(Publicado em Vox Concordiana - 1997)
Ministério Feminino - Anotações a Partir do Novo Testamento[1]
Gerson Luis Linden
INTRODUÇÃO
Uma das mais belas descrições da Igreja cristã e do Ministério é aquela encontrada no livro do Apocalipse, já no seu início: “...vi sete candeeiros de ouro, e, no meio dos candeeiros, um semelhante a filho de homem ...Tinha na mão direita sete estrelas ... Quando o vi, caí a seus pés como morto. Porém ele pôs sobre mim a sua mão direita, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último, e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte e do inferno. ... quanto ao mistério das sete estrelas que viste na minha mão direita, e os sete candeeiros de ouro, as sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candeeiros são as sete igrejas.” (Ap 1.12,13,16,17,18,20) O Senhor ressurreto, que dera Sua vida em resgate da humanidade, pela Sua ressurreição abre as portas do céu para o pecador. Em Sua graça, constitui um povo para Si, o povo em meio ao qual Ele próprio anda; povo que Ele consagra através de Sua presença na proclamação da Palavra e pelo Seu corpo e sangue, distribuídos com o pão e o vinho. Ele é o Senhor da Igreja. Também é o Senhor do santo Ministério. O Ministério está em Suas mãos, é Sua instituição, Lhe pertence. Nem à Igreja, nem ao ministro, propriamente, pertence o sagrado ofício do santo Ministério, mas unicamente a Cristo.
O tema que temos diante de nós é reconhecidamente polêmico. Não há sobre ele unanimidade na cristandade. Duas grandes denominações cristãs, a Igreja Católica Apostólica Romana, e a Igreja Ortodoxa (Oriental), colocam-se em posição contrária à ordenação de mulheres para o ofício do ministério pastoral (“sacerdotal”). Por outro lado, um número crescente de denominações “Evangélicas” passa a ter o ministério feminino em seu meio. Neste último grupo estão, inclusive, representantes do luteranismo, seja na América, seja na Europa, inclusive no maior Sínodo Luterano no Brasil, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. A Igreja Evangélica Luterana do Brasil, juntamente com sua igreja-mãe-irmã (o Sínodo de Missouri), mantém-se, neste aspecto, mais próxima do Catolicismo tradicional.[2]
Sendo este um assunto onde a cristandade (também) está dividida, convém abordá-lo em humildade. No entanto, a pergunta do teólogo sempre busca resposta no “Assim diz o Senhor.” Encontrando-a, deve ser ousado em afirmá-la ou, mais propriamente, confessá-la.
I. ANOTAÇÕES SOBRE O OFÍCIO DO SANTO MINISTÉRIO
Tem sido observado no debate quanto ao ministério feminino que um dos fatores decisivos para determinar a posição adotada é a consideração que se dá ao ofício do santo Ministério.[3] Se se considera o ministério como uma emanação do sacerdócio universal de todos os cristãos, ou um adiáforo, sobre o qual a igreja pode optar ter ou não, fica mais fácil considerar-se uma mudança em relação à prática histórica da igreja cristã. Os luteranos têm tradicionalmente considerado o ministério como instituição de Deus, para ensinar o evangelho e administrar os sacramentos, pelos quais o Espírito Santo é dado, assim que a fé em Cristo seja operada (Confissão de Augsburgo V). Ao tratarmos da questão do ministério feminino, é mister que nos posicionemos quanto ao conceito de Ministério no Novo Testamento.
A fim de se ter clareza quanto ao ofício do santo Ministério, algumas anotações são agora apresentadas, baseadas no parecer da Comissão de Teologia e Relações Eclesiais, da “The Lutheran Church - Missouri Synod”, de Setembro de 1981, sobre o Ministério.[4]
“O ofício do ministério público não é simplesmente uma sugestão divina, mas um mandato divino. Deus determinou que a igreja deveria executar suas funções não apenas através de ações privadas, individuais, mas também pelo falar corporativo, selecionando homens em conformidade com os critérios divinos e a quem Ele então coloca no ofício do ministério público.
“O ofício e suas funções são chamados de ‘públicos’ não porque suas funções sejam sempre desempenhadas em público, mas porque são realizadas em nome da igreja. ... Além disso, a palavra ‘público’ tem a conotação de responsabilidade perante aqueles que o colocaram no ofício ‘público’.
“A partir destas referências[5], emerge a figura de um ofício que foi instituído por Deus, em e com o apostolado, para o qual qualificações bem específicas são listadas, e cuja essência é definida propriamente na Confissão de Augsburgo, como “ensinar o evangelho e administrar os sacramentos” (CA V), em nome e com responsabilidade perante a igreja (‘publicamente’) (CA XIV).
“Deve-se fazer uma distinção entre ‘ofício’ e ‘função’. A falha em fazer tal distinção resultará em confusão. Por exemplo, quando uma congregação está temporariamente sem um homem para preencher o ofício do ministério público em seu meio, ela pode solicitar que um professor ou um líder leigo, devidamente supervisionados, realizem algumas funções do ofício do ministério público. Isto é feito em situação de emergência e não como simples conveniência. Entretanto, a execução de tais funções não torna aqueles que as realizam pessoas que estejam no ofício do ministério público. Mesmo em tais situações de emergência, a congregação solicita que um homem que ocupe o ofício do ministério público e esteja servindo como pastor em uma congregação vizinha, que ele assuma aquele ofício junto a eles, como ‘pastor em vacância’ ou ‘supervisor[6] interino.’ Assim, a supervisão e responsabilidade continuam com alguém a quem a igreja chamou e designou como pastor e que supervisiona aqueles que temporariamente desempenham algumas funções pastorais.”[7]
II. EXAME DE TEXTOS DO NOVO TESTAMENTO
1. O Exemplo de Jesus
Diz-se que Jesus rompeu com Sua época, no que tange ao papel da mulher, dando a elas uma dignidade que não encontraram em nenhuma sociedade da época.[8] Isto é fato manifesto, primeiro, na maneira direta como se referia a elas; segundo, por ter considerado importante que também as mulheres fossem instruídas na palavra de Deus; terceiro, a presença delas nos momentos centrais da história da salvação, como testemunhas da morte e da ressurreição do Senhor (Mt 27.55,56; 28.1-10). Um fato especialmente significativo é que as mulheres o acompanhavam, servindo-o com seus bens. Pode-se dizer que também mulheres o seguiam como discípulas[9], que aprendiam dele, eram orientadas, consoladas e dirigidas com a pregação do reino. Isto está bem de acordo com Gl 3.28, “nem homem, nem mulher.”
Quanto ao “discipulado” de mulheres em relação a Jesus, é importante notarmos algumas distinções que os evangelhos assinalam. Tal procedimento se revela particularmente importante, visto que por vezes argumenta-se que também a mulheres se aplica o verbo que, segundo se diz, caracterizaria o discipulado em preparação ao ministério.[10]
Tomamos como base o Evangelho conforme Mateus, que caracteriza com muita exatidão os diversos personagens e grupos envolvidos com Jesus.[11] Pode-se notar claramente a existência de pelo menos quatro grupos, distintos pela forma como se relacionam com Jesus e Seu ministério. Há os que rejeitam a Jesus. Estes são especialmente representados pelos sacerdotes e escribas. A caracterização destes é suficientemente clara, sem haver necessidade de apontar para uma linguagem específica aplicada somente a eles.
