VIGÉSIMO DOMINGO APÓS PENTECOSTES
22 de outubro de 1995
Hc 1.1-3; 2.1-4
Leituras do dia
Salmo 62 - É um salmo de confiança. Davi, fiel cooperador de Deus no AT, espera no Deus da salvação. Incentiva a outros para que também ponham a sua confiança no Senhor, ao invés de confiarem na loucura de riquezas obtidas de maneira ilícita.
Epístola: 1 Tm 6.6-16 - Paulo, fiel apóstolo e cooperador de Deus no NT, aponta para o perigo das riquezas. Os versículos 9 e 10 indicam claramente nesta direção. Em contraste com os falsos mestres que confiam nas suas riquezas, o cristão encontra seu lucro na "piedade com o contentamento", pois sabe que esta é a situação que Deus determinou para ele. Pois, "tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes", v. 8
Evangelho: Lc 17.1-10 - A ênfase neste texto é o perdão. O perdão não tem limites. Assim como Deus perdoa, assim também o cristão perdoa sempre. Uma fé do tamanho de um grão de mostarda, mas vivificada pelo poder do Espírito Santo, faz milagres. E o maior deles é a capacidade de perdoar.
O contexto
Pouco se sabe sobre Habacuque. Era um levita que cooperava com Deus compondo música sacra. Viveu na época em que os caldeus derrotaram os assírios e se tomaram o império mais poderoso do mundo. Suas pregações se deram por volta do ano 605 a.C. O profeta vê o perigo que o povo de Judá corre em meio à crueldade dos povos pagãos e pergunta: Como Deus pode tolerar um povo tão mau e cruel? Deus pede que o profeta espere com paciência. Virá o dia em que os maus serão castigados; e os que permanecerem fiéis a Deus, viverão. Deus sempre age e responde no tempo determinado por sua vontade.
O profeta Habacuque faz duas perguntas vitais:
1) Por que Deus pemite que o mal, que a cada dia cresce em Judá, permaneça impune? A resposta está no capítulo 1.5-11.
2) Como pode um Deus santo usar os caldeus para punir o povo de Judá? A resposta está no capítulo 2. 2-20. O mais conhecido versículo é o 2.4, citado em Rm 1.17; Gl 3.11 e Hb 10.38. Neste versículo está o coração da resposta de Deus a Habacuque. Lutero o usa como verdade central para a doutrina de justificação pela fé.
Os seguintes pecados são condenados pelo profeta no capítulo 2:
- Agiotas gananciosos - v. 6-8
- Extorsionistas - v. 9-11
- Governantes desonestos que usam trabalho escravo para se enriquecer -v. 12-14
- Pessoas lascivas que usam o álcool para a sua perversão - v. 15-17
- Idolatras que adoram objetos inanimados - v. 18-20
Infelizmente a história, cheia de transgressões e maldades, se repete. São os mesmos pecados presentes no Brasil e no mundo neste final do 2o milênio. É, pois, oportuna a mensagem do profeta para os nossos dias.
O clamor de Habacuque é o clamor de um cooperador de Deus que tem fé. É uma fé atribulada e tateante, mas ainda é fé.
O texto
No tempo em que os assírios estavam em decadência e os caldeus começavam a dominar o mundo, Habacuque teve a missão de proclamar para o reino de Judá que os caldeus eram um instrumento de punição para o povo.
A adoração a Deus tinha degenerado a um mero formalismo e era evidente a corrupção interna do povo. Mesmo nos dias do rei Josias, o crime e a violência prevaleciam. 1.2-4. Mas, para trazer conforto aos fiéis de Judá, Habacuque foi enviado a anunciar a destruição dos maus e prometer salvação, apesar das condições adversas. 2.1-4.
Capítulo 1.1-3 0 profeta clama contra a violência e contra a maldade. O clamor inclui a oração por auxílio. O profeta diz: Até quando? Isto indica que a violência já existe por muito tempo. O clamor é dirigido ao Senhor, Deus de Israel, que em outros tempos ouviu as súplicas dos que clamaram a Ele; e que é zeloso em punir o mal, porém agora ele não ouve e não ajuda. Jó 19.7; Jr 20.8.
