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APOSTILA DO ANTIGO TESTAMENTO

UNIDADE 1: GEOGRAFIA DO MUNDO DO AT


I. CRESCENTE FÉRTIL


1. Oriente Próximo: Ponto de encontro de três continentes (Europa, Ásia e África) e de três culturas (ocidental, orien­tal e africana).

2. Crescente Fértil.
Norte ‑ Berço da civilização. Mesopotâmia (rios Tigre e Eufra­tes), Suméria, Média‑Pérsia, Babilônia, Assíria, Hititas, Armênia.
"Centro": Palestina.
Sul: Egito (rio Nilo).
Oeste: Mar Mediterrâneo ("Grande Mar").
Leste: Arábia (deserto, região inóspita).
Estas regiões: intimamente ligadas ao texto bíblico do AT.

3. Delimitação Marítima do Crescente Fértil
Área circundada pelo Mar Mediterrâneo ("Grande Mar"), Mar Negro, Mar Cáspio (Mar Setentrional), Golfo Pérsico (Mar Meridional) e Mar Vermelho. Tanto o Golfo Pérsico como o Mar Vermelho se encontram no Oceano Índico.

4. Regiões do Mundo do AT

a) Mesopotâmia (lit., "entre rios"). Região do oeste asiático banhada pelos rios Tigre e Eufrates. Desde os montes da Armê­nia (norte) até o Golfo Pérsico (sul). Terra dos primeiros dias da história bíblica e berço da humanidade. Aí se deu o surgimento do ser humano (criação). Éden: talvez nas nascen­tes do Tigre e Eufrates. Fatos importantes aí se deram: dilú­vio, família de Noé, migrações dos patriarcas. Na parte norte se acha a Assíria, e no sul, a Babilônia (ou Caldéia).
Assíria: região de planalto montanhoso. Nome vem de "Assur" (Gn 10.11). Mais antiga cidade e capital foi Assur. Desde 885 a.C. Nínive tornou-se a capital e cidade mais impor­tante. Está situada à margem oriental do Tigre.
Babilônia: região baixa, alagadiça e extremamente fértil devido ao lodo depositado pelos rios Tigre e Eufrates, especi­almente no sul. Irrigação artificial por meio de canais. Pelos canais: agricultura, comunicação e intercâmbio comercial entre as cidades. Cidade da Babilônia: capital. Ur: porto marítimo no tempo de Abraão, hoje acha-se a uns 250-300 km ao norte do Golfo Pérsico. Daniel e Ezequiel.

b) Arábia. Deserto. Do Nilo até o Golfo Pérsico.

c) Pérsia. Nordeste do Golfo Pérsico, sul da Média. Capitais: Passárgada, depois Persépolis, daí Susa. Ester.

d) Média. Norte da Pérsia, leste da Assíria e sul do Mar Cáspio.

e) Síria (ou Aram, daí "arameu"). Damasco, a mais antiga cidade continuamente habitada. Cordilheira do Líbano com duas divi­sões: Líbano (ocidental) e Ante-Líbano (oriental). Ao sul está o Monte Hermon. Rio Orontes: corre para o norte e oeste (para Mediterrâneo). Rio Leontes: corre para o sul e para o Mediter­râneo. Boa parte da região: planície muito fértil.

f) Fenícia. "Tira" de terra entre o Mediterrâneo e a cordi­lheira do Líbano. Síria ao norte e Palestina ao sul. Em média mede 25 km de largura por 250 de comprimento. Cidades princi­pais: Tiro e Sidom. Fenícios: famosos pela navegação, comér­cio, ciências, artes e literatura. Grande influência sobre as nações. Invenção do alfabeto. Questão de geografia: não havia espaço para outras atividades. Colônias espalhadas pelo Medi­terrâneo e intercâmbio culturas com outros povos. Hoje é o Líbano.

g) Egito. Nordeste africano. Ao sul se acha a Etiópia (hoje, Sudão), a oeste a Líbia. Deserto do Saara. Rio Nilo. Fertilidade das cheias do rio dava alimento à nação.

h) Ásia Menor. Grande península do extremo ocidental do conti­nente asiático. Norte: Mar Negro; oeste: Mar Egeu; sul: Mar Mediterrâneo. Planalto elevado e pedregoso rodeado de cadeias de montanhas.

5. Rios do Mundo do AT

a) Tigre. Na Bíblia é conhecido como o Rio Hidequel (Gn 3). Nasce nas montanhas da atual Armênia e corre na direção sudes­te. Banha o lado oriental da Mesopotâmia até juntar-se com o Eufrates cerca de 160 km antes do Golfo Pérsico. Percurso do rio através da história: entre 1800 e 2300 km. Antigamente ele desaguava diretamente no Golfo Pérsico. Hoje, devido ao alu­vião formado na Baixa Mesopotâmia, o Tigre deságua no Eufra­tes. Margem esquerda, terço superior: ficava Nínive (cuja história começa no terceiro milênio a.C.). Terço inferior: Bagdá. Fora os primeiros capítulos de Gn, poucas são as refe­rências bíblicas ao Tigre.

b) Eufrates. Também é conhecido como o "Grande Rio". Nasce nas montanhas da Armênia. De início corre para o ocidente (chega a 93 km do Mediterrâneo), volta-se para o sudeste, atravessa a cidade de Babilônia e desemboca 140 km depois. O curso do rio varia entre 2880 km e 3330 km devido a razões semelhantes com o que ocorre com o rio Tigre. No auge do domínio hebreu (período salomônico), o Eufrates era o limite nordeste. Também era o limite ocidental da Mesopotâmia. Devido à diferença de nível entre o Tigre e o Eufrates, foi construído um sistema de canais o que tornou o vale da Mesopotâmia extremamente fértil, especialmente na região sul (Baixa Mesopotâmia ou Caldéia). Ambos os rios depositam regularmente uma boa quantidade de terra no Golfo Përsico, fazendo-o recuar. Calcula-se que desde Abraão (Ur era um porto marítimo) o Golfo Pérsico tenha recuado cerca de 250 km. Em tempos antigos o Eufrates desaguava diretamente no Golfo Pérsico. Hoje junta-se ao Tigre a 160 km ao norte do golfo.

c) Leontes. Acha-se na Síria e o seu último trecho corre pelo limite norte de Canaã.

d) Orontes. Também se encontra na Síria e banha a cidade de Antioquia.

e) Jordão. Formado de nascentes das encostas a noroeste e oeste do monte Hermon, no extremo norte de Israel. O rio corre na direção N-S. O seu percurso sinuoso é de 340 km e atravessa dois lagos (Meron, Galiléia) desaguando no mar Morto. Este é o único rio do mundo com o leito abaixo do nível do mar. A depressão começa 3 km ao sul das águas de Meron e acentua-se até chegar a 426 m no Mar Morto cuja profundidade chega a 400 m. Trata-se de um depressão de 826 m, a mais profunda do globo terrestre.

f) Nilo. Cerca de 6.500 km de comprimento. Primeiro rio da África e segundo do mundo. Nascentes: nos grandes lagos da África equatorial. Corre na direção sul-norte. Deságua no Mediterrâneo através de um vasto estuário de 250 km de largu­ra, formado por 3 braços (antigamente eram 7) denominado "Delta do Nilo". Chuvas produzidas pelas nuvens sobre o Oceano Índico e levadas pelos ventos sobre as cordilheiras da África Oriental e Equatorial faziam transbordar o Nilo (e seus aflu­entes) levando para o Egito o aluvião fertilizante das monta­nhas. O transbordamento do Nilo e a conseqüente abundância de colheita era considerada como obra dos deuses pelos egípcios. Daí se entende o caráter sagrado que o povo atribuía ao rio.

6. Desertos do Mundo do AT

O deserto de Sur (Êx 15.22) acha-se a noroeste da península do Sinai, junto à fronteira nordeste do Egito e costa oriental do Mar Vermelho na sua parte superior. O deserto de Sin é o prolongamento do deserto de Sur abrangendo o terço médio do lado oriental do Mar Vermelho. O deserto do Sinai abrange toda a parte sul da península do Sinai (inclui o monte Sinai) e vai pelo lado oriental até o Golfo de Ácaba. O deserto de Parã cobre a parte central da península do Sinai. Cades (ou Cades-Barnéia) se acha ao norte de Parã e leste de Sur. O deserto de Zim fica a leste de Cades. Zim e Cades constituem o Neguebe e delimitam o sul da Palestina. Berseba é um pequeno deserto em torno da cidade com o mesmo nome no extremo sul da terra santa. Na parte leste da Palestina se encontra o deserto de Edom (Idumeu) no sudeste do mar Morto, o deserto de Moabe no nordeste do mesmo mar, e o deserto de Quedemote ao norte de Moabe.

7. Cidades do Mundo do AT

a) Ur. Situada ao sul da Babilônia, foi a cidade do patriarca Abraão. Era centro industrial, agrícola e comercial de grande importância, porto marítimo (o Golfo Pérsico antigamente ia até Ur). Com a mudança do leito do Rio Eufrates e ascendência da cidade de Babilônia que ficava apenas a 25 quilômetros ao norte, foi perdendo a sua importância. Nas escavações arqueológicas de Ur temos as mais antigas evidências da cultura sumeriana.

b) Nínive. Segundo Gn 10.11, foi uma das mais antigas cidades da Assíria. Tornou-se a capital do mundo no período áureo do império assírio. Ficava á margem oriental do Tigre superior, 50 km ao norte da confluência do Rio Zabe com o Tigre. Segundo Jn 3.3, levava-se três dias para percorrer a cidade. Foi tomada pelos babilônios em 612 a.C., terminando assim a sua glória. Dois dos livros proféticos do AT têm Nínive por objetivo: Jonas e Naum.

c) Damasco. Fica localizada ao sul da Síria, no planalto oriental do Ante-Líbano. Através dos séculos tem sido a capital da Síria. Tornou-se centro estratégico para o comércio do mundo antigo e ponto de entroncamento das estradas que comunicavam o Egito e Arábia com a Assíria e Babilônia. Damasco é citada freqüentemente nas Escrituras Sagradas em que as referências vão desde os dias das peregrinações de Abraão (Gn 14) até o tempo do apóstolo Paulo (Gl 1.17).

d) Mênfis. A cidade mais importante do Egito setentrional que, segundo Heródoto, teria sido edificada por Menes, primeiro rei do Egito mencionado na história, localizada na margem ocidental do Nilo, cerca de 20 km ao sul do Cairo. As pirâmides egípcias mais famosas ficam perto desta cidade. Os judeus que permaneceram na Palestina, depois da destruição de Jerusalém por Nabucodonosor, mais tarde fugiram para o Egito e se estabeleceram em Mênfis (Nofe) e mais outros pontos daquele país (Jr 44.1). Hoje no local da antiga capital do Baixo Egito acham-se duas aldeias.