Outro grupo são as multidões (). Estes acompanham Jesus, o seguem - o verbo é usado algumas vezes aplicado às multidões, simplesmente no sentido físico de ir atrás de alguém.[12] Em um determinado ponto do Evangelho estas multidões deixam a Jesus, ficando demonstrado que seu vínculo com ele é superficial.
Um terceiro grupo é aquele caracterizado como de discípulos de Jesus (). A este grupo pertencem aqueles que seguem Jesus, mas, diferentemente das multidões, crêem nele e se apegam a Ele e ao Seu ensino. Exemplos destes encontramos em Mt 13.52;[13] 27.57;[14] 28.19.[15]
Há, ainda, um quarto grupo, muito claramente descrito nos evangelhos, o grupo dos doze ().[16] Estes não somente seguem a Jesus e nele crêem,[17] mas são descritos como pessoas preparadas para um trabalho especial. Estes são caracterizados como aqueles que serão “pescadores de homens” (Mt 4.18-22). Logo após Jesus pedir que se rogue por “trabalhadores na seara”, ele demonstra o que quer dizer com isto, ao convocar os doze - que recebem um novo nome, - dando-lhes autoridade e enviando-os a pregar (Mt 9.35-10.7). São também estes os convocados por Jesus para se encontrarem com Ele após a ressurreição. Lá eles são constituídos como aqueles que, firmados na autoridade de Jesus e com a promessa de Sua presença, aplicarão os meios que Ele concede, para que pessoas sejam feitas discípulas.[18] É especialmente curioso que foram mulheres as primeiras a verem Jesus ressurreto e falarem com Ele. É um destaque que, por vezes, deixamos de notar. Que dádiva o Senhor lhes concedeu, de serem testemunhas - as primeiras - de Sua ressurreição. No entanto, as mulheres devem dizer aos onze discípulos que Jesus os convoca; e é a eles, e somente a eles, que Cristo dá o comissionamento (Mt 28.9,10,16-20). Vale lembrar que também mulheres seguiam a Jesus (Mt 27.55 - ), não como as multidões, mas como aqueles que caracterizamos como o terceiro grupo. No entanto, nenhuma delas foi convocada para ser apóstola e, conseqüentemente, nenhuma foi constituída para batizar e ensinar (), como os doze. Note-se que no livro de Atos, quando a (assim chamada) “grande comissão” acontece na prática (At 2), quando a congregação estava reunida (At 2.1), com a presença de mulheres (At 1.12-15), são os doze que se levantam para proclamar o evangelho publicamente, a partir do que veio o batismo (At 2.38-41) e o continuado ensino dos apóstolos (At 2.42).
Com estes dados podemos notar que não é apenas nas epístolas que se evidencia a presença de um grupo na igreja que deve pregar e ensinar (1 Co 3.5-9; 4.1,2; 2 Co 5.20-6.3; 1 Tm 3.1ss; etc.). Isto já fica claro nos Evangelhos, quando um grupo é constituído por Jesus, dentre os que o seguem,[19] para ministrarem às multidões, na verdade, para todos os povos. E a este grupo não pertencem mulheres. Estas não são diminuídas em seu valor por este fato. Na verdade, os Evangelhos mostram que na história da salvação, elas têm a dádiva de estarem presentes nas situações-chave do ministério de Jesus, sua morte e ressurreição.[20] Talvez é importante lembrar que, como povo de Deus, sempre temos muito mais a receber do que dar para o nosso Deus. Quando as mulheres recebem a oportunidade de presenciarem a morte e serem testemunhas do Cristo ressurreto, isto não deve ser encarado como um status especial, mas como uma dádiva do Senhor, que é tão rico em abençoar os Seus. Da mesma forma, o ministério para o qual homens são chamados não deve ser encarado como “privilégio” (no sentido usual da palavra em nosso contexto social). É um serviço, onde são chamados a servir a Cristo e às pessoas (At 1.25; 6.4; 1 Co 3.21-23).
Com as observações acima, notamos que o Senhor não chamou nenhuma mulher para o apostolado. A nenhuma enviou.[21] Poder-se-ia dizer que este é um argumento do silêncio e, portanto, fraco. Fica, no entanto, ainda assim uma questão intrigante. Teria o Senhor, que tão corajosamente rompeu com Sua época em vários aspectos em relação à mulher, teria Ele evitado uma explícita referência à mulher como apóstola (“ministra”), simplesmente para que a igreja chegasse a esta conclusão? Ou deveria Seu exemplo, em não preparar mulheres para o ministério, ser levado mais à sério pela igreja, de modo que esta não rompesse o que o Senhor não rompeu - justamente pelo fato de o assunto não tratar de costume da sociedade, mas de ordenação divina?!
É a posição deste estudo que, mesmo se tivéssemos apenas os dados dos Evangelhos sobre o ministério, faríamos bem em ser cautelosos (humildes) num assunto que envolve quebra de uma prática histórica da igreja. O fato, porém, é que há textos específicos a respeito do assunto e, a menos que assumamos uma posição histórico-crítica em relação à Escritura, teremos de considerá-los com a devida seriedade, como imperativos à igreja.[22]
2. 1 Coríntios 14.33b-35
Algumas observações preliminares se fazem necessárias para um bom entendimento do texto.[23] Primeiro, Paulo não está tratando aqui de algum costume ligado à época ou ao local a que se dirige.[24] O assunto lida especificamente com algo que é obrigatório para a igreja em toda a parte e em todas as épocas. O imperativo presente do v. 34, , está ligado ao do v. 33b.[25] Segundo, a questão envolve o culto da igreja. O contexto em 1 Coríntios 14, especialmente desde o v. 26, deixa claro que Paulo está falando do contexto do culto público.[26] A proibição de “falar”, portanto, deve estar circunscrita ao culto, independente de como se interpreta neste texto.
A questão básica neste texto é o sentido de “calar-se”, ou seja, o não ser permitido falar para a mulher. Um exame das duas expressões em questão aponta para a solução. É preciso estarmos cientes que uma expressão “calar-se” é explicada pela outra, “não lhes é permitido falar”.
