especial: Dawn Bates, Beverly Castator, Dorothy McGill, Brenda Schamber e Doris Walther.

Embora este livro-texto tenha sido planejado para prover princípios e orientações para os futuros pastores do Sínodo de Missouri, todos os pastores comprometidos com a Bíblia podem achá-lo útil como um livro de revisão e como um manual de sugestões.

George Kraus, Norbert H. Mueller

O MINISTÉRIO PASTORAL EM PERSPECTIVA

UNIDADE I

INTRODUÇÃO AO MINISTÉRIO PASTORAL

Ministério Pastoral em Perspectiva

Que desafio é cumprir os propósitos de Deus através da administração pública dos meios da graça! Que emoção é lidar com o poder misterioso de Deus que age na água, no pão, no vinho e nos vasos de barro! Não foi sem razão que algumas pessoas chamaram o ministério pastoral como o mais alto ofício!

O candidato honesto ao ofício pastoral sabe que o ofício, e não ele mesmo, deveria estar no pedestal. Mesmo antes de servir no ministério, ele sente suas inadequações pessoais. Ele contempla tanto as possibilidades ilimitadas do ministério, como as numerosas obrigações que o ministério colocará sobre ele. Ele é simultaneamente esmagado e encorajado pela amplidão do ministério pastoral, que envolve:

Providenciar um ministério que evidencie o querigma e a escatologia; Atender aos cuidados próprios das congregações contemporâneas; Combinar uma interpretação da revelação de Deus para o homem com modos de pensar atuais; Providenciar cuidado pastoral terapêutico; Saber onde procurar recursos práticos e teóricos tanto imediatos como de longo alcance; e Habilmente levar uma sabedoria teológica e perspicaz para as vidas das pessoas que procuram ter em mente que elas estão no mundo embora não sejam dele.

Num certo sentido, há pouca coisa, se é que há alguma coisa nova nos cânones da teologia pastoral. Pastores sempre foram incumbidos de aplicar os meios da graça, nas modalidades corporativa e individual, de acordo com as necessidades e condições do povo de Deus confiado aos seus cuidados.

O que há de novo é que certos aspectos adquiriram uma necessidade maior de ser trabalhados. Parece que a igreja e seu povo estão se tornando mais mundanos; valores seculares, prioridades e padrões de sucesso ou fracasso estão sendo mais e mais adotados pela igreja. Pessoas de dentro e de fora da igreja crescentemente dispensam a igreja com a idéia de que ela não tem qualquer relevância para orientar os complexos assuntos éticos e morais que confrontam a sociedade - muito menos no que se refere às últimas questões a respeito de vida e morte, pecado, culpa e perdão. O mundo, ao que parece, está estabelecendo a agenda.

A aceitação do mundo no que se refere ao aborto em demanda, o direito de praticar a homossexualidade, a poligamia em série e semelhantes costumes relativos à moralidade não são apenas aprovados, mas abertamente apoiados por certas comunidades dentro da família da igreja. E as pessoas encontram nesta ambivalência uma desculpa para este comportamento, que elas sabem, no entanto, estar em desacordo com a clara Palavra e vontade de Deus.

A igreja moderna também está sendo afetada pela mudança no papel das mulheres com o efeito concomitante disso sendo sentido sobre a estabilidade do lar, sobre a educação da criança e sobre os papéis de esposos e esposas.

A crescente neutralidade moral causa grande perplexidade, especialmente, com respeito às questões que envolvem vida e sexualidade humana. As questões atinentes à vida são muitas. No tocante ao começo da vida, abortos e as complicações e o mau emprego das tecnologias, tais como a amniocêntese, confrontam o crente. Com relação ao final da vida, mais e mais a aceitação da eutanásia está sendo estimulada. O direito de viver e o direito de morrer, que não podem ser consideradas questões simples, são publicamente debatidas.

Sobre as questões da sexualidade humana, o que a tecnologia reprodutiva é atualmente capaz de fazer simplesmente deixa a mente humana perplexa. Diante do pastor e do seu povo, estão práticas tais como inseminação artificial, fertilização in vitro, mãe de aluguel, determinação do sexo, manipulação genética e clonagem.

Acima de tudo, o avanço da tecnologia evidencia uma sociedade ricamente dotada e altamente abençoada. Em geral, com exceção de uma pequena porcentagem da população que realmente sofre profunda pobreza, as pessoas nunca tinham sido abundantemente abençoadas com dádivas e riquezas materiais. É uma sociedade tão impressionada com suas próprias capacidades que acredita que não há problemas tão grandes que ela não possa resolver. Ao mesmo tempo, a sociedade está à deriva e errante. Ela está tão insegura que busca resposta para as últimas questões em fontes - mesmo sendo fontes apenas pretensamente espirituais - que nunca podem prover as soluções que sejam de algum modo duradouras ou significativas. O povo de Deus, independente da idade, é tentado pela Nova Era, pela astrologia, pelas religiões e filosofias orientais, por cultos pseudocristãos, por várias seitas que incorporam em seus ensinos misticismo, reencarnação e espiritismo.

As pessoas de hoje sentem uma lacuna de objetivo e significado para a vida. Como alguém ainda pode explicar o mau uso de substâncias, o abuso de membros da família, infidelidade conjugal e um divórcio tão predominante que já se tornou poligamia em série? Nós somos um povo solitário, aborrecido, ansioso e oprimido pela culpa.

Ser bíblico e pessoal - estas duas palavras resumem o ministério pastoral. John R. W. Stott, em seu livro Between Two Worlds ("Entre Dois Mundos"), diz que "um verdadeiro sermão faz uma ponte sobre o abismo que separa o mundo bíblico do mundo moderno e deve ser igualmente alicerçado em ambos". O que ele diz sobre a tarefa de pregar não é menos verdadeiro no que se refere ao ministério pastoral em geral.

O novato pode imaginar o tempo em que ele alcançará o pastorado. O veterano sabe que o ministério pastoral sempre significa lutar, nunca alcançar; ele se alegra e está inteiramente comprometido com a luta diária e contínua com a qual ele cresce pessoalmente na fé. Ele pode ser atribulado, porém não angustiado; perplexo, porém não desanimado; perseguido, porém não desamparado; abatido, porém não destruído (2Co 4.7-9).

O Ministério do Evangelho

O único poder eficaz para o ministério é o Evangelho. Somente através do Evangelho as pessoas são trazidas a um relacionamento novo, salvador e vivo com Deus. Somente através da fé em Cristo Jesus e em sua Palavra as respostas finais são encontradas, os pecados são perdoados, terapia escatológica é recebida, o destino eterno é garantido, as ansiedades são aliviadas, o desespero é transformado em esperança e o egoísmo é transformado em serviço. Somente através do Evangelho a igreja pode chegar próximo do cumprimento do propósito para o qual ela foi constituída, ser o sal, a luz e o fermento (Mt 5.13ss; 13.33). O pastor cristão, como ministro desse Evangelho e despenseiro dos mistérios de Deus, está encarregado da fiel administração dos meios da graça. Como diz a Augustana:

Para conseguirmos essa fé, instituiu Deus o ofício da pregação, dando-nos o evangelho e os sacramentos, pelos quais, como por meios, dá o Espírito Santo, que opera a fé, onde e quando lhe apraz, naqueles que ouvem o evangelho, o qual ensina que temos, pelos méritos de Cristo, não pelos nossos, um Deus gracioso, se o cremos. (CA, V, 1-3).

Visto que o pastor conduz o rebanho de Cristo também em uma vida de crescimento e serviço cristão, ele deve lembrar a inseparável conexão entre fé e obras, tão sucintamente resumida por João, "Nós amamos porque ele nos amou primeiro" (1Jo 4.19). O artigo VI da Augustana explica:

Ensina-se ainda que essa fé deve produzir bons frutos e boas obras, e que, por amor de Deus, se deve praticar toda sorte de boas obras por ele ordenadas, não se devendo, porém confiar nessas obras, como se por elas se merecesse graça diante de Deus. (CA, VI, 1: ênfase adicionada)

E a Fórmula de Concórdia reitera, como São Paulo, expressa e seriamente, exorta: que "na qualidade de cooperadores com ele, não recebamos em vão a graça de Deus". O que, entretanto, não se deve entender de outra maneira senão desta: que o homem convertido faz o bem tanto e por tanto tempo, quanto Deus o governa, guia e conduz com seu Espírito Santo. E assim que Deus retirasse dele sua mão graciosa, nem por um momento poderia continuar na obediência a Deus. (FC, DS, II, 66).

O ministério eficaz depende totalmente dos meios da graça, os quais, sozinhos, criam e sustentam a vida em Cristo. Qualquer apelo, público ou oculto, que confere ao cristão qualquer grau por causa de seus próprios esforços, não pode, de nenhum modo, ser considerado pastoral. É certo que a habilidade e o esforço humano podem servir a uma comunicação mais eficaz, mas eles não podem produzir conversão à fé salvadora, a qual, sozinha, traz o fruto da vida cristã. Portanto, manifestações visíveis não são, em si mesmas, critérios válidos para verificar se há sucesso. O pastor deve ser cauteloso para não adotar, sem questionamento, metodologias seculares, expedientes pragmáticos e, pior ainda, recorrer a truques na tentativa de obter sucesso em seu ministério. A justificação e a resultante santificação vêm somente através da fiel administração e uso dos meios da graça. Somente o Evangelho - Palavra e Sacramento - sustenta os filhos de Deus na fé salvadora e os equipa para viver como povo de Deus.

O Ministério Pastoral: A Arte de Aplicar a Palavra de Deus

O próprio Deus é a fonte do ministério e o seu modelo é a própria Palavra de Deus, a qual o pastor não pode abordar na perspectiva da "liberdade acadêmica" assim como o mundo moderno a compreende. O pastor, um homem de Deus, encontra a vontade e os ensinamentos de Deus apenas nas Escrituras. Ele se imbui da Escritura até que pensa teologicamente. Ele rende sua vontade à de Deus e, então, avalia a condição do mundo o ponto de vista de Deus - e proclama a solução de Deus. O dito de Lutero, So steht's geschrieben ("Assim está escrito"), orienta todo o ministério pastoral.

Somente Deus é a fonte do ministério da reconciliação e tem justificado o mundo pela graça através da fé. Portanto, desde que Deus providencia sua auto-revelação apenas na Escritura, a Escritura normatiza o ministério por seu testemunho do Cristo crucificado e ressurreto.

Um pastor voltado às pessoas deve também compreender a posição do ministério no mundo de Deus. Como Paulo diz: "Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns" (1Co 9.22). O pastor rígido, inflexível, que elabora um "livro prático de regras", real ou imaginário, mutila seu ministério.

A igreja luterana na Alemanha tem uma antiga palavra para designar o homem que conhece seu rebanho e aplica a Escritura à vida das pessoas: Seelsorger, um "cura d'almas". A igreja luterana nos Estados Unidos da América optou por usar a palavra bíblica "pastor". Independentemente do termo, toda teologia deve ter esta tarefa espiritual como sua meta e propósito.

A última metade do século XX tem testemunhado o ministério pastoral adaptar-se mais e mais a métodos e modelos sócio-psicológicos. Já que os cristãos levam cativo todo o pensamento à obediência de Cristo (2Co 10.5), o ministério pastoral é mais que sociologia ou psicologia; o ministério pastoral está solidamente fundamentado sobre a revelação de Deus em Jesus Cristo e em sua Palavra. Aqui o pastor cristão encontra sua autoridade, força e direção.

A confrontação de Natã com Davi sobre o caso de Bate-Seba e Urias ilustra um cuidado pastoral fundamentado sobre a Palavra de Deus (2Sm 12). Natã não deixou espaço para o "como" ou para o "por que"; ele não permitiu nenhuma autojustificação, nenhuma desculpa, nem dividiu a culpa com os pais ou com o meio social. Ele não aceitou nenhuma teoria psicológica como um fator atenuante, nem recorreu a um modelo ou a um padrão cultural como uma maneira de encobrir o ato. O profeta de Deus confrontou o rei com uma simples acusação: "Tu és o homem!". A confissão de Davi, igualmente, não extraiu da parte de Natã nenhuma discussão acerca de resoluções futuras, mas, produziu a simples e direta absolvição: "O SENHOR te perdoou o teu pecado". Em Natã, Deus providenciou um modelo de pastor que aplica Lei e Evangelho para a glória de Deus e a salvação e todas as pessoas. Quando o pastor proclama Lei e Evangelho, o Espírito Santo está trabalhando no coração do ouvinte.

O ministério pastoral, então, é a arte de aplicar esta Palavra viva (o Livro que é "Deus falando") para o coração humano em todas as suas várias condições. Ouça C. F. W. Walther em seu volume The Proper Distinction Between Law and Gospel ("A Correta Distinção Entre Lei e Evangelho") sobre a arte de aplicar a Palavra de Deus ao ouvinte:

Distinguir corretamente a Lei e o Evangelho é a arte mais difícil e a mais elevada dos cristãos em geral e dos teólogos em particular. Isto é ensinado apenas pelo Espírito Santo na escola da experiência.

Mas, no presente momento, nós estamos estudando a aplicação e o uso dessa doutrina. A aplicação prática dessa doutrina apresenta dificuldades que nenhum homem pode vencer através de reflexões racionais. O Espírito Santo deve ensinar isso aos homens na escola da experiência [ênfase adicionada]. As dificuldades de magistrar essa arte confrontam o ministro, em primeiro lugar, na medida em que ele é um cristão; em segundo lugar, na medida em que ele é um ministro.

Quando o ministro do Evangelho se aplica a esta "arte mais difícil e mais elevada", ele pode encontrar-se em tensão e indecisão. O tão familiar clérigo "esgotado" freqüentemente encontra a origem de seu esgotamento no desgaste causado por problemas aparentemente insolúveis em sua congregação. Não obstante, pelo estudo da Palavra, pela sua própria experiência pastoral, pelo conselho de algum irmão clérigo e pela orientação do Espírito Santo através da Palavra, o pastor aprenderá e amadurecerá e ainda encontrará força e alegria nesta gloriosa arte.

O OFÍCIO PASTORAL

UNIDADE II

O PASTOR, O OFÍCIO E A IGREJA

1 O Ofício do Ministério Público

Todos nós somos igualmente sacerdotes, o que quer dizer que temos o mesmo poder no que diz respeito à Palavra e aos Sacramentos. Contudo, ninguém pode fazer uso desse poder exceto pelo consentimento da comunidade ou pelo chamado de um superior. (Pois o que é propriedade comum de todos, nenhum indivíduo pode reclamar para si mesmo, a não ser que seja chamado)

O Ofício do Ministério Público foi instituído por Deus e deve ser distinguido do ministério que Deus deu para todos os cristãos: o Ofício das Chaves - o privilégio e o dever de proclamar as boas-novas da salvação, a autoridade para perdoar ou para reter pecados e a responsabilidade de administrar os meios da graça, que são chamados de sacramentos. Pedro chama os cristãos de "raça eleita, sacerdócio real...a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz,...a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo" (1Pe 2.5,9).

Com isto em mente, Lutero comentou que se um cristão "estiver em um lugar onde não haja quaisquer outros cristãos, ele não precisa nenhum outro chamado além daquele que vem de dentro para ser um cristão chamado e ungido por Deus...ainda que nenhum homem o chame para fazer isto".

Deus, no entanto, não chamou cada cristão para exercer o Ofício das Chaves publicamente. A Escritura claramente se refere ao estabelecimento divino de um ofício especial para este propósito: At 13.2-4; 20.28; Rm 1.1; 10.15; 1Co 3.5; 4.1; 12.28-29; Ef 4.11; 1Tm 4.14; 5.22; 2Tm 1.6; 1Pe 5.2.

As Confissões Luteranas, Chemnitz, e, mais tarde, Walther, mantiveram a distinção:

O ministério público da Palavra e dos Sacramentos na igreja não está confiado aos cristãos em geral (1Co 12.28; Ef 4.12). Pois um chamado especial ou particular é requerido para tal (Rm 10.15).

Da ordem eclesiástica se ensina que sem chamado regular ninguém deve publicamente ensinar ou pregar ou administrar os sacramentos na igreja. (CA, XIV).

O santo ministério da Palavra ou ofício pastoral é diferente do ofício sacerdotal que todos os crentes têm.

Para que alcancemos essa fé, foi instituído o ministério que ensina o evangelho e administra os sacramentos. Pois, mediante a palavra e pelos sacramentos, como por instrumentos, é dado o Espírito Santo, que opera a fé, onde e quando agrada a Deus, naqueles que ouvem o evangelho. (CA, V, 1-2, Lat.)

Não Há Chamado Geral para o Ministério Público

Deve ser feita uma distinção entre o "chamado" geral, o qual todos os cristãos têm e o "chamado" para abraçar o ofício público do ministério. Todo cristão tem um chamado para viver a vida dele ou dela como um cristão para, em toda situação, carregar o testemunho sobre a verdade de Jesus como a nossa satisfação vicária. (Infelizmente, muitos cristãos acatam a visão secular de que, os meios para ganharem sua subsistência são sua única vocação, esquecendo que seu primeiro chamado é para ser cristãos. Essa infeliz visão tem graves conseqüências para a fé e a vida cristã.) O chamado para abraçar o ofício do ministério público, no entanto, é o convite e designação específicos dados por Deus através da igreja para um homem, a fim de que ele exerça o Ofício das Chaves publicamente (i.e., para servir em favor da igreja, sendo responsável por ela diante de Deus).

Embora algumas pessoas falem a respeito de um homem sentir que ele tem um chamado de Deus para estudar para o ministério, tal uso do termo "chamado" pode ser confuso. Estritamente falando, existem apenas dois tipos de chamado: o chamado que todos os cristãos têm e o chamado de Deus através da igreja para um homem, a fim de que ele abrace o ofício de pastor.

De fato, aqueles que gostariam de ser pastores precisam estar convencidos em seus corações de que Deus, trabalhando através de meios e eventos naturais, os guiou para que eles se compromissassem em tempo integral como pastores; que, através de um chamado congregacional, Deus lhes estenderá o chamado específico ao ministério pastoral; e que eles serão equipados para o ministério pastoral se e quando este chamado vier. Eles precisam reunir os requisitos de Deus conforme arrolados em 1 Timóteo 3 e Tito 1. Mas até Deus chamá-los através da igreja para abraçar o ofício, eles não têm nenhum chamado ou ministério pastoral (Cf. Unid II, 3).

Termos e Funções do Ministério Público

Embora o Novo Testamento contenha vários termos que descrevem a função do pastor congregacional, talvez nenhum descreva tão bem sua função fundamental como o nome pelo qual o próprio Jesus era chamado: Rabi (Mestre), que também designa o modelo. 58 passagens nos Evangelhos usam uma forma da palavra ensinar para descrever a atividade de Jesus. O título é dado a Jesus já em seu Batismo e é usado consistentemente por seus discípulos e por outros. E, a fim de que ninguém separasse a função de ensinar do ministério pastoral, note que em Ef 4.11 um único artigo conectado às palavras "pastor" e "mestre", une-as, formando o termo "pastor-mestre".

Bispo, Presbítero, Pastor: Embora algumas denominações tenham procurado diferenciar estes termos, a Escritura os usa permutavelmente. Por exemplo, em Atos 20.28 é dito aos presbíteros (presbuteroi) que o Espírito Santo os constituiu supervisores (episkopoi) e ordenou-lhes pastorear (poimainein) o rebanho (Latim, pastor). Em 1Pe 5.1-2 (cf. Nova Versão Internacional), os presbíteros (presbuterous) são encorajados a "serem pastores [poimanate] do rebanho de Deus, que está sob seus cuidados, servindo como supervisores [episkopountes]".

Cada termo, no entanto, denota uma ênfase particular e ajudará na compreensão do contexto da passagem em que ele aparece.

Episkopos era usado no mundo secular para designar oficiais públicos de Atenas, os quais eram enviados para as colônias a fim de supervisionar os interesses atenienses, executar decretos e coletar impostos. O título indica responsabilidade de supervisionar.

Presbuterous (presbíteros ou anciãos) parece ter se originado na comunidade hebraica. Em Êx 4.29-31; 12.21 e 19.7, anciãos (pessoas mais idosas e maduras, com base em sua sabedoria e bom senso) representam o povo. Depois da ocupação de Canaã, os anciãos tinham mais responsabilidade e até poderes legais (Dt 19.11-13; 21.1-9; 22.13-21; 25.5-10). No tempo de Jesus, os anciãos eram responsáveis pela orientação religiosa (Mt 15.2; Mc 7.3,5). Pastor (Lat.) é um outro sinônimo para presbítero e bispo (At 20.17, 28-29). A maioria dos leigos não conhece o contexto latino em que surgiu a palavra pastor, no entanto, prefere sua conotação calorosa e pessoal. Qualquer termo bíblico é apropriado.

Muitas pessoas usam o termo ministro para referir-se a pessoa que ocupa o ofício do ministério público. Mesmo usado em linguagem comum, deve-se ter cuidado para diferenciar entre o ofício do santo ministério e o ministério geral de todos os crentes.

Para reiterar, o termo em voga pouco importa. A importância repousa no fato de que o pastor publicamente administra o Evangelho através dos meios da graça.

A fim de que este "caráter especial" do ministério público não seja levado a um extremo, note que este ofício não é sinônimo daquele que os discípulos/apóstolos (incluindo Paulo) abraçaram.

Primeiro, o próprio Jesus, pessoal e imediatamente, chamou os apóstolos para seus cargos especiais. Como Paulo repete em Ef 4.11, eles foram dádivas do Senhor assunto para a igreja. Em Ef 2.20, ele combina os apóstolos com os profetas como sendo "o fundamento" da igreja, juntamente com "Cristo Jesus, sendo ele mesmo, pedra angular". E em Ap 21.14, João descreve a Jerusalém celestial como construída sobre doze fundamentos com "os doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro" escrito sobre eles.

Como representantes pessoais do Senhor, os Doze tinham um dever especial e único na história: entregar a revelação que eles tinham recebido. Eles eram os únicos que o próprio Deus tinha escolhido para testemunhar pessoalmente que Jesus era, de fato, o Messias que tinha morrido por nossos pecados e tinha ressuscitado da morte. Eles deviam transmitir este fato sem alteração (1Tm 6.14); e o que eles transmitiram devia continuar sendo transmitido por seus sucessores sem alteração (2Tm 2.2).

Claramente, os apóstolos ocuparam um único ofício, diretamente comissionados pelo Senhor, incumbidos da revelação dos mistérios de Cristo. Como seus representantes, os apóstolos são os mestres da igreja para todos os tempos (Jo 17.6,8,20-26).

Seguindo as orientações dos apóstolos, os chamados para o ministério público têm sido dado através da mediação de outras pessoas, apesar de os chamados ainda procederem de Deus. Assim, por exemplo, Paulo lembra a Tito que nomeie presbíteros (pastores) das congregações em Creta (Tt 1.5). Porque somente à igreja foi dado o poder das Chaves (cf. acima), Deus chama homens para o ofício do ministério público apenas através da mediação da igreja. Assim, "onde quer que esteja a igreja, aí existe o direito de administrar o evangelho. Razão porque é necessário que a igreja retenha o direito de chamar, eleger e ordenar ministros" (Tr. 67).

Instalação/Ordenação

O rito de instalação declara publicamente o novo relacionamento compartilhado pelo pastor e congregação. Durante a primeira instalação (i.e., ordenação) do candidato, ele declara sua intenção de fazer do ofício a vocação de sua vida. Contudo, o rito per se não admite o candidado ao ministério. Note as palavras do oficiante no rito da ordenação, primeiramente conforme The Lutheran Agenda ("Agenda Luterana"), e também de acordo com a Lutheran Worship Agenda ("Agenda Luterana de Culto"):

O Senhor derrrame sobre ti seu Espírito Santo para o trabalho a ti confiado através do chamado [i.e., não "através da ordenação"].

Queridos irmãos e irmãs em Cristo, _______ foi chamado pelo Senhor da igreja ao ofício do ministério público.

A Igreja Católica Romana e outras sustentam que a ordenação eleva o candidato ao clero permanente. Em contraste, as Confissões Luteranas ensinam,

palavras essas pertinentes à igreja verdadeira, já que somente ela tem o sacerdócio, por certo que possui o direito de eleger e ordenar ministros. E isso também o atesta um costume comuníssimo da igreja. Pois que antigamente o povo elegia os pastores e os bispos. Depois vinha um bispo dessa igreja ou de uma vizinha, o qual pela imposição das mãos confirmava o eleito, e a ordenação outra coisa não era senão essa aprovação. (Tr., 69-70)

Todavia, o antigo costume da ordenação já era praticado na época apostólica (At 6.6; 13.3; 1Tm 4.14; 5.22; 2Tm 1.6) e não devia ser omitido arbitrariamente.

Por outro lado, a ordenação realmente reconhece e anuncia que o candidato está disponível para o serviço da igreja como um todo.

Em um sínodo de congregações unidas por uma confissão e fidelidade comuns, a boa ordem requer que a admissão ao ofício pastoral ou aos ofícios auxiliares a ele relacionados não seja a ação de uma única congregação ou agência...Esta natureza transparoquial do ofício do ministério público e de seus ofícios auxiliares é importante porque uma pessoa chamada para uma congregação é reconhecida pela igreja toda e, em virtude de sua ordenação ou comissionamento, é elegível para ser chamada por outros segmentos da igreja.

Portanto, embora um pastor possa não estar servindo em uma congregação por causa de algum outro serviço para o qual foi chamado ou porque ele tenha (por razões válidas), renunciado à congregação e está esperando outro chamado, ele ainda é reconhecido como um pastor ordenado a serviço da igreja e pode ser requisitado para isto - e pode cumprir legitimamente funções pastorais quando pedido por uma congregação.

Chamados Válidos e Legítimos

Desde que o ministério público é um ofício divinamente estabelecido, aqueles que são chamados para servir neste ofício são "servos do Senhor Jesus Cristo" (Rm 1.1; Tg 1.1), os quais foram separados para a(s) tarefa(s) e cargo(s) do ofício do ministério público da igreja como um todo. Portanto, um chamado para servir neste ministério deve ser tanto válido (rata) como legítimo (legitimata, recta). Isto significa que o chamado deve ser emitido por aqueles que têm autoridade para fazê-lo e que aquele que é chamado deve ser requisitável por eles (i.e., ser válido); e o chamado deve ser emitido da maneira apropriada (i.e., legítimo).

Um chamado inválido, por exemplo, seria aquele emitido por um pequeno grupo de indivíduos para um pastor que os sirva particularmente em seus lares. A respeito disso, Lutero comentou em sua carta aos ",'neun Männer' Zu Hervord" (",'novos homens' Em Hervord"), de abril de 1532,

O que segue é que nenhum cidadão pode estabelecer uma congregação em sua casa; isto não é aceitável. Há uma grande diferença entre uma reunião comum e pública de pessoas e um círculo familiar; pois o que um cidadão faz em seu próprio lar é de natureza particular.

Ele também afirmou, se dois ou três cidadãos me pedissem para pregar, eu não iria trás de semelhante chamado particular; pois isto abriria a janela aos ministros de Satanás.

Esta prática (sob circunstâncias normais) constituiria um ato de separação e contradiria um conceito bíblico de congregação como sendo a assembléia dos crentes em uma determinada área, os quais são reunidos por Cristo em torno da Palavra e Sacramentos, ambos salvíficos e fortalecedores.

Objeções à Validade do Chamado

A congregação, e não os indivíduos, torna um chamado válido. Este princípio se aplica se outro pastor (pastor interino ou conselheiro distrital) estiver ou não presente, se quaisquer outros ministros chamados na congregação derem ou não sua aprovação, se a congregação tiver ou não qualquer problema interno não mencionado no documento de chamado, se o chamado for temporário ou permanente, ou mesmo se a votação para o chamado for ou não unânime. Por outro lado, estes assuntos não deveriam ser sumariamente desconsiderados. A igreja ainda precisa de boa ordem.

Uma congregação faz bem, por exemplo, quando segue o precedente aberto no tempo da igreja do Novo Testamento, quando um ou outro apóstolo se fazia presente quando uma congregação estabelecida chamava um ministro (At 1.24; 6.3; 14.23). Um pastor interino ou o conselheiro distrital pode ajudar a manter a boa ordem e pode ajudar a congregação vacante a crescer na compreensão do ofício do ministério, do processo do chamado e da situação singular da congregação. (Ao mesmo tempo, ele será cuidadoso para evitar impor a si próprio indevidamente.)

Assim, também, quando uma congregação tem (e.g.) um "pastor sênior", sua visão sobre quando e a quem chamar como um ministro(s) adicional(is) deveria ser considerada. Embora a congregação possua um único ofício do ministério, mais que uma pessoa pode ocupar este ofício - e somente a congregação tem a autoridade para determinar se/quando um pastor adicional deveria ser chamado a fim de que o ofício do ministério fosse desempenhado em seu meio.

Nem mesmo problemas internos da congregação invalidam um chamado da mesma. Ainda que uma congregação possa ter tratado vergonhosamente seu pastor anterior, ou ainda que ela esteja presentemente carregada de sérios problemas internos, o chamado de tal congregação ainda é válido, porque ainda há cristãos nesta congregação. Como afirma a Apologia da Confissão de Augsburgo: Na própria igreja há multidão infinita de ímpios que a oprimem. Por isso, a fim de que não desesperemos, mas saibamos que a igreja ainda assim permanecerá; outrossim, para sabermos que, por grande que seja a multidão de ímpios, a igreja, todavia existe e Cristo lhe confere o que prometeu: - perdoar pecados, prestar ouvidos, dar o Espírito Santo. (Ap., VII-VIII, 9).

Mesmo um chamado emitido por uma congregação heterodoxa é válido; as pessoas que emitem um chamado o fazem porque elas são cristãs, não porque elas são membros de uma igreja heterodoxa.

Nem mesmo a duração do chamado afeta sua validade. Alguns chamados, devido a sua natureza peculiar, incluem um limite de tempo - e.g., a capelania militar e o estabelecimento de uma missão. Neste sentido, a Comissão de Teologia e Relações Eclesiais do Sínodo tem afirmado explicitamente, "não há nenhuma evidência bíblica que indique que todos os chamados sejam necessariamente permanentes ou temporários".

E, finalmente, uma votação na qual não houve unanimidade não nega a validade do chamado. Por outro lado, objeções deveriam ser levantadas e resolvidas quando a lista de candidatos fosse apresentada e discutida. Nenhum pastor deveria ser confrontado com um partido de oposição no início de seu ministério; da mesma forma, nenhum membro deveria ser da opinião de que o novo pastor está vindo sem ter sido guiado pelo Espírito Santo. Assim, após a eleição de um candidato pela maioria, a assembléia de votantes geralmente aprova uma resolução subseqüente para tornar a escolha unânime.

Se um pastor tem sérias dúvidas de que a votação tenha sido verdadeiramente unânime, ele deveria aconselhar-se com a congregação que o está chamando. Se ele, em boa fé, aceita o chamado, mas descobre que ele não era o escolhido de alguns e que as objeções desses não receberam a merecida atenção, ele pode superar suas preocupações através do amor e da fidelidade e ganhar a confiança deles.

Emitindo o Chamado

Para ser legítimo, um chamado deve ser emitido da maneira apropriada. Como parte disso, a boa ordem requer que uma congregação emita seu chamado por meio de um diploma de vocação (documento de chamado) juntamente com dados referentes ao sustento e manutenção do pastor, bem como informações sobre a igreja e a comunidade. O diploma de vocação afirma que a congregação requer que o pastor aceite as Sagradas Escrituras como Palavra inspirada de Deus, considere as Confissões Luteranas como uma exposição fiel das verdades bíblicas, pregue e ensine de acordo com elas (Tt 1.9), pastoreie as pessoas da congregação e conduza seu ofício de maneira a valorizar o elevado chamado que ele tem. Se uma necessidade especial da congregação deve ser uma prioridade, o documento de chamado deveria indicar isto. documento de chamado também contém a promessa da congregação de receber o pastor como servo de Deus (1Tm 5.17), de fazer uso e responder fielmente à Palavra graciosa de Deus e orar pelo pastor.

Desde que o ofício do pastor requer seu tempo e energia integrais, o diploma de vocação assegura-lhe que a congregação suprirá adequadamente suas necessidades físicas (e.g., salário, encargos sociais) de modo que ele e sua família não padeçam dificuldades (1Co 9.6-14; Gl 6.6). Todos os assuntos relacionados ao suporte financeiro do pastor devem ser resolvidos no momento em que o chamado for emitido. O conselheiro distrital pode ajudar a congregação a compreender suas responsabilidades e a fazer planos para suprir adequadamente as necessidades do pastor. O pastor deveria ser capaz de viver de acordo com o padrão de vida médio dos membros aos quais ele foi chamado a servir.

É uma desgraça e um pecado se a igreja que é capaz de pagar ao seu ministro um salário digno o compele, a fim de cumprir seu orçamento, a ganhar dinheiro adicional com alguma outra ocupação. Por outro lado, é uma desgraça e pecado se o ministro a quem a congregação paga um salário adequado ainda assim gasta o tempo que ele deveria dar para sua congregação e para o que sua congregação está lhe pagando, fazendo outro trabalho a fim de que ele possa ganhar mais dinheiro. Tal ministro é ambicioso por lucros imundos e indigno do santo ofício, 1Tm 3.3; Tt 2.7.

Delegando a Autoridade para Chamar

O direito e a responsabilidade de chamar um pastor ao ministério público foi dado à congregação, porém a Escritura em lugar algum delineia como a congregação deve executar esta tarefa. Assim, delegar a escolha de um pastor é algo permitido.

Sob circunstâncias comuns na paróquia, a congregação delega à sua diretoria ou a seus conselheiros apenas a autoridade para selecionar e apresentar alguns candidatos a partir de uma lista mais extensa. Experiências do passado advertem contra a prática de os membros delegarem todos os seus direitos como sacerdotes espirituais. Cada um e todos os membros da congregação tem a responsabilidade solene de chamar o pastor, dolorosas repercussões freqüentemente se desenvolvem quando a escolha de uns poucos não encontrou favor por parte da congregação como um todo.

Por outro lado, quando congregações juntam-se para executar o ministério público (e.g., em um ministério hospitalar, em uma instituição sinodal de educação), a boa ordem dita que eles realmente deleguem a outros a autoridade para chamar.

A existência do Sínodo indica precisamente que a igreja deve fazer o seu trabalho conjuntamente. O Sínodo não é uma organização a parte. Ele é a comunhão confessional de todas as congregações. Neste caso, em comum acordo, certos ofícios são preenchidos pelo Sínodo ou por suas comissões através da autoridade delegada por parte das congregações.

Sumário

Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo. (2Co 5.18-20)

O OFÍCIO PASTORAL

O PASTOR COMO PESSOA

2 O Pastor como Pessoa

O pastor como pessoa - um tópico sempre popular - continua em foco. Em parte, porque a igreja eletrônica tem exposto seus pregadores a um intenso escrutínio baseado na imagem popular do que um pastor "deve" ser e como "deveria" agir: e há um regozijo humano quando "os poderosos caem". O pastor paroquial pode sentir-se desconfortável debaixo de olhares que o espreitam; já há muito tempo, tendo em vista a propensão das pessoas a achar defeitos, Paulo foi movido a aconselhar Timóteo e Tito no sentido de que os cristãos (especialmente os pastores) deveriam ser "padrões dos fiéis, na Palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza" (1Tm 4.12) "para que o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados" (1Tm 6.1). O pastor cristão deveria ser um "obreiro que não tem de que se envergonhar" (2Tm 2.15) "para que a Palavra de Deus não seja difamada" (Tt 2.5). Ele deveria ser "padrão de boas obras" (Tt 2.7) "a fim de ornarem, em todas as cousas, a doutrina de Deus, nosso Salvador" (Tt 2.10). Paulo não está preocupado com o ego (com o seu próprio, ou com o de Timóteo ou de Tito), mas com "quantos hão de crer nele [Cristo Jesus] para a vida eterna" (1Tm 1.16).

Dentro desse contexto, Paulo reconhece que todos os cristãos têm uma vocação (Ef 4.1) como membros do sacerdócio real (1Pe 2.5,9) - mas que nem todos têm as qualidades que são requeridas do homem a quem uma congregação chama como pastor (1Tm 3.2s; Tt 1.6). Grosso modo, estas qualificações evocam ao pastor a imagem do modelo perfeito, Jesus Cristo. Paulo escreve: "Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave" (Ef 5.1-2). Como Lutero o coloca, devemos ser "pequenos Cristos" para nossos semelhantes.

Ao mesmo tempo, o pastor não pode ser perfeitamente o modelo de Cristo. Contrariando a equivocada opinião popular de que a afirmação "é necessário que o bispo seja irrepreensível" queira dizer que ele deva ser perfeito, a verdade é que ninguém é sem pecado. Mesmo a vida do pastor é perturbada por traumas espirituais, emocionais e físicos. Ele é um pecador mesmo sendo uma nova pessoa em Cristo - simul justus et peccator, como Lutero o afirma. A igreja não procura um pastor sem pecado, mas um que seja de bom testemunho e que tenha uma fé forte e madura, um homem que se empenhe pública e particularmente em ser um modelo de Cristo perante todos. Em poucas palavras, sua vida deveria valorizar o elevado chamado que ele tem.

Numerosas passagens da Escritura, caracterizam o cristão ideal. Estas, juntamente com passagens que se dirigem especialmente ao pastor, traçam o perfil do modelo. As passagens falam das características de sua personalidade, de seus dons e suas habilidades, bem como de seu estilo de vida.

Características da Personalidade

Lidar com verdades eternas e com assuntos de vida e morte é um negócio sério. O pastor deve ser um cristão sincero, que acredita naquilo que prega. Ele vive e respira a sua fé, formal e informalmente, no púlpito e em todo lugar, mesmo em seu lar. A autenticidade, que cria automaticamente o respeito, está melhor relacionada com um senso de humor que tenha discernimento do que com uma postura de aparente santidade e de cunho pietista (o oposto de ser piedoso), que ninguém gosta e que é, finalmente, sinceridade forjada. O pastor que ri de suas próprias fraquezas prega um sermão eficaz sobre a doutrina do homem. O humor, de fato, não pode existir às custas da dignidade. O teste é se o pastor pode livremente mudar de papel a fim de tornar-se um consolador, um conselheiro ou um pregador competente. Sua postura sempre refletirá uma alegria apropriada para cada ocasião, a qual vem da mensagem do Evangelho.

A sinceridade conduz à humildade e à abnegação - características que apenas o Evangelho pode produzir. Os paroquianos podem tolerar, mas detestarão um pastor orgulhoso e presunçoso porque, de fato, ele estará pregando que seus dons são dele próprio e não vêm de Deus. A auto-promoção enfraquece o respeito e a dignidade que ele, como pastor, precisa e que só podem ser ganhos, e não exigidos.

Um pastor sincero e humilde, que tem sido transformado pelo Evangelho, será fiel e consciencioso no desempenho de seus deveres - estas, afinal, são as duas únicas exigências que o Senhor coloca sobre o pastor, independente de quão dotado ele é. Ele também será paciente e tolerante, preferindo sofrer por causa dos erros alheios do que errar lidando com as pessoas de maneira grosseira ou inflexível. O pastor terá que cultivar o tato caso ele não o possua. Uma vez mais, o Evangelho pode remodelar uma pessoa e o pastor precisa estar consciente todo o tempo da imagem que ele projeta.

Outras características desejáveis mencionadas em 1 Timóteo 3 e Tito 1 estão relacionadas com ou podem ser subordinadas àquelas já mencionadas: temperante, não dominador, que tenha domínio de si, não irascível, disciplinado, não violento, porém cordato, inimigo de contendas.

Habilidades e Capacidades

Como todo profissional, o pastor precisa de capacidade para adquirir conhecimento, para transmití-lo, para pensar analiticamente, para liderar, para inspirar confiança e fé e para convencer outros de sua posição.

Também se espera que um pastor seja um líder, um evangelista /missionário e um Seelsorger (um cura d'almas, alguém que possa ajudar pessoas individualmente). Estes papeis não obedecem a uma definição clara, porque eles requerem habilidades ou técnicas, e conhecimento de como usá-los. Mais que isto, eles exigem prática e um tipo de sexto sentido para antecipar resultados. (Para uma discussão maior sobre o papel do pastor em várias situações, veja as Unid. IV a VI.)

O Pastor Instruído

Conhecer as Escrituras, a doutrina da igreja e a práxis eclesiástica é básico. O treinamento formal para o ministério público começa no Seminário, onde há a informação básica necessária, as ferramentas e onde as habilidades são adquiridas. A educação do pastor não termina com sua formatura no Seminário. Todo profissional consciencioso constantemente "renova sua licença", através de alguma fonte de educação continuada. O valor de saber o Grego e o Hebraico é óbvio para identificar matizes de significados, expressões idiomáticas e nuances não transmitidas por uma tradução. O conhecimento da Bíblia é essencial. A história bíblica, as personalidades, a ênfase básica de cada um dos 66 livros e a localização de passagens importantes para ilustrar a doutrina bíblica podem ser aprendidos através de períodos de estudo sistemático, ainda que talvez breves, conscienciosamente seguidos. Falando de modo geral, quanto mais o pastor pode memorizar (incluindo o conteúdo do sermão), mais eficaz ele pode tornar-se em seus vários papéis.

O pastor pode não estar familiarizado com todas as disciplinas, mas uma mente inquiridora e um interesse vívido sobre todos os tempos extra-bíblicos o ajudarão a ouvir compreensivamente, a transmitir o Evangelho para o mundo de seus paroquianos e a interagir com não cristãos. A mera evidência de seu desejo por conhecimento, pode dar-lhe ocasião para fazer de sua conversa sobre Cristo e salvação a coisa mais crível que possa existir.

Pastor como Professor

A maioria das atividades do pastor exigem que ele ensine a Palavra de Deus de alguma maneira. Portanto, ele deve ser "apto para ensinar" e deve aprender a aproveitar as diferentes oportunidades para fazê-lo. Como as Escrituras nos falam (2Pe 1.20; Tt 1.9), nem a interpretação particular do pastor, nem suas pressuposições irão comunicar o conteúdo essencial do seu ensino. Este primeiro passo deve ser seguido ao aprender a transmitir conhecimento.

O pastor deveria compreender e apreciar métodos eficazes de ensino. Ele deve desenvolver a habilidade de interpretar, de escrever e falar correta e claramente, de organizar um assunto, de resumir testes apropriados para cada circunstância. Ele não precisa estar familizarizado com todos os aspectos da educação, mas ele deveria ter um interesse nisto, ser capaz de ouvir e querer aprender enquanto se relaciona com a equipe educacional que ele deve conduzir - professores de escola paroquial, professores da escola dominical, ou diretores de educação cristã (cf. Unid. VI, 4).

O Estilo de Vida do Pastor

Em Gl 5.22-23, Paulo faz uma lista sobre o "fruto do Espírito" - não como qualificações para ser um cristão, mas como resultados do Espírito que habita em nós - "amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio". Estas qualidades são os dons de Deus Espírito Santo e certamente são qualidades que devem ser cultivadas pelo pastor através de "contrição e arrependimento diários". Talvez seja com esta lista em mente que Paulo orienta Timóteo e Tito a ponderarem acerca do homem escolhido para ser o "supervisor"/presbítero/pas-tor do rebanho cristão - alguém que precisa ser exemplo dos frutos do Espírito, já que ele deve ajudar a outros a crescer na graça do Espírito Santo.

Em 1 Timóteo 3 e Tito 1, Paulo comenta que o estilo de vida do pastor deveria ser temperante, não dominador, que tenha domínio de si, não irascível, disciplinado, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, hospitaleiro, não amante do dinheiro, não cobiçoso de lucros desonestos, não dado ao vinho e que seja respeitável por sua boa reputação. Paulo, de fato, não apresenta uma lista exaustiva ou um conjunto de leis para a vida do pastor. Antes, ele ressalta aquelas qualidades gerais que podem orientar na escolha de alguém que deve servir o rebanho de Deus.

O como o pastor demonstra estas qualidades está sujeito a discussão. Ele precisa ser cauteloso com estas características negativas que brotam de maneiras sutis. Por exemplo, ele pode evitar a violência física e, não obstante, recorrer ao insulto verbal, assumindo erroneamente que seu status como pastor lhe dá o direito de ser senhor sobre as outras pessoas (1Pe 5.3; 1Tm 5.2).

A hospitalidade - o amor pelas pessoas, especialmente pelos forasteiros e o interesse pelas causas de caridade e comunitárias - prega um poderoso sermão: Todas as pessoas são criaturas de Deus; todas foram redimidas; sem a graça de Deus, eu também seria um "forasteiro" e um "necessitado" (Mt 25.35; Rm 12.13; Hb 13.2).

O pastor sempre será tentado a ser um "amante do dinheiro", a buscar um aumento de salário e ir ao encontro dos padrões do mundo secular, a considerar menos pecaminoso gastar desnecessariamente fundos de uma organização do que tirar proveito financeiro de alguém, a tratar o que se quer e o que se deseja como necessidades, e para achar que o que "todo mundo faz", em matéria de finanças, justifica que o pastor também possa fazê-lo. Uma visão equilibrada inclui habilidade para gerenciar as finanças pessoais e para evitar endividamento do tipo que, na realidade, não pode ser pago e que dá ao pastor uma má reputação.

Um estilo de vida "respeitável" (1Tm 3.2 NVI) encerra muitas considerações de bom senso. Por exemplo, por causa de seu ofício, de sua reputação e saúde pessoal, o pastor deveria resistir a um estilo de vida que o conduza a um apego excessivo a bebidas alcoólicas. Ele evitará trajes sujos, cabelo despenteado e indiferença para com a higiene pessoal. Ele evitará comer demasiado constantemente, a fim de que o peso excessivo não diminua sua eficácia pastoral. Ele caminhará ou seguirá alguma rotina de exercícios, não por razões de vaidades, mas porque a aptidão física contribui para a vivacidade e a produtividade geral. Ele será educado, será cortês para com todos e estará atento sobre como as pessoas estão reagindo para com ele, adotando um estilo de vida que tenha a ver com o bom senso e que regras de etiqueta não podem fornecer.

Ser "temperante" (1Tm 3.2) em todas as coisas, incluindo todas as características mencionadas, é uma meta desejável. Ao mesmo tempo, o pastor não pode ser tão humilde (falsamente falando) ao ponto de tornar-se submisso e sem determinação ou ao ponto de seu amor pelas pessoas degenerar-se em auto-admiração pelo fato de ele ter perdido a coragem para defender o que é bom e correto.

Amadurecimento e Crescimento Espiritual

Paulo comenta muito inteligentemente (1Tm 3.6) que o pastor "não seja neófito", presumivelmente porque um ministério eficaz depende de uma fé firme, que cresça a partir de um entendimento maduro da graça de Deus. Um pastor de almas terá o desejo de cultivar e desfrutar de um relacionamento diário com Cristo através da oração e da meditação sobre a Palavra de Deus, além da preparação regular para um sermão ou estudo bíblico. Isto exige auto-disciplina e administração do tempo em todos os sentidos, o uso do seu tempo com bom senso. Uma vida devocional pessoal, um relacionamento familiar e apropriado com sua esposa e seus filhos, e até mesmo um tempo adequado para recreação são aspectos legítimos do chamado que um pastor tem para servir. Abandono ou negligência à família, aos amigos e ao seu próprio desenvolvimento espiritual, dão sinais de um ministério vacilante. Os membros da congregação logo percebem quando o seu pastor está com problemas emocionais, espirituais, ou mesmo físicos.

Tudo o que foi dito até agora é necessário para se ter uma visão equilibrada do que se espera do pastor. Reconhecendo a dependência que o pastor tem de Deus e a necessidade do homem usar os dons e os meios de ajuda para este propósito, C. F. W. Walther, na sentença de abertura de sua Pastoral Theologie ("Teologia Pastoral"), fala de um habitus practicus theosdotos (uma atitude prática dada por Deus) através do qual o pastor pode desempenhar o ofício ministerial. O tão conhecido conselho de Lutero talvez resuma melhor do que qualquer outro o que é necessário para fazer um pastor: "Oratio, meditatio, tentatio faciunt theologum" (Oração, estudo meditativo e experiência ou teste fazem o teólogo/pastor).

A Família Cristã do Ministro

A Esposa do Pastor

Lutero fortemente acreditava que Deus apoiava o casamento do pastor. Ele mesmo casou-se aos 42 anos, contrariando a prática eclesiástica do celibato clerical e constituindo sua família pastoral. Ele acreditava que o casamento eliminaria muito da vida escandalosa entre o clero e que ajudaria os pastores a lidar empaticamente com os traumas, as dificuldades e as alegrias de seus paroquianos, no entanto, o casamento não é um pré-requisito para o ministério. O celibato consagrado é uma opção (Mt 19.12) cujas vantagens Paulo salienta (1Co 7.32-35). O relacionamento entre o pastor e sua esposa deveria ser equilibrado, com nenhum dos dois tomando todas as decisões ou executando todas as tarefas. A esposa do pastor não é a sua assistente, nem mesmo a principal organizadora dos eventos sociais na congregação, mas o que se espera dela é que a mesma seja um apoio para o pastor e seu trabalho, assim como qualquer marido e mulher compartilham amor e preocupações mútuas, trocam idéias, oferecem críticas construtivas e fazem sugestões positivas. Neste espírito, a esposa pode ser mais útil (e - não esqueçamos - ele pode ser mais útil a ela). Mas, não se deveria esperar e nem exigir que ela participasse das atividades da igreja mais do que outras mulheres, como se o chamado a incluísse.

Portanto, a escolha de uma auxiliadora é de grande importância. O cônjuge ideal em qualquer casamento é a pessoa por quem e com quem se consegue fazer o máximo. O esposo e a esposa devem ter algumas preocupações e interesses mútuos o mesmo nível de entendimento geral e dons pelos quais ambos complementem aquelas lacunas do outro, bem como reforcem algo que ambos têm. Além disso, entre eles estaria uma fé firme em Jesus Cristo e um desejo de trazer outros à fé cristã. A esposa do pastor, que é um membro de outra denominação, encontrará dificuldade para ajudar a convencer os membros da congregação sobre a importância de estar em uma denominação em que o Evangelho é ensinado puramente.

O pastor deveria considerar sua esposa como o presente mais precioso que Deus lhe deu para esta vida, depois da sua salvação em Cristo Jesus. Ela é uma auxiliadora em todos os sentidos - espiritual, emocional e fisicamente. Ele, por sua vez, deve amar, cuidar e respeitar a sua esposa de todas as maneiras. O esposo deve ver a sua esposa como Cristo vê a sua igreja - alguém por quem ele se sacrifica e a quem serve.

Os filhos do pastor

Espera-se que o pastor "governe bem a própria casa...se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?" (1Tm 3.4-5). Ele deveria educar seus filhos no Senhor e ensinar-lhes a ser disciplinados e respeitosos (1Tm 3.4), bem como "crentes que não são acusados de dissolução, nem são insubordinados" (Tt 1.16), padrões que se aplicam igualmente aos seus paroquianos.

Os filhos são presentes preciosos de Deus para que neles se tenha alegria e se lhes valorize. Nenhum pastor deveria fazer-se tão ocupado ao ponto de não ter tempo para sua esposa e família. Os pastores que optam por evadir-se das obrigações familiares enganam a si próprios e são modelos infelizes para sua própria família e para sua congregação. As famílias demandam tempo - e o pastor precisa de destreza e de um planejamento cuidadoso para providenciá-lo, pois tempo é o único caminho para construir relacionamentos fortes e para satisfazer o compromisso dado por Deus.

Os filhos de pastor são criticados por sua conduta mais freqüentemente do que os filhos das outras pessoas e eles se ressentem disso. A congregação precisa lembrar que todos foram redimidos, todos são justos perante Deus; por conseguinte, ninguém é melhor do que o outro. Porém, todos são pecadores, sujeitos a tentação e "pecam muito diariamente". Esperar que os filhos do pastor sejam os "cristãos perfeitos" é negar a doutrina bíblica fundamental sobre o homem.

O Divórcio de um Pastor

O divórcio tem se tornado muitíssimo freqüente nos Estados Unidos da América, também entre os clérigos. Qualquer homem que tenha sido infiel à sua esposa e que tenha causado um divórcio pode ser perdoado, porém, não é mais conveniente que ele abrace o ofício pastoral. Servir no ministério pastoral é um privilégio, não um direito. Muito raramente a reintegração de um pastor divorciado ao ministério público pode ser justificada. Declarar o pastor como sendo a parte inocente não resolve o problema. Em um divórcio, será que alguma das partes é mesmo inocente? Mesmo que um pastor aceite um chamado para uma congregação diferente, distante da anterior, o divórcio pode ser mantido em segredo? Será possível ao pastor desempenhar um ministério eficaz após uma experiência tão traumática, sendo ou não ele a parte menos responsável pelo divórcio?

Comentários posteriores a respeito do divórcio (Unid. V, 5) - como lidar com ele e como preveni-lo - serão aplicados ao próprio pastor, mas com alguns fatores adicionais. Um pastor pode conduzir-se pela noção errônea de que o trabalho do Senhor é tão importante que ele nem ousa criar algum tempo para sua esposa e família. Um segundo equívoco é a visão, também defendida por Agostinho, de que o sexo como tal é pecaminoso, sendo uma concessão à fraqueza humana e que só deve servir aos propósitos da reprodução - especialmente para o pastor. Bem ao contrário, Lutero recomendou que uma vida sexual vigorosa fosse desfrutada como um presente de Deus para o sucesso do casamento. O pastor pode concordar com isto, mas pode ser que ele necessite ajuda externa para lidar com problemas que fogem ao controle de sua experiência pregressa. Obviamente, muitos matrimônios pastorais terminam porque o pastor falha em praticar a doutrina mais importante que ele prega: que o homem é um pecador carente de dar e receber diariamente o perdão concedido por causa de Cristo. Isto está no coração dos maiores problemas.

Os Amigos do Pastor

Uma boa regra geral para os pastores tem sido, "Seja amável para com todos, mas não seja íntimo de ninguém". Tornar-se muito íntimo de paroquianos pode colocar o pastor em circunstâncias embaraçosas mais tarde. Esta regra é válida ainda que o pastor não encontre ninguém mais, dentro de uma distância razoável, a quem ele possa tratar como amigo. O mesmo é válido para a esposa do pastor. Em encontros sociais com membros, nem o pastor nem sua esposa deveriam divulgar informações confidenciais e, por extensão, eles deveriam evitar discussões sobre outros membros, cuidando especialmente para não tecer críticas negativas sobre eles.

O Pastor do Pastor

O pastor freqüentemente se encontra solitário, até mesmo alienado. Embora ele possa recorrer a sua esposa para compartilhar um assunto, para aconselhar-se e também para confessar-se, algumas vezes ele precisa de um outro pastor, em quem confie ou com quem possa dialogar sobre algum aspecto de seu trabalho. Ele deveria ser reservado acerca do que ele discute e com quem o faz. Ele é afortunado se encontra um pastor companheiro, talvez um veterano de muitos anos, em quem possa confiar e a quem possa confidenciar quase tudo. Da mesma forma que psiquiatras e psicólogos clínicos, o pastor não pode confiar em um de seus pacientes (i.e., paroquianos). Nem o presidente da igreja e nem mesmo o conselheiro distrital pode ser a pessoa em que ele confia, desde que, tanto um como outro têm funções administrativas oficiais que podem conflitar com algo confidencial que venha a ser compartilhado. Um respeitado pastor aposentado que não tenha quaisquer aspirações ou metas pessoais para o ministério pode ser o maior auxílio. O exemplo de Davi e Natã ilustram o valor e a importância da confissão. Como a Escritura recomenda, "Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo" (Tg 5.16).

O PASTOR COMO PESSOA

O PASTOR E A IGREJA

3 O Pastor em relação à Igreja

A Confissão de Augsburgo define a igreja como "todos os crentes e santos" (CA, VIII, 1), nos quais o Espírito Santo tem operado a fé "onde e quando lhe apraz, naqueles que ouvem o Evangelho" (CA, V, 2). Assim, estritamente falando, a igreja, que é obra de Deus e sua criação, é a assembléia de todos os crentes e santos. Embora os olhos humanos não possam ver a igreja (já que a fé não pode ser vista), sua presença na terra pode ser reconhecida por certas marcas externas: a pregação do Evangelho e a administração dos Sacramentos. Desde que ninguém é trazido à fé sem a Palavra externa do Evangelho (CA, V, 4; Rm 1.16; 10.17) e, desde que a Palavra de Deus realiza o propósito para o qual Deus a destinou (Is 55.10-11), segue-se que, onde o Evangelho está, ali está a igreja.

Os Sacramentos estão incluídos entre as marcas da igreja, porque eles também são Evangelho: neles Deus dá perdão e graça. No Batismo, o Espírito Santo é recebido (At 2.38), somos unidos com a morte e a ressurreição de Cristo (Rm 6.4s; Cl 2.12) e feitos herdeiros juntamente com ele (Gl 3.27,29) e nos é dada a salvação (1Pe 3.21). Na Ceia do Senhor, a comunhão ou participação no corpo e no sangue de Cristo (1Co 4.16), nos é dado o perdão dos pecados (Mt 26.28) através do sangue da aliança (Mc 14.24) e proclamamos sua morte e seu retorno (1Co 11.26). Por conseguinte, embora não possamos identificar aqueles que verdadeiramente crêem, podemos conhecer e identificar aqueles que usam os meios da graça (Palavra e Sacramento) e professam a fé cristã.

A Congregação Local

"Uma congregação Evangélica Luterana local é uma assembléia de cristãos crentes num certo lugar, entre os quais a Palavra de Deus é pregada puramente, de acordo com a Confissão da Igreja Evangélica Luterana e os santos sacramentos são administrados de acordo com a instituição de Cristo conforme ordenada no Evangelho, no meio dos quais, todavia, há sempre uma mistura de cristãos espúrios e hipócritas e, às vezes, até mesmo pecadores declarados"1 (Cf. At 8.1; 11.22; 13.1; Rm 16.1,5,23; 1Co 1.2; 4.17; 11.18; Fp 4.15; 1Ts 1.1; Ap 2.1,8,12,18; 3.1,7,14). A congregação deriva sua autoridade do próprio Cristo (Tr., 24-27) e não da igreja como um todo ou de alguma parte dela. Portanto, a congregação local está obrigada somente à Palavra de Deus e a ela restrita.

Os mistérios de Deus, i.e., o Evangelho e os Sacramentos (o Ofício das Chaves), estão confiados à congregação. "Todos os direitos de uma congregação Evangélica Luterana local estão incluídos nas chaves do reino dos céus, que o Senhor deu à sua igreja como um todo, original e imediatamente, e de uma tal maneira que eles pertencem a qualquer congregação em igual medida, tanto à menor, quanto à maior".2 Como resultado disso, toda a doutrina, ensino e vida da congregação (e as matérias usadas nas atividades como um todo) devem conformar-se às Escrituras inspiradas pelo Espírito. As tradições e as opiniões humanas não devem ousar substituir o ensino puro do Evangelho; pois, como Paulo escreve, "Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema" (Gl 1.8). Paulo aplicou o mesmo padrão a todos: "Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos em desacordo com a doutrina que aprendestes" (Rm 16.17).

Para praticar o Ofício das Chaves, a congregação não tem somente o direito, senão também o mandamento divino para chamar um homem idôneo de acordo com a vontade de Deus para o ofício do ministério público (Ap., XIII); nenhuma autoridade humana pode arrebatar [isto] à igreja (Tr., 67). Porque a congregação confia ao seu pastor, como seu representante, a responsabilidade de ensinar publicamente o Evangelho a ela própria e a outros, bem como a responsabilidade de administrar os sacramentos em seu meio, ele é responsável pela congregação (e, por ela, diante de Deus); e a congregação sempre possui o direito de remover do ofício um pastor que seja um servo infiel de Jesus Cristo.

Para enfatizar: somente a Escritura provê a norma para tudo o que a congragação faz. Assim, devido à imensa variedade de maneiras de entender a Escritura na Cristandade, aquelas congregações que se chamam luteranas têm subscrito a compreensão expressa nas Confissões Luteranas (o Livro de Concórdia) porque (quia) elas são uma exposição verdadeira e correta da Palavra (e não enquanto, quatenus, elas estão em acordo). Obviamente, o pastor luterano também se compromete com uma subscrição quia.

Note que esta subscrição pertence à doutrina, não aos ritos. A Confissão de Augsburgo declara, "E para a verdadeira unidade da igreja cristã não é necessário que em toda parte se observem cerimônias uniformes instituídas pelos homens" (CA, VII, 3); e a Fórmula de Concórdia declara que a congregação tem o direito de reduzir, aumentar, ou modificar cerimônias que servem ao propósito da boa ordem e à edificação da igreja (FC, DS, X, 9). Contudo, a congregação pode requerer que seu pastor use geralmente as cerimônias da Igreja Luterana e que ele não introduza cerimônias arbitrariamente de acordo com os seus próprios caprichos.

O Pastor na Congregação

Como Professor

A Reforma fez um grande esforço para restaurar o ofício pastoral como um ofício de ensinar (cf. Unid. VI, 5). Para Lutero, ensinar era a essência do ofício pastoral:

Quem quer que tenha o ofício de pregar tem o mais alto ofício na Cristandade...Depois disso ele também pode batizar, celebrar a missa, exercer todo o cuidado pastoral ...3

Se o ofício de ensinar for confiado a alguém, então tudo o que é levado a cabo pela Palavra na igreja está confiado, isto é, o ofício de batizar, consagrar, ligar, desligar e julgar a doutrina.4

Como Supervisor

O pastor, um supervisor (episkopos) encarregado de guardar o Evangelho na congregação, deve estar equipado com a Palavra a fim de proteger o rebanho por fora e por dentro (Mt 28.20; At 20.31-32; 1Tm 4.1-3,13; Tt 1.9).5 Sua autoridade como supervisor não vem meramente da congregação, mas por ele ser um servo (doulos) de Jesus Cristo e do Evangelho (Rm 1.1; Gl 1.10; 2Pe 1.1).

Como uma aplicação prática deste princípio, o pastor, que é responsável por todo o ensino na congregação, pode delegar a tarefa de ensinar a outros, mas somente a pessoas treinadas e (se necessário) supervisionadas.

"Supervisionar" abrange o processo de excomunhão. Todavia, a autoridade de dizer que uma pessoa está excomungada pertence à congregação (cf. Unid. IV, 10). Isto não deve ser feito friamente através da simples contagem de votos de uma maioria. A congregação deveria estar convencida pela clara Palavra de Deus que o pecado resultara em perda da fé, o que é demonstrado ao permanecer obstinadamente impenitente.6 Dessa maneira, a congregação deveria manter o objetivo da restauração espiritual do errante (2Tm 2.25).

Finalmente, como um supervisor, o pastor não ousa exercer tirania sobre o seu povo (1Pe 5.3; Mc 10.42-45; Lc 22.22-27). Discussões insensatas podem levar ao desprezo da Palavra de Deus. Por conseguinte, o pastor deveria evitar disputas acerca de assuntos não-bíblicos e não deveria impor sua própria opinião sobre o seu povo. De fato, se o pastor não cede em assuntos não espirituais e não essenciais, ele pode precisar ser repreendido. 1Tm 3.3; Tt 1.7) Mansidão e paciência, quando não se tenha chegado a um acordo, sempre são necessárias.

Como Administrador dos Sacramentos

Administrar os Sacramentos (cf. Unid. III, 3 e 4) significa mais do que simplesmente oficiar a cerimônia. Isto inclui a instrução da congregação com respeito ao uso correto dos Sacramentos e, às vezes, a decisão sobre quem não pode receber os Sacramentos. Em suas instruções aos visitadores das paróquias (1528), Lutero afirmou, "Quem quer que...não saiba porque ele deveria receber o sacramento não deveria ser admitido a ele".7 Ele ainda recomendou que, àqueles que continuem a viver abertamente em pecado após repetidas admoestações e se recusarem a corrigir seus modos, deveria ser negada a Santa Comunhão.8

Como Confessor e Absolvidor

O privilégio de ouvir a confissão e então absolver o atribulado pertence tanto ao pastor (cf. Unid. IV, 2 e Unid. III, 4) quanto aos membros da congregação, a fim de restaurar relacionamentos com Deus e dentro da igreja. A meta é criar um novo espírito entre todos os membros, todos pecadores redimidos que podem, por conseguinte, livremente perdoar e aceitar um ao outro.

Uma informação revelada ao pastor em confissão não deve ser, sob circunstância alguma,9 revelada por ele, nem mesmo para sua esposa. E ele nem deve usar tais assuntos como ilustrações para sermões ou para ensinar, a fim de que não destrua a confiança que as pessoas depositam nele. Ao ouvir uma confissão e ao pronunciar a absolvição, ele é meramente o ouvido confidencial e a voz de Deus.

Como Conselheiro

A não ser que tenha sido treinado e diplomado, o pastor não está equipado para ser um conselheiro profissional como comumente entendido.10 Antes, o pastor aconselha na acepção bíblica do termo: ele fortalece e encoraja pessoas em sua fé. Ele ensina e traz a Palavra de Deus a cada tipo de situação, pública e individual - ao enfermo e ao que está morrendo, às famílias aflitas diante da morte, àqueles que estão espiritualmente feridos, àqueles que precisam de auxílio espiritual (cf. Unid. IV). O pastor aprende a alegrar-se com os que se alegram a chorar com os que choram - assim como Jesus fez (Jo 2.1-10; Rm 15.17).

Como Administrador da Congregação

A Escritura não dá nenhuma diretriz específica no que tange à organização de uma congregação. Enquanto o ofício do ministério público é ordenado biblicamente (cf. Unid. II, 1), a congregação pode criar quaisquer ofícios adicionais para ir ao encontro de suas necessidades (cf. Unid. VI).11

Por exemplo, a congregação pode estabelecer uma comissão de evangelismo, preocupada não com números, mas com a salvação eterna de todos por quem Cristo morreu. Uma comissão, no entanto, não substitui a preocupação e os esforços de todos os membros em testemunhar a Cristo como Salvador.

A educação cristã comumente ocupa um outro departamento importante da estrutura congregacional. Novamente, porém, a preocupação e o esforço deveria permear cada organização, comissão e parte da congregação. (Em algumas congregações, isto requer uma considerável destreza do pastor.) O valor da escola paroquial, das aulas de religião, da escola dominical, das aulas de confirmação e da escola bíblica de férias é evidente. Além disso, a educação cristã (falando em linhas gerais) deveria acontecer também nos grupos de costura, nas equipes de boliche, nos passeios e nos mutirões. Nestas situações, o confronto espiritual será menos proeminente e mais casual, mas, apesar disso, deveria ser evidente para os membros do grupo.

A comissão ou programa de mordomia, da mesma forma, corrobora a razão da existência da congregação. Atividades bem planejadas pela comissão de mordomia produzem crescimento espiritual, ao ponto de reduzir ao mínimo as campanhas para levantamento de fundos.

A maioria das congregações também possui ou estabelece uma variedade de organizações para satisfazer a necessidade de grupos bem definidos (mulheres, homens, jovens, etc.). Eles oportunizam comunhão cristã e crescimento no conhecimento e no serviço cristãos, complementando o programa da congregação. Eles deveriam ser adequadamente supervisionados a fim de que eles não formem panelinhas, nem dominem o programa da congregação e eles deviam reportar suas atividades à congregação como um todo. Enquanto o pastor trabalha com estes grupos, ele devia recrutar a ajuda de membros qualificados, de modo que ele não devote tempo demasiado a estes aspectos auxiliares da congregação.

Já que qualquer estrutura pode ser útil na administração dos assuntos da congregação, a que já existe deveria ser revista de tempos em tempos a fim de se avaliar o quanto ela contribuiu positivamente para o cumprimento do propósito e para a atividade global da igreja.

O Pastor no Sínodo

Como nos tempos apostólicos, o entendimento comum da doutrina bíblica fundamental constituiu, em 1847, a organização de congregações e pastores hoje conhecida como The Lutheran Church - Missouri Synod ("Igreja Luterana - Sínodo de Missouri"). Como expresso em sua constituição, o Sínodo foi organizado para:

Conservar e promover a unidade da verdadeira fé (Ef 4.3-6; 1Co 1.10), [para] trabalhar através de sua estrutura oficial na direção da comunhão com outros grupos cristãos e [para] providenciar uma defesa unida contra o cisma, o sectarismo (Rm 16.17), e a heresia.12

Além da preocupação com doutrina, a constituição do Sínodo de Missouri (o nome popular para Igreja Luterana - Sínodo de Missouri) enumera outros propósitos para a organização, e o envio conjunto de missionários para seu próprio país ou para o exterior; o recrutamento e o treinamento conjunto de pastores, professores e outros obreiros da igreja, provendo-lhes tanto o apoio como a supervisão; e providenciando-lhes seu bem-estar social geral enquanto ativos ou aposentados, e para suas famílias, em caso de enfermidade, invalidez, necessidades especiais ou morte; providenciar uma variedade de recursos para as congregações desempenharem atividades de adoração, evangelismo, mordomia, educação cristã, etc.; e o trabalho conjunto para suprir necessidades humanas.

A menor congregação pode tomar parte nestes projetos e a denominação junta pode fazer o que cada congregação não pode fazer sozinha.

Embora o Sínodo não possua quaisquer poderes legislativos sobre seus pastores e congregações com respeito ao seu auto-governo,13 mesmo assim as congregações, tendo-se afiliado ao Sínodo, concordam em honrar as resoluções do Sínodo e deveriam sentir-se obrigadas a acatá-las por causa do amor e da paz. Portanto, os pastores e as congregações devem estar bem informados sobre as regras e decisões do Sínodo e deveriam participar ativamente no processo legislativo. Se, em alguma ocasião, uma resolução não doutrinária não combinar com suas circunstâncias, a congregação responderá a isto da melhor maneira. Afirmações e decisões que envolvem doutrina, no entanto, devem ser honradas e aprovadas, porque elas reafirmam a Palavra de Deus (sobre a qual Deus, e não a congregação, tem o domínio).14

Como membro do Sínodo, a congregação deve dar suporte financeiro a ele, não como uma agência externa, mas como uma que está vinculada à organização que ela mesma estabeleceu com outras congregações para efetuar esforços conjuntos. Tal suporte deveria ser dado voluntariamente em gratidão pelas muitas bênçãos que Deus opera através desta união chamada "Sínodo".

O Pastore Outras Organizações Luteranas Nacionais

Alguns grupos auxiliares na congregação tem um complemento que apóia tanto o trabalho da congregação como o do Sínodo. The Lutheran Laymen's League ("Liga de Leigos Luteranos"), o departamento mais antigo no Sínodo de Missouri, patrocina "The International Lutheran Hour" ("Hora Luterana Internacional"), "This is the Life" ("Esta é a Vida") e uma porção de outros programas criados para proclamar o Evangelho. Da mesma forma, a Lutheran Women's Missionary League ("Liga Missionária de Mulheres Luteranas") tem um índice impressionante de apoio missionário já prestado. A comissão sinodal chamada Board of Youth Services ("Comissão para Serviços da Juventude") patronica a Lutheran Youth Fellowship (Juventude Luterana).