e) Babilônia. A antiga capital do Império Babilônico tornou-se notável pelos seus palácios, jardins suspensos e muralhas quase inexpugnáveis. Esta cidade foi edificada sobre as duas margens do Rio Eufrates, cerca de 500 km a noroeste do Golfo Pérsico (250 km ao tempo de Abraão já que Ur era cidade marítima). A época do seu maior esplendor foi a do tempo de Nabucodonosor (séc. VI a.C.), e Daniel, quando o povo de Israel foi levado cativo para aquela região. As suas origens pré-históricas remontam aos dias de Nimrode (Gn 10.10). Foi na cidade de Babilônia que Alexandre, o Grande, terminou os seus dias em 323 a.C.

f) Arã. Ficava na região chamada Arã-Naaraim, ou Padã-Arã, no planalto setentrional da Mesopotâmia, onde permaneceram por algum tempo Terá e seus filhos depois de deixarem Ur. Dados arqueológicos sugerem que tratava-se de um importante centro militar e comercial, ponto de convergência dos caminhos da Assíria, Babilônia, Ásia Menor, Egito (via Palestina) e Sinai.

g) Tiro. Cidade antiga e importante na Fenícia, mencionada muitas vezes no AT e NT. De início a cidade foi edificada sobre um pequeno promontório, transferindo-se mais tarde para uma ilha próxima a fim de resistir melhor aos constantes ataques dos inimigos. Alexandre, o Grande, tomou a ilha de Tiro em 332 a.C. depois de sete meses de cerco, tendo construído uma passagem através do estreito que a separava do continente. Foram os tírios navegantes e comerciantes famosos, que mantinham relações com regiões as mais distantes. Foram eles que fundaram Cartago, na África setentrional, no séc. IX a.C. Ao tempo de Davi e Salomão, o rei de Tiro (Hirão) manteve estreita amizade com Israel, ajudando com sua madeira e artífices a construir os palácios e o templo (2Cr 2.1-16).

h) Sidom. Porto marítimo, cidade importante e antiga da Fenícia, situada a cerca de 30 km ao norte de Tiro. Foi arrasada várias vezes por conquistadores sendo depois reconstruída. Um dos reis sidônios, Etbaal, era pai de Jezabel, mulher de Acabe, rei de Israel. Os sidônios aparentemente não mantiveram as mesmas relações com os hebreus que mantiveram com os tírios, pois muitas são as profecias contra Sidom.

II. ISRAEL

I. PALESTINA


          O termo "Palestina" originalmente era aplicado ao terri­tório dos adversários de Israel, os filisteus. Este mesmo termo ("Palesti­na") foi usado pela primeira vez por Heródoto como designação para o sul da Síria. Os romanos também usavam a designação "Palestina". Já o termo "Canaã" a princípio estava limitado às planí­cies costeiras daquela mesma região. Depois, devido às con­quistas cananitas no inte­rior daquela área geográfica, o nome passou a designar todas as terras ao ocidente do vale do Jordão. As expressões "terra de Israel" e "terra prometida" estão vinculadas com Israel. A "terra prometida" compreende a área que vai desde Dã (no extremo norte) até Berseba (que se acha ao norte do deserto do Negue­be).

II. POSIÇÃO GEOGRÁFICA DA PALESTINA


          A "terra da Bíblia" hoje compreende os territórios (total ou parcialmente) de Israel, Jordânia, Líbano e Síria. A Pales­ti­na é o corredor que une o mundo da Europa, da Ásia, e da Áfri­ca. Esta região está circundada por cinco mares: Medi­terrâ­neo, Negro, Cáspio, Vermelho e Golfo Pérsico. Todas as rotas continentais do mundo de então necessariamente atraves­savam este corre­dor. Grandes rotas marítimas da antigüidade entre as Índias e o Mar Mediterrâ­neo estavam ligadas por comu­nicaç­ões terrest­res que atra­vessavam a península do Sinai.

III. ROTAS COMERCIAIS


          Três grandes rotas comerciais sempre atravessaram a Palestina. São as seguintes:
          1. A grande Estrada Principal. Esta talvez seja "o cami­nho do mar" mencionado em Is 9.1. Esta estrada vem ao longo da costa desde o Egito até o vale de Esdrelom. Dirige‑se para o interior, passa pelo lado ocidental do lago da Galiléia, entra na Síria pela De­pressão Central, vai até Damasco e se une às trilhas da cara­vanas que vão até a Mesopotâmia. Esta é uma estrada extremamente importante e muito estratégi­ca. Esta rota sempre foi cobiçada principalmente pelos monar­cas com sonhos de gran­deza e expansão territorial. Este foi sempre o caminho dos exércitos, dos merca­dores e das idéias. Salomão explorou muito bem esta rodovia. Esta era a via mais importante de Israel. Até hoje é via extremamente estratégica.
          2. O Caminho Real. Este está situado ao largo oriental do pla­nalto da Trans­jordânia em direção a Damasco. Ele foi segui­do em parte pelos israelitas durante o êxodo (Nm 21‑22) e todas as cidades alistadas em Nm 21.27‑30 ficam ao longo do mesmo.
          3. Bacia fluvial da Palestina central. Seguida por outra rota, esta é a mais curta entre o Sinai e a terra de Canaã. Esta rota passa por pontos estratégicos do Neguebe. Liga centros impor­tantes desde Cades‑Barnéia e Berseba até Hebrom, Jerusalém, Siquém e Megido.
          Havia um certo número de estradas transversais menores que uniam estes caminhos principais paralelos. Mas não eram tão impor­tantes. Naturalmente havia comunicação entre as vilas. Tam­bém havia as rodovias "locais" que ligavam unidades maiores. Por exemplo, as estradas na região mon­tanhosa, ou o caminho que ligava Siquém a Belém, ou Jerusalém a Ácaba.
          Percebe‑se que as rotas mais importantes salien­tam a direção N‑S tomada na Palestina. Isto acontece em vir­tude da configu­ração geográfica do terreno.

IV. RELEVO E ESTRUTURA GEOGRÁFICA


          De forma simplista, pode-se afirmar que as dimensões médias de Israel hoje são de 240 km (direção N-S) por 80 Km (direção E-W). A maior distância nos tempos bíblicos vai desde as fronteiras do Egito (no extremo sul) até a Ásia Menor (no extremo norte) e esta dista cerca de 680 Km. Identificamos aí pelo menos cinco gran­des zonas geográficas no formato de faixas no sentido N‑S. São as seguintes zonas:
1. O litoral.
2. A cadeia de montanhas ocidentais.
3. Os vales escarpados (Arabá, vale do Jordão, Beqa, Ger).
4. As montanhas orientais (terras altas da Transjordâ­nia, Hermom, Anti‑Líbano),
5. desertos do Neguebe, Arábia, Síria.
          Ao norte da cidade do Acre, as montanhas se elevam abrup­ta­mente perto do mar limitando a zona litoral em seções des­con­tí­nuas. Nesta zona se acham alguns dos portos mais famosos da antitüidade (Sidom, Tiro, Beirute, Trípoli, Ras Shamra).
          Ao sul do Monte Carmelo a costa se abre numa larga planí­cie contínua, sem portos naturais. Do ponto-de-vista geográfico isto explica porque Israel não tem tradição marítima.
          O Vale Escarpado representa um antigo contorno planetário que se pode traçar até os lagos do leste africano.
          Já o Vale do Esdrelom representa uma faixa transversal que faz divisão entre a Galiléia e a Samaria.
          A beirada oriental do Jordão, o sul das terras altas da Judéia e a parte oriental do planalto da Transjordânia apresentam condições semi-áridas ou áridas, e boa parte está composta por terras inúteis para a agricultura ou habitação.
          No entanto, o vale do rio Jordão apresenta a mais pro­fun­da depressão do globo terrestre. Este vale na sua parte terminal (ao sul) está a mais de 400 m abaixo do nível do mar.


V. CLIMA


          A Palestina tem clima subtropical. O verão é seco e quente. No inverno fica húmido e frio. Claro, há variações dependendo do local onde se encontra. De maneira simplista, pode-se afirmar que há três principais zonas climáticas na Palestina: zona mediterrânea, zona de estepe, zona desértica.
          A zona mediterrânea, como indica o nome, situa-se na costa do Mar Mediterrâneo. Esta zona costeira caracteriza-se por invernos brandos e verões quentes.
          A capa prolongada de neve nas montanhas do Líbano é fenômeno excepcional, embora a neve seja conhecida no Haurã. Em outras regiões é rara.
          Via de regra, o verão vai de abril/maio a setembro/outubro. Este período é conhecido como a época das secas. Simplesmente não chove. Quando chove, isto vira notícia de primeira página de jornal! A temperatura é estável. Uma corrente de ar quente vem da região da Turquia e mantém a temperatura. Igualmente é constante a corrente de ar procedente do Mediterrâneo. Fenômeno interessante é a grande quantidade de orvalho que se precipita nesta época. Isto é muito importante para manter as plantas vivas. Os meses de junho, julho e agosto são os principais meses de verão. É muito quente. Ao entardecer, sente-se alívio com a brisa do Mediterrâneo. À noite fica fresco.
          Constata-se na Palestina um fenômeno da natureza denomi­nado de siroco. Durante dias (variando de 3 a 7, ou mais) um vento quente e seco sopra constantemente vindo do lado desértico oriental. A humidade baixa tremendamente chegando até 30% ou menos (o normal é de 40‑75%). As noites tornam-se quentes e há muita poeira na atmosfera. A Bíblia denomina este fenômeno de "vento oriental". Ele é símbolo de morte e de infertilidade. É uma verdadeira punição de Deus.
          O inverno dura de setembro/outubro a abril/maio. Trata-se da época das chuvas. O início e fim das chuvas acontece respectivamente nos meses de setembro/outubro e abril/maio. Quase toda a precipitação pluviométrica da terra santa (cerca de 80%) se concentra no inverno. Neste período há muita variação no tempo. Há alternância entre sol e chuva. É a temperatura e o vento que determinam as condições de vida. De qualquer forma há muita chuva, muita precipitação pluviométrica. A média dá 45 dias de chuva no inverno. A primeiras chuvas acontecem em outubro. Os principais meses de chuva são dezembro, janeiro e fevereiro. Março e abril testemunham as últimas chuvas. Com freqüência há chuvas pesadas. O granizo e a neve não são freqüentes. No inverno é frio, sendo janeiro o mês com temperatura mais baixa.
          A profunda depressão do Jordão oferece condições subtro­picais com grande calor no verão. Nos dias atuais, a região de Jericó vira moradia de inverno de muita gente dificuldades com o frio de Jerusalém. Raramente há neve no inverno.
          Não há provas arqueológica que o clima tenha se alterado desde os tempos bíblicos. Assim a narrativa bíblica fornece um quadro convincente sobre o clima atual. O que aconteceu através dos tempos foi o desmatamento de florestas.