A respeito de , diz Walter Maier, levando em conta o uso do verbo nos outros textos do NT:
O que este comando significa precisamente? Deve ele ser entendido de forma absoluta, assim que signifique que as mulheres não podem unir suas vozes em responsos litúrgicos, na confissão de fé, nas orações e em cânticos durante o culto? Ou, se não for assim, de que forma tal comando deve ser entendido? A primeira coisa que pode ser assinalada é que em diversos outros textos do Novo Testamento nos quais formas do verbo sigaoo ou do substantivo sigee aparecem, não está envolvido um silêncio absoluto. Pode ser observado, então, que, quando estas palavras gregas significam o cessar de falar, em numerosos contextos Jesus, ou um apóstolo, ou outro cristão está comunicando a palavra de Deus a um grupo de pessoas, e os ouvintes ficam em silêncio de forma a apreender o que é dito, ou permanecem em silêncio por causa do que foi dito. Não está indicado que haverá um silêncio total dos ouvintes em todo o tempo em que estão em contato com aquele que lhes comunica a palavra divina naquela ocasião. Assim também, pessoas participando dos cultos no tempo de Paulo ficavam em silêncio quando a palavra de Deus era lida e pregada, mas eles (incluindo as mulheres) podiam participar e efetivamente participavam nos responsos litúrgicos, no cantar de hinos e nas orações durante o culto congregacional. Esta mesma coisa é verdade para os adoradores em nosso tempo.[27]
É interessante notar que o mesmo verbo, usado mais duas vezes no contexto, aparece aqui com um uso não qualificado, ou seja, não é especificado o que as mulheres estão proibidas de falar. No v. 28, o verbo se referia ao falar em línguas - calar-se quando não há intérprete; no v. 30, ao profetizar - calar-se quando a revelação vem a alguém outro. No texto em estudo, o referente parece ser algo além do profetizar ou do falar em línguas. Estes são dons especiais que Deus concede à Igreja, através de algumas pessoas. O texto de 1 Co 11.5 indica que também mulheres estão aí incluídas (particularmente no profetizar). A proibição de Paulo pode ser explicada de duas maneiras diferentes. Primeira, referindo-se a conversas paralelas das mulheres, durante o culto da congregação. Tal interpretação combina com o que é dito no v. 35. Estava ocorrendo o problema na congregação de Corinto. Paulo, então, para o bem do culto público, ordena que as mulheres se calem e façam as perguntas em casa, aos esposos. Esta é a interpretação oferecida pelo Dr. Donaldo Schüler:
...o verbo laleo significa, quando se refere ao falar de adultos, comunicar-se com intimidade. Se o apóstolo se refere a esse modo de falar no v. 34, pode-se fazer idéia do que acontecia nas reuniões cristãs em Corinto. Enquanto alguém profetizava, falava em línguas ou expunha as Escrituras, ouviam-se cochichos na assembléia. Eram senhoras que pediam explicações aos seus maridos, de modo familiar e íntimo. Essa prática o apóstolo proíbe com toda justiça. Esposas que desejam maiores informações de seus maridos, perguntem em casa.[28]
Para o nosso estudo em questão, é importante ressaltar que, se esta for a explicação correta, mesmo não se referindo ao exercício do ofício do ministério, seria estranha a ordem de Paulo, em uma situação em que as mulheres pudessem, tanto quanto os homens, dirigir os cultos da congregação, como pastoras. Além disso, tal interpretação contemplaria uma tratativa do apóstolo para um problema específico nos cultos em Corinto, isto é, a conversa das mulheres. No entanto, como já vimos, o texto todo tem uma amplitude maior, aplicando-se à igreja como um todos (“em todas as igrejas dos santos” - v. 33).
Investigaremos o uso do verbo por Paulo para verificar se há outra possibilidade na exposição do texto. O verbo é empregado trinta e quatro vezes em 1 Coríntios. Em doze ocasiões, refere-se ao “falar em línguas”, estando ligado a (a maior parte, no plural, ), todas as ocasiões entre 12.30 e 14.39.[29] Neste mesmo contexto, o verbo é empregado junto com “profetizar” ou de forma mais genérica, mas ainda falando às pessoas (ou a si mesmo) a mensagem de Deus (doze ocasiões).[30] Em seis ocasiões, Paulo refere-se ao seu próprio falar, anunciando a palavra de Deus, como apóstolo do Senhor, instruindo o povo de Deus.[31] O verbo ainda é usado uma vez referindo-se a alguém que fala pelo Espírito de Deus (12.3 - contexto dos dons espirituais). E em apenas uma vez, o verbo é empregado no seu sentido clássico, de falar como criança (13.11). As duas outras ocasiões são aquelas no texto em estudo. Em 2 Coríntios, o verbo é sempre empregado (dez ocasiões) em referência a Paulo (algumas vezes no plural, incluindo Timóteo - 2 Co 1.1), anunciando às pessoas a palavra apostólica.[32] Nas outras dezesseis ocasiões em que Paulo utiliza o verbo, em algumas delas o faz para referir-se à sua proclamação e em outras, sem um uso qualificado.
Se, por um lado, não podemos afirmar que Paulo sempre utiliza o verbo como um termo técnico para a proclamação da Palavra (e, ainda mais, por um ministro constituído), por outro lado, é inegável que o verbo é, na maioria das vezes, empregado neste sentido. Ainda mais, o uso do verbo em Paulo não recomenda a interpretação do mesmo no texto em estudo com referência a “cochichos” (cf. Donaldo Schüler). Walter A. Maier dá especial atenção ao contexto imediato e à relação entre os verbos e , concluindo:
Vemos nestas passagens [vv. 26-32] que o verbo certamente significa maneiras especiais de falar, em um culto - em línguas ou em profecia - e que estes tipos de fala são colocados em contraste com o oposto de cada um deles, isto é, manter-se em silêncio, sendo que então se utiliza uma forma do verbo . A importância, pois, da diretiva de Paulo para que as mulheres permaneçam em silêncio nos cultos é, de acordo com o contexto imediato e decisivo, que elas não hão de falar daquela maneira específica, isto é, em línguas ou em profecia; que elas não, uma após a outra, falem em línguas ou sejam profetizas que comuniquem a palavra de Deus aos outros presentes no culto, servindo de mestres da verdade aos homens.[33]
Nesta explicação do texto, conclui-se por uma referência ao exercício do ofício público do ministério. O problema desta interpretação é que ela parece excluir a possibilidade de a mulher profetizar, que Paulo entende ser possível (11.5). A solução pode estar na distinção entre o profetizar e o falar na igreja como pastor. Sobre isto trataremos mais adiante.
Por hora, é importante notar algumas observações feitas pelo parecer da Comissão de Teologia e Relações Eclesiais da LC-MS, “Women in the Church”, tratando destas questões.[34]
“À primeira vista, a colocação de Paulo, de que a mulher ora e profetiza (1 Co 11.5) parece estar em contradição com o comando ao silêncio em 1 Co 14. Os comentaristas têm oferecido diversas soluções para as dificuldades que surgem quando 1 Co 11 é comparado com 1 Co 14. Uma solução proposta é que deve-se fazer uma distinção entre dois tipos de encontros da Igreja nestes capítulos. Um deles seria em família, um encontro em que a igreja não está toda presente (Capítulo 11); o outro seria o encontro de toda a congregação (capítulo 14). Outra solução enfatiza a distinção entre dois tipos de fala. De acordo com esta explicação, ‘falar’ no capítulo 14 significa ‘fazer perguntas,’ enquanto que no capítulo 11 refere-se à fala em êxtase. Possivelmente não se pode ter clareza completa a respeito. Entretanto, as seguintes conclusões podem ser tiradas.