Ademais, o Sínodo reconhece vários tipos de organizações adicionais: agências luteranas que trabalham com famílias e ação social, orfanatos e asilos e lares para deficientes mentais - alguns semi-sinodais, alguns sob patrocínio distrital, e outros, com vários tipos de patrocínios organizacionais. As organizações de serviço reconhecidas e enumeradas pelo Sínodo normalmente são publicadas na lista oficial do Sínodo: The Lutheran Annual ("Anuário Luterano").

O pastor normalmente encorajará os seus membros a participar nestas organizações e a apoiá-las (bem como em organizações seculares na sociedade), organizações que se empenham em ir ao encontro de várias necessidades (Jr 29.7).

O PASTOR E A IGREJA

COMEÇANDO O MINISTÉRIO

4 O Pastor Começa Seu Ministério

Poucas experiências tocam tão profundamente a vida de um pastor como quando ele recebe um chamado. Ele sente-se humilde pelo fato de o Senhor tê-lo achado fiel e por permitir-lhe refletir sobre a possibilidade de servir em uma outra paróquia.1 Ele está dividido pelo pensamento de ter de escolher entre uma nova paróquia e a que ele tem cuidado e amado como sua família espiritual. Ele compreende que, tanto se ele mudar como ficar, as duas congregações bem como sua família serão afetadas por sua decisão. Já a recepção de um chamado impõe um certo número de responsabilidades corriqueiras, mas importantes.

Um Chamado Válido e Legítimo

Apenas muito raramente deveria acontecer diferente, já que o pastor/candidato deveria estar convencido que o chamado é válido e legítimo (cf. Unid. II, 1). Tanto a congregação que chama quanto o pastor que recebe o chamado têm a obrigação de conservá-lo legítimo. Nenhuma das partes deveria recorrer à "sala dos fundos" a fim de negociar seu próprio lucro. Um pastor não deveria impor-se a uma congregação vacante porque ele cobiça seu chamado. Nem é apropriado que ele instigue amigos e parentes que pertençam a esta congregação para que eles influenciem outras pessoas a votar nele. Tal atitude de ambas as partes, pastor e congregação, levanta questionamentos sobre a legitimidade do chamado, ignora a real natureza de um chamado divino e rebaixa o ofício sagrado como tal. Lutero aconselhou que: deveríamos cuidadosamente olhá-lo para que não haja qualquer má intenção, que ninguém, de modo algum o atrapalhe como pregador, nem impeça sua subsistência ou seu ganha pão. Pois isto é perigoso; e nunca terá bom retorno. Se você for versado e entende bem a Palavra de Deus e pensa que você poderia apresentá-la fiel e proveitosamente para outras pessoas, então espere. Se Deus quiser isto, ele não terá nenhum problema para encontrar você. Meu amigo, não deixe a sua habilidade estourar seu ventre. Deus não se esqueceu de você. Se você existe para pregar sua Palavra, ele não hesitará em chamar você para fazê-lo a seu próprio tempo. Então, não determine o tempo limite ou o lugar para ele.2

O sistema cada vez mais popular de entrevistar prospectos freqüentemente tem cheiro de negociata inapropriada. O procedimento (em pessoa e/ou através de questionário) pode levar a problemas sérios. Primeiro, a comissão pode desqualificar um candidato que não está acostumado às tensões do processo de entrevista, mas que poderia ser altamente qualificado e até serviria com distinção. Segundo, o mesmo pode ser dito no caso de um candidato que conscientemente declina de ser entrevistado ou que prefere não responder os questionários. Terceiro, desde que se considera que um pastor que participa e "passa" pelo crivo desejará aceitar o chamado se o receber, a congregação muitas vezes fica confusa e desnorteada se ele declina - o que resulta em descrédito tanto para o homem chamado quanto para o ofício como tal.

Por outro lado, as congregações com necessidades muito especiais podem requerer informações mais completas do que normalmente concedidas acerca dos candidatos. Já que entrevistas ou questionários podem ser apropriados em tais circunstâncias especiais, esses assuntos podem ser resolvidos através da orientação daqueles que foram escolhidos para supervisionar os supervisores (i.e., presidente da igreja e conselheiro distrital, etc.). Normalmente, as orientações disponíveis com o presidente da igreja (1) asseguram que a totalidade dos membros votantes podem exercer o privilégio divino, no qual cada membro compartilha igualmente e (2) providenciam salvaguardas contra o impedimentos da operação do Espírito Santo ao longo de todo o processo.

A igreja é do Senhor. Desde que apenas ele providencia pastores adequados para exercer o ministério da igreja, a igreja busca sua orientação. Somente o Espírito Santo, trabalhando de forma mediata, pode dar poderes a uma congregação para que ela escolha um pastor de acordo com a vontade do Espírito, baseado em informações sobre o candidato e sobre a compreensão que a congregação tem de sua missão e ministério.

Chegando a uma Decisão sobre o Chamado

Quando um pastor recebe um chamado, ele imediatamente confirma seu recebimento e assegura à congregação que o está chamando que ele dará ao chamado séria e sincera consideração. Sua resposta reconhece a honra que lhe foi conferida e o respeito que ele sente pelo ofício. Ele informa à congregação que o está chamando quando a mesma pode esperar sua decisão. Se mais informações forem necessárias, o pastor escolhido deveria sentir-se livre para solicitá-las.

Geralmente três ou quatro semanas deveriam ser suficientes para chegar a uma decisão; um chamado segurado muito tempo pode ser nocivo para o povo, pois o tempo é muito importante para uma congregação vacante. Pode ser muito desanimador para a congregação se o chamado for tratado levianamente. Se o pastor-candidato adiar muito sua decisão e ainda aceitar o chamado, sua chegada à nova paróquia poderia ser recebida com muito menos entusiasmo.

O pastor também notifica prontamente o presidente da igreja e o seu conselheiro distrital (e, se ele estiver servindo numa missão, o secretário do departamento de missão). Nesta carta, ele simplesmente os informa sobre o chamado e solicita seu aconselhamento e orações.

Assim que possível, o pastor-candidato informa a sua congregação atual que ele recebeu um chamado para servir em outro lugar. Ele pode desejar contactar o presidente de sua congregação e o líder dos conselheiros da mesma, agendando um momento conveniente para discutir o chamado. A notificação dos membros pode ser feita enviando-se uma carta para cada casa, fazendo-o, desse modo, ao mesmo tempo, ou anunciando o chamado no final de um culto. (Esta última forma, é lógico, tem a desvantagem de não avisar os membros que não estão presentes.)

Alguns pastores declinam um chamado sem nem mesmo ter informado sua congregação de tê-lo recebido, pois receiam a reação de sua paróquia e/ou a possível suposição de que eles já estavam "pescando" um motivo para ele ir embora. Outros devolvem o chamado intocado, não querendo sofrer o trauma de tomar uma decisão. Já que os membros podem eventualmente aprender com isto, o pastor deveria discutir cada chamado com o seu povo. Uma consideração sincera para com o processo pelo qual Deus chama pastores requer que cada chamado receba justa e minuciosa apreciação, aberta e honestamente, pelo pastor e pelo povo.

O processo de decisão oferece tanto ao pastor como à congregação a oportunidade de importar-se e servir-se mutuamente no período mais crítico para todos eles, enquanto eles (1) pesam suas responsabilidades individuais; (2) deliberam sobre o seu bem-estar mútuo; e (3) avaliam a obra da igreja como um todo em contraste com suas necessidades particulares e paroquiais.

Quando o pastor busca o conselho de sua congregação, ele deveria estar preparado para várias reações. Algumas pessoas esforçam-se para expressar seus sentimentos. Outras reagirão abertamente, com expressões que vão desde o espanto até grandes promessas apenas para conservar o seu pastor com eles, desde a honestidade brutal até os comentários honestamente maravilhosos. E a assembléia dos membros votantes normalmente transmite uma resolução enorme de apoiar o pastor durante o primeiro momento de sua deliberação. Todas as reações deveriam ser recebidas como significativos conselhos para assistir ao pastor em sua tomada de decisão.

Uma visita à congregação que está chamando pode ser oferecida. No entanto, antes de aceitar tal convite (especialmente se for às custas da congregação que está chamando), ele deveria estar bastante certo de que a visita é justificada - i.e., que isto providenciará um entendimento melhor das necessidades da congregação.

Por fim, o próprio pastor deve tomar a decisão, compreendendo que nenhum mandamento divino ordena que ele aceite cada chamado. Deus freqüentemente utiliza uma vacância e um chamado(s) retornado(s) para fortalecer uma congregação.

O melhor conselho na deliberação de um chamado é deixar a sabedoria de Deus e a orientação do Espírito Santo guiar a decisão através de reflexão, diálogo e oração. As seguintes perguntas (embora não exaustivas) podem ajudar:

Onde Deus quer que eu sirva?

A necessidade de minha atual congregação é menor do que a necessidade da congregação que está chamando?

Meus dons e experiência seriam mais eficazes em outro lugar?

Eu estou tão acomodado em minha atual congregação que eu não percebo mais as necessidades do meu povo?

Eu aumentaria minha experiência em um novo desafio?

Quais são as necessidades de minha família? Qual é o estado de nossa saúde?

Já que o ministério público requer abnegação, como eu posso aplicar as palavras de Paulo quando ele previne contra aqueles cujo o deus é o seu estômago e cuja a mente só se preocupa com coisas terrenas (Fp 3.19)?

Se ainda houver dúvida, considere-se o conselho de Lutero: "Se alguém duvida que Deus o queira para fazer uma certa obra, seria melhor que ele não se comprometesse em realizá-la".3 A obra The Pastor at Work ("O Pastor no Trabalho") adiciona, "Um dos requerimentos fundamentais para um ministério bem sucedido é uma boa consciência...por conseguinte, nenhum pastor deveria declinar um chamado se a sua consciência diz que ele o aceite; nem deveria aceitar um chamado se a sua consciência o força a declinar".4

Anunciando a Decisão

As palavras usadas para anunciar a decisão são as mais importantes, pois as emoções, tanto positivas como negativas, podem aflorar. Seja qual for a decisão o Evangelho da graça de Deus por todos deve ser a ênfase.

Se a decisão for declinar o chamado, o pastor imediatamente a anuncia à congregação que está chamando por telefone. O diploma de vocação deveria ser devolvido imediatamente, junto com uma carta declinando o chamado e pedindo que a decisão seja honrada. (Uma cópia da carta é enviada tanto ao presidente da igreja como a outras autoridades eclesiásticas às quais a decisão afeta.) Os motivos para declinar não precisam constar na carta, mas o pastor deveria assegurar à congregação que o chamara que o chamado recebeu consideração sincera e foi ponderado em oração. Ele agradece pela honra que lhe foi conferida e notifica ao grupo que o chamara sobre suas orações ao Senhor em favor dele. (A carta formal de declinação nunca deveria ser usada para prevenir a congregação que chama acerca de quaisquer elementos objetáveis de seu chamado, nem para aconselhar os membros sobre o que fazer antes de emitir um outro chamado. Se alguma coisa deve ser dita, dirija-o confidencialmente ao respectivo conselheiro distrital e/ou ao presidente da igreja de maneira fraterna, pastoral e evangélica.)

Se a decisão for aceitar ao chamado, o pastor não deveria demonstrar desprezo pela sua atual paróquia, nem rebaixá-la no momento em que ele oferece os motivos de sua aceitação. Antes, ele deveria compartilhar ponderada e pastoralmente o que o Espírito Santo o guiou a fazer e pedir a concordância de seus membros para que ele possa ter uma saída pacífica. Se a congregação, sem amor pela decisão de seu pastor, recusa que ele se vá, ele pode seguir sua consciência. Se a razão for outra que não o amor, ele desejará resolver quaisquer problemas antes de pedir sua saída novamente. A separação de um pastor fiel e de uma congregação amorosa deveria ser um momento para louvor e ações de graças a Deus pelas bênçãos recebidas mutuamente.

Após aceitar um chamado, o pastor-eleito imediatamente notifica sua decisão ao presidente da igreja (bem como ao secretário do departamento de missão caso ele esteja servindo numa missão) a fim de que as providências possam ser tomadas para (1) um pastor interino; (2) a transferência de sua membresia caso o chamado seja para um outro distrito; ou (3) se a nova paróquia é no seu distrito atual, para autorização de sua instalação. Arranjos deveriam ser feitos para seu culto de despedida, para a mudança e para a data da instalação em sua nova paróquia.

Se o chamado for para um outro distrito, a notificação àquele conselheiro distrital também requer a autorização para a instalação. Quando a data5 da instalação estiver sendo determinada, as necessidades da nova congregação deveriam ser favorecidas; porém, deveria ser permitido um tempo suficiente para cumprir as responsabilidades antes de mudar-se. Via de regra, quatro semanas deveria ser um tempo bastante adequado.

Antes de deixar uma congregação para ir a outra, o pastor organiza-se para que todos os registros da igreja estejam em ordem, reúne-se com todas as comissões e os assiste no planejamento do ministério deles durante a vacância, faz as últimas visitas aos doentes e às pessoas que não podem sair de seus lares e prepara-se para um culto de despedida que encerra a obra de seu presente chamado.

O sermão de despedida não é um momento de punir a congregação e nem de brincar com as emoções das pessoas. O último culto deveria ser a melhor e mais clara apresentação do Evangelho combinado com a recomendação do rebanho ao Pastor e Bispo da igreja.

Iniciando o Ministério em uma Nova Paróquia

Pelo fato de o chamado criar um relacionamento sagrado entre o novo pastor e congregação, um bom começo é importante. A imagem que o pastor deseja projetar deveria permear suas atividades iniciais e dar-lhe o tom.

O Rito de Instalação /Ordenação

De acordo com o costume da igreja, um pastor começa seu ministério quando ele é ordenado ou instalado na presença da congregação que o chamou - normalmente no primeiro domingo após a chegada do pastor. Por amor à boa ordem, o Regimento Interno do Sínodo confere ao conselheiro do distrito onde a congregação está lotada ou ao seu representante a responsabilidade pelo rito de instalação de pastores.6

A natureza da ordenação recomenda que o candidato seja ordenado na presença da congregação que o chamou. O costume crescente de ordenar os graduados em Teologia em suas congregações de origem para agradar seus parentes e amigos incorre em uma compreensão errônea da natureza e do propósito da ordenação.7 Para ter um envolvimento mais significativo e apropriado, a congregação de origem poderia realizar um culto prévio de "Despedida e Boa-viagem" para um candidato à ordenação (como surgerido pela Agenda of Lutheran Worship"Agenda Luterana de Culto"). Contudo, o Regimento Interno do Sínodo permite que "o respectivo conselheiro distrital pode autorizar que o rito seja realizado na congregação de origem do candidato, ou outra congregação apropriada, com a permissão da congregação ou de outra entidade que está chamando".8

Quando um missionário ou capelão é comissionado ou instalado, o culto é essencialmente idêntico ao culto de instalação/orde-nação e é dirigido por aqueles em cujo nome ele irá servir.

Pregando o Sermão Inicial

Geralmente o novo pastor prega o seu sermão inicial no primeiro domingo após a instalação. Essa ocasião será a mais importante para ele e deixará na congregação a primeira (e, freqüentemente, a última) impressão dele como pregador.

O primeiro sermão deveria apresentar muito claramente tanto a Lei como o Evangelho, aplicados ao que pastor e povo podem esperar um do outro. Enfatize o novo relacionamento, cujo foco é engrandecer o Senhor e alcançar seu reino. Não anuncie uma plataforma de metas e objetivos (como é feito em empossamentos políticos e seculares; nenhum pastor conhece sua nova congregação bem o bastante para anunciar tais mudanças). Nem deveria um novo pastor discutir quaisquer problemas internos que possam estar partindo a congregação. Antes, o foco deveria estar no centro da Escritura: o Evangelho de Jesus Cristo.

Começando a Conhecer a Paróquia

Visitando cada lar. Assim que possível, o novo pastor fará todo o esforço para familiarizar-se com todos os membros de sua nova paróquia (At 20.20). Ele montará um plano de visitação - e o seguirá, mesmo que o tamanho da congregação requeira um plano tão extenso que dure anos. Para que o seu ministério seja eficaz, ele precisa observar o seu rebanho no ambiente familiar e comunitário - para diagnosticar e avaliar a vida espiritual da congregação - a fim de que ele possa aplicar eficazmente a Lei e o Evangelho.9 Este chamado inicial construirá uma confiança em si mesmo e em seu compromisso como pastor de cada indivíduo. (Primeiramente, o novo pastor deveria dar atenção aos doentes e aos que não podem sair de casa, os quais não podem participar ativamente do serviço mútuo ou do culto corporativo da congregação.)

Na complexa sociedade de hoje o lar freqüentemente não é mais o centro da vida familiar. Uma visita à todos os membros pode ser, a curto prazo, algo impossível. Sob tais circunstâncias, um pastor pode preparar um programa chamado, "Um Momento com o Novo Pastor". A agenda precisa ser clara, o tamanho do grupo deve ser definido, além de ser providenciada suficiente oportunidade para promover o diálogo.

Não permita que nenhum membro torne o ambiente desagradável falando contra o pastor anterior ou contando casos sobre outros membros da paróquia. Depois de ouvir as queixas, com muito tato apresente o Evangelho do perdão em Jesus Cristo e redirecione a conversa.

Não mostre qualquer parcialidade. Visite os relapsos e os espiritualmente indiferentes, os pobres e os humildes, os ricos e distintos, considerando cada pessoa como um igual entre iguais, amando igualmente a todos (Tg 2.1-9).

Informação anterior. Na primeira semana depois de sua instalação, o pastor familiariza-se com os documentos e estatutos da congregação, com os registros da igreja, com as atas das assembléias de membros votantes do ano anterior e com a diretoria. Antes da primeira reunião de diretoria, o pastor pode aproveitar para reunir-se com cada um de seus membros. Estes registros, além da diretoria, são os recursos mais úteis para compreender a congregação e o ajudarão a descobrir quaisquer necessidades/deficiências dentro da congregação.

Se a congregação mantiver uma escola paroquial, o novo pastor programa uma reunião preliminar com o seu diretor e seus professores e funcionários. O pastor dá seu apoio aos que com ele trabalham, sempre lembrando que sua missão comum é salvar e nutrir o povo de Deus, também visitando regularmente a escola (sua presença não é exigida apenas nas emergências).

Em adição às informações que ele pôde obter sobre o passado da congregação, o novo pastor precisa descobrir quaisquer mudanças particulares que tornarão seu ministério mais eficaz. Algumas vezes, uma congregação pode esperar mudanças quando um novo pastor chega, e, em outras, ela lhe pede para efetuar as mudanças necessárias. Para isto, o bom senso recomenda que se tenha cautela e que primeiro se ganhe a confiança das pessoas. Depois disso, o novo pastor pode esperar o apoio das pessoas quando fizer alguma mudança.

Expandindo o pessoal de apoio. Quando o pastor é chamado para o ofício do ministério público, ele quase sempre imediatamente checa se são necessários profissionais treinados para ajudá-lo a desempenhar o seu ofício. Números crescentes podem exigir que o novo pastor planeje-se para aumentar o pessoal de apoio já existente. Planejar-se para contratar mais pessoal de apoio, desenvolver descrições claras de funções e programar algumas estratégias que garantam que o bom relacionamento entre o pessoal seja estabelecido e mantido - e muito mais - faz parte da boa administração (cf. Unid. VI, 2).

Deixando o ofício

Um homem que tenha sido chamado ao ministério pastoral não deveria abandonar este ofício por razões mera e puramente pessoais. No entanto, um pastor pode resignar de um chamado particular por razões que sejam válidas. Por exemplo, uma enfermidade séria pode impedir que um pastor cumpra todas as responsabilidades de seu chamado; e, independente de sua congregação, ele pode resignar do chamado que ele tem e retirar-se do serviço ativo. Ou, ele pode concluir que não pode fazer o que lhe é requerido e (tendo resignado de seu chamado) aguardar um outro chamado que seja mais adequado às suas habilidades. Ou, a idade avançada pode levar o pastor a reconhecer voluntariamente que o Senhor está lhe dando um toque para que ele se aposente do serviço ativo. (Lamentavelmente, vez por outra, um pastor falha em perceber sua inabilidade para exercer o pastorado e força sua congregação a recomendar sua aposentadoria devido a declínio das habilidades mentais e físicas.)

Deixando o Ofício por Renúncia Forçada ou Demissão

Infelizmente, a mudança pode ser forçada por decisões indiscretas, legalistas e imprudentes. Se for assim, a ação do conselheiro distrital e/ou do presidente da igreja pode ser necessária para promover a paz. Tal conselho faz-se necessário especialmente quando as críticas ao pastor não são pessoais, mas dirigidas diretamente contra sua pregação fiel da doutrina bíblica.

Uma congregação cristã, de fato, tem o direito de demitir seu pastor ou pedir sua demissão - julgando que esta atitude está de acordo com a vontade de Deus. (A ironia está no fato de o pastor ser aquele que tem ensinado a congregação sobre qual é a vontade de Deus.) Razões bíblicas para remover um pastor do ofício são (1) ensino de doutrina falsa (Tt 1.9); (2) conduta ímpia (1Tm 3.1-7); e, negligência dos deveres (1Co 4.1-2). Já que os princípios da admoestação e da disciplina eclesiástica (cf. Unid. IV, 10) aplicam-se, como a qualquer um, também ao pastor, o cuidado, o conselho e o apoio da igreja e do ministério transparoquial deveria ser buscado. No Sínodo de Missouri, o conselheiro distrital e/ou o presidente da igreja deveriam ser informados e deveriam ajudar a fim de que os procedimentos apropriados fossem seguidos.

Quando mais e mais tensão afeta o relacionamento entre pastor e congregação, ambos são tentados a tratar os problemas através de meios não-bíblicos e a lançar mão do poder e da autoridade dos tribunais seculares. Contudo, tanto os problemas como o castigo podem ser meios que Deus esteja usando para conduzir à confissão e ao arrependimento. Por conseguinte, o Evangelho pode renovar, curar e restaurar tanto o pastor quanto a congregação cristã.

COMEÇANDO O MINISTÉRIO

ENTRE PASTOR E PASTOR

5 O Relacionamento entre Pastor e Pastor

O Relacionamento com Irmãos Pastores

O chamado para tornar-se um pastor é uma responsabilidade alegre e plena do poder de Deus. Sobre isto, Lutero escreve,

É uma atribuição assustadora para um homem fraco. Nosso Senhor Deus preencha seu ofício mais alto de uma maneira ímpar. Ele o confia a pregadores, pobres pecadores, que contam e ensinam a mensagem e ainda vivem em fraqueza de acordo com ela. Assim, o poder de Deus sempre vai adiante em meio à extrema fraqueza.1

Lutero ecoa as palavras do apóstolo Paulo,

Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós. (2Co 4.7)

Como "homens fracos" e "vasos de barro", os pastores necessitam uns dos outros. Eles devem tirar um tempo para cultivar mutuamente um relacionamento cristão. Deus deseja que os pastores, tanto quanto os outros cristãos, não vivam apenas para si, mas cultivem um nobre relacionamento com outros amando uns aos outros; visitando uns aos outros e discutindo problemas; compartilhando alegrias e tristezas, sucessos e fracassos; estudando e trabalhando juntos; e, carregando as cargas uns dos outros com uma amável confiança.

Dentro do Sínodo de Missouri, conferências distritais de pastores e outras conferências em âmbito maior (Winkels) ajudam a estabelecer e a manter esta comunhão íntima. Estes eventos oportunizam que os pastores se aproximem uns dos outros, a fim de que eles cresçam espiritualmente enquanto estudam a Palavra, bem como cresçam profissionalmente enquanto discutem aspectos práticos do ministério, além de estarem envolvidos e interessados ativamente pela missão da igreja no sentido lato.

A fim de manter um relacionamento fraternal e cristão com seu amigo clérigo, o pastor sábio reconhece que, como o seu companheiro que está incumbido de pastorear "o rebanho de Deus que há entre vós" (1Pe 5.2) também tem uma responsabilidade, há momentos em que o pastor mesmo não tem nenhuma responsabilidade - (1) Quando está lidando com os paroquianos de uma congregação irmã; e (2) quando ele renunciou à sua própria paróquia (e.g., ao aceitar o chamado de alguma outra paróquia ou ao aposentar-se). Como Fritz ressalta, um pastor que interfere nas responsabilidades oficiais de um outro pastor é um intrometido nos negócios de outrem. 2 Atrair as afeições dos membros de uma outra congregação é chamar sobre si o rótulo de ladrão de ovelhas. Mesmo nas profissões seculares, semelhante atitude é vista como fora de ética.

Depois que um pastor aceitou um chamado para uma nova paróquia, ele normalmente encerra seu ministério atual com um sermão de despedida. Seja qual for sua última ação, ele não serve mais a antiga paróquia como a pessoa incumbida de pastoreá-la. O privilégio agora cabe ao pastor interino e, subseqüentemente, ao seu sucessor. O antigo pastor não deveria continuar aconselhando a congregação anterior através de correspondência ou de contato pessoal. Embora ele não possa ser privado das amizades carinhosas que foram desenvolvidas ao longo de anos, ele deve separar-se de qualquer atividade que possa interferir no ministério de seu sucessor.

O mesmo princípio é aplicado ao pastor que se aposenta - e, assim, a sugestão é que ele não permaneça como membro dessa paróquia a fim de que os outros membros não peçam seu conselho e seus préstimos. Seu sucessor precisa ter a oportunidade de construir seu próprio ministério e seus relacionamentos entre as pessoas. (Por essa mesma razão, um pastor aposentado ou um pastor naõ-paroquial não usurpará papéis ou funções pastorais na congregação - embora ele pudesse tornar-se o amigo mais próximo e mais útil do pastor subseqüente.)

Relacionamentos com Congregações Irmãs

Deus almeja que seu povo trabalhe junto num espírito de amor e respeito mútuos. Assim, um pastor fiel conduz a congregação a buscar seu próprio bem estar, bem como o bem estar de outras congregações que comungam da mesma unidade de fé. O pastor leva seu povo a orar por todos os santos (Ef 6.18) e a concordar uns com os outros, inteiramente unidos na mesma disposição mental e no mesmo parecer, de modo que não seja trocada nenhuma ofensa entre congregações vizinhas e que não surja nenhuma dissensão entre elas (1Co 1.10). E quando uma congregação vizinha tiver uma necessidade crítica, tanto o pastor como a congregação devem providenciar conselho, assistência e suporte financeiro conforme a situação o possa requerer (2Co 8.1-14). Caso haja uma vacância pastoral ou caso uma congregação pequena seja incapaz de manter sozinha o ofício do ministério, uma congregação vizinha deve permitir que seu pastor a sirva conforme a necessidade.

Apesar dos melhores esforços fraternais, podem surgir tensões entre paróquias muito próximas. Às vezes, pessoas trocam de congregação aparentemente sem a menor consideração pelo corpo de Cristo. As razões específicas variam, mas o denominador comum é sempre alguma insatisfação com uma congregação e a esperança de encontrar condições melhores na próxima. Melhor do que alimentar qualquer possível competição e/ou ciúme, os respectivos pastores precisam dialogar sobre a melhor maneira de servir os membros, a congregação e o Evangelho.

À guisa de rubrica geral, membros que desejam trocar de congregação (de "A" para "B") deveriam pedir a seu próprio pastor uma transferência. Quando se permanece executando este procedimento, tudo continua às claras. Isto também oferece ao pastor de "A" a oportunidade de fazer uma entrevista final com o membro que pediu a transferência para que o desligamento ocorra pacificamente. Nos casos em que membros estejam sob qualquer forma de disciplina eclesiástica, nenhuma transferência pode ser autorizada até que a ofensa seja resolvida com o Evangelho da reconciliação.

Falando de modo geral, pessoas que querem sair da igreja "A" não se sentem à vontade para dizer a verdade a seu próprio pastor. Por conseguinte, o pastor da congregação "B" é aquele que deve aplicar o princípio mencionado acima - não legalisticamente, mas aproveitando isto como uma oportunidade para ajudar o membro a alcançar um entendimento melhor sobre o corpo de Cristo, sobre a natureza das igrejas locais e sobre como lidar com qualquer pecado que possa estar oculto no coração.

Em resumo, um pastor cristão e sua congregação lutarão diligentemente para manter um relacionamento próximo com congregações irmãs, a fim de "preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz" (Ef 4.3).

Relacionamentos pastorais ecumênicos

O ensino das Confissões Luteranas sobre ecumenismo foi resumido pela Comissão de Teologia e Relações Eclesiais do Sínodo de Missouri nas seguintes palavras:

A fim de preservar a pregação do Evangelho de acordo com o puro entendimento do mesmo, buscamos, como fiel e perpétua confissão da verdade, promover um completo acordo em todos os artigos de fé em toda a Cristandade, a fim de que a paz e a concórdia possam prevalecer dentro da unidade da igreja.3

A concórdia entre as igrejas cristãs deve ser a nossa sincera preocupação e empenho. É da vontade de Cristo que sua igreja seja uma (Jo 17.20-21), que sua igreja continue em sua Palavra (Jo 8.31-32), que conserve firmemente a mensagem digna de confiança (Tt 1.9) e que batalhe vigoramente pela fé que foi, de uma vez por todas, confiada aos santos (Jd 3). Portanto, onde não existe apego fiel à verdadeira doutrina na pregação e no ensino da igreja, a base para uma comunhão de púlpito e altar que agrade a Deus ainda não existe também.

A maneira de aplicar no âmbito do sínodo e da congregação o que foi exposto acima está minuciosamente discutida em diversos documentos preparados dentro do Sínodo.4 O verdadeiro teste para o pastor, no entanto, virá quando ele for conclamado a aplicar estes princípios em situações individuais.5 Casais bem intencionados, com fés mistas, solicitarão que haja dois pastores oficiando seu casamento. Um enfermo piedoso, internado num hospital, pode pedir a permissão para que um capelão não-lutenano lhe administre a comunhão privada. Um membro leal e fiel pode solicitar permissão para que seu cunhado, que é um pastor não-luterano, pregue num dia festivo da igreja. Membros que sejam líderes cívicos podem ficar consternados por causa do "isolacionismo" do pastor que prefere não participar de um culto comunitário de Ações de Graças. Infelizmente, sob tais circunstâncias, alguns membros não dão valor nem à correta doutrina escriturística e confessional nem à verdadeira comunhão da igreja, podendo adotar a postura, "Eu vou seguir minha própria consciência".

O cuidado com as almas deve ser a primeira preocupação do pastor; e dentro deste cuidado geral encontra-se sua responsabilidade pelas almas de seu rebanho. Para este fim, ele não deve projetar uma atitude legalista e áspera, mas uma postura compreensiva e compassiva para com aqueles que o procuram.

Embora se presuma que todos os membros tenham a fé somente em Cristo como seu Salvador, nem todos entendem os princípios envolvidos nisto. Não leve os membros meramente a entender os erros das igrejas heterodoxas, mas guie-os a compreender as conseqüências que a prática do unionismo6 pode trazer para eles próprios, para sua família, para sua congregação e para sua comunidade. Ajude os membros a gostarem tanto de sua fé que eles voluntariamente escolham não comprometê-la e nem depreciá-la através de suas ações. Desenvolva neles o zelo pelo Evangelho.

Nada do que foi dito acima implica que o pastor luterano devesse recusar ter contato com pastores ou pessoas pertencentes a igrejas heterodoxas. Membros da Una Sancta podem ser encontrados em todas as denominações.7 Luteranos podem participar naquelas atividades que não impliquem que haja acordo completo de doutrina entre os respectivos corpos eclesiásticos.8 Tais atividades podem envolver trazer alívio a vítimas de um desastre ou de pobreza, cooperando com os esforços da World Relief ("Alívio Mundial"), dando apoio aos organismos que combatem o tráfico de drogas, a pornografia, o aborto provocado, o alcoolismo e todos os costumes e eventos imorais que difamem o nome de Deus entre nós. A fim de que a participação de um pastor não se constitua um sinal confuso, este pastor auxiliará tanto seus membros como outras pessoas a compreender que tais atividades não implicam unidade de doutrina e nem comunhão eclesiástica. O exemplo do pastor, juntamente com sua instrução pública e particular, ajudará seu rebanho a apreciar, querer bem e proclamar o Evangelho puro para todos.

Outros Tipos de Relacionamento com a Comunidade

O pastor proclama o Salvador do púlpito, na sala de aulas e através de atividades na congregação, bem como em seu trabalho na comunidade local. Nesta última arena, o público o encara como um homem de Deus e um respeitado representante da igreja e de sua denominação.

Ao aproximar-se da comunidade, o pastor pode relembrar as palavras de Miquéias, "o que é bom, e que é o que o SENHOR pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus" (Mq 6.8). Apenas dessa forma o pastor pode conduzir a congregação a mostrar misericórdia e a praticar a justiça na comunidade - em seu contexto mais amplo, no Estado, na nação e no mundo.

A liderança do pastor inicia-se na Palavra. Por meio de diálogos, oficinas e seminários o pastor capacita a congregação a aplicar o Evangelho de Jesus de maneira inteligente e adequada para os assuntos de hoje. Quando o povo de Deus tornar-se sensível às necessidades humanas e responder ao Evangelho com palavras e ações, eles apoiarão aqueles que sofrem por causa da intolerância e da injustiça.

Esta ação cristã, contudo, expõe o crente potencialmente ao confronto com a autoridade civil/secular. E o cristão comprometido pode ficar curioso acerca de como equilibrar os ideais de Atos 4-5 (especialmente At 5.29) com Rm 13. O pastor pode ajudar ressaltando a diferença entre rebelião e desobediência. Rebelião, um tipo de desobediência, é dispor-se contra o governo e, por conseguinte, contra Deus. Desobediência, no entanto, não precisa incluir rebelião. Pedro e João exerceram desobediência civil por causa do Evangelho, mas não foram rebeldes contra a autoridade estabelecida por Deus. Assim, hoje, por exemplo, cidadãos cristãos responsáveis podem opor-se ativamente ao pecado do aborto, mesmo que a política governamental e a lei o permitam sob certas condições. Mas incendiar clínicas que fazem abortos ou raptar pessoas que defendem o aborto constitui-se rebelião inaceitável contra a autoridade e, por conseguinte, contra Deus.

Resumindo, o amor a Deus, estimulado pelo Evangelho, motiva os cristãos a devotarem a honra, o respeito e a obediência devidos a "César". O amor pelo semelhante leva o cristão a fazer pleno uso de seus direitos como cidadão e a trabalhar pela justiça através do estabelecimento de uma estrutura legal (ação social), além de socorrer vítimas prestando-lhe ajuda pessoal (ministério social).

ENTRE PASTOR E PASTOR

ORGANIZAÇÕES SECULARES E SEMI-RELIGIOSAS

6 O Relacionamento do Pastor com Organizações Seculares e Semi-Religiosas

Os norte-americanos estão se unindo a inúmeras e diferentes organizações por todo o mundo. Mais de 30.000 organizações formais afirmam ter mais de 150 milhões de membros. Milhares de clubes locais e movimentos do gênero atraem um grande número de seguidores.

Várias hipóteses têm sido levantadas para explicar este fenômeno - e.g., que tais grupos possibilitam aceitação e identidade, contato com alguém do seu "tipo", reunião de pessoas com interesses afins, vantagens nos negócios, oportunidades de serviço comunitário, proteção de grupo através de segurança no trabalho ou benefícios de um seguro, oportunidades de estudo profissional ou ocupacional, um sensação de exclusividade, exaltação da pompa e até mesmo uma religiosidade que proporciona semi-espiritualidade.

Clubes de Serviço e Organizações Similares

Quase sempre, uma comunidade que tem algumas centenas de pessoas possui no mínimo um grupo cívico ou uma organização de serviço que se reúne semanalmente para um lanche ou um jantar e ouve a um orador e/ou participa de algum entretenimento. Estes clubes normalmente promovem melhorias na comunidade, eventos patrióticos, apoio beneficente, encorajamento de grupos de estudo entre os estudantes e outros projetos e programas que valem a pena serem realizados na comunidade, sem discriminação. Estas organizações diferem das lojas e confrarias (a serem discutidas mais tarde), cujos membros não têm nenhum princípio religioso e nem fazem nenhum pronunciamento espiritual. Suas crenças e propósitos, incluindo suas formas para recepção de membros, estão abertas a prospectos e a perguntas. Convidados podem ser trazidos para qualquer uma de suas reuniões, inclusive àquelas destinadas à recepção de novos membros.

Em reconhecimento à existência de Deus e de sua responsabilidade para com a humanidade, muitos desses clubes abrem suas reuniões ou começam suas refeições com uma oração. Qualquer membro pode ser convidado para orar e todos entendem que tal oração apresenta apenas as crenças da pessoa que está orando, não dos membros de uma maneira individual ou coletiva.

Organizações de escoteirismo e clubes de atividades para jovens, bem como clubes cívicos de adultos, geralmente reconhecem a existência de Deus e incentivam a freqüência regular aos cultos na igreja da escolha de cada membro. Normalmente, eles dão as condições para alguém ir aos cultos quando membros estão longe de sua igrejas de origem num acampamento ou fazendo algum curso de fim de semana. Estas organizações têm cooperado muito com as igrejas por adotar princípios e promover programas que não são ofensivos a cristãos praticantes.

Irmandades estudantis masculinas e femininas somam mais de mil organizações em âmbito nacional. Elas variam desde não-religiosas até aquelas que são patrocinadas por cristãos, desde as que estão baseadas em mitologias pagãs até aquelas que são muito similares a lojas, das quais copiaram seu próprio modelo. Contudo, a maior parte de organizações profissionais deste tipo têm ficado distante de envolvimentos religiosos. Devido a ampla variedade de modalidades de grupos, cada um deve ser avaliado separadamente com base em seu ritual e conteúdo religioso.

Falando de modo geral, a participação de cristãos em tais clubes de serviço e organizações similares pode ser decidida de acordo com sua própria compatibilidade com os membros e programas da organização e, em alguns casos, de acordo com a reputação geral do clube na comunidade, especialmente em suas atividades sociais.

Filiar-se ou Não?

Muitos cristãos fiéis filiam-se a uma variedade de organizações (tais como aquelas anteriormente discutidas) sem comprometer sua profissão de fé. Para ser correto, alguns destes grupos mencionam Deus em seus estatutos e/ou pronunciamentos públicos. Contudo, uma distinção cuidadosa deve ser feita entre reconhecer a existência de Deus e prestar-lhe verdadeiro culto e/ou fazer pronunciamentos decisivos em questões espirituais. Documentos nacionais preciosos aos Estados Unidos da América, suas moedas, a promessa de fidelidade e o hino nacional, todos reconhecem a existência de Deus. Todavia, nenhum deles funda uma religião.

Por outro lado, algumas organizações obrigam os cristãos a suprimir seu testemunho e a negar visivelmente o caráter da fé que eles têm. Organizações racistas ou criminosas adotam princípios contrários à Palavra de Deus, assim como o fazem as organizações que exigem que seus membros professem uma plataforma religiosa contraditória ao Cristianismo, ainda que tais organizações abracem nobres propósitos e desenvolvam programas louváveis. Cristãos não podem associar-se a tais organizações.

O cristão deve evitar estas organizações que fazem promessas espirituais contrárias à Escritura Sagrada, que exigem que se invoque o nome de Deus para um juramento fútil ou incerto, que prometem a vida eterna como uma recompensa pela virtude, que consideram a Bíblia apenas como mais um código moral entre outros, que praticam rituais semi-sacramentais de significação religiosa, que professam todos os conceitos religiosos perante Deus, ou que prescrevem orações, mas não permitem seu livre uso.

Sem dúvida, ainda que algumas organizações pensem estar apenas reconhecendo a existência de Deus, elas, de fato, estão fundando uma religião baseada nos assuntos acima. Muitas destas devem ser louvadas por seus padrões morais, patriotismo, caridade e serviço; lamentavelmente, ao mesmo tempo, na perspectiva cristã, elas devem ser consideradas reprováveis por causa de seus postulados religiosos universalistas. Recusar-se a aderir a uma organização que promove uma religião não ou sub-cristã pode custar ao crente certas vantagens profissionais, sociais ou recreativas, mas a vida do cristão não pode ser compartimentalizada, separando aquilo que se relaciona com a fé e aquilo que não (1Co 10.31).

Numa análise final, o cristão deve seguir apenas um padrão de avaliação para tornar-se ou não membro de uma organização: "Minha participação vai glorificar a Deus, mantendo o caráter distintivo do Evangelho, e promover um testemunho cristão?" (Gl 2.20-21; 1Pe 2.9; 3.13-15)

As Lojas (ou Confrarias)

A popularidade das lojas como os "refúgios dos homens" tem diminuído grandemente nos últimos anos. As lojas que perpetuam esta imagem estão sofrendo perdas de membros, ao passo que aquelas que oferecem comodidades e atividades para toda a família estão crescendo constantemente. Se voltadas à família ou não, as lojas mais conhecidas ainda têm postulados espirituais e conservam exigências religiosas que inquietam profundamente o cristão consciente que seja um candidato a ser membro de alguma destas organizações.

Entre as complicações religiosas mais inquietantes estão (1) a promessa de chegar a Deus fora de Jesus Cristo e (2) o postulado (implícito ou explícito) de que todos os membros sinceros da organização estarão reunidos por toda a eternidade com base nas virtudes que aquela determinada loja escolheu louvar.

Por detrás destas duas complicações religiosas esconde-se uma postura universalista e unitariana, especialmente no tocante às quatro doutrinas cardeais do Cristianismo: Escritura, Deus, homem, e salvação.

Quando um grupo considera a Bíblia apenas como mais um entre muitos outros livros sagrados e restringe seu uso apenas àquilo que diz respeito à prescrição moral, o cristão não pode concordar com ele e nem dar-lhe apoio, pois o fundamento principal da fé que este grupo professa está subvertido.

Quando um grupo ensina que toda concepção de Deus é válida não importando como ele seja visto, o objeto da fé cristã, Deus, foi reduzido a fantasia humana.

Se um grupo assume que um homem possa chegar a ser perfeito (ou através de um processo de iniciação ou por meio de uma atitude de caridade), a obra de Cristo foi tornada sem efeito.

Quando um grupo promete salvação com base na virtude de alguém e, o céu como resultado de participar em uma irmandade terrena (masculina ou feminina), então o próprio grupo está discriminando e excluindo homens e mulheres de convicções cristãs.

Reunindo Objeções para uma Posição Bíblica

"A Loja Promove a Moralidade Pública." Como os Estados Unidos da América parecem estar sendo levados na direção de um naufrágio moral e espiritual, cidadãos preocupados agarram-se a qualquer coisa que lhes prometa que eles ficarão flutuando. Qualquer coisa que carregue um rótulo religioso parece nobre em comparação às imoralidades que nos cercam. Até o pseudo-Cristianismo parece ser melhor do que o que não professa religião alguma. Não obstante, o Cristianismo de imitação carrega consigo uma tragédia particular, pois quem o possui edifica sua segurança sobre um fingimento. O verdadeiro Cristianismo é mais do que defesa contra a imoralidade, mais do que obras de beneficência, mais do que irmandade baseada numa mútua lealdade. Verdadeira fraternidade, verdadeira moralidade e verdadeira caridade são criadas e mantidas por meio da satisfação alcançada pelo sangue de Jesus Cristo e da santificação pelo Espírito Santo de Deus. Apenas aquilo que testifica a graça de Deus em Jesus Cristo é verdade espiritual; identificação com uma espiritualidade inferior a esta trai a verdade.

"Não Há Nenhuma Contradição." Todas as lojas mais proeminentes asseguram aos candidatos a tornarem-se seus membros que "nada será exigido que conflitue com suas opiniões religiosas". No entanto, isto é totalmente sem sentido, pois estas lojas recusam-se a renunciar ou a suprimir aqueles juramentos e cerimônias que realmente conflituam. Ademais, já que somente o candidato pode saber o que pode conflitar com suas convicções religiosas, a loja não pode, lógica ou moralmente, admitir uma declaração diferente da que foi mencionada.

"É Apenas uma Organização Social" Ocasionalmente, uma unidade local de alguma das lojas pode reconhecer que conflitos religiosos de fato ocorrem. Além do mais, muitos membros de lojas locais não tem nenhum interesse, seja qual for, em rituais e cerimônias da loja e falam, sem conhecimento de causa (e para desapontamento de sua loja nacional), que tem uma "afiliação social".

As pesquisas apontam para as seguintes razões como as mais comuns para filiação a uma loja: as instalações sociais e recreativas, o restaurante mantido pela loja, o curso de golfe muito barato (ou o único disponível), a única piscina (ou a única exclusiva), o único bar que pode ficar legalmente aberto depois de certo horário, a oportunidade proeminente para fazer obras de caridade, ou o melhor lugar para receber clientes de negócios.

"Filiações sociais" oficialmente não existem; elas não têm quaisquer exigências de afiliação uniformes, nem métodos comuns, nem privilégios similares. De acordo com as lojas oficiais, oferecer tal tipo de afiliação viola o estatuto civil ao qual as lojas locais estão franqueadas e constitui-se, por conseguinte, em ação ilegal. Eles insistem que todo o membro, "social" ou não, carrega a responsabilidade de subscrever todos os princípios da loja. Obviamente, um cristão que aceita uma "afiliação social" contribui para a violação do contrato civil, bem como identifica-se publicamente com uma organização "com dedos cruzados" (em uma mentira).

O Papel do Pastor

No ministério público, o pastor deve refletir seu chamado como alguém que tem cuidado pelas almas, não como alguém que se senta para julgar. Toda sua conduta deve transpirar amor pelos indivíduos, bem como de um sério desejo de estar em comunhão cristã com todos. O exercício consciencioso do cuidado pastoral incluirá o interesse de que todos os membros e prospectos da igreja - inclusive aqueles que foram recebidos por transferência ou profissão de fé - sejam instruídos no tocante à incompatibilidade entre o Evangelho e os "outros evangelhos" (Gl 1.8-10).

Infelizmente, quando perguntados sobre as objeções à afiliação a lojas, alguns cristãos (inclusive pastores) evidenciam os juramentos, os rituais, o caráter secreto e fechado para tornar-se membro. Essas objeções são válidas apenas se elementos específicos forem considerados.

Por exemplo, nem todos os juramentos que invocam a Deus por testemunha podem ser condenados. Nas lojas mais conhecidas, contudo, é exigido que o candidato faça um juramento sagrado, comprometendo-se a dar apoio vitalício à loja mesmo antes de ser permitido que ele examine os princípios da mesma. Lv 5.4-5 declara que tal juramento é "pecaminoso" e "culposo" mesmo se o assunto é declarado com bom e nobre.

Além disso, cristãos fiéis não podem aceitar um voto feito em nome de Deus, como "uma mera formalidade pela qual você deve passar" para ganhar certas vantagens sociais ou profissionais. Exatamente porque as lojas têm a intenção de que o juramento seja levado a sério - elas insistem em que o juramento seja feito em nome de Deus - algumas lojas até incluem explicitamente uma promessa de que este juramento é feito "sem qualquer ressalva mental ou subterfúgio secreto da mente seja lá qual for".

O uso do ritual em si mesmo não é reprovável. Antes, o conteúdo do ritual determina se o mesmo é compatível ou não com a confissão cristã.

O fato de ser secreto também não é objetável per se. Às vezes, podem existir boas razões para que uma organização conserve confidenciais alguns de seus assuntos. No entanto, o caráter secreto torna-se reprovável para o cristão do qual é exigido que seja feito um juramento para apoiar aquilo que ainda não lhe foi revelado.

O caráter fechado, igualmente, pode ser sustentado por razões válidas como, por exemplo, quando um clube de hobby limita sua afiliação a pessoas que compartilhem do mesmo interesse num determinado hobby. O mesmo pode ser dito com respeito a organizações políticas, de herança cultural, profissionais e de tantos outros tipos. Todavia, o caráter fechado pode tornar-se ofensivo ao cristão quando a afiliação é restrita de acordo com a origem racial ou nacional e é especialmente prejudicial quando a discriminação racial é praticada por uma organização que reivindica promover o princípio geral da "Paternidade de Deus e da fraternidade do homem". Devido a certas regulamentações de cortes civis, algumas organizações que antes eram "apenas para brancos" derrubaram esta cláusula, mas isto nem sempre indica que houve mudança de coração. Uma votação secreta para admissão de membros que não exija justificativa de um voto negativo possibilita que haja descriminação racial de facto, senão mesmo de jure.

Novamente, os juramentos, os rituais, o caráter secreto e fechado para tornar-se membro não são as primeiras razões para a preocupação do cristão com respeito à religiosidade envolvida nas lojas. Estas questões podem ser importantes, mas apenas até na medida em que elas compelem o cristão a ignorar o centro da fé: sola gratia, sola fide, sola Scriptura.

Apesar do cuidado pastoral consciencioso, "problemas com lojas" podem desenvolver-se numa congregação por uma porção de motivos. A experiência mostra que, aquilo que pode aparentar ser, na superfície, apenas um problema envolvendo uma loja, na verdade pode ter raízes muito mais profundas - uma comunhão rompida com outros cristãos, uma compreensão pobre da Palavra de Deus e do que constitui o compromisso cristão, má informação ou falta de informação por parte do pastor anterior, ou hostilidade para com um pastor ou irmão da mesma igreja. Estes problemas que estão na raiz freqüentemente podem ser tratados antes. A discussão acerca da questão com a loja em si mesma deve ser "evangélica", i.e., centrada no Evangelho. A tolerância do erro nunca foi evangélica e isto é especialmente verdade quando um erro apunhala o coração fundamental do Evangelho cristão: a salvação somente pela graça. Homens e mulheres não são guiados ao conhecimento do Evangelho ajustando-se a Palavra de Deus para satisfazer suas próprias conveniências.

Um problema particular poderá ser a pressão colocada sobre um pré-adolescente por seus companheiros para que o mesmo se filie ao ramo juvenil de uma loja local. Crianças desta idade sentem tão grandemente a necessidade de aprovação por partes de seus colegas que elas freqüentemente comprometem qualquer relacionamento para recebê-la. Melhor do que "laçar" uma criança para freqüentar as aulas de confirmação em troca de diversão e outros benefícios do tipo "grátis para todos" enquanto durar o curso, o mais recomendado é fazer uma visita pessoal a esta criança junto com seus pais.

Enquanto a instrução e o ministério para um indivíduo prossegue sem adiamento e caminha na direção de uma eventual solução, um pastor não é culpado de negligência. Seu objetivo sempre é que o membro da loja possa resolver sua fidelidade dividida e tornar-se ou permanecer um membro comungante da congregação cristã.

Dificilmente, um pastor pode combater e vencer um problema sério de qualquer natureza a menos que ele tenha o apoio inteligente daqueles com os quais ele compartilha seu ministério na congregação. Isto freqüentemente requer dos oficiais da igreja e do seu conselho uma grande quantidade de estudo de recursos disponíveis. Também os membros de lojas, quer sejam ativos ou prospectos da congregação, deveriam estudar, de bom grado, estes mesmos materiais. Fazendo assim, alguns já descobriram que eles sabiam muito pouco sobre a Bíblia e menos ainda sobre a loja a que eles pertenciam. De fato, às vezes eles chegam à conclusão de que o pastor sabia muito mais sobre a loja do que eles mesmos!

Sumário

Uma variedade infinita de organizações propõem que cristãos filiem-se a elas - muitas professando uma religião não ou anti-cristã. A igreja e o pastor não podem evitar o confronto com elas. O único e singular Evangelho está em jogo. Se a igreja não insiste em não rebaixar o Evangelho, ela perdeu seu propósito e direção, bem como falhou na Grande Comissão que a colocou em movimento. Certamente, a igreja não pode julgar a fé de uma pessoa, mas a igreja pode julgar uma afirmação pública de fé - tanto quando tal afirmação é feita na igreja, como no mundo em que a igreja existe. O pastor diligente e consciencioso continuamente se esforçará na resolução de confissões públicas contraditórias e incompatíveis de fé por parte daqueles que poderiam estar ou permanecer na comunhão com a congregação cristã.

Leitura Adicional

O Sínodo de Missouri mantém uma comissão que reúne e provê informação e aconselhamento no tocante a milhares de organizações, tanto reprováveis como não reprováveis na perspectiva teológica do Sínodo. Pedidos de informação deveriam ser o mais específicos possível e endereçados para:

The Executive Director, The Comission on Organizations

The Lutheran Church-Missouri Synod

1333 South Kirkwood RoadSt. Louis, MO 63122-7295 USA

ORGANIZAÇÕES SECULARES E SEMI-RELIGIOSAS

O CULTO

UNIDADE III

O PASTOR MINISTRA A PALAVRA E O SACRAMENTO NA COMUNIDADE REUNIDA

1 O Pastor Guia o Povo de Deus em Culto

A Liturgia como a Expressão Vivado Povo de Deus

Quando o livro de Gênesis anuncia o nascimento de Enos, neto de Adão, comenta: "daí se começou a invocar o nome do SENHOR" (Gn 4.26). Quando o resto da família de Adão foi dividida, a linhagem de Sete e Enos reuniu-se em culto público. Através do Antigo Testamento, "invocar o nome do SENHOR" inclui tanto a invocação de Deus em oração, como a proclamação de seus feitos e promessas. Portanto, desde os dias da antigüidade, a presença dos crentes sobre a terra tem sido marcada não somente por suas devoções particulares e orações, mas também pelos seus cultos públicos.

Não se sabe a que ponto da história os crentes desenvolveram um padrão estabelecido ou um rito de culto público, mas os primeiros registros sobre o culto bíblico (bem como sobre o culto a ídolos das nações) testemunha sua prática desde longa data. Talvez isto tenha se desenvolvido natural e inevitavelmente, pois "mesmo o culto solitário de um indivíduo a Deus é executado dentro de certas formas e atos concretos".1 Assim também toda comunidade desenvolve atos concretos e formas de culto - em outras palavras, uma liturgia.

Além do mais, as formas que uma comunidade desenvolve demonstram a fé que esta comunidade sustenta. "Lex orandi, lex credendi" era a antiga fórmula: "A regra das orações [isto é, culto] e a regra da fé". Grosso modo, a liturgia é a forma pela qual a igreja cristã confessa e transmite sua fé.2 Mais do que através de escritos confessionais ou manuais de dogmática, a doutrina entra e transforma a vida das pessoas quando elas se reúnem para cultuar e ouvir a Palavra de Deus proclamada, cantada e orada. O princípio do lex orandi, lex credendi também implica que, não importa qual seja o nome da denominação, se uma congregação cultua como Batista, Católica Romana ou Luterana, a teologia da denominação, contida e apresentada em sua liturgia ou ordem de culto afetará o que os membros da congregação crêem e confessam.

A igreja luterana, com base na Escritura, tem se comprometido com uma fé e uma confissão específica sobre Deus e sobre como nosso relacionamento com ele começa a existir e como é nutrido. Por conseguinte, as Confissões Luteranas afirmam que o conteúdo do serviço de culto e não os detalhes e as tradições das cerimônias determinam e mostram o comprometimento confessional de uma congregação ou corpo eclesiástico. "E para a verdadeira unidade da igreja não é necessário que em toda a parte se observem cerimônias uniformes instituídas pelos homens" (CA, VII, 3). As cerimônias são compreendidas como adiaphora, que são assuntos nem ordenados e nem proibidos na Palavra de Deus. Assim, ritos uniformes "foram instituídos apenas por causa do bem-estar e da boa ordem" - tendo isto em mente, portanto, "a congregação de Deus de todo o lugar e época tem o poder de mudar, conforme as circunstâncias, tais cerimônias, de acordo com a maneira que for a mais útil e a mais edificante para a congregação de Deus" (FC, Ep., X, 3-4).

Estas reflexões ajudam a prevenir controvérsias inúteis acerca de detalhes e tradições de cerimônias, o que poderia tirar o foco daquilo que realmente importa: o Evangelho de Jesus Cristo como apresentado em Palavra e Sacramentos. A orientação das Confissões sobre ritos também protege a feliz liberdade que a congregação tem para alegrar-se em Cristo. Aqueles que restringirem esta liberdade, seja ordenando o que não for ordenado, seja proibindo o que não for proibido, devem ser repelidos.

Se alguém presume agraciar qualquer ato de culto com o manto da compulsão e do constrangimento, à parte dos elementos formais instituídos por Cristo e, seguindo este princípio, impetra exigências legais em seu meio, a igreja está obrigada ao dever de rejeitar esta exigência, demonstrando sua liberdade neste assunto, mesmo se, por outro lado, estivesse na liberdade de adotar o ato em questão. Mas aqui o oposto é verdadeiro também! Se uma cerimônia que é um assunto de liberdade cristã e não ofende o Evangelho é proibida com a mesma coerção e constrangimento, a congregação pode sentir-se desafiada a ter uma prova de sua liberdade e, em dado caso, reter e praticar esta cerimônia, a qual pode, por outro lado, ser omitida.3

O Evangelho não compele nem a simplicidade, nem a cerimônias elaboradas, nem a antigas, nem a novas; compele apenas a focalizar Jesus Cristo. Os ritos, as cerimônias e as formas de culto na Igreja Evangélica Luterana, por conseguinte, devem conformar-se às Escrituras Sagradas e às Confissões Luteranas, as quais proclamam Jesus Cristo. O pastor luterano, no exercício de sua autoridade na congregação, não deve introduzir qualquer prática ou cerimônia, hino ou oração que, de qualquer maneira, comunique uma mensagem contrária. Sua integridade e lealdade a sua palavra, dada como promessa solene em sua ordenação, para "desempenhar os deveres do [seu] ofício de acordo com estas Confissões", requer que ele tenha cuidado para que a verdade da Escritura, tão claramente delineada pelas Confissões, seja posta em prática em todos os serviços de culto que ele dirige.4 Como parte deste cuidado, ele deveria trabalhar com os líderes da congregação, com a comissão de adoração, outros líderes de culto e outras pessoas que colaboram no planejamento da congregação a fim de assegurar que a vida de culto da congregação expresse verdadeiramente a fé da Escritura.

A Liturgia Luterana: Confessional e Ecumênica

A liturgia, ou Culto Divino da Igreja Evangélica Luterana, fornece um veículo modelo para que uma congregação expresse e celebre sua fé. A liturgia centraliza o foco em Jesus Cristo e então amplia-se sobre a mensagem do que ele tem feito e a esta mensagem responde. O Ordem de Culto Divino (após a invocação preparatória, a confissão e absolvição) pode ser dividido em duas partes: o Ofício da Palavra e o Ofício da Santa Ceia.5 O Ofício da Palavra está centrado na proclamação da Palavra de Deus através das leituras bíblicas e da exposição da Escritura no sermão. Esta proclamação da Palavra é envolta por orações, salmos, hinos e cânticos e pelo Credo. O Ofício da Santa Ceia está centrado na proclamação e recepção do Sacramento, novamente emoldurado por orações, hinos e cânticos. Estes ítens que formam a estrutura da liturgia, não são um conjunto de formalidades mecânicas para serem recitadas apropriadamente, mas canais vivos da Palavra de Deus para seu povo e da resposta deles para Deus em oração, ações de graças e louvor. Através da repetição dos textos litúrgicos, estas palavras tornam-se nossas e muito mais nos assitem em nossa vida diária de liturgia quase da mesma maneira como nossa recitação da Oração do Senhor.

O Culto Luterano, com seu cântico inicial de louvor, ilustra como um culto pode conservar as riquezas que nos foram transmitidas, bem como fazer uso de toda a variedade possível. A comunidade cristã reunida para o culto sempre tem se juntado em hinos de louvor (apesar de que, nos períodos de arrependimento, o louvor pode ser substituído). Para o propósito de louvor, o princípio do Ofício da Palavra da Ordem de Culto Divino I contém um arranjo do histórico Gloria in Excelsis, enquanto que a Ordem de Culto II contém não somente uma diferente tradução e arranjo musical do Glória, mas a opção do cântico "Worhy is Christ" ("Digno é Cristo"), composto no século XX. A Ordem de Culto Divino III, no lugar do Gloria, oferece a opção de dois hinos de louvor da época da Reforma. As "Notes on the Liturgy" ("Comentários sobre a Liturgia") no "Altar Book" ("Livro de Altar") fornece outras opções para os diversos períodos do ano da Igreja.6 Opções similares e alternativas são oferecidas para o Kyrie, o Ofertório e o Nunc Dimitis.

O conteúdo de todos estes hinos e cânticos é bíblico e cristocêntrico; e a oração e a poesia são de um alto nível. Não é fácil encontrar hinos de igual força e valor que pudessem substituir adequadamente estes cânticos ou outros cânticos litúrgicos que a igreja compôs ao longo dos séculos. Seu uso, no entanto, não pode ser ordenado, mesmo sendo elevada seja sua qualidade e longa sua história. A forma do Culto Divino é meramente o receptáculo que traz a Palavra e o Sacramento de Deus para a congregação. Ainda assim, o pastor luterano faz bem ao lembrar que as músicas e cânticos da liturgia foram desenvolvidos e selecionados porque eles realmente trazem à congregação adoradora a mensagem bíblica e centrada em Cristo - que a igreja luterana compromete-se a proclamar. Ao longo do tempo, uma fé crescente é nutrida imensuravelmente através da repetição destes textos.

A liturgia da Igreja Evangélica Luterana não é propriedade exclusiva dos luteranos. É ecumênica em caráter; porções dela tem sido usadas na igreja por mais de 1800 anos. Isto tem resistido ao teste do tempo como uma maneira apropriada para trazer a Palavra e os Sacramentos ao povo de Deus. Os reformadores luteranos, no século XVI, não romperam com o passado. Embora eles tenham mudado ou suprimido partes da Missa Romana a fim de fazer com que o culto ficasse em conformidade com o Evangelho, eles retiveram os cânticos históricos, bem como os antigos padrões da liturgia. Como a Confissão de Augsburgo enfatiza, os luteranos viam-se a si próprios como herdeiros das práticas de culto do Antigo Testamento e da Igreja Primitiva. Diferente dos reformadores calvinistas, eles não buscaram ignorar um milênio e meio de história da igreja numa tentativa de retornar a uma suposta simplicidade apostólica de pureza primitiva. Eles sabiam que eles próprios ficariam mais ricos por causa daquela história e então fizeram todo empenho para preservar qualquer coisa que fosse útil em meio a todas as riquezas da história e da liturgia cristãs.

Como os luteranos de hoje atingem povos de diferentes línguas, diferentes culturas e diferentes tradições musicais com a Palavra e o Sacramento, eles precisam lembrar que o conteúdo da liturgia luterana, com sua estrutura de Ofício da Palavra/Ofício da Santa Ceia, não é nem particularmente germânica nem européia. Apenas os arranjos musicais são produtos de uma tradição notadamente ocidental e (como as opções dentro do Lutheran Worship sugerem) arranjos musicais são variáveis de acordo com os gostos e preferências da congregação individual. As leituras bíblicas, os cânticos, as orações e a liturgia da Santa Ceia não são provenientes de nenhuma cultura e nem estão limitadas a qualquer uma delas; elas são ecumênicas e universais.

A Liturgia: Bíblica e Cristocêntrica

A liturgia da Igreja Evangélica Luterana é solidamente baseada e arraigada nas Escrituras Sagradas. Muito do culto é tirado diretamente das Escrituras, tais como as lições da Escritura, o Intróito, o Gradual, o Sanctus e o Nunc Dimitis. Outras porções, tais como as coletas, o Gloria, o "Worthy is Christ" ("Digno é Cristo") e o Agnus Dei citam as Escrituras abundantemente. Os hinos do culto são freqüentemente baseados em textos bíblicos ou com eles se relacionam. Também o sermão é tradicionalmente baseado no Evangelho do dia ou em uma outra das leituras bíblicas indicadas para a mesma ocasião.

Uma liturgia que tem suas raízes na Escritura produz dois resultados. Primeiro e mais importante, uma ordem de culto que é verdadeiramente escriturística sempre será cristocêntrica. As palavras e frases citadas da Escritura, bem como a exposição da Escritura, têm o mesmo propósito que as Escrituras afirmam acerca delas próprias: tornar o ouvinte "sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus" (2Tm 3.15). O ano litúrgico da igreja conduz a congregação adoradora através de toda a história da salvação em Jesus Cristo. Desde os dias do Antigo Testamento até o Advento, passando pelo nascimento de nosso Senhor, seus ensinamentos e milagres, seu sofrimento e morte, sua ressurreição, ascensão e envio do Espírito Santo, até as implicações de tudo isto para a vida cristã diária - toda esta história de Cristo é contada para nós sempre de novo, ano após ano. Através da observância do ano da igreja e da liturgia dominical com suas leituras bíblicas indicadas, salmos, hinos e orações, Jesus Cristo permanece sempre no centro da proclamação e do culto da Igreja Evangélica Luterana.

Como um segundo resultado e benefício, uma liturgia baseada na Bíblia conserva o foco do culto na mensagem bíblica objetiva. A liturgia luterana é uma confissão de fé em que a mensagem do Evangelho é o próprio conteúdo do culto cristão. Os sentimentos subjetivos do pastor ou do adorador - a parte desta mensagem do Evangelho - não são parte essencial do culto. Não é propósito do culto agitar, enlevar, ou mexer com as emoções do adorador exceto através da mensagem do Evangelho. Se houver sentimentos fracos que precisam ser enlevados, ou sentimentos feridos para ser confortados, a liturgia aponta o poder e a consolação do Evangelho de Jesus Cristo para a comunidade adoradora. Isto também aplica-se à música do culto. A música pode "enamorá-los", mas é a Palavra que vai conquistá-los.7 A alegria e o conforto do culto, se ele deve ser mais que uma manipulação humana, devem jorrar da mensagem objetiva de Deus.

Tal objetividade igualmente resguarda a congregação das vacilações de um culto baseado nos caprichos do pastor e nos estilos mutáveis que são assuntos do dia. As últimas notícias ou os assuntos sociais podem ser o pano de fundo do que o pastor fala, ou ele pode enfatizar programas atuais da congregação, ou tentar atingir preocupações pessoais de indivíduos. Mas as notícias, os programas e as preocupações pessoais nunca podem ser o foco e nem o conteúdo essencial do culto cristão. Antes, a Igreja Evangélica Luterana está convencida de que o Evangelho objetivo da graça de Deus em Cristo é a resposta verdadeira para as necessidades subjetivas, para as feridas, para os temores e para as tentações da humanidade decaída e redimida. A liturgia luterana histórica é construída com esta necessidade prática em mente pelo Evangelho cristocêntrico.

A Liturgia como Cuidado Pastoral

"O culto, embora recentemente negligenciado, é o maior aspecto do cuidado pastoral".8 A ênfase que tem sido dada ao trabalho do pastor para com o aconselhamento, visitas a hospitais e a pessoas que não podem sair de casa, além de outros contatos interpessoais com o paroquiano não deve encobrir a maior obra do cuidado pastoral que acontece no contexto do culto. Dentro da liturgia do culto divino, a proclamação/explicação da Palavra e a administração dos Sacramentos aplicam o Evangelho de Jesus a mais vidas do que freqüentemente é possível em qualquer outro lugar. Pois o pastor que negligencia sua preparação para o culto ou dá-lhe apenas a atenção de rotina está, na melhor das hipóteses, míope. O pastor que é consciencioso acerca do cuidado pastoral faz bem em dar atenção primordial e regular ao cuidado da congregação quando ela reúne-se em culto.

Na obra clássica Pastoral Care in Historical Perspective ("O Cuidado Pastoral em Perspectiva Histórica"), W. A. Clebsch e C. R. Jaeckle distinguem quatro funções históricas do cuidado pastoral: curar, suster, orientar e reconciliar.9 Obviamente, pessoas que estão passando por severas crises pessoais, por enfermidades ou pesar necessitam de cuidado individual e de aplicação pessoal da Palavra de Deus, a qual cura, sustém, orienta e reconcilia. No entanto, quando o povo de Deus reúne-se em culto público, eles também reúnem-se tendo as mesmas necessidades de serem curados, sustentados, orientados e reconciliados. A aplicação da Lei e do Evangelho, da Palavra e do Sacramento para suas vidas não é uma esfera secundária do cuidado pastoral; é cuidado pastoral. Como J. A. Jungmann escrevera: "Por séculos, a liturgia, ativamente celebrada, tem sido a forma mais importante de cuidado pastoral".10 Em acréscimo a isto, o objetivo da liturgia, baseada na Bíblia e de natureza cristocêntrica, serve como um modelo para o pastor quando ele ministrar aos membros em suas necessidades individuais. A mensagem de reconciliação e perdão, vida e salvação para os cristãos reunidos em comunidade aplica-se também ao cristão que luta sozinho. A forma da confissão e absolvição semanal, da Palavra e de sua aplicação, da oração e da Comunhão, que ajuda a organizar o culto corporativo, pode também dar forma a uma visita pastoral individual. Mesmo as palavras fundamentais do culto público e as orações faladas pela congregação no domingo podem ser repetidas por um indivíduo durante a semana de modo a reafirmar que o indivíduo, ainda que fisicamente separado da comunidade, é uma parte do corpo único de Cristo, a igreja.

De suas visitas e diálogos com indivíduos em necessidade, o pastor aprenderá a compreender as feridas, os temores e os conflitos que todos os cristãos contemplam e o pastor retornará de tais visitas como um Seelsorger para a comunidade reunida com uma confiança mais profunda na idoneidade e no poder da mensagem que ele carrega. Assim, a liturgia não é uma alternativa ou um obstáculo ao cuidado pastoral, mas é o principal cimento que junta os cristãos de todos os tempos à fonte de seu cuidado, Jesus Cristo.

A Hinódia em Relação à Proclamação da Palavra

Ao passo que a hinódia e a música sacra tem sido uma parte do culto cristão através de sua história,11 a Reforma fez do hino uma parte importante do culto divino. Em um de seus maiores escritos litúrgicos, a Missa Alemã de 1526,12, Lutero substituiu os textos litúrgicos fixos da Missa Latina por hinos que tinham os mesmos temas teológicos e bíblicos. Através do cântico destes hinos, o povo tornou-se capaz de participar nos cultos de uma maneira que eles nunca tinham conhecido antes: o Evangelho foi proclamado e cantado com seus próprios lábios. Não é de admirar que a Igreja Evangélica Luterana, durante a Reforma, ganhou a reputação de a "igreja que canta"! Seus hinos espalharam a mensagem da Reforma entoando a mensagem do Evangelho aos corações das pessoas.

Na Missa Alemã, Lutero substituiu um hino congregacional pelo Gradual (o texto do Salmo que figurava entre a leitura da Epístola e do Evangelho). Foi estabelecido um ciclo fixo de hinos que estavam relacionados com o Evangelho da semana e este ciclo de hinos graduais permaneceu em uso por dois séculos. O correspondente atual e descendente deste hino gradual da época da Reforma é o Hino do Dia. Já que a celebração do culto divino pode incluir muitos hinos, todos escolhidos cuidadosamente consoante a sua função no determinado culto, o Hino do Dia (ou "hino do sermão") é o hino principal do culto. Selecionado para refletir as leituras bíblicas do dia, ele reflete também o ano da igreja e o período litúrgico que está sendo observado. Este hino deveria estar extremamente relacionado ao sermão, que também é tradicionalmente baseado nas leituras bíblicas do dia.13

O CULTO

PROCLAMANDO O EVANGELHO

2 O Pastor Proclama o Evangelho

Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém. Vós sois testemunhas destas cousas. (Lc 24.46-48)

Como testemunhas de seu Senhor ressurreto, os apóstolos realmente pregaram a mensagem do perdão e do arrependimento, não somente em abordagens evangelísticas a descrentes (como em At 2.14-41; 3.11-26; 17.16-34), mas também como mensagem aos fiéis. Quando o povo de Deus reunia-se como uma assembléia de crentes, eles seguiam o padrão da sinagoga do Antigo Testamento ao colocar a leitura bíblica e sua exposição no centro do culto (juntamente com o acréscimo cristão da Santa Ceia). Eles escutavam a Palavra de Deus lida e exposta (At 2.42; 1Tm 4.6-16; 2Tm 3.14-4.5; Tt 2.1-3.8). Eles ouviam a mensagem do arrependimento e do perdão aplicada no nome de Jesus a suas vidas com base nas Escrituras do Antigo Testamento e, mais tarde, nos escritos dos apóstolos.