V. HIDROGRAFIA DA PALESTINA


          1. Rios. Poucos são os grandes rios da Palestina. (E é preciso entender que este "grande" é em relação à terra santa.) Há muitos rios ou correntes temporários (são denominados wadis). Durante a época das secas fica apenas o leito seco sem água. Os maiores rios da Palestina são o Orontes, Leontes, Litani, Jarmuk e o Jordão (o principal de Israel). Também merecem consideração os rios (ou ribeiros) menores Joboque, Arnon, e Zered.
          2. Poços. Há muitos poços em toda a Palestina. Estes são muito importantes para a vida dos seus habitantes, dada a carência de água e os poucos rios permanentes em toda a terra. Boa extensão do terreno é formada por calcáreo impermeável no seu  nível mais profundo sendo poroso na superfície. Conseqüente­mente a água infil­tra e retorna em forma de poço. Constata-se a existência de lençóis subterrâneos no subsolo da Palestina.
          3. Flora e fauna. Do ponto de vista da flora e fauna, há três zonas bem definidas na Terra Santa: zona mediterrânea, zona de estepe, e a região desértica.
          a) Zona mediterrânea. Com indica o nome, trata-se da faixa fértil ao longo do Mar Mediterrâneo. É a região mais verde. Tem muita vegetação e depende muito da precipitação de chuva. Sua fauna é composta de animais domésticos e selvagens. Há também variados tipos de aves.
          b) Zona de estepe. Trata-se literalmente da faixa mais montanhosa. É local menos propício plantações. É uma região mais difícil para os animais e para a habitação humana. Devido às poucas chuvas e poucos rios, esta zona seca no verão.
          c) Deserto. Naturalmente recebe pouca chuva e tem temperaturas extremas: dependendo do local, chega a 20 graus de diferença entre o dia e a noite! O deserto é literal­mente um local de passagem. Ali ninguém vive.

VI. VIDA HUMANA NA PALESTINA


          1. Água. Como mencionado, a terra santa tem poucos rios permanentes. A necessidade de água faz com que se cavem muitos poços. Água é elemento precioso e vital no mundo bíblico. Isto faz com que vilas e cidades sejam construídas perto de alguma fonte de águas. A Bíblia explora muito a figura da água. "Água morta" é sinônimo de água podre. Já "água viva" refere-se a água corrente.
          2. Terra cultivável e pastos. As terras cultiváveis tinham que estar perto dos rios ou bons poços. O sistema de terraplanagem era conhecido e utilizada pelos agricultores. Especialmente nas regiões mais altas da Judéia este artifício era comum nas plantações de uva.
          3. Segurança. Por questão de segurança, a escolha do local onde se construiria uma casa ou cidade deveria ser criteriosa. Era preciso que o local tivesse água. Muitas vezes, se construía canais subterrâneos para garantir o seu suprimento em caso de ataques. Exemplo disto é o túnel de Siloé, em Jerusalém, escavado na rocha. Se a casa estava fora da cidade, não deveria ser muito longe. Era preciso ter para onde fugir em caso de invasão do inimigo. O terreno acidentado da Palestina dificulta a unidade nacional. Há uma tendência a separação. Por questão de segurança, as cidades tendiam a ser construídas no alto de alguma elevação. Um bom número tinha muralhas ao seu redor.

VII. REGIÕES DO ISRAEL BÍBLICO


          1. Deserto do Neguebe. Localiza-se ao sul de Israel. É região inóspita, quente, seca, sem água e sem vegetação. É lugar de trânsito. Em geral, é formada não de areia, mas de terra socada. Abrange a região entre a Palestina e o Egito.
          2. Judá. Situa-se na região montanhosa sul extendendo-se até o Mar Morto e Jericó. Algumas de suas áreas são férteis. Nesta região se encontra também o deserto da Judéia (que fica entre Jerusalém e Jericó). Por estar nas montanhas, esta região é isolada, com tendên­cia a ser fechada e "provinciana". A partir dali, o acesso ao "mundo" não era tão fácil. Parece haver relação entre esta constatação geográfica e a tenaz ortodoxia religiosa sempre mantida por Jerusalém. Nesta região viviam as tribos de Judá e Benjamim, e o grande destaque fica para a capital Jerusalém.
          3. Samaria. O AT também se refere a esta zona como a "região montanhosa de Efraim". Encontra-se na parte central da Palestina. É composta por montanhas e, via de regra, o seu terreno é rochoso. Esta região é de fácil defesa, é bom para fins militares, e oferece muito refúgio. As tribos que ali predominavam nos tempos do AT são as de Efraim e Manassés (que mantinham rivalidade permanente com Judá, seu vizinho do sul). Esta região está mais aberta ao norte e as influências estrangei­ras que de lá vinham. A maior cidade era Samaria, capital do Reino do Norte.
          4. Galiléia. Fica ao norte e contém o "mar" da Galiléia. Foi o quartel‑general de Cristo em suas atividades no norte. Trata-se de uma região fértil, com grande quantidade de água. Como o caminho que ligava a Mesopotâmia ao Egito cruzava pela Galiléia, todos os impérios internacionais passaram por ali. Em conseqüência, a Galiléia testemunhou lutas, ataques e destruições de todos os tipos. Ali se cultiva cereais, frutos, etc. O vale de Esdrelon é a região mais fértil de Israel. O mar da Galiléia (na verdade, um lago) tem papel importante em sua relação com os discípulos e Cristo no NT. Por ter um terreno relativamente regular e baixo, e por ter a rodovia internacional cruzando o seu terreno, a Galiléia estava aberta ao contato internacional e mais exposta às novas idéias. Esta foi a primeira região a cair sob os assírios.
          5. Planície da Filístia. Situa-se no sudoeste. É região costeira e plana. Nos tempos do AT era habitada pelos filisteus. Era considerada como uma "terra de ninguém". Os filisteus representavam constante amea­ça a Israel. Este pedaço era estratégico para o domínio da rodovia internacional. Sempre esteve na mira do Egito.
          6. Planície de Sarom. Situada ao noroeste, também é região costeira e plana. Sua terra é fértil, bonita, cultivada. Ali se localiza o porto de Cesa­réia.
          7. Transjordânia. Abrange toda a região localizada ao leste do rio Jordão. É composta de planícies e montanhas. As tribos que ali habitaram foram as de Rubem, Gade e a meia tribo de Manassés. Esta região estava exposta a toda sorte de infiltrações e ataques.
          8. Rio Jordão. É uma linha verde ao longo de quase toda Palestina. Trata-se do maior rio da terra santa. O vale do Jordão apresenta a depressão mais funda do planeta terra. O rio nasce abaixo do Monte Hermon, acima do Mar da Galiléia. E deságua no Mar Morto. Ele tem cerca de 120 km (em linha reta). Tem grande importância para a compreensão e os fatos bíblicos.
          9. Mar Morto. Tem dimensões de 77 km (comprimento N-S) por 10‑15 km (E-W, dependendo de onde se mede). A superfície da água está a 385 m abaixo do nível do mar. E o ponto mais profundo no fundo do mar desce mais 390 m. O que dá cerca de 800 m abaixo do nível do mar. O índice de salini­dade do Mar Morto é 8 vezes mais (24%) que o índice médio nos outros mares (cerca de 3%). Ao seu redor há muitas fontes de enxofre.

VIII. PRINCIPAIS CIDADES DE ISRAEL


As seguintes cidades se destacam ao longo da história da Palestina e Israel: Jericó, Hebrom, Belém, Jope, Siquém, Samaria, Nazaré, Cesaréia, Tiberíades, Cafarnaum e, principalmente, Jerusalém, a grande capital desde que foi conquistada pelo rei Davi.


UNIDADE 2: HISTÓRIA DO MUNDO DO AT


I. CANAÃ


1. História


          Na Bíblia, Canaã é o filho de Cão, neto de Noé, que recebeu uma maldição do seu avô (Gn 9.18,22-27). Em Gn 10.15-19 onze grupos que historicamente habitaram a Fenícia em particular e a Síria-Palestina em geral são listadas como seus descendentes. Os cananeus são um povo de fala semítica. O termo "Canaã", tanto na Bíblia como em fontes externas tem três significados: a) refere-se à terra e aos habitantes da costa sírio-palesti­na, especialmente a Fenícia; b) refere-se ao interior da Síria e Pales­tina em geral; c) "cananeu" tem a conotação de "mercante, traficante" (o comércio é a característica cananita por excelência).
          A presença de povos de fala semítica é atestada já no terceiro milênio a.C. Quando os cananeus apareceram na Palestina é questão disputada. É certo que cananeus e amorreus já estavam estabelecidos na Palestina em 2000 a.C. Por todo o segundo milênio a Síria-Palestina estava dividida em várias cidades-estado cananéias e amoritas. Há também registros de muitos destas cidades-estado em textos egípcios ("Execration Texts"). No período 1500-1380 a.C. estes estados eram parte do império asiático do Egito e no séc. XIV as cidades do norte passaram para o domínio hitita. Com a conquista de Josué, o poder destas cidades foi abalado. A conquista de Canaã foi cumprimento das antigas promessas (Gn 17.8; 28.4,13-14; Êx 6.2-8). Deveriam desalojar estes povos (Dt 7.1,2ss) pois Deus estava executando juízo sobre eles (Dt 9.5; Gn 15.16).
          Por volta de 1300 a.C. Canaã era uma província egípcia cujo território compreendia o Líbano, Síria, Jordânia e o que mais tarde veio a ser a terra de Israel. Grupos distintos viviam nesta área geográfica (Dt 7.1). "Cananeu", além de referir‑se a um grupo específico (moradores de Canaã), tornou‑se um termo de sentido amplo que identificava moradores daquela região, independente do seu caráter étnico. Os que viviam na costa eram mercadores. Os maiores portos localizavam‑se em Tiro, Sidom, Beirute e Biblos. Destes portos riquezas iam a vinham. Eram centros comerciais importantes e de renome na antigüida­de. A posição geográfica de Canaã (ponto intermediário entre Ásia e Egito), bem como suas atividades comerciais, faziam dela um centro aberto a todo tipo de influências culturais e religiosas.

2. Cultura


          A maioria das cidades-estado dos cananeus eram monar­quias. As cidades cananéias eram protegidas por muros (erigidos com pedras e terra) a fim de manter animais selvagens e invasores fora de seus domínios. As cidades eram autóctones, auto‑governavam‑se, e com frequência os seus governadores achavam‑se em pé‑de‑guerra com seus vizinhos. O rei tinha poderes militares, de administração, de taxação e requisição de terras e trabalhadores (corvéia). (Isto está refletido na oposição de Samuel ao reinado, 1Sm 8). As questões militares, religiosas e econômicas estavam sob supervisão direta do rei. A unidade básica da sociedade era a família. Nas unidades sociais maiores constam as cidades com sua associação com a vilas. Havia muitas organizações de profissionais (de produtores primários: pastores, caçadores, açougueiros e padeiros), de artistas (cobre, bronze, prata, oleiros, escultores, construtores), e comerciantes (locais e de longa distância). Os sacerdotes e as pessoas ligadas ao culto (incluindo músicos) reuniam-se em associações. Contratava-se tropas mercenárias (por exemplo, Sísera ou Jabim em Jz 4).
          A grande contribuição de Canaã à civilização mundial foi a invenção do alfabeto (ca. 2000‑1600 a.C.). A literatura está principalmente representada pelos textos de Ugarit (norte da Fenícia). Esta inclui a Épica de Baal (que retrocede a cerca de 2000 a.C.), a lenda de Aqhat (relata as vicissitudes do filho único do bom deus Dan'el), a história do rei Keret, e outros fragmentos. Há muita poesia fragmentária. Esta literatura mostra grande proximidade com o hebraico bíblico arcaico tanto no vocabulário e como na forma de expressão.