“Primeiro, que Paulo não está ordenando um silêncio absoluto é evidente do fato que ele permite o orar e o profetizar em 1 Co 11. O silêncio ordenado para as mulheres em 1 Co 14 não impede o orar e profetizar. Assim, o apóstolo não está dizendo que as mulheres não podem participar no cantar e orar da congregação. Deve-se notar o uso de Paulo do verbo laleo para ‘falar’ em 1 Co 14.34, que significa freqüentemente ‘pregar’ no NT (por exemplo, Mc 2.2; Lc 9.11; At 4.1; 8.25; 1 Co 2.7; 2 Co 12.19; Fp 1.4). Paulo não usa lego, que é um termo mais geral. (O argumento de que Paulo tem um significado diferente em mente e que ele usa o verbo aqui para proibir cochichos que perturbavam a ordem, é extremamente improvável.) Quando laleo tem um significado outro do que discurso religioso ou pregação no Novo testamento, isto é normalmente feito pelo uso de um objeto ou advérbio (por exemplo, falar como uma criança - 1 Co 13.11; falar como um tolo - 2 Co 11.23). Segundo, deve-se enfatizar que a proibição de Paulo, que as mulheres fiquem em silêncio e não falem, é feita em referência ao culto público da congregação (1 Co 14.26-33). Qualquer outra interpretação é artificial e improvável. Assim, Paulo não está dizendo aqui que a mulher deva ficar em silêncio em todo o tempo ou que não possa manifestar seus sentimentos e opiniões em uma assembléia da igreja. A ordem para que a mulher guarde silêncio é uma ordem para que ela não assuma o culto público, especificamente o aspecto de ensino-aprendizado do culto.”
Não creio ser necessário considerar as duas explicações acima como sendo mutuamente excludentes. O v. 34 pode estar colocando o princípio, sendo que o v. 35 seria tão somente uma aplicação concreta, para algo que vinha efetivamente acontecendo em Corinto. Como não havia mulheres pastoras, Paulo não viu necessidade de aplicar o princípio para uma tal situação. Ainda que não se possa negar a possibilidade do texto ser interpretado da forma como Donaldo Schüler o faz, o contexto em Paulo indica que a outra explicação (cf. Walter A. Maier) também é possível.[35] Neste caso, é importante que a investigação se dirija a outros textos, cuja clareza seja indiscutível. No estudo em questão, este texto é 1 Tm 2.8-15. Qualquer que seja a interpretação correta de 1 Co 14, sabemos que não haverá contradição entre os dois textos.
3. 1 Tm 2.8-15[36]
Assim como em 1 Co 14, o contexto desta passagem é importante. Paulo está falando de uma situação de culto da igreja. Isto pode ser notado já a partir da própria carta onde o texto está. 1 Tm, assim como as outras cartas pastorais, é dirigido a um pastor-bispo (alguém responsável pela pregação da palavra em determinado lugar, mas também em organizar a igreja naquele local, inclusive pela constituição de ministros). No entanto, as três cartas concluem com uma saudação no plural (1 Tm 6.21b; 2 Tm 4.22b; Tt 3.15c). Pode-se depreender que a carta, apesar de dirigida em princípio ao pastor, será lida perante a congregação, seguindo o que era feito com outras cartas apostólicas (Cl 4.16; Ap 1.3[37]).
A linguagem do texto também conduz para o contexto de culto da igreja. Trata de oração coletiva, do aprender da palavra e do ensinar (ver abaixo, no estudo sobre ).
É um detalhe curioso, mas, julgo, não de pequena importância, que o texto em estudo é um parênteses entre duas declarações sobre o ofício do ministério. Antes do texto, Paulo, ao apresentar o evangelho da salvação, afirma ter sido constituído “pregador (), apóstolo () e mestre ()” (2.7). Após o texto, Paulo traz as qualificações necessárias para o bispo.[38]
“A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão” (v. 11). Sobre o “silêncio”, Donaldo Schüler nota, com muita precisão, que o sentido da palavra não necessita ser de silêncio, mas de tranqüilidade (2 Ts 3.12 e 1 Tm 2.2 são citados).[39] Ele comenta:
Isto está em harmonia com o que o apóstolo disse a respeito dos trajes femininos. A intervenção indevida da mulher nos trabalhos religiosos perturba a ordem tanto quanto trajes e adornos chamativos. Paulo se opõe à exuberância feminina, mas solicita a participação ativa, ordeira e discreta, ‘aprenda’.[40]
Paulo requer da mulher que, neste contexto, do culto, onde ela há de aprender a palavra ordeiramente, que ela o faça “com toda a submissão”. Ann L. Bowmann aponta três possibilidades de interpretação:
Primeira, pode significar que a mulher deve ser submissa ao seu esposo. Apesar disto ser ensinado em outros lugares (Ef 5.22; Cl 3.18; Tt 2.5), tal significado é improvável aqui, onde o foco está sobre homens e mulheres em culto. Segunda, Paulo pode ter pretendido dizer que a mulher deve estar submissa aos presbíteros da igreja. Visto que falsos profetas estavam desviando crentes da verdade, a submissão aos presbíteros da igreja pode ter sido parte da solução de Paulo para o problema. Uma terceira possibilidade, muito próxima da segunda, é que as mulheres devem se submeter à doutrina pura. Qualquer uma das duas últimas interpretações dá uma explicação adequada. É também possível uma combinação das duas: as mulheres devem se submeter apenas àqueles presbíteros que ensinavam a doutrina pura.[41]
Donaldo Schüler dá uma explicação semelhante, mas enfatiza a questão da ordem que Deus coloca, tanto no mundo em geral, como no culto de Seu povo: “Submissão é um ato de reconhecimento da ordem e aceitação do lugar que nesta ordem cabe a cada um. ... A mulher que se enquadra em 1 Tm 2.11 aceita livremente o lugar que a ordem do culto lhe determina.”[42]
Chegamos, então, ao ponto central do texto, quando Paulo declara: “E não permito que a mulher ensine, nem que exerça a autoridade sobre o marido; esteja, porém, em silêncio” (v. 12). O que Paulo quer dizer ao proibir que a mulher ensine? Há exemplos no NT de mulheres “ensinando” a palavra de Deus (2 Tm 1.5; cf. 2 Tm 3.15; At 18.24). Não há, pois, uma proibição de que uma mulher exponha a palavra de Deus para outrem. O fato é que os textos citados acima não utilizam o verbo empregado em 1 Tm 2.12: . Um estudo mais detalhado do uso do verbo mostra que o que nós chamamos de “ensinar”, falando de forma genérica para qualquer tipo de aplicação da palavra de Deus (pregação, estudo bíblico, escola dominical, orientação cristã para um amigo, etc.) não é o conteúdo do verbo no Novo Testamento. Faz-se necessário, pois, trazer algumas observações sobre o verbo e seu uso no Novo Testamento.[43]
é um verbo utilizado fora do Novo Testamento especialmente para trazer a idéia de passar informações com o objetivo de uma “assimilação gradual, sistemática e, portanto, completa.”[44] Na Septuaginta (LXX) e no Judaísmo Rabínico, a palavra não é mais utilizada para denotar a comunicação de habilidades gerais, mas a instrução da vontade de Deus, com o propósito de ensinar como o homem deve viver com Deus e com o próximo.[45] Jesus foi reconhecido como um Mestre, não apenas pelas Suas atitudes externas (sentar-se para ensinar - Mt 5.1,2; o lugar: na sinagoga - Mt 4.23; 13.54; no templo - Mt 21.23; 26.55), mas no fato de que Ele ensinava de acordo com o Antigo Testamento e o fazia com autoridade (Mt 7.29). Nisto Ele se diferenciava dos rabis da época. Este ponto é importante, ao notarmos que Jesus enviou os Seus apóstolos a ensinarem, e o fez baseado na Sua autoridade (Mt 28.18,20). Este texto é chave para que se note o sentido de no Novo Testamento. Jesus está enviando os apóstolos para a missão de fazerem discípulos de todas as nações, pelo batismo e pelo ensino.