O culto, como uma atividade humana, sempre foi uma resposta à atividade de Deus (veja, e.g., Êx 20.1-11). Nossa confissão de louvor e oração para Deus sempre vem depois de sua Palavra para nós. O culto cristão, desta maneira, responde à suprema Palavra de Deus para nós, seu Filho. Por esta razão, desde os primeiros dias da igreja, quando o povo cristão reúne-se para o culto, eles não somente entoam louvores e pronunciam orações para Deus; eles também escutam sua mensagem e a ouvem aplicada às suas vidas para o seu conforto e renovação (recebendo igualmente a Palavra sacramental unida aos elementos que trazem a mesma mensagem de perdão de pecados em Jesus Cristo). Deus fala através das leituras bíblicas e da exposição das mesmas. Deus é glorificado e os pensamentos, corações e desejos da congregação voltam-se a Cristo. Este trabalho de explicação e aplicação da Escritura é uma tarefa primordial para aqueles a quem cabe pastorear a igreja.1 Através de sua proclamação da Palavra de Deus, seu rebanho escuta a voz do Pastor falando sua Lei e seu Evangelho aos seus corações.

Nas décadas de 1960 e 1970, alguns escritores eclesiásticos sugeriram que os dias da pregação estavam terminados; as pessoas não gostavam de "receber sermões". Já que a pregação não era nada mais do que uma comunicação de mão única que exigia do ouvinte um esforço de receptividade a que ele não estava acostumado, ela era considerada ultrapassada e fora de moda.2 Em anos recentes, no entanto, tem havido um renascimento do interesse pela pregação como um meio eficaz de instruir e fundamentar o povo de Deus na Palavra, confortando-o em suas mágoas e preparando-o para suas lutas. Quando o pregador combina sua confiança na mensagem da Escritura com a sabedoria e a coragem para falar esta mensagem clara e diretamente aos corações dos ouvintes, a pregação pode receber nova proeminência tanto como um meio para o cuidado pastoral, quanto como um componente essencial do culto cristão.

Alguns têm sugerido que a chave para a pregação eficaz é técnica - uma questão de aplicação das regras de como falar em público. Há alguma validade nesta aproximação. O pregador de fato empreende ações intelectuais e físicas quando escreve e fala um sermão - ações que podem ser aprendidas e praticadas. Pregar é um ofício a ser afiado e amolado constantemente e o pastor pode melhorar a arte de sua pregação de muitas maneiras, não apenas lendo bons sermões e livros sobre a preparação de sermões. Ele também pode escutar boa pregação e, por um pequeno custo extra, vê-la em vídeo. Se a congregação tem seu próprio equipamento de vídeo, o pastor pode gravar e criticar seus próprios sermões. Conforme as condições certas e um espírito de cooperação, ele pode até mesmo trocar fitas com seus colegas pastores para mútua avaliação e benefício de todos. Contudo, embora a arte de falar eficazmente seja importante e deva ser cultivada e praticada, a boa pregação transcende a mera técnica; a pregação é a proclamação da Palavra de Deus no contexto das vidas de uma congregação específica reunida para ouvir esta Palavra. O pregador, como estudante das Escrituras e um crente, deve conhecer a mensagem que ele traz e deve saber como falá-la ao povo a que ele se dirige.

O Sermão em Relação à Liturgia

As leituras bíblicas indicadas para o culto divino estabelecem o tema e o tom dos próprios do dia, dos hinos e do sermão. O sermão, que discorre sobre os pensamentos principais apresentados nas lições do domingo, é, portanto, uma parte indispensável da liturgia que o precede e o segue. Por conseguinte, o pastor, como o líder do culto da congregação, não tem o privilégio de pregar sobre coisa alguma que lhe venha à imaginação, tal como o que ele pensa acerca do estado do mundo, o que ele pensa sobre as atividades da igreja, ou o que ele pensa sobre Deus. O sermão deve ser uma exposição da Palavra de Deus, aplicando a mensagem de Deus ao mundo, à igreja e aos indivíduos.

Já que o sermão, como uma das partes do culto divino, deveria estar em harmonia com o culto, o pastor desejará ter cuidado para não importar quaisquer elementos incongruentes que prejudiquem a unidade temática da celebração dominical. Certamente, quando um evento externo - tal como um feriado secular, um falecimento na congregação, uma final de campeonato, ou uma declaração de guerra - está na mente da congregação adoradora, o pastor pode muito bem falar a este respeito. Sua tarefa, no entanto, é apontar para além dos limites deste evento (e dos sentimentos subjetivos que o cercam) para a mensagem da Lei e do Evangelho divinos, que é aplicada aos homens de todos os tipos e de todas as condições, a todos os eventos e a todas as preocupações. O texto bíblico para a mensagem não deve ser um pretexto para colocar a atenção sobre um evento secular, que logo passará. Por exemplo, mesmo um sermão no Dia das Mães deveria centrar-se fundamentalmente na mensagem do arrependimento e do perdão dos pecados em Jesus Cristo, que é a mensagem que Deus tem para o seu povo.

O Propósito do Sermão

Quando uma congregação se reúne no domingo de manhã, as pessoas trazem consigo uma porção de preocupações, mágoas e necessidades. O infeliz e o impenitente, o oprimido e o carente de perdão, o fraco e o forte vêm juntos para ouvir a Palavra que toca a todos. Eles todos são pecadores que precisam de um Salvador. Eles necessitam ouvir a voz deste Salvador chamando-os ao arrependimento e anunciando seu perdão. O pastor que traz a mensagem do Salvador precisa conservar sua mente nas necessidades primordiais de sua congregação e no propósito que ele tem ao falar para estas necessidades. O propósito primordial do sermão, por conseguinte, não é ocupar as mentes dos ouvintes, ou entreter suas emoções, nem persuadir suas decisões - embora um bom sermão seja lógico, convidativo e persuasivo! - mas aplicar a Palavra de Deus aos seus corações e vidas.

O sermão não pode ser simplesmente uma refutação lógica do erro. Derrubar posições errôneas e cercá-las com círculos lógicos pode vir a ser uma parte do trabalho do sermão e pode ser um excelente divertimento; mas o anúncio da salvação em Cristo não é uma construção lógica desenvolvida por meio de silogismos a partir de princípios manifestos. Boa-Notícia é notícia. Deve ser proclamada, anunciada e aplicada, não simplesmente calculada.

Nem deveria um sermão ser tratado como um entretenimento no qual o pregador domina o palco central e impressiona a "platéia" com sua habilidade de preencher o seu tempo e de aguçar suas emoções. O pregador tem uma vocação diferente. Seu desafio é agarrar a atenção das pessoas e manter seu foco não em si próprio mas na Palavra de Deus e na Boa-Notícia. Como São Paulo, ele se esforçara imensamente de modo a que cada ouvinte ouça a Palavra de Deus de um modo que possa compreendê-la (1Co 2.1-5; 9.19-22; Gl 4.12-16). Pregar a Jesus Cristo, e este crucificado, de uma maneira a não impor nenhuma barreira ao ouvinte é trabalho suficiente para desafiar o tempo e a sabedoria do pregador fiel.

Também não é intenção que o sermão seja semelhante a uma conversa de vendedor a fim de convencer as pessoas a vir à fé. Diferente do popular apelo protestante para uma decisão de fé, o pregador do Evangelho põe sua atenção na Palavra através da qual o Espírito Santo traz pessoas à fé. O pregador deve proclamar a mensagem carregada com as promessas de Cristo de modo que qualquer um, que pelo poder do Espírito diga: "Amém. É isto mesmo", terá o perdão, a vida e a salvação que o sermão promete. Como mensagem do Evangelho, o sermão é, portanto, o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê.

Conheça a Palavra; Pregue a Palavra

Uma boa pregação não começa com um estudo do sermão, mas com o estudo da Bíblia. O pastor deve iniciar todo dia com uma leitura da Bíblia para si mesmo em caráter devocional, mesmo à parte da preparação do sermão. O pastor fiel, que aplica a si próprio a Palavra que lê, descobrirá que o estudo da Escritura com as ferramentas técnicas da exegese produzirá o fruto do seu crescimento como pastor e teólogo e lhe dará motivação para a meditação pessoal e o crescimento como cristão. Somente o pastor que diariamente tem sido, ele próprio, humilhado pela Palavra de Deus e tem sido levantado e fortalecido pelas promessas graciosas de Deus está preparado para compartilhar a Palavra de Deus com as pessoas que também precisam ser humilhadas e levantadas. Meditação diária na Palavra de Deus não acontecerá automaticamente ou por acidente, mas produzirá um rico benefício. Quando o pastor do povo de Deus submete-se a um planejamento regular de estudo da Bíblia, ele se encontrará mais e mais atraído a isto. Então, o pastor se tornará um homem de oração - oração que brota da Palavra que ele lê e sobre a qual medita. Seguindo o exemplo de Martinho Lutero, o pastor deveria ser capaz de tomar qualquer texto da Escritura e aplicá-lo a si mesmo como uma ocasião de instrução, de confissão, de ações de graças e de petição. 3 A regra de Johann Bengel aplica-se aqui: Te totam applica ad textum: Rem totam applica ad te. Aplica-te totalmente ao texto: Aplica o texto totalmente a ti.

Quando um pastor começa a preparação de seu sermão, primeiro ele deixa que o texto fale a ele pessoalmente. Depois de responder a Deus em espírito de oração, com base no texto, ele pode voltar-se à preparação formal, aplicando o texto à vida de outros.

Quando um pastor medita na Palavra durante seu estudo para o sermão, ele fará bem em olhar adiante para os textos que foram selecionados para os domingos seguintes. Caso ele pregue sobre um texto das séries (e.g., dos Evangelhos) ou sobre uma seleção própria de textos, o pastor deverá ter uma visão abrangente dos temas sobre os quais discorrerá ao longo de alguns meses a fim de evitar repetição e/ou um foco demasiadamente limitado em suas pregações. Sendo cuidadoso com os textos e os tópicos para os sermões das semanas e meses seguintes, o pastor pode enxergar interrelações entre os textos e trabalhar sobre a natureza específica de cada perícope. Por exemplo, uma série de lições sobre João 6, sobre o Sermão do Monte, ou sobre o Apocalipse pode ser um convite à repetição se apresentada por um pregador despreparado. Da mesma forma, muitas lições sobre milagres podem ocorrer uma atrás da outra. A atenção para a ênfase de cada texto em particular naquilo que o distingue dos demais tornará o pastor capaz de apresentar não um "sermão sobre milagres", mas um sermão sobre este milagre.

Obviamente, o pastor começará sua preparação específica para o sermão de muito cedo na semana, idealmente na segunda-feira, com uma leitura cuidadosa dos textos indicados. O estudo sério do texto inicia com as línguas originais, trabalhando com dicionários, concordâncias, comentários e outros auxílios. Somente quando o pastor compreender as palavras, as sentenças e a progressão do pensamento do texto no contexto de seu capítulo, livro e em toda a Escritura ele compreenderá o significado sobre o qual o próprio texto fala (o que é diferente de qualquer mensagem gerada a partir dos sentimentos subjetivos do pastor). Uma vez que ele compreenda este significado, ele estará pronto a fazer o esboço das idéias e escrever o sermão que aplicará aquele texto em particular às vidas de seu povo (bem como apresentará o tema dos próprios do dia). A atenção às palavras mais importantes do texto permitirá que cada texto traga sua mensagem distinta ao povo de Deus. Um sermão sobre um texto que fala de Jesus como Redentor deveria ser diferente de um que o apresente como o Cristo, ou Rei, ou Bom Pastor. Aqui, o estudo da língua produzirá seu fruto, ajudando o pregador a ver o que o texto realmente diz no original e auxiliando-o a por sua atenção na recriação desta mesma mensagem, desta mesma ênfase, sob a mensagem única da Escritura, que fala sobre arrependimento e perdão em Jesus Cristo.

Esta mensagem única, no entanto, deve ser entendida apropriadamente e proclamada à luz de tudo quanto Deus disse.

Só é um mestre ortodoxo quem não apenas apresenta todos os artigos de fé em concordância com a Escritura, mas quem também distingue corretamente a Lei e o Evangelho entre si. Distinguir corretamente a Lei e o Evangelho é a arte mais difícil e elevada dos cristãos em geral e dos teólogos em particular. Isto só é ensinado pelo Espírito Santo na escola da experiência.4

A Palavra que o pregador apresenta não tem um poder insignificante. Ela é o martelo que quebra o coração empedernido e o bálsamo que faz o espírito quebrantado alegrar-se. Somente o Espírito Santo pode dar a sabedoria para que se saiba quando usar o martelo e quando e como curar. O pastor luterano deveria imbuir-se das riquezas e dos pensamentos que estão ao seu alcance nas Confissões Luteranas, nos escritos de Martinho Lutero5 e na Lei e Evangelho de C. F. W. Walther. Uma revisão contínua do princípio escriturístico da Lei e do Evangelho irá relembrar o pastor sobre a necessidade de pregar a Lei em toda a sua severidade ao coração impenitente e o Evangelho com toda a sua doçura ao coração que retornou arrependido, necessitado de Cristo. Seguir o princípio da Lei/Evangelho ajudará o pastor a evitar o erro de transformar a Lei em um Evangelho substituto ou fazer do Evangelho uma nova Lei. Manter a distinção entre Lei/Evangelho capacita ao pastor a fazer seu trabalho como um pregador evangélico - deixando que o Evangelho predomine em tudo.

PROCLAMANDO O EVANGELHO

O BATISMO

3 O Sacramento do Batismo

A Necessidade do Batismo

Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século. (Mt 28.18-29)

Nestas palavras, ditas justamente após sua ressurreição, Jesus orientou sua igreja na terra a fazer discípulos por meio de duas atividades primárias e essenciais: batizando (baptizontes) e ensinando (didaskontes).1

Todas as denominações cristãs têm compreendido a necessidade de ensinar, mas as igrejas reformadas têm rejeitado a eficácia do Batismo. Elas podem ser da opinião de que, na visão daqueles que crêem no Batismo, sua eficácia seja mecânica e que seu poder resida na pessoa ou na igreja, não percebendo que o poder reside em Deus, que age através de sua Palavra. Como Lutero resumiu em seu Catecismo Menor, "O Batismo não é apenas água simples, mas é água compreendida no mandamento de Deus e conectada à Palavra de Deus". A água e a Palavra juntas compreendem o sacramento. Por conseguinte,

Do batismo ensinamos que é necessário para a salvação, que pelo batismo é oferecida a graça de Deus, e que devem ser batizadas as crianças, as quais, oferecidas a Deus pelo batismo, são recebidas na graça de Deus.

Condenam os anabatistas, que desaprovam o batismo infantil e afirmam que as crianças são salvas sem o batismo. (CA, IX, Lat.)

Note-se a ênfase: a graça de Deus é oferecida através desse sacramento. O Batismo não é mero sinal externo de um testemunho visível e nem de uma decisão interna para crer e seguir a Cristo. Ao ser batizada, a pessoa realmente recebe a regeneração, o perdão dos pecados, a salvação, os benefícios de Cristo e a consciência para com Deus. Paulo refere-se ao Batismo como um sepultamento com Cristo, no qual os fiéis são ressuscitados com ele "mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos" (Cl 2.12; cf. Rm 6.3s) e "o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo" (Tt 3.5). Tertuliano, na sentença de abertura do seu tratado de Baptismo (de seu período pré-Montanista), sintetiza o ensinamento dos apóstolos: Bem-aventurado é nosso sacramento da água, em que, pelo lavar dos pecados de nossa precoce cegueira, somos tornados livres e admitidos à vida eterna!" (ANF, III, 669). Em resumo, o Batismo é um ato pelo qual o candidato é transplantado na santa igreja cristã e é feito um membro do corpo místico de Cristo.

Tendo admitido isto, alguns têm se preocupado acerca daqueles que foram ligados à família da fé mas que, por inadvertência ou falta de oportunidade, morreram sem serem batizados. Isto é realmente necessário? Em resposta a esta questão, a igreja medieval sugeriu que aqueles que assim morreram eram, de algum modo, beneficiados por um "desejo pelo Batismo". Mais tarde, os teólogos propuseram a existência de um "limbo" (separado do inferno e do céu) para os infantes não-batizados (limbus infantum).

Ainda que não haja fundamentação escriturística para nenhuma destas pias esperanças, o pastor consciencioso ainda quer alguma palavra para confortar os pais que lamentam a morte de um filho não-batizado ou de um filho natimorto. Como um servo da Palavra, o pastor não pode dizer em nome do Senhor qualquer coisa que o Senhor não tenha revelado, ele não pode falar de uma criança não-batizada como se tivesse sido realmente batizada. Contudo, não é a falta do Batismo, mas o desdém com o mesmo que resulta em condenação. Por conseguinte, o pastor pode corretamente falar da misericórdia de um Pai celestialmente gracioso, que conhece as nossas necessidades mesmo antes que nós as tivéssemos revelado, e pode, também, lembrar os pais que a ação de Deus de modo nenhum está baseada no Santo Batismo ou limitada a ele.2

A reação anabatista contra a necessidade do Batismo continua ainda hoje. Alguns alegam que o Batismo não é necessário para aqueles que são "nascidos de novo", que o batismo "externo" não é necessário para aqueles que foram "batizados internamente pelo Espírito". No entanto, desde que o Batismo foi ordenado por nosso Senhor para todos os seus discípulos, o Batismo nunca pode ser recusado por seu povo e nem a ele negado. Aqueles que persistem na recusa de serem batizados precisam ser confrontados com sua atitude de rebelião para com a Palavra do Senhor. E, acima de tudo, eles precisam ser levados a sentir a necessidade que eles têm do Batismo, o qual os une ao perdão dos pecados que Cristo conquistou através de sua morte.

Nesse mesmo sentido, o pastor deveria averiguar que todos quantos participem da Ceia do Senhor (inclusive aqueles que pedem para ser confirmados) tenham sido batizados, pois no Batismo Deus une seu povo consigo mesmo e na Eucaristia ele os alimenta. (Da mesma maneira, quando outro pastor ou congregação pede informações acerca do Batismo de uma pessoa, o pastor a quem a pergunta foi dirigida deveria responder prontamente.)

Necessário para Todos

A comissão que o Senhor deu para sua igreja estendesse a todas as nações (panta ta ethne), a multidão da humanidade como um todo: judeu e gentio, macho e fêmea, adulto e criança, a todos do mesmo modo. Ninguém está excluído da promessa e do convite do Evangelho. Cristo morreu por todos; portanto, todos devem ser batizados nesta morte.

Na igreja primitiva, a maioria dos candidatos eram adultos que tinham ouvido a mensagem do Evangelho e que pediram para ser batizados. Hoje em dia, na maioria das congregações, a maior parte são crianças pequenas nascidas de membros da congregação. Seja qual for a idade da pessoa, a natureza do Batismo é a mesma para todos: "todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte" (Rm 6.3). Assim, aqueles que não podem falar por si mesmos são batizados sob o pedido daqueles que são responsáveis por eles.

Adolescentes e adultos são batizados de maneira apropriada depois que eles foram instruídos nas partes principais da doutrina cristã e confessaram sua fé. Mesmo embora eles já tenham recebido o dom da fé unicamente pela Palavra, eles também são convidados a receber as bênçãos e promessas do Batismo, assim como o fizeram o eunuco etíope (At 8.26-39) e Cornélio de Cesaréia (At 10.1-48). O fato de eles já terem chegado à fé não diminui a importância do sacramento como o lavar regenerador para eles e nem lhes permite desdenhar o Batismo.

Instrução Anterior ao Batismo

Já foi apontado o fato de que a comissão do Senhor compreende duas partes, o batismo ligado ao ensino. Quando os candidatos são de uma idade na qual podem receber instrução acerca das partes principais da doutrina cristã e confessar a sua fé, esta instrução e confissão precedem ao Batismo.

No caso de infantes e crianças de tenra idade, o ensinamento seguirá ao Batismo. A responsabilidade dos pais neste respeito está implícita em sua vocação paterna de educar seus filhos batizados como cristãos. Os pais têm a responsabilidade primária no tocante aos deveres atribuídos aos padrinhos no rito batismal:

Lembrar-se dele/dela em suas orações, relembrar-lhe seu Batismo, e, tanto quanto lhes for possível, dar-lhe seu conselho e cuidado...que ele/ela seja educado(a) no verdadeiro conhecimento e louvor de Deus e seja ensinado(a) [as partes principais da doutrina cristã]; e de, quando ele/ela crescer, colocar em suas mãos as Sagradas Escrituras, trazê-lo/-la aos cultos na casa de Deus, e providenciar-lhe maior instrução na fé cristã, a fim de que ele/ela venha ao Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo e, assim, que ele/ela permaneça na graça batismal e na comunhão com a Igreja, para que ele/ela possa crescer para levar uma vida piedosa de louvor e honra a Jesus Cristo.3

Antes do rito do Batismo, o ministro deveria ter o cuidado de relembrar os pais de suas responsabilidades, instruir os padrinhos quanto aos seus deveres, inteirar pais e padrinhos a respeito das agências educacionais da igreja e oferecer-lhes seu próprio e constante encorajamento e assistência.

O Uso Contínuo do Batismo no Viver Diário

Há um certo tempo, muitos cristãos penduravam suas certidões de batismo num quadro sobre suas camas como um constante lembrete, de dia e de noite, de que eles tinham sido marcados como filhos de Deus (cf. Ap 14.1). Eles davam a si próprios um lembrete que os ajudasse a pôr em prática as palavras do Catecismo Menor,

o velho homem em nós, por contrição e arrependimento diário, deve ser afogado e morrer com todos os pecados e maus desejos, e, por sua vez, sair e ressurgir diariamente novo homem, que viva em justiça e pureza diante de Deus eternamente. (CMe., IV, 12)

Relembrar as pessoas do seu Batismo é uma ferramenta poderosa para um ministério pastoral centrado no Evangelho. Muitas pessoas desesperam por causa de seus pecados; mesmo pessoas fiéis que sempre vão aos cultos podem estar viciadas em algum tipo de pecado(s) cuja evasão parece ser impossível. Deste modo, o Catecismo Maior relembra,

quando os pecados ou a consciência nos oprimirem, nos fortaleçamos e nos consolemos com isso, e digamos: "Todavia, estou batizado; mas se estou batizado, então tenho a promessa de que serei salvo e terei a vida eterna de alma e corpo" (CMa., IV, 44).

Batismo e arrependimento caminham juntos. "Assim, o arrependimento outra coisa não é que um retorno ao Batismo e aproximação dele, repetindo-se e praticando-se o que anteriormente se começou havendo-o, porém, abandonado (CMa., IV, 79). Não é mero acaso que a fórmula de absolvição repita as palavras da fórmula batismal: recebemos o perdão "em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo". Como Lutero apontou em outro lugar,

Compreenda que este é o significado do Batismo, que através dele você morre e vive novamente. Portanto, quer seja através de [absolvição] ou de qualquer outra maneira, você só pode retornar ao poder de seu Batismo, e fazer novamente aquilo para o que você foi batizado e aquilo que seu Batismo significa. O Batismo nunca se torna unútil.4

Que mensagem confortadora o pastor pode dar quando ele relembra o seu povo, domingo após domingo (bem como em cultos especiais, principalmente na Vigília Pascal) que a justificação e a força resultante para a santificação foram seladas a cada um individualmente através do Batismo! "Este é o significado do Batismo, que através dele você morre e vive novamente", Lutero enfatizou. 5 Mais uma vez o pastor deveria voltar ao texto que cativou Lutero (e que previne a confusão entre Lei e Evangelho):

Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo Batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. (Rm 6.3-4)

Lutero foi tão enfático no que diz respeito à importância prática do Batismo que incluiu todos os diferentes itens do rito batismal (exceto a água) na Oração da Manhã e da Noite que ele escreveu: a invocação do Deus Triúno, o sinal da cruz e o Credo Apostólico. Toda oração pessoal - em todo tempo e em todos os lugares - tem a função de relembrar diariamente o crente que Deus pôs o seu nome sobre nós, que ele nos ensinou as palavras com as quais devemos confessar nossos pecados, e que ele, com ternura, nos convida a clamar por ele como na Oração do Senhor. Mesmo o culto divino inicia-se com uma invocação do nome divino em o qual fomos batizados, "Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo".

Assuntos Relativos à Administração Apropriada do Batismo

A Fórmula Batismal

Nenhuma outra fórmula deve ser usada no lugar das palavras dadas por nosso Senhor: "Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo". Embora São Lucas mencione o Batismo "em nome de Jesus Cristo" (At 2.38; 8.16; 10.48), esta frase descreve o caráter do Batismo cristão como sendo diferente dos existentes rituais judaicos e romanos, bem como do batismo de arrependimento de João Batista. A frase de Lucas não é uma alternativa para a fórmula trinitária completa de Mateus 28. Outras fórmulas devem ser evitadas pela fato de Cristo ter ligado sua bênção a estas palavras e não ter dado nenhuma permissão para alterá-las. "Todavia", Fritz comenta em sua Pastoral Theology ("Teologia Pastoral", p. 83) que, "o Batismo de uma pessoa que tenha sido batizada desta maneira [somente com as palavras 'em nome de Jesus Cristo'] pode ser considerado válido, desde que, como diz Brentius, 'Cristo não fez com que a bênção do Batismo dependesse de certas letras, sílabas ou frases, nem nos amarrou a certas palavras; pois ele não instituiu uma exibição de mágica.',"

O Uso da Água

O uso da água (não de outro líquido, tal como leite, óleo, vinho, etc.) é requerido pela palavra baptizontes (Mt 28.19; Jo 3.5; At 8.36-39; 10.47; Ef 5.26; 1Pe 3.21). Na contingência pouco provável de não haver água disponível e de o Batismo não poder ser realizado, os cristãos deveriam confortar-se em saber que a fé em Cristo salva mesmo sem o Batismo (contanto que este importante sacramento não caia em desprezo). (Notem-se Mc 16.16; Lc 7.30; Jo 3.5.)

O mandamento do Senhor não especifica a quantidade de água a ser usada ou a maneira de sua aplicação. Pode ser derramada ou aspergida, ou ainda o candidato pode ser imerso. Na Igreja Luterana, a prática comum é que, enquanto a fórmula é pronunciada, a água é apanhada da pia e derramada sobre a cabeça do candidato (normalmente três vezes, como foi a prática na igreja primitiva). A água pode ser morna ou fria, parada ou corrente, a quantidade pode ser pouca ou muita - não faz diferença nenhuma. O Batismo é uma água da vida em virtude da Palavra que a compreende, não por causa da natureza ou ação da água em si.

Quem Deveria Administrar o Sacramento?

O ministrante apropriado do Santo Batismo é alguém a quem tenha sido confiado o ofício público da Palavra e do Sacramento, um representante de Cristo e ministro do povo.

Em uma emergência, qualquer cristão tem autoridade. Citando o "Tratado sobre o Poder e o Primado do Papa",

Como no caso da história narrada por Agostinho a respeito de dois cristãos num navio, dos quais um batizou o catecúmeno, e este, batizado, depois absolveu o primeiro. (Tr., 67)

Os pastores deveriam instruir o seu povo, antes que a ocasião apareça, a respeito de que qualquer criança em perigo de vida devesse ser batizada imediatamente. O Lutheran Worship ("Culto Luterano") e The Lutheran Hymnal ("Hinário Luterano") apresentam formas para o Batismo de emergência que podem ser usadas por pais e partes responsáveis ou por aqueles que foram nomeados por eles para batizar. Mesmo assim, tudo o que é necessário é a água e a Palavra falada. (Para comprovar que um Batismo verdadeiro foi realizado, uma testemunha deveria estar presente por ocasião de um Batismo de emergência.)

O Batismo de emergência deveria ser comunicado imediatamente ao pastor da congregação, que pode, então, tomar pleno conhecimento das circunstâncias e determinar se a administração do Sacramento foi realizada de forma apropriada. Então, ele deverá apontar o Batismo no registro congregacional e anunciá-lo à congregação. A Lutheran Worship Agenda ("Agenda Luterana de Culto") inclui uma ordem adequada para o Reconhecimento do Batismo de Emergência pela Igreja.

Com Que Idade os Infantes Deveriam Ser Batizados?

As pessoas deveriam ser instruídas para trazer seus filhos recém-nascidos para serem batizados o mais cedo possível. Muitos lugares seguem o costume de que a primeira saída de uma criança de sua casa é para ir à pia batismal.

Os Padrinhos

Mesmo que a prática de escolher padrinhos não seja essencial ao Batismo e que a mesma tenha sido freqüentemente mal usada, há muito que louvá-la. Os escritos da igreja primitiva acerca do Batismo já falam de padrinhos atestando a sinceridade do candidato adulto e oferecendo seu apoio à vida cristã desta pessoa. Num passado mais recente, quando a mãe comumente permanecia em casa por um longo período de tempo após ter dado à luz, era responsabilidade do padrinho levar a criança à pia. Hoje, freqüentemente, pais e padrinhos apresentam juntos a criança.

Pais cristãos deveriam escolher para seus filhos padrinhos que fossem, eles próprios, membros comungantes de uma congregação cristã em que a Palavra de Deus fosse ensinada puramente e os Sacramentos fossem administrados corretamente, pessoas que tomassem a sério as responsabilidades sobre as quais fossem perguntadas por ocasião do rito eclesiástico do Santo Batismo. O ministro deveria instruir seu povo com respeito às qualificações e requisitos de padrinhos adequados e encorajar os pais a escolher padrinhos já bem antes do tempo previsto para o parto.

Cristãos de boa reputação que não reúnam os requisitos de padrinhos podem servir como testemunhas do Batismo. Testemunhas, no entanto, não toma sobre si as responsabilidades dadas aos padrinhos.

O Valor do Batismo na Liturgia Divina Dominical

A administração do Batismo como parte da Liturgia Divina representa um tipo de inovação recente na igreja luterana. Esta prática, todavia, tem muito de louvável. O Santo Batismo realizado na presença da congregação o exalta, serve para relembrar as pessoas de seu próprio Batismo e ressalta o Batismo como o sacramento de iniciação na igreja.

Apesar da relutância de alguns pais e padrinhos em não quererem "aparecer" e/ou prolongar o culto, a solicitação de um Batismo privado (e.g., depois do culto corporativo) pode refletir uma falta de compreensão sobre a natureza do Batismo e da igreja. Por conseguinte, normalmente o Batismo deveria ser administrado como uma parte do culto principal da congregação (como a Lutheran Worship Agenda comenta).7

O pastor deveria ter de antemão toda a informação necessária para preparar a certidão de Batismo e para fazer as anotações adequadas no registro paroquial. A certidão deveria ser dada aos pais no momento do Batismo.

No culto divino, o Santo Batismo segue o hino de Invocação (ou o hino batismal) e pode substituir o usual rito preparatório (Invocação, Confissão de Pecados e Absolvição ou Anúncio da Graça). O Batismo vem antes de tudo no culto, justamente como vem antes de tudo na vida cristã. Através dele, o povo de Deus é unido a Cristo para receber dele e ter comunhão ao redor de sua Palavra e dons.

Depois da bênção que encerra o rito batismal, o culto continua com o Intróito, o Salmo, ou o Hino de Entrada. Depois da Coleta do Dia, uma das coletas para o Santo Batismo (Lutheran Worship Agenda, "Agenda Luterana de Culto", p. 366) pode ser acrescentada. Quando o tempo é limitado, o culto pode passar imediatamente da bênção batismal para a Saudação e a Coleta do Dia.

Seja qual for a rubrica que segue, o pastor deveria buscar enfatizar a obra jubilosa que Deus está promovendo no Sacramento. Anteriormente a Lutero, a igreja de Roma identificava as bênçãos do Batismo como oriundas de vários ritos (e.g., o sinal da cruz, o ato de soprar sobre o candidato, etc.). Depois de Lutero, a época do Pietismo observou um estilo pedagógico e didático tão enérgico que, em alguns casos, as exortações mais sobrias diminuíam o Sacramento em si e sua alegria. O reavivamento confessional do século XIX renovou o rito, mas o seu mau uso uma vez mais viria a causar confusão entre cerimônia e graça.

Não Há Rebatismo "Luterano"

O Batismo não introduz uma pessoa numa denominação em especial, mas liga a pessoa batizada com a morte e a ressurreição de Cristo. Por natureza, é tão irreprisável como o nascimento. Se um cristão batizado fosse buscar um segundo Batismo acreditando que, com isto, uma bênção nova e mais completa seria obtida, bem ao contrário do que ele pensa, consentir neste segundo Batismo só iria enfraquecer gradualmente a confiança que devia ser posta nas promessas que Deus uniu ao Batismo. Por outro lado, caso uma pessoa já batizada, seja inadvertidamente batizada uma segunda vez, o segundo Batismo não lhe acrescentaria nenhum dom ou bênção, nem poderia servir como uma reafirmação ou ratificação.

Questionando a Validade de um Batismo Anterior

Aqueles que questionam se eles foram batizados corretamente constituem um caso especial que exige sabedoria e discernimento por parte do pastor. A meta pastoral é assegurar que o crente possa estar confiante quanto a sua união com Cristo, que morreu e ressuscitou por ele.

A única circunstância em que um possível "segundo" Batismo poderia ser justificado é quando a realidade do Batismo está em dúvida - a questão é se o Batismo foi feito tanto com a água como com a Palavra. Como apontado acima, nenhum cristão deveria permitir que ele tivesse dúvidas quanto a ter sido ou não batizado. Se tal dúvida persistir, a pessoa deveria ser batizada pelo bem de sua consciência e pela paz de sua mente.

No entanto, tão logo não estejam mais envolvidas questões acerca da realidade do Batismo ou de que ele tenha sido feito de forma adequada, o crente não deveria preocupar-se a respeito da fé ou da vida do ministro. O Batismo não depende da intenção adequada nem do pastor nem da pessoa batizada (ou de seus pais ou padrinhos). Antes, o Batismo depende da Palavra de Cristo em si, de sua instituição.

O BATISMO

O SACRAMENTO DO ALTAR

4 O Sacramento do Altar

Na noite em que foi traído, nosso Senhor Jesus Cristo tomou o pão e o cálice, os abençoou e os deu aos seus discípulos para que eles comessem e bebessem, ordenando-lhes "fazei isto" em memória dele. Esta memória não consiste em nossa tentativa de encenar novamente a ceia - fazendo o que ele fez - mas antes, consiste em nosso recebimento fiel do que apenas ele faz e dá. Fazemos o que ele disse que era para fazer; recebemos o que ele dá, a saber, perdão dos pecados, vida e salvação.

A reunião das pessoas ao redor do altar para receber a Ceia do Senhor é o ponto mais alto da vida corporativa de uma congregação Evangélica Luterana. Esta celebração é a plenitude da obra de nosso Senhor para seu povo. Neste "dom salutar", ele mesmo providencia os meios pelos quais seu crente recebe os benefícios de toda sua pessoa e obra salvadora.

Mateus, Marcos, Lucas e Paulo contam-nos que Cristo tomou o pão (artos) como se costumava fazer em qualquer refeição (Lc 24.30; Jo 21.13; At 27.35; Mc 6.41 et al; 8.19 et al; Jo 6.11). Segundo o costume, o cabeça da família partia o pão e, no momento da oração de ações de graças que iniciava a refeição, dava este pão aos que estavam presentes. No Grego Koine, artos é o nome genérico dado a qualquer tipo de pão - branco, de trigo integral, de centeio, de cevada, etc. Contudo, parece que o contexto da instituição da Ceia do Senhor indica o uso de pão de trigo sem fermento. Não é essencial que o pão usado na celebração do sacramento seja sem fermento, mas este é um costume de longa data na Igreja Luterana.

Em contraste com o genérico pão, o cálice (poterion) contém um específico "fruto da videira": vinho (Mt 26.29; Mc 14.25; Lc 22.18). A instituição de Cristo não se refere ao suco de uva não-alcoólico, um produto pasteurizado do século XIX, e seu uso no sacramento levanta a questão sobre se as palavras de Cristo têm sido seguidas ou não. Nenhuma outra bebida deve substituir aquela que Cristo usou, pois somente a ela o Senhor ligou sua ordenança e promessa.1 O vinho pode ser vermelho, branco ou âmbar. Não é necessário vinho vermelho para "simbolizar" o sangue de Cristo. O verdadeiro sangue de Cristo está em e com o vinho consagrado em virtude de sua Palavra, independentemente da cor. O vinho branco ou âmbar podem ser os preferidos por serem menos propensos a manchar os purificadores. Contudo, pessoas de visão enfraquecida, freqüentemente, indicam uma preferência pelo vinho vermelho porque podem vê-lo melhor.

O pão não precisa ser partido. Cristo partiu o pão pelo propósito da distribuição; ele não fez este ato como parte necessária à integridade da consagração. Grandes hóstias estão disponíveis para serem partidas no altar; mas, se usadas, o ato de partí-las não deveria acontecer durante o cantar do Agnus Dei (não no momento da consagração, para que o povo não pense que o partir do pão seja uma exigência).

Como a herança dos séculos XVIII e XIX do Pietismo Germânico não resistiu, a Ceia do Senhor deveria ser oferecida em cada domingo, que é o Dia do Senhor, para aqueles que têm fome do corpo e do sangue de Cristo e que estão preparados para recebê-los. O fato de alguns dos presentes não desejarem receber a Ceia não deveria impedir que outros a recebessem. Como a Apologia (Ap., XXIV, 1) afirma, nas congregações evangélicas luteranas a Ceia do Senhor é celebrada "todos os domingos e em outros dias de festa".2 Contudo, nenhuma regra ou regulamento deve ser estabelecido no tocante à freqüência. Ninguém deve ser compelido a participar e nem devem ser promulgadas normas que tornem impossível ao fiel receber a Ceia do Senhor (CMe., Prefácio, 21).

O Ofício da Eucaristia3 deve ser ministrado no Culto de Domingo como algo natural e as pessoas deve ser encorajadas a comungar. Nem o pastor nem a congregação deveriam abordar os membros não-comungantes da comunidade impondo sua participação na Ceia como uma condição para a inclusão de alguém no rol de membros, a fim de que o comungante despreparado não participe indignamente nem seja levado ao desespero. Da mesma forma, as congregações não deveriam estabelecer um patamar mínimo de participação anual na Ceia para "membros bem firmes", a fim de que o Sacramento não fosse blasfemado. A Ceia do corpo e sangue de Cristo é um Sacramento do Evangelho, não uma ordenança da Lei.

Aqueles que são convidados para comungar são cristãos batizados que foram instruídos nas partes principais da doutrina cristã (os Dez Mandamentos, o Credo, a Oração do Senhor, o Batismo, o Ofício das Chaves e a Confissão, o Sacramento do Altar). Pelo fato de a comunhão de altar ser a expressão mais íntima de unidade confessional, aqueles que comungam no altar luterano são aqueles que estão em completo acordo confessional e comunhão com os outros comungantes. Esta prática, chamada de comunhão fechada, é uma expressão evangélica do amor da Igreja Luterana pelos comungantes e pela Ceia do Senhor. Não desejamos permitir que aqueles que não sejam membros de nossa comunhão confessional sejam extraviados ou confundidos por sua participação no sacramento em nossos altares. Como Fritz ressalta, "Abendmahlgemeinschaft ist Glaubensgemeinschaft" ("Comunhão na Ceia é comunhão na fé").4

Pessoas que foram afastadas da comunhão do altar não podem comungar até que a suspensão tenha sido revogada ou, de outro modo, a questão tenha sido resolvida, de modo que não possa ser causada qualquer divisão entre as congregações (Ver Unid. IV, 1-3). A fim de que o pastor possa desempenhar suas responsabilidades de uma maneira fiel, deveria ser norma da congregação que fosse pedido aos visitantes que manifestassem ao pastor sua intenção de comungar antes do culto.

Preparação Digna

A preparação necessária para a Santa Ceia é que a pessoa creia que Cristo, que deu o seu corpo e sangue para o perdão dos pecados, continua providenciando seu corpo e sangue perdoadores "em, com e sob" o pão e o vinho na Santa Ceia, como diz o Catecismo Menor, "verdadeiramente digno e bem preparado é aquele que tem fé nestas palavras: 'Dado em favor de vós' e 'derramado para remissão dos pecados'," (CMe., VI, 9-10).

As passagens do Novo Testamento sobre a estrutura do culto da igreja5 descrevem os crentes reunidos apenas com uma estrutura mínima para celebrar a presença contínua de Cristo em seu meio - orar, ouvir a Palavra e estar unido com ele no Sacramento de seu corpo. "Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles" (Mt 18.20). "Isto é o meu corpo...Isto é o meu sangue" (Mt 26.26-28; Mc 14.22,24; Lc 22.19-20; 1Co 11.24-25). "O cálice ... não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão...não é a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão". (1Co 10.16-17)

Onde há alegria, ali existe o perigo de que o coração pecador a use para dar ocasião para uma celebração carnal do ego. Nós, que compartilhamos da mesma carne pecaminosa, podemos compreender porque alguns da congregação de Corinto desviaram o foco sobre si próprios (1Co 11.17s) - e porque precisaram do lembrete de Paulo de que o propósito, o foco e o poder do Sacramento é apenas Cristo. É neste ponto que Paulo dá a exortação para o auto-exame. Vocês compreendem verdadeiramente as implicações daquilo que vocês estão para fazer: comer e beber o corpo do nosso Senhor Jesus Cristo (v. 23-29)?

Assim, desde os tempos do Novo Testamento, o auto-exame (e, relacionada a isto, a confissão que alguém faz de sua pecaminosidade) foi associada à celebração da Ceia do Senhor. Esta conexão é reiterada na Didaquê, obra escrita no século II, que encoraja os cristãos a confessar seus pecados antes de participarem no Sacramento.6

Reafirmando a doutrina e a preocupação pastoral, a Confissão assevera, Cremos, ensinamos e confessamos que não só os verdadeiros crentes recebem o verdadeiro corpo e sangue de Cristo, mas também os indignos e os incrédulos. Todavia, se não se convertem e não se arrependem, recebem-nos não para vida e consolo, mas para juízo e condenação.

Pois, ainda que rejeitem a Cristo como Salvador, contudo têm de admití-lo, mesmo contra a vontade deles, como severo juiz, o qual é tão presente para também exercer e manifestar o juízo relativamente aos convivas impenitentes, como está presente para operar vida e consolo no coração dos crentes verdadeiros e convivas dignos. (FC, Ep., VII, 16-17)

[Portanto,] os nossos pregadores não aboliram a confissão. Pois conserva-se entre nós o costume de não dar o sacramento àqueles que não foram previamente examinados e absolvidos. Ao mesmo tempo se instrui diligentemente o povo sobre o quanto é consoladora a palavra da absolvição e em quão elevada estima se deve ter a absolvição. (CA, XXV, 1-2)

Em seu primeiro milênio, a igreja não tinha um rito de confissão-absolvição formalizado para a celebração do Sacramento do Altar. Mais tarde, na Idade Média, a igreja prescreveu uma confissão baseada nas preces pessoais do pastor proferidas junto à grade do altar antes do ofício eucarístico começar (as quais, originalmente, eram proferidas na sacristia).7

Devido aos abusos da confissão na época da Reforma e por enfatizar a natureza do Sacramento do Altar como centrada no Evangelho, a reforma de Lutero no tocante ao Culto Divino (sua Formula Missae e Deutsche Messe - cf. Lutheran Worship, Divine Service III - "Culto Luterano, Ordem de Culto III") não continha um rito de confissão-absolvição. Ele estava preocupado, no entanto, em que o povo viesse preparado para a Mesa do Senhor.8

Eu penso que seja suficiente que aqueles que vão receber a comunhão sejam examinados ou sondados uma vez por ano. De fato, um homem pode ser tão entendido que só precise ser questionado uma vez em sua vida e nada mais. Pois, por esta prática, queremos prevenir que o digno e o indigno igualmente não acorram à Ceia do Senhor.

Agora, no tocante à confissão particular antes da comunhão, ainda penso como até agora tenho sustentado, ou seja, que a mesma nem é necessária e nem deveria ser exigida. Ainda assim, ela é útil e não deveria ser abolida; pois o Senhor não estipula nem mesmo a Ceia em si como necessária e nem a estabelece por lei, mas deixou-a livre a cada um quando disse, "Todas as vezes que fizerdes isto", etc.9

Por outro lado, Lutero dava atenção cuidadosa à preparação adequada dos comungantes à parte do rito da confissão e absolvição. Em sua Instruction for the Visitors of Parish Pastors ("Instrução aos Visitadores de Pastores Paroquiais", os "Artigos da Visitação Saxônica", de 1528), ele escreve que (1) os pastores devem instruir as pessoas a serem reverentes e penitentes e a desejarem melhorar suas vidas, pois que o sacramento não pode ser desonrado ou usado erradamente. Aqueles que são culpados de pecados manifestos e que não mostram quaisquer sinais de contrição não devem ser admitidos. (2) Ninguém deve vir ao sacramento sem que primeiro tenha visto o pastor. O pastor deve inquirir sobre seu entendimento do sacramento e sobre sua carência do conselho cristão. Somente o penitente que sente pesar por seus pecados deve ser admitido. (3) Conseqüentemente, os pastores devem ensinar seu povo a (a) lembrar-se da morte de Cristo, a qual é o preço da satisfação; (b) receber e confortar-se no sacramento como um sinal eficaz do perdão de Deus; (c) meditar sobre as palavras do sacramento, "Isto é o meu corpo ...", etc; pois estas palavras animam a fé; e (d) receber o sinal tanto para animar a fé como para ser instruído no amor, de modo que o ódio e a inveja sejam substituídos pelo mútuo cuidado e auxílio e todo tipo de obra que Deus ordenou.10

Nas décadas que se seguiram à Reforma, quando o Luteranismo estabeceu-se firmemente como a igreja estatal em muitos territórios, alguns líderes luteranos reagiram contra a conseqüente despersonalização e enfatizaram a piedade pessoal - desta maneira prepararam o terreno para que a confissão privada se tornasse a exigência para comparecimento à Santa Comunhão.11 As igrejas reformadas na Alemanha, no entanto, oficiavam cultos penitenciais - os quais aparentemente atraíram também os luteranos, especialmente aqueles pastores com congregações tão grandes nas quais a confissão-absolvição particular para todos os membros tornara-se um fardo. Então, no final dos anos 1600,

Casper Schade, um pastor em Berlim, suscitou um grande debate com respeito à confissão particular. O Eleitor de Brandenburgo ordenou que a confissão particular deveria ser conservada para aqueles que desejassem fazer uso dela; todavia, daquele tempo em diante, a cada sábado, no momento da confissão, deveria ser oficiado um culto confessional (ein Buzsermon [sic], "um culto de penitência"), no altar, para a melhor preparação dos comungantes; a quem quer que desejasse ser excusado da confissão particular, deveria ser permitido comparecer ao sacramento sem ela, contanto que não estivesse sob acusação de vida escandalosa. No entanto, esta pessoa tinha de anunciar ao pastor sua intenção de ir ao sacramento durante a semana anterior.

Este culto confessional tornou-se uma prática comum por toda a Alemanha, mas logo passou a integrar a liturgia principal (anexo ao Kyrie).12

Os métodos hodiernos de como usar a confissão-absolvição como preparação para a eucaristia continuam a variar. Algumas congregações oficiam um culto confessional antes da Liturgia Divina (e algumas delas oferecem absolvição individual junto à grade do altar). Algumas, vez por outra, omitem a confissão-absolvição como um lembrete de que (1) o rito é opcional e não um pré-requisito para a Comunhão e (2) que a Liturgia Divina começa propriamente com o Salmo de Intróito. Outras seguem a prática de pedir que os comungantes registrem-se individualmente com o pastor, dando-lhe a oportunidade (1) para discernir quais pessoas, dentre aquelas que têm a intenção de comungar, são capazes de proceder ao auto-exame e (2) oferecer absolvição individual àqueles que fizerem uma confissão individual.

Os procedimentos para o anúncio da Comunhão em nossa geração parecem ser mínimos. Mesmo onde o registro pessoal é exigido ou encorajado, raramente se encontra qualquer ênfase significante na catequese e no crescimento pessoal. Os pastores deveriam fazer uso de cada oportunidade para ensinar e dar aconselhamento a seus paroquianos, fazer uso das estruturas tradicionais fornecidas a eles e prover oportunidades adicionais para assegurar-se de que todos os comungantes receberão o sacramento de maneira salutar e benéfica.

Seja qual for a prática congregacional, o pastor desejará ajudar os membros a entender os benefícios do auto-exame e da confissão: o perdão que Deus em Cristo concede através de sua Palavra e Sacramentos. Muitos tem se rebelado contra "o pastor ser capaz de perdoar pecados". Tal atitude reflete um mal-entendimento grosseiro do Ofício das Chaves. Como Fritz comenta em sua Pastoral Theology ("Teologia Pastoral"), "Por conseguinte, a Igreja deve insistir em que ela tem o poder de absolvição e, tendo recebido este poder de Deus, deve usá-lo".13

Os Usos: Considerações Litúrgicas

A Escritura Sagrada não apresenta detalhes cerimoniais para a celebração e a recepção do Sacramento do Altar, mesmo assim cada reunião de uma congregação no tempo e no espaço envolverá em um rito. A maneira de oficiar um culto divino é importante porque o Sacramento deveria ser sempre celebrado de maneira apropriada aos dons que Cristo dá para seu povo na Palavra e nos elementos. A Palavra de Cristo deve ser proferida reverencialmente; seu corpo e sangue devem ser distribuídos de uma maneira respeitosa e organizada, em concordância com sua instituição. (Para comentários sobre o Culto Divino, veja Unid. III, 1.)

Lutero deixou-nos uma imagem inspiradora da congregação evangélica reunida para celebrar o Sacramento. Ele escreve,

Pois, Deus seja louvado, que em nossas igrejas podemos mostrar a um cristão uma verdadeira missa cristã de acordo com a ordenação e a instituição de Cristo, bem como de acordo com a verdadeira intenção de Cristo e da igreja. Ali, nosso pastor, bispo ou ministro no ofício pastoral, chamado correta, honrada e publicamente, tendo sido previamente consagrado, ungido e nascido no Batismo como um pregador de Cristo, independente de uma crisma particular, vai ao altar. Ele entoa pública e claramente o que Cristo ordenou e instituiu na Ceia do Senhor. Toma o pão e o vinho, dá graças, os distribui e os dá para o nosso descanso, que estamos ali e queremos recebê-los na força das palavras de Cristo: "Isto é o meu corpo, isto é o meu sangue. Fazei isto", etc. Particularmente nós, que queremos receber o sacramento ajoelhados perto dele, atrás dele e em volta dele, homem, mulher, jovem, velho, mestre, servo, esposa, empregada, pais e filhos, assim como Deus nos reúne ali, todos sacerdotes verdadeiros e santos santificados pelo sangue de Cristo, ungidos pelo Espírito Santo e consagrados no Batismo. Com base nesta nossa honra e vestes sacerdotais inatas, hereditárias, estamos presentes, tendo, como Apocalipse 5[.8] o apresenta, nossas coroas douradas sobre nossas cabeças, harpas e incensários dourados em nossas mãos; e deixamos que nosso pastor diga o que Cristo ordenou, não por ele mesmo como se isto viesse de sua pessoa, mas ele é boca de todos nós e nós todos falamos com ele as palavras, de coração e em fé, dirigidas ao Cordeiro de Deus que está presente para nós e entre nós, e que, de acordo com sua ordenança, nutre-nos com seu corpo e sangue. Esta é a nossa missa, e é a verdadeira missa que não falta entre nós.14

O ministro do Sacramento do Altar é o servo chamado e ordenado que foi separado para supervisionar, pregar e ensinar, e para administrar as dádivas de Cristo (CA, XIV). Em casos muito excepcionais, (não por mera conveniência), os membros de ofícios auxiliares do ofício do ministério público ou outros homens qualificados podem ser designados temporariamente para servir (sob supervisão adequada) em áreas de liderança pertinentes ao ofício do ministério, incluindo a administração do Sacramento. No entanto, desempenho de tais funções não torna aqueles que as executam detentores do ofício do ministério público.15

O ministro que preside e os ministros que o assistem deveriam estar vestidos de maneira apropriada, em vestimentas que cubram suas roupas cotidianas. As vestes deles ajudam a lembrar tanto a eles próprios como à congregação de que o clérigo serve não em seu próprio nome ou através de sua própria autoridade e dignidade, mas em nome de Cristo, em seu lugar, e sob seu comando. A batina preta de Genebra, tão comum em gerações passadas, entrou em uso no Luteranismo como uma veste de culto por um edito imperial em 1811. Seu uso foi resistido fortemente pelos pastores confessionais. Na América do Norte, as condições de fronteira levaram a supremacia completa da batina preta. Hoje, muitos consideram a sobrepeliz e a estola ou uma alba ou vestes eucarísticas como mais adequadas ao louvor agradecido e à celebração. A prática em muitas congregações escandinavas é que o pastor vista uma casula sobre a Alba desde o Ofertório até o encerramento do culto.

Durante o Ofertório, o altar e os vasos são preparados para a celebração do Sacramento. Se o pão e o vinho forem trazidos à frente neste momento, isto deve ser feito sem ostentação; não são nossas dádivas para Cristo, mas as dádivas do Senhor para nós, seu corpo e sangue, que estão no centro de nossa celebração.

As palavras da instituição (os Verba) são cantadas ou ditas reverentemente sobre todos os elementos a serem usados na Ceia (FC, DS, VII, 75); e somente aquilo que será distribuído deveria ser consagrado. É uma antiga prática luterana que os comungantes sejam encorajados a falar as palavras da instituição sub voce enquanto o ministro que preside as canta ou as diz em voz alta. As Verba são as palavras criadoras do Senhor Altíssimo que trazem à existência todas as coisas através da Palavra de sua boca. O uso de sua Palavra na Ceia nunca é simplesmente uma recitação daquilo que foi dito e feito no cenáculo na noite em que Jesus foi traído. Através destas palavras, o Senhor que primeiramente as falou, ainda hoje dá o que as palavras dizem em e sob os elementos sobre os quais elas foram pronunciadas. Elas tanto são Palavras da Instituição como Palavras da Consagração.

O sinal da cruz normalmente é feito sobre o pão e o vinho que foram separados. Se um pouco mais de pão ou vinho são solicitados durante a distribuição, eles também deveriam ser consagrados. Sob circunstância alguma deveria ser dado aos comungantes pão e vinho sobre s quais as Palavras da Instituição não tenham sido pronunciadas.16

Como Lutero esclarece na Formula Missae e na Deutsche Messe, o ministro que preside pode dar a Comunhão a si próprio primeiro, da mesma maneira que ele dá a Comunhão a um membro de sua congregação, com a fórmula usual: "Toma, come; isto é o verdadeiro corpo de Cristo, dado por ti ..." Em muitas congregações, o ministro que preside recebe o Sacramento do ministro assistente ou de um líder da congregação, cada qual, por sua vez, dando a Comunhão ao outro.

No momento da distribuição, o ministro que preside deve, como é próprio, distribuir o corpo de Cristo. Nesta importante responsabilidade pastoral, o pastor exerce sua supervisão episcopal sobre os comungantes. Os ministros assistentes podem distribuir o sangue de Cristo.17 Os comungantes podem aproximar-se do altar em grupo ou em uma fila organizada. Eles podem ajoelhar-se ou permanecer em pé para a recepção (o que quer que ajude os comungantes a honrar o Cristo que preparou sua mesa preciosa).

Seja qual for a maneira da distribuição, o comer e o beber são as duas ações indicadas; o corpo e o sangue são oferecidos a cada comungante individualmente, os quais podem ser comidos e bebidos por eles de acordo com a instituição do Senhor. Embora não se ponha em dúvida as igrejas cristãs que pratiquem a intinção, os luteranos compreendem que a Palavra de Cristo pede que cada comungante coma e beba. Concordemente, a intinção geralmente não tem sido praticada nas igrejas luteranas.

A Comunhão do cálice é a prática histórica da igreja evangélica luterana e, embora não seja um mandamento escriturístico, é normalmente encorajada. O uso de cálices individuais é uma inovação do século XX. Quando houver justificativas que obriguem seu uso, os cálices individuais devem ser tratados com a mesma humildade e reverência dadas ao cálice e a seu contéudo.

Depois que todos comungaram, os utensílios sacramentais são novamente cobertos ou removidos.

As Santas Escrituras não especificam o momento exato em que começa e termina a presença do corpo e sangue de Cristo "em, com e sob" os elementos. As opiniões teológicas divergem neste assunto. O princípio luterano clássico "extra usam nulla sacramentum" ("fora do uso, não há sacramento") tem sido usado tanto para afirmar que o corpo e sangue de Cristo permanecem nos elementos para aqueles que receberão a Comunhão posteriormente (e.g., os debilitados), como para apoiar a visão oposta à primeira, de que fora do Ofício da Comunhão propriamente dito há apenas pão e vinho (veja também AE, III, VI, 1). O que está claro é que o pão e o vinho consagrados a Ceia foram separados para um único propósito, a comunhão das pessoas. E, por essa razão, os elementos que não foram usados deveriam ser tratados com a reverência apropriada, a fim de que o Senhor possa ser honrado e que nenhum de seus filhos possa ser ofendido ou caia em tropeço. Portanto, o que restar do pão e do vinho consagrados - se foram usados cálices individuais - pode ser consumido ou guardado para futuro uso sacramental. Se uma grande quantidade de vinho for deixada no cálice, pode ser despejada no sacrarium/piscina ou lançada diretamente na terra. É da responsabilidade do ministro que preside a Ceia ou do assistente delegado supervisionar o destino dos elementos.

Outras Situações da Ceia do Senhor

Toda celebração da Ceia do Senhor, seja realizada no santuário da igreja ou ao lado da cama do enfermo, é por natureza um evento público, congregacional. Como indicação dessa natureza pública da celebração, o pastor que a preside deveria convidar outros comungantes presentes e idôneos a receberem o Sacramento juntamente consigo e com o enfermo. (Isto pode incluir, e.g., aqueles que acompanham o pastor na visitação e ministério aos doentes, ou outros membros da família que possam estar presentes.)

O Sacramento, normalmente, é consagrado na presença daqueles que o receberão (embora algumas das ordens mais antigas da igreja fornecessem elementos consagrados no culto público para a Comunhão do enfermo.) A prática evangélica luterana é que as palavras do testamento de Cristo deveriam ser cantadas ou faladas claramente sobre o pão e o vinho na presença dos comungantes de modo a que eles sempre possam receber o Sacramento tendo as palavras do Senhor em seus ouvidos. Além disso, o pastor deveria usar, tanto quanto possível, a liturgia da Ceia e os próprios do culto divino como é prática sob tais circunstâncias.

O pastor pode usar ao menos alguma das marcas externas do seu ofício e ordem - Walther sugere o uso do Beßchen (em termos contemporâneos, o colarinho clerical) para lembrar tanto às pessoas como a si mesmo de que ele não vem em seu próprio nome e nem com palavras e dons provenientes de sua própria habilidade. Através de seus trajes e maneiras, o pastor apresenta-se como servo de um outro servo. Ele fala a palavra e faz o obra que lhe foi dada pelo Senhor.

Caso seja solicitado que o Sacramento seja dado numa cerimônia matrimonial ou num funeral, o pastor e as pessoas deveriam compreender que estes cultos são públicos e congregacionais e que os membros da congregação, em todos os casos, são convidados a vir e participar completamente. De fato, o uso do lugar de culto da congregação sempre implica que, seja qual for o culto, este é congregacional por natureza. A celebração do Sacramento do Altar em tais ocasiões, embora desaconselhada, só pode ser permitida se a natureza pública e congregacional do culto for reconhecida e se todos (e somente) os comungantes idôneos forem convidados a participar e receber. Com base nisto, ordens próprias para serem usadas na ocasião de um casamento ou num culto memorial foram fornecidas no Lutheran Worship (Culto Luterano). Seria impróprio limitar a recepção da Ceia ao noivo e à noiva ou aos familiares imediatos do falecido.

Celebrações extra-congregacionais em convenções distritais e sinodais, em seminários, em faculdades e escolas sinodais e em reuniões especiais podem ser realizadas, mas é uma praxe sinodal que tais celebrações sejam oficiadas sob o patrocínio de uma congregação luterana e sob a supervisão do pastor da congregação hospedeira. Como a Comission on Theology and Church Relations ("Comissão de Teologia e Relações Eclesiais") salienta18, as práticas ordenadas na Escritura são três: a compreensão da realidade do Sacramento; a recusa de dar a Comunhão àqueles que são impenitentes; e a supervisão ao estilo organizado e evangélico. O documento acrescenta que celebrações extra-congregacionais e transparoquiais do Sacramento sejam discutidas com o conselheiro e o pastor supervisor (incluindo o Presidente do Distrito), para que seja escolhida uma congregação hospedeira e para que o pastor desta congregação, geralmente, seja o celebrante.

O fato de as orientações não serem ordenanças escriturísticas, em parte pode ser visto a partir do entendimento bíblico do Sínodo que compõe as bases do documento da CTCR chamado The Ministry: Offices, Procedures, and Nomenclature ("O Ministério: Ofícios, Procedimentos e Nomenclatura"), setembro de 1981. Neste documento, a comissão afirma que "a igreja" não é simples congregações individuais agindo separadamente, mas que elas juntas também podem ser chamadas "igreja" e podem exercer a função da igreja de (e.g.) chamar um pastor para um ministério não-paroquial.19 Todavia, como o documento ressalta (p. 23):

O Novo Testamento (1 Coríntios) entende que a Santa Comunhão será celebrada num contexto onde a fé e a vida dos comungantes sejam conhecidas. O contexto congregacional, sob circunstâncias normais, é o local onde as...praxes da Comunhão ordenada escrituristicamente podem ser desempenhadas de uma maneira evangélica e em acordo com as doutrinas da igreja e do ministério, e onde a responsabilidade mútua dos pastores e membros é salvaguardada.

O PASTOR CHAMADO

UNIDADE IV

O PASTOR MINISTRA A PALAVRA E O SACRAMENTO EM CIRCUNSTÂNCIAS INDIVIDUAIS

1 O Pastor Chamado

Para desempenhar as funções de pastor de maneira evangélica: para cuidar, aconselhar e guiar os membros de todas as idades e condições sociais; para visitar os doentes e os moribundos; para admoestar os indiferentes e os errantes ...1

Em virtude das palavras acima, que estão escritas no chamado ao ofício pastoral, a congregação tanto convida como espera que o pastor administre os meios da graça não apenas nos cultos públicos de adoração, em reuniões e encontros públicos da congregação, mas também em numerosas circunstâncias individuais, pessoais e particulares onde e quando for necessário e as circunstâncias exigirem.

Embora a natureza do chamado pastoral possa variar de acordo com as circunstâncias, três aspectos básicos deveriam caracterizar toda visitação:

1. Papel de fidelidade: independente de quaisquer outros papéis que ele possa ter - como membro de uma organização cívica, como integrante de uma equipe de boliche ou futebol, como amigo chegado de um membro específico - o pastor deve sempre lembrar seu papel primordial como pastor. Quando não atuando como pastor, seus membros podem incentivá-lo a "ficar bem à vontade". Contudo, mais tarde, quando um destes paroquianos buscar aconselhamento e cuidado profissional, relacionamentos não-pastorais prévios poderão levar à perda da objetividade e impedir que o pastor exerça seu ministério. O exercício da fidelidade é absolutamente essencial tanto para o pastor quanto para os paroquianos.

Isto significa agir com "duas medidas", trabalhar com um conjunto diferente de critérios aos quais os pastores devem "adequar-se"? Sim e não. O mesmo Cristo é exemplo para todos, e o mesmo paradigma de santidade e amor é a meta para todos. Nem é realmente uma questão de "padrão" ao qual alguém deva "corresponder", mas, antes disso, uma questão de "modelo" para dentro do qual alguém deverá "crescer". Ainda assim, aos olhos humanos, a resposta pode ter que ser "sim". Por isso, tão bem quanto formos capazes, devemos fazer avaliações da conduta humana porque, na economia de Deus, a conduta do pastor é paradigmática da vida de Cristo. Igualmente, as conseqüências do comportamento destes homens - quer eles tenham sucesso ou fracassem - são de grande efeito para as vidas espirituais de outros...Como alguém que prega o amor de Cristo para os outros, o pastor também retrata este amor em seu auto-sacrifício em benefício de outros. Como alguém que incentiva os outros a cultivar o fruto do Espírito em suas vidas, o pastor mostra o que "amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio" ocasionam na vida diária.2

Em acréscimo ao que quer que "puxe" o pastor a sentir-se "ele mesmo", ele não se atreve a esquecer o "aspecto encarnado" do ofício pastoral, de ser ele um representante de Deus e estar em seu lugar (cf. e.g., 1Co 4.15s; 1Ts 2.13; 5.12).

2. Propósito e meta: Em qualquer tempo em que um pastor fizer qualquer tipo de visita pastoral, ele deveria fazer tudo com o propósito específico que se desenvolve a partir de sua preocupação global para com a vida espiritual do paroquiano. Estabelecer e manter este propósito em mente também ajudará o pastor a gerenciar eficazmente seu programa de atividades.

3. Preparação: É necessário que haja uma preparação adequada, consistente com o propósito e a meta da visita.

Visitas pessoais consomem muito tempo. Portanto, o pastor deve comprometer-se a realizá-las sistemática e fielmente. A não ser que ele tenha estabelecido um programa de visitas, o qual ele segue com rara exceção, o pastor deveria telefonar antes de visitar, comunicando seu desejo de fazê-lo. Quando um pastor é incapaz de ir a um programa estabelecido ou a uma visita já acertada, faz-se necessário um telefonema.

O Chamado Pastoral Geral

Humanamente falando, um ministério espiritual eficaz depende, em grande medida, da construção de níveis de confiança.3 Visitas pastorais adequadas fortalecem esta confiança e fidelidade mútuas. Isto possibilita ao pastor manter seu dedo sobre o pulso da congregação. Compreender as esperanças, os temores, os desejos, as alegrias, as tristezas e as prioridades de seus paroquianos tornará a pregação e o ensino do pastor mais relevantes ao apoio, ao fortalecimento, ao perdão, à esperança e ao amor sob o Evangelho que seu povo necessita.

O Cuidado Pastoral aos Enfermos e Hospitalizados

Os enfermos e familiares freqüentemente têm curiosidade de saber sobre a relação entre pecado e enfermidade: "O que foi que eu fiz para sofrer esta aflição? Por que o Senhor está me tratando deste jeito?" Esta pergunta pode refletir a tão antiga tendência de ir na direção da auto-justiça ou pode, inadvertidamente, implicar que Deus seja vingativo ou punitivo, castigando diretamente o enfermo por pecados específicos que ele cometera. Já que toda enfermidade/morte resulta do pecado original de Adão e Eva, enfermida/morte não é punição por pecados específicos. Em alguns casos, uma relação física de causa e efeito pode ser comprovada entre um pecado específico e uma conseqüente doença; e.g., uma pessoa que seja sexualmente promíscua pode, em decorrência deste pecado, contrair doenças venéreas. Mas implicações físicas de causa e efeito não comprovam que haja retribuição divina ao nível individual.

O paroquiano que passa por sofrimentos necessita ser confortado com a verdade de que Deus prometeu lidar misericordiosamente com seu povo por causa de Cristo. Devido à situação difícil que a humanidade trouxe sobre si própria (Gn 3), Deus interveio e providenciou perdão para todas as pessoas através da vida, morte e ressurreição de Cristo. O Evangelho não oferece julgamento, mas conforto e esperança nas promessas de Deus, especialmente nesta promessa consoladora que diz: "todas as cousas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus" (Rm 8.28). As palavras de 1Pe 1.3-9, Hb 12 e Rm 8 são particularmente instrutivas neste ponto.

O pastor pode oferecer apenas o conforto que unicamente Deus dá (2Co 1.4) através de sua Palavra. Com esta finalidade, a visita pastoral inclui uma meditação (não um sermão) sobre um trecho da Escritura aplicável à situação, além de uma oração apropriada com a Oração do Senhor e a bênção. Dependendo das circunstâncias, a Santa Comunhão também pode ser incluída.

Lembre-se de que a oração não é a Palavra e nem meio da graça. O tempo disponível pode ser curto e o nível de atenção, limitado, mas umas poucas palavras de promessa bem escolhidas da Escritura trazem em si as bênçãos de Deus. Nem seria preciso dizer que o pastor deveria evitar argumentações e controvérsias e deveria permanecer agradável, amigável e aberto.

Como orientação geral, quanto mais grave for a enfermidade, tanto mais o paciente deve ser visitado e tanto mais breve deve ser a visita.4 Quando o paciente já está se recuperando, as visitas podem tornar-se mais longas e menos freqüentes. Comumente, uma visita hospitalar não deveria durar muito mais do que cinco a dez minutos, mas há circunstâncias em que o bom senso exigirá uma visita mais longa.

Em muitos casos, há períodos de convalescença de variadas extensões e o cuidado pastoral se estendera enquanto a necessidade existir, quer no hospital, quer no lar. O pastor também se lembrará de estender o cuidado aos familiares do enfermo. De fato, às vezes a família será o foco maior do cuidado pastoral, especialmente para com as crianças, que são menos capazes de lidar com a ausência de seu pai, mãe ou irmão.

Durante doenças prolongadas, o pastor deveria incluir a Ceia do Senhor como parte regular do cuidado pastoral. Lembre-se que alguns membros, particularmente membros idosos, podem associar uma hospitalização com a morte e considerar a Santa Ceia como os "ritos finais que se presta ao moribundo". Por conseguinte, o Sacramento deveria ser oferecido à pessoa hospitalizada, tanto quanto possível, em circunstâncias não ameaçadoras. O pastor pode sugerir que em sua próxima visita, daqui a um ou dois dias, estaria preparado para dar a Comunhão ao paciente - permitindo, assim, que o paciente tivesse oportunidade de preparar-se. O cônjuge, os filhos e amigos que estejam em comunhão com a congregação também podem ser convidados a estar presentes e a participar quando o pastor fizer sua visita. Está subentendido que uma palavra devocional da Escritura será incluída, bem como que haverá confissão e absolvição, além da consagração e distribuição dos elementos.

O Paciente Pré-Cirúrgico

O paciente pré-cirúrgico requer uma atenção especial. Rara é a pessoa que não experimente qualquer grau de ansiedade com relação às perspectivas da cirurgia a que será submetida, independente de quão pouca tal ansiedade possa ser. O pastor oferecerá recursos espirituais que capacitarão o paciente a enfrentar e vencer seus temores. O pastor deveria ser cauteloso, todavia, e não presumir que conheça os temores específicos. Permita que o paciente expresse suas verdadeiras inquietações e preocupações. Lide com elas. Antes de elas se manifestarem como ansiedade ou preocupação em relação à cirurgia que se aproxima, freqüentemente elas brotam a partir de um diálogo interpessoal com o cônjuge ou filho.

