Pós-modernidade, evangelizaçao e o papel do Espírito Santo
Dialogar ou proclamar autoritativamente? Um dilema para a Igreja! Pelo menos, para urna Igreja que vive nestes tempos conhecidos como "pósmodernos". Pensamento holístico, pessimismo quanto a possibilidade de existir uma verdade absoluta, pluralismo relativista são algumas das características apontadas para o nosso tempo. Stanley J. Krenz, em seu livro Pós-modernismo: um guia para entender a filosofia de nosso tempo (trad. de Antivan Guimarães Mendes. São Paulo: Vida Nova, 1997), aponta para o desafio que o espírito da época coloca ao cristianismo:
A consciência pós-modema ... enfatiza o grupo. Os pós-modemos vivem em grupos sociais independentes, cada um dos quais possui sua própria linguagem, suas crenças e seus valores. Conseqüentemente, o pluralismo relativista pós-modemo procura dar espaço a natureza 'local' da verdade. As crenças são consideradas verdadeiras no contexto das comunidades que as defendem. ... as crenças são, em última análise. uma questão de contexto social ... (p. 33,34).
Num contexto destes, o diálogo - não a proclamação - é visto como condição sine qua non para a missão da Igreja, que não quer se privar do contato com ideologias teológicas diversas, que proliferam por todas as partes.
Klaus D. Schulz, missionário em Serowe Bostwanna, na África, mostra que o relativismo religioso se apresenta hoje de uma forma mais politicamente correta para quem é zeloso pelos conceitos cristãos, mas que se sente obrigado a ter uma atitude mais aberta em relação a crenças pagãs. Em seu artigo "Tensão na Pneumatologia do Conceito da Missio Dei," (Concordia Journal, abril de 1997, p. 99-1 07), Schulz mostra que muitos estudiosos da missiologia, "que têm corretamente relacionado a missão ao Terceiro Artigo do Credo, começaram a atacar o ofício e obra do Espírito Santo, no que se relaciona a Cristo e a Igreja" (p. 103). Com isso, mostra Schulz, alguns (citados por ele) têm afirmado que o Espírito Santo está presente e ativo em outras crenças, fora da proclamação de Cristo. Dai que a missão da Igreja deixa de ser um proclamar daquilo que está concluído Evangelho) e tende a ser um "diálogo inter-religioso".
Um exemplo de tal abordagem aparece no artigo "Há salvação nas religiões não-cristãs?", do pastor presbiteriano de Cuba, Carlos M. Camps, na revista Tempo e Presença, de marçolabril de 1997. Ali o autor afirma: "Devemos descobrir a dimensão holística do conceito Povo de Deus sem reduzi-lo ao conceito estreito de Igreja de Jesus Cristo". E conclui: "Deus está presente de forma salvífica em diversas mediações culturais, raciais e religiosas" (p. 41). Mais exemplos podem ser encontrados no exemplar de marçolabril de Contexto Pastoral, onde teólogos (incluindo uma pastora e um pastor luteranos!) dão o depoimento de que "convivência e diálogo' são o fundamental na Missão (esp. p. 5-8).
A base da Escritura e das Confissões Luteranas, Klaus Schulz ousa afirmar - contra o espírito da época - que a "tarefa da Igreja, em última análise, não é dialogar, mas proclamar" e isto deriva da própria natureza do evangelho, "que não meramente transmite informação, mas é uma palavra com autoridade divina e poder para dar, criar e realizar fé e salvação" (p. 106). Convém perguntarmos até que ponto nos disporemos a assumir uma atitude aparentemente amorosa, compreensiva e de diálogo, com o custo de desprezar o escândalo da particularidade (1 Co 1.18-23; At 4.12)! Escândalo este, porém, que é "o poder de Deus, para a salvação de todo aquele que crê". Por certo, ao proclamar a mensagem da redenção, a Igreja não assume posição de jugo sobre os povos não-cristãos. Infelizmente a História tem apresentado situações onde evangelização foi sinônimo de violência e enculturação. No entanto, no plano do Senhor da Missão, a Igreja proclama humilde, mas corajosamente, o que lhe foi dado para anunciar, verdade esta que nem mesmo lhe pertence. Ela o faz com autoridade, não intrínseca, mas a autoridade daquele que salva por Cristo e estabelece um mandato para Seu povo no mundo (1 Pe 3.15,16). O Espírito atua onde e quando quer, sim, mas é o Espírito do Filho (G14.6), que é enviado pelo Filho e proclama Sua obra (Jo 15.26). É na proclamação da obra de Cristo, como único e suficiente Salvador, que encontramos o Espírito Santo; e é nisso que consiste a missão. Talvez em oposição ao espírito pós-moderno, mas no poder do Espírito eterno.
Gerson Luis Linden