É interessante notar a maneira como o Novo Testamento mostra pessoas ensinando; em outras palavras, como o verbo é aplicado, seguindo-se o comissionamento de Jesus aos onze.[46] O verbo é utilizado não para algum tipo de instrução que uma pessoa traz a outrem. Na grande maioria dos casos, são os apóstolos (especialmente Paulo) que ensinam. O ensino é um dos dons especiais de Deus (Rm 12.7). Ele mesmo concede mestres () à igreja (Ef 4.11).[47] As evidências do Novo Testamento nos levam a concluir que o verbo é utilizado para designar uma atividade especial, de alguém que foi colocado por Deus em um ofício especial, seguindo o apostolado que originalmente foi confiado aos doze. Ann L. Bowmann assinala que
a palavra se refere quase que exclusivamente à instrução pública ou o ensino de grupos. No Novo Testamento, um mestre é alguém que ensina sistematicamente a palavra de Deus e que dá instrução no Antigo Testamento e no ensino apostólico (1 Co 4.17; 2 Tm 2.2).[48]
A conclusão é, pois, de que a mulher não deve ensinar no culto público da igreja ou, dito em outras palavras, não deve atuar como aquela que lidera o ensino da congregação, no ministério da palavra.[49]
Foi mencionado acima que o falar da mulher na igreja - proibido por Paulo em 1 Co 14 - deve ser distinguido do profetizar, que ele mesmo entende ser possível, em 1 Co 11.5. Convém aqui trazer algumas observações, distinguindo o profetizar do ensinar, de que Paulo fala em 1 Tm 2. Citamos do estudo do Dr. Donaldo Schüler:
1. A Bíblia entende por ensinar uma atividade permanente. O mestre (didáskalos) exerce sua atividade em quaisquer circunstâncias. O profeta, no entanto, atua em momentos especiais, com funções específicas (Jr 29.27,28).
2. Quem, ensina, transmite um sistema completo de conhecimentos, de modo contínuo, até atingir os objetivos estabelecidos (Mt 28.20). O profeta elucida certas áreas, em certos momentos, quando se sente por Deus enviado (Jr 11.1ss).
3. O profeta no AT, com raras exceções, não é sacerdote, e muitas vezes repreende os sacerdotes; não exerce função ligada ao culto (Jr 26 e 27). Ao conselho de bispos no NT é atribuída a função de ensinar, mas não a de profetizar (1 Tm 3). A atividade profética, no NT, é exercida nas reuniões públicas dos cristãos, mas não está circunscrita a uma determinada classe.
4. A igreja no NT não deve coibir a atividade profética, mas deve discipliná-la e examinar seus conteúdos para verificar se estão de acordo com a palavra de Deus, pois responsável principal da disciplina e do exame é o ministério docente (1 Ts 5.20; 1 Co 14.1,5,12,39).
Em face disto, não é permitido à mulher pertencer ao conselho de bispos, encarregado do ensino, em caráter permanente, mas pode profetizar (transmitir o plano da salvação com a finalidade de edificar, exortar e consolar) quando a isto é compelida pelo Espírito, de um modo discreto e ordeiro, sob a vigilância do ministério docente.[50]
Ainda sobre a questão do profetizar da mulher, conforme 1 Co 11.5, é importante notar que ao fazê-lo, a mulher o faz respeitando o princípio da submissão (vv. 7-10). Sobre este princípio trazemos agora algumas observações, citando Donaldo Schüler:
1 - Adão foi formado primeiro. Com isto Deus manifestou que a liderança cabe ao varão. Se no lar, a chefia deve ser masculina, pelos motivos vistos em Efésios, não há razão para que no culto deva ser diferente. O homem não só é cabeça no lar como também no culto (1 Co 11.3). Cabe-lhe, portanto, em situações normais a função de guia, onde quer que um grupo de pessoas esteja reunido, tanto para orar, como para meditar na palavra de Deus. ...
2 - A segunda razão se baseia na primeira. Satanás foi o primeiro a subverter a ordem divina. Atribuiu à mulher uma responsabilidade para a qual ela não estava emotiva nem psicologicamente preparada. Não ataca a ‘cabeça’ porque se o fizesse acataria a ordem divina. E seu objetivo é subverter a ordem. A transgressão de Eva sugere que a mulher, como líder, está mais exposta ao engano. Em virtude disto, Paulo julga inconveniente colocá-la em função de responsabilidade docente em caráter definitivo. ...[51]
Schüler ainda faz um comentário importante, mostrando que não se pode tomar as palavras de Paulo como se estivessem sendo dirigidas apenas para uma situação específica na congregação atendida por Timóteo:
O exemplo de Adão e Eva, invocado, universaliza a determinação de Paulo. A primeira transgressão do homem foi o acontecimento mais universal da história, porque envolveu efetivamente a humanidade inteira.[52]
4. Gálatas 3.28
Este texto é aplicado por alguns como sendo evidência de que mulheres não podem ser privadas do exercício do ministério público na igreja. Martin N. Dreher afirma
Na comunidade primitiva são eliminadas as diferenças raciais, religiosas e de papéis sociais (dominar e obedecer!). “Dessarte não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem e mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.”(Gl 3.28). A fórmula de Gl 3.28, que é fórmula batismal, confissão de fé batismal, afirma que os batizados estão em oposição a todos os valores raciais, sociais, patriarcais e religiosos da sociedade judaico-greco-romana. A comunidade cristã não tolera discriminações, características da sociedade na qual vive. Na comunidade cristã, a mulher e o escravo não estão à margem. São apóstolos, profetas e mestres. Marta e Pedro estão em pé de igualdade, pois ambos confessam que Jesus é o Cristo (cf. Jo 11.27 e Mt 16.16).[53]
Não nos parece que o texto dá evidências necessárias para todas as conclusões apresentadas. É fato que a comunidade cristã não tolera (pelo menos, não deve tolerar) discriminações. Nem o Novo Testamento o tolera! O ponto é que diferenças não são necessariamente “discriminação” (no sentido negativo da palavra). Parece-nos que o problema não é de exegese (como de resto na discussão sobre os textos referentes à mulher e o ministério), mas de hermenêutica!