Uma visita pastoral na tardezinha anterior à cirurgia é usualmente melhor, visto que a preparação para a cirurgia normalmente começa três horas antes da operação. O pastor deveria considerar a possibilidade de reunir-se com a família no hospital na manhã da cirurgia, permanecendo com eles até que o paciente esteja em recuperação.

Visitando uma Parturiente

Visitas ao andar de obstetrícia normalmente são felizes ocasiões. Elas dão oportunidade para que os pais e o pastor celebrem a ação maravilhosa e criativa do nosso Deus amoroso e para que discutam acerca do batismo, suas benções e dinâmicas.

Umas poucas palavras de precaução: O pastor deveria aderir às horas de visita previstas pelo hospital em consideração aos funcionários e às necessidades de privacidade que uma ala de maternidade possui. Quando uma criança nasce em um lar que tenha pai e mãe, o pastor pode desejar marcar sua visita de modo a coincidir com a visita do pai a fim de enfatizar o ministério familiar (encurtando, porém, a visita a fim de permitir que o esposo e a esposa tenham um tempo de privacidade). Em casos em que um recém-nascido não seja a "criança perfeitamente normal e saudável" pela qual todos oraram, o pastor precisará de um ouvido agudo que atente à dor espiritual e emocional específica que este fato trouxe aos pais e necessitará dar-lhes assistência com a certeza de um Deus gracioso e amoroso em Cristo.

O Cuidado Pastoral a Pessoas que Não Podem Sair de Casa

Em uma sociedade em que aumenta o número de idosos, cresce também o número de pessoas que não podem sair de casa ou que estão em asilos. Uma pessoa pode estar restrita às paredes de sua casa por várias razões; no entanto, muitos são velhos membros da congregação. Se negligenciados pela igreja em seu ministério, estes membros buscarão alimento e conforto espiritual em outras fontes. Pessoas deste tipo são especialmente vulneráveis à igreja eletrônica. O número de redes religiosas de televisões e rádios tem se multiplicado e pessoas encerradas em seus lares tem se enamorado de uma tal maneira por evangelistas de TV que algumas até já foram levadas a "participar" da Ceia do Senhor - sendo a "celebração" realizada na televisão e estando o comungante em sua sala de estar. Se este fenômeno não estiver indicando mais nada, pelo menos está mostrando que as necessidades espirituais de muitas pessoas que não podem sair de suas casas não estão sendo supridas por um ministro em pessoa.

Já que muitas pessoas reclusas a seus lares também desejam manter um vínculo significativo com a vida congregacional, deveria ser reservado tempo suficiente para colocá-las ao par das notícias da congregação, bem como para deixá-las expressar sentimentos e preocupações pessoais. O pastor pode adaptar sua mensagem devocional para incluir estas idéias na preparação para a confissão, absolvição e celebração da Ceia do Senhor. Caso a visita pastoral deva limitar-se a um tempo, isto não deveria ser feito às expensas do ministério da Palavra e do Sacramento.

O Cuidado Pastoral aos Doentes Mentais e aos Emocionalmente Perturbados

Um espírito evangélico, um coração pastoral e um julgamento que soe pastoral são especialmente necessários quando um pastor estiver prestando assistência a doentes mentais e a pessoas emocionalmente perturbadas.

Como em todas as visitas, o pastor mostrará à pessoa as promessas salvadoras de Deus, arraigadas na morte e ressurreição de Cristo, enfatizando especialmente a aplicação individual do perdão dos pecados. Já que muitos problemas mentais e emocionais parecem ter se originado de culpas não-resolvidas, o pastor determinará a conveniência de um ministério sacramental em cada situação individual. (Doença mental e perturbação emocional não desqualificam uma pessoa de receber a Ceia do Senhor.)

Quando um pastor fica sabendo que um membro foi internado, ele deveria determinar se é apropriado que ele visite o seu membro. Caso seja, ela também deveria informar-se acerca do programa de tratamento. Um telefonema para a instituição pouparia tempo de viagem, esforço e possível embaraço.

É da maior importância que o pastor, como parte da equipe de terapia, se encontre com o médico para determinar uma aproximação espiritual adequada. O pastor pode muito bem cultivar um relacionamento profissional com o médico, para que os esforços de ambos os apóiem mutuamente.

O Cuidado Pastoral aos Aprisionados

Em raras ocasiões, um membro da igreja é detido e aprisionado. A fim de fornecer cuidado pastoral adequado para esta situação, o pastor pode assegurar o membro de que estará com ele em suas circunstâncias dificultosas, sem presumir culpa ou inocência. O pastor não deveria ser prematuro em assegurar o perdão sem estar razoavelmente convencido de arrependimento genuíno.

O Pastor, sua Família e as Visitas Sociais

O pastor, sua esposa, ou sua família inteira podem ser convidados por membros da congregação - pelo pobre e pelo abastado, pelo que desde logo se ama ou pelo antipático - para reuniões sociais que vão de informais a formais. O pastor e sua família deveriam sempre conduzir-se de maneira a valorizar o ofício do ministério. A família não precisa ser totalmente informal e nem completamente sem humor a fim de ser "como Cristo". Não obstante, o pastor e sua família devem ser bem instruídos quanto às boas maneiras sociais para que, devido à falta de bons modos e de etiqueta adequada, não venham a tornar-se um embaraço. Já que os demasiados detalhes de etiqueta não podem ser listados aqui, ao menos a teoria que está por detrás deles pode: Mostrar consideração por todos e deixá-los à vontade de modo que o tempo de confraternização possa ser agradável e edificante.

Multiplicando o Cuidado Através dos Leigos e Entre Eles

Algumas congregações vêem as visitas espirituais como sendo apenas da responsabilidade do pastor. Apesar disso, as ordens bíblicas para visitar os enfermos, confortar os abatidos e ir ao encontro dos aprisionados são válidas para todos os cristãos.5 Por conseguinte, como um aspecto importante de sua responsabilidade, o pastor equipará membros leigos para os serviços aos quais eles têm os talentos requisitados (Ef 4). Ele recrutará, treinará (através de liderança e exemplo) e designará membros da congregação para as áreas vitais do cuidado cristão, aplicando a doutrina do sacerdócio universal para a bênção mútua da congregação inteira.

Prioridades e Perspectivas

Que tipo de visita exige prioridade: aquelas feitas aos membros regulares, aos prospectos, ou aos negligentes? Todas as visitas são vitais, ainda que algumas sejam mais urgentes que outras. As restrições de tempo requerem o julgamento pastoral no sentido de decidir qual a visita a ser feita primeiro. Como um princípio geral, dê prioridade aos cristãos mais próximos do fim de suas vidas - os enfermos em estado crítico e terminal - seguidos pelos idosos que já não podem sair de casa. (Este princípio não impede que se mude a ordem de importância na lista quando circunstâncias exigirem ajustes.)

Não importa qual seja a prioridade, seja a "imagem" (seja um imitador e modelo) de Cristo, o qual "teve compaixão". Ele ministrou em situações que envolviam a ele e uma outra pessoa, bem como a grupos. Jesus não apenas colocou-se à disposição, mas ele buscou ativamente o necessitado. Pastores fiéis farão o mesmo, tomando a sério o aspecto encarnado do ofício pastoral. Visitar fielmente e cuidar das pessoas talvez seja a maneira mais concreta pela qual um pastor possa mostrar que ele foi tocado pelo Evangelho e, como um pastor subordinado a Cristo, pode atender compassivamente aqueles que foram confiados ao seu cuidado.

O PASTOR CHAMADO

CONFISSÃO E ABSOLVIÇÃO INDIVIDUAL

2 Confissão e Absolvição Individual

A confissão-absolvição particular (i.e., individual)1 pode ser a atividade mais importante do pastor no papel de Seelsorger. Justamente como Deus providencia salvação aos indivíduos de forma geral (veja, e.g., Sl 51.10; Jr 31.18; Mt 18.12-14; Jo 3.5-6; 1Co 12.3), assim também a confissão-absolvição particular atinge o indivíduo. Isto não é nenhuma outra coisa do que aplicar o Evangelho em sua plenitude a uma alma magoada. A conexão entre a absolvição (não importa a maneira como seja aplicada) e o Oficio das Chaves não foi perdida nas Confissões (veja, e.g., AE, III, VIII, 1). Por conseguinte, a Augustana afirma, "Da confissão se ensina que se deve conservar a privada absolutio, não a deixando cair em desuso na igreja" (CA, XI, 1). E Lutero pode dizer, "Quando eu incentivo você a ir à confissão, eu simplesmente estou incentivando você a ser um cristão" (CMa., V, Breve Exortação, 32).

O foco da confissão-absolvição, de fato, não está sobre a enumeração de pecados, mas sobre a absolvição e sobre Deus, o qual a concede através de sua igreja. As Confissões asseguram, pois nós também mantemos a confissão, mormente por causa da absolvição, a qual é a palavra de Deus que o poder das chaves pronuncia, por autoridade divina, com respeito a indivíduos. Seria ímpio, por isso, eliminar da igreja a absolvição particular. (Ap., XII, 99-100)

Assim, se houver um coração que sinta seu pecado e deseje consolação, aqui ele tem um refúgio seguro quando ouve na Palavra de Deus que, através de um homem, Deus o liberta e absolve de seus pecados. (CMa., V, Breve Exortação, 14)

Ao mesmo tempo se instrui diligentemente o povo sobre...em quão elevada estima se deve ter a absolvição. Pois não é a voz ou palavra do homem que a pronuncia, senão palavra de Deus, o qual perdoa os pecados. Porque é pronunciada em lugar de Deus e por ordem de Deus...Ensina-se, além disso, como Deus exige que creiamos nesta absolvição, não menos do que se a voz de Deus soasse do céu, e que alegremente nos devemos consolar da absolvição e saber que por esta fé alcançamos a remissão dos pecados. (CA, XXV, 2-4)

Nós aconselhamos: Se você for pobre e miserável, então venha e faça uso do remédio que cura. Aquele que sente sua miséria e necessidade criará um tal desejo pela confissão que correrá em direção a ela com alegria. (CMa., V, Breve Exortação, 26-27)

Embora algumas seções das Confissões (e.g., a Augustana) focalizem especialmente a confissão-absolvição particular entre o pastor e o indivíduo leigo, o Livro de Concórdia não limita este dom de Deus a esta modalidade. No Catecismo Maior, por exemplo, escrito em 1529, Lutero fala de três tipos de confissão;2 a feita particularmente a Deus; a realizada a um semelhante contra quem se pecou; e a que se faz particularmente ("secretamente") a uma terceira parte - as duas primeiras modalidades são exigidas e a terceira é "deixada para alguém usar quando for necessário fazê-lo".3 Todavia, no tocante à confissão-absolvição, Lutero acrescenta que

Se você é um cristão, você deveria ficar alegre ao ponto de correr mais de cem milhas para a confissão [particular], não sob compulsão, mas vindo e compelindo-nos [os pastores] a oferecê-la. Pois aqui a compulsão deve ser invertida: nós devemos comparecer sob a ordem e você deve vir em liberdade. Não compelimos a ninguém, mas permitimos que nós próprios sejamos compelidos, assim como estamos compelidos a pregar e administrar os sacramentos.

O Lugar da Confissão-Absolvição no Aconselhamento Pastoral

Walther J. Koehler ressalta em sua obra Counseling and Confession ("Aconselhamento e Confissão"),4

Hoje, poucas pessoas vêm ao pastor com a intenção de fazer uma confissão formal. Ao invés disso, eles vêm discutir problemas, buscar orientação e ajuda e ponderar sobre a vontade de Deus para suas vidas...Uma das conclusões deste estudo é de que o processo de aconselhamento pastoral poderia servir como uma excelente preparação para o ato de confissão individual dos pecados.

Numa certa medida, a proclamação do perdão dos pecados (o ingrediente-chave em todo o ministério público, incluindo a confissão-absolvição particular) excluem as atividades normalmente associadas com "aconselhamento" - identificar problemas, estabelecer metas, etc. No entanto, a confissão-absolvição particular e o aconselhamento juntos podem ser descritos como um médico lidando com alguma doença de pele que coça e se espalha. Para agir corretamente, o doutor entende que seu objetivo primordial é curar a doença; mas, ao mesmo tempo, ele precisa tratar suas manifestações externas para que a doença, por causa da coceira, não se espalhe e se torne mais difícil de curar. Similarmente, o pastor compreende que usará o Ofício das Chaves (1) para tratar a doença verdadeira do pecado que a humanidade carrega, bem como (2) para ajudar o indivíduo a vencer a manifestação do pecado que transparece na ruptura dos relacionamentos humanos.5

Algumas Sugestões Práticas para o Uso da Confissão-Absolvição no Aconselhamento

Descobrir o Pecado que Está Envolvido. Em alguns casos, isto será difícil. Por exemplo, uma pessoa pode vir com um sentimento de culpa no tocante a algo que não seja pecado - e.g., um adulto solteiro quer mudar-se da casa dos pais a fim de estabelecer individualidade psicológica. Se, neste exemplo, o adulto solteiro necessita da reafirmação da graça de Deus, o pastor não deve negá-la. Porém, o pecado da hostilidade, que pode existir entre aquela pessoa e seus pais não deveria ser confundido com a necessidade adulta de separação/individualidade psicológica. Assim, fechando o círculo, a absolvição pode ser usada para libertar este adulto solteiro de uma falsa culpa, a fim de que as técnicas de aconselhamento possam auxiliar esta pessoa a entender e a lidar tanto com a necessidade psicológica quanto com o pecado descoberto da hostilidade, o qual recebe tratamento na absolvição.

Alguns penitentes virão à absolvição completamente conscientes de seu pecado. Caso seja assim, o pastor não deveria onerar as consciências indevidamente pedindo detalhes e explicações - o que pode, contudo, sugerir ao penitente que o pecado seja demasiadamente sem importância ou justificável.

Por outro lado, a absolvição formal nem é exigida e nem apropriada a todas as situações no aconselhamento. Em alguns casos, o aconselhando pode estar buscando auxílio para lidar com uma questão na qual o pecado, per se, não está envolvido. Em outros casos, o aconselhando pode não estar pronto ou não ser capaz de confessar qualquer culpabilidade. E alguns aconselhados virão em busca de ajuda para aplicar a graça de Deus que eles já conhecem a fim de que esta graça lhes pertença mais confiantemente. Somente quando o pastor atenta ao coração de uma pessoa, ele irá determinar a necessidade de uma confissão-absolvição particular.

Formalizar e Pronunciar a Absolvição. A fim de que o aconselhando não entenda erradamente que a absolvição do pastor esteja condicionada a algum fator humano (tal como uma completa enumeração de pecados, uma intenção de realizar certas ações para reconciliar-se com a pessoa que fora magoada, etc.), e a fim de que o aconselhando não confunda a absolvição com algum sábio conselho geral, o pastor fará bem ao estabelecer um método que apresente claramente a palavra de absolvição como aquilo que ela realmente é. No mínimo, ele pode usar as mesmas palavras que a pessoa está acostumada a ouvir durante a Liturgia Divina,

Por causa da vossa confissão, eu, como ministro da Palavra, chamado e ordenado, [vos] anuncio a graça de Deus e, em lugar e por ordem de meu Senhor Jesus Cristo, perdôo [todos] o[s] [vossos] pecado[s] em nome do Pai e do † Filho e do Espírito Santo.6

O rito para a Confissão e Absolvição Individual (Lutheran Worship, "O Culto Luterano", p. 310-11) possibilita encontrar esta recomendação para que se formalize a absolvição, embora (dependendo das circunstâncias) o penitente possa achar que seu uso seja formal demais. Neste caso, o pastor pode simplesmente ouvir a confissão, pronunciar a absolvição, fazer uma oração em favor do penitente, dirigir a Oração do Senhor e pronunciar a bênção.

Em adição a isto, a postura do corpo e o lugar podem ajudar a enfatizar a absolvição como proclamação. Por exemplo, o pastor pode colocar sua mão sobre a cabeça inclinada do penitente e, em nome de Cristo, fazer o sinal da cruz em sua fronte (em lembrança ao mesmo sinal que é feito no Batismo). Se a sessão de aconselhamento for realizada na sacristia/escritório da igreja, o pastor e o aconselhando podem ir até a grade do altar ou próximo da pia batismal para a confissão e absolvição. Dependendo da reação local prévia, pastor pode até mesmo paramentar uma estola para simbolizar melhor que ao pronunciar a absolvição, ele está agindo como representante de Cristo no ministério público.

Confidencialidade. Na medida que pronunciar a absolvição é ser a voz de Deus, ouvir a confissão é ser os ouvidos de Deus. À oração confessional do Salmo 51 que diz: "lava-me completamente da minha iniqüidade e purifica-me do meu pecado...cria em mim, ó Deus, um coração puro", a absolvição responde com o Salmo 103.12: "Quanto dista o Oriente do Ocidente, assim [Deus] afasta de nós as nossas transgressões". Por conseguinte, sob nenhuma circunstância um pastor deveria revelar qualquer coisa que tenha sido contada a ele em confissão por um penitente. Normalmente, o assim chamado selo confessional será reconhecido e respeitado pelas autoridades civis, mas, mesmo que não seja, o pastor deve honrá-lo por causa das promessas que fez solenemente perante o altar e a congregação em sua ordenação e instalação (i.e., não divulgar os pecados confessados para ele. Lutheran Worship Agenda, "Agenda Luterana de Culto", p. 212, 225). O pastor que emprega as moléstias que ouvira em confissão (mesmo que de uma paróquia anterior) como "forragem do sermão" afugenta seu rebanho desta que é a mais abençoada oportunidade para a justificação personalizada.

O pastor pode ser confrontado com o raro dilema de ouvir a confissão de um pecado que também seja um crime cruel (e.g., o abuso físico de natureza criminosa de uma criança ou um assassinato). Tal penitente deveria ser encorajado a entregar-se às autoridades civis, assegurando que o Senhor vai com ele e confiando que o Espírito Santo, que operou o arrependimento em seu coração, irá dar-lhe a força para (1) fazer as pazes com seu semelhante, (2) fazer a restituição àqueles contra quem ele errou e (3) submeter-se às autoridades, mesmo que seja para receber a punição do Estado que Deus instituíra para ele. O pastor pode oferecer-se para acompanhar o penitente nesta sua jornada mais difícil, de modo tanto a fortalecer seu relacionamento pastoral, como a manter a confiabilidade da confissão. Se todos os esforços de persuadir a pessoa a confessar resultarem inúteis, o pastor pode questionar se a confissão que ele ouvira foi uma confissão verdadeira para Deus.7 Na eventualidade de o pastor sentir que ele deva reportar a informação às autoridades civis, ele deveria informar o penitente de sua intenção de fazê-lo, assim que ele evite ser acusado de "traição da confiança". O pastor não pode permitir que ele mesmo venha a tornar-se um cúmplice do crime por apoiá-lo através do silêncio e, assim, difame a igreja como povo de Deus. Nenhuma resposta simples pode ser dada com relação a "como" resolver este dilema: isto é parte do desgosto que está lado a lado das alegrias de ser um Seelsorger.

Encorajando a Confissão-Absolvição Individual na Congregação

Devido à realidade da vida religiosa na América do Norte, poucas congregações e leigos têm realmente experimentado a liberdade e o alívio prazeirosos da justificação personalizada oferecidos na confissão particular - e, portanto, pode ser incerto tentar praticá-la.

Um procedimento que tem sido considerado útil por parte de alguns pastores é um culto no meio da semana no período da Quaresma (ou Advento), o qual inclua uma litania confessional seguida pela absolvição individual junto ao altar, com o pastor falando o nome de cada pessoa. Ainda que esta modalidade certamente não seja tão intensa quanto a absolvição que se segue à confissão particular, leigos que experimentaram esta absolvição pessoal restrita relatam que ocorre um aumento da compreensão do impacto da graça de Deus.

Embora não requerida como tal, o pastor pode procurar empregar e efetivamente usar a confissão feita durante o aconselhamento como uma ocasião para a absolvição pronunciada. O ato de pronunciar pode parecer "fora de propósito" ao penitente, mas a percepção disso permite ao pastor explicar o seu papel como conselheiro pastoral que age sob o Ofício das Chaves.

Em acréscimo, o pastor pode muito bem separar uma tarde do meio da semana (ou um horário no sábado) para "visitas ao pastor no seu escritório" - um momento que normalmente não impediria ninguém de marcar um horário. Anunciar essa ocasião como (entre outras coisas) "um momento para conversar sobre como a graça e o amor de Deus tocam as dificuldades da vida" irá ajudar o leigo a antecipar alguma coisa a mais do que uma simples conversa.

Um retiro (e.g., para o concílio da igreja, clube de casais, ou jovens) fornece uma oportunidade excelente para exercer a prática da confissão-absolvição particular. Após o pastor ter feito uma preparação adequada no retiro, podem ser destinadas de uma a duas horas para auto-exame particular, durante as quais o pastor está disponível para confissão-absolvição particular. Ainda que apenas uma pessoa aproveite a oportunidade, sua utilidade e benefício contínuos já estarão comprovados.

Da mesma maneira que é tão importante tornar a confissão-absolvição particular disponível aos leigos, igualmente importante é a confissão particular e a recepção da absolvição pelo próprio pastor. Ainda que permitidas, nem a confissão nem a absolvição particular do pastor são ordenadas na Escritura: mas o pastor pode louvar intensamente os benefícios disto que ele próprio nem mesmo provara. E ele nem será adequadamente útil na superação das hesitações de seus paroquianos se ele mesmo não tiver descoberto e lidado antes com as suas próprias. O pastor que faz a confissão particular e recebe a absolvição particular logo se regozija com Lutero:

Se eu soubesse que Deus estaria num certo lugar e me absolveria, eu não iria para nenhum outro lugar, mas receberia a absolvição neste lugar tão freqüentemente quanto eu pudesse.8

CONFISSÃO E ABSOLVIÇÃO INDIVIDUAL

ACONSELHAMENTO

3 O Pastor como Conselheiro

Os membros de uma congregação esperam que seu pastor alimente a vida e a fé cristã deles, bem como que os ajude nos problemas particulares que eles têm. Ainda que a maior parte dos pastores não sejam primordialmente treinados ou chamados para exercer o papel de conselheiros, freqüentemente eles servem nesta área. Desde que organizado de acordo com as extensas pesquisas e práticas do vasto campo do aconselhamento e beneficiando-se delas, o aconselhamento pastoral individual está planejado para facilitar a aplicação da Lei e do Evangelho de Deus àqueles que vêm ao pastor em busca de ajuda na resolução de problemas e na retificação de suas vidas. Em acréscimo a todos os recursos da fé cristã (veja, e.g., Unid. IV, 2, sobre confissão-absolvição), o pastor também emprega técnicas de aconselhamento compatíveis com a Escritura.

A Compreensão Teológica do Aconselhamento Individual

O objetivo do aconselhamento pastoral é o mesmo alvo de tudo o que o pastor faz: Oferecer paz dos pecados, perdoados através de Cristo, cujas obras efetuam uma mudança substancial e radical de mente e de vida.

Os seres humanos, devido ao pecado, por nascimento são espiritualmente falidos, meras cascas de humanidade. A fim de que qualquer ser humano ainda viva algo do potencial que Deus planejou (santificação), ele deve tornar-se consciente de seu triste estado; confiar que Jesus Cristo tem coberto a pecaminosidade de todas as pessoas e oferecido, através da fé, o potencial para a plenitude; e perceber que o Espírito Santo realiza esta mudança no ser integral do indivíduo.

Esta base indispensável ao aconselhamento pastoral é resumida por São Paulo em 2 Coríntios 5.17-20:

E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as cousas antigas já passaram; eis que se fizeram novas. Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação...Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus.

É sobre a base desta obra reconciliatória de Deus em Cristo que São Paulo faz seu apelo em Romanos 12.1-2,

Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o nosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

Estas palavras de São Paulo mostram claramente que o aconselhamento pastoral é a divulgação das misericórdias de Deus. E isto tem como seu efeito supremo a renovação da mente pela transformação dos pensamentos, dos sentimentos e do comportamento - tudo isto com vistas à obediência da vontade de Deus e à plenitude e felicidade pessoais.

Com este propósito, o pastor usa a confissão, a absolvição e a oração no aconselhamento e incentiva a participação da pessoa adequadamente preparada na celebração da Ceia do Senhor na congregação.

Alguns Específicos do Processo do Aconselhamento Pastoral

A tarefa do aconselhamento pastora inicia-se com o conselheiro e o aconselhando identificando problemas. Tanto as questões óbvias quanto as que estão na base - especialmente aquilo que faz parte da natureza pecaminosa de uma pessoa e os problemas que isto causa (Rm 7.15-23). Após isto, eles devem concordar em objetivos e estabelecer metas para mudanças no comportamento pessoal, identificando impedimentos ao alcance destas metas, e determinar o que deve ser feito para superar os obstáculos e atingir os objetivos. Quando o conselheiro é um pastor, ele tem o ministério e o privilégio especiais de comunicar o Evangelho como o meio próprio de Deus para realizar tudo isto (Rm 7.24-8.16).

Normalmente, o aconselhamento pastoral deveria ser de curta duração (um período de seis a oito sessões) cumprindo um programa estabelecido em acordo mútuo. Tal acordo entre as duas partes deveria ser revisto e modificado de tempos em tempos com a concordância de ambos. Quando parecer aconselhável, o pastor pode sugerir que se recorra a um especialista. No entanto, recorrendo a um especialista, o pastor continua ligado ao aconselhando exclusivamente como um conselheiro espiritual e, dependendo das circunstâncias, algumas vezes em cooperação com o terapeuta principal.

O sucesso do conselheiro pastoral na tarefa de falar a verdade em amor requer que ele ouça carinhosa e cuidadosamente antes de falar, de modo que o aconselhando seja capaz de ouvir a Palavra tão acurada e não-defensivamente quanto possível e não resista ao Espírito Santo agindo através da Palavra numa discussão franca. Para fazer assim, o pastor deve evitar tornar-se defensivo (do mesmo modo como ele também auxilia o aconselhando a não ser defensivo).

Tanto quanto possível, o pastor que aconselha adota uma aproximação não-diretiva-diretiva. Ele começa com as pessoas onde elas estão e as leva a analisar seus problemas e descobrir a ajuda que Deus tem para elas. Para ter um excepcional modelo bíblico deste tipo de aconselhamento, leia o diálogo de Jesus com a mulher samaritana no poço de Jacó (Jo 4.1-26).

Princípios de Diagnose

A maioria dos pastores paroquiais não são profissionais da área de saúde mental e não têm nenhum treinamento clínico para diagnosticar desordens mentais. Contudo, os pastores precisam ser especialistas em diagnosticar problemas espirituais, sobre os quais se espera que eles tenham especial competência e responsabilidade. Um conselheiro pastoral não deve ficar satisfeito em pensar somente em termos médicos e psicológicos. Seu papel primordial é compreender teologicamente as preocupações das pessoas e providenciar recursos teológicos para as necessidades delas.

Paulo W. Pruyser, em seu livro The Minister as Diagnostician1 ("O Ministro como Diagnosticador"), no capítulo "Guidelines for Pastoral Diagnoses" ("Orientações à Diagnose Pastoral"), sugere que se explore uma variedade de temas com o aconselhando: O sagrado, Fé, Graça, Arrependimento [que, o pastor luterano sabe, vai além do pecado e culpa], Providência, Relacionamentos, Vocação.

Para estes assuntos, Pruyser oferece as seguintes questões:

O que é sagrado para o aconselhando?

O aconselhando confia em Deus e em sua Palavra?

O aconselhando sente necessidade da graça de Deus, bem como sente gratidão pelas coisas boas que recebe da parte de Deus?

O aconselhando sente pesar pelo pecado, aceita a responsabilidade por seu comportamento e busca o perdão de Deus e a graça para melhorar sua conduta?

O aconselhando sente que Deus tem cuidado por ele em vida e em morte?

O aconselhando sente-se alienado dos outros ou envolvido com outros?

O aconselhando tem um sentimento de missão e uma vontade de participar nos propósitos de Deus?

Características de Relacionamentosque Visam Cuidado e Ajuda

A maneira do conselheiro pastoral relacionar-se com seu aconselhando é de extrema importância. Notem-se bem as três características primordiais de um relacionamento que visa cuidado e ajuda: consideração positiva para com o aconselhando, autenticidade e empatia.

Consideração positiva combina calor humano, carinho, aceitação e respeito pela pessoa. Quanto o pastor expressa o amor de Deus, ele aceita, valoriza e respeita as pessoas - sem necessariamente concordar com tudo o que elas pensem, digam e façam.

Autenticidade significa que o pastor seja genuíno e verdadeiro (Gl 4.16), que evite encenação e defensividade, e que suas palavras e comportamento combinem com seus sentimentos interiores.

Empatia é a habilidade de perceber, numa medida ou em outra, a experiência de uma pessoa e comunicar tal compreensão para o indivíduo. O pastor escuta quando o aconselhando fala; e ainda que ele não possa identificar-se com a experiência da pessoa e nem aprová-la, ele começa a compreender o que a pessoa sente. Ele se importa com aquilo que o aconselhando tem experimentado e lhe responde demonstrando que compreende o que o aconselhando disse.

O Ciclo do Abuso

O abuso físico ou sexual, que destrói tanto os indivíduos quanto seus familiares, não é direito de ninguém. No entanto, alguns perpetradores, com consciências confusas e errantes, usam as passagens de Provébios 23.13-14 ou Efésios 5.22 para justificar seus padrões abusivos, ignorando as passagens de Mateus 18.6 e Efésios 5.25, bem como o Quinto Mandamento.

Este ciclo abusivo do comportamento humano dentro da estrutura familiar é bem conhecido pelos psicoterapeutas, por agências que impõem o cumprimento da lei e por organizações de assistência à vítima. Desde que os membros da comunidade cristã não estão imunes a este padrão de comportamento pecaminoso, o pastor precisa conhecer como funciona o ciclo e que recursos (em adição à Lei e ao Evangelho) estão disponíveis tanto para os abusadores como para as vítimas da família. O pastor precisar ter em mente que ele, tanto quanto a família e a comunidade, pode ficar tão surpreso pela presença do abuso que negue a realidade do problema e, da maneira como a família faz freqüentemente, permita a continuidade do abuso desmoralizante. O pastor também precisa lembrar que sua responsabilidade não é cuidar do problema ou da transformação da família, mas ele precisa aplicar a Lei e o Evangelho de tal forma que o Espírito Santo possa trabalhar em todos aqueles que estão envolvidos no caso.

Como Funciona o Ciclo

Algumas vítimas chegam a acreditar que elas mereçam o abuso e/ou desmereçam um relacionamento com o abusador a menos que sofram - encorajando, deste modo, o abusador e completando o ciclo abusivo. Neste ciclo, tanto o abusador como a vítima freqüentemente tornam-se "prisioneiros" do comportamento destrutivo. Mesmo que eles desejem parar com este comportamento prejudicial, pode ser que eles não tenham os recursos internos para tal.

Assim como em qualquer falha no relacionamento humano, o problema é o pecado - mas esta afirmação genérica não é suficiente para ajudar o pastor ou a família que se viram pegos pelo ciclo do abuso a aplicar a Lei adequadamente. Nesta situação, o pecado enredou-se de tal maneira na tela da vida e fiou o seu tecido que a vida parece não ser mais trajável para aqueles envolvidos pelo abuso. Já que o pastor nunca abdicará de seu papel como Seelsorger, aqueles que estão enredados pelo abuso necessitam de ajuda psiquiátrica humana para desemaranhar suas vidas de modo a que não mais evitem que a Lei aponte para os verdadeiros problemas e que o Evangelho não mais seja impedido de ter seu controle completo.

Flagrados neste ciclo co-dependente, tanto o abusador quanto a vítima precisam reconstruir seus recursos internos (físicos e psicológicos, bem como espirituais) e rever seus padrões familiares a fim de parar o ciclo. O pastor, aplicando Lei e Evangelho, será de significante auxílio (especialmente à luz de Rm 8.22-25). Todavia, não importa o quanto ele seja habilidoso, normalmente o pastor não será capaz de, sozinho, quebrar o padrão cíclico.

A Responsabilidade Legal do Pastor

Apesar da "santidade da confissão", as leis federais e estaduais exigem que o pastor comunique casos de abuso às autoridades policiais locais. A relutância em comunicar o abuso torna o pastor sujeito à prisão. Portanto, ele deveria aceitar a lei como um benefício. A proteção das autoridades policiais o poupam de tentar resgatar ou quebrar o ciclo do abuso sozinho. Assim o pastor é capaz de desempenhar seu papel próprio transmitindo os meios da graça a todas as partes envolvidas.

Compreendendo as Vítimas

Olhando para além das personalidades individuais e dos estilos de reação, as vítimas apresentam alguns padrões comuns. Todas foram traumatizadas. Todas perderam o controle sobre o que aconteceu a seus corpos e suas mentes. Devido ao fato de elas terem sido incapazes de parar a experiência desagradável, elas sentem-se totalmente desamparadas e podem vir a adaptar-se a repetidos abusos.

Dentre as vítimas, podem estar incluídos não apenas esposas, mas também esposos, crianças, bem com pessoas idosas. Acerca destes últimos, o pastor pode ser uma das poucas pessoas a notar que alguém que é incapaz de sair de casa está sendo vítima de abuso e, por conseguinte, a única pessoa que pode comunicar o abuso às autoridades.

As vítimas necessitam de proteção para cessar o abuso. As promessas do tipo "nunca vai acontecer de novo" feitas pelo perpetrador podem ser sinceras, mas sem sentido. O perpetrador normalmente precisa ser processado antes que pare de abusar. Por conseguinte, a base de força de uma vítima cresce tremendamente quando ela aprende que o sistema judiciário punirá o abusador e providenciará proteção para ela.

Para romper o padrão, a vítima pode ter de ser separada do abusador. Muitas comunidades sociais têm abrigos para mulheres que sofreram abuso. Algumas têm "disque-violência". Cada comunidade social tem uma agência designada para proteger crianças de abuso ou negligência e providenciam lugares para eles. Algumas crianças vítimas de abuso são postas com parentes que não abusem delas, outras, aos cuidados da adoção, e outras ainda, em casas guardiãs de crianças. A maioria das comunidades agora também possuem meios que protejam os idosos de abuso.

Freqüentemente, as vítimas necessitam de terapia de longa duração a fim de recuperar-se do trauma do abuso. Elas precisarão recontar sua história muitas vezes para recobrar o controle de si próprias. Elas precisarão reaprender o valor de suas vidas aos olhos de Deus e aos seus próprios olhos (Ef 1.4; Jo 10.27-28).

Ministrando ao Abusador

Por causa da natureza viciosa do abuso, os perpetradores freqüentemente negam o abuso e fingem que tudo está direito. Quando eles realmente admitirem o abuso, geralmente colocarão a responsabilidade pelo abuso sobre a vítima ou outro membro da família.

Quando a Lei revelar o abuso, o perpetrador deverá aceitar a responsabilidade total por suas ações. Quando isto ocorre, freqüentemente o perpetrador sente um profundo remorso - e um completo desamparo que pode levá-lo à depressão ou mesmo ao suicídio. Em adição à Lei, o perdão de Deus e o apoio do pastor são ardentemente necessários. O pastor precisa ouvir e ser compassivo ao guiar o ofensor a confiar no perdão, na força e na esperança de Deus em Cristo (cf. especialmente Rm 8.1-11; Fp 4.13; 1Co 10.13). Contudo, o pastor deveria admitir que os problemas psicológicos continuam a existir e comumente conduzirão a mais problemas a menos que seja obtida ajuda externa.

Tal ajuda adicional normalmente pode ser ordenada pelo tribunal. Mesmo assim, os abusadores usualmente desistirão do programa (a menos que haja pressão para que eles continuem) porque um tratamento eficaz é desconfortável. Alguns são melhores candidatos à recuperação do que outros; e alguns perpetradores precisam ser separados permanentemente de suas vítimas potenciais.

O pastor, de fato, coordenará seu tratamento do problema espiritual com o trabalho de aconselhamento dos profissionais que estiverem labutando com o ofensor e a família. Muitas verificações e averiguações precisam estar em equilíbrio de modo que o comportamento abusivo não reapareça.

Ministrando à Família

Normalmente, os membros da família devem ser envolvidos no aconselhamento em algum grau e, ainda que resistam, devem relembrar o processo, crendo que eles não sejam parte do problema. De fato, cada membro do sistema familiar é afetado. Particularmente, quando a vítima e o perpetrador continuarem a viver juntos na mesma casa, o novo sistema de defesas e precauções precisa ser fortalecido o suficiente para proteger a vítima. A "Lei" ainda faz-se necessária como freio porque o pecado ainda está presente - e sempre estará (mesmo na casa mais pacífica).

O pastor pode ajudar a família vítima de abuso a parar de negar que a família tenha um problema e ajudá-los a encarar a vergonha profundamente arraigada que freqüentemente está presente. Os membros não-abusadores de uma família podem ter uma série de sentimentos que precisam expressar - culpa, ciúme, raiva e rejeição. O pastor pode auxiliar os membros da família a expressarem seus sentimentos - o que deve ser realizado antes de a família poder ouvir o perdão, a compreensão e a aceitação de Deus, os quais são oferecidos pelo pastor. E ele pode ajudar os membros da família a encontrar a sua parte na solução.

Para resumir: O papel do pastor é:

1. Comunicar o abuso à agência local de imposição do cumprimento da lei, porque o pecado do abuso é um crime.

2. Ouvir os pensamentos e os sentimentos dos membros da família envolvidos por um ciclo abusivo e aplicar a Lei e o Evangelho para a situação específica.

3. Ajudar a romper o ciclo do abuso trabalhando cooperativamente tanto com as autoridades locais quanto com os centros locais de aconselhamento vendo a aplicação da Lei também em seu aspecto teológico (o primeiro uso da Lei, como freio), acrescentado à dimensão espiritual do perdão e do poder que o Espírito tem de transformar vidas.

O Pastor e a Possível Demanda Judicial

Anos atrás, era virtualmente impensável e desconhecido o fato de convocar o pastor a uma corte por causa de má conduta. Até agora, tal demanda judicial (exceto por acusações criminais e morais) tem sido mais uma questão de aborrecimento do que uma questão de peso. Contudo, casos de demanda judicial evidentemente aumentarão e exigirão mais atenção.

O pastor pode tomar certas medidas para prevenir incidentes que poderiam vir a acionar uma demanda judicial, especialmente no que concerne a episódios envolvendo disciplina eclesiástica e aconselhamento.

Os procedimentos de disciplina eclesiástica e a base bíblica para os mesmos deveriam ser cuidadosamente explicados como uma parte da instrução daqueles que querem tornar-se membros da igreja. Como uma condição para ser membro da igreja, a pessoa deveria compreender e ser capaz de explicar como o procedimento é implementado na congregação - e concordar com o mesmo.

No aconselhamento, o pastor precisa manter seu papel próprio oferecendo cuidado pastoral. Quando as pessoas vêm ao pastor trazendo consigo seus problemas, ele irá colocá-las no contexto do cuidado pastoral, lembrando a elas de que ele não é um conselheiro especializado e que ele aconselha através da aplicação dos princípios escriturísticos, usando a Lei e o Evangelho da maneira apropriada. O pastor deveria prontamente submeter casos que vão além de sua competência a "profissionais" e não desviar-se de sua própria "profissão" de aplicar a Lei e o Evangelho.

Nas sessões programadas de aconselhamento, o pastor deveria servir apenas àqueles que são membros de sua congregação. Se ele tentar ajudar uma pessoa de fora, é especialmente importante que a pessoa entenda que o pastor não é um conselheiro profissional, mas um pastor que usa a Bíblia como seu recurso primordial. Seu aconselhamento provém de uma estrutura teológica e não de psicologia clínica, de sociologia ou de técnicas de aconselhamento profissional.

Independente de quem ele aconselhe, primeiro de tudo o pastor deveria ressaltar os princípios bíblicos que aplica (usando passagens bíblicas específicas). Seguindo-se a isto, ele pode sugerir alternativas agradáveis a Deus e possíveis soluções, mas deveria evitar recomendações para ações específicas. O aconselhando deve decidir o que é certo, o que é melhor sob tais circunstâncias e o que ele ou ela irá fazer, visto que o aconselhando deve conviver com as conseqüências da decisão.

O pastor precisa exercitar uma discrição especial quando estiver aconselhando mulheres - e não somente por causa do medo de uma demanda judicial. Ao buscar ajuda, algumas mulheres não conseguem evitar tornarem-se emotivas no relacionamento empático apropriado que o pastor lhes proporciona. Algumas extrapolam o relacionamento desenvolvem uma dependência do pastor; e algumas tornam-se romanticamente presas a ele.

E o próprio pastor também não está além da tentação que Lutero descreveu como "a mecha inflamável da carne pecaminosa". O pastor também é vulnerável; ele precisa estar atento a isto em todos os momentos e evitar conscientemente a tentação. Portanto, o pastor deveria ter cuidado quanto ao lugar onde ele se encontra com uma aconselhando. Uma simples regra geral é colocar a aconselhanda entre o pastor e a porta de saída da sala e manter alguma distância física. Em algumas situações, ele requererá que uma terceira parte esteja presente a fim de evitar qualquer aparência de inconveniência (e possível calúnia).

Considerações finais

Embora o pastor tenha uma quantidade limitada de tempo para aconselhamento e apesar de normalmente não ter sido treinado para o cuidado de longa duração como um psico-terapeuta, o pastor pode dar um auxílio ímpar à pessoas como conselheiro espiritual que atua em caráter de curta duração. Freqüentemente, ele tem a vantagem de um relacionamento pastoral de longa duração com seu aconselhando e, como resultado disso, tem acesso ao lar e à família do aconselhando.

O pastor deveria dedicar-se ao aconselhamento com uma profunda convicção de que ele tem muito a oferecer. Ele possui os recursos essenciais para ajudar as pessoas que tenham problemas pessoais, recursos estes que conselheiros humanísticos não possuem e que mesmo outros conselheiros cristãos podem não ser capazes de usar de maneira eficaz. Estes recursos são a Lei e o Evangelho, a Palavra de Deus que capacita as pessoas a terem uma vida abundante e eterna em Jesus Cristo através da obra do Espírito Santo.

Mesmo quando o pastor decidir que seja apropriado recorrer a conselheiros profissionais (preferencialmente a terapeutas cristãos), ele tem um ministério válido que apoia e fortalece o aconselhamento que outras pessoas podem prover. Independente do que o conselheiro profissional possa fazer, o cristão ainda precisa do apoio e do acompanhamento de um cuidado pastoral competente.

ACONSELHAMENTO

OS IDOSOS

4 O Ministério da Palavra e do Sacramento com os Idosos

Os Idosos na Igreja

Mais e mais, os Estados Unidos da América pertencem ao idoso. Os aposentados comuns podem esperar desfrutar outros 15 ou 20 anos de relativa boa saúde. Num sentido que cresce rapidamente, o idoso é o futuro da igreja.1

A igreja sempre teve membros idosos. Em dias passados, quando famílias grandes ocupavam nossos bancos, os idosos não eram apontados como um grupo com problemas singulares. A igreja corretamente continua opondo-se à opinião simplista de que todas as pessoas de uma certa idade ou idosas sejam categoricamente consideradas um problema.2 Pelo contrário, qualquer que seja a idade das pessoas, elas continuam sendo indivíduos que carregam as características da personalidade e praticam aquilo que sempre fez parte de suas vidas.

Oportunamente, os adultos idosos freqüentemente têm orgulho legítimo da sabedoria que provém do fato de terem "feito a sua parte" na educação infantil, por terem contribuído para a sociedade através de sua força de trabalho, por terem orientado a congregação local sobre como lidar com a morte da geração anterior, por encararem suas próprias limitações físicas e, por fim, por sua transferência para a eternidade. Além disso, muitas atividades vitais ganharam um significado diferente - mudar-se para um novo lar, umas férias "para longe de tudo", visitar parentes, uma ida ao médico, fazer compras, sair à noite ou um momento agradável com amigos.

Com isto em mente, o pastor faz bem ao lembrar-se de três princípios para o ministério com os idosos:

1. Adultos idosos são indivíduos que compartilham, com pessoas de todas as idades, as mesmas necessidades básicas, desejos, aspirações e esperanças.

2. Adultos idosos tem o direito de esperar e receber cuidado pastoral (em tudo o que isto acarreta) do seu pastor e de sua igreja;3

3. Santos idosos oferecem grandes recursos à congregação por causa de sua experiência, tempo e compromisso.

O clamor triste do salmista, "Não me rejeites na minha velhice; quando me faltarem as forças, não me desampares" (Sl 71.9), encontra resposta nas palavras de Isaías, "Até à vossa velhice, eu serei o mesmo e, ainda até às cãs eu vos carregarei; já o tenho feito, levar-vos-ei, pois, carregar-vos-ei e vos salvarei" (Is 46.4).

Infelizmente, em nossa sociedade voltada ao jovem, na qual o bem mais elevado e maior é ser e permanecer jovem, envelhecer é considerado uma intromissão indesejável e o idoso é um lembrete indesejado de nossa própria mortalidade.4 Mesmo estudos sobre as atitudes do clérigo com relação ao ministério com os idosos demonstram uma insensibilidade que pasma os idosos da congregação.5 Contudo, a dignidade humana é medida pela dignidade que Deus concedeu e colocou sobre nós por sua criação, por seu cuidado providencial e por seu amor redentor em Cristo Jesus. Membros idosos, não importa qual seja sua idade, são parte da igreja como um todo. Como tal, eles devem ser incluídos na vida ativa da paróquia - tanto como recipientes do ministério, quanto como pessoas que estão sendo preparadas para ajudar e servir a outras.

Este ministério, de fato, leva em conta a pesquisa de dados. Por exemplo, a satisfação de vida relaciona-se intimamente com o bem-estar espiritual. Também, quando comparados com pessoas idosas em geral, aqueles que são membros da igreja, que lêem suas Bíblias e que vão à igreja freqüentemente ou ouvem emissoras religiosas de rádio, mais provavelmente estejam bem ajustados à sua idade avançada.6 Muitos têm um tal prazer pela vida que a mesma é celebrada em gratidão e louvor. Por outro lado, preocupações espirituais particulares confrontam o idoso: solidão, fastio e falta de objetivo, ansiedade, medo e culpa. (Muitos manifestam um sentimento de "culpa moral" e/ou culpa como "falha humana".) Nem toda pessoa idosa carrega todos ou qualquer um destes fardos: mas a grande freqüência da ocorrência destes casos sugere que as promessas de um Deus gracioso deve tocar os corações e as vidas dos idosos de modo que eles possam encontrar refúgio, força e esperança na Rocha que é a sua única esperança: Jesus Cristo.

Ministrando Cuidado Pastoral

A prioridade do pastor em ministrar cuidado aos idosos é aquela de suprir suas necessidades com uma aproximação holística (1Jo 3.17). Em adição aos postulados listados previamente, o indivíduo encarregado de pastorear deveria lembrar-se dos seguintes princípios:

Integração: Esforçar-se para manter os adultos idosos integrados em todos os aspectos da vida e do ministério da igreja. Isto vai de encontro às expectativas da sociedade em geral, que acha que o idoso deveria "desengajar-se" a fim de permitir que o jovem tome conta.

Adaptação: Adaptar ou desenvolver instalações e serviços que vão ao encontro tanto das necessidades como das capacidades dos adultos idosos, individual e coletivamente.

Compreensão: O cuidado pastoral integral envolve as necessidades espirituais, emocionais, sociais e físicas de todas as pessoas da congregação.

Algumas Considerações Práticas

A respeito do Culto

Com a longevidade aumentada, com mobilidade e boa saúde, deveria ser permitido que os adultos velhos antevissem sua adoração normal e contínua com o povo reunido de Deus. Isto pode não ser tão fácil para a congregação quanto pareça. A igreja pode ter que fazer modificações estruturais e ambientais para providenciar fácil acesso, iluminação adequada e acústica apropriada. Para aqueles que se locomovem parcialmente, outros ajustes podem ser feitos, por exemplo, cultos com Santa Ceia em horários especiais (manhã ou nas primeiras horas da tarde), transporte, assistência para entrar e sair do santuário, além de cultos de adoração planejados especialmente para conformar-se com necessidades físicas singulares.

A Respeito da Educação Cristã

Ao contrário do que as pessoas pensam, adultos idosos não somente podem aprender, mas de fato aprendem. Realmente, o maior controle que alguém tem sobre o seu tempo e os interesses mais alargados neste período têm o potencial de gerar a época mais instrutiva da vida de uma pessoa. E - boas-novas para a igreja - pessoas idosas estão mais dispostas a estudar religião do que outros assuntos quando elas decidem tornar-se estudantes.7 Devido a variedade de circunstâncias físicas dos adultos idosos, as congregações precisam desenvolver abordagens criativas para a educação cristã. Os estudos bíblicos podem precisar ser reprogramados para horários convenientes e lugares de fácil acesso - talvez fora da propriedade da igreja em grupos de vizinhança liderados pelos líderes leigos capazes e treinados sob a supervisão do pastor. O estudo bíblico individualizado pode suplementar o ministério sacramental do pastor. O mesmo pode aplicar-se a atividade de ministrar para e com residentes de centros de convalescença e lares para idosos. (Haja vista a fragmentação de muitas famílias, tais eventos programados regular e freqüentemente tornam-se os maiores pontos de interesse daqueles que, de outra maneira, estariam privados.)

Em acréscimo ao estudo da Palavra de Deus per se, a comunidade cristã pode ajudar as pessoas aplicando a Palavra a uma das transições de maior conseqüência na vida de alguém: a aposentadoria. Apesar de muito falar, a sociedade não tem definido claramente o que é isto - além de sugerir que o aposentado e a "pessoa de idade" sejam vazios de significação social porque a pessoa aposentada não está mais "produzindo".8 Os cristãos, no entanto, podem ver o aposentado de uma maneira imensamente diferente. Programas de pré-aposentadoria podem auxiliar e capacitar adultos idosos, sob a Palavra, a enriquecer e a tornar os dias e os anos que o Senhor lhes conceda mais cheios de significado, a fim de que eles sejam capazes de regozijar-se nas bênções de Deus e a servir alegremente em sua igreja. (Muitos programas cristãos de pré-aposentadoria já estão disponíveis.9)

Ajudando Adultos Idosos a Servir

Adultos mais velhos, especialmente aqueles que estão enfadados e sem objetivo na vida, aceitam avidamente a oportunidade de agradecer e louvar a Deus através de um significativo serviço aos outros. Uma vez mais, o pastor e os líderes congregacionais precisam ser criativos. Levando-se tudo em consideração, adultos idosos são mais saudáveis, têm mais mobilidade e tempo, possuem mais recursos e uma fartura de experiências e habilidades como nunca antes se viu. Se não forem utilizados, estes se atrofiarão - em detrimento dos indivíduos e da igreja. Os modos pelos quais estas capacidades são usadas, contudo, devem ir além das aparências e da superficialidade, sendo proporcionais à maturidade espiritual, às habilidades e à experiência do indivíduo. Aqui, mera aparência constitui-se discriminação contra o idoso em sua pior modalidade e a igreja fica mais pobre com isto.

Novamente, o emprego de materiais de estudo para pré-aposentandos das maneiras sugeridas para identificar e fazer uso de muitos benefícios pode trazer adultos idosos ao ministério da igreja.

Com respeito ao Bem-Estar Temporal/Físico

As necessidades e o conforto do corpo também pertencem ao cuidado pastoral. Não que o pastor troque sua preocupação primordial para com as coisas eternas pelas temporais. Ao invés disso, em concordância com a forte exortação escriturística, o pastor e a congregação realmente cuidam das necessidades físicas uns dos outros. Mais freqüentemente do que não, isto não requer a expansão dos fundos, mas seu investimento na preocupação pessoal. Atividades específicas podem incluir uma averiguação diária acerca do bem-estar geral de uma pessoa idosa (especialmente quando a mesma viver sozinha), uma refeição quente, uma visita amigável, um presente de alimento, uma peça de roupa, a entrega de um remédio, alguma informação sobre como administrar um relatório ou ajudar com um problema legal.10 Outros meios incluem transporte e serviços de recados ou compra de algum produto, além de alistar voluntários da congregação que realizem reparos menores na casa e o trabalho de pátio. Estes serviços tornam-se especialmente importantes quando a família, os amigos ou os vizinhos não estejam disponíveis ou não estejam em condição de ajudar. Fazendo menos do que isto, estaríamos falhando com relação à honra e à estima que Deus pediu que dispensássemos ao idoso (Ex 20.12; Ef 6.4; Lv 19.32).

Pessoas Que Não Podem Sair de Casa

Pessoas impossibilitadas de sair de casa, não menos do que outros membros, têm o direito a esperar o pastor, como o servo designado por Deus na congregação, para ser fiel e regular no ministério da administração da Palavra e do Sacramento a elas. Ao mesmo tempo, o pastor deve exercer o cuidado a fim de que as necessidades emocionais dos desprivilegiados que não podem sair de casa não obscureçam seu ministério perante a congregação como um todo. O pastor nem deveria ver este ministério como sendo somente de sua responsabilidade. Cada membro do corpo de Cristo tem o privilégio de visitar o enfermo, o idoso e o incapacitado de locomover-se por si só. O próprio pastor, de fato, leva o ministério sacramental a cabo. Mas ele pode e deveria recrutar e treinar leigos capazes que, pela graça de Deus, enriquecessem o ministério total que a igreja possui no que se refere à Palavra e ao cuidado cristão.11

Geralmente, o termo "pessoas incapacitadas de sair de casa" inclui as pessoas que estão internadas em instituições, visto que muitas de suas necessidades são similares. No entanto, estes últimos têm muitas necessidades ímpares - as necessidades principais que levaram a sua internação em uma instituição. O pastor freqüentemente pode descobrir e encontrar as resultantes necessidades espirituais da pessoa internada após uma sessão com a própria pessoa que acompanha sua saúde. Em adição às necessidades pessoais de cada indivíduo, o pastor deveria considerar os efeitos gerais de estar internado em uma instituição: enfado, perda de privacidade, sentimento de dependência carente, possível embaraço por causa da perda do controle total sobre o corpo, o sentimento de que ninguém cuida verdadeiramente delas e a freqüente melancolia que procura a paz da morte.

Além de ministrar aos indivíduos que são membros e que estão em uma instituição, o pastor busca oportunidades evangelísticas ao servir as pessoas que residem em comunidades como o centro de convalescença ou o lar para idosos, pessoas estas muitas das quais são os esquecidos de nossa sociedade. Por exemplo, cultos de adoração numa base regular são apreciados tanto pelos residentes como pelo administrador, pela equipe de tratamento e pelos diretores de atividades destas acomodações. Aqui, o pastor encontrará uma audiência pronta para a mensagem confortadora do perdão, da salvação e da abundância de vida através de Cristo Jesus, o crucificado e ressurreto.

De novo, o pastor pode ampliar o ministério exercido pela igreja por meio da participação de leigos treinados. Esta oportunidade tem se tornado imensamente mais prática através do uso de fitas de áudio e vídeo, de filmadoras e de videocassetes. Os custos constantemente reduzidos deste tipo de equipamento têm aberto mais portas do que jamais nossos ancestrais pensaram que fosse possível. Estes, de fato, deveriam ser apenas um suplemento para o cuidado pastoral pessoal e para o amor e cuidado fraternais.

Advocacia

Quem deveria falar pelo idoso? Quem responde a questões sobre tutela, direitos dos pacientes, ou sistemas de sobrevivência por aparelhos, sobre dignidade, ou necessidade de internação em uma instituição? Às vezes, uma voz pode ser encontrada na própria família da pessoa idosa, mas nem sempre. Deus não omitiu estes assuntos dentre as preocupações daqueles que fazem parte da família da fé.

Envolvimento específico do pastor e as respostas individuais dependem tão completamente da situação específica que o melhor conselho para um ministério pastoral profundo é, "Busque a orientação dos irmãos" - tanto dos irmãos que estão no ministério público quanto daqueles irmãos da congregação a quem foi confiada a supervisão do ministério (os membros da diretoria, os diáconos, ou seja qual for o título que eles possam ter).

Além dos indivíduos, quem deveria falar pelos idosos como grupo? O pastor pode assumir a liderança em sensibilizar a congregação e em equipar os membros para uma participação mais ativa no exercício desta tarefa. Ele também pode ser o principal advogado na promoção das mudanças sociais necessárias na comunidade social. Neste respeito (que não precisa envolver culto unionista), o pastor pode muito bem alinhar-se com outros líderes comunitários para negociar em favor dos idosos, para corrigir injustiças, para engajar-se na busca positiva da justiça e na prevenção da injustiça.12

Sumário

O idoso não está meramente marchando rumo à morte. Primordialmente, ele é uma oportunidade extraordinária, sob Deus, para que cresçamos e amadureçamos na fé enquanto servimos nosso Senhor, nossa igreja e nossa comunidade de maneiras novas e cheias de significado. A vida alegre do cristão tem muitos inimigos e o último deles não é o menor: a morte. Mas Deus tem derrotado todos os nossos inimigos e tem nos dado vida em o nome de Jesus Cristo. Ele nos capacita a viver esta vida ao máximo quando cria, alimenta e sustenta a nossa fé pelos preciosos meios da graça. Ao crente que está envelhecendo - o que inclui a todos nós - isto é a garantia do ministério pastoral.

OS IDOSOS

OS MORIBUNDOS E OS ENLUTADOS

5 Aplicando a Palavra e o Sacramento aos Moribundos e aos Enlutados

Hoje, poucos norte-americanos estão crescendo com a morte como sendo uma parte freqüente e normal da vida. No passado, os lares proporcionavam uma estrutura de apoio para lidar com os fatos da vida como nascimento, enfermidade e morte, coisas que aconteciam dentro do lar. A igreja e o pastor eram parte disso - tão intimamente que o pastor freqüentemente era considerado parte da família.

A sociedade mudou. A família da multi-geração, i.e., a família entendida, na maior parte, não existe mais. Os nascimentos acontecem fora do lar; as enfermidades são tratadas fora do lar; os recém-casados mudam-se para longe dos pais e irmãos; a morte está escondida em um hospital ou em uma casa de repouso. Poucas pessoas têm alguma experiência que as ensine como lidar com moribundos e/ou com qualquer família enlutada.

Com a expectativa de vida ampliando-se e com o baixo índice de mortalidade infantil diminuindo cada vez mais, nossa sociedade orientada ao jovem encoraja-nos a viver com o conceito errôneo de que "não morreremos nunca".

Temos escondido os idosos e ignorado os moribundos. Na maior parte, temos nos tornado um povo incomodado com nossa própria mortalidade. Isto é verdade para com pastores, bem como para com as pessoas em geral.

Quando um pastor começa a batalhar com a tarefa de ministrar a pacientes terminais, pode ser que ele ache necessário fazer as pazes com sua própria mortalidade, com seu próprio processo de morrer (que se inicia já na concepção e no nascimento). O pastor, como representante de Deus, precisa viver consciente disso, utilizando cada momento de sua vida como uma oportunidade preciosa que antecipa nossa transição gloriosa para a eternidade. Ele precisa aplicar os meios da graça em termos de Lei e Evangelho para si mesmo, bem como para seu rebanho, a fim de fortalecer a fé e renovar a esperança.

Alguns têm sugerido que o pastor cultive a sensibilidade necessária imaginando como ele se sentiria se fosse diagnosticado como um paciente terminal. O exercício é inadequado. De fato, ninguém tem mais garantia sobre o amanhã do que ninguém. O pastor, bem como o paciente terminal, deve ter a casa em ordem "pois amanhã morreremos". Como resultado disso, todo cristão está morrendo, mas, por outro lado, também está vivendo em sua plenitude cada dia concedido, experimentando a bondade de Deus enquanto se prepara para estar com Deus na eternidade (Ap 7.9-17).

O Cuidado Pastoral aos Moribundos

A longevidade crescente, às vezes alcançada por meios extraordinários, tem levado alguém que toma em consideração as dimensões emocional, mental e espiritual da vida a uma nova disciplina sobre como cuidar da pessoa que está morrendo. Isto torna-se necessário porque, falando de forma geral, as atitudes da sociedade com relação aos moribundos têm sido negativas, freqüentemente resultando no ostracismo e no isolamento sociais.1 Amizades de longa data são cortadas diante de uma enfermidade terminal, a pessoa não afetada freqüentemente priva-se de visitar ou comunicar-se com a pessoa que está enferma.

Uma disciplina tem dividido o processo de luto em lamento de antecipação e lamento em aflição. O primeiro é "aquele lamento que sobrevém em virtude da perda dos laços de ligação com a pessoa que está morrendo, tornando a perda menos dolorosa quando a mesma ocorrer".2 O último é o lamento que lida com a perda quando a mesma acontece.

Esta divisão tem ajudado as pessoas que prestam cuidado a compreender a interação entre a pessoa diagnosticada como paciente terminal e o seu cônjuge/pessoa amada. Ambos experimentam o lamento de antecipação; no entanto, isto causa problemas reais quando tal lamento não ocorre ao mesmo tempo para ambas as pessoas. Por exemplo, o paciente terminal pode já estar enfrentando o inevitável, enquanto seu cônjuge recusa-se a aceitar o diagnóstico. Nesta situação, quando o pastor dialogar com o paciente sobre a certeza da ressurreição, o cônjuge pode muito bem ficar irado com o pastor, negando a realidade e prendendo sua esperança na competência dos médicos, nas curas não-tentadas e até mesmo no poder da oração e numa intervenção especial de Deus.

Como comentado anteriormente, o lamento de antecipação da parte de amigos de boa saúde ou do cônjuge pode ser levado a tal extremo que eles mesmos se afastem inteiramente da pessoa que está morrendo. Em seu esforço por "tornar a perda menos dolorosa quando a mesma ocorrer", sem querer, eles aumentam a dor do paciente terminal. Se não puder fazer nada mais, o pastor pode encorajar tais amigos tímidos a praticar o "ministério da presença" - a fim de ao menos levar "as cargas uns dos outros" (Gl 6.2) através da atitude de continuar vigiando (como Jesus pediu a seus discípulos, Mc 14.34).

Os Cinco Estágios do Luto

Por mais controverso que possa ser, o modelo de estágios popularizado por Elisabeth Kuebler-Ross (negação, ira, barganha, depressão, aceitação) tem sido usado com sucesso.3 Este esquema pode ajudar o pastor a dar forma e a aplicar o cuidado pastoral enquanto o paciente (e seus amigos e amados) lida com o diagnóstico terminal dos médicos. Tendo consciência de que este modelo de estágios é descritivo e não prescritivo, o pastor irá ajustar sua intervenção pastoral a situação no momento de sua visita. (Certas situações podem recomendar um ministério de presença ao invés de um de palavras profundas. Há um aspecto "encarnacional" do ofício pastoral que se manifesta por si próprio na mente do leigo. Para muitos, o cuidado do pastor representa e manifesta a preocupação do próprio Deus pelo indivíduo. Através de sua presença, o pastor pode suprimir a ira, emprestar força ao fraco, dar orientação ao desamparado e proteção ao vulnerável.)

Nos estágios que Kuebler-Ross denominou barganha e depressão, o paciente passa através de muitas manifestações de culpa. Algumas delas são legítimas - e.g., quando o paciente considera que sua vida está sob a Lei de Deus. Algumas são simplesmente supostas - e.g., quando o paciente supõe que seu diagnóstico é a punição por algum pecado particular. Ou o paciente pode sentir-se culpado por colocar sua família em tamanho desgosto. A sociedade conecta um estigma horrendo à enfermidade catastrófica.

Seja qual for a causa da culpa, o paciente requer atenção pastoral e a segurança de que, em Cristo Jesus, Deus não é vingativo ou punitivo. Ao invés disso, Deus sempre lida com as pessoas em misericórdia e de acordo sua vontade perdoadora, salvadora, redentora e vivificadora para com todos os seus filhos em Cristo. Em conexão com isto, o pastor pode enfatizar a graça de Deus no Batismo. Tão certo como o paciente foi lavado na água e na Palavra, assim certa é a promessa de Deus de que ninguém pode nos arrebatar de suas mãos.

Quando se estiver usando o modelo de estágios, note-se que a resignação ou desistência da vida por parte de uma pessoa integra a depressão e não a aceitação. Durante este último, a pessoa faz as pazes com a realidade da presente situação, até mesmo determinando-se a viver cada dia como uma dádiva do Senhor que deve ser vivido tão plena e produtivamente quanto possível.

Durante cada estágio, o pastor certamente tenta preparar o paciente para a morte, dando-lhe a certeza da graça, da vida e da salvação de Deus através do Cristo crucificado e ressurreto. Ao final, as visitas pastorais deveriam ser freqüentes, as devoções deveriam ser ricas da mensagem salvífica do Evangelho e o meio da graça, a Ceia do Senhor, deveria ser oferecido regularmente.

O pastor deveria lembrar-se também daquelas pessoas que são afetadas pela enfermidade e provável morte de seu ente querido, incluindo quaisquer crianças que façam parte da família. Embora freqüentemente esquecidos durante o processo de luto, elas, também, passarão pelos mesmos estágios e sofrerão reações emocionais similares. O pastor ajudará a família inteira a interpretar o que esteja acontecendo de tal maneira que a fé destas pessoas seja fortalecida e que sua esperança aumente. (Tenha em mente, contudo, que crianças pequenas pensam através de uma imagística muito concreta. Portanto, muita terminologia e simbolismo não serão compreendidos.)4

Uma cautela adicional precisa ser tomada quando se utilizar o modelo de estágios: Nenhum tempo limite pode ser estabelecido sobre quando o paciente ou um ente querido deveria ter superado e vindo a aceitar a realidade da morte. De fato, alguns indivíduos nunca aceitam o diagnóstico imposto. Não há duas pessoas que reajam precisamente da mesma maneira quando confrontados com a possibilidade de uma enfermidade terminal. Embora o modelo de estágios possa ser útil ao pastor para que ele dê forma ao seu cuidado pastoral, ele deve lembrar que algumas pessoas avançam estágios: algumas manifestam somente um ou alguns poucos estágios; e outras podem começar no estágio um, pulando os demais, e movendo-se para trás e para frente entre dois ou mais estágios. Além disso, algumas pessoas submergem tão profundamente em um estágio que o ministério pastoral pode tornar-se excessivamente dificultoso. Por exemplo, uma pessoa pode tornar-se tão depressiva que comece a fantasiar. (Também, alguns medicamentos induzem à alucinações.)

Cada enfermidade é um lembrete de nossa mortalidade final. Por conseguinte, o pastor usa não apenas a ocasião da enfermidade terminal, mas também qualquer doença como uma oportunidade para preparar todo o seu povo para o momento da morte de cada um deles, apresentando perante eles a vitória definitiva que os crentes têm sobre a morte por causa da fé e de sua união com Jesus Cristo através do Batismo.

O Movimento das Casas de Repousopara Pacientes Terminais

O pastor e a igreja não são os únicos a preocupar-se com o cuidado emocional e espiritual de pacientes terminais e suas famílias. Em décadas recentes, o movimento das casas de repouso para pacientes terminais tem-se espalhado desde o centro onde renasceu, no St. Christopher's Hospice, em Londres, Inglaterra, até os Estados Unidos da América, com numerosos centros estabelecidos através do país (normalmente associados a um centro médico). Sob o princípio "cuidar, não curar", estas casas empregam uma abordagem multi-disciplinar de médicos, enfermeiras, terapeutas, assistentes sociais, capelães e voluntários para suprir estas necessidades - bem como as necessidades físicas do paciente que está morrendo e de sua família. Como apenas um de seus aspectos mais significativos e confortadores, o programa das casas de repouso para pacientes terminais promete que alguém da equipe nunca estará mais longe do que uma chamada telefônica, estando por perto de dia e de noite e atendendo o paciente sempre que for necessário. Eles também prometem que o paciente terminal não morrerá sozinho. Enfatizando o controle da dor e uma perspectiva positiva, as pessoas que servem no programa esforçam-se para ajudar o paciente a fim de que ele maximize suas oportunidades de viver tão normalmente quanto possível durante o tempo que resta de sua peregrinação terrena.5 Visando o melhor benefício do paciente, o pastor certamente almejará trabalhar com a equipe.

Optando pela Eternidade/Eutanásia

A discussão a respeito da eutanásia, "a bela morte", tem se tornado mais e mais aceitável na nossa sociedade. O sofrimento e a angústia, normalmente associados com enfermidades degenerativas e terminais, têm feito da morte uma opção atrativa para muitos.

Propriamente falando, a eutanásia envolve uma intervenção direta, matar seres humanos, com ou sem seu conhecimento ou consentimento. Isto pode ser brevemente definido como a administração de uma dose letal ao paciente ou com a recusa deliberada ao uso mesmo de meios comuns para manter a vida.6

A Comissão de Teologia e Relações Eclesiais do Sínodo de Missouri, em seu relatório "Euthanasia with Guiding Principles" ("Eutanásia com Princípios Orientadores"), fornece instruções úteis:

1) A eutanásia, em seu sentido próprio, é um sinônimo para morte de misericórdia, a qual envolve suicídio e/ou assassinato. Portanto, isto é contrário a lei de Deus. 2) Como Criador, apenas Deus sabe com certeza se uma enfermidade ou ferimento é incurável. 3) Cada pessoa, não importa quão fraca ou socialmente inútil ele ou ela possa parecer, merece ser aceita como um ser criado à imagem de Deus. 4) Quando as forças que Deus deu ao corpo para manter sua vida não funcionam mais e os médicos, em seu veredito profissional, concluem que não há nenhuma esperança real de recuperação mesmo com aparelhos que sustentem a vida, um cristão pode, em boa consciência, "deixar que a natureza tome seu curso".7

Com respeito a este último ponto, em espírito de oração, o cristão deverá tentar chegar a uma decisão que agrade a Deus. Assim, o documento acima sugere que as seguintes pessoas sejam envolvidas na determinação sobre parar ou não com os procedimentos agressivos de prolongação da vida:

a) o paciente (caso seja capaz de discutir os fatos), para ajudar a determinar a condição geral do vigor e do sofrimento corporais e para tomar a decisão que é legal e moralmente aceitável; b) o médico, para ajudar a determinar se os aparelhos ainda são úteis e se ainda há qualquer esperança de recuperação; c) o parente mais próximo, para obter consentimento nas decisões tomadas; d) o pastor, para dar orientação e conselho espirituais no que se refere ao tratamento e ao cuidado e para providenciar assistência e conforto e apoio espiritual.8

Como o primeiro ponto acima reconhece, às vezes o paciente pode ser incapaz de participar no processo decisório. Isto tem originado o recente fenômeno de uma pessoa escrever um Testamento a ser usado ainda em vida. Tal documento expressa os desejos do indivíduo com respeito ao tipo e à extensão do cuidado médico a ser administrado caso a pessoa venha a tornar-se um paciente terminal e se o processo de morte venha a ser irreversível. Vários Estados norte-americanos oficialmente já reconheceram a validade e, neste sentido, a legalidade deste tipo de Testamento. Para um exemplo, veja o fim deste capítulo.

(Como parte integrante do Testamento anteriormente referido ou juntamente com ele, mais e mais pessoas estão doando seus órgãos antes da morte para serem usados para beneficiar os vivos. Esta prática pode bem ser encorajada pelo pastor.)

