UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL
Professor: Rev. Paulo W. Buss
Disciplina: Sistemática II
Data: 27 de março de 2007
Aluno: Altamir dos Santos Pospichil / Gerson Daniel Bloch
Trabalho: Christology (cap.4 Nascimento Virginal de Cristo)
Um dos motivos pelo qual o nascimento virginal de Cristo é negado nos nossos dias é o fato de que a parte da narrativa onde se encontra este relato está presente apenas nos primeiros capítulos dos evangelhos de Mateus e Lucas. Capítulos estes que são considerados por muitos teólogos como acréscimos posteriores herdados da mitologia grega (Rudolf Bultmann). Dois fatos que dificultam esta teoria são os seguintes: na época em que Jesus viveu a influência grega na Palestina não era comum e Mateus ao escrever seu evangelho compreende o nascimento virginal de Cristo como uma profecia encontrada em Isaias 7.14.
A teoria de Bultmann com respeito ao nascimento virginal não ser verdadeiro vem acompanhada da teoria de que Marcos foi o primeiro evangelho a ser escrito, e por esta razão não teria a narrativa do nascimento virginal. Esta teoria tomou tanta força que até mesmo teólogos conservadores se forçaram a dizer que o nascimento virginal não interviria em nada na concepção da divindade de Cristo. Esta questão causou grande discórdia e chegou a ser ponto de divergência entre certas denominações.
No séc. XIV a Teologia Confissional Luterana passou a ver como essencial o nascimento virginal de Jesus para confirmar a cristologia, o que levou a uma reformulação do credo, reformulação esta que se tratou da distinção entre nascimento e concepção (concepção = Espírito Santo / Nascimento = Maria).
Diante de tantos questionamentos contra o nascimento virginal de Cristo, levanta-se uma questão: Realmente apenas Lucas e Mateus testemunharam, ou até mesmo tiveram conhecimento do nascimento virginal? Esta questão levou os estudiosos a buscarem mais confirmações bíblicas fora de Mateus e Lucas a respeito do nascimento virginal.
O primeiro livro a se buscar apoio foi o de Gálatas, que é considerado um dos quatro primeiros escritos do Novo Testamento sobre o qual, não há dúvida que é de autoria Paulina. Paulo faz referência ao nascimento de Cristo quando ele escreve em Gl 4.4 que “Deus enviou Seu Filho, nascido de uma mulher...” Para os Judeus a herança vem da parte do pai e não da mãe e então a expressão de Paulo é mais notável na época, do que os leitores do séc. XX são capazes de perceber. Na mesma seção Paulo fala dos Cristãos como a descendência de Abraão, e não de Sara, se Paulo tivesse conhecimento de que Jesus tinha um pai humano, isto certamente teria sido apropriadamente mencionado por Paulo nestes pontos. Mas ele não o faz! Jesus é dito ser nascido de uma mulher, uma referência que fundamenta ambos, o Nascimento Virginal e a promessa da Gn 3.15, onde é prometido o “Ajudador” nascido não de homem, mas da semente da mulher, uma expressão muito incomum considerando a cultura em que é originada.
Se o nascimento virginal não faz parte da cultura cristã primitiva de onde veio então? Bultmann afirma que se trata de uma influência da cultura grega acrescentada para fundamentar a sobrenatural origem de Jesus Cristo. Alexandre o Grande, que viveu quatro séculos antes de Jesus, e Julio César que viveu um século anterior a Jesus, ambos eram ditos ser nascidos de virgens. Imperadores Romanos eram então considerados como divinos e enquanto eles viviam, eram ditos ser os mediadores de Deus. No entanto, para que a tradição do nascimento virginal fosse uma influência grega teríamos que considerar uma influência cultural grega na mais primitiva sociedade judaica do primeiro século, o que poderia ser resultado da influência dos imperadores.