3. Religião


          A caracterização da religião cananéia não é uniforme no decorrer do tempo. Os cananeus sempre foram politeístas e tinham extenso panteão. Conforme os textos de Ugarit, a cabeça do panteão era El. Ele era o criador da terra e do homem e progenitor dos outros deuses. El morava na fonte dos rios e entre a nascente dos dois oceanos. Porém Baal ("senhor"), o deus da tempestade e da chuva, era mais proeminente e ativo. É Baal que providencia a chova da qual depende a fertilidade do solo. Observando o ciclo da natureza, os cananeus prati­cavam o culto à fertilidade. Baal está em luta permanente com Yam ("mar") e com Mot ("morte"). Ele morre vítima do segundo. Mas volta ressurreto. Baal Melqart é o Baal da cidade de Tiro. Anate é a esposa de Baal que o auxilia na luta contra Mot. As deusas Asherah, Astarte (tam­bém Astaro­te) e Anate tinham personalidades múltiplas e caráter violento. Eram as deusas do sexo e da guerra. Na Palestina sabe-se de templos em Bete-Sean, Megido, Lachisch, Siquém e principalmente Hazor. Havia outros na Síria e em outras regiões. Os textos ugaríticos mencionam uma variedade de animais sacrificados aos deuses: gado, carneiros, ovelhas, aves (incluindo pombas), além de libações. Sabe-se de prostitutas cultuais como parte integral do culto cananeu. Os cananeus tinham alguma noção de vida pós-morte. A partir do segundo milênio a.C. há indicações de sacrifícios humanos como parte do culto. A religião cananita apelava para o que havia de mais bestial e material na natureza humana. A degradação de certas cerimônias chegou a chocar até escritores gregos e romanos.
          A oposição entre Iahweh e Baal (2 Rs 17.10) e a prostituição sagrada (1Rs 15.12; 2Rs 23.7) estão registradas no Antigo Testamento.


II. FILÍSTIA                                         


          Os filisteus viviam principalmente em cinco cidades ao sudoeste da terra de Israel: Asdode, Ascalom, Ecrom, Gate e Gaza. Eles controlavam a rodovia internacional que vinha do Egito ao longo da costa mediterrânea. No período do Juízes, Samuel, Saul e Davi, os filisteus representaram uma constante e poderosa ameaça aos israelitas. Ambos os povos queriam controlar o mesmo território. A necessidade de organização militar a fim de enfrentar os filisteus em pé de igualdade foi um dos fatores que levaram o povo de Israel a pedir um rei (1Sm 8.20). Cada cidade filistéia tinha um governante. Eles dominavam a tecnologia do ferro, o que lhes dava incrível poderio militar. Eram politeístas. O AT menciona alguns de seus deuses: Dagon (templos em Gaza e Asdode, 1Sm 5), Baal‑Zebube (cultuado em Ecrom, 2Rs 1.2) e Astarote (1Sm 31.10).

III. EGITO                                         


1. Aspectos Geográficos


          Situado ao noroeste da África, o território egípcio é caracterizado pelo deserto do Saara e pelo rio Nilo. Até tempos modernos, o Egito virtualmente devia sua existência às cheias do Nilo que traziam o rico humus das suas cabeceiras e o depositavam ao longo de suas margens, particularmente no delta. Era o que de melhor havia para a agricultura. Uma cheia irregular podia significar fome e morte. Cedo eles aprenderam e dominaram a técnica do transporte fluvial. Afinal, o Nilo era a sua principal e conveniente "rodovia". Dos desertos e da península do Sinai eram extraídos metais preciosos (cobre e ouro). Dali também vinham as rochas destinadas aos projetos gigantescos.

2. História


          O sacerdote egípcio Manetho, autor da obra Aigyptiaka Hypomnemata, redigida no início do terceiro milênio a.C. e preservada em fragmentos por Josefo e outros, compilou o que ele sabia da história do Egito no milênio anterior. Assim sendo a pré-história do Egito (período pré-dinástico) retrocede ao quarto milênio a.C. Os estudiosos costumam dividir a história do Egito antigo como segue:[1]
          a) Período pré-dinástico (quarto milênio a.C., pré-história do Egito). A história do Egito é milenar. Esta começou muito antes de 3000 a.C. Retrocede ao quarto milênio a.C. Havia dois reinos independentes: um no Baixo Egito na região do Delta do Nilo, e outro no Alto Egito ao longo do vale do Rio Nilo. Esta existência separada destes dois reinos é que caracteriza o período pré-dinástico do Egito.
          b) Período arcaico (3000-2700 a.C.): dinastias 1-2, era formativa. A data 3000 a.C. é fixada como ponto de referência para a existência do Egito como um império unifica­do sob um único monarca (o faraó Menes). O faraó usava uma coroa dupla significando os dois reinos. Sabe-se de duas dinastias com vários monarcas governando neste período formativo da identidade do Egito.
          c) Reino antigo (2700-2160 a.C.): dinastias 3-8. A "era das pirâmides" (ou o reino antigo), como indica o nome, é caracterizada pelos projetos arrojados e gigantescos. Este é um período de grande centralização e governo forte pelos oficiais do reino antigo. Seu ponto alto está na quarta e quinta dinastias: foi o período dos famosos construtores de pirâmides.
          d) Primeiro período intermediário (2160-2106 a.C.). Foi governado pelas dinastias 9-10 e caracterizou-se como período de declínio.
          e) Reino médio (2106-1786 a.C.): dinastias 11-12 (reunificação, período clássico). Neste tempo o Egito expandiu o seu território e fortaleceu a economia da nação. A forma do estado mudou e governantes provinciais adquiriram mais poder. (Este é o tempo das peregri­nações de Abraão que morou inclusive no Egito.) Este é o período clássico da literatura e arte egípcias.
          f) Segundo período intermediário (1786-1550 a.C.): dinastias 13-17. Toda esta era é caracterizada pela existência de linhas contemporâneas de reis. A 15a. dinastia era formada pelos hicsos. Após a 12a. dinastia, governantes fracos e estrangeiros dirigiram o país (ca. 1780‑1550 a.C., período de José no Egito). Este tempo é conhecido como o segundo período interme­diário e aí se encerra o reino médio.
          g) Novo reino ou império (1550‑1069 a.C.): dinastias 18-20. O império é marcado por guerras e expansão territorial. Houve ocasiões em que o império expandiu-se até a Síria (ao Norte) e até a Núbia (ao sul). Foram os senhores feudais do Alto Egito que, por volta de 1570 A.C., que removeram o controle (monarcas) estrangeiro do Egito e em conseqüência cons­quistaram também a Síria para onde estes monarcas tinham fugido. Na 18a. dinastia destacam-se os faraós Amenófis e Tutmosis. Na 19a. dinastia aparecem Seti e Ramsés. Estas duas dinastias expandiram o reino e firmaram controle interno. O novo reino foi acima de tudo um reino militar. Também se caracterizou pela construção dos imponentes templos em Mênfis e Tebas, entre outros. Esta é a época de Moisés e do êxodo.
          h) Terceiro período intermediário (1069-664 a.C.): dinastias 21-25. Esta foi uma época de desu­nião. Este período caracteriza-se por descentralização política e falta de uma monarquia unificada firme. Há também a invasão de estrangeiros. O Egito já não é mais uma unidade como antes.
          i) Período final p.d. (664-332 a.C.): dinastias 26-"31" (governantes saitas – de Sais, persas e independentes).
          j) Período greco-romano (332 a.C.-641 A.D.): domínio dos ptolomeus e romanos.
          Em seu período final e na fase greco-romana, o Egito já mostrava sinais de decrepitude. Os bons tempos eram coisas do passado. Ainda assim houve faraós fortes. Amon-Re (21a. dinastia) foi o primeiro sacerdote a chegar ao poder. Na 22a. dinastia militares líbios subiram ao trono. Entre estes acha-se Sisaque. Na 26a. aparece o Faraó Neco. No ano de 525 a.C. o rei persa Cambises conquista o Egito e aí terminou a história do Egito antigo. Mesmo assim, a dinastia macedônica dos Ptolomeus, sucessores de Alexandre, o Grande, controlou um Egito dividido. Porém ainda era um governo estrangeiro.
          Através de toda história o faraó era o chefe supremo do Egito. A terra estava dividida em províncias que tinham os seus governantes locais. A maioria da população era composta por agricultores e pecuaristas. Dependiam do Nilo. O sistema hieroglífico de escrita era pictográfico. Considerando a época, tiveram uma rica e variada produção literrária (narrativa, poesia, livros de sabedoria – "provérbios" –, cartas, listagens, etc).