Ministrar a pacientes de enfermidades terminais testa vigorosamente a compaixão do pastor, suas habilidades pastorais, a qualidade de sua própria fé na bondade e na misericórdia de Deus e até que ponto ele se tornara confortável para com sua própria mortalidade. O pastor só tem um remédio eficaz para a morte: a vida - vida tornada possível por meio de nossa justificação por graça através da fé na obra vicária de Jesus Cristo, vida assegurada pela ressurreição de Jesus Cristo com quem nossa esperança de bem-aventurança eterna está inseparavelmente unida (1Pe 1.3-5).

O Cuidado Pastoral aos Enlutados

No momento da morte

Um autor define o luto como "um conjunto complexo de emoções pelas quais nos adaptamos à desorientação provocada por uma mudança maior em nossas vidas"9 Ainda que esta definição possa soar demasiadamente clínica, ela reconhece que as pessoas lamentam sobre qualquer perda significante (tal como a perda de uma parte do corpo, a perda do emprego, ou mesmo a perda do cônjuge através do divórcio). Quanto mais significativa for a perda (i.e. - quanto maior a mudança), maior será a desorientação - e maior a demanda por cuidado pastoral.

A morte, de fato, representa a mais extremada das "mudanças maiores". Uma voz silenciou-se - a presença de um ente querido se foi. A desorientação pode deparar-se com o entorpecimento, com o enlutado envolvido em algum estado de choque. Algumas vezes, a desorientação se manifestará num soluço incontrolável, na descrença e, talvez, até mesmo na ira. É correto prantear, mas não como aqueles (1Ts 4.13) "que não têm esperança" (esperança que se apega à coisa objetiva "que vos está preservada nos céus", Cl 1.5).

Qualquer que seja a manifestação de luto, o pastor representa a presença de Deus, que é o único que provê qualquer orientação verdadeira e estabilidade de vida. Esta ênfase sobre Cristo pode muito bem ser incorporada em uma leitura bíblica e oração, concluindo com a Oração do Senhor e a bênção.

Se o pastor estiver com a família no momento do falecimento, ele deveria assegurar-se de que a pessoa ou as pessoas afetadas mais diretamente não sejam deixadas sozinhas para que se arranjem por si mesmas. Uma rede de cuidado social na congregação (que será explicada posteriormente neste capítulo) precisa ser colocada em operação.

Às vezes, o pastor será chamado a informar a família sobre o falecimento, particularmente se a mesma deu-se repentina e/ou acidentalmente. Em tais circunstâncias, o pastor conduzirá o diálogo com tato de modo que a pessoa seja levada gradualmente à consciência da seriedade da situação e possa chegar à conclusão de que o ente querido faleceu. (Às vezes, a notícia terá de ser verbalizada como tal.) Em tais circunstâncias, o "aspecto encarnacional" do ofício pastoral reveste-se de uma importância especial. Como representante de Deus, você está ali no lugar de Deus. Por conseguinte, lembre-se que as pessoas podem dizer coisas que não tem sentido, mas que afloram temporariamente por conta dos sentimentos de frustração e de perda repentina. Resista a ser juiz do que for dito ou feito. Deixa que a primeira onda de choque se dissipe por si própria. E esteja preparado para amenizar o processo de luto esclarecendo as reações do lamento aos membros da família.

Quando a reação inicial acalmar-se, procure um momento adequado para reunir os pensamentos, os sentimentos e as mágoas causados pela ocasião em uma breve oração.

Antes de ir embora, esteja certo de que os enlutados não serão deixados sozinhos. Caso seja preciso, o próprio pastor levará a pessoa para casa e permanecerá com ela até que a família, ou um vizinho responsável, ou um membro da igreja chegue para prover o cuidado necessário.

Cuidado Pastoral Continuado

O pastor deve ser sensível à extensão do luto de uma pessoa. Adaptar-se à mudança maior (morte) pode levar 24 meses em média e alcançar um clímax entre 12 a 20 meses após o falecimento ter ocorrido.10 Não que a pessoa jamais cesse completamente o luto: ele ou ela voltarão a viver com o mesmo vigor, ou quase o mesmo que tinham anteriormente à morte e ao luto.

Até certo ponto, a duração pode depender de quanto a morte foi "socialmente aceitável". Algumas mortes são consideradas úteis; outras, inúteis. Algumas são consideradas à luz da compaixão; outras, com uma atitude que atribui culpa aos sobreviventes (e.g., o falecimento de uma criança devido à SIDS, Sudden Infant Death Syndrome, "Síndrome de Morte Infantil Repentina").11

A fé, de fato, ajuda a que uma pessoa perpasse o processo; mas nem mesmo a confiança mais forte em Cristo pode remover a necessidade do luto. E, a menos que o luto seja trabalhado construtivamente, os resultados podem ser desastrosos. Por exemplo, a aflição de morte coloca uma pessoa sob tensão extrema, perturba o sistema imunológico e torna a pessoa particularmente vulnerável a enfermidades, expondo-a a um risco duas vezes e meia maior do que o normal de ter um ataque cardíaco e de três a três vezes e meia maior de desenvolver alguns tipos de câncer.12

Além disso, a sociedade como um todo é relutante em "dar a permissão" para que alguém expresse o luto, preferindo, ao invés disso, isolar educadamente aqueles que pranteiam. Conscientes desta atitude, algumas pessoas suprimem suas emoções a tal ponto que não podem mais reagir de maneira adequada no contexto social. Outras, numa atitude ainda mais extrema, vão para dentro do alcoolismo, do mau uso das drogas, ou da disfunção sexual. 13 No mínimo, a sociedade em geral está falhando em perceber os efeitos integrais e provavelmente degenerativos da solidão. 14

Todo pastor se depara com a tentação de presumir que, uma vez findo o serviço de "tempo integral" prestado à família entre o falecimento e o sepultamento, a necessidade premente de sua presença também chegou a um fim. Devido ao processo extenso e solitário do luto, o pastor precisa continuar programando visitas aos aflitos. O programa muito bem poderia incluir uma visita na semana do ocorrido; depois, visitas mensais por seis meses; e, então, visitas em intervalos regulares pelos próximos dois anos, colocando atenção especial a aniversários de nascimento e casamento e a feriados - datas em que os relacionamentos familiares assumem grande importância.

Este ministério cuidadoso não deveria ser desempenhado exclusivamente pelo pastor. A congregação existe para providenciar uma "rede social de sustentação".15 Parte da tarefa pastoral é recrutar e treinar pessoas sensíveis e cuidadosas, capacitando-as a auxiliar membros enlutados a desincumbir-se do seu necessário luto. As pessoas necessitam de uma tal rede de apoio. Caso tais redes não sejam providas pela congregação, outros grupos solícitos estão disponíveis. Sem menosprezar as contribuições que estes grupos efetuam, os membros da congregação cristã foram chamados especialmente pelo Senhor para cuidar uns dos outros e carregar as cargas uns dos outros. O pastor juntamente com as pessoas devem transmitir um interesse em cuidar dos enlutados, cumprindo plenamente, desta maneira, a vontade de nosso Senhor.

Apêndice Testamento (a ser usado ainda em vida)

(Apenas um exemplo)

Instruções para meu cuidado em caso de enfermidade terminal.

Minha fé afirma que a vida é um dom de Deus e que a morte física é uma parte da vida, o estágio que completa o desenvolvimento de uma pessoa. Minha fé me assegura que mesmo na morte há esperança na graça e no amor sustentadores de Deus. Por causa de minha fé, quero que esta declaração permaneça como o testamento de meus desejos.

Eu, ____________, peço que seja totalmente informado quando minha morte estiver se aproximando. Se possível, desejo participar das decisões a respeito de meu tratamento médico e dos procedimentos que possam ser usados para prolongar minha vida. Caso não haja nenhuma perspectiva razoável de minha recuperação de deficiência física ou mental, ordeno que meu médico e toda equipe médica não prolonguem minha vida através de meios artificiais ou mecânicos. Ordeno que eu receba cuidados para controle da dor e dos sintomas. Contudo, este não é um pedido que esteja ordenando uma intervenção para que minha vida seja encurtada.

Esta decisão foi tomada após consideração e reflexão. Ordeno que todos os meios legais sejam acionados para sustentar minha escolha. No cumprimento integral de minha vontade como afirmada, isento de culpabilidade e responsabilidade legais todos os médicos e outras pessoas da área de saúde, todas as instituições e seus empregados, bem como todos os membros de minha família.

Assinatura: ____________ Data: ____________

Testemunhado por: ____________ ____________

Assine e date perante duas testemunhas. Isto é para assegurar que você assinou por livre vontade e não estando sob nenhuma pressão. Se você tem um médico, dê-lhe uma cópia para seu arquivo médico e discuta o assunto para ter certeza de que este médico está em acordo com você. Dê cópias para aquelas pessoas que mais provavelmente entrarão em ação caso ocorra um momento quando você não poderá mais tomar parte nas decisões que digam respeito a seu próprio futuro. Discuta suas intenções com eles e escreva seus nomes na cópia original deste Testamento. Guarde o original em lugar próximo de você, facilmente disponível e legível. Examine-o uma vez por ano, renove sua data e coloque uma nova data para deixar claro que seus desejos não mudaram. 16

OS MORIBUNDOS E OS ENLUTADOS

O SEPULTAMENTO CRISTÃO

6 O Cuidado Pastoral e o Sepultamento Cristão

A morte é o último rito de passagem associado à existência humana - e, mesmo à parte do Cristianismo, o coração humano sente a necessidade de solenizar o fato através de um ritual apropriado ao evento e que reflita a dignidade e os valores humanos.

A Escritura, de fato, não prescreve nada com respeito ao sepultamento. Ainda assim, a igreja tem procurado inserir o ato de desfazer-se dos restos terrenos de um crente num contexto cristão que evidencie o testemunho da fé e da esperança que a igreja confessa. Lembrando que o sepultamento é o ponto culminante das reações antecedentes e subseqüentes que rodeiam a morte, o pastor trabalhará com os enlutados de tal maneira que suas vidas particulares e públicas testemunhem sua esperança em Cristo.

Em acréscimo às visitas pastorais comentadas no capítulo anterior, o pastor sempre deveria discutir os detalhes do culto funeral e do culto de sepultamento com a família. A família (ou previamente, o falecido) freqüentemente terá pedidos específicos. Normalmente, tais pedidos podem ser atendidos, a menos que sejam espiritualmente inadequados.

Uma visita adicional deveria ser considerada complementar: à casa funerária ou onde quer que esteja ocorrendo o velório. Comumente, isto ocorre próximo do encerramento do horário de visitas, após o que o pastor pode conduzir os enlutados em uma breve meditação. Tenha em mente que esta visita é uma experiência exaustiva para a família e que, portanto, a devoção, ainda que edificante, deveria ser breve.

Os Costumes Locais

Dentro de poucos dias após sua instalação, o pastor deveria reunir-se primeiro com os líderes da congregação e, então, com um popular agente funerário para discutir costumes locais - quais são, porque são seguidos (caso seja possível descobrir) e qual (se houver algum) leva as pessoas para longe da centralidade de Cristo.

Se não estiver preparado, o novo pastor aprenderá muito rapidamente a importância da tradição local. Especialmente durante os rituais de passagem, as pessoas sentem-se "satisfeitas" quando o costume é seguido e iludidas/magoadas quando não.

Estes costumes vão desde a entrada processional e o recessional do esquife, da família e do pastor até onde o pastor deveria ficar durante o sepultamento. Durante as palavras "pó ao pó", algumas pessoas querem lançar areia ou terra sobre o ataúde, outras, pétalas de flores e já outras ficariam chocadas se qualquer coisa exceto o sinal da cruz fosse feito sobre o esquife. Já que as afirmações anteriores não são nada mais que um exemplo, isto deveria lembrar o novo pastor da necessidade de discutir previamente todos os detalhes com os líderes da congregação e com o responsável local por funerais.

O Culto Funeral

Oficiado normalmente no santuário da igreja, o culto funeral é um culto de louvor que marca o passamento de um santo de Deus. Portanto, os componentes do culto devem ser utilizados: a Palavra deve ser lida e proclamada, louvores, entoados e orações, pronunciadas. Isto auxilia a preservar a teocentricidade e a evitar que o centro do culto venha a tornar-se os restos que estão no esquife. (Numa casa funerária, os "louvores entoados" podem ser feitos por um solista, mas muitos velórios dispõem de um órgão para que se possa cantar hinos.)

O sermão deveria apresentar claramente "a razão da esperança que há em nós". Nosso Deus gracioso deu-nos uma mensagem notável para ser proclamada, a única mensagem que pode dar consolo e esperança ao enlutado. Os crentes, bem como os descrentes, que possam estar presentes precisam ouvir tanto a Lei quanto o Evangelho. Juntamente com todos os santos de Deus, o crente pode ficar seguro no dia do julgamento, porque a justiça de Cristo lhe foi imputada e ele está reconciliado com Deus. Isto é dele por meio da fé. A promessa de Jesus, "porque eu vivo, vós também vivereis" (Jo 14.19), aponta para a ressurreição dos mortos. Como Paulo assegura, "a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele em glória" (Cl 3.3-4). No Batismo, o crente é unido ao Cristo ressurreto e viverá na presença de Deus por toda eternidade. Esta é a esperança que pertence a todo o povo de Deus em Cristo Jesus - ao falecido e ao enlutado que crê. Referência pessoal às obras de Deus e à sua fidelidade para com a pessoa que partiu condizem com o momento: são exemplos àqueles que ainda fazem parte da igreja militante.

Normalmente, o sepultamento acontece logo após o culto funeral. Costumes e tradições locais podem ser mantidos, desde que se verifique (como dito acima) que os mesmos estejam de acordo com a fé cristã e sejam significativos para as pessoas. A cerimônia em si deveria ser breve e não uma ocasião para um prolongado "pranto sobre o ente querido que jazerá no chão frio e escuro".

Encontros sociais após o sepultamento são comuns em todos os Estados Unidos da América. Um grupo de irmãos da igreja e/ou amigos e vizinhos trazem comida aos familiares e amigos enlutados. O pastor prudente fará uma aparição significativa nesta reunião na qual, novamente, apenas pela presença, assegura a família de seu interesse e simpatia por eles. Ele também não se surpreenderá com o que possa parecer com uma atmosfera algo descontraída. A família completou uma provação com o coração pesado. Agora que este rito de passagem terminou, as emoções necessitam de uma mudança de marcha - uma "recreação/re-criação", se você preferir - antes de retomar o trabalho árduo de reconstruir suas vidas. Além disso, a ocasião de um falecimento também pode ser a oportunidade para a realização de um encontro familiar há muito adiado e os parentes precisam de tempo para fortalecerem seus relacionamentos antes de retornarem, cada um, para seu lar. Caso não servisse para mais nada, o encontro social em si ao menos serve como um lembrete de que, na esperança da ressurreição, o povo de Deus pode ir em frente.

Contribuições Memoriais ou Flores?

A questão não deveria ser uma coisa ou outra, mas o quanto se faz necessário. A ausência total de flores - símbolos da ressurreição e da vida eterna - é inadequada. Mesmo assim, mais e mais famílias estão designando agências dignas para receber contribuições memoriais ao invés de flores. Esta prática merece o incentivo e o apoio do pastor, já que ele aponta para as necessidades de sobrevivência que as pessoas têm.

Um mau uso potencial surge quando a família deseja erigir um memorial (freqüentemente dentro do santuário) para assegurar-se de que o falecido será lembrado pelas gerações vindouras. O mau uso também se verifica quando a família destina os fundos memoriais para um objeto que a congregação não necessita ou não quer. Algumas destas coisas podem ser evitadas se a igreja tiver estabelecido uma lista aprovada de ítens que recebam o dinheiro memorial. Caso tal lista não exista, o pastor pode sugerir que a família aguarde antes de tomar uma decisão.

Esquife Aberto ou Fechado?

Algumas autoridades ressaltam que um esquife que é aberto ao menos algum tempo para que os enlutados vejam o defunto tem um valor terapêutico, dizem que o processo auxilia os enlutados a aceitarem a morte definitivamente e sentirem uma sensação de "conclusão".

Teologicamente, a questão pertence aos adiáforos. Há vezes, contudo, em que um esquife aberto pode impedir que os enlutados encontrem conforto no Salvador. Por exemplo, a tradição local pode ditar que o ataúde seja reaberto após o culto e que a família veja o defunto pela última vez - desviando, desta maneira, a ênfase em Cristo como proclamado na Palavra para o corpo do falecido deitado perante eles.

Ao contrário da tradição local, o pastor lembrará que ele deve ajudar as pessoas para que elas compreendam e usem os rituais que coloquem sua atenção em Cristo. Nesta fé, uma posição mediadora pode ser adotada com relação às tradições que, por outro lado, seriam desincentivadas.

Paramentos Funerais

Muitos cristãos protestantes têm revivido o uso de paramentos funerais sobre o esquife durante o culto. Este pano litúrgico, normalmente decorado com um símbolo cristão de ressurreição ou de vida eterna, tem muito a ser recomendado. Além de trazer a atenção dos adoradores para Cristo, ele ajuda a amenizar a pressão social de que se tenha um ataúde caro já que é inconveniente que o mesmo pareça barato.

Cremação

Não faz muito tempo, a igreja via a cremação negativamente. Devido ao fato de o público em geral ter associado esta prática a religiões pagãs e/ou numa tentativa de refutar a possibilidade da ressurreição, os cristãos eram relutantes em aceitá-la.

Em si mesma, a cremação não tem nenhuma significância teológica e pode ser usada em boa consciência. De fato, por causa das limitações de espaço em algumas áreas (e.g., Berlim Ocidental, Inglaterra) e devido a considerações sanitárias, a cremação está crescendo em aceitação. O custo, igualmente, é uma consideração legítima; embora a família que esteja considerando esta possibilidade deva ser lembrada de que o custo é baixo apenas quando não houver velório público e, assim, não precise haver embalsamento e nem o uso da sala de visitação.

Culto in memorian

Devido à nossa sociedade móvel, à natureza de algumas enfermidades fatais e, ocasionalmente, por causa da cremação, um número crescente de famílias têm recorrido aos cultos in memoriam, separados do sepultamento em tempo (e, às vezes, em distância). Em tais situações, cultos particulares realizados ao lado da sepultura são normalmente ministrados apenas para a família imediata. Num momento posterior e conveniente, um culto n memoriam é oficiado para todos os familiares e amigos. Este culto difere um pouco de um culto funeral regular; pois, devido à intervenção do tempo, os enlutados podem estar mais querendo que o culto enfatize a alegria da ressurreição do que seu próprio luto.

Um Culto Anual de Celebração pelos que Adormeceram no Senhor

Este culto tem uma tradição longa e consagrada de observância no Dia de Todos os Santos (1º de novembro) ou no domingo mais próximo a esta data. Algumas congregações usam o culto de véspera do Ano Novo para lembrar-se daqueles que morreram durante o ano que está chegando ao fim. Qualquer que seja a data, a observância dá ao pastor e a seu povo a oportunidade de lembrar-se de sua própria mortalidade, da brevidade da vida, da certeza da morte e, acima de tudo, da vitória e do destino eterno de vida perene que seguramente pertence, como um presente da graça de Deus, àqueles que estão em Cristo pela fé.

Oficiando em Circunstâncias Especiais

Sepultamentos de Não-membros

A discussão prévia assume que o falecido era um membro da congregação. No entanto, freqüentemente o pastor será solicitado a oficiar o sepultamento de alguém que não era membro - alguém a quem ele prestou cuidados num hospital ou algum parente de um membro. Desde que o único conforto que Deus oferece ao enlutado está intrínseca e inseparavelmente atado à morte e à ressurreição de Jesus Cristo, o pastor deve ter uma segurança razoável de que a pessoa falecera na fé salvadora. Caso o pastor ou testemunhas fidedignas tenham tal conhecimento logo de primeira mão, de boa consciência o pastor pode consentir em oficiar.

Mesmo considerando o que está descrito acima, o pastor deve ter em mente que ele representa a igreja e a posição teológica sobre a qual sua denominação se fundamenta e a qual professa. Ao oficiar um sepultamento, o pastor essencialmente atesta o fato de que o falecido não-membro morreu na fé defendida pela denominação do pastor. Oficiar indiscriminadamente cultos funerais contribui para o universalismo popular presente na sociedade hodierna. Ainda assim, já que o funeral beneficia os vivos, e não os mortos, o pastor procurará conselho junto aos líderes de sua congregação em qualquer circunstância incomum.

Lembrando do que foi dito acima, caso o pastor luterano realmente oficie o sepultamento de um não-membro, o culto normalmente não é conduzido no santuário da igreja; este privilégio é reservado aos membros da congregação.

Sepultamentos de Suicidas

Antes de consentir em oficiar o sepultamento de um suicida, o pastor desejará fazer uma investigação completa - não tanto para encontrar um motivo para evitar que oficie, mas para encontrar uma razão (ainda que tênue) para aceitar a oportunidade. Em tais circunstâncias, é especialmente importante o estado em que encontrava a mente da pessoa falecida e saber se tal pessoa estava consciente do que estava fazendo. Outros fatores importantes que precisam ser avaliados pelo pastor junto com os líderes da congregação são os seguintes:

1. Como dito na discussão anterior, o culto beneficia os vivos e é parte do testemunho da congregação. A morte é especialmente difícil para os enlutados por causa do suicídio de um ente querido. Normalmente, a família sente um tremendo peso de culpa, o qual só será exacerbado caso um pastor que julgue excessivamente se recuse a oficiar.

2. Ninguém pode determinar com certeza se há fé (ou falta da mesma) em outro pessoa. Já se ouviu pessoas dizerem mesmo no sepultamento de um membro da igreja, "Se o pastor soubesse ..." Por outro lado, quando a vida pregressa do falecido e as circunstâncias de sua morte manifestarem ausência de fé em Cristo, o pastor não pode dirigir um serviço funeral cristão, o qual oferece o conforto da esperança da salvação para aquela pessoa que morreu.

3. O que e quanto o pastor dirá em seu sermão? O pastor poderia justificar ou excusar sua participação no sepultamento? Quão claramente ele pode apontar para o Senhor encarnado que convida a que todos lancem suas cargas sobre ele?

4. A família está pedindo/insistindo para que o culto seja conduzido no santuário, com tudo o que isto implica?

O pastor, com os líderes da congregação, necessitarão ter uma política geral esquematizada mutuamente, baseada em princípios teológicos bem fundamentados e que regulem o funeral de um suicida - um política que terá de ser aplicada a cada situação.

Quando o pastor estiver lutando com algum caso difícil, ele achará especialmente útil consultar colegas pastores.

Sepultamentos com Envolvimento Unionista/Sincretista

Quando solicitado a participar em cultos funerais com clérigos de uma outra denominação que não esteja em comunhão com o Sínodo de Missouri, o pastor fielmente declinará, honrando e sustentando as práticas de comunhão das Escrituras e das Confissões. A participação conjunta com clérigos que não estejam em comunhão comunica uma mensagem ambígua que resulta em confusão. De fato, uma confusão maior do que a provavelmente causada pelo convite em si mesmo.

Sepultamentos de Membros de Lojas

Devem-se tomar alguns cuidados para diferenciar os funerais de cristãos que sejam membros de lojas de funerais que incluam liderança participativa de representantes de lojas. Este último deve ser energicamente evitado. Mesmo que o pastor até mesmo suspeite que este possa ser o caso, explique a situação à família. Relembre-os de que até uma presença "surpresa" de representantes da loja junto à sepultura anuncia em favor do falecido que o universalismo defendido pela loja era a verdadeira fé que ele possuía. Caso isto seja verdadeiro, a família deveria respeitar a insistência do pastor em não-envolvimento.

Os cristãos que sejam membros de lojas representam uma questão diferente ao pastor fiel. Ao passo que a fé mais forte agarra-se à perfeição de Jesus Cristo, a fé mais fraca agarra-se a esta mesma perfeição. Mesmo uma centelha de fé é fé salvadora. Em todo caso, o pastor aponta para a fidelidade de Deus à aliança feita no Santo Batismo. Ele não é tão rápido para abandonar-nos como o somos com relação a ele (2Pe 3.9).

Sepultamentos Envolvendo Ritos Militares

Os ritos militares envolvidos num funeral não se relacionam à fé do falecido, mas ao compromisso e à lealdade que o mesmo tinha para com seu país. Caso uma tal participação seja esperada, verifique com o responsável pelo funeral os detalhes do envolvimento e como ajustar-se a esta honra especial prestada ao falecido.

Sumário

O falecimento amargo e doce de um cristão tanto provoca a dor como oportuniza que se mitigue a mágoa com o Evangelho confortador da ressurreição. Apesar dos olhos cheios de lágrimas e dos espíritos tristes, os enlutados podem encontrar descanso nos braços de Jesus. Enquanto alguns clérigos encontram "sucesso" em números, o Seelsorger será profundamente apreciado e longamente lembrado como aquele que trouxe o bálsamo do Evangelho.

O SEPULTAMENTO CRISTÃO

DEPENDENTES QUÍMICOS/CO-DEPENDENTES

7 O Cuidado Pastoral a Dependentes Químicos e a Co-Dependentes

Falando de maneira geral, as drogas têm sido uma bênção para a humanidade. Pense na vida sem as vacinas, a aspirina ou a penicilina (ou sem os substitutos deles para aqueles que são alérgicos aos originais). No entanto, por causa de sua grande habilidade em mudar a química do corpo, as drogas sempre têm sido objeto de mau uso.

Os médicos e o governo procuram controlar o uso de drogas receitáveis que têm propriedades de alterar a mente. Porém, algumas pessoas fazem mau uso de qualquer droga - receitável ou não, legal ou não. Por causa de seu efeito químico sobre a mente (normalmente prazeroso), muitas pessoas tornam-se dependentes psicológica e/ou fisicamente dessas drogas e perdem o controle sobre o uso das mesmas, o que causa problemas progressivamente mais sérios tanto às pessoas dependentes quanto a seus familiares, na condição de co-dependentes.

Alguns têm estimado que pelo menos 10 milhões de norte-americanos são quimicamente dependentes do álcool. Se isto for assim, então pelo menos 50 milhões de membros de famílias estão sofrendo as conseqüências.1 Alguns milhões a mais são patologicamente dependentes de outras drogas - e, assim, alguns milhões adicionais estão incluídos no número de sofredores.

Em uma congregação luterana típica, pelos menos 30% dos membros, infelizmente, podem estar afetados pela dependência das drogas. Pelo fato de as pessoas reconhecerem o cuidado da igreja para com todos, as vítimas da dependência química freqüentemente recorrem ao pastor à procura de ajuda. Portanto, o pastor deve compreender o problema e estar pronto a prover o cuidado pastoral necessário.

A Causa da Dependência Química

Mais e mais, as pesquisas apontam para a probabilidade de que a dependência química resulte não apenas de fora, de um ambiente de encorajamento à dependência, mas também de uma predisposição herdada que leva à dependência química (que pode ser similar ao desequilíbrio químico que causa a depressão clínica em algumas pessoas). Forte evidência indica que esta predisposição herdada é especialmente o caso entre os alcoólatras.

Freqüentemente, fatores espirituais também são parte da causa da dependência química. Algumas pessoas buscam e acreditam que encontraram uma maneira de superar seu sentimento de alienação da parte de Deus e de outras pessoas, um modo de elevar seus sentimentos de insignificância e insegurança. Howard J. Clinebell, Jr., em Understanding and Counseling the Alcoholic ("Compreendendo e Aconselhando o Alcoólatra"), afirma que "o álcool dá uma pseudo-satisfação para a necessidade religiosa do alcoólatra". Ele acrescenta que, "Assim, o alcoólatra procura satisfazer suas necessidades religiosas através de meios não-religiosos".2 Na realidade, seja qual for a experiência das pessoas dependentes, a mesma é fruto de mentes anestesiadas. Contudo, por um tempo, estas pessoas parecem estar convencidas de que acharam a solução para carências pessoais não atendidas. Enquanto elas derivam benefícios do uso da droga, elas acreditam não poder encontrar tais benefícios em nenhum outro lugar.

A Dependência Química na Perspectiva Cristã

A Bíblia só fala a respeito de um abuso químico, o do álcool.3 Já que o vinho é uma boa dádiva de Deus (e.g., Sl 104.14-15), a Bíblia também adverte contra seu mal uso como parte das "obras da carne [que] são conhecidas" (Gl 5.19-21). O alcoolismo e outras dependências químicas, como todas as outras desordens e enfermidades humanas, têm sua raiz na condição humana do pecado original. Da mesma forma, o uso deliberado do álcool (e, por extensão, de todas as substâncias químicas) é um pecado.

Já que tanto o pecado original quanto o atual são julgados por Deus, o pastor precisa lembrar que (1) ele não pode julgar uma pessoa quando a mesma escorregou de um pecado intencional para dentro de um comportamento incontrolável; e (2) que todos os pecados são perdoados pela morte vicária de Cristo Jesus. Fé, não importa quão fraca, ainda é fé salvadora. Portanto, ao promover a recuperação, o pastor levará a pessoa dependente ao arrependimento de modo que ele possa receber o perdão dos pecados e a força renovadora da vida que Deus torna disponível aos penitentes através da fé em Jesus Cristo.

Devido ao fato de o mal uso que os dependentes fazem das substâncias químicas envolver perda de controle, pode ser defendida a visão deste ser um pecado de fraqueza, ao invés de um pecado deliberado que destrói a fé. Mesmo assim, a dependência química pode ser perigosa à fé. Ao usar as drogas para "salvar sua vida", o dependente mais e mais as vê como seu deus. Ele corre o risco muito verdadeiro de afastar a presença salvadora de Deus de sua vida. As palavras de Jesus aplicam-se, "Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e que perder a vida por minha causa achá-la-á" (Mt 16.25).

Substâncias Químicas que Criam Dependência

As drogas alteradoras da mente que as pessoas usam4 são basicamente classificadas como segue,

Depressivos ao sistema nervoso central:

Álcool, barbitúricos, metaqualona, tranqüilizantes menores e narcóticos analgésicos tais como ópio, morfina, codeína e heroína.

Estimulantes ao sistema nervoso central:

Cocaína, anfetaminas, cafeína e nicotina.

Alucinógenos:

LSD, mescalina, peiote, psilocibina ("chá de cogumelo") e fenciclidina.

A maior parte das substâncias químicas acima tem a habilidade de produzir tanto dependência física como psicológica - e, às vezes, uma inclinação para a dependência de outras drogas similares (o que é denominado "transdependência"). Uma combinação de muitas destas substâncias, especialmente uma mistura de álcool com outras drogas, multiplica os efeitos de cada uma sobre o sistema nervoso central e é particularmente perigosa. E já que afastar-se das drogas pode ser doloroso, afastar-se da combinação de álcool e barbitúricos é uma ameaça de vida.

Compreendendo e Ministrando a Dependentes Químicos

A Natureza da Dependência Química

A dependência de drogas é mais do que o mau uso de substâncias químicas: é seu uso contínuo e incontrolável com os problemas resultantes em um ou mais aspectos da vida de uma pessoa. A pessoa quimicamente dependente não pode predizer firmemente quando começará a usar a droga, por quanto tempo a usará ou se parará. De fato, a dependência química é uma condição fatal progressiva e extrema para a qual não há nenhuma cura conhecida. Contudo, o tratamento pode levar à abstinência e recuperação.

A fim de participar no processo de tratamento, o pastor deveria compreender como a dependência química progride. Várias unidades de cuidado profissional têm desenvolvido gráficos para esboçar a progressão arrasadora da enfermidade ao longo de seus estágios e para demonstrar como a dependência química é destrutiva para cada aspecto da vida de uma pessoa. O pastor deveria contactar o centro local de tratamento para o que quer que seja usado localmente.

Um pessoa quimicamente dependente, pela própria natureza de sua enfermidade, tem dificuldade em reconhecer sua condição. Apesar do sentimento de culpa e vergonha que às vezes aflora, a pessoa dependente normalmente se utiliza de mecanismos de defesa de auto-proteção: negação, racionalização e projeção.

A pessoa dependente nega o problema com substâncias químicas e, assim, falha em ver o relacionamento entre o uso de drogas e outros problemas manifestos na vida de alguém.

Em segundo lugar, o dependente racionaliza, reclamando não fazer maior uso do álcool ou de outras drogas do que outras pessoas fazem e insistindo em dizer que quaisquer outros problemas pessoais são de pouca significância.

Finalmente, o dependente projeta a causa (e a responsabilidade) do seu uso pessoal de drogas e de seus problemas sobre outras pessoas.

A pessoa dependente instintivamente procura proteger o uso pessoal de substâncias químicas, encarando o uso de drogas como essencial ao seu bem-estar.

O dependente estará aberto à ajuda apenas quando a dor causada pelo uso compulsivo de drogas tornar-se maior do que o prazer derivado de tal uso. Neste momento, torna-se óbvia a falta de força de vontade pessoal de alguém para efetuar uma recuperação, admitindo sua impotência sobre o uso de substâncias químicas psico-ativas, bem como reconhecendo que sua vida tornou-se ingerenciável. Finalmente, neste ponto crítico, a pessoa dependente está sequiosa por ouvir do pastor (e/ou a pessoa que prestará cuidado) que o auxílio de Deus e a assistência de muitas outras pessoas atenciosas e competentes são os únicos meios para que ele ganhe a liberdade da escravidão química. Sem tal ajuda, pessoas dependentes podem somente desesperar-se, continuar com o uso de drogas, cometer suicídio ou enlouquecer.

O Cuidado Pastoral a Pessoas Dependentes

Pessoas quimicamente dependentes que procuram o pastor comumente estão amedrontadas, oprimidas pela culpa e auto-condenando-se. Geralmente, elas estão experimentando tanto dor física, como emocional e espiritual, mas provavelmente elas só vêm devido à coerção de outras pessoas. Portanto, para ser capaz de transmitir a aceitação de Deus (não sua aprovação), o pastor deveria ouvir a fim de compreender a visão pessoal que o aconselhando possui de seus problemas e a fim de ser empático para com suas emoções.

O pastor deveria ajudar a pessoa quimicamente dependente a: Compreender, reconhecer e aceitar a enfermidade; Abaixar as defesas e ouvir o que Deus quer que o aconselhando ouça: Lei e Evangelho; e Obter tratamento profissional.

Por conseguinte, o pastor não usa a Lei judicialmente, mas a utiliza para ajudar a que o aconselhando entenda porque sua vida está caótica - que, desde que o problema em última análise brota do pecado original que todos nós herdamos, a dependência pessoal de drogas está destruindo o relacionamento do aconselhando com Deus e sua vida com outras pessoas. Embora o mal uso que a pessoa faça das drogas possa ser incontrolável, o dependente ainda possui a habilidade, a vontade para optar por uma mudança. A recusa ao esforço de fazer assim contraria a vontade de Deus e está sob seu julgamento.

Então, para que o aconselhando não se desespere, o pastor oferece-lhe esperança falando o Evangelho do amor perdoador de Deus e da ajuda em Jesus Cristo com toda sua força reconciliatória, confortadora e operadora de mudança de vida.

Já que a dependência química é uma enfermidade que envolve perda de controle e que afeta a pessoa física, mental, emocional, social e espiritualmente, o pastor deveria encorajar o aconselhando a obter tratamento multidisciplinar adequado iniciando por centros de tratamento de dependência química já disponíveis na maioria das regiões. Os centros fornecem tratamento em regime interno e externo aos dependentes, bem como aos seus familiares. As instituições Alcoólatras Anônimos, Narcotics Anonymous ("Dependentes Anônimos de Narcóticos" e Cocaine Anonymous ("Depen- dentes Anônimos de Cocaína" também oferecem recursos para recuperação. Para alguns, a participação num grupo de auto-ajuda será uma opção adequada de tratamento.

Tanto se a pessoa optar por programas de tratamento médico, como se sua escolha for participar apenas de um grupo de apoio, o pastor deve prover cuidado pastoral continuado e a comunhão da comunidade cristã. É imperativo que o pastor assista os participantes numa compreensão e utilização cristãs do "Programa de Recuperação em 12 Passos"5 promovido nos centros de tratamento e em grupos de auto-ajuda. O programa ajudará a mudar a dinâmica intrapessoal, bem como auxiliará a produzir a abstinência da droga como um modo de vida.

Compreendendo e Ministrando a Co-Dependentes

A Natureza da Co-Dependência

O termo co-dependência é aplicado a membros da família e a outras pessoas emocionalmente próximas daqueles que são quimicamente dependentes. Tal qual a pessoa dependente, eles também sofrem (e têm sua própria doença não identificável). Os co-dependentes são confusos, irados, culpados e temerosos. Como as pessoas dependentes, eles também lançam mão da negação, racionalização e projeção. Para estes familiares, a vida está caótica. Eles se esforçam para obter ordem em meio ao caos. Eles também recorrem a novos comportamentos que normalmente não auxiliam na recuperação (embora os métodos freqüentemente mantenham a família funcionando de modo mínimo). Freqüentemente, a família assume posturas que permitam à pessoa dependente continuar justificando o mau uso de drogas.

Filhos de viciados, caso não sejam tratados, continuam a ser co-dependentes mesmo após deixarem seus lares. Quando crescem, continuam demonstrando problemas particulares. Podem apresentar incapacidade para confiar e/ou para estabelecer relacionamentos profundos, bem como uma necessidade muito forte de controlar os outros, um senso exagerado de responsabilidade e um comportamento impulsivo. Estas pessoas também podem experimentar um sentimento de baixa auto-estima, depressão, isolamento e dificuldade em manter relacionamentos satisfatórios.

O Cuidado Pastoral aos Co-Dependentes

Muitos dependentes químicos e co-dependentes vêm aos pastor em busca de auxílio. Normalmente, os co-dependentes vêm primeiro, freqüentemente apresentando problemas diferentes do que a dependência química. Como em todo aconselhamento, o pastor deve dizer a verdade em amor (sem sacrificar/confundir a verdade ou o amor) e deve apoiar suas palavras com sua presença de cuidado pastoral. Ele se empenhará em falar a Lei e o Evangelho de maneiras que permitam que as pessoas ouçam a Palavra de Deus não-defensivamente e, então, deixem que o Espírito Santo aja.

Ao prover cuidado pastoral, o pastor instruído assiste os membros da família na identificação e descontinuidade dos comportamentos hostis e protetores que incentivam o uso de drogas. Ele os orienta a praticar um "amor firme", que altruisticamente permite que a pessoa dependente experimente a dor do uso de drogas e o comportamento aliado a isto. Da mesma forma, o pastor encoraja os membros da família a viver à parte do comportamento destrutivo do ente querido - e a que ainda façam isto sem afastar a disponibilidade de cuidado e auxílio próprios de seu "amor firme".

A meta do pastor é ajudar tanto aos dependentes quanto aos co-dependentes a que se tornem plenamente envolvidos no processo de recuperação que já foi iniciado quando as pessoas entraram em contato com ele.

Grupos de apoio estão disponíveis para co-dependentes, bem como para dependentes. Entre eles, estão o Al-Anon e o Alateen, para a família e os amigos dos alcoólatras, e o grupo Famílias Anônimas e Nar-Anon (Narcóticos Anônimos), para aqueles que são próximos a pessoas dependentes de outras drogas. O Al-Anon tem grupos especiais para filhos adultos de alcoólatras.

O pastor pode ser especialmente útil informando os membros da família a respeito da intervenção e encorajando-os a consultar um especialista que explicará e simplificará o processo. A intervenção começa quando as pessoas próximas da pessoa dependente, como um grupo, a confrontam com alguma informação específica sobre seu mau uso de drogas e sobre seu comportamento prejudicial (i.e., para aplicar a Lei a esta situação). A meta é aumentar o nível da dor emocional de modo que o dependente venha a solicitar um tratamento. Agentes facilitadores competentes de intervenção podem ser encontrados em centros locais de tratamento, bem como em escritórios regionais do National Council of Alcoholism ("Conselho Nacional de Alcoolismo").

Conclusão

Profissionais da área falam de dependência química como uma enfermidade espiritual que também afeta a pessoa física, mental, emocional e socialmente. Centros de tratamento e grupos de auto-ajuda reconhecem e enfatizam os recursos espirituais como necessários à recuperação de dependentes e co-dependentes. O conselho deles de que a recuperação resulta da rendição da vontade e da vida de alguém a um poder superior sublinha a necessidade de um cuidado pastoral competente na recuperação do pecado-doença da dependência química. Por fim, a recuperação completa que Deus intenta somente pode ser encontrada através de um relacionamento com Deus através de Jesus Cristo. Apenas o Senhor Jesus Cristo concede os recursos necessários à recuperação completa. Ele diz sobre si mesmo, "Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância" (Jo 10.10b).

DEPENDENTES QUÍMICOS/CO-DEPENDENTES

NECESSIDADES ESPECIAIS

8 O Povo de Deus com Necessidades Especiais

Que excitação os discípulos devem ter sentido (Mt 4.23-24)! Viram diante de seus próprios olhos o cumprimento da profecia de Isaías:

Então, se abrirão os olhos dos cegos, e se desimpedirão os ouvidos dos surdos; os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará (Is 35.5-6a).

Mas os discípulos devem ter reconhecido a realidade que outros textos implicam: entre muitas pessoas que estavam no tanque de Betesda, Jesus curou apenas uma (Jo 5.2-8); somente alguns israelitas afligidos pela lepra foram mandados para casa limpos.

No papel de serva que está sob Cristo, a igreja mantém na mente e no coração tanto a comissão "fazei discípulos de todas as nações, batizando-os...ensinando-os" (Mt 28.19-20), quanto o modelo, seguindo o Pentecostes, de um ministério de cura: "Pela fé em o nome de Jesus, é que este mesmo nome fortaleceu a este homem que agora vedes e reconheceis; sim, a fé que vem por meio de Jesus deu a este saúde perfeita na presença de todos vós" (At 3.16).

As duas tarefas não estão dissociadas. Pessoas com necessidades especiais1 compreendem uma vasta proporção de "todos os povos/nações".2 Devido ao fato de estas necessidades especiais afetarem a pessoa inteira, devem ser atendidas como parte da tarefa de compartilhar o Evangelho. Mas os números elevados não justificam qualquer abordagem para que lhes inclua nos registros. Uma ênfase em mero crescimento estatístico macula a igreja como corpo de Cristo e o ministro como pastor de Cristo e sob Cristo. O modelo verdadeiro de igreja que é serva emana das próprias promessas de Deus em passagens tais como Is 35.3-6 e Os 6.6 e do cumprimento das mesmas como falado por seu Filho, "Misericórdia quero e não holocaustos; pois não vim chamar justos e sim pecadores [ao arrependimento]" (Mt 9.13).

O pastor que busca exercer um ministério centrado no Evangelho para com todas as pessoas - incluindo aquelas com necessidades especiais - experimentará diversas tensões.

Como posso apresentar corretamente os milagres de Jesus àquelas pessoas com necessidades semelhantes às destes milagres?

Como posso aplicar a mensagem de esperança da parte de Deus a indivíduos específicos com necessidades especiais específicas?

Como esta congregação pode ser sensibilizada a desenvolver programas e a fazer acomodações que incluam todas as pessoas?

O quanto o medo de embaraço/de estar fazendo algo inadequado contribui para que se ignore aquelas pessoas com necessidades especiais - e como posso ajudar meus paroquianos a superar este medo?

Como superarei meu próprio medo de prometer mais do que eu/a congregação possamos cumprir?

Será que esta pessoa deficiente mental é capaz de compreender pecado e graça e, por conseguinte, capaz de receber a Santa Comunhão?3

A lista acima não deveria causar inércia, ao invés disso, deveria dar uma direção ao ministério do pastor. Todo pastor fiel de uns poucos anos de trabalho pode contar as vezes em que doentes recuperados disseram, "Pastor, sei que os médicos e os remédios funcionaram, mas isto não teria acontecido sem Deus tê-lo feito funcionar. Obrigado por ficar perto de mim". Ou, "Deus o abençoe, pastor, por ensinar [meu filho retardado] sobre Jesus; eu tinha perdido a esperança, mas quando ele tomou a Comunhão pela primeira vez hoje de manhã, chorei de alegria". Ou (via um tradutor de sinais) "Eu não pensava que Deus ou a igreja tinham tanto cuidado conosco, pessoas deficientes. Mas agora que vocês encontraram um intérprete de sinais para ficar comigo na igreja, finalmente compreendo porque meus pais vão sempre à igreja lá onde eles moram".

Este capítulo, portanto, tem seu foco no ministério pastoral para com aquelas pessoas que possuem necessidades especiais. Não há desculpas aceitáveis para não importar-se com aqueles que têm necessidades especiais. Os milagres de cura que Jesus fez demonstram isto da maneira mais clara. Ele nunca mandou ninguém ir embora; ao invés disso, Jesus foi ao encontro das pessoas. Ele as amou, compadeceu-se delas e as ajudou. Um pastor e uma congregação centrados em Cristo não farão menos que isto.

A Congregação Inclusiva

Imagine uma congregação num culto que convida e oferece acomodações, pessoal de apoio e uma recepção semelhante a que Cristo faria aos retardados, àqueles em cadeiras de rodas, a pacientes com AIDS e àqueles com enfermidade mental prolongada, todas juntas com as assim chamadas pessoas "normais". Para o mundo - e mesmo para algumas pessoas que estão na igreja - esta congregação pode parecer uma reunião de perdidos, de intocáveis. Tais grupos reuniam-se nas encostas de montes e nas entradas das portas para ouvir Jesus4 - grupos de pessoas com saúde e de enfermos, de pessoas bonitas e de feias, de pobres e de ricos, de queridas e de rejeitadas.5 As próprias palavras de Jesus oferecem encorajamento a que congreguemos grupos semelhantes: "Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes" (Mt 25.40). Suas palavras não exigem nenhuma grande interpretação.

O pastor não pergunta se ele e a congregação irão ministrar a pessoas com necessidades especiais, mas como. As tensões (como mencionado previamente) existem, mas não são insuperáveis. A própria congregação pode fazer a tensão crescer ao ver os custos. A comunidade pode aumentar sua desaprovação quando "o invisível" torna-se mais visível. Nada disto, no entanto, ameniza o convite de Jesus,

Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma (Mt 11.28-29).

A Inclusividade Começa com a Atitude de Ser Como Cristo

Triste, mas verdadeiro, tão freqüentemente pessoas com necessidades especiais são evitadas - por querer, sem querer e inconscientemente. Em alguns casos, elas são qualificadas quase como não-pessoas. Pessoas afetadas pela AIDS provavelmente representem um exemplo extremo, mas são um exemplo claro. De fato, eles bem podem ser classificados como os "leprosos" de nossos dias, pessoas que deveriam permanecer a uma distância segura e gritar, "Imundo!"

Esta atitude de alienação, de culpa e de medo por parte das pessoas em geral para com os deficientes é bastante comum, mesmo entre pastores. Uma mulher, tentando encorajar sua igreja a trabalhar com deficientes, tragicamente escreveu,

Descobri que pessoas deficientes petrificam nossos membros. Verifiquei que uma senhora maravilhosa que era deficiente numa cadeira de rodas e que tinha espasmos musculares intermitentemente era evitada por nossos membros e encarada fixamente por outros. Ela não era bem-vinda. Ela era empurrada em sua cadeira para dentro e para fora ao final do culto com muito pouca cordialidade.6

A primeira tarefa do pastor, então, é mudar a atitude e a compreensão do povo de Deus. Mas esta tarefa começa com o próprio pastor e com a maneira pela qual ele percebe que aquelas pessoas com necessidades especiais são semelhantes humanos de igual valor e dignidade aos olhos de Cristo.

A Atitude de Ver o Valor dos Outros

O ponto mais uma vez se repete: pessoas com necessidades especiais têm valor, não porque eles representem crescimento estatístico, mas porque nosso Senhor os valoriza assim como ele valoriza todas as pessoas - talvez mais ainda (baseado na passagem de Isaías citada acima a qual Jesus mencionou referindo-se a si mesmo). Ouça a visão que Jesus compartilhou com o apóstolo João:

Vi, e eis grande multidão...vestidos de vestiduras brancas...São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro...Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima (Ap 7.9-17).

Não importa qual seja a condição física, Deus valoriza e ama tanto a cada um de nós que ele "deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3.16).

A Atitude de Ver a Contribuição do Deficiente

Os pastores, bem como os leigos podem beneficiar-se com as contribuições que os deficientes trazem à congregação - benefícios muito mais valorosos do que aqueles contados no prato de ofertas.

Muitos dos deficientes estão capacitados a contribuir com seu tempo e com seus talentos da mesma forma como outros membros. Um deficiente visual pode tocar piano tão bem quanto uma pessoal que enxerga. Um epilético pode cuidar da biblioteca da igreja com bastante capacidade. Uma pessoa deficiente auditiva pode servir na comissão de altar ao lado de alguém que sofre de uma deficiência mental leve. A congregação sai ganhando quando cada membro exercita boa mordomia do tempo e dos talentos (Ef 4.16).

Ainda assim, mesmo quando alguma deficiência nega ao indivíduo a oportunidade de servir, esta pessoa faz mais do que ocupar espaço no banco da igreja. A presença desta pessoa no culto levanta-se como um sinal da missão de Deus no mundo decaído, como um sinal da graça e da redenção divinas. Esta pessoa é um lembrete escatológico de que, no final dos tempos, tudo será corrigido. Esta pessoa carrega uma aflição por causa das outras pessoas, concedendo-lhes a oportunidade e o desafio para que elas sirvam. Não há vidas desperdiçadas no reino de Cristo: não há perdedores, somente vencedores sob a cruz.7

A Atitude de Ser Flexível

Aquelas congregações com a atitude de ser como Cristo compreendem que, já que não há duas pessoas iguais, nenhum método sozinho atenderá as necessidades especiais de todas as pessoas deficientes. A chave é a flexibilidade. Uma criança deficiente auditiva pode precisar de instrução confirmatória individualizada; outros podem ser capazes de freqüentar a aula regular.

Como parte da flexibilidade, não fique com medo de cometer enganos. Preocupação demasiada para com o deficiente pode levar a um paternalismo constrangedor que exacerba o problema. Por outro lado, o deficiente rirá com você quando vocês pesquisarem juntos abordagens viáveis. Amor genuíno, persistência, uma mente inquiridora e um senso de humor saudável levarão ao sucesso. Estenda o amor de Cristo aos corações humanos e a fórmula nunca falhará.

A Atitude de Superar o Medo

É um axioma repulsivo que mesmo cristãos "normais" possam ter medo de deficientes. Um deficiente visual idoso, um adolescente com Síndrome de Down, uma criança autista - toda pessoa deficiente tem o poder de fazer com que as outras pessoas sintam-se muito incomodadas. Às vezes, mesmo membros da igreja podem preferir que seja prestado cuidado aos deficientes "em algum outro lugar que não seja ali; a presença deles é perturbadora".

Algumas instituições e agências (incluindo aquelas que são patrocinadas pela igreja) de fato proporcionam a necessário à comunidade cristã. No entanto, o Estado só pode prestar cuidado institucional a uma pequena porcentagem de qualquer segmento da população - para os deficientes mentais, apenas 3%. O corpo de Cristo não pode mais ignorar os outros 97% assim como não pode esquecer-se dos 3% servidos pelas instituições.

O medo (e até a raiva) que o membro comum de uma igreja pode sentir poderia bem ser uma emoção superficial que mascara outros sentimentos. Tais sentimentos podem incluir o medo de não conhecer reações de linguagem verbal e corporal socialmente adequadas ao deficiente; medo de ser solicitado (direta ou indiretamente) a comprometer tempo e/ou energia adicionais para cuidar de alguém com necessidade; medo de ser ridicularizado por outros devido ao cuidado demonstrado abertamente; medo de confrontar-se com as emoções próprias de alguém no que se refere a ser um deficiente. (A conversa sobre estes temores também pode afligir o deficiente.)

Durante suas visitas pessoais, o pastor ajudará seus membros a superar estes medos, a compreender e a verbalizar o que está por detrás dos mesmos e a aumentar a confiança no amor de Cristo devido ao fato de que "o perfeito amor lança fora o medo" (1Jo 4.18).

A Atitude de Superar a Discriminação

No passado, muitos cristãos erroneamente sustentavam a suspeita de que uma enfermidade ou deficiência era algum tipo de castigo da parte de Deus e que poderia ser superada se eles barganhassem com Deus. O surgimento da AIDS tem rejuvenescido e calcificado nacionalmente esta convicção.

Esta compreensão simplesmente não é verdadeira. Para ser correto, quando uma pessoa é pega por um incêndio, a mesma fica queimada. Mas de modo algum "ficar queimada" define "ser pega por um incêndio" como um pecado; nem "ficar queimado" é uma punição. Da mesma maneira, a AIDS não definiu a homossexualidade como um pecado; Deus o fizera muito antes da AIDS. Nem é a AIDS uma punição direta da parte de Deus para algum pecado específico. O mesmo deve ser enfatizado aos pais de uma criança que morre devido à SIDS, Sudden Infant Death Syndrome, "Síndrome de Morte Infantil Repentina") ou que contrai fibrose cística. O milagre do homem cego em João 9 brada a resposta de Cristo a um tal pensamento - assim como também responde ao fato de uma criança que contraiu AIDS através de uma transfusão de sangue.

O pastor pode e deve proclamar que enfermidades e deficiências testemunham o fato de vivermos em um mundo decaído, não no Éden, que, por conseguinte, Deus enviou seu Filho para redimir tanto as pessoas quanto o mundo (Rm 8.18-22).

A Atitude de Superar a Condescendência

Resumindo, uma atitude de condescendência pode negar qualquer esforço do ministério pastoral. Nenhum ministério com pessoas pode acontecer quando o pastor ou os leigos acreditam que "aquelas pobres pessoas não podem fazer nada; apenas iremos ter que prestar cuidados a elas". Embora umas poucas (muito poucas) pessoas sejam totalmente dependentes de outras, a maioria das pessoas deficientes reconhecem que, com algumas adaptações para suas necessidades especiais, elas podem contribuir tanto quanto ou até mais do que a maioria para o ministério da congregação como um todo. De fato, as necessidades especiais destas pessoas freqüentemente aumentam sua sensibilidade em direção aos outros. Uma atitude de condescendência rouba tanto do deficiente quanto do restante da igreja as bênçãos que as pessoas deficientes podem contribuir.

A Congregação Inclusiva Planeja os Custos

Todo o ministério da congregação requer um investimento de energia, tempo e dinheiro. Ministrar com e para aqueles com necessidades especiais não é uma exceção. Contudo, não importa o que a comissão de propriedades ou o que o tesoureiro possam pensar, o custo mais elevado é o da energia e o do tempo.

O Investimento Humano

Antes de mais nada, as necessidades deve ser determinadas. Alguém têm que realizar a obra detalhada de identificação dos deficientes pelo nome, endereço, telefone e as necessidades especiais que eles possuam. Embora se possa iniciar esta lista com os membros, a mesma deve estender-se para além, para a comunidade social. (Em si mesma, a lista está incompleta até que o deficiente tenha sido visitado pessoalmente e suas necessidades discutidas.)

Uma segunda lista irá conter os recursos humanos da congregação - pessoas que podem providenciar transporte, professores capazes que possam ser mais treinados caso seja necessário, intérpretes para os deficientes auditivos, pessoas para fazer visitas espirituais no lar ou em uma instituição e indivíduos sensíveis para serem companheiros do deficiente de modo a administrar quaisquer necessidades pessoais durante o tempo em que o deficiente estiver na igreja. Esta lista também está incompleta até que as necessidades dos deficientes estejam reunidas.

O Investimento Financeiro

Que fatores ajudam ou atrapalham a participação total de todas as pessoas? Mais uma vez, consulte primeiro os próprios deficientes para determinar suas necessidades especiais. Entre em contato com agências privadas e governamentais para obter informação e assistência através de uma inundação de instruções. Então, a congregação será capaz de avaliar o que deve ser feito. A lista pode incluir:

Mudança nos bancos da igreja a fim de que pelo menos uma fileira dê acesso a cadeiras de rodas; Ajuste no sistema de iluminação e acústica; Reorganize salas educacionais; Adquira material educacional e de culto tais como hinários em braile e cursos de escola dominical próprios para deficientes mentais; Proveja uma entrada viável para a igreja, além de fácil acesso à nave; ou Remodele os banheiros.

O cifrão não deve atrapalhar a obra da igreja. Da mesma maneira como uma congregação não poderia pensar em abrir suas portas sem um lugar para que as pessoas "normais" sentassem, assim deveriam ser consideradas as necessidades de todas as pessoas. Tais custos são parte do orçamento padrão que a congregação opera.

A Congregação Inclusiva Utiliza Todos os Recursos

A congregação primeiramente desejará trabalhar mais de perto com agências patrocinadas pela igreja, como aquelas que estão listadas no The Lutheran Annual ("Anuário Luterano"). Agências seculares também irão responder. Ainda que eles não possam fornecer o ministério espiritual necessário, eles podem assistir, e.g., na compra de cadeiras de rodas que serão de propriedade da igreja para uso no lugar e na recomendação de mudanças no projeto do edifício.

Além disso, organizações seculares tais como os Alcoólatras Anônimos provêm um ministério humano e terapêutico que a igreja não deveria ignorar. De fato, algumas congregações luteranas têm permitido e até encorajado que grupos de AA utilizem suas instalações. Mesmo que os luteranos não sustentem a visão deística que os AA têm de Deus, a pessoa alcoólatra não necessita confessar esta visão a fim de ser um membro. Desde que a igreja não ofereça uma organização ou serviço afim, o pastor deveria considerar como ele e a congregação podem dar apoio ao trabalho dos AA.

O mesmo permanece verdadeiro para muitas organizações não-religiosas. Desde que as mesmas possa ser usadas como ferramentas para uma visão ampliada do próprio ministério da igreja, elas também oferecem a oportunidade de que a igreja apóie direitos cívicos. Tais grupos podem ser convidados a usar as instalações da igreja; e o pastor pode ser até incentivado por sua congregação a tomar parte ativa no rabalho dos mesmos. Fazer boas obras não está condicionado à fé ou à falta da mesma por parte dos recipientes.8

Conclusão

A tarefa de ministrar com as pessoas deficientes e para elas sempre tem sido desempenhada pelo povo de Deus. Através de Moisés, Deus mesmo ordenou "Não amaldiçoarás o surdo, nem porás tropeço diante do cego; mas temerás o teu Deus. Eu sou o SENHOR" (Lv 19.14). Isto também faz lembrar dos hospitais, dos leprosários, das missões médicas, das escolas para deficientes auditivos e de outras instituições estabelecidas pela igreja e por cristãos dedicados.

Estas organizações são mencionadas não com o intuito de induzir à culpa ou à motivação, mas para ilustrar a alegria que o povo de Deus tem quando vê, diante de seus próprios olhos, o cumprimento da profecia de Isaías na pessoa de Jesus:

Então, se abrirão os olhos dos cegos, e se desimpedirão os ouvidos dos surdos; os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará (Is 35.5-6a).

NECESSIDADES ESPECIAIS

CULTOS PAGÃOS/NOVAS RELIGIÕES

9 Cultos Pagãos e Novas Religiões

Os cultos pagãos, as assim chamadas "novas religiões", constituem uma categoria especial de preocupação para os cristãos.1 Embora muitos destes movimentos revivam heresias antigas ou religiões pagãs, os mesmos estão aproveitando aceitação e sucesso novos no mundo todo. Eles podem ser divididos em subcategorias como:

Expressões ocidentais do Hinduísmo/Budismo; Sínteses do Cristianismo e de religiões orientais; Grupos isolacionistas e de "fim dos tempos"; Reavivamentos de panteísmo e cultos da natureza; Enclaves de satanismo e bruxarias; e Substitutos da religião tais como movimentos humanistas seculares, promotores da consciência, ateístas organizados e adeptos auto-deificadores de uma "nova era".

As novas religiões são uma força a ser levada em conta, pois mesmo as estimativas mais conservadoras fixam seu número em algo bem além de 3000 organizações separadas. Freqüentemente, é difícil descrevê-las ou analisá-las, pois organizações novas aparecem bastante repentinamente, ao passo que outras desaparecem, dividem-se, fundem-se ou adotam nomes novos. Alguns destes movimentos têm exibido um poder de estabilidade considerável e estão bem no caminho para tornar-se religiões instituicionalizadas ou novas denominações.

O fato de estas novas religiões terem chegado à proeminência tão rapidamente, especiamente entre as pessoas jovens, tem a ver com a conjuntura. Certamente, muitos jovens têm sentido uma desilusão com a sociedade, uma solidão que nasceu da filosofia popular que o indivíduo deve criar sua própria felicidade, um desapontamento do fato de a tecnologia e a ciência terem falhado em resolver os problemas que exercem mais pressão sobre a humanidade, a falta de padrões morais de aceitação geral e dignos de confiança, um futuro desanimador sem fronteiras e de poucas oportunidades, a traição de ideais por heróis e heroínas populares, além da descoberta de corrupção em instituições de confiança (incluindo aquelas igrejas que abandonaram o sobrenatural e, ao invés dele, voltaram-se ao potencial humano).

Aos desiludidos, as novas religiões oferecem calor, aceitação e simples amizade humana. Cada membro participa integralmente em tudo, encontrando, deste modo, uma identidade pessoal. Em lugar da livre escolha baseada em princípios morais desgastados, os membros são submetidos a um padrão moral/ético rígido (embora, entre alguns grupos, sejam submetidos apenas a certas virtudes escolhidas). Espantosamente, poucos seguidores mencionam que a doutrina do grupo (ao inves do estilo de vida) os atraiu.

Normalmente, uma nova religião é encabeçada por um líder, uma forte figura paternal que pode ser considerada um mestre, um messias, um descobridor de verdades novas, ou mesmo como uma deidade. Ele pode usar palavras cristãs familiares, mas designa novos significados para elas. Pecado e salvação podem ser definidos simplesmente em termos de obediência ou desobediência aos mandamentos do líder. Geralmente, este líder é muito dogmático sobre suas "revelações", além de adotar uma moral rígida no que concerne às virtudes particulares que ele selecionou. Paranóico com respeito ao fato de alguém querer tomar o seu lugar de líder, sente-se compelido a providenciar soluções, não importando quão simplistas, para todos os problemas que o mundo encara. Às vezes, ele mantém controle absoluto exigindo que seus seguidores entreguem todas as suas posses, renunciem a todas as decisões e permitam que se supervisione todos os seus movimentos.

O perfil do convertido comum às novas religiões é:

Entre 18 e 26 anos; Instruído; Sério com respeito à vida e ao futuro; Proveniente de um lar relativamente estável; Possuidor de alguma experiência religiosa anterior; e Encarando uma mudança de vida.

Este último item, encarando uma mudança de vida, freqüentemente fornece a chave para saber-se o porquê de as pessoas juntarem-se à uma nova religião. O recrutador atrai uma pessoa justamente no momento em que ele ou ela, pela primeira vez, está frente a frente com uma decisão adulta: formatura de segundo grau ou faculdade, uma mudança para uma nova cidade, um divórcio ou uma morte na família, um rompimento com um amigo de muitos anos, o reconhecimento que alguém repentinamente tem de suas próprias limitações - qualquer coisa que torne a pessoa vulnerável a alguém que entre em cena e ofereça ao menos alguma estabilidade para a vida.

O Papel da Igreja

O surgimento das novas religiões apresentam uma desafio incomum às igrejas de Jesus Cristo. Diferente de outras organizações, as novas religiões geralmente não toleram membresia dupla. Ao invés disso, freqüentemente com hostilidade, eles exigem que o convertido abandone todas as outras devoções religiosas e removem o convertido do meio ambiente familiar e das influências espirituais prévias. Mais freqüentemente do que não, a congregação cristã e seu pastor nunca alcançarão tais indivíduos (embora o esforço da igreja continue). O cuidado pastoral, então, deve focalizar primeiramente a prevenção e, em segundo lugar, o aconselhamento às famílias e aos entes queridos daqueles que tornaram-se envolvidos com alguma das novas religiões.

Educação Preventiva

A prevenção começa pela proclamação fiel e clara da Lei e do Evangelho de Deus. Não existe nenhuma outra ferramenta - e nenhuma outra faz-se necessária, pois a Lei e o Evangelho carregam o poder do Espírito Santo de Deus. Assim, estes devem ser proclamados com a consciência das necessidades que as pessoas possuem, na sociedade contemporânea, de ter um padrão eterno e imutável de certo e errado, de assegurar-se do perdão e da aceitação em Jesus Cristo, da necessidade de colocar a fé em ação através do amor e do serviço cristãos e de reconhecimento pessoal, de identidade, de amizade e de apoio dentro do grupo - bem como de um líder paternal.

A prevenção inclui providenciar uma equipe e um orçamento adequados para ajudar a juventude da igreja a ser "a igreja de hoje" no testemunho e no serviço cristãos. De importância particular é o apoio ao jovem durante uma mudança. A prevenção também inclui educação sobre os novos grupos religiosos que estão ativos na comunidade em que a congregação está situada, sua doutrina e seus métodos de recrutamento. Programas especiais deveriam ser planejados para a juventude da igreja, pois poucas das novas religiões podem recrutar com sucesso onde seus objetivos já foram alertados previamente.

Aconselhando as Famílias

Um tipo especial de ministério faz-se necessário para com as famílias daqueles que ficaram enredados por uma das novas religiões. Às vezes, a perda deles é sentida tão agudamente quanto uma morte na família. Assegure a família que Deus não está morto; ore com eles e por eles. Ajude-os a evitar toda auto-condenação e auto-piedade, pois a maioria daqueles que se afiliam às novas religiões vêm de lares em que os pais fizeram muitas coisas "corretas" (humanamente falando). Incentive a família a aprofundar sua própria vida espiritual e seu envolvimento na igreja por causa deles mesmos e da glória de Deus. Imprima sobre eles a importância de continuar comunicando o amor ao seu familiar, lembrando que o amor verdadeiro não depende de reciprocidade, assim como Jesus nos amou e morreu por nós "sendo nós ainda pecadores" (Rm 5.8).

Acima de tudo, certifique a família de que nenhuma Palavra de Deus falada para seu ente querido no passado, nenhum treinamento na igreja e na escola dominical, nenhum exemplo cristão jamais foi em vão e nenhuma oração em nome de Jesus jamais deixou de ser ouvida. Aponte João 10.27-29 à família e o caráter incontestável do Deus que fez esta promessa.

Incite a família a aproximar seus amigos e conhecidos do seu círculo de preocupação solicitando-lhes suas orações e apoio espiritual. (Além disso, confira se sua comunidade possui um grupo de apoio aos pais que ofereça entendimento e orientação - espiritual e/ou legal.)

Servindo Àqueles que Retornam

Os pastores também têm um ministério especial para com aqueles que deixaram uma nova religião, como os convertidos freqüentemente fazem após dois ou três anos. Claramente, o que pode ser verdadeiro a respeito de uma nova religião necessariamente não é verdadeiro no que se refere à outra; mas similaridades notáveis aparecem nos dados levantados de milhares de pessoas que reingressaram na sociedade depois de muitos anos em uma das novas religiões.

Eles concordam que voltar à sociedade pode ser muito mais difícil do que deixá-la;

Eles experimentam o "efeito aquário", o sentimento de estarem sendo observados de fora por curiosidade ou desconfiança;

Encarar escolhas e decisões uma vez mais cria choque cultural;

Às vezes, eles sofrem problemas e disfunção físicos devido à dieta ou a uma enfermidade não tratada e devido a outras condições crônicas e à exaustão provenientes de uma peregrinação interminável para conseguir novos recrutas e para levantar fundos;

Deparam-se com problemas emocionais e culpa por terem permitido que eles mesmos fossem desencaminhados;

Eles sofrem "flutuação" ou "flashback" num estado como de transe em que eles não podem ser alcançados por meio de seus sentidos;

Com razão, eles temem a possibilidade de perseguição por parte de membros dos grupos que eles deixaram;

Eles não são facilmente reintegrados à antiga igreja, pois sentem que foram traídos pela "religião" e agora são céticos com relação a todo tipo de ofertas espirituais.

A este ponto, o pastor consciente reconhecerá suas próprias limitações e sua necessidade de encaminhar o "filho pródigo" a um conselheiro cristão treinado que já deparou-se com estes fenômenos anteriormente. (Algumas regiões têm providenciado "casas de recuperação" àqueles que estão tendo dificuldades em reajustar-se à sociedade normal.)

E lembre-se de que as famílias do ex-membro de uma religião pagã freqüentemente necessitam tanto ou mais aconselhamento do que o ex-membro.

CULTOS PAGÃOS/NOVAS RELIGIÕES

ADMOESTAÇÃO/DISCIPLINA

10 A Admoestação e a Disciplina Cristãs

A Admoestação Cristã

O corpo de Cristo deve ser uma comunidade vigilante para refletir Cristo, sua cabeça. Tocados pelo amor de Deus em Cristo, os cristãos aceitam o privilégio e a responsabilidade de nutrir e apoiar as necessidades espirituais e corporais uns dos outros. O Salvador disse claramente, "O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei" (Jo 15.12) João relembra-nos: "Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros" (1Jo 4.10-11). E, devido ao fato de o poder do diabo, o mundo e a nossa carne pecaminosa combinarem-se a fim de desviar o fraco do bom caminho - e mesmo o forte de tempos em tempos - Paulo relembra os cristãos da Galácia, "Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado" (Gl 6.1-2).

Não havia limite para o que o Salvador poderia fazer e para a paciência que ele demonstrava na tarefa de recuperar o perdido e o errante. A trilogia de parábolas registradas em Lucas 15 articula a perseverança de Deus em procurar o errante e a ansiedade de Deus para perdoar e para restaurar o perdido à família de Deus.

E nem o pastor poupará esforço algum para auxiliar a congregação a recuperar os membros errantes ou perdidos, permitindo que "Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria" (Cl 3.16). Esta tarefa não é auto-justificação, mas interesse e preocupação genuínos pelo membro e irmão que rompe com a comunidade adoradora, que repudia o nutrimento dos meios da graça, ou que às tentações que assaltam a todos nós. A meta é que todos sejam mantidos a salvo no rebanho de nosso Salvador.

Ainda assim, os cristãos freqüentemente ignoram aqueles que necessitam de ajuda espiritual, como se isto não fosse preocupação deles. Expressões ocasionais de interesse, por conseguinte, tem um som vazio - como, por exemplo, quando um membro tem se ausentado do culto por vários anos e o visitador da igreja então lhe diz, "Estou aqui porque estamos preocupados com você". Tais tentativas esporádicas parecem indicar que, não importa qual seja o relacionamento que as pessoas tenham com o Senhor, de qualquer maneira elas serão salvas.

Embora o pastor tenha a responsabilidade primordial de exercer a liderança, todos os membros da congregação são responsáveis diante de Deus por seus irmãos crentes. Recusar cuidado espiritual aos outros é uma ofensa contra Deus, o Criador e o Salvador de todos nós.

Como um exemplo para o rebanho, o pastor deveria demonstrar uma afeição vigilante para com todos os membros da congregação. Ele deveria liderar dando oportunidades para que os membros desempenhassem o mesmo interesse zeloso mutuamente. (Estas oportunidades, contudo, não incluem permitir que o escritório do pastor sirva como um repositório de fofocas e insinuações. Se um membro vier contanto coisas da vida de outros, este membro deveria ser aconselhado a exercer pessoalmente a responsabilidade da admoestação.)