Porém a teologia encontrada nos livros de Mateus e Lucas é em sua essência judaica, já Marcos, João e Paulo elaboraram em seus escritos uma teologia mais grega. Diante disso, por que encontraríamos em Mateus e Lucas influências gregas e não nos outros autores?!
Para termos uma melhor visão da questão podemos ver o que o próprio Jesus prega a Seu respeito.
A grande seção das parábolas (Mt 13; Mc 4) começa com a mãe e irmãos de Jesus desejando uma audiência com Ele (Mt 12.46; Mc 3.30). Jesus fala a eles sobre a Sua nova família, composta de mãe e irmãos, que são Seus discípulos e seguidores. No entanto, Jesus não menciona um substituto para o Seu pai terreno, visto que nem poderia por não tê-lo.
Os judeus afirmam que Ele é filho de José (Jo 6.42). A isto Jesus não responde diretamente, mas continua a falar de Seu Pai como o único que designa aqueles que vêm para Ele (Jo 6.45). Estas seções em Mateus, Marcos e João, pressupõem que Jesus sabia que Ele não tinha um pai terreno e mostra que as questões de sua origem surgiram já durante Seu ministério.
Lucas enfatiza que Jesus é concebido, com um anuncio do anjo Gabriel e a chegada do Espírito Santo. Já Mateus enfatiza que José não é o pai, por abrir a narrativa com sua reflexão sobre a gravidez de Maria. José primeiramente tem em mente um divórcio, idéia da qual ele desiste após a interferência de um anjo do Senhor.
O fato dos evangelistas enfatizarem o nascimento virginal mostra que já no primeiro século a questão de uma suposta gravidez ilegítima de Maria teria vindo à tona. O mesmo assunto foi levantado novamente no segundo século por Celsus, um oponente do Cristianismo, que foi respondido por Orígenes.
Além de Celsus temos os Ebionitas, que resolveram suas negações do nascimento virginal eliminando o primeiro e o segundo capitulo de Mateus, na verdade os Ebionitas rejeitaram o nascimento virginal simplesmente porque eles não queriam reconhecer Jesus como o Filho de Deus.
A questionável circunstância rondando o nascimento de Jesus pode ter sido usada para tirar crédito de Deste já no seu tempo de vida. Claramente essas objeções surgiram antes de ser escrito o evangelho de Mateus às quais provavelmente este evangelho foi também endereçado. Mateus não está introduzindo coisas novas que seus leitores nunca haviam ouvido antes. Francis Pieper corretamente observa que a igreja cristã desde o início acreditava e confessava que Jesus Cristo foi concebido pelo Espírito Santo e nascido da virgem Maria (Credo Apostólico). Se Mateus tivesse proposto uma novidade, teria sido rejeitado como herético.
O fato de que os primeiros filhos de José se chamavam Tiago e José (Mt 13.55) o nome do pai de José e do próprio José (Mt 1.16) também faz defesa ao nascimento virginal. Há indicações de que estes filhos tinham uma relação com José, a qual Jesus não tinha. O Nascimento Virginal demonstra que Jesus é Deus (Mateus) e o Filho de Deus (Lucas), este é o sinal que foi prometido por Deus através do profeta Isaias (7.17).
O nascimento virginal torna-se de vital importância no momento em que se põe em dúvida o que Deus pode fazer, no entanto em outros casos ele não parece de vital importância.
Os gnósticos asseguraram que Jesus tinha vindo completamente do céu, instalado por fora com um corpo especialmente criado. Se este fosse o caso ele não poderia ser de nossa carne e osso (Hb 2.14). Considerando uma outra opção, se Jesus tivesse sido concebido por um meio comum, ele poderia ter sido então completamente como nós, o que poderia ter resultado em desprezo unânime. Por sua origem completamente terrena.