3. Religião


          a) Politeísmo. Exceto no período da reforma religiosa de Akenaton, o politeísmo sempre foi a característica teológica predominante na religião egípcia. Embora alguns textos egípcios pareçam descrever alguma forma de monoteísmo, na verdade isto refere-se ao henoteísmo que predominou em determinados momentos. As divindades egípcias estavam organizadas hierarquica­mente, onde o criador ocupava o mais alto posto: era o rei dos deuses. Um fator de unidade na religião egípcia eram os rituais diários celebrados nos diversos templos da nação. Estes rituais estavam preocupados com os cuidados e alimentaçãos dos deuses em suas cellae nos vários templos. Eram politeístas, adoravam deuses das mais variadas origens. Determinados animais eram dotados de qualidades especiais para certos deuses (exs.: boi ápis, íbis, falcão, gato). Podiam atuar como ima­gens vivas dos seus patronos. Os sacerdotes no culto usavam máscaras deste animais e assim representavam os deuses que se manifestavam com esta forma. Nos santuários locais os muitos deuses concebidos e representados por animais ou plantas eram adorados. Os deuses moravam nos tem­plos. Os sacerdotes os serviam (oferendas, alimentos, hinos, etc). Também se adorava divindades cósmico-universais. Uma única vez na história do Egito o politeísmo foi questionado frontalmente: foi na 18ª dinastia com o Faraó Amenófis IV. Ele era "teólogo" tentou substituir o panteão politeísta egípcio pelo culto a um só deus: o disco solar "Athen" (ou "Aton"). Ele fez uma reforma religiosa apagando os nomes de outros deuses (inclusive o poderoso culto a Amon-Re) das inscrições existentes. Ele mudou o seu próprio nome (Amenófis contém "Amon") para Akhenaten (Ikhnaten ou Akenaton, "o favorecido pelo disco solar"). Porém esta reforma não permaneceu após sua morte. (O Sl 104 tem grande semelhança com o Hino a Aton composto pelo Faraó Amenófis IV).
          b) Ritual comunitário. Característica importante era o aspecto comunitário da religião egípcia. Havia pouco espaço para convicções individuais. Apesar dos grandes templos (como Luxor e Karnak) representarem a religião oficial, nas cidades e vilas havias muitos templos simples e pequenos em atividade. Os oficiantes das vilas tinham laços mais próximos ao povo que os sacerdotes oficiais da religião estatal. O povo simples não entrava nos grandes templos. Adoravam em santuários locais. Na teoria, o faraó era o único liturgista de todos os templos. Na prática, esta atividade era delegada a sacerdotes que funcionavam como representantes oficiais do faraó. O faraó era o grande sacerdote no culto egípcio. O faraó era o intermediário entre os deuses e os homens. Por outro, ele também era chamado de deus.[2] Os deuses falavam ao faraó e ele representava o povo diante destes como personalidade corporativa. O ritual visava agradar aos deuses e isto traria bons tempos para o estado, agricultura, famílias e indivíduos. Digno de nota é a participação feminina nos cultos da vilas.
          c) Revelação divina. A semana egípcia era de 10 dias. O último dia era de descanso do trabalho e para participação nas atividades religiosas nos templos. Nestes dias havia "epifania" (através das imagens) dos deuses no momento do culto. Nestas "epifanias" os deuses manifestavam-se sobre assuntos nacionais (economia, por exemplo) e particulares (por exemplo, sobre a compra de um cabri­to!). Isto acontecia em meio a manifestação divina no meio do povo e não no interior do santuário. Os deuses também se manifestavam através dos sonhos dando orientação ao povo.
          d) Piedade pessoal. Apesar da ênfase comunitária, a piedade pessoal era muito enfatizada (como atestam nomes de pessoas).
          e) Mito e sacramento. Eventos míticos raramente eram descritos na arte egípcia. A narração de mitos dos deuses exige um conceito linear do tempo, enquanto o conceito egípcio de tempo era cíclico. Os textos mais antigos (das pirâmides do reino antigo) têm um caráter mais sacramental do que mítico.
          f) Ética. Apesar de ser religião do estado, tolerava-se deuses estrangeiros. O comportamento ético entrava no julgamento dos mortos onde as boas ações eram postas contra as más ações de alguém. Os egípcios tinham discernimento moral (certo/errado) e praticavam artes mágicas na sua rotina diá­ria.
          g) Vida após a morte. O Egito tinha um sistema complexo de crenças na vida após a morte. Os próprios deuses egípcios estavam sujeitas à morte e renascimento. Acreditava-se que a pessoa tinha existência continuada na tumba.Os corpos eram mumificados e as tumbas eram providas de todo instru­mental e alimentos necessá­rios ao morto. Acreditava-se que as pessoas, após a morte, iam para o "oeste", para o mundo dos mortos que se localizava na região do poente (onde o sol se punha). Ali as pessoas continuavam a existir como abençoados sob o governo de Osíris, o senhor deste mundo. Informações eram enviadas com o morto para orientá-lo em sua jornada para o "oeste" a fim de vencer eventuais dificuldades. Este tipo de texto é que formou o Livro dos Mor­tos. No reino antigo cria-se que os faraós partici­pavam em processos cósmicos como o curso do deus Sol ou o movimento dos astros.
          h) Antropologia da "alma". Além da múmia na tumba, havia outros elementos espirituais que faziam parta da antropologia do ser humano. Havia o ka que era a força dinâmica vital criada no nascimento da pessoa. Após a morte, o ka rejuntava-se ao corpo na tumba. O ba era uma manifestação de poder (espécie de "alma") que após a morte era a porção da psiquê que parti­cipava de processos cósmicos. O akh era um espírito que exisia somente após a morte e podia exercer in­fluência sobre pessoas vivas. Após a morte, e egípcio sobrevi­via em dois tipos de tempo divino: o ba no tempo cíclico divino e o cadáver no domínio do djet (uma espécie de exis­tência atemporal e sem mudança).

4. O Egito e a Bíblia


          a) Período patriarcal. Gn 12.10ss e 42-47 reportam fome e fuga de personagens bíblicos para o Egito. Os faraós do tempo de Abraão e de José provavelmente pertenciam às 12a. e 13a./15a. dinastias respectivamente (reino médio). Quando forasteiros, os israelitas conseguiram emprego no Egito. Semelhante a José (Gn 47.15) muitos recebiam um segundo nome egípcio. No Egito, a interpreta­ção de sonhos era redigida em livro a fim de ajudar a quem sonhasse. O motivo das sete vacas (Gn 41) não existe só no sonho do faraó mas também no Livro dos Mortos (§148) que se preocupa com o alimento na vida além-túmulo. Quanto à alimentação, os egípcios tinha controle detalhado das suas produções. As sugestões de José teriam rápida acolhida e execução. Confirmado por inscrições, a região do delta era o local favorito para a criação de gado (irmãos de José). A roupa de José, a mumificação e os sarcófagos egípcios eram conhecidos no mundo de então.
          b) Moisés e o êxodo. Os hebreus tornaram-se escravos e cons­truíram as cidades de Pitom e Ramsés. Na história egípcia sabe-se de certo povo denominado 'apiru (que incluiriam os hebreus) que trabalharam para os egípcios. Sabe-se de vários motivos para pedir folga do trabalho: esposa doente, fazer cerveja para o patrão, alguém mordido por escorpião, licença para um grupo ir a uma festa religiosa por vários dias. Uma princesa do harém do delta com certeza podia adotar uma criança estrangeira (Êx 2). Estes adotivos podiam assumir altos postos em seu serviço. As seiscentas carruagens (Êx 14.7) que perseguiram os hebreus não é número impossível. O tabernáculo do deserto utilizou técnica antigas do Egito para este tipo de construção.
          c) Período posterior. O Egito reaparece no tempo de Davi e Salomão. Salomão casou com a filha do faraó (1Rs 9.16). Conformes achados egípcios, este faraó talvez tenha sido Siamun (970 a.C.). Há semelhanças entre os Provérbios de Salomão e a Instrução de Amenemope. Sheshonq I, fundador da 22a. dinastia, é o Sisaque da Bíblia (1Rs 11.40; 14.25).
          d) Literatura. Há alguns pontos de contato entre o AT e a literatura egúpcia:
- O episódio da esposa infiel de Potifar já foi considerado como tendo sido baseado num incidente egípcio similar encontrado na História dos Dois Irmãos. Mas a esposa infiel é o único ponto em comum. A História é comprovadamente fantasia, enquanto Gn 39 é comprovadamen­te uma narrativa.
- O Hino a Aton, do faraó Akenaton, já foi conside­rado como base, inspiração e modelo do Sl 104. O universalismo e a adoração ali colocados são comuns e espalhados em todo o Oriente Próximo. Há semelhanças, mas não suficientes para sustentar alguma influência direta.
- Sabe-se da existência de salmos penitenciais dos trabalhadores da necrópole de Tebas (19a. dinastia 19).
- Literatura Sapiencial: Há grande semelhança entre Pv 22.17-24.22 ("as palavras do sábio") e a Instrução de Amenemope (ca. 1200 a.C.). Muitos assumem que Pv toma a Instrução de Amenemope como modelo e dela depende. Outros entendem que Amenemope e Pv baseiam-se numa fonte comum do gênero proverbial do antigo Oriente. A pesquisa recente mostra que não há motivo para apontar qualquer relaciona­mento especial entre Amenemope e Pv.

IV. ASSÍRIA                                         


1. Geografia


          O território assírio achava‑se na parte norte da Mesopotâmia (atual Iraque), continuava ao longo do rio Tigre chegando até os pés da cordilheira de Zagros (ao leste). A parte mais densamente habitada e mais fértil encontra-se ao leste da parte central do Rio Tigre (também chamado de Hidequel, Gn 2.14). O termo hebraico 'Assur ) aplica-se tanto ao povo como à terra. As suas principais cidades são Nínive, Assur e Calah. No auge do seu poder (séc. VIII-VII a.C.) o território da Assíria incluía a Média e o sul da Anatólia, Cilícia, Síria, Palestina, Arábia, Egito, Elão e Babilônia. No AT, Assur era considerado o segundo filho de Sem (Gn 10.22). A Assíria foi o poder mundial que invadiu Judá e Israel, embora mais tarde fosse derrotada por causa da sua impenitência. Há freqüentes referências à terra (Is 7.18; Os 11.5) e aos reis da Assíria (Is 8.4; 2Rs 15-19). A chuva regular e o sistema fluvial providenciavam o neces­sá­rio para uma agricultura próspera. A Assíria era um território muito atraente para tribos selvagens e nações com sonhos de grandeza. Não é de admirar que sua história foi escrita com sangue. Sua primeira capital, o país e a divindade principal compartilhavam o mesmo nome: Assur. Nínive era a segunda cidade. Ambas já prosperavam em 2500 a.C., senão antes. Sua fama de imperialistas cruéis e impiedosos soldados correu o mundo. Eram temidos. As constan­tes ameaças ao seu território em parte o explicam. O que não quer dizer que o vocabulário assírio não comportava palavras como "paz" e "prosperidade". A Assíria tem um dos melhores climas do mundo: as quatro estações são regulares e agradá­veis. A precipitação pluviométrica é regular e produz exube­rante vegetação. As maiores fontes naturais da Assíria são o solo e a água que permitem a agricultura e a pecuária (cabrito, ovelhas, porcos, bois) em abundância. O cavalo ali apare­ceu no segundo milênio a.C. e era usado para fins militares. Os rios produzem muito peixe e as encostas têm muitas vinhas. A cevada era o principal cereal usado para fazer pão e cerveja. A cidade de Assur estava situada no cruzamento N-S e E-W das rotas comerciais. Como o Tigre corre muito rápido sendo assim perigoso, não era bom para transporte. As estradas reais eram conservadas. Uma caravana ou expedição militar podia viajar em média 25 km por dia. Para fins de comunicação, havia postos com cavalos prontos 24 horas por dia.