Dreher ainda observa a diferença no texto. Paulo usa entre “judeu” e “grego”, e entre “escravo” e “livre”, mas usa entre “homem” e “mulher”. O fato não transparece na maioria das traduções. Dreher depreende daí que Paulo não está eliminando características de sexualidade de homem e mulher. Ele está, sim, diz Dreher, eliminando os “papéis sexuais (homem = dominar, mulher = obedecer). Tais papéis eram deduzidos de Gn 1.27 (homem e mulher os criou). Em Cristo tal dedução de papéis é impossível.”[54] A bem da verdade, Paulo mesmo apela para Gênesis, na criação de homem e mulher, ao fundamentar sua proibição ao ensino por parte da mulher (1 Tm 2.11-14). A diferença das conjunções não precisa significar o que Dreher está propondo. Este pode, a bem da verdade, ser tão somente um recurso retórico de Paulo. Há outras situações onde ocorre uma modificação na cláusula final de uma frase com vários elementos que se seguem.[55]
Além disso, haveria motivo para Paulo modificar a cláusula que envolve homem e mulher, em relação àquelas, entre escravo e livre, e entre judeu e grego. A distinção entre homem e mulher pertence à criação de Deus. Deus os fez assim. E outros textos do NT mostram que não somente a sexualidade continua, mas também papéis diferentes, como veremos abaixo.
Sobre o texto de Gálatas em si, algumas observações se fazem, necessárias. Em seu estudo, “Feminismo Evangélico: Por que os Tradicionalistas o Rejeitam,” A. Duane Litfin, assinala o seguinte:
Gálatas 3.28 não diz nada explicitamente sobre como a relação entre homem e mulher deve ser conduzida na vida diária. Mesmo os feministas reconhecem que o contexto de Gálatas é teológico, não prático. Paulo está aqui fazendo uma declaração teológica sobre a igualdade fundamental de homens e mulheres na sua relação com Deus.
... a verdade de Gálatas 3.28 [no entanto,] não fica sem ramificações no campo social. ... há profundas implicações sobre como os cristãos se relacionam uns com os outros. ... Os feministas insistem que a implicação precisa ser a eliminação de todos os papéis baseados no gênero. Os tradicionalistas perguntam, por quê? Esta conclusão não é requerida logicamente. Igualdade ontológica e hierarquia social não são mutuamente exclusivos.
... os escritores do Novo Testamento estão regulando, e não eliminando, os papéis hierárquicos, para prevenir que sejam abusados. ... Aqueles que estão em posição de autoridade - esposos (Ef 5.25-33; Cl 3.19; 1 Pe 3.7), anciãos (1 Pe 5.1-4; At 20.28-31), pais (Ef 6.4; Cl 3.21), empregados (Ef 6.9; Cl 4.1) - são instruídos sobre como usar sua autoridade dada por Deus de forma cristã. Da mesma forma, aqueles que estão sob uma autoridade constituída - esposas (Ef 5.22-24; Cl 3.18), empregados (Ef 6.4-8; Cl 3.22-25), filhos (Ef 6.1-3; Cl 3.20), membros da congregação (1 Ts 5.12,13; Hb 13.17), cidadãos (Rm 13.1-7; Tt 3.1) - são também instruídos sobre como cumprir com seu papel de forma cristã. O resultado não é uma sociedade sem papéis de autoridade e submissão, mas uma hierarquia social, ordenada por Deus e realizada de uma maneira que está em acordo com o ensino de Cristo (Mt 20.25-28).[56]
O ponto é que Paulo está mostrando que em Cristo foram quebradas as paredes de separação entre gregos e judeus, entre escravos e senhores, entre homens e mulheres. Em Cristo é criada uma comunhão em que não há pessoas com valores diferentes. Mas o apóstolo não diz nada sobre as funções exercidas no corpo no qual o batismo insere as pessoas. O fato dos cristãos formarem uma unidade não significa que todos tenham as mesmas funções. Unidade não é o mesmo que uniformidade.[57]
O texto de Gálatas é importante, por mostrar o valor objetivo do santo Batismo, que nos torna filhos de Deus, pessoas revestidas por Cristo, de modo que resgatados, somos herdeiros (Gl 4.5-7). Valem aqui as palavras do Dr. Donaldo Schüler, mostrando o aspecto positivo do texto, no que se refere ao relacionamento daqueles que, em Cristo, formam um corpo:
A graça divina irmana. Os que contritos a reconhecem são incorporados na grande família dos redimidos de Deus, onde não há privilégios, onde uns estão ao serviço dos outros com o quinhão que Deus lhes concedeu. A diversidade demonstra a unidade na mútua cooperação. Como o senhor renascido se sente irmanado a seu escravo assim também o marido se sente irmanado a sua mulher. Os que foram incorporados em Cristo não se hostilizam, os senhores não oprimem seus escravos, os povos não consideram inimigos os que nasceram além de suas fronteiras culturais ou políticas, os maridos não aviltam suas esposas. O evangelho de Cristo substitui o ódio pelo amor, articula a diversidade numa unidade efetiva.[58]
CONCLUSÃO
Pelos dados apontados em nosso estudo, constatamos que o Ministério Feminino não encontra apoio no Novo Testamento. A bem da verdade, encontra uma proibição explícita no texto bíblico. Esta constatação, porém, não deve obscurecer a verdade de que tanto homens como mulheres são, em Cristo, sacerdotes reais e têm funções importantes a desempenhar no reino de Deus.[59]
É preciso lembrar que o trabalho no reino de Deus não fica restrito ao que é feito no âmbito da igreja. Cada cristão tem o privilégio de viver sua fé entre os irmãos, na congregação, mas também (e especialmente) na família e na sociedade em geral. Pessoas com formação teológica poderão, por certo, ser uma bênção em qualquer lugar que estiverem. Na igreja poderão ser de grande auxílio na edificação dos irmãos, seja em estudos bíblicos, mensagens, devoções, visitas missionárias, departamentos e comissões. Isso vale também para as mulheres. E, no desempenho de funções, reconhecerão a supervisão do ministro constituído por Deus e chamado por intermédio da congregação. O desempenho das funções através de muitas pessoas, mulheres e homens, por isso, não irá obscurecer o fato de que há um ministério instituído por Deus e que neste ministério a pessoa não entra em função de uma qualidade especial que tem, mas através do chamado que Deus dá por meio da Igreja.
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[1] Estudo apresentado, de forma levemente modificada, no encontro DAC-DAMAL, em São Paulo, de 19 a 21 de Setembro de 1996.
[2] David P. Scaer aponta para o desconforto dos luteranos em obterem apoio teológico no Catolicismo, ao ponto de se sentirem sozinhos na busca da resposta à pergunta inevitavelmente feita: “Por que não?” (“The Question of Women Priests,” Concordia Theological Quarterly 57/1,2 [Janeiro - Abril 1993], 107.)
[3] Jobst Schöne, “Pastoral Letter on the Ordination of Women to the Pastoral Office of the Church,” Concordia Theological Quarterly 59/4 (Outubro 1995), 308,309; Erni Walter Seibert, “O Papel da Mulher na Igreja,” Vox Concordiana 5/1 (1989), 45; David P. Scaer, “The Question of Women Priests,” 106,107.
[4] The Ministry - Offices, Procedures, and Nomenclature.
[5] Citadas antes desta afirmação: 1 Tm 3.1; 5.17; Hb 13.7,17; Ef 4.11,12; At 6.4; 2 Co 3.6,8; 5.18; Cl 1.23; Tt 1.5,7; At 14.23; 20.17,28.
[6] O termo é utilizado como tentativa de tradução literal do termo grego , normalmente traduzido por “bispo” (1 Tm 3.2).