A Disciplina Eclesiástica: Um Ministério da Reconciliação

Usado adequadamente, o processo de disciplina eclesiástica é positivo e útil, uma oportunidade para ensinar os outros a aplicar a Lei e o Evangelho corretamente,1 e uma maneira para que o Evangelho motive as pessoas a colocar sua fé em prática (Ef 2.10l Gl 5.24-26; Rm 8.1-17).

Mateus 18 nunca deveria ser usado como uma maneira rápida para livrar-se de um negligente. A disciplina eclesiástica é um ministério de reconciliação (2Co 5.19). O objetivo é reconciliar a pessoa com Deus, com a congregação em geral e com os membros individualmente incluindo o pastor). Os pastores exercem uma ótima influência na congregação quando eles, como pacificadores (Mt 5.9), aplicam os princípios de Cristo (Mt 7.1-5; 18.1-15) e São Paulo (2Co 5.11-6.2; Gl 6.1-5) e quando eles treinam seus membros em como realizar a reconciliação.

A implementação do processo de reconciliação envolve mais do que apenas seguir mecanicamente Mateus 18, passo a passo.2 Os escritos de Paulo oferecem uma boa recomendação prática. A pessoa que tentar impedir que um irmão ou uma irmã caia da graça deve estar orientado espiritualmente (Gl 6.1-5), deve estar completamente harmonizado com o que significa a vida no Espírito (Gl 5.13-25) e deve estar consciente de que, ao mesmo tempo, a Escritura aplica a ambas as partes: "Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (Rm 8.1).3 Isto presume que um membro errante é um filho de Deus até prova em contrário (Mt 13.24-30).

Para realizar esta reconciliação, três fatores devem estar claros:

Atitude: A mente de Cristo e a consciência de sua presença são fundamentais para a disciplina eclesiástica. Cristo mesmo disse:

Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado nos céus. Em verdade também vos digo que, se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de alguma coisa que, porventura pedirem, ser-lhes-á concedido por meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles (Mt 18.18-20; cf. Jo 20.21-23).

Esta passagem exige que tomemos a sério o que significa que Jesus está presente na igreja. Já que Jesus está presente, a igreja se esforçará para demonstrar as mesmas qualidades de paciência, perseverança, amor, perdão e compaixão que Cristo mostrou. A igreja deve expressar uma preocupação ardente pelo bem-estar eterno da pessoa errante.

Propósito: O propósito último que perpassa todos os procedimentos da disciplina eclesiástica é, por meio de arrependimento e absolvição, restaurar a pessoa à comunhão completa com a igreja. Portanto, a igreja não pode estabelecer um limite de tempo para cada um dos passos de Mateus 18. A igreja tem a obrigação sagrada de fazer todo possível para trazer a pessoa de volta ao relacionamento vital e salvífico com o Senhor Jesus Cristo. Uma pessoa que se torna membro de uma congregação cristã, de fato, requer tal preocupação vigilante; e a congregação, ao receber um membro, promete proporcionar isto.

Meios: A Palavra, corretamente dividida em Lei e Evangelho, fornece os únicos meios para intimar o errante ao arrependimento e para oferecer a certeza do perdão. Apelos a expedientes, a auto-vantagens ou a expressões variadas de lealdade falham em tomar o risco espiritual no qual a pessoa está envolvida a sério e vão de encontro ao propósito último de recuperar o perdido.

A Proibição Menor

Como primeiro ato oficial de aplicação da Lei ao impenitente, o pastor pode exercer sua responsabilidade pelo bem-estar espiritual de uma pessoa vedando-lhe a Ceia do Senhor. Isto é chamado de "proibição menor". O pastor pode recorrer a isto quando uma pessoa manifestar um espírito impenitente ao guardar rancor contra alguém, ao recusar o perdão ou ao viver em pecado insistente - i.e., ao comprometer-se com o pecado, recusando a graça de Deus. O pastor lida com a pessoa em nível pessoal enquanto o problema não tiver sido resolvido, orando para que, deste modo, os passos subseqüentes em direção à excomunhão não venham a ser necessários. "Ainda não há nem absolvição em uma mão e nem excomunhão na outra".4

Excomunhão

Causa e Definição

De acordo com Mateus 18, quando uma pessoa permanecer inexoravelmente impenitente, a igreja não tem outra escolha a não ser seguir os passos rumo a declarar que a pessoa é um "gentio e [um] publicano" (Mt 18.17). A excomunhão significa que a pessoa cortou a si mesma da graça de Deus e que foi declarada fora de um relacionamento salvífico com Jesus Cristo. A pessoa que morrer neste estado de impenitência estaria perdido eternamente.

Realmente, o pecado em si mesmo não exige a excomunhão ou a separação da igreja cristã. Cada um peca diariamente e precisa do perdão que Deus dá livremente por causa de Cristo. Ao invés de excomunhão ou separação, a falha em reconhecer nossa pecaminosidade e ser persistentemente impenitente já nos separa de Deus e impede que o perdão e a restauração aconteçam - buscando ou não a igreja a disciplina eclesiástica.

Conseqüências

A excomunhão declara que a pessoa impenitente está fora do âmbito da igreja (ainda que possa adorar com ela). A pessoa excomungada não pode mais receber o Sacramento do Altar e nem ser um padrinho de Batismo. Todos os direitos e privilégios de membro da congregação estão suspensos e a pessoa é transferida da lista de membros para a lista de prospectos para ser buscada para Cristo. Não deve ser concedido um sepultamento cristão a qualquer pessoa que venha falecer neste estado de impenitência.

A pessoa que se afasta da congregação antes que a excomunhão aconteça, obviamente não pode ser excomungada. Porém, de modo algum isto exime a congregação da responsabilidade de admoestar a pessoa com relação à impenitência persistente ou ressaltar-lhes as conseqüências eternas disto.

Pelo fato de uma congregação cristã excomungar em nome da igreja cristã inteira, idealmente, a ação deveria ser confirmada por toda a igreja cristã na terra, independente da afiliação congregacional. (Isto mostra o quanto é importante que a excomunhão venha a ocorrer por uma razão válida.)

Separação X Excomunhão

Às vezes, a separação da congregação, ao invés da excomunhão, é mais viável. Por exemplo, diferenças sobre uma doutrina não fundamental (i.e., uma doutrina que não seja essencial à fé salvadora) pode romper a harmonia confessional que une os membros da congregação. Caso a instrução continuada sobre a doutrina verdadeira não prove convincentemente, a pessoa dissidente deveria ser incentivada a tornar-se membro de uma tradição que esteja em maior harmonia com sua postura confessional.

A Responsabilidade Pastoral com Relação à Excomunhão

O pastor não deveria aceitar o papel de policial, de oficial de justiça, de perseguidor, de juiz e nem de jurado. O veredicto de excomunhão deve ser promulgado pela congregação. Não parece que uma votação unânime seja uma exigência bíblica, embora isto possa frear uma acusação impetuosa.5 E, caso nenhuma pessoa possa confirmar uma acusação levantada, a pessoa que a fez pode estar precisando ser aconselhada no entendimento bíblico.

Quando o processo de excomunhão alcança seus estágios finais, a responsabilidade do pastor envolve três procedimentos:

1. O pastor deve certificar-se de que tudo tem sido feito de acordo com as Escrituras.

2. O pastor deveria fazer tudo o que ele pode para trazer a pessoa ao arrependimento e para evitar a excomunhão.

3. Em nome da congregação, o pastor anuncia a excomunhão e, quando a pessoa arrepender-se e for novamente recebida na comunhão da congregação, o pastor anuncia a reintegração.

C. F. W. Walther, em sua tese acerca do ministério "The Voice of Our Church on the Question Concerning the Church and the Ministry" ("A Voz de Nossa Igreja sobre a Questão Concernente à Igreja e ao Ministério"), diz,

É certo que o ofício das chaves num sentido mais restrito, a saber, o poder para desligar e ligar publicamente, também está confiado aos que estão incumbidos do ministério da Palavra...Aqui, ele [o pastor] não lida meramente com uma doutrina clara da Palavra divina, mas com o julgamento da condição espiritual de uma pessoa (Seelenzustand). E este julgamento é de tal natureza que o mesmo fecha o céu à pessoa em questão e lhe proíbe a comunhão fraternal com os cristãos, e vice-versa. Portanto, embora a execução pública da excomunhão pertença aos que estejam incumbidos do ministério da Palavra e deva permanecer com eles, de acordo com o mandamento do Senhor e com a instituição sagrada, todavia, deve ser exercida de acordo com o mandamento e a ordem expressa do Senhor apenas depois que a congregação como um todo (isto é, o ministro e os ouvintes) tiverem ponderado e tomado a decisão judicial final sobre o assunto...Por esta razão, até mesmo Paulo não desejou excomungar a pessoa incestuosa que estava em Corinto sem a congregação, mas ele lhes escreveu que, ainda que ele mesmo considerasse que o pecador merecesse a excomunhão, a própria congregação ("reunidos vós") deveria excluir de seu meio aquela pessoa ímpia (1Co 5.4,13).6

Conclusão

A prática da admoestação cristã e da disciplina eclesiástica é uma responsabilidade difícil e sensível; ela também mede o quanto os cristão tomam a sério o interesse pleno de uns pelos outros. A disciplina cristã será largamente não praticada, mal usada ou ignorada quando uma congregação cristã (e/ou o pastor como o líder no exercício do Ofício das Chaves, João 20) falhar em tomar a sério as tentativas de desenvolver uma comunidade genuinamente cristã e vigilante. Quando os membros assumirem a responsabilidade pelo bem-estar espiritual mútuo, Mateus 18 irá auxiliá-los a demonstrar tal interesse.

ADMOESTAÇÃO/DISCIPLINA

HOMEM E MULHER

UNIDADE V

O PASTOR CUIDA DA FAMÍLIA

1 "Homem e Mulher Os Criou"

Sexualidade Masculina e Feminina

Deus, o qual fez o homem e a mulher com livre arbítrio a fim de cultuar o Criador, preferiu não fazer um ato especial de criação para cada pessoa. De acordo com Gn 1.28, a primeira ordenança de Deus para Adão e Eva é para gerar filhos, para que eles participassem da atividade criativa que Deus realizara até então. Essa ordenança não é dada isoladamente; gerar filhos não é uma obrigação a ser realizada para cumprir a ordem de um chefe zeloso. Ao contrário, Deus os criou homem e mulher, com uma inclinação sexual e com uma singularidade evidente já quando uma "auxiliadora idônea" para Adão não podia ser encontrada entre os animais (Gn 2.20). Juntos, a inclinação sexual e a necessidade de comunhão íntima levariam as pessoas a deixar pai e mãe (Gn 2.24) para estabelecer uma família na qual a próxima geração fosse educada, no amor humano, para cultuar a Deus. Como escreveu Lutero,

Pois é de importância suprema aos olhos de Deus que se eduquem homens que prestem serviços ao mundo, promovendo o conhecimento de Deus, vida piedosa e todas as virtudes, para lutar contra a maldade e o diabo. (CMa., I, 208)

[Pessoas casadas] não podem realizar melhor obra e nem fazer coisa mais valorosa para Deus, para a cristandade, para o mundo todo, para si próprios, e para seus filhos do que educar bem seus filhos...De fato, o próprio céu não poderia fazer-se mais próximo ou ser alcançado mais facilmente do que pela realização dessa obra.1

Assim, Deus criou homem/mulher por causa do casamento e da família e não para que o casamento seja mais uma entre muitas outras expressões de sexualidade. As Confissões afirmam isto:

"Deus criou o homem para a procriação", Gn 1[.27,28]. (CA, XXIII, 5, Lat.)

ensina o Gênesis [1.28] que os homens foram criados para serem fecundos e a fim de um sexo apetecer de maneira conveniente o outro. (Ap., XXIII, 7)

Pois [Deus], que o instituiu [o matrimônio] antes dos demais, e criou diversamente homem e mulher, como é evidente, não para maroteira, e sim para que permaneçam unidos, sejam fecundos, gerem filhos e os sustentem e eduquem para honra de Deus. (CMa., I, 207)

O Deus que nos fez homem e mulher quer que as pessoas abracem a sexualidade que elas têm com satisfação em prol da vida. Ele criou a capacidade das pessoas para vínculos e emoções românticos. O homem e a mulher não são como instrumentos musicais diferentes; eles são mais parecidos com um violino e um arco, sendo cada um essencial para o outro, os dois "equivalendo" a um. Como a Comissão de Teologia e Relações Eclesiais do Sínodo de Missouri a descreve,

Tendo criado a mulher, Deus a traz ao homem e ele, por sua vez, responde com aquelas palavras que lemos tão solenemente: "Afinal[!]" Afinal, aqui está quem é "osso dos meus ossos e carne da minha carne". Esta é uma expressão de "alegria extraordinária" (...). O apuro da solidão do homem - seu "viver sozinho" - foi percebido e superado pela Palavra criativa de Deus. Foi estabelecida uma relação na qual alguém pode vir a conhecer a si próprio e ao outro numa comunhão de amor.2

Embora isto seja um plano de Deus para a humanidade em geral, não pode ser aplicado rigorosamente a qualquer indivíduo.

À exceção, todavia, de alguns, ainda que poucos, os quais Deus especialmente excetuou, de modo que não são aptos para o estado matrimonial, ou então, os libertou por meio de elevado e sobrenatural dom, de forma que podem manter-se castos fora do matrimônio. (CMa., I, 211)

E nem todo relacionamento deve ser de homem-mulher. As pessoas precisam de companhia humana; eles precisam ser completamente abertas com alguém e confiar que suas auto-revelações não serão usadas contra elas; elas precisam ser aceitas como pessoas completas.

Ainda assim, o propósito fundamental de Deus em implantar a necessidade humana por companheirismo de modo geral permanece: impelir um homem e uma mulher a prometerem fidelidade um ao outro quando eles se reúnem no ato sem igual da suprema comunhão humana - a relação sexual - e, desta maneira, participarem no processo divino de criar mais pessoas que adorem a Deus.

Depois da Queda: Na Graça de Deus

No princípio, Deus criou o homem e a mulher. Ele criou diversidade na sexualidade - diferenças fisiológicas e psicológicas a serem compreendidas e respeitadas. Ele criou famílias, não indivíduos a esmo. E Deus viu que isto era muito bom.

O ideal foi rapidamente destruído. Tanto o homem quanto a mulher desobedeceram a palavra do Senhor (Gn 3). A virtude que reinava foi-se. Devido ao pecado, o sexo não seria mais aquilo para o que ele foi criado. Os relacionamentos das pessoas - incluindo os relacionamentos entre homem e mulher - foram transformados por uma natureza humana corrompida cuja marca registrada era o egocentrismo, manifestos no medo e na vergonha de Adão e Eva. Sobre todas as famílias, a maldição terrível do pecado tinha caído.

A queda, no entanto, nem terminou nem iniciou a sexualidade humana. A visão cristã de masculinidade e feminilidade está definida (em parte) pela doutrina da criação,

no artigo da criação, a Escritura testifica que Deus não só criou natureza humana antes da queda, mas ainda que ela é criatura e obra de Deus também depois da queda. (Dt 32[.6]; Is 45[.11]; 54[.9]; 64[.8]; At 17[.25-26]; Ap 4[.11]). (FC, DS, I, 34)

Mais e mais, os cristãos conversam a respeito de sua masculinidade e feminilidade (e sobre relacionamentos) no contexto do perdão gracioso dos pecados que Deus concede em Cristo Jesus. Os pecados sexuais não são nem mais nem menos danosos do que qualquer outra categoria de pecado (muito embora eles, mais que outros pecados, freqüentemente aflijam os cristãos profundamente). O ministério pastoral dá aos corações arrependidos a mensagem graciosa do Evangelho, como Jesus mesmo a deu à prostituta que ungiu seus pés com suas lágrimas e a quem Jesus declarou que estava perdoada (Lc 7.36-50). O filho pródigo também "caindo em si", foi aceito por seu pai perdoador (Lc 115.11-32). Assim também, o relacionamento do esposo, da esposa e dos filhos (e de todos os outros familiares) é transformado em Cristo.

Os cristãos também compreendem sua sexualidade como parte da vida no Espírito Santo. A sexualidade humana toma um aspecto novo, um novo frescor, quando uma pessoa se torna uma nova criatura em Cristo. Aquilo que era bom é bom novamente - uma nova criatura, sempre de novo, diariamente. Deus que criou o desejo sexual deu a bênção plena de seu Espírito sobre tal desejo. Por conseguinte, Paulo exorta, "Se vivemos no Espírito, andemos [i.e., sigamos] também no Espírito" (Gl 5.25).

Transmitir esta estrutura centrada em Cristo sobre a sexualidade para a geração seguinte é um dos desafios mais importantes e mesmo um dos desafios mais difíceis que se apresentam ao povo de Deus. A igreja como organização (incluindo o pastor) só tem acesso a um tempo mínimo às vidas dos filhos. Mesmo os pais podem sentir-se superados quando comparam o tempo que eles gastam com a família com o tempo efetivo em que a mídia e a publicidade estão com seus filhos. Ao invés de desesperar-se, os adultos cristãos, juntamente com seu pastor como líder e mestre, precisam planejar seus melhores esforços nesta questão que define a auto-identidade. Especificamente, o corpo dos crentes deve proporcionar (começando pela infância tenra) o ensino da Lei e do Evangelho para fortalecer as vidas santificadas no lar e na família, que Deus estabeleceu como a unidade básica da sociedade humana.

O "senso comum" da sociedade que nos rodeia presume que expressão sexual seja igual a relação sexual; isto incentiva crianças na puberdade a explorar e experimentar sua sexualidade "crescente"; isto diz aos adolescentes que uma opção feita com sua sabedoria resumida é uma opção sábia para eles. Na realidade, esta corrida maluca pela experimentação sexual tem resultado em mais traumas do que as fascinantes revistas jamais imaginaram.

Primeiramente e o pior de tudo, as pessoas estão aprendendo a separar sexo de amor e de seus comprometimentos. Isto pode ser feito, mas aqueles que promovem isto e aqueles que acreditam nisto freqüentemente ignoram a tragédia humana que resulta. O ato da relação sexual é tão pessoal, interpessoal e obsessivo que o indivíduo suspira por um comprometimento permanente por parte do amante.3 Depois de experimentar um sem número de parceiros sem um comprometimento estável, finalmente a relação sexual pode tornar-se um fim em si mesma - com o possível resultado de que um indivíduo pode tornar-se incapaz de receber ou dar o necessário comprometimento para um matrimônio duradouro.

Em segundo lugar e quase tão trágico, alguém que se doa totalmente espera que o seu parceiro tenha feito o mesmo - mas isto é só para aprender mais tarde (após uma gravidez ou uma discussão conjugal) que não apenas compromisso, mas mesmo amizade e companheirismo verdadeiros nunca existiram realmente. De novo, o indivíduo eventualmente pode aprender a não esperar nenhum compromisso, nem mesmo no casamento - e nem a compromissar-se com ninguém.

Em terceiro lugar, a "uma só carne" descrita em Gênesis é questionada e tornada impossível pelo sexo casual. Em acréscimo à norma de Deus, a fidelidade e a auto-doação descrevem o que as pessoas querem que aconteça no casamento. Mas aqueles que têm "pulado a cerca" têm aprendido a assumir que o "eu" existe para "mim"; que ninguém mais cuidará de mim; que ninguém mais vai "aceitar-me como sou, com meus defeitos e tudo mais"; que ninguém mais ficará ao meu lado "na doença e na saúde".

Em adição ao fato de ser desobediente ao mandamento de Deus e de ser falso em suas presunções, uma diferença qualitativa separa o casamento do dormir junto. O compromisso matrimonial deveria ser uma declaração pública, voluntária e deliberada de que o casal irá encarar a vida em conjunto tanto quanto durarem suas vidas. Somente quando as pessoas resolvem permanecer no relacionamento e solucionar suas dificuldades conjuntamente pode ser estabelecida a credibilidade que promoverá a confiança mútua para lidar com as pressões externas e internas.

Contra este pano de fundo, o argumento acerca de sobre quem deveria estar a responsabilidade pela educação sexual - pais, igreja, escola - conduz a lugar nenhum, pois a educação sexual é apenas uma parte da tarefa de transmitir a cultura como um todo, com seus valores, à geração seguinte. Os pais, de fato, têm a responsabilidade primária por todo o processo de educar seus filhos, ensinando sobre sexo, assim como Ciências e Matemática. Em algumas áreas (Matemática ou ensinar a dirigir um veículo, por exemplo) pode não ser importante que o ensino carregue um conteúdo especificamente cristão; a prática aceita pela sociedade de maneira geral pode bastar. Mas devido ao fato de os valores morais serem centrais em qualquer discussão sobre sexualidade, os pais irão desejar reunir-se com outros cristãos na tarefa de educar seus filhos para apreciar o dom e a orientação de Deus. Os programas específicos de adultos cristãos trabalhando juntos não é a preocupação primordial - tal cooperação pode envolver a produção de materiais de educação sexual cristã a serem utilizados no lar; pode envolver a escola paroquial; pode envolver oficinas para pais. Antes de tomar estas decisões, outros fatores precisam ser considerados.

1. Qual é o contexto da congregação e/ou dos pais? Que informações e expectativas a sociedade em geral está transmitindo para todos acerca de sexualidade - do mesmo modo para adultos e crianças? Qual é o contexto pregresso da comunidade local?

2. Qual é o contexto sócio-cultural das crianças? Que informações a igreja pode aprender sobre crianças a partir de escolas locais, de lugares públicos, etc.?

3. Que necessidades os filhos (bem como os pais) expressam? Não espere que estas sejam as mesmas.

4. De que maneira(s) os líderes leigos na congregação serão envolvidos no estabelecimento de metas e no cumprimento das mesmas? Que comissão (ou comissões) será envolvida - Educação Cristã; Ministério com Jovens; uma Encontro de Famílias especial? Quais dentre os vários braços educacionais da congregação deveriam participar (se é que algum o deva)?

. Quem são os melhores recursos humanos à disposição? Eles devem ser membros da congregação, ou profissionais da área de saúde podem ser solicitados a participar?

Uma vez que estes assuntos estejam resolvidos, o pastor e a congregação estão prontos para planejar quaisquer tarefas específicas com respeito aos materiais4 e aos processos (que podem incluir oficinas e/ou aulas para pais sobre o que significa ser homem e mulher). A igreja também tem uma oportunidade maravilhosa para proporcionar uma atmosfera saudável para que solteiros de todas as idades estejam reunidos - programas educacionais, retiros, atividades de culto e recreação. A igreja tem muitos recursos disponíveis para apoiar o ministério da congregação a jovens e a solteiros. Acima de tudo, além de quaisquer programas providenciados, o corpo de crentes pode demonstrar um espírito e uma atitude cristãos com respeito à sexualidade que permeie todas as atividades e que será levada para dentro de associações não organizadas pela congregação.

Em matéria de sexualidade humana, as pessoas cristãs levantam-se como "luzes no meio de uma geração perversa". Somente através do investimento de tempo, energia e dinheiro na educação cristã da próxima geração a igreja pode continuar sendo uma luz - não apenas uma luz preciosa a ser transmitida aos filhos da igreja, mas também uma luz que brilhe do lado de fora da igreja, à geração que vive em volta dela.

HOMEM E MULHER

O CASAMENTO

2 O Pastor Cuida dos Casados

O Estado do Matrimônio Unidos sob Deus

Como o casamento pertence à vida desse mundo, o mesmo tem uma importância social (civil). Mas em sua origem, o casamento não era um acordo humano. Deus o instituiu para a existência e o bem-estar desta vida.

Deus chamou o homem e a mulher à existência e os criou à sua imagem (Gn 1.26s). Em sua existência e em seu relacionamento um para com o outro eles devem refletir algo de Deus. Eles não existem para si mesmos nem para sua própria satisfação. Pelo contrário, eles devem zelar pela criação de Deus e foram abençoados com a capacidade de levar adiante sua própria espécie (Gn 1.28). Esta responsabilidade dupla é concedida com vistas a que seja usada em acordo com a boa e graciosa vontade de Deus. A relação homem/mulher em Gênesis 1 é apresentada como uma harmonia, na qual não há nenhuma divisão aparente de trabalho e nem responsabilidades separadas. À imagem de Deus, ambos são um em propósito, um em obrigação.

Gênesis 2 ressalta outra dimensão. Deus fez uma "auxiliadora idônea", a quem Adão descreve como "osso dos meus ossos e carne da minha carne". Desta forma, Moisés enfatiza a proximidade física e emocional do homem e da mulher, o que pode ser comparado ao relacionamento "à imagem de Deus" entre homem/mulher e Deus. Homem e mulher comprometem-se mutuamente a estar unidos como uma só pessoa, trabalhando juntos com o propósito comum de estabelecer um lar (Gn 2.24) que irá trazer glória a Deus e proporcionará uma atmosfera na qual os propósitos de Deus poderão ser alegremente cumpridos.

Escritura descreve o casamento como a união vitalícia de um homem e uma mulher, na qual se ingressa através de consentimento mútuo (e.g., Gn 24.57-58). É essencial ao relacionamento a promessa feita pelos dois de abandonar todos os outros relacionamentos e permanecer fiel um ao outro na doença e na saúde,1 um compromisso de resolver ou administrar quaisquer problemas sob Deus.

A união do esposo e da esposa chega ao compartilhamento mais íntimo na relação sexual. Neste ato, que a Escritura chama de "conhecer", homem e mulher unem-se um ao outro na mais íntima união de dar e receber. O conhecimento desta comunhão - como o conhecimento da comunhão na qual Deus conhece aqueles que são dele - nunca pode ser transmitido plenamente à parte da experiência da união em si mesma. Nesta união, os parceiros também aprendem a conhecer a si próprios assim como conhecem o outro. No entanto, por causa do pecado, desenvolvem uma visão distorcida da sexualidade - que eventualmente destrói a coisa mais desejada: um relacionamento de amor com alguém por quem se zela e com quem o indivíduo pode crescer e tornar-se um eu mais saudável.

Como educador, o pastor deve manter continuamente perante seu povo a beleza do propósito divino em criar a dualidade homem/mulher. 2 Na apresentação bíblica, o casamento tem a ver com Deus, com crescimento, com mudança, com desenvolvimento; e, para pessoas pós-queda em pecado, com a existência de duas pessoas vivendo unidas em Cristo, com vida santificada no Espírito. A Escritura retrata o casamento como duas pessoas descobrindo no perdão dos pecados uma unidade espiritual em Cristo, bem como uma união sexual. Neste contexto, a presença reconciliadora de Deus em Cristo é reconhecida conjuntamente e celebrada alegremente. Por conseguinte, a relação sexual fora do casamento é contrária à vontade de Deus e é pecaminosa.

Humanamente falando, matrimônios felizes e permanentes podem ser desenvolvidos à parte de Cristo. Semelhantemente, casais cristãos não têm sucesso/felicidade garantidos; o "diabo, o mundo e a nossa carne" podem prevalecer porque os cristãos são simul justus et peccator ("ao mesmo tempo justo e pecador"). Ainda que equipado com certos "dons" do Senhor incluindo confiança no perdão divino, esforço pela unidade e cultivo de um senso de propósito, esperança, fé e amor cristão), o cristão ora para que viva uma vida santificada sob o Espírito. Somente então um casal pode colocar de lado a existência velha e egocêntrica que destrói as relações, levando diariamente uma nova existência que permite haver reconciliação e paz. É melhor fortalecer um bom casamento do que curar um matrimônio doente.

A Ordem na Família

Embora muitos tenham usado "a ordem da criação"3 e Ef 5.22-23 para apoiar a superioridade masculina, o conceito de homem como ditador familiar não pode ser empurrado para dentro de Efésios (assim como Pv 31.10-31 não apóia o movimento feminista). Paulo aplica a seção precedente às particularidades da vida familiar, ordenando que os cristãos em geral vivam uma vida de amor (Ef 5.2) que inclua submissão recíproca em amor no Espírito (Ef. 5.21). Os versículos seguintes (Ef 5.22-33) apelam a pessoas responsáveis que foram libertadas das implicações destrutivas de sua vida familiar anterior não-cristã, a pessoas que compreendem a responsabilidade bíblica e a interdependência mútua.

Paulo inicia esta seção ressaltando que a submissão da mulher é aquela da esposa para com seu esposo (não justamente qualquer mulher para com qualquer homem). Voltando-se ao esposo, Paulo evita a palavra "submeter-se"; mas o amor ao qual ele é chamado exige que ele coloque radicalmente seu ego de lado a fim de beneficiar a esposa. Contrariamente ao costume que prevalece, o esposo deve "entregar-se" por sua esposa "como também Cristo amou a igreja". O esposo não deve ser "um senhor sobre" sua esposa; Jesus Cristo é Senhor sobre ambos - a fonte, o padrão e a motivação de ambas posições que estão sob Deus. A liderança do esposo foi qualificada em e através de Cristo, pela mesma maneira que Jesus encontra e trata de pecadores a fim de salvá-los: em amor (Ef 5.1) e em Espírito (Ef 5.18).

Aproximando-se do fato, do modo, da intenção e da realização do amor de Cristo, um esposo aprende qual é a essência do amor. Em Cristo, o esposo deixa à mostra um amor que é dado do alto, um amor que transforma a dúvida, o medo e a desconfiança da mulher em uma resposta de subordinação amável. É um amor que se estende, que ganha a confiança e que, em retorno, obtém amor da amada. Aqui está a alegria que pertence àqueles que são capazes de fazer o bem, de gastar a si próprios, de efetuar mudanças das quais não apenas a parceira escolhida, mas um público variado pode tirar proveito. Tal amor não é bom somente para a pessoa amada, mas também para a pessoa que ama. Este amor é assim porque se assemelha ao amor de Cristo por sua igreja e à alegria da igreja em ser serva.

Da mesma maneira, Pedro relembra aos maridos cristãos que tratem suas esposas como "co-herdeiras do dom da graça da vida" (1Pe 3.7, NVI). Ele lembra ambos de seus status perante Deus. Juntos, ambos dependem totalmente de Deus, o Criador e Redentor. Igualmente pecadores; igualmente salvos. Que a mulher difere do homem, que eles terão de decidir que funções cada qual exercerá durante os diferentes estágios do casamento, que às vezes um deve ceder ao outro - não é preciso dizer. Mas o amor cristão significa dar oportunidades às pessoas e não limitações subservientes. Tanto o esposo quanto a esposa têm uma dignidade divinamente criada.

As palavras de São Paulo às pessoas livres em Deus aplicam-se a todos os relacionamentos, tanto aos que estão dentro do casamento como aos demais:

Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição. Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos. (Cl 3.12-15)

Fortalecendo a Família Cristã

Um Ministério Intencional

Tendo estabelecido a família como a unidade básica da sociedade, Deus obriga os pais a suprirem as necessidades corporais de seus filhos (1Tm 5.8), bem como suas necessidades espirituais (Ef 6.1-4; Sl 78.1-8; Pv 6.20-22; 22.6; Dt 6.1-9). Embora nesta geração alguém possa falar mais adequadamente de cristãos em uma família do que famílias cristãs, farão o que puderem para favorecer a fé no âmbito das famílias da igreja.4 Obviamente, isto cabe à educação cristã formal - e muito mais.

As congregações necessitam agir com propósito no que concerne ao ministério às famílias. Cultos de adoração podem ser planejados tendo-se as famílias em mente. Além da idade - e programas e grupos de papel específico tais como clubes de homens, a Lutheran Women's Missionary League ("Liga Missionária de Mulheres Luteranas"), grupos de jovens, etc., eventos tais como noites da família e retiros de casais incentivam uma convivência significativa de todas as idades e ajuda as famílias a aprenderem e a crescerem juntas na experiência, no diálogo e na oração.

A igreja também precisa estar consciente dos ciclos vitais das famílias e de que cada estágio tem suas próprias necessidades e comportamentos. Portanto, diferentes programas de família visarão, e.g., pais com filhos adolescentes, pais cujos filhos emancipados já deixaram o lar, pessoas aposentadas e outros casos afins. Aqueles que trabalham com casais dizem que a crise matrimonial surge a cada cinco anos (de alguma forma atada à mudança de estágios) e que a intensidade das crises varia de acordo com as expectativas dos casais, com a satisfação pessoal, com a habilidade de comunicação, com a maturidade psicológica e espiritual e com os sucessos em lidar com dificuldades anteriores.

O pastor desejará ter uma variedade de recursos à sua disposição - retiros, oficinas, programas de enriquecimento matrimonial, etc.5 Todo pastor rapidamente aprenderá os benefícios de fortalecer famílias em comparando-se esta atividade àquela de tratar famílias que se deterioraram.

Os Pais Solteiros

O ministério da igreja a pais solteiros precisa ser adequado às circunstâncias individuais dos mesmos - viúvos, divorciados ou nunca casados. Cada um carrega suas próprias cargas. Nenhum pai solteiro tem um trabalho fácil. Deus estabeleceu um pai e uma mãe para apoio e auxílio mútuos. Quando um dos dois não estiver mais presente (por qualquer razão), aquele que permanecer necessita de todo apoio espiritual e emocional possível dos irmãos cristãos.

Ainda que a responsabilidade de Seelsorger seja aplicar Lei e Evangelho, a arte de fazê-lo não é tão simples. Alguns pais solteiros não sentem nenhuma necessidade da Lei; outros já têm aplicado a Lei tão severamente a si próprios que uma dose adicional poderá oprimí-los totalmente. De modo semelhante, o Evangelho libertador e capacitador precisa ser aplicado de uma maneira apropriada e específica às necessidades do pai solteiro em particular. Viúvas/viúvos ainda podem estar lidando com seu luto ou podem sentir atemorizados pelas exigências do dia a dia. Pais divorciados, além do que já foi dito, esforçam-se violentamente no tocante a seus relacionamentos com seus "ex" - arranjos de visitas, fadiga emocional residual, etc. Pais solteiros que nunca se casaram vivem sob um estigma que os estorva de viver completamente o perdão. Qualquer que seja a situação, o pastor precisa ajudar o indivíduo a focalizar o fato objetivo da justificação e a confiar nela, fortalecendo a presença do Espírito Santo, e então trabalhando com o indivíduo para colocar esta fé em prática pelo poder do Espírito.

Já que a arena primordial para os casos acima é um ministério da Palavra um-a-um entre pastor e paroquiano, cristãos magoados precisam de outros no corpo de Cristo para apoiar e encorajar seu crescimento na santificação. E devido ao fato de pais solteiros novos tenderem a sentir-se isolados e excluídos por um curto período de tempo, a igreja que não alcançar rapidamente estas pessoas pode muito bem perdê-las.

Grupos de apoio a pais solteiros dentro da igreja, do distrito ou da região podem prover uma conexão significativa para a igreja como um todo. Embora um grupo geral de pais solteiros certamente possa assistir a todos os três tipos, muitos preferem os benefícios de grupos separados nos quais sintam-se de alguma maneira mais compreendidos. (A atividade de a igreja providenciar alguém que cuide das crianças durante as reuniões para permitir que os pais solteiros compareçam a tais grupos apresenta um sinal claro de que a igreja zela por todas as pessoas.)

Além de proporcionar um ministério coordenado a pais solteiros, o pastor também irá querer atingir os filhos destas pessoas. Estas crianças em particular precisam ouvir que todo tipo de família (Grego: patria, oikos) é um tipo, ainda que imperfeito e infectado pelo pecado, da família de Deus, o "Pai [pater], de quem toma o nome toda família, tanto no céu como sobre a terra" (Ef 3.14-15). A igreja também pode ajudar os filhos na santificação deles suprindo o papel-modelo do pai ou mãe ausente. Atividades patrocinadas pela igreja tais como grupos de jovens e de homens/mulheres oferecendo passeios e experiências especiais podem ajudar estas crianças a terem uma experiência de vida mais completa.

Adultos Solteiros e Sem Filhos

Este número crescente de pessoas logo sente-se excluído quando a igreja enfatiza um ministério familiar que se concentra em adultos com crianças. A fim de ministrar para suas necessidades, planejar intencionalmente eventos paralelos para solteiros - estudos bíblicos, encontros sociais, participação nos escritórios e comissões da congregação, liderança de culto, etc. A congregação também pode planejar a participação dos adultos solteiros e sem filhos em eventos "familiares" através da assistência de sua liderança e de outros auxílios deles, até mesmo estabelecendo sub-grupos de solteiros para trabalhar o que significa ser solteiro e ainda ser parte de uma família em algum lugar, bem como ainda ser parte da família de Deus.

Ministrando aos Casamentos Doentes

Ninguém é perfeito

"Em virtude do pecado, uma multiforme cruz tem sido imposta sobre este estado ..." diz a liturgia para casamento de nossa tradicional Agenda. O pastor descobrirá isto realmente muito rápido. Mesmo antes do casamento, as famílias podem brigar por causa da natureza do culto, da cor dos paramentos, ou porque seu ente querido está desposando alguém que não seja visto como bom o bastante. Em apenas alguns meses, os recém casados já se encontram discordando acerca de muitos assuntos, alguns dos quais parecem demasiadamente triviais e eles surpreendem-se com o que acontecera ao amor que eles tinham.

Por estas razões, o pastor deveria ter enfatizado longamente em seus grupos educacionais que não há nenhuma pessoa ou relacionamento perfeitos sobre a terra. Adão e Eva deixaram como herança a tentativa de brincar de Deus e prevalecer sobre ele. Banidos do jardim, homem e mulher encontram seu amor mútuo dando ocasião ao auto-amor, suas boas intenções causando mágoa, sua comunicação preciosa deturpada e transformada em conflito. Eles acham que seu cônjuge não precisa mais de atenção, eles abusam um do outro física e verbalmente e desempenham uma porção de comportamentos ofensivos que corroem os votos firmes de amor. Amedrontados e confusos, muitos voltam atrás e sentem-se enganados. Embora uns poucos casais resolvam melhorar o relacionamento que já possuem, muitos outros que iniciam entusiasticamente terminam aborrecidos, apáticos e desamparados - apenas existindo um com o outro.

O pecado é real e destrói sua parte. Ele rompe o vínculo de unidade harmoniosa entre duas pessoas. Não se surpreenda se o "casal perfeito" da congregação eventualmente causar o maior desgosto. Está aí a razão para a cruz.

A fim de detectar os sinais de perigo mais precoces de que um casamento está começando a desmontar, o pastor necessita manter seus sentidos afinados; pois uma intervenção preventiva e uma cura é mais importante do que o "sepultamento" provocado por um divórcio. Ele ajudará o seu povo a identificar de maneira realística as distorções que se levantam no processo do casamento e, seguindo a confissão e absolvição, os ajudará a identificar e a praticar comportamentos que possam trazer cura e crescimento a seus rompimentos. Ao passo que conselheiros seculares falam de "fatores de manutenção e reconciliação", o pastor conhece o verdadeiro fator necessário: o perdão dos pecados, o poder do Espírito de Deus para renovar os relacionamentos e as interações humanas.

A fim de personalizar a aplicação de Lei e Evangelho, o pastor deveria compreender alguns dos fundamentos de areia mais comuns sobre os quais as pessoas constróem seus matrimônios e porque tantos lamentam que, "Nosso casamento arruinou um relacionamento perfeitamente bom". As pessoas casam-se por uma porção de razões que podem ter pouco a ver com a intenção de Deus ou com o agape. Os tópicos seguintes (que têm a ver com a visão integral de vida de um indivíduo) toca levemente apenas em uns poucos motivos da briga conjugal.

O Casamento como Escape. Freqüentemente, as pessoas consideram o casamento como o fim de seus problemas - dependência indesejada, pais (assim considerados ou realmente) tirânicos, solidão, relacionamentos pessoais restritos, ambientes abusivos. Eles esperam que este novo companheiro proveja o cuidado necessário. Na realidade, esta aproximação pede que o cônjuge seja um terapeuta. Ainda que isto possa realmente acontecer até um certo ponto, onde uma carência muito grande for sentida, grandes exigências serão feitas - freqüentemente mutilando o casamento.

O Casamento como Forma de Retrabalhar o Passado. A lembrança do passado freqüentemente provê um filtro através do qual cada cônjuge vê o outro. Este filtro pode distorcer o presente de maneira tão ruim que se torna necessário buscar ajuda. Este é o motivo porque a discussão não é com o cônjuge, mas com o pai ou a mãe, um irmão ou irmã. Os cônjuges podem repreender um ao outro com "Por que você não é tão bom quanto seu pai/mãe/irmã/irmão", quando o que eles realmente querem dizer é "Estou desapontado porque você não é melhor que meu pai/mãe/irmãos". Ouça cuidadosamente a resposta conjugal padrão usada para aborrecer (a qual não é a verdadeira batalha que está sendo travada): "Você não é minha mãe/meu pai".

E o pastor nem deveria ficar surpreso quando alguns matrimônios falham pelo fato de os cônjuges "alcançarem êxito". Por exemplo, uma pessoa muito tímida pode desposar uma pessoa extrovertida a fim de ganhar confiança e prática em relacionar-se com outras pessoas. Quando tiver alcançado êxito em seu plano, a pessoa introvertida pode não mais sentir a necessidade de um cônjuge.

Conscientemente, as pessoas escolhem cônjuges que as estimulem, que sejam semelhantes a elas, que tenham interesses comuns. Inconscientemente, as pessoas selecionam cônjuges que as capacitem a corrigir antigos enganos, a vencer velhos conflitos, a superar antigos relacionamentos que nunca foram superados antes, a saldar velhas contas. Um psiquiatra afirmou, "Noivados podem ser feitos no céu, mas casamentos são feitos na terra da neurose".6

O Casamento como Projeção. A maioria das pessoas, senão todas, casam com suas fantasias e realmente não conhecem a pessoa a quem desposaram. As pessoas projetam tantas expectativas sobre seus cônjuges que eles terminam dizendo, "Você nunca me viu de jeito nenhum; você não sabe quem eu sou. Nós estamos casados há tantos anos, mas você ainda não me conhece".

A maioria das pessoas jovens tem pouca idéia do que seja o casamento e, por conseguinte, permitem que suas projeções apaguem o compromisso. Elas acreditam que o casamento irá endireitar tudo o que estiver errado, garantir felicidade, proporcionar um escape das pressões, que não exigirá nenhum desenvolvimento psicológico e espiritual, que será fácil separar-se caso as coisas não dêem certo. A projeção focaliza as necessidades, os anseios e as escolhas particulares de alguém, e não o comprometimento (ou trabalho) necessário para edificar um lar cristão forte.

O Ministério da Reconciliação

Como povo de Deus, os cristãos são encorajados a olhar para os outros não por aquilo que eles são (pecadores), mas por aquilo que Deus quer que eles sejam (pecadores redimidos que se esforçam para viver uma vida santificada). (Isto poderia ser prejudicial caso interpretado de modo a significar que o pecado seja ignorado ou o abuso, tolerado.) Jesus viu o significado da criação e a obra da redenção a partir da perspectiva do Pai. Ele viu a dignidade das pessoas, concedida pelo Espírito e projetada para ser reconhecida e respeitada pelos outros.

O aconselhamento matrimonial baseado em Lei e Evangelho expõe as maneiras pelas quais esposos e esposas utilizam um ao outro para lidar com o passado ou para manifestar fantasias. Procedendo assim, o pastor ajuda as pessoas a se reconciliarem mutuamente como uma extensão de sua reconciliação com Deus - enxergando para além de suas próprias necessidades e percepções e reconhecendo que o outro existe em seu direito próprio como uma pessoa criada, redimida e santificada.

O pastor também pode ajudar o casal a compreender e a apreciar a visão bíblica acerca do porquê eles estão casados. Como James Atkinson resumiu a visão de Lutero em seu sermão sobre o matrimônio, "É Deus quem dá um homem e uma mulher um para o outro...O matrimônio, então, está muito longe de ser apenas sexo. É uma questão de escolher e aceitar o cônjuge que Deus dá assim como Adão escolheu e aceitou a Eva como sua esposa" (LW 44, p. 5). A maneira pela qual um cristão trata um dom de Deus difere significativamente das expectativas e do conselho do mundo secular!

Concepção e Tecnologia

A maioria dos casais aguarda ansiosamente sua oportunidade de conceber, carregar e ver surgir a "carne da minha carne". Quando algum problema físico realmente interfere na concepção normal, o casal pode vir ao pastor em busca de conselho espiritual sobre vários tipos de tecnologia - concepção clínica e/ou (ao menos num futuro provável) engenharia genética humana. Tanto em uma situação quanto em outra, o pastor não deve ver seu ministério como algo que impeça o pecado legalisticamente, mas como algo que guia o povo de Deus na Lei e no Evangelho como o fundamento para uma vida santificada e plena de alegria. Rumo a esta meta, faz-se necessário cuidar de algumas questões e princípios.

Até que ponto os cristãos podem envolver-se naqueles aspectos do processo de concepção que até o presente eram considerados como sendo do domínio de Deus? Onde fica o limite entre usar o conhecimento/a habilidade com sabedoria cristã e o "brincar de Deus?" Assim como a igreja tem de avaliar o uso/mau uso dos meios artificiais para a preservação da vida terrena, a igreja também tem de avaliar o uso/não-uso dos meios artificiais para o estabelecimento da vida. Alguns procedimentos (e.g., o aborto) são claramente contrários à vontade de Deus; outros (e.g., a engenharia genética) não são mencionados na Escritura. Uma total falta de envolvimento seria uma mordomia infiel do dom de Deus que é a mente, dada para ser usada no serviço aos outros bem como no louvor a Deus. E nem o outro extremo satisfará: agir como se Deus não existisse ou como se ele não zelasse sobre o que fazemos. Deus sempre está envolvido na vida humana (embora não o faça à maneira de um controlador de marionete, manipulando tudo o que acontece); algumas vezes Deus abençoa nossos planos e outras vezes ele os frustra - mas está sempre presente. Independente da casualidade, a coisa mais fundamental e importante é manter um relacionamento reto para com Deus.

Como afirmado no capítulo I, Deus criou homem e mulher para serem uma família e para participarem com ele na criação continuada das gerações sucessoras. Por causa da queda, no entanto, o pecado obstruiu o ideal de Deus. A existência da infertilidade e de crianças deficientes lembra os cristãos de que eles vivem num mundo decaído e de que estas condições são manifestações disso. Desde que o Senhor continua abençoando o casamento com o dom dos filhos (Gn 29.31; Sl 127.3; Is 44.2), ele também tem permitido que alguns matrimônios fiquem sem filhos e, em alguns casos, Deus assim o encaminhou (Gn 20.17-18; 30.2; 1Sm 1.5). E, embora a perspectiva humana possa pensar que uma criança deficiente seja uma evidência de que Deus tenha retido uma bênção, a criança deficiente é uma bênção de Deus tanto quanto qualquer outra criança; e a deficiência em si mesma é apenas outra manifestação da presença e do poder do pecado no mundo.

Ao aconselhar o casal, o pastor precisa descobrir (entre outras coisas) a atitude que eles têm com relação a Deus e qual eles acham que seja a vontade de Deus operando com relação a eles.

O uso da tecnologia seria um ato de rebeldia contra Deus pelo que ele já fez em suas vidas?

Eles encaram a si próprios (ou ao seu cônjuge) - caso sejam inférteis ou carreguem um gene defeituoso - como incompletos? Como longe de serem um homem/mulher "de verdade"? Como aquém de serem um verdadeiro dom de Deus?

Eles são incapazes de ter um amor sacrificial que aceite as decisões de Deus a respeito de filhos em sua família?

Concepção Artificial

A tecnologia oferece aos casais de hoje vários tipos de concepção clínica7 - inseminação artificial (através do marido ou de um outro homem), o uso do óvulo de outra mulher, barriga de aluguel (usando o esperma e/ou o óvulo do casal infértil), ou, talvez, métodos ainda não desenvolvidos. O avanço da tecnologia coloca em contextos novos a questão contínua sobre como viver a vida santificada.

Por detrás deste processo residem duas questões importantes, 1) Se o processo envolver o descarte dos óvulos fertilizados "desnecessários", isto constitui-se aborto? 2) Se o esperma ou o óvulo forem doados por alguém que não faça parte do casal, isto envolve intromissão anti-Escriturística de uma terceira parte na união de uma só carne entre esposo e esposa?

A primeira questão, acerca do descarte de óvulos fertilizados, pode ser respondida de maneira relativamente fácil. Baseado em nossa compreensão da Escritura de que a vida humana começa com a união do óvulo e do espermatozóide, jogar fora óvulos fertilizados "extras, desnecessários" constitui-se aborto de vidas humanas.

Uma segunda objeção à fertilização in vitro é que, freqüentemente, a mesma envolve gametas que não provém de um esposo e de uma esposa unidos em matrimônio. Já que isto não pode constituir adultério, a questão que permanece é se é ética e moralmente defensável determinar a vontade de Deus.8

Questões psicológicas e éticas são importantes, não porque as questões humanas sejam iguais à Palavra de Deus (pois não o são), mas porque tais questões envolvem intimamente a consciência de alguém - uma questão que pertence à postura de alguém perante Deus. O pastor paroquial deveria ser cuidadoso para não onerar desnecessariamente a consciência de alguém, mas ajudar as pessoas a aguçar suas consciências sob a Lei e o Evangelho de Deus.

Engenharia Genética

Ao tempo deste escrito, o uso da informação genética humana está limitado à identidade de paternidade e à presença de defeitos no feto (comumente para verificar a necessidade de um possível aborto). Até agora, a igreja pode responder facilmente: a informação em si mesma pode auxiliar um casal em Cristo a planejar-se para o futuro; e o aborto é pecaminoso. As questões mais difíceis estão à porta:

Um cristão pode usar as capacidades da engenharia genética para conceber uma criança sem deformidades e sem doenças hereditárias (presumindo que o aborto não esteja envolvido), ou o casal deve decidir que sua criança potencial deve "ter suas chances" (e os pais, as deles) como fizeram todas as gerações desde Adão e Eva até o século XX?

Usar a tecnologia médica poderia ser um ato de híbris ou uma parte da responsabilidade humana de dominar a terra (Gn 1.28)?

Se pais cristãos (através de um médico) tiverem a capacidade de assegurar que sua criança não nascerá sem uma deficiência, eles são moralmente irresponsáveis se não usarem esta capacidade?

Caso a engenharia genética seja usada, mas ocasionar uma deficiência imprevista, os pais (e/ou o médico) são moralmente culpáveis, ou este resultado deveria ser aceito como providência de Deus, já que sempre existiram pessoas deficientes?

Reafirmando, a tarefa do pastor é ministrar ao casal a Lei e o Evangelho como o fundamento de sua vida santificada no casamento - vivida no Espírito com tanta felicidade quanto seja possível neste mundo decaído.

O Casamento e a Família do Pastor

Os pastores estão descobrindo que também são vulneráveis às pressões que confrontam outros matrimônios e famílias. Tristemente, muitos pastores não aceitam isto e pagam caro por negligenciarem sua própria natureza humana e as necessidades de sua família.

O que complica tais questões é a falsa noção de que os pastores não devem ter necessidades - de que há algo de egoísta no tocante a ter necessidades. Algumas pessoas disseram que a vida do pastor está unicamente na igreja, na "obra de Deus", e que sua família só existe para apoiar o ministério dele. (Implícita nesta opinião está a de que o pastor não pode ter quaisquer problemas sexuais. Caso tais problemas tentem aparecer, o pastor "piedoso" negará as necessidades que tem e carregará suas cargas heroicamente.) Assim, a maioria dos pastores sepulta suas reclamações, suas mágoas, seu vazio e tenta prosseguir. Eventualmente, eles são oprimidos por desejos pessoais negligenciados, por violações não comunicadas, por sonhos diminuídos, por conflitos não resolvidos e por expectativas não satisfeitas.

A esposa do pastor também pode encontrar-se isolada, num aquário, surpresa com quem é seu esposo (muito menos com quem é seu pastor). Ela pode sentir que ele não tem nenhum tempo ou energia para ela, considerando as exigências de sua paróquia, os numerosos postos denominacionais e cívicos, a preparação, o ensino, o aconselhamento e tudo mais que constitua seu chamado.

Filhos de pastores reclamam de estarem numa caixa. Professores e colegas colocam os "filhos de pastores" em certas categorias que enraivescem e magoam estas crianças. Os filhos de pastor têm problemas como qualquer outro filho - e podem ir muito longe para provar tal igualdade. Para piorar isto, alguns pais-pastores exageram a culpa de proporcionarem à congregação uma família abaixo da perfeição.

Seminaristas desde há muito têm perguntado qual o que tem a prioridade: ser um pastor ou ser um esposo. O dilema é falso, pois Deus estabeleceu ambos os ofícios - um, na fundação do mundo, o outro, na fundação da igreja - e ambos encaixam-se mutuamente (1Tm 3.2-5). Se um dos dois for negligenciado, a vontade de Deus não é feita. Da mesma maneira que o pastor pode gastar demasiados tempo/energia na igreja, ele também pode fazê-lo com sua família.

A solução é encontrada no equilíbrio (não no malabarismo) - o equilíbrio entre ser pai/pai espiritual da casa terrena e da família de Deus naquele lugar. Às vezes, o pastor deve responder imediatamente aos telefonemas dos paroquianos, independendo mesmo de observâncias especiais da família. Por outro lado, o pastor aprenderá com a experiência que algumas emergências são alarmes falsos. O pastor é o modelo para seu povo. Se ele nunca está em casa, se só gasta pouco ou nenhum tempo com sua família, ele pode receber aplausos por ser um trabalhador árduo, mas ele também desvia seu povo no tocante à vida cristã em família.

Além de zelar por sua família, o pastor deve zelar por si próprio, pois toda vida neste mundo está em um corpo físico. O homem que dá pouca atenção a si mesmo terá pouco a oferecer para os outros. Todo pastor precisa de tempo para desenvolvimento espiritual, para uma vida devocional, para hobbies, para ficar sozinho, para recreação. Acima de tudo, ele precisa de seu próprio Seelsorger (como sua esposa também precisa). Uma boa vida familiar requer apoio.

Em tudo, o pastor precisa lembrar diariamente que não há nada que ele deva fazer. Como outras pessoas, ele também é um dos perdoados. Não tendo de provar nada para si mesmo, ele é fortalecido diariamente pela graça de Deus para viver a vida perdoada. A espontaneidade do pastor em confiar a si próprio e à sua família aos cuidados do Deus que perdoa os pecados graciosamente, confiança esta que flui da fé no amor de Deus através do Cristo crucificado (a essência do Cristianismo), é a marca registrada do crescimento futuro e do fortalecimento presente do pastor.

O CASAMENTO

O NOIVADO

3 O Pastor Cuida Daqueles Que Estão Prestes a Casar-se

Namoro e Comportamento Sexual

O conceito e a prática do namoro secular diferem consideravelmente dos tempos bíblicos. Alguns pais não conhecem "o noivo/a noiva" ou não se encontram com ele/a até que a data do casamento esteja marcada. Em alguns casos, o casal pode não ter a mesma origem étnica, o mesmo status econômico ou a mesma denominação/religião. Relacionamento sexual durante o namoro ou viver juntos têm se tornado aceitável pelo mundo moderno.

Na cultura hodierna, muitos casais que vivem juntos sem estarem casados (incluindo aqueles que se professam cristãos) já justificaram para si mesmos a aceitabilidade moral de seu arranjo. 1 Sendo assim, abrir o coração destas pessoas para ministério de Lei-Evangelho no tocante a esta questão usualmente envolve uma certa tragédia. No entanto, ao preparar o casal para ouvir e viver a Lei e o Evangelho de Deus, o pastor pode ressaltar a taxa de fracasso de casamentos que começaram com coabitação pré-matrimonial (cerca de 80%). Ele também pode pedir ao casal que renuncie à prática de relações sexuais e concentre-se em sua habilidade de relacionar-se. Embora isto possa ser resistido, muitos adultos jovens já descobriram que a remoção do lado físico concede a oportunidade e o tempo necessários para que se trabalhe necessidades, preocupações e expectativas do relacionamento. Caso o casal concorde com isto, então o pastor pode encontrá-los mais receptivos aos ensinamentos e ideais bíblicos sobre matrimônio e família.

Noivado e Aconselhamento Pré-Matrimonial

Embora o noivado de hoje difira do compromisso dos tempos bíblicos (com sua legalidade obrigatória), um anúncio público do matrimônio ainda vem bem a calhar. Isto ajuda a estabelecer o caráter de responsabilidade exigido das duas pessoas que estão por tornar-se uma e permite que os outros saibam de sua intenção e pede apoio e orações de amigos e da família. O noivado não deveria ser contraído levianamente e nem usado meramente como sondagem. Em si mesmo, o noivado ainda é uma promessa moral para tornar-se um e implica o compromisso que é a essência do casamento.

A orientação pré-matrimonial é uma parte vital do ministério pastoral. Ela direciona o casal à Palavra de Deus como a fonte de fortalecimento e auxílio para os anos que estão por vir. Casais jovens que estão prestes a casar-se são idealistas e têm visões distorcidas do que será seu casamento. 60% dos casamentos realizados em um ano são segundos matrimônios; e, apesar de ser tão importante, freqüentemente o aconselhamento é negligenciado para eles. Portanto, o pastor desejará ajudar o casal a trabalhar e a lidar com as questões práticas que freqüentemente destroem casamentos.

O pastor precisa fazer mais do que simplesmente lembrar o casal do sacrifício de Cristo e da presença do Espírito Santo em seus corações. Como pai espiritual, ele necessita ajudar o povo de Deus a descobrir os pecados específicos em suas vidas e a praticar o uso do poder do Espírito na vida santificada. A fim de fazer isto, o aconselhamento pré-matrimonial freqüentemente utiliza-se de uma abordagem de discussão aberta, com o casal determinando que tópicos são mais críticos para eles no âmbito da santificação.

A orientação pré-matrimonial pode ser muito importante para fortalecer (ou estabelecer) um vínculo entre o casal e o ministério da igreja. A maneira pela qual o pastor ajudara o casal a preparar-se para a vida conjugal pode influenciá-los a pensar sobre o pastor como uma pessoa a quem eles sempre podem recorrer com confiança - uma pessoa que administra Palavra e Sacramento, a fonte poderosa de ajuda de Deus, especialmente quando surgirem problemas.

O montante de tempo a ser reservado para aconselhamento pré-matrimonial dependerá parcialmente do próprio estilo do pastor e parcialmente dos materiais que ele emprega (caso haja algum).2 Muitos pastores reservam sessões de três a seis horas e meia para estabelecer e fazer uso da aproximação necessária. Porém, o aconselhamento pré-matrimonial eficaz é uma combinação de sessões antes da cerimônia de casamento e no primeiro ano após a mesma. Será mais fácil garantir a cooperação do casal quando a congregação e o pastor tivereßm estabelecido publicamente um processo e quando os participantes do mesmo já tiverem atestado sua validade previamente.

O Pastor Deveria Realizar a Cerimônia?

O pastor não está sob nenhuma obrigação legal ou moral de solenizar todos os matrimônios. Em algumas circunstâncias (um casamento existente, menores e consangüinidade, como determinado pelo Estado), o pastor está proibido de realizar a cerimônia; e em outros casos ele poderá optar por não fazer.3 Em qualquer caso, o pastor deve conhecer as leis do Estado. No mínimo, isto inclui ter em mãos uma licença para casamento. Além disso, alguns Estados requerem consentimento dos pais para jovens de certas idades. Obviamente, caso o pastor tenha conhecimento de qualquer informação falsa na permissão, ele não pode proceder à cerimônia.

Antes de proceder, o pastor irá querer considerar algumas questões/assuntos adicionais. O culto de matrimônio cristão foi escrito pensando-se que o mesmo envolva cristãos. A cerimônia inclui bênçãos pastorais. Aí não se encontram questões banais. Algumas pessoas não preenchem os requisitos. Especialmente quando os prospectos forem estranhos ao pastor, oesmo desejará avaliar sua participação (que envolve, por implicação, a congregação e a igreja visível na terra). Estas questões incluem:

Por que este casal veio pedir-lhe para oficiar o casamento?

Eles vêem o culto como algum tipo de ato mágico que lhes garantirá um casamento à prova de defeito?

Eles estão simplesmente querendo agradar os "desejos antiquados" de seus pais?

Um ou outro está meramente interpretando um sonho infantil de um evento retratado perfeitamente?

Eles estão vindo pedir que o pastor os case devido à culpa de uma gravidez existente?

Até que ponto drogas ou álcool podem estar envolvidos - até o ponto suficiente para que o pastor diga que uma das duas partes seja incapaz de decidir-se por um comprometimento vitalício neste momento?

Em geral, nenhum pastor deveria permitir que ele se tornasse conhecido como um "casa todo mundo sem fazer perguntas", desta maneira desgraçando o Cristianismo e o próprio Deus.

Aprimorando as Habilidades de Comunicação do Casal Cristão

Esta área da interação humana, mais do que qualquer outra, tem um grande efeito (positivo ou negativo) sobre o casamento. Mesmo a "comunicação" da relação sexual morrerá a menos que esposo e esposa comuniquem-se verdadeiramente e empatizem um com o outro como pessoas cristãs, em Cristo. Eles precisam ser capazes de compartilhar suas necessidades, seus medos, suas esperanças e seus sonhos - sem medo de serem ridicularizados ou de serem repreendidos. Eles precisam ser capazes de ouvir com seus corações (i.e., ouvir ativamente) - confessar seus pecados e ouvir o perdão. Neste contexto, os casais serão capazes de resolver suas diferenças (1) compreendendo as emoções que estão por detrás dos desejos um do outro e (2), encontrando uma solução em Cristo, a qual não fira o auto-conceito do semelhante. Devido ao fato de o lado pecaminoso da natureza humana não poder sofrer mágoa emocional ao longo da vida, a submissão e a doação de alguém conforme Ef 5.22-25 pode incluir que tais pessoas coloquem de lado suas defesas próprias a fim de escutar verdadeiramente as mágoas dos outros.

A boa comunicação cristã ajudará o casal a lidar com questões potencialmente destrutivas, irá guiá-los a soluções aceitáveis e felizes, além de assistir o casal na vivência do fruto do Espírito: "amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio" (Gl 5.22-23a).

Tópicos a Ser Explorados no Aconselhamento Pré-Matrimonial

Uma Fé Viva no Lar. A significância da fé que uma pessoa tem precisa ser ressaltada. Desde uma fé vigorosa até a indiferença ao antagonismo, o relacionamento de uma pessoa com Deus está interrelacionado de maneira tão estreita com a auto-imagem como a sexualidade.

Algumas vezes, as pessoas buscam no casamento aquilo que só pode vir de um relacionamento com Deus. A alegria por aquilo que eles anseiam pode estar naquilo que vem apenas do Senhor - pois isto não é alegria per se, mas alegria de ser perdoado e de receber aceitação fundamental. Contudo, os seres humanos necessitam experimentar esta alegria/perdão/aceitação da parte de outros a fim de compartilhar isto com outros. Em parte, é por isso que Deus coloca o solitário em famílias (Sl 68.6) e na grande família, a igreja. Os casais encontrarão a força para suportar as provas do casamento quando têm uma fé que os capacita a perdoar e aceitar um ao outro. O "altar familiar" do lar cristão, devoções que ouvem e recebem da parte de Deus, serão um recurso vital para a unidade e para a realização das promessas do matrimônio.

Questões melindrosas advém quando o esposo e a esposa não confessam a fé cristã com um só coração e mente. Todas as questões básicas da vida e o significado e o propósito da família giram em torno da resposta que alguém dá ao chamado de Cristo. Religião mista no lar freqüentemente resulta tanto em tornar-se indiferente no que tange à Verdade (ou rejeitá-la) a fim de evitar pressões sobre o outro, quanto em construir um antagonismo.

Em algumas áreas dos Estados Unidos da América, os problemas oriundos de casamentos cristãos mistos surgirão quando a pessoa não luterana vem de uma denominação protestante que promove "a decisão por Cristo" ou que, de alguma outra maneira, arranha a eficácia completa da satisfação de Cristo, confundindo santificação com justificação. Justamente pelo fato de a maioria das pessoas englobar os luteranos no contexto de todos os demais protestantes, este perigo (que possa parecer negligenciável aos casais jovens) pode ser o mais problemático. O fato de pular para uma outra denominação de modo algum parece ser um problema.

Problemas também aparecem no matrimônio de uma pessoa luterana com uma católica romana. Devido ao fato de a Igreja Católica Romana igualar-se com a Una Sancta, a única, a igreja universal (e pelo fato de considerar o casamento como um Sacramento), o pastor paroquial da Igreja Católica irá pressionar em dois itens: (1) o envolvimento do sacerdote na cerimônia a fim de assegurar a "validade" do casamento; e (2) que o cônjuge católico pressione (sempre de maneira tão gentil) que o não-católico se converta e/ou, ao menos, permita que os filhos sejam educados na fé romana. A Igreja Católica Romana não exige mais a assinatura da certidão nupcial, mas o que ela realmente requer é que seus membros façam o que quer que eles possam para obter o mesmo resultado (sem, no entanto, quebrar o matrimônio). Caso o casal fale com o sacerdote (como é exigido), a pessoa não-católica será impelida a resolver o problema mesmo antes do casamento. A maioria dos casais jovens, enredados pela paixão e pelo idealismo de seu amor, não compreende a significância de tal consentimento, nem as implicações das quais se arrependerão mais tarde.

Quando um pastor percebe que um noivado de fé mista está para ser estabelecido firmemente, ele trabalhará com muito tato a fim de não colocar nenhum empecilho nem perante seu membro, nem perante a outra pessoa. O pastor relembra que nem São Paulo (1Co 7.16), nem São Pedro (1Pe 3.1-2) proibiram casamentos de cristão/não-cristão4 (e muito menos casamentos mistos de cristãos) e o pastor compreende a importância do acompanhamento pastoral depois do casamento e o valor de modelar a importância da graça de Deus em Jesus Cristo.

Já antes de o namoro sério começar, a igreja deveria ajudar o jovem a compreender os problemas do casamento de fé mista. 6ª Série não é demasiadamente cedo. Ocasionalmente, os líderes (pastor, professor de escola dominical, etc.) podem encontrar filhos de tais casamentos compartilhando experiências desagradáveis resultantes dos mesmos. Administrar tal troca de informações com muito tato, também através dos próprios casais de fé mista, pode ajudar a tornar visíveis as desvantagens dos matrimônios de fé mista e, desse modo, a proporcionar aconselhamento útil. Os líderes de grupos jovens deveriam ser escolhidos com o intuito de modelarem a força de um lar que tem a mesma fé. A escola dominical e as classes de confirmandos podem estudar os princípios fundamentais das outras denominações majoritárias da área. Seja qual for a abordagem, a mesma não deveria limitar a um evento único. Fortalecer a fé da geração seguinte é um processo contínuo.

Uma palavra de cautela: Preste atenção em como os filhos respondem no caso de terem entendido mal o que foi dito acima; isto pode cravar uma cunha entre o relacionamento da criança e do pai ou da mãe não luterano(a). Matrimônios de fé mista podem e de fato existem, até mesmo como famílias fortes. Ou melhor, a falta de uma fé comum será apenas um recurso a menos para que se supere as dificuldades, apenas mais um obstáculo a transpor, apenas mais um fator que está faltando para que se edifique um lar cristão vigoroso.

Expectativa Quanto aos Papéis. Casais que desejam viver sob o Senhor, em boa consciência podem discordar sobre como viver a ordem bíblica no matrimônio. O pastor não deveria tomar para si qualquer responsabilidade de decidir que cônjuge deveria fazer o que em volta da casa ou como o casal deveria dividir as tarefas de educação dos filhos. O pastor útil (1) levará o casal a perceber que eles ingressam no casamento com expectativas cheias de pecado em relação a si mesmos e em relação um ao outro e (2) auxiliará o casal a praticar um ouvir e um planejar ativos quando eles trabalharem em decisões mútuas que brotam de seu relacionamento para com Deus em Jesus Cristo.

Finanças. Ao jovem casal, o uso do dinheiro pode parecer relativamente livre de emoção e eles podem surpreender-se ao descobrir como seus hábitos de gastar refletem de maneira tão precisa seus valores pessoais - e até mesmo seu relacionamento com Deus. Freqüentemente as pressões financeiras levam ambos os cônjuges a trabalhar fora de casa a fim de conseguir fechar seu orçamento, mas com isto eles apenas descobrem que uma porção considerável de sua renda dupla é gasta de maneira imprevista com roupas de trabalho e com elegância pessoal, lanchonetes, transporte, babás, etc., tudo em dobro. "Planejar o orçamento familiar" começa com uma fé em Cristo que compreenda as responsabilidades da mordomia dos dons físicos confiados por Deus ao casal.

Parentes. Por causa do pecado, jovens casais cristãos podem ter problemas para deixar pai e mãe (Gn 2.24) e, ao mesmo tempo, honrá-los (Quarto Mandamento), mas eles podem não ser capazes de identificar as ocasiões humanas específicas que permitem a manifestação da fúria do pecado. A fim de estimular o crescimento do casal na santificação quando eles se relacionarem com a família um do outro, o pastor pode ajudá-los a explorar as experiências que eles já tiveram nesta área, bem como as expectativas presentes com relação a eventos tais como o contato com os sentimentos da família ampliada e dos empregados, trocas de presentes, expectativas com respeito a aniversários e feriados e coisas do gênero.

Tamanho da Família. Esta é uma época anti-família. Políticas governamentais juntamente com procedimentos industriais e comerciais tendem a trabalhar contra a família, Aquelas pessoas que estão empregadas no setor de serviços podem descobrir que eles não podem ficar sem trabalhar em feriados religiosos ou até mesmo com vistas ao culto dominical sem por em perigo seu emprego. Até certo ponto, a sociedade contribui de modo inadvertido para o desarranjo da família (podendo violar, de maneiras sutis, a liberdade religiosa). Esta realidade precisa ser equilibrada com outra: A sociedade e a economia não controlam quem as pessoas são e nem o que elas fazem; o que faz isto é o relacionamento delas com seu Deus gracioso e protetor. Deveria ser óbvio que nem a renda, nem o tamanho da família determinam a felicidade familiar.

Consciente disto, o jovem casal deveria discutir seus planos com respeito ao tamanho da família. Questões econômicas, tempo e maturidade emocional são apenas alguns dos fatores envolvidos. Como pessoas cujos momentos estão integralmente nas mãos de Deus e sob suas vistas, os cristãos encaminham suas vidas com humildade, buscando viver como servos e mordomos fiéis.

O pastor também incluirá uma discussão sobre métodos de controle de natalidade, mas no contexto da discussão sobre a sexualidade (Unid. V, 1). A fim de ser útil ao casal, o pastor deveria estar por dentro dos diferentes tipos de métodos contraceptivos. Alguns envolvem cirurgia; alguns utilizam um método "natural" (e.g., abstinência), outros bloqueiam a fertilização do óvulo (e.g., "camisinha", DIU) e ainda há outros que lançam mão de um princípio abortivo (e.g., "pílula da manhã seguinte"). A questão é melhor discutida à luz da intenção que Deus tem para com homens e mulheres como seus seres sexuais criados e redimidos. Por exemplo, a "pílula da manhã seguinte" não é um método contraceptivo, mas um método abortivo e, portanto, contrário à vontade de Deus.

Contexto Social Anterior. Um casal de contextos sociais diferentes (bem como de contexto ético/racial distinto) não apresenta nenhum problema espiritual ao pastor. Todavia, o pastor desejará ajudar o casal a raciocinar de acordo com uma vida cheia da graça no Espírito e a planejar-se para viver desta maneira em face das pressões (tanto internas quanto externas) que eles podem vir a enfrentar.