2. História


          a) História primitiva (até 900 a.C.). A Assíria é habitada desde tempos pré-históricos (ca. 5000 a.C.). A cerâmica encontrada em muitos lugares da Assíria comprova ocupação muito antiga (5000-3000 a.C.). Conforme Gn 10.11-12, a Assíria foi fundada por imigrantes da Babilônia. Disputa-se a origem dos assírios, embora sumerianos já estivessem em Assur por volta de 2900 a.C. A língua e a cultura assíria deve muito aos vizinhos do sul. Entre 1500‑1100 a.C. a Assíria ocupou posição de liderança no Oriente Próximo. Sabe-se de lutas contras povos menores que tentavam invadir o cobiçado território. Os vários monarcas assírios conduziram bem sua defesa e o reino cresceu em várias direções. Chegou a igualar o lendário Egito. Houve então um tempo de acomodação (1100-900 a.C.). (Foi isto que permitiu que o reino de Davi e de Salomão expandisse até a Síria.)
          b) Período neo-Assírio (900-612 a.C.). Após 200 anos (1100‑­900 a.C.) de fraquezas e problemas inter­nos, uma série de vigorosos monarcas transformaram a Assíria numa superpotência. Sob Tukulti-Ninurta II (890-884 a.C.) inicia-se vigorosa campanha contra as tribos opressoras da Assíria. A Assíria passa então a crescer. Com o seu filho Assurnasirpal II começa a pressão em direção ao oeste (o que poria a Assíria em conflito com Israel). Calah foi reconstruída com suntuosidade (tinha esculturas, jardim botânico, jardim zoológico e um parque!). Salmanaser III expandiu grandemente as fronteiras da Assíria (do Urartu ao Golfo Pérsico, e da Média até a Síria e Cilícia). Ele investiu contra a Síria, Damasco e Israel. Tiglate-Pileser III continuou a expansão rumo ao oeste (e Israel). Salmanaser V (726-722 a.C.) cercou a Samaria. Os habitantes de Israel (Reino do Norte) foram levados em exílio para o Eufrates superior e para a Média. No entanto Sargão II afirma ser ele o conquistador da Samaria. (Pode ser que ambos trabalharam juntos, e Sargão completou o cerco após a morte do primeiro.) Os primeiros tempos do governo de Senaqueribe (que trouxe a capital para a antiga Nínive agora por ele embelezada) foram ocupados com rebeliões internas. Esaradom continuou a invasão do oeste e em 672 governantes assírios foram instalados em Mêmfis e Tebas. Com Assurbanipal (668-ca.627 a.C.) a Assíria chegou ao auge da sua extensão territorial. Rebeliões internas eclodiram. Os babilônios uniram-se aos medos e capturaram Assur em 614 a.C. Em 612 a.C. foi a vez de Nínive. Os princi­pais monar­cas assírios foram Assurbanipal II, Salmanaser III, Tigla­te Pileser III, Sargão e Senaqueribe. Sob os governos de Esaradom e Assurbanipal, o império atingiu o ápice da expansão territorial (cobria o Egito, Síria, terra de Israel, norte da Arábia e partes da Turquia e Pérsia). Os povos derrotados eram deportados e substituídos em seus territórios por estranhos. Foi a forma que acharam para anular a resistência das nações. Mas o império estava muito grande. Era difícil defender tudo isto e manter a supremacia por muito tempo. Em 625 a.C. a Babilônia tornou‑se independen­te. E em 612 a.C. (com ajuda dos medos) destruiu Nínive. Era o começo do fim da Assíria.

3. Técnicas Militares


          A Assíria foi um estado militarista. O esporte prefe­rido dos seus monarcas era a caça de animais (leões, elefantes, touros selvagens, panteras, etc). O império estava organizado ao redor do exército e da máquina de guerra. No período sargônico havia centenas de milhares de tropas. O rei era o comandante supremo e as tropas eram organizadas em unidades de 50 homens, e estes divididos em fileiras de 10 guerreiros. O carro leve puxado a cavalo foi introduzido no Crescente Fértil em meados do segundo milênio. Rapidamente se tornou parte integral do exército assírio e foi aperfeiçoado de forma que se tornou peça importantíssima para a eficiência do exército. A cavalaria e as carruagens tornaram-se a elite do exército assírio. Quando o exército partia para a guerra, sacerdotes e adivinhos o acompanhava. Os generais utilisavam estratégias de guerra como o cerco, o ataque noturno, o represamento de rios para inundar o terreno inimigo, e a guerra psicológica. Esta última consistia em cercar o inimigo e enviar um oficial diante dos portões da cidade para argumentar e convencer a população a desobedecer os seus governantes e render-se pacificamente aos assírios. (É o que temos no episódio de Senaqueribe em 2Rs 18.16-37.) Se esta tática falhava, então o método era outro: destruição total da cidade! Os habitantes eram simplesmente mutilados ou mortos. Escolhia-se algumas vítimas, esfolava-se sua pela e os impalavam ao redor da cidade como exemplo! A fama e o medo rapidamente se espalhavam e a rendição era questão de tempo. Esta estratégia era extremamente eficaz. Outra caracterís­tica da Assíria era a deportação dos vencidos. Os revoltosos eram assim anulados e havia mão-de-obra para os projetos de construção. O exército assírio foi o melhor dos tempos antigos anteriores ao período persa.

4. Religião


          A religião assíria tinha dois componentes fundamentais: o politeísmo e as cerimônias cúlticas. O politeísmo se manifesta no seu panteão. Assur era o deus principal, o rei dos deuses. Era seguido por Ishtar (deusa da guerra e do amor), Ninurta, Shamash, Adad e Sin. Ao redor de cada um havia um complexo de celebrações, de sacerdotes e sacerdotizas, e uma equipe para o templo e/ou zigurate. Nínive e Arbela tinham a deusa Ishtar como sua patrona. Parte da sua equipe incluía profetizas que, em êxtase, tinham revelações e as enviavam aos monarcas. Ninurta, primogênito de Assur, era o deus da guerra e da caça. Adad (deus do trovão e da chuva) e Shamash dividiam a responsabilidade nas adivinhações. Shamash também era responsável pela justiça. A religião assíria foi grandemente influenciada pela religião babilônica. Deuses babilônicos (Enlil, Marduk e Nabu) eram populares na Assíria em determinadas épocas. Uma cidade assíria tinha muitos templos menores dedicados a deuses e deusas. Um templo era uma comunidade em si mesmo com pessoal próprio. O rei era o principal sacerdote na terra, pois ele representava Assur. O rei assírio agia como regente na terra do deus nacional Assur a quem ele prestava relatórios regulares da sua atividade. A presença do reiera exigida nos festivais religiosos, principalmente na celebração do ano novo onde a divindade confirmava o seu reinado por mais um ano. O rei aconselhava-se regularmente com adivinhos e sacerdotes. Estes tinham influência nos destinos do reino. A celebração do ano novo era a mais importante do ritual assírio. Os assírios eram tolerantes com outras religiões e práticas religiosas. Eles não impunham o culto a Assur às nações conquistadas o seu deus pessoal a quem ele apresentava suas necessidades e desejos. Em troca, os assírios ofereciam presentes a este seu deus pessoal. A prática da adivinhação e prognóstico do futuro estavam presentes na religião popular assíria. Praticava-se adivinhação pelo movimento dos astros e pela observação das entranhas de animais sacrificados (especialmente o fígado e os pulmões).
          As campanhas assírias eram entendidas, ao menos em parte, como guerra santa (rebelião contra Assur). O templo principal de Assur estava em Assur. Os deuses Anu e Adad residiam em Assur. A deusa do amor e da guerra, Ishtar, era adorada em Nínive. Nabu, deus da sabedoria e patrono das ciências, tinha templos em Nínive e em Calah. Sin, o deus lua, tinha sacerdotes e sacerdotizas num templo em Harã. Na maioria das suas características a religião assíria assemelhava-se à da Babilônia da qual ela se derivou.

5. Literatura


          Há grande evidência literária sobre a vida no dia-a-dia dia Assíria. Em Mari e Shemshara foram achadas cartas do segundo milênio a.C. e em Nuzi de cerca de 1500 a.C. O império Neo-Assírio está muito bem documentado. Anais oficiais, cilindros, tabletes, inscrições, cartas e textos legislativos são abundantes. Assurbanípal era um monarca extremamente culto e interessado na transmissão desta ao seu povo. Ele criou uma imensa biblioteca em Nínive. Achou-se 26.000 fragmentos de tabletes que repre­sentam no mínimo 10.000 documentos diferentes. O cuneiforme, que emprega 600 ou mais sinais, foi tomado dos sumerianos. Em Nínive se achou o relato babilônico do dilúvio. A mitologia está representada. Há, por exemplo, a lenda de Sargão de Agade que foi salvo ao nascer sendo colocado num cesto no rio Eufrates e adotado por um jardineiro até ser rei! As bibliotecas (apesar da idéia ser importada da Babilônia) eram instituição normal na Assíria. Graças aos assírios é possível hoje estudar a história daquele tempo e povos.

6. Administração


          O governo derivava da pessoa do rei que também era o líder religioso e o comandante-em-chefe do exército. Ele exercia autorida­de direta e delegava poderes aos governadores das províncias. Estes coletavam os tributos. O exército era muito bem treinado, uma verdadeira máquina de guerra. Via de regra, os conquistados tornavam-se vassalos de Assur e juravam obediên­cia religiosa e política à Assíria. Mesmo assim em termos de religião havia tolerância entre o assírios. Até se aceitava que outros deuses para lá fossem trazidos. (Jonas vai para lá e a cidade de Nínive experimenta conversão.)

7. Arte


          Pinturas, painéis, auto-relevo, estátuas, ornamentos, cilindros, escultura em marfim, trabalhos de bronze e de metal foram preservados nas escavações. Alguns auto-relevos mostram cenas referentes à história de Israel. Prosperidade política e militar traz consigo prosperidade econômica e cultural. Palácios e templos magníficos foram erigidos pelo assírios. Percebe‑se uma verdadeira competiç­ão entre os monar­cas, cada um com planos mais ambiciosos que o outro. Havia móveis decorados com marfim e utensílios de ouro. Usava-se o sistema de escrita cuneiforme (origem na Babilônia) sobre tabuinhas de barro. A biblioteca de Assurbanipal abrigava cópias de toda produção literária e científica conhecida até então. Os assírios entram na cena bíblica a partir do tempo dos últimos reis do Reino do Norte (Israel), época de Amós e Oséias no Norte, Isaías no Sul (Judá). É o fatídico séc. VIII a.C. para o Reino do Norte.

8. Vida do Cidadão Comum


          A sociedade assíria era patriarcal, segregava as mulheres (que viviam em haréns), e tudo girava ao redor da máquina da guerra. O padrão de vida era alto, havia alimento e prosperidade. Comiam pão de centeio, bebiam cerveja (às vezes, vinho), tinham vegetais, ovos de galinha e pato, peixes e frutas ao seu dispor. Havia leite de cabras e, conseqüentemente, manteiga e queijo. Fazia-se roupas de pelos de cabrito e ovelhas. O povo divertia-se com jogos de guerra, paradas militares, música, canto com instrumental, recitação de épicos. Crianças brincavam com artefatos de barro (normalmente bélicos!).

V. BABILÔNIA                                         


1. Geografia


          O termo "Babilônia" tem conotação geográfica e política. Refere-se tanto à região como à nação. A Babilônia do AT é a parte sul da Mesopotâmia e situa-se ao sul do atual Iraque atual chegando até a fronteira com a Arábia Saudita e o Irã. O nome da região e do império é deriva­do do nome da cidade que também é sua capital. Na Bíblia esta esta área também era denominada de terra de Sinear (Gn 10.10; 11.2; Is 11.11; Js 7.21) posteriormente terra dos caldeus (Jr 24.5; Ez 12.1­3). Na antiguidade (antes do período de Hamurabi) a parte norte era chamada de Acádia e o sul de Suméria. Toda a região também recebe o nome Cal­déia. A Babilô­nia, banhada pelo Tigre e Eufrates, é o provável lugar do Éden, da torre de Babel e local do exílio de Judá. As princi­pais cidades (além da Babilônia) são Warka e Agade (Gn 10.10), Nipur, Ur, Edidu, Lagash. Nos tempos antigos, esta área foi um bloco polí­tico unificado apenas em determinados períodos da sua história, aí incluso o governo de Hamurabi (1792-1750 a.C.) e os tempos do Império neo-babilônico (627-539 a.C.).
          O clima afeta a flora, a fauna e a habitação humana. Desde tempos pré-históri­cos se fazia irrigação a fim de corrigir o suprimento irregu­lar de água tanto da chuva como das cheias dos rios para a agricultura. Da primavera ao verão o tempo é quente e seco; do outono ao início da primavera é frio (às vezes perto de zero grau) e chove em abundância. A Babilônia tem fontes naturais e sua terra tem bom barro para tijolos e tabletes (para escrita). Há muitos mangues que produzem o junco usado para a escrita e para a construção de casas. Há muitos tipos de peixes e grande variedade de aves (a Babilônia é o caminho de migração das aves que vêm da Europa). A fauna passa por ratos, cobras, lobos, porcos, gazelas, burros selvagens e leões. Pedra, metais e madeira (para construção) faltam na região. Agricultura e pecuária são a base da economia. Os principais cereais são cevada (para pão e cerveja) e sésamo (óleos). Vegetais eram raros e no sul há muitas castanhas. Os animais populares eram as mulas, jumentos, porcos, gado, ovelhas, cabrito, cachorro e gato. Galinhas, patos, gansos e animais selvagens eram fonte barata de proteína. Cavalos passaram a ser usados extensivamente a partir do fim do segundo milênio a.C. (em carros de guerra) e o camelo ali chegou no mesmo período. O comércio interno floresceu. As comunicações e o transporte seguiam o curso dos rios. A velocidade de viagem variava de 25 a 160 km num dia, dependendo das condições. A habitação se dava perto das águas, já que estas providenciavam o necessário para a vida e eram meio rápido de comunicação. Com o advento da irrigação houve expansão para mais longe dos rios (isto se deu a partir do terceiro milênio).