[7] CTCR, The Ministry ...”, 13-16.
[8] Em sua reação aos estudos, por ocasião do Encontro DAC-DAMAL, o Dr. Paulo W. Buss lembrou, com propriedade, que no ministério de Jesus e, conseqüentemente, na Igreja cristã, a mulher recebeu uma dignidade muito acima de qualquer sociedade da época. Apontou ainda para a diferença da dignidade da mulher em sociedades não cristãs (no Islamismo, por exemplo).
[9] Uso o termo aqui no sentido amplo, como estamos mais acostumados em nossa linguagem, para se referir a todos os que seguiam a Jesus, e no sentido em que usado o verbo em Mt 28.19. No seu uso estrito, o termo é usado coletivamente para designar o grupo dos doze, aqueles que foram preparados para serem os apóstolos.
[10] Veja, por exemplo, Martin N. Dreher, “O Novo Testamento escrito por Homens e a Mulher na História da Igreja,” Estudos Teológicos 30/3 (1990), 278.
[11] Para maiores detalhes ver textos de Jack Dean Kingsbury; por exemplo: Mathew as Story, 2a Edição, Philadelphia: Fortress Press, 1988.
[12] Por exemplo: Mt 4.25; 8.1.
[13] O verbo é aqui utilizado - “versado”.
[14] Trata de José de Arimatéia, e novamente o verbo é empregado.
[15] Pelo batismo e pelo ensino da Palavra, as pessoas em geral () serão tornadas discípulas de Jesus.
[16] O artigo definido vem mostrar que é um grupo específico que é referido.
[17] Apesar de fraquejarem muitas vezes, o que só vem ressaltar a graça e misericórdia de Jesus - Mt 8.26; 28.17,18.
[18] Aqui o termo é usado no seu sentido amplo, de “seguidoras” ou, sendo mais explícitos, “cristãs”.
[19] O que bem mostra que se deve distinguir, mas não se pode separar o ministério da igreja.
[20] Curiosamente, quando o décimo segundo apóstolo é escolhido, um dos critérios é que seja testemunha da ressurreição (At 1.22).
[21] Vale lembrar que nenhuma mulher esteve presente na instituição da Santa Ceia. A nenhuma foi confiada a administração da Santa Ceia: “Fazei isto.”
[22] Um exemplo de uma abordagem crítica à Escritura como revelação de Deus encontramos no estudo de Martin Dreher, “O Novo Testamento Escrito por Homens, e a Mulher na História da Igreja,” Estudos Teológicos 30/3 (1990): 273-287. O autor utiliza-se de fontes gnósticas para criticar o posicionamento dos evangelistas e apóstolos sobre a mulher, chamando-os de machistas. Em tal assunto não se deveria simplesmente facilitar a discussão, apelando para o evangelho (a boa nova da salvação em Cristo), dizendo que ele nada sofre em se admitindo o ministério feminino. A própria afirmação não está livre de crítica. Além disso, não há necessidade de diminuir o conceito sobre a Escritura para valorizar o evangelho. Um bom estudo a respeito do relacionamento entre os princípios material (o evangelho) e o formal (a Escritura) da teologia luterana é oferecido no parecer da Comissão de Teologia e Relações Eclesiais da LC-MS, Gospel and Scripture - The Interrelationship of the Material and Formal Principles in Lutheran Theology, de Novembro de 1972.
[23] Não discuto aqui a questão da integridade do texto, considerando que alguns documentos colocam os versículos 35 e 36 após o v. 40, o que levaria a questão para o campo da boa ordem no culto, quebrada por conversas (sussurros) das mulheres. A evidência textual para a variante é fraca: D (séc. VI), F, G (ambos do séc. IX) e outros testemunhos de pouco valor. Apesar do testemunho quase unânime apontar para o lugar do texto onde o encontramos em nossas versões, há autores que pensam poder defender a teoria de que seja uma interpolação posterior. Por exemplo: Gordon D. Fee, The First Epistle to the Corinthians, NICNT, (Grand Rapids: Eerdmans, 1991), 699. Argumenta-se que o texto foi aí colocado para reconciliar 1 Co 14 com 1 Tm 2. No entanto, esquece-se que o copista teria criado um problema ainda maior (por sinal, apontado pelos comentaristas), do relacionamento deste texto com 1 Co 11.5ss.
[24] Como, por exemplo, no caso do profetizar e orar com véu (1 Co 11.2-16). Ali há um princípio, qual seja, o da autoridade do homem. O uso ou não do véu é o costume que traz consigo a aplicação do princípio. Para um tratamento mais amplo daquele assunto, ver: Women in the Church, CTCR, 1985, p. 27-32; Pedro Brousveld, “Mulher, Véu e Cabelo,” Igreja Luterana 37/4 (1977): 188-190.
[25] Estou considerando o final do v. 33 como dizendo respeito ao v. 34, seguindo o que fazem a edição Nestle-Aland e as traduções Almeida Revista e Atualizada, Bíblia de Jerusalém e Bíblia na Linguagem de Hoje. Uma tradução alternativa para o imperativo presente seria “parem de falar”, deixando claro que estava havendo algo em Corinto que perturbava a ordem do culto, envolvendo o falar das mulheres. Walter A. Maier discorda desta possibilidade. Ele argumenta:
Podemos notar que Paulo em nenhum local utiliza a expressão empregada em 11.18, dizendo algo como ‘estou informado haver mulheres falando em seus cultos’. (Compare-se também com 1.11 e 5.1, onde Paulo declara o que de fato estava ocorrendo em Corinto, por ter recebido uma informação direta a respeito.) O apóstolo nem mesmo indica que os Coríntios em sua carta o houvessem informado acerca de algo assim. É melhor presumir que ele está dizendo o que diz nos vv. 34,35 de maneira a prevenir um erro e não corrigir um perigo já presente. ... Como Paulo não afirma explicitamente que as mulheres da congregação de Corinto estivessem falando no culto, deveríamos entender que tal ação não chegou a ocorrer, mas talvez até tivesse sido discutida.”
(“An Exegetical Study of 1 Corinthians 14.33b-38,” Concordia Theological Quarterly, 55/2,3 [Abril-Julho 1991], 93.)
[26] O verbo utilizado - - “Quando vos reunis” - é empregado por Paulo em 1 Coríntios neste texto e no contexto (v. 23) e ao tratar dos problemas ligados às reuniões para a celebração da Santa Ceia (11.17,18,20,33,34). Walter A. Maier sugere que a tradução de neste texto deveria ser “reuniões de culto”. (“1 Corinthians 14,” 82,83.) A Bíblia na Linguagem de Hoje traduz como “reuniões de adoração.” Apesar de tais traduções serem possíveis, elas não permitem concluir que as diretivas de Paulo se aplicam unicamente às reuniões de culto em Corinto. O uso do artigo definido e do plural apontam para o fato de que Paulo dirige as palavras a todas as igrejas (congregações). (cf. Gordon D. Fee, The First Epistle to the Corinthians, 706.) Parece mais correto, então, traduzir como “igrejas”, vistas, no entanto, particularmente em seu contexto cúltico.
[27] Maier, “1 Corinthians 14,” 84,85.