Embora ele tenha nascido na semelhança do homem (homem pecador), Ele não teve pecado nenhum como parte de seu ser. Paulo dedica o seguinte assunto em Rm 8.3 “Deus enviou Seu Filho na semelhança de carne pecaminosa”. No Novo Testamento, carne faz referência à humanidade em oposição a Deus. Jesus possui nossa humanidade, mas diferente de nós, Ele seguiu as regras (Leis) por toda sua vida com nenhuma oposição a Deus. Sua concepção pelo Espírito e Seu nascimento da virgem Maria estabeleceu-o como mediador universal entre Deus e os Homens, entre o céu e a terra. Como o “segundo Adão”, Jesus restaurou o que havia sido perdido como um resultado do pecado do primeiro Adão (Rm 5.15). Com o nascimento virginal como o sinal de desígnio do que Jesus é então a ressurreição serviu como o sinal da aprovação divina que Jesus teve. Juntos eles serviram como o pilar fundamental de uma Cristologia que confessa que Jesus como Filho de Deus, ofereceu a si mesmo como um aceitável sacrifício para o Pai.
O nascimento virginal é também um sinal do divino monergismo no trabalho de conversão. Deus então trabalha sozinho, envia Seu Filho através do Espírito Santo, e é Ele o Filho que dará ao pecador o passe para a vida eterna.
Algo semelhante é encontrado no evangelho de João onde o nascimento de Cristo e o nascimento espiritual de um cristão, são entrelaçados. Ao serem batizados os cristãos tomam parte dos resultados da obra de Cristo, por isso pode se dizer que nascem novamente em Deus (Jo 1.13).
A menos familiar, mas ainda amplamente atestada variante de leitura de Jo 1.13, traz que os filhos de Deus são aqueles “que acreditam no nome Dele (Jesus), que foi nascido não do sangue, nem de carne nem de um homem, mas de Deus”. A segunda leitura se refere a Jesus que não tem um Pai humano, mas Deus é Seu Pai. Assim, é capaz de se encontrar um apoio para o nascimento Virginal no evangelho de João apesar da afirmação de alguns de que o nascimento virginal possui apenas apoio em Mateus, e Lucas.
Uma interpretação semelhante poderia adequar-se agradavelmente com a seguinte passagem “e o Verbo se fez carne”. A composição pode ser entendida, “o único que não teve um homem, como pai, mas Deus tornou-se um homem Santo e Justo por nós. ” Isto também faria uma clara distinção entre Encarnação e a Humilhação. Esta distinção é expressa no credo Niceno com as seguintes palavras, “Aquele que foi concebido pelo Espírito Santo da Virgem Maria e se Fez Homem”.
Neste ponto em discussão do nascimento virginal, nós temos que discutir entre a humilhação de Cristo e Sua concepção e nascimento. A impressão é frequentemente dada e recebida de forma que sua humilhação consiste no fato Dele ter nascido. Mas este não é o caso. O ponto alto da humilhação de Jesus encontra-se na cruz e não no Seu nascimento, e na cruz Cristo coloca Sua majestade de lado ocultando-a por certos momentos, como testemunham os apóstolos e Lutero.
Se Cristo não tivesse aberto mão de Sua divindade no momento de Sua humilhação, Ele teria que abdicar de Sua humanidade tornando impossível uma posterior ressurreição do Seu corpo. Na cruz há controvérsias, se a natureza humana de Cristo foi dada atributos divinos. A reforma recusa as propriedades e atributos divinos na natureza humana e vice-versa.
Nisso foi baseada a filosofia que levou a rejeição em acreditar que Cristo é presente, segundo Sua natureza humana, no pão e no vinho do Sacramento.
Cristo brilhou com toda Glória de Deus (morfh tou qeou) e assume a aparência de um servo (morfh tou doulou) e nesta humilde forma, em que Ele não era reconhecível como Deus, ele foi posto para morrer por crucificação. Este homem, cuja aparência humana não deixou pistas de que Ele era Deus, foi exaltado por Deus por sua obra redentora. Segundo Sua natureza humana Cristo é exaltado por Deus, esta cristologia, em que Deus glorifica Seu leal servo é comum em todo o Novo Testamento.