2. História


          Diferente da Assíria, a Babilônia nunca foi grande potência militar ou política. As exceções aconteceram nos reinados de Hamurabi, Kurigalzu, Nabucodonosor I e no império neo-babilônico. No entanto, a cultura babilônica floresceu sempre e deixou precioso legado à humanidade.
          a) Pré-história. A cerâmica arqueológica mostra evidência ocupacional já em 4000 a.C. e do período proto-literário achou-se escrita pictográfica em Uruk (ca. 3100-2800 a.C.). Evidências também apontam a presença de semitas e sumerianos nesta área já muito cedo.
          b) Primeiro período dinástico (2800-2400 a.C.). Neste período acontece o advento do reinado e a cons­trução de grandes cidades. Cidades-estado floresceram com centros em Uruk, Kish, Ur. As lutas entres governantes locais eram freqüentes.
          c) Os acádios (2400-2200 a.C.). A dinastia acádica desenvolveu a técnica de guerra do arco e flecha e obteve grande supremacia militar vencendo seus adversários.
          d) Terceira dinastia de Ur (2113-2006 a.C.). A dinastia de Ur é proeminente. O seu fim veio quando períodos de fome severa assolaram a região e os monarcas sume­rianos foram substituídos por invasores do Elão e tribos semíticas semi-nômades do oeste. Pode ser que Terá e Abrão (Gn 11.31) migraram neste período de infortúnio de Ur.
          e) Os amoritas (2000-1595 a.C.). O território babilônico foi dividido entre governantes locais. O sexto governante da linha amorita foi Hamurabi (governou de 1792 a 1750 a.C.). Hamurabi reformou as leis e legou à humani­dade 282 leis baseadas em reformas anteriores de outros luga­res.
          f) Os cassitas (1595-1174 a.C.). Hititas e cassitas atacaram Babilônia, a cidade caiu e foi governada pelos cassitas.
          g) Domínio assírio (745-626 a.C.). Tiglate-Pileser III declarou-se rei da Acádia e Suméria e exigiu para si o trono da Babilônia com o nome de Pul(u) (1Cr 5.26) em 745 a.C. Isto deu início a dominação assíria por mais de um século de lutas e derrotas e subordinação da Babilônia.
          h) Período neo-nabilônico (ou caldeu; 626-539 a.C.). Nabopolasar (um caldeu) ocupou o trono da Babilônia em 22 de novembro de 626 a.C. Em 612 a.C. os babilônicos, com ajuda dos medos, venceram Nínive e a Assíria caiu. Em 605, Nabudodonosor em ataque-surpresa a Carquemis, anulou os exércitos egípcios em Hamate. Em investida contra Judá, cativos são levados para a Babilônia, entre eles Daniel. Em 598 Judá foi sitiada. Jerusalém foi novamente atacada a 16 de março de 597 a.C. e destruída em 587 sendo o povo foi deportado para a Babilônia. Outra deportação ainda se deu em 581 a.C.
          i) Os aquêmidas (539-332 a.C.). Em 16 de outubro de 539 a.C. Ciro entra na cidade da Babilônia vitorioso e conquistador. Ciro permitiu o retorno dos cativos de Judá. Após o domínio persa chegou a vez de Alexan­dre, o Grande.

3. Religião


          A partir do terceiro milênio já se tem listas de deuses e templos babilônicos. A religião da Babilônia foi grandemente influenciada pela religião sumeriana. Muitos dos deuses babilônicos eram procedentes da Suméria e adaptados à nova realidade. A religião está presente em todos os atos, instituições e pensamentos do povo babilônico. O seu dia-a-dia era religioso. Cada cidade tinha os seus cultos específicos. Havia senso de moralidade e a compreensão ética está presente nos escritos babilônicos. A adivinhação e a mágica faziam parte da vida babilônica. Há muita informação a res­peito do pensamento religioso de então.

          a) O panteão. A religião babilônica era politeísta e o número de deuses, deusas e demônios chegava a centenas. Estes deuses estavam hierarquicamente organizados e tinham esposas. O principais deuses babilônicos eram Marduk (cidade da Babilônia), Nabu (Borsipa), Enlil (Nippur), Shamash (Sippar), Ishtar (Uruk), Sin (Ur), Nergal (Cutah). Quando a história babilônica inicia, o deus sumeriano Anu era considerado o rei dos deuses (templo em Uruk). Sua esposa era Innana (ou Innin). Enlil, o deus do ar, teve seus atributos tomados por Bel (Baal) e Marduk. Sua esposa era Ninlil (depois identificada com Ishtar). Ea era senhor das águas profundas e deus da sabedoria que ensinou aos homens a técnica de ler a mente dos deus através da adivinhação. Havia a semí­tica Ishtar (no início, do sexo masculino, depois, por sincretismo, assu­miu os poderes de Innana). Tornou-se a deusa do amor e da guerra e era considerada filha de Sin, o deus lua. Adad, de origem semítica, era o deus das tempestades. Nergal e sua esposa Ereshkigal reinavam no mundo dos mortos e era assim o deus das pragas, febres e doenças. Na prática, era Enlil que exercia o papel principal no panteão babilônico. Com o crescimento da importância da cidade da Babilônia, o seu deus Marduk passou a ser mais influente. Ele foi reconhecido como o reis dos deuses no reinado de Nabucodo­nosor I (ca. 1125-1104 a.C.). Posteriormente Marduk passou a ser denominado de Bel ("senhor"). Nabu era filho de Marduk e deus dos escribas e do conhecimento. Os deuses moravam no mundo superior e inferior. Toda a reali­de espiritual e material era governada por leis divinas. Os deuses eram imortais porém de poder limitado. Os mitos ilus­tram o seu caráter antropomórficos. Espíritos e demônios estavam por toda a parte.
          A mitologia babilônica era muito variada e sua concepção dos deuses era antropomórfica. Os deuses tinham reações e comportamentos semelhantes aos dos homens. A única diferença era que os deuses eram imortais e normalmente invisíveis. A cosmologia babilônica percebia o mundo em três compartimentos: os céus (acima), o mundo dos mortos (abaixo) e a terra no meio. Estrelas e planetas eram identificados com certos deuses e seu movimento era estudado por razões astrológicas. A terra estava cercada de águas e a Babilônia (com seus dois rios) se achava no centro. Os deuses, os céus e o mundo dos mortos sempre existiram. A humanidade e a terra foi criada pelos deuses. Isto foi o fruto do conflito entre deuses mais antigos e os mais jovens.
          A morte era algo nebuloso pois não havia conceito de um feliz pós-morte. Havia uma sensação de miséria. Para que o fantasma do morto não perturbasse os parentes, era preciso enterrar o seu corpo. Daí o fantasma ia para o mundo dos mortos. Não havia paraíso para os bons nem inferno para os maus. Muitos tinham uma visão fatalista da vida e buscavam o máximo de hedonismo no hic et nunc.
          Os templos eram as principais instituições econômicas e sociais da Babilônia.[3] A zona do templo tinha um complexo de construções onde a torre era um zigurate. O tamanho dependia deste complexo e do seu staff denpendia da sua importância e riqueza. Havia o principal sacerdote e outros sacerdotes encarregados de determinadas cerimônias e rituais. Os templos recebiam ofertas, cobravam impostos e o seu staff vivia destas entradas.

          b) Religião popular. Pouco é conhecido, já que as infor­mações e fontes são provenientes principalmente de escavações em templos. Acreditava-se que cada um tinha o seu deus pessoal e mantinha com ele uma relação comercial. O fiel o alimentava e o seu deus o ajudava e levava os seus pedidos ao deus mais alto que podia atender seu desejo. Magia branca e negra estavam sempre presentes na vida do homem comum, principalmente do mais pobre. Havia centenas de encantações e rituais e estas cobriam todas as áreas da vida. Bonecos de barro, ervas, ... tudo era usado.
          A prática de adivinhação e prognosticação era endêmica a esta cultura e afetava todos os aspectos da vida. A base era a crença de que os deuses avisavam os homens a respeito das suas decisões. Era necessário saber descobrir a vontade dos deuses. Quase qualquer coisa podia ser men­sageira da vontade dos deuses: configuração da fumaça, óleo sobre a água, o vôo das aves, ou mesmo a súbita aparição de uma cobra! Os babilônios, construindo sobre a base sumeriana, desenvolveram esta "ciência" de forma complexa e compreensiva. E tudo está registrado nos tabletes de barro. A observação de entranhas de animais era popular no antigo e médio Império. A astrologia tinha status no império Neo-Babilônico. Havia a adivinhação ativa (buscava-se certas respostas) e a passiva (resultado de observação). Sonhos e profecias eram interpretados e recebidos. As profetizas, em êxtase (normalmente em transe através da dança), faziam proclamações.

          c) O sacerdócio. O rei era o supremo sacerdote em determinadas festas. Havia muitos outros sacerdotes. No culto a Sin, a sumo-sacerdotiza era uma princesa real. No cerimonial, cantores, salmistas e músicos tinham parte importante. Ao aproximar-se de deus, muitos entravam em ação. O exorcista removia maus espíritos mediante rituais. A literatura médica estava vinculada com a religião (como a astronomia com a astrologia). Fazia-se predições a partir das entranhas dos animais sacrificados. Buscava-se oráculos ou oferecia-se orações. Muitas mulheres serviam nos templos, incluindo prostitutas cultuais. A cerimônia incluía a apresentação de comida e bebida aos deuses. Sacrifícios eram postos sobre o altar e depois pertenciam aos sacerdotes (no todo ou em partes).

          d) Festas religiosas. A maior de todas a celebrações era o Akitu, a festa do Ano Novo, comemorada na primavera e durava doze dias. Tinha muitos ritos: procissão, humilhação e restauração do rei, debate da criação, casamento sagrado (rei mais sacerdotiza) seguido de dias de alegria geral. O rei tinha participação importante neste festival. Em certo momento, o principal sacerdote lhe bateria na face e o arrastaria pelas orelhas até o trono de Marduk onde o rei era forçado a ajoelhar-se e recitar uma confissão. Outra parte era o casamento sagrado entre o rei e a deusa Zarpanitu. O ato marital era consumado pelo rei e a principal sacerdotiza.
          Também a coroação de um rei, vitória na batalha, inauguração de uma cidade ou templo eram celebrados. Na vida pessoal, o nascimento, casamento e inciação como sacerdotiza eram comemorados.

          e) Literatura. A produção literária é vasta sendo dividida em vários campos. A literatura religiosa produziu salmos, hinos, orações, rituais e encantamentos. Há vários relatos da criação. Os mais conhecidos são Enuma Elish e Atra-hasis (que inclui o dilúvio e o Noé babilônico). Há também textos na área científica: medicina, química, geologia, botâ­nica, zoologia, matemática, astronomia (astrologia), crônicas históricas, literatura, leis, horóscopos. O nome de Hamurabi (1792‑1750 a.C.) está diretamente ligado ao código de Hamurabi, um verdadeiro marco legal da antiguidade.