[28] “A Função da Mulher na Igreja,” 40.
[29] 12.30; 13.1; 14.2,4,5,5,6,13,18,23,27,39.
[30] 14.2,2,3,6,9,9,11,11,19,21,28,29.
[31] 2.6,7,13; 3.1; 9.8; 15.34.
[32] 2.17; 4.13,13; 7.14; 11.17,17,23; 12.4,19; 13.3.
[33] Maier, “1 Corinthians 14,” 85,86.
[34] “Women in the Church - Scriptural Principles and Ecclesial Practice,” setembro de 1985, p. 32,33.
[35] Ann L. Bowmann, em seu estudo sobre 1 Tm 2.11-15, aponta para uma terceira interpretação do texto de 1 Co 14.34: “o contexto (regras com respeito a declarações inspiradas no culto) indica que pode se referir a mulheres julgando profecias naquela situações.” (“Women in Ministry: Na Exegetical Study of 1 Timothy 2.11-15,” Bibliotheca Sacra 149/594 [Abril - Junho 1992], 200, n. 20.) Mais sobre este assunto, na distinção entre “profetizar” e “ensinar”, mais adiante.
[36] Sobre este texto, dois excelentes estudos podem ser encontrados em: Donaldo Schüler, “A Função da Mulher na Igreja,” Igreja Luterana 32 (1971): 32-37; Ann L. Bowmann, “Women in Ministry: An Exegetical Study of 1 Tm 2.11-15,” Bibliotheca Sacra 149/594 (Abril-Junho 1992): 193-213.
[37] Note-se que no original lemos: “aquele que lê e aqueles que ouvem”.
[38] Note-se, especialmente, que o no v. 12 encontra eco antes e após o texto: na auto-caracterização de Paulo como e na qualificação exigida do bispo - (3.2). Ao lermos que a mulher não deve “ensinar” o texto nos leva a ter em mente o ministério (“magistério”) de Paulo e a aptidão para ensinar, requerida de um bispo. Ou seja, o v. 12 poderia ser parafraseado: “Não permito que a mulher seja ministra”!
[39] Outros textos em que ou um cognato seu é utilizado no sentido de tranqüilidade, ordem (não silêncio total): 1 Pe 3.4; At 11.18; 21.141 Ts 4.11. No sentido de fazer silêncio, tem-se, da família da palavra, At 22.2; Lc 14.4; e ainda, em 23.56, no sentido de descanso.
[40] “A Função da Mulher na Igreja,” 33.
[41] “1 Timothy 2,” 198,199.
[42] “A Função da Mulher na Igreja,” 33,34.
[43] As informações a seguir são tiradas do texto deste autor, em The Role of the Ministry and of the Church in the Mission of God, according to Matthew 28.16-20, Tese de Mestrado não publicada, Concordia Seminary, St. Louis, EUA, 1993, pp.. 147-150.
[44] Karl H. Rengstorf, “”, Theological Dictionary of the New Testament, G. Kittel, ed., 2: 135.
[45] Klaus Wegenast, “Ensinar,” Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, Colin Brown, ed., 2: 43,44.
[46] Aos quais mais tarde Matias é acrescentado - At 1.25,26.
[47] K. Wegenast mostra que o termo é empregado no NT referindo-se a: Jesus (a grande maioria dos casos), João Batista (Lc 3.12), Nicodemos (Jo 3.10), os escribas (Lc 2.46), e os “mestres” da igreja (At 13.1; 1 Co 12.28; Ef 4.11; Tg 3.1). DITNT, 2: 50.
[48] “1 Timothy 2,” 200. Note-se que o verbo é utilizado em 1 Timóteo consistentemente para designar o ensino público da Palavra de Deus: 1.3,7; 2.7; 3.2; 4.11,13,16; 5.17; 6.2. (CTCR, Women in The Church, 34.)
[49] Esta, por sinal, é a conclusão a que defensores do Ministério Feminino chegam, a respeito da intenção de Paulo com aquele texto. Ver, por exemplo, Martin Dreher, “O Novo Testamento Escrito por Homens e a Mulher na História da Igreja,” Estudos Teológicos 30/3 (1990), 282.
[50] “A Função da Mulher na Igreja,” 39.
[51] “A Função da Mulher na Igreja,” 35,36.
[52] Id., 36. Martin Weingaertner, em seu comentário a 1 e 2 Timóteo (Coleção Em Diálogo com a Bíblia. Curitiba: Encontrão Editora, Belo Horizonte: Missão Editora, 1993), interpreta 1 Tm 2.11 e 12, dizendo que “Paulo faz estas restrições por causa da fraqueza, para não causar motivo de tropeço para quem ainda não tinha este conhecimento. Se já era difícil não deixar confundir-se pela carne sacrificada devido à familiaridade dos ídolos, quanto mais a ‘familiaridade’ com o patriarcado dificultaria a aceitação da nova posição da mulher!” (p. 40) Assim sendo, o autor trata o texto como sendo uma acomodação de Paulo ao costume da época. O mesmo autor tem dificuldade de tratar os versículos 13 a 15, levando a sério o “porque” que inicia este texto. A comparação é imprecisa, pois no caso das comidas sacrificadas a ídolos há diferenças marcantes: 1) Paulo deixa claro do porquê da diretiva dada (para não ferir as consciências fracas) - isto não aparece no texto de 1 Tm; 2) A conexão que Paulo faz é com um costume, mas no caso de 1 Tm é com a ordem da criação; 3) Paulo deixa claro que comer aquela carne não é em si pecado; mas em Tm Paulo jamais diz que há um ideal não atingível devido ao costume da época - o ideal apontado é o que ele está ordenando.
[53] “O Novo Testamento Escrito por Homens, e a Mulher na História da Igreja,” Estudos Teológicos 30/3 (1990), 284.
[54] “O Novo Testamento Escrito por Homens,” 287, n. 33.
[55] Por exemplo, em Mt 5.3-11, o tratamento da terceira pessoa do plural nos vv. 3 a 10 dá lugar à segunda pessoa do plural no v. 11; em Rm 2.21-23, uma série de verbos no Presente Particípio no caso nominativo é seguida, na cláusula final, no v. 23, por um Presente Indicativo; o mesmo poderia ser o caso no disputado texto de Ef 4.11, com as expressões dando lugar a um na cláusula final. Devo esta argumentação ao Dr. James W. Voelz, professor de Novo Testamento no Seminário Concórdia de St. Louis, MO, EUA.
[56] “Evangelical Feminism: Why Traditionalists Reject it,” Bibliotheca Sacra 136/543 (1979), 265,266.
[57] Bertil Gaertner, “Didaskolos: The Office, Man and Woman in the New Testament,” Concordia Journal 8/2 (Março 1982): 57.
[58] “A Função da Mulher na Igreja,” 25,26.
[59] Um excelente estudo sobre o papel da mulher na Escritura pode ser encontrado no parecer da Comissão de Teologia e Relações Eclesiais da Lutheran Church-Missouri Synod, Women in the Church - Scriptural Principles and Ecclesial Practice, Setembro de 1985, pp. 5-12. Sobre a atuação da mulher na Igreja, ver o estudo do Dr. Donaldo Schuler, citado neste trabalho.