Fazer Exames para Detectar Doenças Sexualmente Trans-missíveis. Herpes, infecção por Chlamidia, sífilis, gonorréia, AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis levantam questões sérias ao cuidado pastoral. Devido à predominância do sexo pré-matrimonial e à persistência de severas doenças sexualmente transmissíveis, o pastor pode muito bem levantar a questão de que os noivos façam exames de maneira que possam assegurar um ao outro o presente de um corpo livre de enfermidades sexuais. Algumas pessoas não têm nenhuma idéia de que elas são portadoras de uma enfermidade em particular. Cada um dos dois noivos pode ter sido sexualmente ativo com alguém outro, o que aumenta geometricamente a possibilidade de estar infectado. Timidez por parte do pastor não servirá ao bem-estar de seu povo.

Planejando o Culto Nupcial

A maioria dos casais cristãos optam por fazer seus votos perante Deus num culto público de adoração. Ali eles são relembrados de que o Evangelho do amor de Deus é a raiz do amor deles; e eles convidam seus irmãos cristãos a reunirem-se a eles e a seus familiares quando pedirem as bênçãos de Deus para sua vida em comum. Certamente, os ensinamentos bíblicos parecem apoiar uma base para que um matrimônio comece com um culto.

Já que os ritos núpciais cristãos devem estar no contexto do culto evangélico, é adequado anunciar o matrimônio e convidar a congregação para reunir-se em oração pelo casal de noivos.

Pouco tempo depois de sua chegada a uma nova paróquia, o pastor deveria inteirar-se das leis do Estado atinentes à família, particularmente nos pontos em que tais leis falem sobre casamento e divórcio. Ele também irá familiarizar-se com os costumes e a etiqueta da congregação com respeito a cerimônias nupciais. Alguns detalhes deste culto e dos eventos que o acompanham podem ser ocasiões para desacordo entre o pastor e o casal (e.g., seleção musical, chuva de arroz, quando ficar ou não em pé, etc.). Muitos problemas podem ser evitados se a congregação e o pastor tiverem estabelecido padrões e explicações claras que dirijam o casal a Deus como ênfase do culto, bem como incorporem tradição (ou tradições) paroquial(is) adequada(s).5 Quando estas diretrizes (talvez de forma impressa) tiverem sido usadas como parte do programa de educação paroquial e tiverem sido rediscutidas durante as sessões de aconselhamento pré-matrimonial, muitos problemas serão evitados. Impressas ou não, as regras da igreja não deveriam tornar-se procedimentos legalistas que forcem as pessoas a uma submissão involuntária resultante de resentimento, mas deveriam ajudar a que as pessoas focalizassem a presença de Deus em Cristo Jesus. Da mesma maneira que o Evangelho é perdido caso a Lei o seja, assim também a Lei sem nenhum Evangelho destrói a fé e a vida cristã.

Apesar de o Estado conceder a qualquer pastor o direito legal para solenizar qualquer matrimônio, na maioria das vezes o pastor da noiva é o oficiante. A boa ordem exige que o pastor só sirva a não-membros com o conhecimento e a anuência do próprio pastor daquelas pessoas, o qual, às vezes, por um bom motivo pode ter se recusado a oficiar a cerimônia.

O planejamento do culto pode ser uma alegria - ou uma perturbação - para todos os envolvidos. Já que o problema pode ser a imaturidade do casal ou, e.g., a intransigência dos parentes, o pastor tem a responsabilidade de ajudar a todos os que estão preocupados em planejar a cerimônia como um culto de adoração. De fato, planejar o culto em si mesmo é responsabilidade do pastor (embora ele pudesse sentir-se encorajado a incorporar os desejos do casal quando isto fosse apropriado). Questões não essenciais (tais como se o noivo vem da sacristia ou se acompanha a noiva ao longo da nave da igreja) não precisam originar uma ocasião para desacordo.

Ordens de culto matrimonial aprovadas estão disponíveis na(s) Lutheran Agenda(s) ("Agenda(s) Luterana(s)"). Deveria ser buscado um acordo prévio com o casal no que diz respeito ao rito específico (e a quaisquer variações).

A mensagem nupcial pode ser omitida em cerimônias privadas, mas sem sombra de dúvidas deveria ser uma parte do culto público de matrimônio no santuário. A mensagem não precisa ser tão longa, mas a Palavra do Evangelho deveria ser trazido a todos os presentes. Tanto o pecado quando a graça têm seu efeito no casamento e o pastor irá proclamar tanto a Lei quanto o Evangelho. Os ouvintes deveriam escutar que a igreja está atenta às dificuldades causadas pelo pecado que as pessoas encaram diariamente, bem como deveriam ouvir que o Caminho (At 24.14) também pode beneficiá-las através dos tempos de dificuldades.

Geralmente, os cultos de casamento incluem o uso de órgão e, talvez, alguma forma de canto. Desde que o contexto é cúltico, música secular deveria ser evitada. O pastor precisará trabalhar cuidadosamente com o casal a fim de selecionar músicas adequadas, especialmente quando a "canção deles" for uma ofensa à compreensão e à fé cristã.

Câmeras de vídeo, câmeras fotográficas e fotógrafos irritantes não contribuem para a atmosfera de um culto. O pastor incumbido do culto tem o direito e a responsabilidade de governar como as pessoas irão comportar-se durante o culto de adoração.

A data e o horário da cerimônia podem ser estabelecidos para qualquer época do ano (embora a natureza alegre do evento não harmonize com a solenidade, por exemplo, da Semana Santa). É digno de nota que algumas pessoas estão optando por fazer seus votos matrimoniais no decorrer de um culto de adoração num domingo pela manhã. Esta prática não deixa nenhuma dúvida acerca do contexto cúltico e ajuda a prevenir algumas das manifestações mais grotescas em voga.

Juntamente com os detalhes do culto, a data do ensaio deveria ser planejada com antecedência. (A fim de assegurar seu acordo, o pastor e o casal podem preferir ensaiar suas partes separadamente antes que as demais pessoas cheguem.) Como a maioria dos jovens casais incluirão não-luteranos entre os padrinhos de seu casamento, o ensaio pode ser visto como uma breve introdução ao Luteranismo - e, às vezes, à própria Igreja Cristã. Aqui, alegria e seriedade misturam-se, revelando um povo voltado ao Evangelho que celebra a plenitude da vida sobre um Deus gracioso.

O NOIVADO

O CULTO DO AMOR PRÓPRIO

4 O Cuidado Pastoral e o Culto ao Amor Próprio

Promiscuidade e Aborto

A Perseguição do Prazer

O auto-amor humano depois da queda em pecado acha que as implicações da dualidade homem-mulher orientada ao casamento seja algo demasiadamente limitante. Colocando o centro sobre o eu como um ser sexual desde o nascimento, os seres humanos adoram justificar o sexo não-matrimonial, o aborto, o adultério, a atividade homossexual e até o incesto. O problema não é simplesmente que este comportamento viole as normas divinas, mas que o mesmo brota de um auto-amor idolátrico. Notem-se os comentários de Lutero sobre a tentação de Satanás para Adão e Eva:

Satanás apostou tudo neste seu esforço singular para afastá-los da Palavra e da fé, isto é, do Deus verdadeiro para um deus falso.1

A fim de apreciar a identificação do amor próprio como idolatria, ouça a resposta escrita de Lutero para o que seja um deus: "Deus significa aquilo de que se deve esperar todo o bem e em que devemos refugiar-nos em toda apertura" (CMa., I, 2). Considere, então, as sugestões tentadoras de Satanás para Adão e Eva - e, por fim, para cada um de seus descendentes: "Vocês serão capazes de fazer melhores julgamentos por vocês mesmos do que Deus pode fazer; ele só quer limitar a experiência humana. Vocês são capazes de estabelecer a si próprios como deus e olhar para vocês mesmos a fim de determinar o que seja bom, confiando em sua própria força para sobreviverem".

Constantemente os engodos seduzem a todos. Tantos a cristãos quanto a não cristãos. A mídia encoraja o "teste" completo das experiências e das emoções como sendo algo saudável. A ética e os valores são baseados na ausência de prejuízos medidos subjetivamente. O poder através do sexo é positivo. O corpo e a vida pertencem somente ao indivíduo - chegando até mesmo ao ponto do aborto - sem qualquer responsabilidade no tocante a outras pessoas. Compromissos devem ser evitados pois os mesmos causa uma dor inevitável - assim como serviço e apoio mútuos também causarão. A melhor sexualidade é o eros, uma vida sexual ativa em qualquer que seja a forma desejada. E o agape, o amor da auto-doação total, é mais antiquado do que o "Papai Sabe Tudo".

Os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com avidez, cometerem toda sorte de impureza (Ef 4.19).

Talvez a igreja de cada época considere que seus tempos sejam mais voltados ao prazer do que qualquer outro momento na história do mundo. Ao menos hoje em dia isto é bastante verdadeiro: a promoção que a civilização ocidental faz do prazer está crescendo em proporções geométricas. A publicidade massiva e as comunicações globais deram um novo ímpeto à expressão "todo mundo faz isto".

Paralelamente ao crescimento do prazer pessoal estão as mágoas que dele resultam: falsa culpa, solidão e isolamento, perda do sentido da vida, insensibilidade, ciúmes, corações e lares partidos, os efeitos do prejuízo, a perda dos padrões, a destruição da auto-dignidade. Estas dores exigem mais habilidades e tempo do Seelsorger do que quaisquer outros deveres que o pastor tenha.

A imoralidade sexual não é exclusividade dos jovens solteiros. Ela tenta a cada um cada vez que uma estória na tela ou na TV apresenta casos amorosos ilícitos envolvendo sexo como algo aceitável/desejável. Um comercial que exalta a beleza do corpo tem o potencial de seduzir o consumidor a separar o corpo da alma. Toda justificação para uma mente errante excusa um coração volúvel.

O pastor não pode isolar seu rebanho destes ataques, nem estará necessariamente do lado de uma ovelha quando ele ou ela tiverem de fazer uma escolha moral. Contudo, o pastor compassi- vamente pode aplicar a Lei e o Evangelho ao seu rebanho em sua pregação e em seu ensino (formal e informal); ele também pode usar a arte da publicidade e de contar estórias para ajudar seu rebanho a lembrar-se das ternas misericórdias de nosso Deus em Cristo.

Além de lidar com as mágoas que provém de situações específicas, o pastor também pode edificar o povo de Deus na auto-doação cristã. Esta atitude irá auxiliar as pessoas a superarem as tentações, bem como proverá um ímpeto novo após o arrependimento e a absolvição por algum ato de promiscuidade.

A criação de uma "auxiliadora idônea" (Gn 2.20) aponta para a necessidade geral de companheirismo humano, assim como para a necessidade de comunhão íntima no casamento. "Não é bom que o homem esteja só" (Gn 2.18).2 Contudo, tal comunhão estreita não pode sobreviver no deserto do egocentrismo; ela requer o jardim fértil do agape, do amor abnegado.

A preocupação do pastor pelas almas percebe que um uso legalista de passagens bíblicas (tais como Ef 5.1, 21; ou Gl 5.22; ou as Bem-Aventuranças; ou 1Jo 3.16) não motiva ninguém. Antes, a Lei sem o Evangelho tornará o jardim do agape de Deus em um deserto. Portanto, o pastor compassivo estará disponível quando suas ovelhas estiverem feridas. Ele as ajuda a compreender o pecado do egocentrismo que tem causado as dores que elas têm e ele enfaixa seus ferimentos com o perdão e o amor de Deus em Cristo. Neste ponto, quando as pessoas estiverem mais agradecidas pelo que Deus tem feito, o pastor ajudará seu povo a fazer uso do poder do Espírito para que sejam renovados com vistas a uma vida de abnegação. (Note-se que o aprendizado desta "lição difícil" não se limita ao contexto da dor oriunda de alguma promiscuidade. Tal aprendizado sempre ocorre quando as pessoas sofrem de prazer egocêntrico. E a fraqueza do coração humano exige aplicação repetida de Lei-Evangelho aos cristãos a fim de que o crescimento na graça seja mantido.)

O Aborto

Não fora a luta inexorável pelo prazer privativo, o aborto não seria um assunto de debate. À parte de circunstâncias tais como a de um feto ameaçar a terminação da vida da mãe e de gestações devidas a estupro ou incesto, a maior parte das gestações indesejadas resultam da promiscuidade e/ou tem a ver com o "direito ao prazer" (a heresia norte-americana) que um indivíduo possui.

Mesmo antes da Suprema Corte dos Estados Unidos da América ter legalizado o aborto, o mesmo estava disponível para os mais abastados e para aqueles que queriam arriscar uma visita a uma clínica ilegal dirigida por pseudo-profissionais. A decisão Roe versus Wade, porém, foi vista por muitos como algo que tornou o aborto algo moral por causa de sua legalização - tudo em nome da liberdade de escolha e do direito da mulher à privacidade.

Os pastores devem abrir sua boca a favor da vida (Pv 31.8). O próprio Sínodo de Missouri já fez isto em Convenção.3 A organização Lutherans for Life ("Luteranos em favor da Vida") também tem tratado do aborto e de questões afins. Mas ao indivíduo cristão que está experimentando uma gravidez indesejada, é o irmão em Cristo e/ou o pastor que deve dar orientação e conselho. O leigo da igreja deve ouvir seu pastor paroquial como representante vocal e visível de Deus. De fato, situações excepcionais podem surgir. Por exemplo, o melhor julgamento médico de um doutor pode sugerir que uma gravidez seja encerrada em troca da vida da mãe. O processo decisório subseqüente por parte dos pais deveria ter a assistência de um cuidado pastoral sensível. Alguns casais serão levados a colocar os desdobramentos destes eventos completamente na mão do Senhor. Outros casais, cristãos igualmente sinceros, verão a mão do Senhor trabalhando através do médico - e irão fazer todas as coisas possíveis para salvar a vida da mãe. Pesados na balança divina, tanto a mãe quanto a criança têm valor igual; mas a realidade deste mundo pode determinar uma necessidade maior para que se preserve a vida da mãe por causa da família e/ou da comunidade. Poucas escolhas na vida ilustram de maneira tão comovente a condição decaída de nossa natureza humana do que esta em que a decisão "melhor", mesmo para um cristão forte, pode ser a escolha do mal menor. O comentário de Lutero é inteligente: Peca corajosamente, mas vive mais corajosamente ainda. 4

À parte da decisão terapêutica, haverá muitos casos difíceis - a adolescente no último ano do 2º Grau, solteira, mas gestante; um colega pastor desinformado de que sua jovem filha esteja grávida; a mãe pobre que está recebendo assistência social do governo cujo marido acabou de abandonar, deixando-a grávida de um quarto filho; a gestante de 45 anos com um risco aumentado de que seu filho possa nascer com síndrome de Down ou outros defeitos genéticos. Dores de cabeça, desapontamentos e finais infelizes não podem ser evitados. Devemos oferecer e demonstrar o amor compassivo de Cristo para a garota grávida que tem sido pressionada para casar-se ou para praticar o aborto por seu namorado ou por seus pais, para os enganados e mal informados, para as milhares de mulheres que têm sido exploradas pelo aborto (algumas das quais, mais tarde, sofrem problemas psicológicos significativos). Ainda que haja um espaço para a ira justa contra aqueles que advogam, promovem e praticam o aborto, o pastor deve relembrar que ele tem um ministério evangélico para exercer. Ele não pode dar aprovação, mas também não pode negar aceitação ao penitente. O Deus que aceita cada pecador arrependido em Cristo está preparado para aceitar cada mulher que já tenha feito um aborto e cada homem que já tenha levado uma mulher a este ponto. O Pai aguarda todo filho e toda filha pródigos com amor compassivo e perdoador. O convite de Jesus não tem restrições: "O que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora" (Jo 6.37).

O Cuidado Pastoral e o Comportamento Homossexual

O comportamento homossexual, i.e., as intimidades físicas e o ato de "fazer amor" de maneira afetiva e consentida entre duas pessoas do mesmo sexo, tem ganho um grande índice de aprovação social - e legal. Sejam quais forem as causas internas que uma pessoa apresente,5 o comportamento homossexual está fora da vontade que Deus tem para o que seja a expressão da sexualidade humana por suas criaturas.6

Se considerarmos a homossexualidade à luz de todo contexto bíblico no que concerne ao propósito do casamento e à dualidade homem-mulher discutida acima,...podemos chegar a uma compreensão mais clara do porquê o pensamento cristão tem condenado e deveria continuar condenando os desejos e os atos homossexuais.

A criação dos seres humanos para uma comunidade de aliança encontra sua expressão original na comunhão de homem e mulher. Esta comunhão, como enfatizamos acima, requer um compromisso com a integridade de nossa identidade sexual. A comunhão de homem e mulher implica um reconhecimento de que somos homem e mulher e de que não deveríamos nos esforçar para transcender esta distinção. A comunhão final para a qual Deus está nos preparando e da qual a polaridade homem-mulher é uma proclamação não é uma união indiferente daqueles que são semelhantes. É uma comunhão harmônica daqueles que, apesar de diferentes, estão unidos em amor. A partir deste ponto de vista, podemos dizer que o relacionamento homossexual aproxima-se de modo muito estreito do amor proibido do ego e minimiza a distinção entre o amante e o amado. A dualidade homem-mulher como o padrão criado da comunhão humana requer de nós fidelidade para com nossa identidade sexual, uma boa vontade em se ser homem ou mulher.

Em segundo lugar, e muito obviamente, um relacionamento homossexual não é procriativo,...Alguns, de fato, podem considerar isto como um mero fato biológico, irrelevante quando se leva em conta a possibilidade de uma afeição e um amor profundos em um relacionamento homossexual. Contudo, as Escrituras não dão lugar para o amor em tal "isolamento esplêndido"...Além do mais, quando apontamos para o fato do relacionamento homossexual não ser procriativo, fazemos isto de modo a significar que tal relacionamento vai contra o que se afirmou no contexto anterior ou seja, que se espera que a união de uma só carne entre um homem e uma mulher normalmente produza frutos.

Por isso, baseando-nos em premissas cristãs, podemos afirmar que nem o consentimento mútuo, nem mesmo a afeição genuína são suficientes para justificar um relacionamento homossexual. De acordo com as Escrituras, o ser humano é mais do que mera liberdade para definir o que ele ou ela serão. Há atos ou relacionamentos nos quais não podemos consentir sem ultrapassar os limites que nosso Criador estabeleceu para suas criaturas (Rm 1.26s)...

É importante perceber que há aquelas pessoas que, a parte de qualquer escolha deliberada delas mesmas, têm uma predisposição à homossexualidade...A fim de oferecer a tais pessoas a ajuda compassiva que elas precisam, a igreja, tendo condenado todos os atos homossexuais em que tais pessoas se envolvem...deve estar pronta para oferecer sua assistência àqueles que procuram vencer as tentações que os cercam e que desejam permanecer castos perante Deus apesar de sua inclinação homossexual.

Deve ser dito que uma predisposição à homossexualidade é o resultado do efeito desordenador e corruptor da queda em pecado, da mesma maneira que a predisposição a qualquer pecado é sintomático do pecado original. Além do mais, quaisquer que possam ser as causas para tal condição,...[não estamos] querendo dizer que a inclinação sexual de uma pessoa é uma questão de escolha consciente, deliberada. De qualquer maneira, este fato não pode ser usado pelo homossexual como uma excusa para justificar o comportamento homossexual...Tal pessoa deveria ser aconselhada a acatar o chamado ao arrependimento, a confiar na promessa divina de libertação (Sl 50.15) e a colocar sua vida em ordem de acordo com o intento do Criador.7

Assim como um alcoólatra recuperado pode ser um cristão e ainda sempre considerar-se um alcoólatra com uma forte inclinação a este comportamento, assim também um homossexual não praticante pode ser um crente sincero. Todos os cristãos, como São Paulo (Rm 7), esforçam violentamente por causa do conflito que há entre o velho homem/novo homem. O homossexual "recuperado" (i.e., não praticante) que está na comunhão dos crentes precisa de aceitação, de instrução e de cuidado que o ministério de apoio da Palavra e do Sacramento estendem a cada membro que é simul justus et peccator.

Finalmente, um interesse sábio e genuíno pelo bem estar do homossexual pode impelir o pastor a pedir ajuda de outros profissionais cujo treinamento especializado pode equipá-los a lidarem de maneira mais eficaz com este problema realmente difícil. A homossexualidade está tão amalgamada com a personalidade, com a necessidade de relacionamento íntimo, com a auto-identidade e com a auto-justificação que poucos pastores estão equipados para aplicar a Lei e o Evangelho de qualquer maneira significativa de modo a serem ouvidos pelo homossexual. A melhor "arte" do pastor pode então constituir-se em ser a pessoa que aponta para a fonte, mostrando ao cansado onde encontrar descanso (Mt 11.28).

O Cuidado Pastoral e a Violência Sexual: Abuso, Incesto, Estupro

Se os psicólogos estiverem certos, o desejo de controlar uma outra pessoa através do uso da força/dor desenvolve-se a partir de uma reação de "ataque/defesa" diante de uma situação ameaçadora. Talvez devido ao fato de a sexualidade ser integral com relação ao que uma pessoa seja, a atitude de usar a sexualidade de uma outra pessoa contra ela mesma parece empregar a mesma quantidade de força tanto em uma ameaça de assumir o controle (e efetivamente fazê-lo) quanto na execução de um assassinato. E, apesar da percepção popular, tanto mulheres quanto homens usam a violência sexual, ambos os sexos a usam tão logo tenham aprendido a eficácia que isto tem. (Estatisticamente, de fato, os homens tendem a utilizar a violência sexual de modo mais brusco do que as mulheres.)

Embora o abuso e o incesto sejam problemas que ocorram no âmbito familiar e o estupro (comumente) seja um ato de violência perpetrado contra uma pessoa de fora da família, as "situações ameaçadoras" que os perpetradores usam para justificar violência sexual quase sempre relacionam-se com a situação familiar da pessoa. Portanto, o leitor é incentivado, sempre que necessário, a reestudar e a aplicar a discussão que se inicia na seção "O Ciclo do Abuso", presente no capítulo intitulado "O Pastor como Conselheiro" (Unid. IV, 3).

O CULTO DO AMOR PRÓPRIO

O DIVÓRCIO E O RECASAMENTO

5 Divórcio e Recasamento

O Divórcio

O capítulo sobre o matrimônio (que deveria ser estudado antes desta discussão) apresentou sua base bíblica e teológica.1 Aquele capítulo proporciona o contexto fundamental para as seguintes afirmações sumárias feitas pela Comissão de Teologia e Relações Eclesiais do Sínodo de Missouri com respeito ao divórcio. Todavia, ao apresentar estas afirmações à igreja, a Comissão notou o perigo de que as mesmas se tornassem um código legal que, por um lado, pode ser usado a fim de encontrar-se desculpas para o divórcio e, por outro, pode ser usado para condenar todo aquele que tenha se envolvido em um divórcio. Assim, a título de lembrete preliminar, a Comissão diz "que a vontade para obedecer os mandamentos de Deus não nasce da Lei, mas do Evangelho do perdão".2

1. Quando Deus instituiu o matrimônio na criação, ele planejou que o mesmo fosse uma união vitalícia de um homem e uma mulher. Por sua própria natureza, a união de uma só carne entre o esposo e a esposa não permitirá a intromissão de uma terceira parte; por conseguinte, o que Deus ajuntou, não o separe o homem.

2. O divórcio, destruidor daquilo que Deus ajuntou, sempre é contrário à intenção de Deus para o casamento.

3. Uma pessoa que se divorcia de seu cônjuge por qualquer outra razão que não seja infidelidade sexual e casa-se com outro alguém comete adultério. Qualquer um que despose uma pessoa assim descartando seu cônjuge comete adultério.

4. Quando um cônjuge comete fornicação (i.e., é culpado de infidelidade sexual), que rompe a unidade do casamento, a parte ofendida que suporta tal infidelidade tem o direito, embora não seja um mandamento, de obter um divórcio legal e de casar-se novamente.

5. Um cônjuge que é abandonado voluntária e definitivamente por seu companheiro(a), o qual se recusa a reconciliar-se e nem está disposto a cumprir as obrigações do pacto matrimonial apesar de persistente persuasão, pode buscar um divórcio legal, que em tal caso constitui-se um reconhecimento público de que um casamento já está quebrado, e pode, então, casar-se novamente.

Para que se determine se uma pessoa foi abandonada verdadeiramente de uma maneira que possa ser considerada voluntária e definitiva, os principais fatores a serem levados em conta são a permissão para viver dentro do lar e para desempenhar as obrigações comumente reconhecidas do apoio mútuo e da coabitação sexual.3

Ainda que os princípios acima pareçam ser suficientes, os pastores paroquiais em geral gastarão uma quantidade incrível de tempo e experimentará um caminhão de aborrecimentos quando ele, o Seelsorger, for aplicá-los a esposos e esposas que estão magoados, irados e talvez querendo vingar-se. Às vezes, ele contemplará o poder terapêutico e renovador do Espírito nas vidas de seu rebanho. Outras vezes, ele será lembrado de que freqüentemente "aconselhamento matrimonial" é um eufemismo para o último suspiro de um casamento. O pastor irá notar até mesmo em si próprio um certo grau de confusão e dúvida - orando para que um matrimônio específico sobreviva e, ainda assim, sentindo-se aliviado quando os cônjuges vêem-se livres do relacionamento destrutivo que tinham.

Qual é a responsabilidade do pastor? É salvar cada matrimônio? É forçar as pessoas a permanecerem em relacionamentos que só castigam? É ameaçar pessoas feridas por suas inadequações? É libertar as pessoas por meio do "perdão oficial" para que as mesmas façam o que de qualquer modo elas pretendem fazer? Algumas orientações claras podem ser dadas como resposta a estas questões.

Responsabilidade pelo Divórcio

As pessoas que estão encarando um divórcio (assim como todas as pessoas) tomam suas próprias decisões, ainda que algumas tentem manipular o pastor ao invés de assumir a responsabilidade social (e muito menos assumirão a responsabilidade espiritual) pelo fracasso de seu casamento. Portanto, o pastor é incapaz para assumir a responsabilidade do casal, assim como é incapaz para tomar as decisões que as pessoas não queiram tomar por si mesmas. Sua responsabilidade - para com o casal e para com Deus - é providenciar um ministério de Lei e Evangelho.

Inocência e Culpa

Na maioria das circunstâncias, o pastor deveria evitar tomar partido ou procurar determinar quem seja "a parte inocente". Um retrato pintado claramente existirá em alguns casos; porém, na maior parte das situações, os emaranhados dos relacionamentos humanos são tais que as pessoas envolvidas no divórcio não podem enxergar a verdade real por detrás de suas ações e atitudes.

Lutero vê o problema como resultante do fato de não alicerçar o matrimônio na fé verdadeira:

Reconhecer o estado do matrimônio é algo bastante diferente de meramente estar casado. Aquele [ou aquela] que está casado, porém não reconhece o estado do matrimônio, não pode continuar na vida conjugal sem amargura, enfado e angústia. 4

Reconhecer o estado do matrimônio é ver o cônjuge como um presente de Deus que deve ser aceito e tratado como tal. E, ainda que cada pessoa casada após a queda tenha necessidades egocêntricas diversificadas que espera que sejam satisfeitas pelo cônjuge, o crente em Cristo fortalecido pelo Espírito que reconhece o estado do matrimônio encara as necessidades do outros como tendo prioridade sobre as suas próprias. Quando um casal vem ao pastor para discutir o divórcio deles, ele pode admirar-se caso um dos dois cônjuges jamais tenha entendido isto ou nunca o tenha posto em prática.

Por conseguinte, ao invés de pronunciar que um cônjuge seja inocente e o outro, culpado, o pastor deve ajudar a que ambos, individualmente, descubram suas próprias culpas e chegue ao arrependimento com os olhos voltados à paciência, ao perdão, à esperança e à mudança.

A Presença Pastoral

O pastor pode auxiliar o casal a refletir sobre o passado, o presente e o futuro. Ele pode reuní-los a fim de que eles reconsiderem compromissos, responsabilidades e conseqüências. Ele pode "estar ali" como um embaixador de Deus para seu povo - não apenas como uma pessoa que se interessa pelos outros, mas como alguém que ministra com o poder de Deus. Ele pode caminhar com eles pelo vale da sombra, encorajá-los em suas fraquezas, desafiá-los em suas dúvidas, confrontá-los com sua auto-destruição. O pastor também pode assistí-los na tarefa de buscar ajuda profissional para seus problemas específicos de natureza médico/psiquiátrica que estejam além da especialização profissional que ele tem.

Seu papel fundamental é ensinar a vontade de Deus com respeito ao matrimônio e ao divórcio. O pastor pode ajudar o casal a orar (bem como pode orar por eles). A oração com o casal, quando aprovado por eles, também pode ajudar a abrir as portas para um esforço renovado da parte deles.

O pastor também pode ajudar o casal a compreender o pecado deles e, quando eles estiverem prontos a ouvir com corações abertos, envolvê-los com o amor de Deus em Cristo. Às vezes, o pastor pode ficar tão perplexo quanto eles, mas ele pode modelar a esperança com a oração de que Deus proverá uma maneira e que até mesmo na falência dos relacionamentos o casal encontrará cura no Senhor.

Uma pessoa pode (re)aprender como amar o cônjuge e perdoá-lo. Freqüentemente, o ato de fazer um esforço para compreender os sentimentos e as necessidades do outros e de demonstrar um esforço para mudar resultará em que o amor reapareça. Praticar novos comportamentos, redefinir queixas, buscar novos "acordos" e uma variedade de outras técnicas pode ajudar um casal a experimentar esperança suficiente de forma que, com a ajuda de Deus, eles trabalhem para melhorar seu casamento.

Contudo, quando a reconciliação não for possível, o pastor gastará bastante tempo aconselhando individualmente, ajudando cada pessoa a redefinir-se, com base no Evangelho, como uma pessoa solteira e útil. Este processo inclui uma espécie de luto. De muitas maneiras, a perda de um relacionamento assemelha-se a um falecimento - exceto pelo fato de que a igreja tem apenas uns poucos símbolos ou rituais públicos para marcar ou encerrar um matrimônio. O pastor procurará os sinais de lamento profundo e ajudará o indivíduo a passar pelos diversos estágios rumo a uma vida transformada sob Deus.

Comportamento Conflitante

O pastor deveria compreender que aqueles casais que estão em processo de separação e divórcio manifestam um comportamento conflitante que reflete as emoções vacilantes que o casal possui. Pertences pessoais podem ter sido deixados na casa e seu dono pode precisar voltar para reclamá-los. Eles se telefonam só para dizer "como vai". Um cônjuge pode ser chamado pelo outro para consertar alguma coisa e os dois podem terminar na cama. Comumente, o pastor não deveria compreender tais contatos como tentativas de retorno. Ao invés disso, muitas pessoas acham difícil romper a dependência psicológica com relação ao cônjuge e, então, reafirmam-se com contatos casuais de um com o outro.

A Presença de Filhos

Caso crianças jovens estejam envolvidas, o pastor também precisa ministrar a elas. Tipicamente, os filhos acreditam que eles tenham a força para fazer com que seus pais fiquem juntos novamente. Alguns filhos crêem que eles tenham sido a causa verdadeira do divórcio. Alguns serão manipulador pelo pai ou pela mãe, ou por ambos, a fim de magoarem a outra parte. O ministério pastoral os filhos inclui o apoio do pastor a ambos os cônjuges em seus papéis de pai e mãe. Algumas pesquisas têm demonstrado que os prolongados efeitos prejudiciais do divórcio sobre os filhos são minimizados quando tais filhos gastam tempo saudável, criativa e significativamente com ambos os pais. O pastor precisa encorajar os pais a formular e a manter um acordo mútuo e viável no que tange à estrutura, à educação e à disciplina de seus filhos.

A Comunidade Cristã

O pastor pode ajudar aqueles que estejam se divorciando a organizar os fatos e, então, a compartilhar o que aconteceu. A abertura para com as pessoas importantes na vida do indivíduo renovam as conexões pessoais, resolve alguns dos desconfortos a respeito de quem sabe uma pequena parte do que aconteceu e começa a definição de relacionamentos novos independentes do ex-marido ou da ex-mulher. Tal abertura também pode ajudar amigos que ficaram confusos a saberem como se relacionar.

O pastor pode ajudar o resto da congregação (e, talvez, a comunidade social) a decidir sua resposta ao divórcio. Ele deve dar um testemunho contínuo indicando que o divórcio é contrário à vontade de Deus. O divórcio pode ser um período difícil para todos que conhecem as partes envolvidas. Os amigos e a família sentem a necessidade de escolher - que cônjuge está certo/errado? Quem permanecerá amigo de que cônjuge? Que cônjuge será convidado para que eventos? Este problema será particularmente agudo em congregações pequenas e familiares. E, em cada congregação, certamente o pastor trabalhará com seus líderes, tanto dando como recebendo orientação e oração.

A congregação também pode desempenhar um papel valioso no processo de renovação da pessoa que está se divorciando e que agora está diante de funções e obrigações novas, que pode precisar adquirir novas habilidades, encontrar um lugar para viver, desenvolver maneiras novas de relacionar-se com seus filhos, superar o desafio de desenvolver novos amigos, aprender a perdoar um ao outro (e a si próprio) e até mesmo permitir que os outros o perdoem. Algumas congregações provêem grupos nos quais se tem a oportunidade de trabalhar sentimentos e necessidades. Um ministério especialmente dirigido aos solteiros pode alcançar as pessoas que estejam se divorciando com programas criativos, com eventos sociais e com uma rede de ajuda que luta com problemas práticos.

O Outro Homem/A Outra Mulher

Em casos de adultério, o pastor também deve preocupar-se com "a terceira parte" (caso a mesma seja conhecida e deseje que se ministre a ela). Não é incomum, e.g., que "a outra mulher" descubra que tenha apenas sido usada no momento em que o marido desobediente não vier a desposá-la. Culpa, raiva, sentimento de traição, amargura e desconfiança não são reações incomuns. Claramente, a mensagem de Lei-Evangelho de Deus também aqui faz-se necessária para que haja cura.

O Recasamento

Este assunto difícil não tem recebido a atenção merecida (por parte da igreja) no contexto da práxis contemporânea. A Comissão de Teologia e Relações Eclesiais, contudo, tocou em algumas das preocupações teológicas fundamentais nesta área.

Que resposta deve ser dada àqueles que, após um divórcio que se deu por causas não bíblicas, desejam casar-se novamente, declarando que são incapazes de restaurar o matrimônio rompido anteriormente, assim como não conseguem expressar sua intenção de corrigir suas vidas pecaminosas?...

Obviamente, não pode ser dada nenhuma resposta que irá cobrir as circunstâncias de cada caso individual, mas algumas observações gerais podem ser úteis...

O divórcio por razões não bíblicas e o recasamento envolvendo tais pessoas são abertamente contrários à vontade de Deus...

Todavia, a questão permanece, se o pastor pode anunciar o perdão de Deus quando o arrependimento genuíno parece estar em evidência. O fato de negar a certeza do perdão de Deus a tais pessoas limitaria a obra vicária de Jesus Cristo, em quem há perdão para todos os pecados...

O arrependimento verdadeiro poderia pressupor um desejo genuíno de reconciliar-se com o cônjuge separado...Quando se julgar que esteja havendo recusa para reconciliar-se e quando se avaliar que a busca pela cura esteja ausente - até o ponto em que tal julgamento for possível - o pastor será constrangido a responder negativamente ao pedido de alguém que queira casar-se de novo.

Contudo, há circunstâncias nas quais existem razões para crer que o arrependimento verdadeiro esteja de fato presente, mas a reconciliação e a restauração de um casamento rompido simplesmente não sejam possíveis, ou porque o ex-cônjuge casou-se novamente ou porque não quer reconciliar-se. Em tais casos, o recasamento torna-se uma possibilidade.5

Tendo feito as afirmações acima, o pastor pode perguntar se a pessoa divorciada pode estar genuinamente arrependida pelo rompimento de um matrimônio e, apesar disso, saber que não é possível nenhuma reconciliação. Vivemos em um mundo pecaminoso. Em nossas fraquezas, é tão difícil se conviver com algumas pessoas. Juntamente com os psicopatas manifestos, alguns homens e mulheres tendem a magoar ou explorar constantemente suas famílias por razões que nem eles próprios podem compreender. A intransigência destas pessoas pode tornar-se uma barreira intransponível à reconciliação. No momento em que o pastor for chamado para dar aconselhamento às pessoas que estão prestes a recasar-se, pode ser (falando humanamente) tão impossível reconstruir o matrimônio anterior quanto juntar os mil e um cacos de um vaso quebrado, não importando quão cristãs as pessoas enxerguem a si mesmas.6

Por outro lado, o pastor também discernirá algumas pessoas que não se preocupam de modo nenhum com a Palavra ou com a vontade de Deus, indivíduos que vivem somente para si próprias. Quando o pastor discernir legitimamente tal comportamento, está vedada sua participação em qualquer matrimônio (e isto requer força de caráter por parte do pastor.) Não banque o tolo, nem o idiota que não percebe o que está acontecendo.

Caso o pastor tenha decidido que ele pode participar de um recasamento, aconselhamento pré-matrimonial faz-se necessário. Ele não pode esquivar-se com a desculpa de que o casal já passou por tudo isto antes. O fato de o matrimônio anterior ter falhado só aumenta a "bagagem" trazida para dentro do novo casamento. O casal precisa compreender que o aconselhamento não é uma aula expositiva ministrada pelo pastor, mas uma maneira para ajudá-los a descobrir mais profundamente quem eles são, no relacionamento mútuo, sob um Senhor perdoador, Senhor este que eles dizem desejar que seja uma parte do seu matrimônio.

O DIVÓRCIO E O RECASAMENTO

MISSÃO/EVANGELISMO

UNIDADE VI

O PASTOR COMO EQUIPADOR

1 Missão/Evangelismo:Comunicando a Graça de Deus

O termo missão deve abranger todas as coisas em que a igreja esteja envolvida, pois o termo não descreve apenas a atividade da igreja, mas também a atividade de Deus. Missão (proveniente de mito, enviar) é usado na tradução latina de passagens como quando Jesus está sendo enviado pelo Pai (Jo 17.8), quando Jesus promete que o Pai enviará o Espírito (Jo 14.26) e quando Jesus está enviando os discípulos (Jo 20.21). Como o fazer da igreja - i.e., o fazer daquilo para o que ela foi enviada - brota do que Deus mesmo está fazendo e já fez, a igreja precisa reprisar a atividade de Deus desde o princípio a fim de construir uma teologia da missão.

No Éden, Deus criou a humanidade para que tivessem um relacionamento perfeito com ele e para que as pessoas, juntas com ele, tivessem comunhão uns com os outros. Apesar desse relacionamento perfeito ter sido quebrado na queda em pecado, nosso Deus gracioso rapidamente consertou isto já tendo em vista o que aconteceria na Sexta-feira Santa - e comunicou esta restauração para Adão e Eva (Gn 3.15). Embora a comunicação subseqüente da comunhão restaurada devesse ser compartilhada pelas próprias pessoas, algumas vezes Deus falou diretamente a respeito disso (como o fez a Noé e a Abraão) e, outras vezes, falou indiretamente (como através de Moisés e dos profetas). Todavia, a restauração per se não foi palavras, mas a ação de Deus quando comunicou a si próprio em carne, em Jesus Cristo, a Palavra, para redimir todos os pecados que tinham rompido o relacionamento.

Deus mesmo continua comunicando esta restauração da comunhão. O relacionamento que temos em Cristo uns com os outros é "o corpo de Cristo" - não apenas na terminologia, mas por sua criação. Estamos tanto en Christo (em Cristo) como em hen soma (em um só corpo). E a promessa de Cristo aos apóstolos estende-se a nós, "E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século" (Mt 28.20). E ele assegura-nos que a missão de todas as três pessoas da Trindade estará conosco (Jo 14.23-26). Somos povo que está no amor do Pai, com o poder do Espírito e como o corpo de Cristo.

Portanto, o termo "missão" descreve:

A atividade conjunta de Deus e seu povo comunicando mutuamente e a todas as pessoas da terra (mediante a proclamação, o perdão e a retenção de pecados, e através do ato de batizar e ensinar) a comunhão renovada que eles têm por causa do sacrifício de Cristo e do perdão dos pecados (percebido apenas em parte agora, mas de modo perfeito no Éden eterno).

Maneiras para Falar de Missão

A partir desta construção teológica, o texto da Grande Comissão de Mateus engloba algo mais do que uma responsabilidade dada pelo Senhor soberano; este texto oferece aos apóstolos (e, em última análise, a todos1 os que proclamam a restauração de Deus em Cristo) a promessa da presença de Deus e do êxito divino quando eles forem para o meio de todos os povos. Mateus 28.19-20 serve como um sumário para tudo o que o laos realiza como povo de Deus, fortalecido pelo Espírito de Deus. Como Lutero enfatizou,

Mas o Espírito Santo leva avante sua obra sem cessar até o último dia. Para tanto, institui na terra uma congregação, pela qual fala e faz tudo, pois ainda não congregou toda a sua cristandade, nem distribuiu totalmente o perdão. (CMa., II, 61s)

Esta missão de comunicar a comunhão restaurada no sangue de Jesus pode ser resumida ou enfocada de várias maneiras.

Missão como Mente de Deus. Por detrás de todas as promessas de Deus residem a mente e o coração ativos e criativos do Deus que diz, 'Façamos o homem" (Gn 1.26), assim sinalizando sua natureza comunitária e comunicativa. Ele expressamente quis criar Adão e Eva, os quais, criados à própria semelhança de Deus, podiam prontamente comunicar-se e estar em comunhão plena, perfeita e harmoniosa com Deus e uns com os outros.

Missão como Graça de Deus. Na crise que se sucedeu imediatamente após a queda em pecado, Deus demonstrou que seus pensamentos não são como os pensamentos humanos, que seus caminhos não são como os nossos (Is 55.8-9). Ao invés de abortar a missão, o originador da missão prosseguiu criativamente com amor e graça, pois Deus "deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade" (1Tm 2.4). Ele desejou isto de maneira tão forte que prometeu "Eis que eu mesmo procurarei as minhas ovelhas e as buscarei" (Ez 34.11). Por conseguinte, Deus "deu o seu Filho unigênito ..." (Jo 3.16). Como ele amou o mundo!

Missão como Promessa. A ação comissionante da Grande Comissão brota das promessas dadas em caráter de aliança no Antigo Testamento nas quais Deus claramente revelou a Abraão a essência da missão divina: "em ti serão benditas todas as famílias da terra" (Gn 12.3). Todos são justificados pela graça de Deus, não porque sejam biologicamente filhos de Abraão, mas por terem recebido a graça de Deus pela fé assim como Abraão a recebera (Rm 4.1-17).

Missão como Comunicação Encarnada. O Antigo Testamento registra a contínua comunicação de Deus com a humanidade com vistas à renovação do relacionamento de comunhão que fora rompido na época da queda em pecado. Quando o Verbo se fez carne, contudo, a missão de Deus tornou-se mais pessoal e direta (Jo 1.1,14; Hb 1.1-2). Deus Pai comunicou sua própria intenção no tocante à sua missão através do Cristo encarnado por ocasião do Batismo de Jesus (Mt 3.13-17 et alli) e, de modo particular, no momento da transfiguração (Mt 17.5 et alli). Jesus é tanto a mensagem quanto o mensageiro; verdadeiramente ele é o pastor que procura e busca as ovelhas (Ez 34; cf. também Jo 10.30).

Missão como Corpo de Cristo. Com o advento de Deus em carne, a separação Deus/humanidade foi quebrada através da vida, morte e ressurreição perfeitas do Messias. Embora houvera reconciliado o mundo todo consigo mesmo (2Co 5.19 - justificação objetiva2), ainda assim Cristo também opera a fé em cada coração (Jo 3.5-6; 1Co 12.3 - justificação subjetiva), recriando o cristão como parte do corpo de Cristo (Gl 3.26-29). Paulo descreveu esta nova existência da seguinte maneira: "logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim" (Gl 2.20).

Missão como Corpo de Cristo em Ação. O corpo de Cristo funciona propriamente como resultado do relacionamento interno pelo qual Jesus intercedeu em sua oração sacerdotal (Jo 17.23a). Assim, a missão de Deus avança quando seu corpo responde à direção criativa de Jesus, a cabeça.3

Jesus foi um modelo para a missão e nada podia detê-lo - nem o fato de o terem chamado de blasfemo (Mt 9.1-8), nem por terem dito que ele estava em aliança com Belzebu (Mt 12.22-28), nem a tradição dos anciãos (Mt 15.1-14), nem pelo fato de o ameaçarem de morte (Mt 16.21-23). Nem mesmo a própria morte pôde contê-lo (Mt 27.40,50; 28.5-6). Ao invés disso, ao longo de todo o seu ministério, Jesus comunicou através de ações e de palavras a restauração que Deus promovera para seu povo. Tal atividade4 não parou com sua ascensão, mas continuou através de seus apóstolos - de modo tão eficaz que eles "viraram o mundo de cabeça para baixo" (At 17.6, RSV).5 E tal atividade prosseguirá até o fim dos tempos através das bênçãos e dos dons de Deus.

E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo (Ef 4.11-13).

As três ações específicas delineadas na Grande Comissão - matheteusate, baptizontes e didaskontes - não são três atividades distintas e nem estão apresentadas em nenhuma seqüência cronológica. Antes, Cristo encarrega as pessoas que enviara com uma tarefa: fazer discípulos através da obra de Deus na Palavra e nos Sacramentos (batizando e ensinando).

Missão como Testemunho. Freqüentemente, a Escritura utiliza a imagem forense de uma testemunha que dá testemunho pessoal para que a verdade de Deus seja estabelecida: o arco-íris (Gn 9.12-17), as palavras escritas de Deus (Dt 31.26), pedras (Js 22.34), um ser celestial (Jó 16.19) e seu povo (Is 43.10-13). O ato de prestar um testemunho da verdade toma uma importância adicional no Novo Testamento quando o Pai testemunha sobre o Filho (Mt 3.17; 17.5; Jo 8.16-18) e quando certos indivíduos foram escolhidos para ser testemunhas oculares (At 1.21-22), o que transformou-se na base de difusão do Evangelho (At 2.32). A importância deste último ponto, todavia, não reside meramente no fato de os doze apóstolos darem seu testemunho ocular, mas na responsabilidade de todos os crentes em dar evidência da salvação (Lc 24.48; Jo 20.29) tanto através de palavras quanto por meio de ações (Mt 5.13-15; 1Co 11.26; 2Co 3.2; 9.12-13; 1Pe 2.12).

Missão como Assunto de Oração. Na apresentação que Lucas faz da missão de Deus em Jesus, a oração ocupa um lugar primordial para nosso Salvador (e.g., Lc 3.21l 4.42; 6.12; 9.28; 22.41). Quando Jesus enviou os discípulos de dois em dois para proclamarem esta mesma missão, ele os encorajou a orar (Lc 10.2) - e foi com oração que Jesus exultou quando eles retornaram. Na oração que está acima de todas as orações que ele nos deu, Jesus incentivou a que todos os seus seguidores orassem por esta missão (Lc 11.2; cf. também Mt 9.38).

Missão como Corpo Integral de Cristo. Enquanto possa ter parecido (e talvez ainda pareça) para alguns que a missão de Deus pertença apenas a ele e àqueles que foram especialmente separados para esta tarefa,6 a Reforma reenfatizou o conceito bíblico de que a difusão do Evangelho envolve o povo de Deus como um todo.7 Como Lutero escreveu, o primeiro ofício, aquele do ministério da Palavra, é comum a todos os cristãos e, por conseguinte, quando outorgamos a Palavra (de Deus) a alguém, não podemos negar-lhe nada que pertença ao exercício de seu sacerdócio.8

Por outro lado, as Confissões também enfatizam o ofício do pastor:

Por isso Deus, por imensurável bondade e misericórdia, faz com que sejam publicamente pregados sua divina, eterna lei e o maravilhoso conselho [com] respeito à nossa salvação. (FC, DS, II, 50)

Nas Confissões, o ofício pastoral não usurpa o sacerdócio de todos os crentes; pelo contráio, o pastor tem a liderança responsável pelo ensino e pela proclamação da Palavra de Deus, de modo que os leigos tenham uma compreensão plena dos privilégios e das responsabilidades que eles têm. De modo ideal, os cristãos leigos devem ser compungidos, perdoados, instruídos, inspirados, admoestados e encorajados de modo a que desempenhem alegremente, em todos os aspectos, sua vida como pedras vivas (1Pe 2.1-9) e como membros ativos no corpo de Cristo (Ef 2.1-10; Rm 12.1-21). Tal atividade (que nada mais é do que uma das boas obras do cristão, e todas elas são iguais) brota do Evangelho, não do "dever" e do "ter de".

Também cremos, ensinamos e confessamos que todos os homens, especialmente, porém, os que são regenerados e renovados pelo Espírito Santo, têm o dever de praticar boas obras.

Neste sentido, as palavras "necessário", "dever" e "ter de" são empregadas corretamente e de maneira cristã também no que tange aos regenerados, e de forma nenhuma contrariam o padrão das palavras e da linguagem sãs.

Todavia, quando se fala dos regenerados, não se deve, com as palavras mencionadas - necessitas, necessarium, "necessidade" e "necessário" -, entender coerção, mas apenas obediência devida, a qual os crentes genuínos, enquanto renascidos, prestam não por coação ou compulsão da lei, mas de espírito voluntário, porque já não estão debaixo da lei, e sim da graça. (FC, Ep., IV, 8-10)

Se o líder espiritual do rebanho ficar desencorajado por isto não produzir os "frutos" que ele desejava (e.g., um crescimento significativo do número de membros inscritos no rol da congregação), ele não deve cair na tentação de lançar mão de programas inspirados pela Lei, devendo, antes, relembrar,

Mas esta espontaneidade não é perfeita nos filhos eleitos de Deus. Estão carregados, ao revés, de grande fraqueza, como São Paulo se queixa a respeito de si mesmo. Rm 7[.14-25], Gl 5[.17].

Todavia, por causa de Cristo, o Senhor não imputa essa fragilidade aos seus eleitos, como está escrito: "Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" Rm 8[.1] (FC, Ep. IV, 13-14).

A tarefa do pastor não é intimidar as pessoas a que as mesmas participem da missão de Deus; antes, sua tarefa é ser um Seelsorger e guiar e ensinar seu povo para que eles executem a parte que eles têm nesta missão.

Missão como Algo Mundial. Durante seu curto ministério, Jesus enviara seus apóstolos ("enviados") às ovelhas perdidas de Israel,9 mas na Grande Comissão como registrada em Mc 16.15-16, ele os enviou eis ton kosmon hapanta, para todo o mundo, para pase te ktisei, a toda criatura (superior aos animais). Em At 1.8, Lucas acrescenta para eschatou tes ges, aos confins da terra. Estes termos ecoam a promessa feita a Abraão de que, através dele, todos as famílias (mishpecot, todas as divisões ou subdivisões da população do mundo - grupos, tribos ou nações) haveriam de ser abençoadas. Tomados conjuntamente, os textos descrevem Deus como enfatizando que sua missão estende-se para além de Israel, para além do etnocentrismo.10 A suposta graça (como algumas pessoas do tempo de Jesus pensavam) exclusiva da Antiga Aliança novamente é revelada como sendo inclusiva. Se os discípulos tiveram quaisquer dúvidas, as mesmas foram eliminadas no Pentecostes, quando o Evangelho foi ouvido na própria língua de cada pessoa (At 2.8), uma ênfase que foi reafirmada por Deus nos eventos que se passaram entre Pedro e Cornélio (At 10).

Missão como Prioridade de Deus. Tendo em mente a vontade de Deus para com a humanidade (que esta o adore em comunhão), o fato dele aproximar toda a humanidade para junto de si em Jesus Cristo conduz à conclusão inevitável de que a missão tem prioridade sobre as coisas deste mundo. Os discípulos questionaram isto até o último instante antes da ascensão: "Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel" (At 1.6). A resposta de Jesus tirou do primeiro plano a preocupação que eles tinham sobre o poder e o reino físico: "Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade" (At 1.7). Tendo deixado este ponto mais alto em aberto, Jesus imediatamente o preencheu com a prioridade de Deus: "sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra" (At 1.8).

Da mesma maneira que Jesus sempre colocou a missão eterna de Deus em primeiro lugar, a fim de cumprir a justiça de Deus (Mt 3.15), assim ele também deu uma nova visão de mundo a seus discípulos, bem como os comissionou para "ir e fazer discípulos de todas as nações".

MISSÃO/EVANGELISMO

ADMINISTRAÇÃO

2 O Pastor Como Administrador

A Administração e o Corpo de Cristo

Modelos Seculares e Eclesiásticos Comparados

O pastor de hoje carrega uma multidão de responsabilidades particulares: pregador, conselheiro, professor, líder, consultor financeiro, confortador, estudante - e administrador. Para muitos, este último significa que o pastor senta-se atrás de uma escrivaninha ao gerenciar os negócios da organização com sucesso (comparado a um Seelsorger que lida pessoal e particularmente com as pessoas, com o povo de Deus). Às vezes, métodos de administração secular realmente produzem um sucesso visível em uma congregação e agradam bastante as pessoas. Infelizmente, estes métodos normalmente são adotados sem serem adaptados ao conceito específico e singular de igreja de Cristo.

O pastor como administrador precisa pegar sua deixa a partir das Escrituras. 1 Coríntios usa o termo kubernesis para "administração": o ato de guiar, de pilotar, de dirigir. O pastor como administrador supervisiona e guia as pessoas apontando sempre para Cristo. 2Co 8.20 usa outra palavra, diakoneo: "servir", (literalmente, "servir à mesa"). Portanto, o pastor como administrador serve guiando e guia servindo, ministrando ao corpo de Jesus Cristo. Enquanto o mundo secular pode distinguir entre liderança e administração/gerência, as Escrituras não podem. Portanto, administração paroquial diz respeito a: a ação do povo de Deus no trabalho, individual e corporativamente, na missão da igreja, organizados de forma coerente e compreensível, para levar o Evangelho em Palavra e Sacramento uns aos outros e ao mundo e de uma maneira que seja salutar e eficaz (usando todos os recursos e pessoal e servindo ao propósito).

Nesta definição, a administração paroquial tem suas raízes no que Deus está fazendo através da Palavra e do Sacramento nas vidas de todo o seu povo e em como eles estão enraizados de todas as maneiras naquele que é a cabeça, estando completos naquele que preenche tudo em todos.

Dessa forma, o pastor como administrador funciona de uma maneira totalmente diferente de um administrador em qualquer outra atividade. Ele não é um ditador nem um construtor de um reino particular. Sua administração tem relativamente pouco a ver com construção de prédios, comparecimento a cultos natalinos, pesquisas sociológicas, orçamentos e fazer o pagamento de um novo pastor. Ao invés disso, quando perguntado acerca de metas, meios e recursos, o pastor sabe que tudo isto está firmado em Cristo e em seu Evangelho, em sua graça e poder, em sua vida emanada através de todos os membros de seu corpo, a igreja. Em tudo que a igreja faz, ela confia completamente no que Cristo tem feito e no que fará através de sua Palavra e Sacramento. O Espírito Santo é aquele que nutre a fé e o serviço; ele é quem cria um novo homem que ressurge diariamente para viver a Palavra de Deus com alegria. O Espírito é quem congrega as pessoas pelo Evangelho para que elas sejam o corpo de Cristo, sendo este a cabeça do corpo e em quem estão centralizados todo serviço e ação. A igreja é sempre a igreja por causa do que Deus faz, nunca por causa do que as pessoas estejam fazendo.

Como resultado disso, diferenças enormes separam os modelos e as filosofias seculares de administração dos modelos eclesiásticos.

1. A administração paroquial serve mais as pessoas do que os programas; e os programas usados (quando planejados e administrados corretamente) concedem oportunidades ao povo de Deus para usar os dons recebidos de Deus (1Pe 2.5).

2. Já que Cristo é a cabeça da igreja e exerce sua autoridade através da Palavra de Deus, a questão sobre quem toma as decisões na igreja já está respondida. Sob a liderança de Cristo, todos os outros são servos uns dos outros (cf. Mc 10.43-45; Jo 13.1-5);

3. A unidade da igreja está em Cristo. Cada crente vive em koinonia um com o outro porque cada qual está em comunhão com o Cristo ressurreto. Em outras palavras, o corpus de Cristo é corporativo, não sendo uma colação de relacionamentos individualistas baseados em conveniência, em interesses comuns, em alegrias humanas, nem em privilégios econômicos.

4. Estritamente falando, a igreja é um organismo vivo, não uma organização estática. Cristo está vivo e fala claramente para a igreja através de sua Palavra. Seu corpo, a igreja, também está viva - um corpo dinâmico que se move pela atividade sempre presente do Espírito Santo e do Cristo vivo.

5. Os valores também diferem os conceitos de administração secular da eclesiástica. Os valores seculares são auto-definidos, ao passo que a igreja tem valores bíblicos. Em contraste com lucro nos negócios ("relatório de perdas e ganhos", salários, etc.), o corpo de Cristo valoriza o serviço a Deus e ao semelhante (sendo a proclamação do Evangelho o serviço supremo).

O mundo secular valoriza a coerção como motivação: na igreja, Deus transforma as pessoas através de sua Palavra. Os valores são tão grandemente diferentes que os cristãos falam de seus empregos e carreiras como a vocação (chamado) que Deus lhes deu.

A própria natureza e missão da igreja exige que o pastor e o povo trabalhem juntos no serviço sob a Palavra de Deus. A própria pessoa do pastor estabelece o tom da vida na congregação. A maneira pela qual o pastor se relaciona com as pessoas molda os inter-relacionamentos de todos os membros quando eles desempenham suas vocações conjuntamente como povo de Deus. Se o pastor encara o povo a quem serve como parte de uma grande máquina, fazê-la funcionar com vistas ao sucesso normalmente toma a prioridade de sobre as pessoas e suas necessidades. A primeira consideração do pastor sempre deveria ser: As pessoas a quem estou servindo estão crescendo na fé e no serviço? Como posso dignificá-las por aquilo que Cristo fez pela salvação delas, como posso encará-las por aquilo que elas são, como posso ouví-las por aquilo que elas estão dizendo e como posso guiá-las a viver como o corpo de Cristo no mundo?

Apenas para reiterar: o pastor como administrador enfatiza a interação e a responsabilidade mútuas, não uma obediência mal intencionada ao seu ofício. Após o pastor e o povo conjuntamente terem verificado a partir da Palavra de Deus a natureza e a função essenciais da congregação cristã, bem como do ofício do pastor como servo/guia, então eles definem as responsabilidades e planejam como desempenhar os deveres e privilégios dados por Deus à congregação cristã - i.e., testemunhar Jesus Cristo ao mundo enquanto esperam alegremente pelo resgate final. Suas vida de boas obras atraem descrentes à fé que os cristãos confessam (Mt 5.16) e da qual eles falam quando as oportunidades surgem. Quando o povo de Deus vive pela fé ativa no amor (que é "a única coisa que conta" para o crente, Gl 5.6, NIV), a única "administração" necessária é esta que liberta e capacita os cristãos a exercerem sua natureza e tarefa verdadeiras de maneira salutar e eficaz, "com decência e ordem" (1Co 14.40).

Os Princípios Básicos da Administração Pastoral

A atividade administrativa específica do pastor depende dos princípios que ele possua - e estes, por sua vez, dependem de suas metas. Por conseguinte, aqui as metas são reenfatizadas para focalizar os princípios.

O pastor como administrador irá liderar o povo de Deus, através da Palavra que ele tem, para que eles cumpram seu chamado como povo de Deus,

1. crendo e confiando em Cristo, a cabeça do corpo, apresentando seus próprios corpos como sacrifícios vivos;

2. sendo aperfeiçoados em Cristo em todos os aspectos, incluindo para uma vida de serviço (ao invés de apenas querer terminar o trabalho);

3. compreendo a missão que eles têm como igreja, i.e., levar o Evangelho uns para os outros e para o mundo;

4. compreendendo o mundo e testemunhando a ele de maneira eficaz, permitindo que a luz deles brilhe e sendo sal; e

5. envolvendo os demais membros, com os recursos de cada um, no ministério do Evangelho, pois o Espírito deu dons diferentes para o bem comum.

A fim de atingir estas metas, os sete seguintes princípios básicos de administração deveriam guiar o pastor como administrador.

Princípio Um. A Palavra e o Sacramento, em culto e estudo, fundamentam tudo mais que a igreja faz.1 É neles que a igreja ganha a compreensão de sua verdadeira natureza e missão. Sem Palavra e Sacramento, uma congregação pode tornar-se uma grande instituição, uma construtora de monumentos, um lugar popular de encontro, ou um centro comunitário com atividades sociais, mas nunca será uma verdadeira igreja cristã. O culto cristão é o centro significativo da vida da igreja; ali, Deus vem ao seu povo, trazendo salvação no perdão dos pecados e concedendo suas bênçãos em abundância. Portanto, o pastor como administrador conduz responsavelmente o culto corporativo2 e o estudo da Palavra de Deus3 com grande cuidado e atenção.

Princípio Dois. O pastor e a congregação mantém fidelidade aos ensinos da Escritura Sagrada e das Confissões como exposição correta da Palavra de Deus. Tal fidelidade é atribuída livremente pelo fato de ambos estarem convencidos de coração e de mente de que esta ênfase sobre a Lei e o Evangelho abençoa o povo de Deus. É da responsabilidade do pastor conduzir e ensinar os leigos de modo que os mesmos possam permanecer fiéis.

Princípio Três. Novo Testamento não ordena nenhuma estrutura ou política particular para a congregação de hoje. Algumas de suas descrições e ajustes têm sobrevivido às provas do tempo, mas não são de caráter obrigatório. A única "estrutura" ordenada é que o ofício do santo ministério supervisione a vida espiritual do rebanho (cf. At 20.17-28; 1Pe 5.2). (Outros ofícios auxiliares/facilitadores, embora não ordenados, podem ser úteis na atividade de "organizar o corpo" debaixo da liderança-serva do pastor.) A política congregacional e a estrutura organizacional, por conseguinte, deveriam ser adaptadas aos padrões culturais e social do povo (mas sem comprometer os princípios da Escritura). Isto é especialmente importante no crescente ministério transcultural na América do Norte, de forma que o Evangelho "não esteja algemado, mas tenha livre curso e seja pregado para regozijo e edificação do santo povo de Cristo. Poder[ão] assim servir [a Deus] com fé inabalável, e permanecer na confissão do [s]eu nome até ao fim" (Coleta da Igreja).

Ao mesmo tempo, deveria ser notado que a estrutura congregacional permitisse que se preservasse e promovesse o sacerdócio universal de todos os crentes e não deveria impedir os membros de cumprirem individualmente o chamado e a responsabilidade que eles têm para com o povo de Deus no tocante à missão cristã. (Este, mais do que a "eficiência", deveria ser o critério principal para escolher uma estrutura.) Todos os membros têm a responsabilidade individual de fazer missão e satisfazer seu chamado cristão de acordo com seus dons e habilidades, tanto dentro como fora da paróquia local. Algumas pessoas serão indiferentes ou relutantes, sentindo-se inadequadas ou achando que a oportunidade para o serviço seja simples demais. Outros querem fazer algo que valha a pena para a igreja e através dela; eles sentem a importância que têm para a missão. Em ambos os casos, comumente os voluntários precisam de encorajamento, motivação e confiança adequados. O pastor deveria esperar dispender muitas horas na atividade de recrutar e/ou nomear, na distribuição de tarefas específicas (descrições de trabalho) quando ele encontra dons que combinem com determinadas responsabilidades e no treinamento de outros para servir sob a motivação do Evangelho.

Não obstante, o pastor vê o ministério da Palavra e do Sacramento como sua preocupação primordial.

A tarefa distintiva do ofício pastoral não é aquela de organizar outras pessoas para que elas façam o "ministério verdadeiro", mas é esta de serví-los fielmente com a pregação do Evangelho e com a administração dos santos sacramentos.4

"Convenientemente, o pastor será sensível às necessidades de preservar um equilíbrio adequado entre ir ao encontro dos perdidos e nutrir aqueles que estão na igreja".5

Uma compreensão crescente da missão da igreja e das implicações da vocação do povo leigo tem trazido ao foco das atenções uma vez mais a importância do testemunho da igreja toda para o mundo.

Princípio Quatro. A igreja é livre para selecionar alguns de seus membros para diversos ofícios de liderança leiga, a fim de que, dentro dos limites bíblicos para as mulheres, eles exerçam suas atividades de maneira harmoniosa e eficaz, salutar para todos. Os líderes eficazes expandem seus esforços através do treinamento e da capacitação de outros para o serviço na congregação e para além da mesma (Jo 8.31; 1Co 12; Rm 12; Ef 4). Aqueles que são escolhidos assistem o pastor na tarefa de liderar o restante dos membros na missão e no ministério da congregação.

Princípio Cinco. O exemplo da igreja do Novo Testamento enfatiza a importância do relacionamento pastor-povo, o que manifesta cooperação mútua, interdependência, interesse amável, perdão e o relacionamento do rebanho para com aquele que o pastoreia, que o conduz. Se hoje isto é ou não alcançado em uma congregação, depende grandemente de algumas características do pastor: sua integridade, sua competência, sua humildade, a consciência de sua natureza pecaminosa, sua fé e seu amor genuíno por seu povo. Desde que a Tábua dos Deveres (AE, IX, 3, a qual deveria ser ensinada ao laos) pede respeito, obediência e boa vontade sejam admoestados, isto deveria ser motivado pelo Evangelho e pela fé, não pelo legalismo.

A igreja existe como um grupo por sua incorporação em Cristo, ainda que cada pessoa seja tocada individualmente pela água e pela Palavra. Portanto, o pastor conseguirá conhecer pessoalmente os indivíduos e as famílias da congregação, abrindo as portas para ministrar para suas necessidades singulares, transmitindo o amor de Deus e o interesse da igreja através do ministério personalizado da Palavra e do Sacramento.

Princípio Seis. Como todas as partes do corpo precisam umas das outras (1Co 12.14-27), os líderes leigos trabalham juntamente com o pastor e sob a sua orientação. Em congregações com pouco ou nenhum planejamento cuidadoso, subgrupos e atividades podem competir entre si e até mesmo duplicar ou sobrepor seus esforços. Ou, caso o planejamento não seja coerente, os subgrupos podem achar que eles sejam um fim em si mesmos, perdendo, desta maneira, seu sentido de estar em relação com a igreja. Portanto, os líderes que desenvolvem e exercem habilmente planejamentos compreensivos de curto e de longo prazo auxiliam todos os segmentos da congregação a verem-se como parte do todo maior que possui uma única meta: a missão de Deus.

Princípio Sete. Os recursos e as pessoas de Cristo também são usados, para além da paróquia, no cumprimento da missão da igreja. A congregação reconhece que, por si mesma, não contém todo o conhecimento, toda a perspicácia e nem todos os recursos requeridos para ir ao encontro das oportunidades e das necessidades da igreja. Cada congregação beneficia-se da vida e da experiência de outra. Desta forma, congregações têm se reunido no Sínodo e este serve as congregações ainda hoje de maneira bastante semelhante a da época em que seu primeiro presidente, C. F. W. Walther, discorreu acerca dos "Duties of an Evangelical Lu- theran' Synod" ("Deveres de um Sínodo Evangélico Luterano"), em 1897:6 Apoiar a fidelidade às Confissões e, deste modo, à Escritura; defender e proteger as congregações; promover o crescimento no conhecimento da Escritura e de seus ensinos; promover a paz e a unidade na igreja; e, buscar a glória de Deus. Para este fim, o Sínodo (e seus distritos) proporcionam uma abundância de recursos com os quais o pastor deve estar familiarizado e os quais deve usar quando for apropriado à congregação.7

As congregações e os pastores também precisam ter em mente que o Sínodo é capaz de prover seus recursos somente enquanto as congregações que tiverem se reunido como Sínodo exercerem suas responsabilidades com o mesmo. Em essência, o Sínodo não é nada mais (nem menos!) do que uma expressão do compromisso de suas congregações e seus pastores para se apoiarem mutuamente.

Ser Membro de uma Congregação

Estritamente falando, a membresia de uma congregação inclui todos aqueles que, em uma determinada localidade, voluntariamente se juntaram na crença e na confissão comuns de tudo aquilo que as Escrituras têm revelado. Devido ao fato de o Espírito Santo, no Santo Batismo, operar a fé nas crianças assim como nos adultos, normalmente as congregações incluem entre seus membros os filhos pequenos de seus membros adultos. Contudo, freqüentemente as congregações distinguem entre membros batizados e membros comungantes.

Dependendo da estrutura legal escolhida para seu auto-governo, algumas congregações designam como votantes aqueles membros comungantes (normalmente a partir de uma certa idade) que participam na organização formal. Algumas congregações estruturam-se sob uma espécie de conselho que exerce a administração formal, conselho este que é eleito por todos os membros da congregação e que se reporta aos mesmos, reunindo-se apenas periodicamente.

Qualquer que seja a estrutura formal/legal, o princípio mencionado acima deve ser preservado: que a estrutura congregacional deveria permitir, preservar e promover o sacerdócio universal de todos os crentes juntamente com o ofício do ministério público.

Recepção e Exclusão de Membros

As congregações cristãs em geral (e especialmente aquelas da mesma comunhão confessional) têm a obrigação mútua de receberem seus membros quando os mesmos mudam-se para outras localidades e iniciam a comunhão com os cristãos daquela região. Normalmente, isto inclui (1) cientificar o membro que está de partida de quais congregações confessionais luteranas servem aquela região, (2) incentivar o membro que está se mudando a tornar-se membro de uma daquelas congregações e (3) transferir para a outra congregação a responsabilidade pelo bem estar espiritual da pessoa. Ainda que o Sínodo de Missouri não tenha nenhuma política formal quanto à terminologia, as seguintes definições são freqüentemente usadas:

Transferência denota a mudança de um membro de boa reputação de uma congregação para outra dentro do Sínodo.

Recepção por (Re)Afirmação/Profissão de Fé geralmente designa a recepção daqueles pessoas que eram membros de congregações luteranas que não estão em comunhão de púlpito e altar com o Sínodo, bem como refere-se à recepção daqueles que foram anteriormente excluídos do rol de membros de uma congregação do Sínodo.

O Rito de Confirmação de Adultos geralmente é aplicado àqueles que vem de contextos não eclesiásticos ou não luteranos.

Demissão Pacífica normalmente é concedida àqueles membros que estão se filiando a uma congregação luterana que não esteja em comunhão com o Sínodo ou a uma congregação não luterana que, no entanto, ensine publicamente a salvação pela graça, através da fé, por causa de Cristo.

A Exclusão do Rol de Membros é aplicada àqueles ex-membros que deram evidência de conservarem sua fé, mas que não desejam mais estarem associados à congregação original e/ou filiaram-se a uma organização que compromete ou rejeita seriamente o caminho bíblico para a salvação.

A Excomunhão está reservada para aquelas situações em que um membro firmemente recusa-se a admitir um pecado evidente e uma vida impenitente, rejeitando o ministério congregacional da Palavra e do Sacramento. A excomunhão não pode ser pronunciada por um indivíduo, mas é uma ação da congregação inteira - e só deve acontecer depois que todo esforço para restaurar o irmão caído tiver sido exaurido. Todavia, em harmonia com a ordenança de Mt 18.17, a congregação então continua a relacionar-se com o excomungado como "um prospecto de missão" (para usar um termo comum).