Esse clamor não reflete apenas o sofrimento pessoal do profeta, mas também a opressão e o sofrimento do povo fiel. Até aqui Habacuque não se refere à violência dos caldeus, mas às ofensas dos incrédulos que estavam entre o povo de Judá.
A maldade mencionada no v. 2 não combina com a santidade de Deus. O povo de Deus precisa estar livre desta maldade. Pois, conforme sua vocação divina deveria permanecer um povo santo assim como Deus mesmo é santo. Isto não quer dizer que por causa da sua vocação de ser o povo escolhido, que Deus vai tolerar a maldade e não puni-la.
Os termos mencionados: iniqüidade, opressão, destruição e violência são sinônimos. O resultado de tamanha maldade é uma completa desordem social e destruição, conforme indica o v. 4.
Capítulo 2.1-4 - Habacuque inicia este capítulo com um monólogo. Encoraja-se a si mesmo a esperar pela resposta divina. Pressupomos que há uma causa entre os capítulos 1 e 2. Ele não quer ver suas queixas sem resposta.
É um vigia chamado pelo próprio Senhor. Um vigia que espera pela iluminação divina. Alguns intérpretes concluem que o profeta foi a um lugar solitário, longe do tumulto e do barulho do mundo, onde podia olhar para os céus e colocar sua mente em Deus.
O profeta ocupa uma posição de mediador. Ele clama e responde. Subjetivamente ele representa o povo a quem pertence. Objetivamente ele representa a Deus, cujo espírito virá sobre ele e falará através dele. Claramente ele distingue entre o que ele mesmo fala e o que Deus diz através dele. Esses versículos revelam de maneira marcante quão unido o profeta está com Deus, e quão livremente ele vive esta comunhão com Deus.
A revelação divina é chamada de visão porque o profeta a viu com os olhos da fé. Deveria gravar em tábuas para que a profecia não fosse esquecida ou refutada. As letras deveriam ser grandes para que pudessem ser lidas até por quem passasse correndo. A visão deveria ser escrita em tábuas porque ela iria se cumprir somente no futuro. Deus estabeleceu o tempo em que à profecia se cumprirá. A repetição da palavra "virá" enfatiza a afirmação: Ele certamente, verdadeiramente virá, e não faltará. Esta profecia está relacionada com a vinda do Messias.
A confiança em si mesmo traz a ruína. A confiança em Deus traz a vida. O homem sempre foi e sempre será salvo, pela graça, mediante a fé. Somente o justo viverá. Os versículos 4 e 5 anunciam o juízo que sucederá aos caldeus.
É enfatizado o contraste entre o orgulhoso caldeu e o justo israelita. A alma do caldeu não é reta nele, mas cheia de maldade e orgulho. Por esta razão ele deve cair e ser destruído. "O justo viverá pela sua fé". Somente o justo será encontrado no povo de Israel. No entanto, nem todo o membro de Israel é justo, mas somente o que tem a fé. Este justo tem e conserva a vida e não é deixado na morte. "Pela sua fé" indica o efetivo meio pelo qual o justo viverá.
"Fé" ou "fidelidade" neste texto indica a fiel atitude diante de Deus. A fiel confiança na sua divina promessa. Cf. Gn 15.6; Ne 9.7,8. Esta fé livra da morte e destruição e dá vida, porque esta fé apreende a graciosa promessa de Deus a respeito de justificação e salvação.
Fé é uma humilde, mas firme confiança em Deus, em contraste com a auto-exaltação dos caldeus diante de Deus. Paulo nos dá o significado completo dessa passagem e faz dela o fundamento e a doutrina central da mensagem do evangelho da salvação, justificação pela fé. Rm 1.17; Gl 3.11; Hb 10.38. O uso que Paulo dá a esse versículo é absolutamente correto. Tanto ele como Habacuque afirmam que o justo confia na graça salvadora de Deus.
Proposta homilética
Tema: Enquanto esperam, os cooperadores de Deus vivem pela fé.
I - São assim fortalecidos para resistir, mesmo vendo o aparente triunfo dos
ímpios.
II - São assim preservados de cair na impaciência por causa da aparente
demora.
Arnildo Schneider