Administração em Equipe

Freqüentemente, o pastor como administrador aprecia o ministério congregacional em equipe. Uma equipe ministerial eficaz, de fato, não surge simplesmente porque a congregação chama mais obreiros. Isto leva tempo, esforço, avaliação constante da responsabilidade de cada um e, especialmente, uma compreensão bíblica do ministério da igreja baseado no serviço, no perdão e na liderança de Deus. A definição que o Sínodo dá aos ofícios auxiliares será de grande assistência para que tal compreensão se conserve clara:

Na igreja, há ofícios estabelecidos. Aqueles que são chamados para servir em tais ofícios estão autorizados a exercer certa(s) função(ões) do ofício do ministério público. Estes ofício são "ministério" e são "públicos", ainda que não sejam o ofício do ministério público. Antes, eles são auxiliares do único ofício pastoral e aqueles que possuem estes ofícios executam as funções designadas dos mesmos sob a supervisão dos que detêm o ofício pastoral.8

Qualquer que seja o ofício que se tenha, todo líder cristão é primeiramente um servo. No entanto, conscientes das dificuldades arraigadas na natureza da humanidade decaída, algumas sugestões gerais para o ministério em equipe podem ser feitas.

1. A igreja precisa compreender sua missão. Quando pastor(es), diretoria e líderes leigos concordam e estão comprometidos com o propósito de Cristo para a congregação, são evitados conflitos e tensões inúteis que conduzem ao pecado. Com esta finalidade, muitas congregações estão redigindo afirmações de sua missão, para clarificar e individualizar o propósito de Deus no contexto particular da congregação - e para, através de tais afirmações, encorajar uns aos outros a que trabalhem conjuntamente sob a orientação/liderança do pastor (Hb 13.17) visando o bem comum.

2. Os servos necessitam estar de acordo com respeito ao propósito do ofício do ministério e no tocante às suas responsabilidades/funções individuais dentro ou sob este ofício. Quando dois homens ocupam em conjunto o ofício do ministério público na congregação, o relacionamento deles é um relacionamento de função. Pessoas ativas no corpo de Cristo são assim como membros complementares uns dos outros; comparações invejosas não devem existir. Descrições claras de posições, baseadas numa compreensão adequada do ofício do santo ministério e que expliquem detalhadamente relacionamentos e responsabilidades, irão ajudar a satisfazer esta orientação com êxito.

3. A comunicação deveria ser recíproca e a tomada de decisões, participativa. Membros da diretoria que se sintam desinformados e/ou excluídos do processo decisório não serão capazes de desempenhar o ministério em equipe.

4. Cada um, começando pelo pastor, trabalha a partir de uma consciência clara das limitações pessoais oriundas da queda em pecado.

5. Relacionamentos múltiplos dentro da equipe deveriam ser motivados pelo Evangelho e para o Evangelho. Já que Cristo é o alicerce de todos os relacionamentos, todos os membros da equipe ministerial vêem-se em comunhão uns com os outros em Cristo. Esta visão leva em conta e promove o fruto do Espírito (Gl 5.22), que torna possível o ministério deles, bem como faz deste ministério uma bênção para a igreja.

Ministrando em um Mundo Multicultural

Poucas congregações na América do Norte são formadas por membros de uma única cultura, os quais, por sua vez, chamam pastores desta mesma cultura. Devido à mobilidade da sociedade, a maior parte das igrejas possui membros de muitas culturas/sub-culturas. Portanto, cada pastor (e não somente o pastor que atua no estrangeiro) deveria ingressar em seu chamado reconhecendo a necessidade de compreensão e sensibilidade para com outras culturas.

Definindo Cultura

Embora o termo tenha sido usado como sinônimo para uma dada sociedade ou cultura, o termo "cultura" propriamente é melhor definido como o padrão integrado daquilo que um determinado grupo de pessoas faz e crê e aquilo que tal grupo transmite (por outros meios diferentes da hereditariedade) de uma geração para outra.9 Isto tanto amarra as pessoas umas às outras, como as separa umas das outras. Isto define o comportamento que o grupo considera aceitável ou marginal. Cultura é o modelo de realidade que rege a percepção que as pessoas têm a respeito do que seja verdadeiro e correto. A cultura ensina um grupo humano a como pensar e viver: é um princípio organizacional da vida. A cultura não é neutra, mas é simultaneamente útil e nociva. A cultura não é estática, mas algo a que o grupo pode acrescentar ou modificar. A cultura é uma segunda pele que as pessoas vestem aonde quer que vão. A cultura é como uma cebola, com camadas mais externas de artefatos e comportamentos, e com camadas mais internas de valores e crenças. No centro, está a visão da realidade que avalia e que dá significado ao estilo de vida próprio da cultura.

Os cristãos, que possuem o Evangelho de Jesus Cristo no coração de sua cultura, querem compartilhar a Boa-Notícia. Eles aguardam ansiosamente que o Espírito Santo crie a fé em Cristo através da Palavra que eles comunicam ao mundo. Mas nisto reside um problema, pois a maneira pela qual os cristãos comunicam a Palavra está intimamente atada à cultura que eles têm, mas a maneira pela qual a Palavra é ouvida está intimamente atada à cultura dos ouvintes.

O problema não limita-se ao ministro que atua no estrangeiro, mas afeta também os pastores norte-americanos - talvez até mais, pois, sendo familiar com sua própria cultura, tal pastor pode ficar acomodado a ela.

Definindo Comunicação

Comunicação é: a arte de transmitir uma mensagem de um indivíduo para outro de tal maneira que a mensagem seja recebido com um mínimo de distorção.10

Embora o processo comunicacional possa parecer natural e simples, o seguinte diagrama de cinco passos ilustra a complexidade de tal processo (com um sexto passo para verificar a acuracidade do que foi recebido).

1 2 3 4 5 Conceitualização Codificação Código Decodificação Interpretação; Verificação; Comunicador Receptor;6.

De fato, a chave está no processo de codificação e decodificação; e, de modo claro, o processo comunicacional dá margem a um potencial enorme de falha em cada etapa. A tarefa requer nossos melhores esforços.

Cultura e Comunicação

Quando o comunicador e o receptor vivem em culturas diferentes - diferentes padrões de pensamento, crenças, valores, comportamento e em diferentes meio ambientes físicos - o pastor deve assumir que o receptor não irá receber automaticamente a mesma mensagem que foi enviada. E quanto maior for a distância cultural, mais barreiras existirão.

À guisa de exemplo, considere-se a frase "nascer de novo". Na mente e na boca de um cristão, isto refere-se ao dom divino de uma vida abençoada com Deus a partir do momento do Batismo até a eternidade. Para o receptor hindu, porém, saturado da reencarnação, a frase sinaliza o fato de ir-se de uma a outra vida até que um número suficiente de boas obras liberte alguém da ciclo incômodo do renascimento - em outras palavras, uma condenação ao invés de uma bênção. Também poderiam ser retratadas ilustrações de congregações multi-étnicas (por exemplo, igrejas luteranas germânicas nas quais ingressaram ex-não luteranos por meio de casamento).

Portanto, o pastor cristão deve tomar a iniciativa para encontrar uma maneira de contornar/atravessar as barreiras. Em primeiro lugar, ele deve identificar as diferenças presentes nos padrões de pensamento, nos estilos de vida e na linguagem que dificultam a comunicação - e deve fazê-lo sem ser parcial ou crítico. E ele deve perceber que muitas (mas não todas) destas diferenças não estão presas à moralidade bíblica ou ao Cristianismo per se.

Em segundo lugar, o pastor deve compreender como as diferenças estão integradas na teia cultural do receptor, a qual provê significado e compreensão à vida.

Em terceiro lugar, o pastor precisa focalizar sua comunicação as questões que sejam importantes na cultura do receptor (e.g., a visão que alguém tenha sobre realidade e moralidade) - e fazê-lo de maneiras que sejam decodificadas significativamente pelo receptor.

A língua, de fato, desempenha uma parte importante nisto (cf. At 2.6-8). Desde que a língua materna de alguém é uma propriedade muito prezada, ela é a melhor língua para estudar a Palavra (e para cultuar), pois a Palavra de Deus "é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê" (Rm 1.16).

Resumindo, a comunicação do pastor toma a sério as diferenças de linguagem, os "ruídos" psicológicos e os padrões culturais de pensamento que erigem barreiras. Tudo isto porque ele compreende o significado eterno de invocar o nome do Senhor para a salvação (Rm 10.13-15).

Conexões/Comunhão entre Culturas e Fé

Devido ao fato de uma pessoa nativa de uma cultura normalmente poder comunicar a mensagem divina às pessoas desta mesma cultura melhor do que uma pessoa externa a esta cultura, o pastor que não pertence à cultura idealmente apóia o receptor nativo para que o mesmo inicie seu próprio processo de comunicar Lei e Evangelho. O pastor também esforça-se para ajudar o nativo a construir conexões de comunhão e de fé com os cristãos da mesma cultura a fim de que tal pessoa resista às tentações e confesse seus pecados e receba absolvição, conforto, conselho e orientação.

Quando a mulher samaritana em Sicar reconheceu Jesus como o Messias, ela imediatamente tornou-se envolvida na atividade de contar isto a outros (Jo 4.29) - e muitos deles creram por causa do testemunho que ela dera (Jo 4.39). Um dos maiores presentes que um pastor pode dar a um novo crente é a oportunidade de testemunhar, de aprender a participar com o incentivo de um mentor e de, por si mesmo, guiar outros ao seu Salvador, o qual transcende todos os limites culturais.

ADMINISTRAÇÃO

MORDOMIA CRISTÃ

3 Equipando para a Mordomia

Mordomia Bíblica

Para muitas pessoas, mordomia significa que alguém esteja dando seu tempo, seus talentos e seus tesouros. Todavia, tal voluntarismo não é a maneira correta de se considerar o assunto. Ser um mordomo significa por ordem na casa, gerenciar. E a casa que precisa ser gerenciada é estabelecida por Cristo, por graça; não há mordomia exceto através da cruz e sob esta. Ali, nossos dons (tempo, talentos e tesouros) não significam nada, pois ali só podemos receber o presente gracioso da vida em Cristo, através do qual pode haver uma casa/família para administrar - um presente que foi feito nosso no Batismo. Portanto, falando de modo mais apropriado, mordomia refere-se à missão específica do corpo de Cristo, não à generosidade.

O termo oikonomia (mordomia ou administração) deriva de oikos (casa) e de nemo (distribuir, gerenciar) ou nomos (aquilo que está comprometido). O Novo Testamento utiliza o termo ou alguma variação do mesmo vinte vezes e estas dão-se apenas nas obras de Lucas, Pedro (apenas uma vez) e Paulo.1

Mordomia no Evangelho de Lucas

Em Lucas, duas perícopes referem-se à oikonomos: 12.32-48 e 16.1-13. Na primeira, a palavra é usada em seu sentido secular, técnico, para denotar a ocupação de um mordomo ou administrador Lc 12.42), também chamado (Lc 12.37,42) de um dos servos (douloi) "a quem o mestre, quando vier", de uma festa de casamento, deseja encontrar "vigilantes". A aplicação da parábola (Lc 12.40-49, apresentando a necessidade de prontidão e de responsabilidade antes da parousia) descreve a família de Deus como consistindo de pessoas que, simultaneamente, são administradores e servos. De fato, o povo de Deus é seu oikos, sua casa. Ele aumenta sua casa/família através do trabalho daqueles a quem ele confia a administração da casa. Desta maneira, os cristãos são despenseiros do povo de Deus e das posses que Deus lhes dá em suas vidas - especialmente do tesouro espiritual que permanece para sempre. Além disso, a mordomia é avaliada com base na fidelidade e na prudência (Lc 12.42) para o que foram dadas (Lc 12.48).

Uma identificação similar entre um despenseiro e um servo é dada em Lc 16.1-13, a "Parábola do Administrador Astuto". O ponto de comparação desta parábola do Senhor reside na prudência com a qual uma pessoa se comporta agora de modo a preparar-se para o dia da grande reviravolta. Os cristãos devem exercitar sagacidade e previdência no uso de suas posses para o reino de Deus assim como os "filhos do mundo" exercitam o mesmo em seu mundo dos negócios. De fato, a ênfase não está sobre quanto lhes fora confiado, mas na fidelidade em usá-lo (também cf. passagens tais como Mt 25.14-31 e Lc 19.11-27).

Para resumir a mordomia em Lucas: Oikonomos (servo) refere-se a todos aqueles douloi de Deus que recebem na confiança deles as responsabilidades de Deus, na casa de Deus, pelo povo e pelas posses de Deus. Mordomia (oikonomia) é o gerenciamento que os filhos de Deus fazem da confiaça com fidelidade e prudência (sagacidade), porque, finalmente, eles irão prestas contas de sua mordomia (Lc 16.2).

Mordomia na Carta de Pedro

Em 1Pe 4.10, mordomia também aproxima-se da mesma raiz da palavra casa (no contexto, o povo de Deus, sua igreja). Os despenseiros, os membros da igreja de Deus, servem a casa/família com a "multiforme graça de Deus". Tais dons são diferentes, mas todos igual- mente encontram sua fonte em Deus e em sua graça. E o mordomo é avaliado a partir de como ele administra responsavelmente seus dons servindo "aos outros" para beneficiar a casa como um todo. Enquanto em Lucas o "mordomo" é associado com "servo", em Pedro, o termo é identificado com o "serviço". A semelhante é declarada.

Mordomia nas Cartas de Paulo

Em muitas circunstâncias, Paulo utiliza o termo oikodomia de modo similar ao de Lucas e de Pedro. Em 1Co 4.1, Paulo apresenta a si próprio e a seus companheiros de trabalho como "despenseiros [oikonomoi] dos mistérios de Deus" (cf. também Ef 3.2-4 e Cl 1.25), a fim de ganhar outros para Cristo (1Co 9.19). Sua força para desempenhar esta mordomia provém do poder de Deus (Cl 1.29) e sua motivação, da graça de Deus (Ef 3.7). Embora motivado livremente, Paulo descreve a pregação do Evangelho como uma dispensação da qual ele não pode se evadir (1Co 9.17). Assim, novamente, a mordomia está ligada à servidão e ao serviço fiéis (1Co 9.17; Ef 3.7; Cl 1.25; Tt 1.7).

Contudo, Paulo introduz um uso significativamente mais amplo ao referir-se de maneira singular à administração de Deus com relação ao seu plano salvífico. Em Ef 1.9-10 e 3.9, Deus é apresentado como sendo o administrador da plenitude dos tempos, o administrador que agora revelara todo seu misterion (seu plano secreto) para o mundo, ou seja, que através da redenção de Jesus Cristo (Ef 1.7), tanto judeus quanto gentios poderiam ser filhos de Deus (Ef 2.14), unidos naquele que fez convergir "todas as coisas, tanto as do céu como as da terra" (Ef 1.10).

Para resumir a mordomia em Paulo: o termo inclui tanto o plano salvífico de Deus ao longo da história quanto a tarefa do cristão de tornar o plano divino conhecido - este último derivando do primeiro. Assim, mordomia é Deus agindo em sua casa; para o cristão, mordomia é uma vida de serviço tendo Cristo no centro.

Uma Teologia da Mordomia

O Departamento de Mordomia do Sínodo de Missouri define mordomia da seguinte maneira:

Mordomia cristã é a atividade livre e jubilosa dos filhos de Deus e da família de Deus, a igreja, como uma resposta ao amor de Deus em Cristo, administrando toda a vida e os recursos da mesma de maneira agradável a Deus e em parceria com ele, visando o propósito final de glorificá-lo fazendo discípulos de todas as nações. Note-se a maneira em que esta definição toca os três artigos do Credo.

Primeiro Artigo - Criação e Mordomia. "Ao SENHOR pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam" (Sl 24.1). Esta passagem nos remete a Gênesis 1 e 2, à administração ideal da criação que Adão e Eva faziam antes da queda em pecado. Como Lutero explicou no Primeiro Artigo do Credo Apostólico, Deus graciosamente permite que as pessoas utilizem as posses dele para as necessidades físicas que elas tenham, bem como para o progresso do reino de Deus.

O cristão diferencia-se do descrente em três aspectos. (1) O cristão sabe que Deus é o dono de todas as coisas e que é chamado para uma administração responsável da propriedade de Deus. Como Lutero diz de maneira tão hábil, tudo o que Deus dá vem sem qualquer mérito por parte do despenseiro. (2) O crente é fortalecido pelo Espírito para perseverar na administração debaixo de Deus. (3) O cristão é fortalecido pelo Espírito para responder em gratidão, louvor, serviço e livre obediência.

Segundo Artigo - Redenção e Mordomia. Por causa de seu Filho, o Redentor do mundo, Deus é gracioso para com os pecadores, a fim de que cada um de nós (como Lutero explica) "lhe pertença e viva submisso a ele, em seu reino, e o sirva em eterna justiça, inocência e bem-aventurança" (CMe, Credo, 2º Artigo).

Dentre todos os dons que Deus nos deu para administrar, o Evangelho é o primeiro. "Graças a Deus pelo seu dom inefável" (2Co 9.15) do "evangelho de Cristo" (2Co 9.13)! O povo de Deus em Cristo é despenseiro desta mensagem e eles não vivem "mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou" (2Co 5.15).

Terceiro Artigo - Santificação e Mordomia. Este Artigo gira em torno da obra do Espírito Santo, que nos trouxe à fé e que nos capacitou para sermos mordomos dos dons de Deus. "Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas" (Ef 2.10). E, por meio da obra do Espírito em nós através do Evangelho, iluminando-nos com seus dons, estamos libertos para ser bons despenseiros destes dons.

Princípios da Mordomia

Em 2 Coríntios 8 e 9 (reportando-se à coleta de dinheiro para os santos), Paulo delineia diversos princípios para uma vida de mordomia. Embora ele não apresente um esboço seqüencial, sua progressão oferece muito para os cristãos de todas as épocas. Nestes capítulos, o pastor irá encontrar muitas sugestões práticas para fortalecer a mordomia completa da casa/família de Deus no âmbito da congregação. A maneira de aplicar tais sugestões irá variar de uma congregação para outra, mas as mesmas deveriam ser mantidas em mente - especialmente quando a congregação estiver avaliando e/ou participando de um esforço para levantamento de fundos, pois uma campanha para levantamento de fundos não é tudo o que uma congregação pode fazer em termos de mordomia.

2Co 8.1-2, Princípio Um. A graça de Deus dá a base para toda a mordomia cristã - "a graça de Deus concedida", graça de Deus ao enviar-nos seu próprio Filho. Esta deveria ser a motivação para os cristãos de Corinto assim como fora para os cristãos da Macedônia, os quais, em resposta à graça de Deus, ofertaram com "abundância de alegria" e "em grande riqueza da sua generosidade" (2Co 8.1-2).

2Co 8.3, Princípio Dois. Os cristãos ofertam de acordo com suas posses, assim como os Macedônios, que "na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostraram voluntários" "no meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria" (2Co 8.2).

2Co 8.4-5, Princípio Três. Os cristãos doam-se "a si mesmos primeiro ao Senhor" da mesma maneira que os Macedônios fizeram, governados pela vontade do Senhor. Eles eram tão comprometidos como servos do Senhor que até imploraram que lhes fosse permitido participar daquele serviço aos seus irmãos na fé. A graça de Deus move os cristãos a se entregarem a Deus e a não se preocuparem com o ego.

2Co 8.6-7, Princípio Quatro. A graça de ofertar está firmemente declarada sobre tudo que Deus tem graciosamente operado no cristão. (e.g., uma fé forte, um testemunho vívido e um conhecimento crescente de Deus).

2Co 8.8, Princípio Cinco. O amor do cristão é mostrado através de atos, assim como a justificação resulta alegremente na santificação. A mordomia nunca está firmada na Lei.

2Co 8.9, Princípio Um retomado. O amor do cristão redunda em ações porque o mesmo brota do amor gracioso e abnegado de Deus em Cristo. Ele esvaziou-se a si mesmo de suas riquezas, de modo que "pela sua pobreza vos tornásseis ricos".

2Co 8.10-12, Princípio Cinco retomado. O amor cristão resulta voluntária e alegremente da justificação. Paulo não enfatiza a quantidade, mas a prontidão em ofertar, do mesmo modo como a viúva deu suas duas moedas (Mc 12.41-44).

2Co 8.13-15, Princípio Seis. A mordomia é um empreendimento conjunto na igreja, um dar-e-receber mútuo (de maneira igual) de modo que todas as pessoas, particularmente os irmãos na fé, possam ser ajudados em suas necessidades a qualquer momento em que as mesmas venham a ocorrer.

2Co 8.16-23, Princípio Três retomado. A participação de Paulo, de Tito e de outros dois "irmãos" (v. 18, 23) também brota do compromisso com o Senhor, "para a glória do próprio Senhor e para mostrar a nossa boa vontade" (v. 19). Portanto, ninguém (e especialmente Paulo) pode dar ocasião para a mais leve suspeição de que estivesse fazendo algo de errado, pois fazê-lo pode colocar em perigo o testemunho do Evangelho "diante dos homens" (v. 20-21).

2Co 8.24-9.2, Princípio Cinco retomado. Paulo convida os cristãos de Corinto a que mostrem o amor que têm através de ações, não para auto-engrandecimento, mas como um testemunho aos outros.

2Co 9.3-5, Princípio Sete. A mordomia cristã exige preparação. Paulo louvou os coríntios por muitas qualidades boas e ele não quer que seu elogio seja desmentido no que se refere a esta coleta. Não que os coríntios se recusassem a ofertar, mas Paulo teme que eles possam falhar na preparação e na organização para desempenhar os planos que fizeram.

2Co 9.5, Princípio Oito. A mordomia cristã envolve promessa, compromisso. Paulo relembra aos coríntios a promessa que ele fizeram a fim de recordar-lhes algo ainda mais importante, a alegria que advém da promessa feita. Paulo está preocupado em que eles não julguem o pedido que ele faz nesta carta como algo legalista e, em razão disso, ofertem de má vontade.

2Co 9.6-15, Princípio Nove. A mordomia cristã resulta no acúmulo de bêncãos sobre bênçãos. Tais bênçãos incluem:

1. A certeza da colheita, que advém do ofertar com o espírito correto (2Co 9.6).

2. O amor de Deus, estendido a quem dá com alegria (2Co 9.7).

3. A graça de ofertar (2Co 9.8).

4. A abundância de "semente" para dar (2Co 9.8-9).

5. A multiplicação tanto da semente como das bênçãos (2Co 9.10-11) dos dons distribuídos, aumentando os resultados da liberalidade.

6. Louvores e orações a Deus por causa da mordomia por aqueles que foram abençoados com a generosidade (2Co 9.11-14).

Sumário

"Graças a Deus pelo seu dom inefável!" (2Co 9.15) - o dom de sua graça em seu próprio Filho - um dom que, quando manuseado por despenseiros de Deus, explode em uma demonstração abnegada de interesse amável pelos outros. Esta é aquela demonstração que envolve tempo, talentos e tesouros? Sim, mas estas três coisas são demasiadamente pequenas para conter tudo o que um mordomo da casa/família de Deus faz e é. Ao invés disso, alguém deveria falar do despenseiro usando todas as coisas que houver na casa de seu Mestre para desempenhar seu plano salvífico agora já revelado, a fim de aumentar a família de Deus (cf. Mt 25.14-30).

MORDOMIA CRISTÃ

EDUCAÇÃO CRISTÃ

4 O Pastor e a Educação Cristã

Em seu sentido mais amplo, na igreja, a atividade de ensinar ocorre em todo tipo de programação na qual a Palavra de Deus é compartilhada (à parte da celebração dos Sacramentos e da Absolvição): aulas formais, sermões, auxílio personalizado de modo que o outro indivíduo compreenda/aplique algum ponto da doutrina, hábitos devocionais e cúlticos dos pais na presença dos filhos, consolação mútua, etc. De fato, o termo ensinar pode ser expandido de modo a incluir quase tudo o que a igreja (tanto como um grupo quanto indivíduos) faz para fazer "discípulos de todas as nações, batizando...e ensinando ..." (Mt 28.19).1

Esta ênfase em usar cada oportunidade vem, de modo carinhoso, através das instruções que Moisés deu aos israelitas ao final do êxodo. Ainda que estas palavras enfatizem uma educação vertical de geração a geração se comparadas ao ensino horizontal de cristão para cristão e de cristão para descrente, tais palavras estabelecem algumas orientações excelentes para os cristãos: começar e terminar com a graça de Deus; usar todas as oportunidades; ser paciente; persistente e pessoal.

Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno, estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas.

Quanto teu filho, no futuro, te perguntar, dizendo: Que significam os testemunhos, e estatutos, e juízos que o SENHOR, nosso Deus, vos ordenou? Então, dirás a teu filho...(Dt 6.5-9, 20s)

Este mesmo carinho pode ser visto na descrição2 que João faz de Jesus como o Bom Pastor que conduz e alimenta seu rebanho de maneira terna, uma imagem que transporta para a instrução pessoal e personalizada de Jesus a Nicodemos (Jo 3.1-21), à mulher samaritana em Sicar (Jo 4.7-26), ao cego de nascença (Jo 9.1-41), à Marta na ressurreição de seu irmão (Jo 11.5-27), a Tomé após a ressurreição (Jo 20.26-29) e a Pedro na praia (Jo 21.15-18). E ele é, acima de tudo, chamado de Rabi: "Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque eu o sou" (Jo 13.13).

Alguns dos ensinamentos de Jesus, de fato, ocorreram quando grupos estavam reunidos. O assim chamado Sermão do Monte inicia-se com as palavras, "e ele passou a ensiná-los, dizendo ..." (Mt 5.2). A maior parte da educação dos Doze, registrada nos Evangelhos, foi-lhes ministrada como um grupo. Contudo, tanto se a grupos quanto se a indivíduos, continuamente Jesus trouxe diante de seus ouvintes tanto a Lei que condena quanto a Boa-Notícia do perdão e do amor redentor de Deus. Este capítulo focaliza as funções educacionais da congregação cristã para além do sermão, percebendo que ambos têm a mesma ênfase e fonte e a mesma meta e objetivos.

O Foco e a Fonte

O foco da educação cristã está sempre sobre Jesus, "pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos" (At 17.21). Juntamente com Paulo, o pastor diz, "Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado" (1Co 2.2). Ainda que a educação cristã tenha a ver com o relacionamento individual com Deus, os indivíduos per se não são o foco; antes, eles são ensinados a focalizar sua atenção sobre Deus, o qual é revelado através de Jesus Cristo.

A fonte da educação cristã, por conseguinte, é a revelação de Jesus Cristo, que hoje só é dada através da Escritura Sagrada - sendo toda ela inspirada para ensinar as pessoas quem elas são, quem é Deus e o que ele tem feito pode elas - a fim de torná-las sábias "para a salvação pela fé em Cristo Jesus...perfeitamente habilitadas para toda boa obra" (2Tm 3.15,17). Sem a Escritura, alguém simplesmente não pode chegar à conclusão de que a depravação da humanidade, iniciada na queda em pecado, foi vencida na cruz pelo Filho encarnado de Deus, o qual também ressuscitou, de modo que seu povo pode ter uma nova vida através da fé criada e mantida pelo Espírito de Deus. Embora os conceitos humanos certamente ajudem uma pessoa a entender, e.g., como o pecado original evidencia sua própria existência ou como a mente transmite a verdade à geração seguinte, somente Deus mesmo pode ensinar a verdade e a realidade de seu próprio coração. Como as Confissões afirmam, sem a graça, o auxílio e a operação do Espírito Santo o homem é incapaz de ser agradável a Deus, temê-lo de coração, ou crer, ou expulsar do coração as más concupiscências inatas. Isso, ao contrário, é feito pelo Espírito Santo, que é dado pela palavra de Deus. Pois Paulo diz em 1 Coríntios 2[.14]: "O homem natural nada entende do Espírito de Deus". (CA, XVIII, 2-3)

Ao mesmo tempo, a igreja reconhece que conhecer a Deus e nele crer assim como revelado em Cristo não impede que se use a mente para compreender as coisas que há no mundo e o funcionamento das mesmas. Deus criou a mente humana com um potencial a ser usado para perceber, analisar e raciocinar. Uma vez dada ao ser humano, a mente foi manchada na queda em pecado; apesar disso, a mente é e deve ser usada; de outra forma, o cristão não será capaz de usar a História Natural, a Ciência, a Psicologia, etc. A igreja quer que seus membros sejam cidadãos instruídos no mundo, de modo que eles possam realmente "responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós" (1Pe 3.15), assim como "consola[r] uns aos outros e edifica[r-se] mutuamente" (1Ts 5.11). Portanto, tanto pastor quanto seu povo têm a responsabilidade de aprender tudo o que puderem sobre o mundo, confessando que seu sentido último só é compreendido pela fé em Cristo Jesus.

Meta e Objetivos

"Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância" (Jo 10.10). Nestas palavras (bem como em outras), Jesus resume a meta, o propósito que Deus sempre teve desde a queda em pecado - e, portanto, a meta suprema da educação cristã. Lutero disse isto muito bem em sua explicação do Segundo Artigo do Credo:

Para que eu lhe pertença e viva submisso a ele, em seu reino, e o sirva em eterna justiça, inocência e bem-aventurança.

Embora algumas vezes as pessoas esqueçam isto ou desejem que isto não seja assim, toda a vida (incluindo afazeres triviais tais como pentear os cabelos) é clamada e reclamada por Deus; e a meta da educação cristã é aplicar Palavra e Sacramento, através dos quais o Espírito cria uma fé viva que se expressa por meio de todo pensamento e ação de vida o que Deus tem feito.

Os objetivos (i.e., os estágios mensuráveis em direção à meta) da educação cristã, portanto, podem ser agrupados como segue:

Objetivo Cognitivo:

O conhecimento de Deus e de sua graça em Cristo, ensinados na Escritura.

Objetivo de Fé:

Crença e confiança em Deus para vida e salvação.

Objetivo Afetivo:

Um caráter cristão - amor cristão dirigido aos outros e uma atitude de perdão, mesmo quando a santificação exterior ainda é insuficiente de acordo com o plano de Deus (i.e., pensar como um cristão, não fazendo divisão entre o secular e o religioso, entre o empírico e o transcendental).

Objetivo de Comportamento:

O fruto do Espírito (Gl 5.22), vivido na vida particular, na família, na comunidade social, na igreja - através de adoração, evangelismo, testemunho, serviço e comunhão.3

O Papel do Pastor

Devido à natureza da educação cristã, a responsabilidade pertence a todos os crentes, quando capazes para tal. Todos são professores. Sob certas circunstâncias, no entanto, a Escritura coloca a responsabilidade sobre certas pessoas: sobre os pais para a educação dos filhos (e.g., Ef 6.4) e sobre o pastor (e professor) chamado para o treinamento oficial e público em nome da congregação (e.g., At 20.28; 1Tm 4.13; 2Tm 4.2).

Os próprios cristãos são livres para determinar como exercer estas responsabilidades. Por exemplo, ainda que as Escrituras (e os estudos humanos) demonstrem que os pais sejam as pessoas mais influentes na educação de uma criança, poucos estão equipados para proporcionar toda a educação. De modo semelhante, mesmo que o pastor tenha a responsabilidade para supervisionar o uso da Palavra entre os membros, pode ser que ele não tenha o tempo ou, em alguns casos, a habilidade4) para que ele próprio ensine. O pastor, juntamente com os líderes/Comissão de Educação Cristã, pode (e, às vezes deveria) selecionar e treinar assistentes que possam reunir-se a ele no ensino da Palavra: leigos voluntários, professores chamados, diretores de educação cristã, diaconisas, ministros leigos, etc. Com um interesse profundo pelo rebanho, o pastor pode recorrer a educadores cristãos profissionais que possam compartilhar métodos eficazes de ensino com os assistentes e/ou com o pastor.5 Por vários meios, ele pode recorrer aos recursos da igreja maior (i.e., a denominação) para ajudar a explicar a doutrina cristã aos assistentes e/ou aos estudantes. O pastor poderia e deveria fazer uma lista de assistentes que possam estabelecer um contato favorável com aqueles que estão sendo ensinados (e.g., crianças de tenra idade, adolescentes, adultos com necessidades especiais tais como um grupo congregacional de Al-Anon, aqueles que apresentam deficiência de aprendizagem, etc.). E, levando em conta as leis locais, certamente o pastor irá certificar-se de que a atividade de ensinar em uma escola paroquial será realizada de acordo com tais leis (até o ponto em que as mesmas não contradigam a Palavra do Senhor).

Caso o pastor use assistentes ou não, o papel do ministro paroquial pode ser claramente visto nas palavras de Pedro:

Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores do que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho (1Pe 5.2-3).

O pastor é o representante do Senhor para administrar os meios da graça e para suprir a comunidade de crentes com liderança na vida cristã.

O Processo de Aprendizagem

Distinguir entre ensino e aprendizagem é mais do que uma questão de Semântica: é a diferença entre o ouvir e o crer. Ainda que o Espírito Santo sozinho crie e sustente a fé, ele usa pessoas assim como Deus as criou. A Escritura afirma o processo de aprendizagem quando fala, por exemplo, sobre ter "opinião bem definida em sua própria mente" (Rm 14.5), ouvir é mais do que escutar (Mt 13.13) e maturidade como comparada aos "princípios elementares" (Hb 6.1). A aprendizagem acontece dentro da pessoa. Portanto, aqui o foco está sobre o processo de aprender, que é definido como: o processamento de informações/idéias/atitudes novas; relacionando tudo isto ao que foi previamente ensinado; e reagindo de alguma forma relativamente permanente como resultado do que foi processado.

Antes que isto ocorra, o aprendizado primeiramente recebe informações/idéias/atitudes novas através de:

Dados captáveis pelos sentidos (observação, audição, etc.); imitação; experiência sensorial; tentativa e erro; associações/relacionamentos feitos; e qualquer combinação destes meios.

O ensino eficaz, por conseguinte, trabalha visando a aprendizagem internalizada de modo adequado à habilidade do aprendizado e compreende que uma de suas maiores tarefas seja a remoção das barreiras à aprendizagem e à fé por meio de: captar e manter a atenção do aprendizado através de uma porção de meios e de métodos; providenciar verificações positivas de aprendizagem; ajudar a memória através de significados associativos, de familiaridade e/ou de um padrão ou seqüência reconhecida; e deixar o aprendizado livre para representar/praticar o conteúdo.

A maneira pela qual um professor aplicará o que foi dito acima irá variar de acordo com a idade/estágio de desenvolvimento do estudante, bem como de acordo com as experiências anteriores que os mesmos tiveram. O pastor como professor irá querer compreender e aplicar o melhor das teorias de aprendizagem (e de desenvolvimento moral) de forma que a obra do Espírito Santo não seja impedida.

O Pastor e as Agências Educacionais da Congregação

Ensinando no Lar

Estritamente falando, nunca se deveria pensar no lar como um "agência" da igreja. Ainda assim, a igreja assistirá os pais e outras pessoas adultas enquanto as famílias crescerem no aprendizado de como viver sua fé. Duas tentações surgem no caminho, ambas baseadas na mesma premissa, a saber, de que a "educação cristã" esteja limitada à transmissão de informação bíblica. (1) As pessoas são tentadas a pensar nas devoções e no diálogo cristão em geral como um ensino neutro; e (2) apenas a literatura extremamente bíblica está qualificada para transmitir esta informação.

Na realidade, a igreja necessita apoiar o lar com encorajamento, treinamento e recursos.6 Muito antes dos sociólogos "provarem" a importância do lar, Salomão lembrou os pais, "Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele" (Pv 22.6).

Agências para o Ensino Infantil

Escolas de 1º e de 2º Graus. Desde seu mais tenro início, o Sínodo tem enfatizado a importância de se integrar toda aprendizagem sob a Palavra de Deus. Hoje em dia, o regimento do Sínodo ainda afirma isto:

As agências educacionais mais eficazes à disposição na igreja para equipar crianças e jovens para o ministério são as escolas luteranas de 1º e 2º Graus, que funcionam em tempo integral.7

Fora de casa, nenhum outro programa pode devotar o tempo e a habilidade disponíveis através de professores treinados, assistindo o educando a viver toda a vida no contexto e sob as bênçãos da Palavra. Apesar do valor que as escolas têm, o pastor não pode exigir que a congregação as estabeleça, assim como a congregação pode apenas insistir (e não exigir) que seus membros enviem seus filhos para tais escolas. Ele pode, porém, ajudar as congregações e os pais a apreciarem o valor das escolas e os benefícios de longa duração que as mesmas trazem aos seus filhos.

Como regra geral, a supervisão da escola é delegada, através de um chamado divino, a um administrador/diretor.8 Todavia, o pastor permanece como o Seelsorger que alimenta e guia os estudantes, os professores e os funcionários. Ele desempenha isto, em parte, através de sua equipe de auxiliares, mas especialmente quando ministra diretamente às pessoas no chamado que as mesmas possuem. O pastor também é necessário para prevenir uma ruptura entre a escola e a igreja, para promover o apoio e o uso da escola pelas famílias da igreja e, às vezes, para lecionar as aulas de Ensino Religioso nas séries mais adiantadas (normalmente consideradas como a classe de Confirmação dos estudantes).

A congregação deveria encarar a escola paroquial também como uma agência excelente para difundir o Evangelho. Na época em que este livro foi escrito, 50% das crianças matriculadas nas escolas paroquiais provêm de uma outra denominação; e num biênio recente (1986-1988), mais de 10.000 pessoas tornaram-se membros do Sínodo de Missouri como resultado da escola paroquial. Por outro lado, as pessoas contrárias às escolas paroquiais, irão reclamar que estas estatísticas ainda não justifica os gastos com tais escolas.

O propósito da educação paroquial, no entanto, não é simplesmente expandir o número de membros de uma congregação. Deus chama seu povo para estar em comunhão com ele no corpo único de Cristo, não mencionando qualquer parte ou visão particular do mesmo. E, esteja ou não refletido no rol de membros, o Espírito trabalha onde e quando lhe apraz (Jo 3.8; Is 55.10-11).

(Uma palavra de cautela: Na sociedade norte-americana, algumas famílias tentarão usar a escola paroquial privada - i.e., não pública -, como uma forma para escapar à abolição da segregação racial. Até mesmo uma suspeita de que a igreja permita tal atitude pagã contamina a razão da existência da igreja. Escolas luteranas de 1º e 2º Graus devem fazer tudo o que estiver ao seu alcance para servir a todas as pessoas com o melhor que Deus tem a oferecer em seu Filho.)

Agências de Tempo Parcial. Todas as congregações, incluindo aquelas que possuem uma escola paroquial, podem beneficiar-se das oportunidades e abordagens variadas que estão disponíveis através de programas de tempo parcial tais como aulas de meio de semana/sábado, aulas de Ensino Religioso ministradas durante o período de almoço ou após o encerramento das aulas diárias, escola dominical, escola bíblica de férias, creches9, além de programas de pré-escola. Comparados ao tempo disponível numa escola paroquial cristã, qualquer um destes programas fica num distante segundo lugar; mas, cumulativamente, eles concedem excelentes oportunidades à igreja para apoiar os pais na educação e no treinamento de seus filhos no Senhor.

Tais programas apresentam suas desvantagens. Devido ao fato de os mesmos serem de tempo parcial e ministrados por voluntários, os pais e, às vezes, a própria igreja, esperam que estes programas provejam apenas uma ajuda mínima. Contudo, como alguns deles são reconhecidos e aceitos como parte da vida eclesiástica na América do Norte, o pastor fará tudo o que puder para tirar o máximo proveito das oportunidades que a igreja ofereça.

O ingrediente mais significante são os professores treinados. Apesar da visão de que quase todo mundo possa ensinar crianças e de que a atividade de ensinar ocupe um dos últimos lugares na estrutura congregacional, o pastor compreende o poder do Espírito e pode imaginar os benefícios distintos de um ensino cristão de qualidade. Por conseguinte,

Ao invés de aceitar quaisquer e todos os voluntários, ele busca e convida pessoalmente como professores aquelas pessoas que sejam capazes de ensinar e que já sejam bem versadas na Escritura.

Ao invés de gastar uma reunião inteira de professores compartilhando fatos sobre histórias bíblicas, o pastor concede oportunidade a que os professores cresçam m suas habilidades didáticas, sabendo que a maneira pela qual uma pessoa ensina afeta o conteúdo e as atitudes aprendidas pelos estudantes.

Ao invés de permitir que a congregação relegue as agências de tempo parcial a um status independente (e.g., insistindo que as mesmas sejam auto-sustentadas), o pastor as promove em toda oportunidade como o melhor meio que a congregação possui para atingir muitos dos estudantes. Ele promove o alto valor destas agências persuadindo a congregação a pagar pelos equipamentos, revistas didáticas e outros recursos. Eles também visita as aulas de forma regular a fim de ficar conhecendo as crianças e de comunicar através de sua presença, "Vocês são importantes para a igreja" - uma afirmação reforçada sempre que as crianças forem convidadas a participar do culto corporativo da congregação.

Ao invés de permitir que estas agências degenerem através de uma atitude de indiferença, o pastor e a congregação estabelecem conjuntamente altos níveis de profissionalismo, incluindo pontualidade e assiduidade por parte tanto dos professores quanto dos estudantes, por meio dos procedimentos adequados para contar e guardar os registros.

Ao invés de esperar que os professores estejam crescendo em sua própria fé, o pastor dá-lhes uma atenção especial como indivíduos; eles são, acima de tudo, seus assistentes pessoais na tarefa de educar seu rebanho.

Classes de Confirmação. A piedade popular tem rebaixado as aulas de Confirmação ao status de trabalho fatigante que deve ser tolerado como um pré-requisito para a Santa Comunhão, usando-se isto como um pré-requisito para forçar a participação das crianças. A reputação das aulas de Confirmação é tal que, ao ensinar adultos, muitas congregações dão outro nome às aulas a fim de criar uma imagem melhor.

Originalmente, a igreja cristã entendia a Confirmação como a obra do Espírito Santo confirmando a fé expressada na época do Batismo. Logo esta visão levou ao estabelecimento de uma cerimônia (eventualmente, um Sacramento) conectado ao Batismo e, mais tarde, separada do mesmo pelo tempo. Por volta do século XVI, a Confirmação já tinha sido tão mal usado que os Reformadores descartaram este rito extra-bíblico,10 pedindo que houvesse um exame simples e particular dirigido pelo pastor quando ele ou os pais pensassem que a criança fosse capaz de realizar o auto-exame requerido para a recepção da Santa Comunhão. O surgimento do Pietismo na Alemanha cedo enfatizou o auto-exame a tal ponto que a instrução na doutrina luterana ofuscou tudo mais. Na década de 1960, um esforço para ajustar esta diretriz logrou pouco êxito no Sínodo de Missouri, talvez porque muitos pastores não puderam concordar com uma primeira Comunhão para crianças de pouca idade, primeira Comunhão esta separada das aulas formais de Confirmação por um espaço de anos.

Como quer que alguém avalie o passado, o pastor paroquial deveria compreender e aplicar alguns poucos princípios:

1. Adequadamente falando, o termo Confirmação deveria ser limitado à cerimônia propriamente dita. As aulas que preparam o caminho para a cerimônia deveriam ser designadas como aulas preparatórias para a Confirmação.

2. As crianças e os adultos deveriam reunir os mesmos critérios para sua participação no Sacramento do Altar. Os conteúdos do curso diferem, pois as crianças encaram seu papel como "estudantes" e desejam estudar informações mais concretas do que a maioria dos adultos, que se vêem lidando primeiramente com um nível conceitual que se relaciona com a vida diária. No entanto, a "chave" que abre a porta ao Sacramento não deve ser negada a uma criança por qualquer razão que não seja aplicável também a um adulto. Nem a razão deveria ser qualquer outra do que a inabilidade/relutância completa de uma pessoa para auto-examinar-se sob a Lei e o Evangelho.

3. O conteúdo do curso deveria cobrir os pontos básicos da fé bíblica e cristã, compreendida e exposta nas Confissões Luteranas (que incluem o Catecismo Menor de Lutero), a fim de que a pessoa seja capaz de dar testemunho público da fé. O uso do Catecismo per se realmente tem precedente.

4. Geralmente, o rito de Confirmação na igreja luterana tem consistido de três partes: a confissão pública da fé pelo confirmando; as orações da congregação por aqueles que estão sendo confirmados; e as bênçãos de Deus simbolizadas pela imposição de mãos. Três ênfases deveriam ser evitadas: (1) que o rito marque a conclusão do estudo da Palavra de Deus; (2) que o rito da Confirmação leve alguém a ser "verdadeiramente" membro do corpo de Cristo, a igreja; e (3) que o rito marque a transição do batismo-como-responsável-pela-fé para o indivíduo - responsável pela fé que tem. Ao contrário, o rito marca apenas um passo ao longo do caminho de uma vida inteira sob a graça de Deus, quando uma pessoa cresce na santificação.

Agências de Ensino de Jovens e de Adultos Jovens.

Ainda que as metas e os objetivos para estas agências continuem sendo os mesmos daqueles grupos de qualquer idade na igreja, jovens e adultos jovens apresentam desafios singulares à igreja.

Os alunos de 2º Grau, que estão começando a pensar de maneira abstrata, estão trabalhando na transição de um estilo de vida orientado pela autoridade externa para um modo de vida incorporado internamente e, portanto, testam a autoridade externa (especialmente aquela dos pais). Por volta dos 17 aos 20 anos, muitos jovens começam a lidar com decisões de vida e a tomá-las (e.g., companheiros de vida, estilos de vida, vocação, compromisso com Deus/igreja, etc.). E no decorrer de todos estes anos, os jovens e os adultos jovens estão procurando modelos alternativos fora de suas famílias.

Um ponto muito significativo: os jovens são problemáticos (embora não revelem prontamente seus problemas). Os adultos mais velhos pensam que o período em que o jovem está cursando o 2º Grau e a Faculdade sejam os anos mais livres de preocupação na vida. Porém, estudos e mais estudos (especialmente aqueles conduzidos por Strommen, et alli, nos anos 70) descobrem a verdade: o jovem sente-se inseguro no tocante às habilidades que possui para lidar com as pressões tremendas diante das quais ele se vê; os jovens cometem sérios enganos, os quais ameaçam perseguí-los pelo resto da vida: eles já têm sido tão magoados por amigos temporários que ficam temerosos de abrir seu interior para muitas outras pessoas (não se abrindo especialmente para figuras de autoridade que podem usar a informação contra eles); e eles são simplesmente tão inseguros de si próprios que não conseguem confiar completamente que Deus possa amá-los apesar dos pecados e inadequações que eles possuem. Além disso, os jovens que cresceram na igreja freqüentemente sentem uma culpa prejudicial e não cristã por não terem aprendido a confiar no poder purificador do Evangelho. Eles podem insistir abertamente que sejam livres de culpabilidade, mas, por dentro, eles estão tremendo de medo de serem apanhados naquilo que realmente são.

Portanto, a igreja precisa ajudar aqueles que estão neste estágio de transição a processarem e a aplicarem o conhecimento e o relacionamento que eles já têm, por graça, com Deus em Cristo. Informações novas precisam ser apresentadas como usáveis pelos jovens/adultos jovens em suas tarefas primordiais. O foco tem de estar sobre a graça.

O pastor não deveria presumir que um grupo organizado de jovens na congregação seja capaz de suprir as necessidades de todos os indivíduos daquela idade. Ele não deveria presumir que os jovens estejam interessados apenas em atividades sociais. Os jovens também precisam usar seriamente a Palavra e o Sacramento, nos quais Deus irá ao encontro deles. O pastor não deveria presumir que tenha automaticamente a capacidade/paciência/sensibilidade para ouvir e ajudar os jovens a aprender (isto é, colocar a fé em prática). O pastor também não deveria desesperar ou abdicar de sua responsabilidade de ser o Seelsorger dos jovens. Ao invés disso, ele deveria usar os muitos recursos congregacionais disponíveis para apresentar a Palavra e o Sacramento aos jovens de modo que eles aprendam o que significa ser adultos cristãos.

Adultos jovens mais velhos, solteiros (e.g., em seus vinte ou trinta e poucos anos) também apresentam necessidades singulares à congregação - procurando saber porque eles "ficaram para trás" de seus contemporâneos na tarefa de encontrar um cônjuge; trabalhando para serem aceitos em uma sociedade que os encara por aquilo que eles não são (i.e., por eles não serem jovens casados que já tenham filhos pequenos); de algum modo solitários por não terem um(a) companheiro(a) de vida com quem eles possam compartilhar-se e que pode aceitá-los "como eles são". Mais uma vez, o processo educacional irá ter sua ênfase na atividade de ajudar estes filhos de Deus a aplicar a graça e a força de Deus em suas vidas.

Agências de Ensino de Adultos

Em muitas congregações, a única agência oficial de ensino são as aulas de Escola Dominical para adultos; no entanto, o pastor deveria ver quase toda reunião de adultos na congregação como uma oportunidade educacional - organizações de homens e de mulheres, clubes de mães, a Comissão de Altar, mais velhos, a abertura da assembléia de membros votantes e outras diretorias e comissões da congregação, etc. (De fato, alguém pode questionar a validade de uma organização eclesiástica caso a mesma se recuse a utilizar a Palavra.)

A percepção popular pode sugerir que os encontros da Escola Dominical deveriam devotar-se à disseminação de informações bíblicas, que muitos adultos desejam e apreciam. Contudo, o pastor sabe que a tarefa primordial do coração de uma pessoa adulta não é colecionar informações (mesmo sobre Deus), mas aplicar a graça de Deus às dificuldades e às alegrias de um estágio ou de uma situação específica na vida, além de proporcionar apoio mútuo (tanto espiritual, quanto físico/emocional).

O uso de um professor leigo para adultos numa situação particular precisa ser avaliado cuidadosamente. Na sociedade pluralística da América do Norte, com muitas pessoas casando-se com membros de outras denominações e com uma alta exposição à "mídia religiosa" não-luterana, o professor voluntário mais entusiasmado pode ser a pessoa com maior necessidade de aprender a ênfase de Lei e Evangelho, sustentada pela teologia da cruz na Escritura. E a classe bíblica que enfatiza as informações da Bíblia pode ser o grupo mais receptivo a ser conduzido por um líder consciente. O pastor e os líderes/diretoria de educação cristã desejarão fazer um planejamento cuidadoso a fim de apoiar todos os adultos (incluindo aqueles que tenham interesses/necessidades especiais e/ou específicos de sua idade) em seu crescimento contínuo na Palavra e no Sacramento.

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MULLER CHAVE BÍBLICA CHRISTIAN HOFFMANN CHURRASCO CHUVA CIDADANIA CIDADE CIFRA CIFRAS CINZAS CIRCUNCISÃO CL 1.13-20 CL 3.1-11 CLAIRTON DOS SANTOS CLARA CRISTINA J. MAFRA CLARIVIDÊNCIA CLAÚDIO BÜNDCHEN CLAUDIO R. SCHREIBER CLÉCIO L. SCHADECH CLEUDIMAR R. WULFF CLICK CLÍNICA DA ALMA CLOMÉRIO C. JUNIOR CLÓVIS J. PRUNZEL CODIGO DA VINCI COLÉGIO COLETA COLHEITA COLOSSENSES COMEMORAÇÃO COMENTÁRIO COMUNHÃO COMUNICAÇÃO CONCÓRDIA CONFIANÇA CONFIRMACAO CONFIRMAÇÃO CONFIRMANDO CONFISSÃO CONFISSÃO DE FÉ CONFISSÕES CONFLITOS CONGREGAÇÃO CONGRESSO CONHECIMENTO BÍBLICO CONSELHO CONSTRUÇÃO CONTATO CONTRALTO CONTRATO DE CASAMENTO CONVENÇÃO NACIONAL CONVERSÃO CONVITE CONVIVÊNCIA CORAL COREOGRAFIA CORÍNTIOS COROA CORPUS CHRISTI CPT CPTN CREDO CRESCENDO EM CRISTO CRIAÇÃO CRIANÇA CRIANÇAS CRIOULO CRISTÃ CRISTÃOS CRISTIANISMO CRISTIANO J. STEYER CRISTOLOGIA CRONICA CRONOLOGIA CRUCIFIXO CRUZ CRUZADAS CTRE CUIDADO CUJUBIM CULPA CULTO CULTO CRIOULO CULTO CRISTÃO CULTO DOMESTICO CULTO E MÚSICA CULTURA CURSO CURT ALBRECHT CURTAS DALTRO B. KOUTZMANN DALTRO G. TOMM DANIEL DANILO NEUENFELD DARI KNEVITZ DAVI E JÔNATAS DAVI KARNOPP DEBATE DEFICIÊNCIA FÍSICA DELMAR A. KOPSELL DEPARTAMENTO DEPRESSÃO DESENHO DESINSTALAÇÃO DEUS DEUS PAI DEVERES Devoção DEVOCIONÁRIO DIACONIA DIÁLOGO INTERLUTERANO DIARIO DE BORDO DICOTOMIA DIETER J. JAGNOW DILÚVIO DINÂMICAS DIRCEU STRELOW DIRETORIA DISCIPLINA DÍSCIPULOS DISTRITO DIVAGO DIVAGUA DIVÓRCIO DOGMÁTICA DOMINGO DE RAMOS DONS DOUTRINA DR Dr. RODOLFO H. BLANK DROGAS DT 26 DT 6.4-9 EBI EC 9 ECLESIASTES ECLESIÁSTICA ECUMENISMO EDER C. WEHRHOLDT Ederson EDGAR ZÜGE EDISON SELING EDMUND SCHLINK EDSON ELMAR MÜLLER EDSON R. TRESMANN EDUCAÇÃO EDUCAÇÃO CRISTÃ EF 1.16-23 EF 2.4-10 EF 4.1-6 EF 4.16-23 EF 4.29-32 EF 4.30-5.2 EF 5.22-33 EF 5.8-14 EF 6.10-20 ÉFESO ELBERTO MANSKE Eleandro ELEMAR ELIAS R. EIDAM ELIEU RADINS ELIEZE GUDE ELIMINATÓRIAS ELISEU TEICHMANN ELMER FLOR ELMER T. JAGNOW EMÉRITO EMERSON C. IENKE EMOÇÃO EN ENCARNAÇÃO ENCENAÇÃO ENCONTRO ENCONTRO DE CRIANÇA 2014 ENCONTRO DE CRIANÇAS 2015 ENCONTRO DE CRIANÇAS 2016 ENCONTRO PAROQUIAL DE FAMILIA ENCONTROCORAL ENFERMO ENGANO ENSAIO ENSINO ENTRADA TRIUNFAL ENVELHECER EPIFANIA ERA INCONCLUSA ERNI KREBS ERNÍ W. SEIBERT ERVINO M. SPITZER ESBOÇO ESCATOLOGIA ESCO ESCOLAS CRISTÃS ESCOLÁSTICA ESCOLINHA ESCOLINHA DOMINICAL ESDRAS ESMIRNA ESPADA DE DOIS GUMES ESPIRITISMO ESPÍRITO SANTO ESPIRITUALIDADE ESPÍSTOLA ESPORTE ESTAÇÃODAFÉ ESTAGIÁRIO ESTAGIÁRIOS ESTATUTOS ESTER ESTER 6-10 ESTRADA estudo ESTUDO BÍBLICO ESTUDO DIRIGIDO ESTUDO HOMILÉTICO ÉTICA EVANDRO BÜNCHEN EVANGELHO EVANGÉLICO EVANGELISMO EVERSON G. HAAS EVERSON GASS EVERVAL LUCAS EVOLUÇÃO ÊX EX 14 EX 17.1-17 EX 20.1-17 EX 24.3-11 EX 24.8-18 EXALTAREI EXAME EXCLUSÃO EXEGÉTICO EXORTAÇÃO EZ 37.1-14 EZEQUIEL BLUM Fabiano FÁBIO A. NEUMANN FÁBIO REINKE FALECIMENTO FALSIDADE FAMÍLIA FARISEU FELIPE AQUINO FELIPENSES FESTA FESTA DA COLHEITA FICHA FILADÉLFIA FILHO DO HOMEM FILHO PRÓDIGO FILHOS FILIPE FILOSOFIA FINADOS FLÁVIO L. HORLLE FLÁVIO SONNTAG FLOR DA SERRA FLORES Formatura FÓRMULA DE CONCÓRDIA Fotos FOTOS ALTO ALEGRE FOTOS CONGRESSO DE SERVAS 2010 FOTOS CONGRESSO DE SERVAS 2012 FOTOS ENCONTRO DE CRIANÇA 2012 FOTOS ENCONTRO DE CRIANÇAS 2013 FOTOS ENCONTRO ESPORTIVO 2012 FOTOS FLOR DA SERRA FOTOS P172 FOTOS P34 FOTOS PARECIS FOTOS PROGRAMA DE NATAL P34 FP 2.5-11 FP 3 FP 4.4-7 FP 4.4-9 FRANCIS HOFIMANN FRASES FREDERICK KEMPER FREUD FRUTOS DO ES GÁLATAS GALILEU GALILEI GATO PRETO GAÚCHA GELSON NERI BOURCKHARDT GENESIS GÊNESIS 32.22-30 GENTIO GEOMAR MARTINS GEORGE KRAUS GERHARD GRASEL GERSON D. BLOCH GERSON L. LINDEN GERSON ZSCHORNACK GILBERTO C. WEBER GILBERTO V. DA SILVA GINCANAS GL 1.1-10 GL 1.11-24 GL 2.15-21 GL 3.10-14 GL 3.23-4.1-7 GL 5.1 GL 5.22-23 GL 6.6-10 GLAYDSON SOUZA FREIRE GLEISSON R. SCHMIDT GN 01 GN 1-50 GN 1.1-2.3 GN 12.1-9 GN 15.1-6 GN 2.18-25 GN 21.1-20 GN 3.14-16 GN 32 GN 45-50 GN 50.15-21 GRAÇA DIVINA GRATIDÃO GREGÓRIO MAGNO GRUPO GUSTAF WINGREN GUSTAVO D. SCHROCK HB 11.1-3; 8-16 HB 12 HB 12.1-8 HB 2.1-13 HB 4.14-16 5.7-9 HC 1.1-3 HC 2.1-4 HÉLIO ALABARSE HERIVELTON REGIANI HERMENÊUTICA HINÁRIO HINO HISTÓRIA HISTÓRIA DA IGREJA ANTIGA E MEDIEVAL HISTÓRIA DO NATAL HISTORINHAS BÍBLICAS HL 10 HL 164 HOMILÉTICA HOMOSSEXUALISMO HORA LUTERANA HORST KUCHENBECKER HORST S MUSSKOPF HUMOR IDOSO IECLB IELB IGREJA IGREJA CRISTÃ IGREJAS ILUSTRAÇÃO IMAGEM IN MEMORIAN INAUGURAÇÃO ÍNDIO INFANTIL INFERNO INFORMATIVO INSTALAÇÃO INSTRUÇÃO INTRODUÇÃO A BÍBLIA INVESTIMENTO INVOCAÇÕES IRINEU DE LYON IRMÃO FALTOSO IROMAR SCHREIBER IS 12.2-6 IS 40.1-11 IS 42.14-21 IS 44.6-8 IS 5.1-7 IS 50.4-9 IS 52.13-53-12 IS 53.10-12 IS 58.5-9a IS 61.1-9 IS 61.10-11 IS 63.16 IS 64.1-8 ISACK KISTER BINOW ISAGOGE ISAÍAS ISAQUE IURD IVONELDE S. TEIXEIRA JACK CASCIONE JACSON J. OLLMANN JARBAS HOFFIMANN JEAN P. DE OLIVEIRA JECA JELB JELB DIVAGUA JEOVÁ JESUS JN JO JO 1 JO 10.1-21 JO 11.1-53 JO 14 JO 14.1-14 JO 14.15-21 JO 14.19 JO 15.5 JO 18.1-42 JO 2 JO 20.19-31 JO 20.8 JO 3.1-17 JO 4 JO 4.5-30 JO 5.19-47 JO 6 JO 6.1-15 JO 6.51-58 JO 7.37-39 JO 9.1-41 JOÃO JOÃO 20.19-31 JOÃO C. SCHMIDT JOÃO C. TOMM JOÃO N. FAZIONI JOEL RENATO SCHACHT JOÊNIO JOSÉ HUWER JOGOS DE AZAR JOGRAL JOHN WILCH JONAS JONAS N. GLIENKE JONAS VERGARA JOSE A. DALCERO JOSÉ ACÁCIO SANTANA JOSE CARLOS P. DOS SANTOS JOSÉ ERALDO SCHULZ JOSÉ H. DE A. MIRANDA JOSÉ I.F. DA SILVA JOSUÉ ROHLOFF JOVENS JR JR 28.5-9 JR 3 JR 31.1-6 JUAREZ BORCARTE JUDAS JUDAS ISCARIOTES JUDAS TADEU JUMENTINHO JUSTIFICAÇÃO JUVENTUDE KARL BARTH KEN SCHURB KRETZMANN LAERTE KOHLS LAODICÉIA LAR LC 12.32-40 LC 15.1-10 LC 15.11-32 LC 16.1-15 LC 17.1-10 LC 17.11-19 LC 19 LC 19.28-40 LC 2.1-14 LC 23.26-43 LC 24 LC 24.13-35 LC 3.1-14 LC 5 LC 6.32-36 LC 7 LC 7.1-10 LC 7.11-16 LC 7.11-17 LC 9.51-62 LEANDRO D. HÜBNER LEANDRO HUBNER LEI LEIGO LEIGOS LEITORES LEITURA LEITURAS LEMA LENSKI LEOCIR D. DALMANN LEONARDO RAASCH LEOPOLDO HEIMANN LEPROSOS LETRA LEUPOLD LIBERDADE CRISTÃ LIDER LIDERANÇA LILIAN LINDOLFO PIEPER LINK LITANIA LITURGIA LITURGIA DE ADVENTO LITURGIA DE ASCENSÃO LITURGIA DE CONFIRMAÇÃO LITURGIA EPIFANIA LITURGIA PPS LIVRO LLLB LÓIDE LOUVAI AO SENHOR LOUVOR LUCAS ALBRECHT LUCIFER LUCIMAR VELMER LUCINÉIA MANSKE LUGAR LUÍS CLAUDIO V. DA SILVA LUIS SCHELP LUISIVAN STRELOW LUIZ A. DOS SANTOS LUTERANISMO LUTERO LUTO MAÇONARIA MÃE MAMÃE MANDAMENTOS MANUAL MARCÃO MARCELO WITT MARCIO C. PATZER MARCIO LOOSE MARCIO SCHUMACKER MARCO A. CLEMENTE MARCOS J. FESTER MARCOS WEIDE MARIA J. RESENDE MÁRIO SONNTAG MÁRLON ANTUNES MARLUS SELING MARTIM BREHM MARTIN C. WARTH MARTIN H. FRANZMANN MARTINHO LUTERO MARTINHO SONTAG MÁRTIR MATERNIDADE MATEUS MATEUS KLEIN MATEUS L. LANGE MATRIMÔNIO MAURO S. HOFFMANN MC 1.1-8 MC 1.21-28 MC 1.4-11 MC 10.-16 MC 10.32-45 MC 11.1-11 MC 13.33-37 MC 4 MC 4.1-9 MC 6.14-29 MC 7.31-37 MC 9.2-9 MEDICAMENTOS MÉDICO MELODIA MEMBROS MEME MENSAGEIRO MENSAGEM MESSIAS MÍDIA MILAGRE MINISTÉRIO MINISTÉRIO FEMENINO MIQUÉIAS MIQUÉIAS ELLER MIRIAM SANTOS MIRIM MISSÃO MISTICISMO ML 3.14-18 ML 3.3 ML NEWS MODELO MÔNICA BÜRKE VAZ MORDOMIA MÓRMOM MORTE MOVIMENTOS MT 10.34-42 MT 11.25-30 MT 17.1-9 MT 18.21-45 MT 21.1-11 MT 28.1-10 MT 3 MT 4.1-11 MT 5 MT 5.1-12 MT 5.13-20 MT 5.20-37 MT 5.21-43 MT 5.27-32 MT 9.35-10.8 MULHER MULTIRÃO MUSESCORE MÚSICA MÚSICAS NAAÇÃO L. DA SILVA NAMORADO NAMORO NÃO ESQUECER NASCEU JESUS NATAL NATALINO PIEPER NATANAEL NAZARENO DEGEN NEEMIAS NEIDE F. HÜBNER NELSON LAUTERT NÉRISON VORPAGEL NILO FIGUR NIVALDO SCHNEIDER NM 21.4-9 NOITE FELIZ NOIVADO NORBERTO HEINE NOTÍCIAS NOVA ERA NOVO HORIZONTE NOVO TESTAMENTO O HOMEM OFERTA OFÍCIOS DAS CHAVES ONIPOTENCIA DIVINA ORAÇÃO ORAÇAODASEMANA ORATÓRIA ORDENAÇAO ORIENTAÇÕES ORLANDO N. OTT OSÉIAS EBERHARD OSMAR SCHNEIDER OTÁVIO SCHLENDER P172 P26 P30 P34 P36 P40 P42.1 P42.2 P70 P95 PADRINHOS PAI PAI NOSSO PAIS PAIXÃO DE CRISTO PALAVRA PALAVRA DE DEUS PALESTRA PAPAI NOEL PARA PARA BOLETIM PARÁBOLAS PARAMENTOS PARAPSICOLOGIA PARECIS PAROQUIAL PAROUSIA PARTICIPAÇÃO PARTITURA PARTITURAS PÁSCOA PASTOR PASTORAL PATERNIDADE PATMOS PAUL TORNIER PAULO PAULO F. BRUM PAULO FLOR PAULO M. NERBAS PAULO PIETZSCH PAZ Pe. ANTONIO VIEIRA PEÇA DE NATAL PECADO PEDAL PEDRA FUNDAMENTAL PEDRO PEM PENA DE MORTE PENEIRAS PENTECOSTAIS PENTECOSTES PERDÃO PÉRGAMO PIADA PIB PINTURA POEMA POESIA PÓS MODERNIDADE Pr BRUNO SERVES Pr. BRUNO AK SERVES PRÁTICA DA IGREJA PREEXISTÊNCIA PREGAÇÃO PRESÉPIO PRIMITIVA PROCURA PROFECIAS PROFESSORES PROFETA PROFISSÃO DE FÉ PROGRAMAÇÃO PROJETO PROMESSA PROVA PROVAÇÃO PROVÉRBIOS PRÓXIMO PSICOLOGIA PV 22.6 PV 23.22 PV 25 PV 31.28-30 PV 9.1-6 QUARESMA QUESTIONAMENTOS QUESTIONÁRIO QUESTIONÁRIO PLANILHA QUESTIONÁRIO TEXTO QUINTA-FEIRA SANTA QUIZ RÁDIO RADIOCPT RAFAEL E. ZIMMERMANN RAUL BLUM RAYMOND F. SURBURG RECEITA RECENSÃO RECEPÇÃO REDENÇÃO REENCARNAÇÃO REFLEXÃO REFORMA REGIMENTO REGINALDO VELOSO JACOB REI REINALDO LÜDKE RELACIONAMENTO RELIGIÃO RENATO L. REGAUER RESSURREIÇÃO RESTAURAR RETIRO RETÓRICA REUNIÃO RICARDO RIETH RIOS RITO DE CONFIRMAÇÃO RITUAIS LITURGICOS RM 12.1-18 RM 12.1-2 RM 12.12 RM 14.1-12 RM 3.19-28 RM 4 RM 4.1-8 RM 4.13-17 RM 5 RM 5.1-8 RM 5.12-21 RM 5.8 RM 6.1-11 RM 7.1-13 RM 7.14-25a RM 8.1-11 RM 8.14-17 ROBERTO SCHULTZ RODRIGO BENDER ROGÉRIO T. BEHLING ROMANOS ROMEU MULLER ROMEU WRASSE ROMUALDO H. WRASSE Rômulo ROMULO SANTOS SOUZA RONDÔNIA ROSEMARIE K. LANGE ROY STEMMAN RT 1.1-19a RUDI ZIMMER SABATISMO SABEDORIA SACERDÓCIO UNIVERSAL SACERDOTE SACOLINHAS SACRAMENTOS SADUCEUS SALMO SALMO 72 SALMO 80 SALMO 85 SALOMÃO SALVAÇÃO SAMARIA Samuel F SAMUEL VERDIN SANTA CEIA SANTIFICAÇÃO SANTÍSSIMA TRINDADE SÃO LUIS SARDES SATANÁS SAUDADE SAYMON GONÇALVES SEITAS SEMANA SANTA SEMINÁRIO SENHOR SEPULTAMENTO SERMÃO SERPENTE SERVAS SEXTA FEIRA SANTA SIDNEY SAIBEL SILVAIR LITZKOW SILVIO F. S. FILHO SIMBOLISMO SÍMBOLOS SINGULARES SISTEMÁTICA SL 101 SL 103.1-12 SL 107.1-9 SL 116.12-19 SL 118 SL 118.19-29 SL 119.153-160 SL 121 SL 128 SL 142 SL 145.1-14 SL 146 SL 15 SL 16 SL 19 SL 2.6-12 SL 22.1-24 SL 23 SL 30 SL 30.1-12 SL 34.1-8 SL 50 SL 80 SL 85 SL 90.9-12 SL 91 SL 95.1-9 SL11.1-9 SONHOS SOPRANO Sorriso STAATAS STILLE NACHT SUMO SACERDOTE SUPERTIÇÕES T6 TEATRO TEMA TEMPLO TEMPLO TEATRO E MERCADO TEMPO TENOR TENTAÇÃO TEOLOGIA TERCEIRA IDADE TESES TESSALÔNICA TESTE BÍBLICO TESTE DE EFICIÊNCIA TESTEMUNHAS DE JEOVÁ Texto Bíblico TG 1.12 TG 2.1-17 TG 3.1-12 TG 3.16-4.6 TIAGO TIATIRA TIMÓTEO TODAS POSTAGENS TRABALHO TRABALHO RURAL TRANSFERENCIA TRANSFIGURAÇÃO TRICOTOMIA TRIENAL TRINDADE TRÍPLICE TRISTEZA TRIUNFAL Truco Turma ÚLTIMO DOMINGO DA IGREJA UNIÃO UNIÃO ESTÁVEL UNIDADE UNIDOS PELO AMOR DE DEUS VALDIR L. JUNIOR VALFREDO REINHOLZ VANDER C. MENDOÇA VANDERLEI DISCHER VELA VELHICE VERSÍCULO VERSÍCULOS VIA DOLOROSA VICEDOM VÍCIO VIDA VIDA CRISTÃ VIDENTE VIDEO VIDEOS VÍDEOS VILS VILSON REGINA VILSON SCHOLZ VILSON WELMER VIRADA VISITA VOCAÇÃO VOLMIR FORSTER VOLNEI SCHWARTZHAUPT VOLTA DE CRISTO WALDEMAR REIMAN WALDUINO P.L. JUNIOR WALDYR HOFFMANN WALTER L. CALLISON WALTER O. STEYER WALTER T. R. JUNIOR WENDELL N. SERING WERNER ELERT WYLMAR KLIPPEL ZC ZC 11.10-14 ZC 9.9-12