4. Contato com o Antigo Testamento


          a) Nm 22-24 menciona Balaão, um feiticeiro da Caldéia, que morava junto ao rio Eufrates (22.5) e que foi contratado pelo rei moabita Balaque para amaldiçoar o povo de Israel. Todo o relato se enquadra no fundo cultural da Babilônia.
          b) O profeta Habacuque refere-se aos "caldeus" (1.6) quando se reporta ao crescimento e ameaça do império neo-babilônico contra Jerusalém e Judá.
          c) O cativeiro babilônico de Judá é um contato auto-evidente. O destaque fica para Nabucodonosor II que investiu várias vezes contra Jerusalém, derrotou e exilou Judá para a Mesopotâmia.

VI. MÉDIA-PÉRSIA


1. História


          Os povos iranianos incluem os medos e os persas. A história primitiva de ambos é extremamente obscura e os persas se tornaram historicamente importantes mais tarde que os medos. Os arianos parecem tem alcançado o planalto irânico a partir de sua terra natal original na Ásia central no segundo milênio a.C. Durante séculos viveram como nômades. O grupo político importante da região foi o Elam com sua capital em Susa. O reino elamita desapareceu no séc. XI a.C., o que permitiu a expansão persa no território elamita. Eles ali se estabeleceram.
          As primeiras tradições do povo persa estão registradas no livro sagrado Zend-Avesta. Entende-se que Aquemenes foi o fundador da dinastia aquemênida e reinou de 700-675 a.C. Neste período e posteriormente os persas movimentaram-se para o lado leste do Golfo Pérsico e ali fixaram morada.
          O fundador do reino e império persa foi Ciro II, o Grande (559-529 a.C.). Ciro II rebelou-se contra o soberano medo Astíages, matou-o e tomou sua capital Ecbatana em 550 a.C. Ciro uniu medos e persas num único reino. Também conquistou a Anatólia e Creso da Lídia. Em 540 a.C. ele estava bastante forte para visar a Babilônia. Foi o que fez. Em 29 outubro 539 a.C. ele entrou vitorioso na cidade da Babilônia. Assim Ciro tornou-se o herdeiro do império Neo-Babilônico de Nabucodonosor. Em comparação com os impérios anteriores (Assíria e Babilônia), o governo de Ciro foi notavelmente humano. Nunca mostrou a crueldade dos assírios, por exemplo. Ele expandiu o império num território geográfico maior que a Assíria e este permaneceu estável durante 200 anos especialmente nas regiões asiáticas do império. A tolerância e a humanidade de Ciro são vistas em sua atitude com os povos conquistados cujo culto promoveu. Judá recebeu permissão imediata de retorno e de reconstrução do templo e da capital.
          Cambises II reinou de 528 a 522 a.C. e expandiu o impé­rio anexando o Egito. Dario I reinou de 521 a 486 a.C. e organizou o império de modo exemplar o que lhe deu extrema estabilidade. Foi Dario I que fundou a nova capital e o novo palácio de Persépolis. Posteriormente outros monarcas (principalmente Xerxes) a ampliaram. Luxo e beleza ali estão representados. Dario I confirmou o decreto de Ciro e auxiliou aos que retor­naram a Judá na sua tarefa de reconstrução. Xerxes I reinou de 486 a 465 a.C. Dario I e Xerxes I gastaram muita energia tentando conquistar a Grécia, único país do mundo conhecido de então que não pertencia ao império persa.[4] Foi Dario I que introduziu o sistema de moedas bem como um sistema postal e legal no império. A relativa autonomia dos povos subjugados em muito propiciava a estabilidade do império. Artaxerxes I reinou de 465 a 424 a.C. Esdras foi nomeado por ele como uma espécie de "secretário de estado para os assuntos judaicos" (Ed 7.12). Ele foi um enviado especial para reorganizar os trabalhos do templo em Jerusalém (458 a.C.). Nos anos 460 a 454 a.C. houve rebelião no Egito e Artaxerxes não podia permitir fortalezas em Judá. Mesmo assim Neemias reverteu a situação e foi nomeado governador de Judá (Ne 8.9) com per­missão de reconstruir as muralhas da cidade de Jerusalém.
          Todo o império foi dividido em satrapias governadas por sátrapas escolhidos entre nobres persas ou medos com oficiais nativos sob seu comando (exemplo: Daniel, Dn 6). O número de satrapias variava: sabe-se de 23 (na inscrição de Behistun), depois sobe a 29-30. O sátrapa tinha poder e liberdade quase ilimitados na sua satrapia. Havia controle através de oficiais nomeados pelo governo central do império. O sistema de correios com entrepostos (com cavalos e cavaleiros descansados e prontos) era eficiente. Ao sátrapa cabia coletar e enviar ao governo central o tributo anual pago com metais preciosos ou em espécie. Para agilizar a administração, o aramaico foi adotado como a língua oficial do governo. Isto teve enormes efeitos culturais. Várias estátuas de deuses de outros povos achadas na Babilônia pude­ram retornar às suas origens. De Judá voltaram os utensílios do templo e a permissão do retorno para Judá a fim de reconstruir o templo em ruínas. Sesbazar era um oficial espe­cial de Ciro encarregado das províncias de "além do rio (Jordão)". O luxo e a ostentação da corte persa, segundo a descrição do livro de Ester, são confirmados por descobertas arqueológicas em locais diversos.

2. Religião


          Os persas primitivos reverenciavam deuses da natureza, da fertilidade e dos céus. No início do séc. VI a.C. Zoroastro proclamou uma religião com altos ideais morais baseados no princípio "faz o bem, aborrece o mal". Para ela havia apenas um deus, Ahura‑mazda, o deus do bem. Em contraposição havia também o poder negro do mal. As doutrinas de Zoroastro se espalharam e tiveram influência internacional, chegando a ultrapassar os limites temporais do próprio império.

3. Contato com o Antigo Testamento


          Os persas são mencionados na Bíblia nos livros tardios: Daniel, Esdras, Neemias e Ester. Historicamente falando, aos reis persas deve-se a instituição e sobrevivência da comunidade pós-exílica de Jerusalém. Ciro permitiu seu retorno e Dario I a reafirmou.[5] Xerxes I aparece em Ester como Assuero. Artaxerxes I (465-425 a.C.) indicou Neemias como governador de Jeru­salém e foi provavelmente Artaxerxes II (404-359 a.C.) quem autorizou a missão de Esdras a Jerusalém.

Os monarcas persas e o Antigo Testamento:

Ciro II, o grande (559-530 a.C.)
Judá retorna do exílio.
Livro de Esdras.
Fim da vida de Daniel.
Dn 1.21; 10.1
Cambises (530-522 a.C.)
Não é mencionado no AT.

Dario I (522-486 a.C.)
Reconstrução do templo.
Ed 4.5,24; Ed 5.
Ministério dos profetas
Ageu e Zacarias.
Xerxes I (486-465 a.C.)
No AT, é Assuero.
Rainha Ester e Mordecai.
Ed 4.6

Artaxerxes I
(465-423 ou 464-424 a.C.)
Retorno de Esdras e Neemias.
Muros reconstruídos. Reformas.
Ed 4.7-23; 7.1ss; Ne 2.1.
Tempo de Malaquias e Ester (?)


VII. ISRAEL


Vide Atlas Vida Nova.

UNIDADE 3: CULTURA DO MUNDO DO AT


I. FAMÍLIA E VIDA DOMÉSTICA


          É impossível exagerar a importância da família na sociedade hebraica. Na fase semi-nômade de povo a vida da família estava inevitavelmente ligada à vida da família maior do clã e da tribo, da qual dependia no que concerne à proteção. No período de estabelecimento na Palestina o destaque e ênfase vão para a família individual (como hoje a conhecemos), baseada na casa do pai. A tribo perdeu muito do seu significado e a sua desintengração foi acelerada. A luta pela sobrevivência exigia trabalho em conjunto e lealdade para com a família.

A. Relações Familiares


          A possibilidade da poligamia não está descartada no AT: segundo Dt 21.15, um homem podia ter duas esposas e vários filhos. Isto certamente gerava atrito e inveja. No entanto, a família israelita conseguia manter-se unida. A estabilidade da família era fundamentada sobre a autoridade do pai. Em alguns casos tratava-se de autoridade absoluta. O pai podia vender filhas como escravas e mandar matar filhos desobedientes (Dt 21.18-21). Não podia vender filhos. Mas podia arranjar o seu casamento.
          Teoricamente, dentro do contexto das sociedades que rodeavam Israel, a mulher pertencia ao marido, podia ser expulsa por ele, deveria conviver com outras esposas, e passava por dificuldades quando enviuvava. Mas na prática, a situação não era drástica. A mulher israelita não tinha vida de escra­va. Mulheres como Míriam, Débora, Hulda e Mica (esposa de Davi) não eram oprimidas nem inibidas. Na família, a mãe tinha o respeito e afeto por parte dos filhos, não inferior ao do pai. A mulher não era segregada nem isolada, e participava das festas e celebrações nas quais o restante da família estava presente. Trabalhava duramente, mas o seu lugar no lar não era o duma doméstica. Essencialmente era a mãe dos filhos da casa, e sua posição lhe dava privilégios à altura das responsabilidades.

B. Casamento


          O casamento era essencialmente uma instituição legal e não religiosa (como o é ainda hoje entre os árabes). Apesar de se saber da existência do   não há provas de que fosse firmado por contrato escrito. Teoricamente, o israelita podia ter quantas esposas dese­jasse. Na prática, só reis e ricos podiam ter mais de duas. No entanto, há evidências que o israelita fiel à aliança só desposava uma mulher. Os israelitas jamais teriam descrito a relação entre Deus e Israel como um casamento (como, por exemplo, o fez Oséias) se, na realidade, reconhecessem a poligamia como prática normal e legítima.
          Os israelitas casavam muito jovens. Alguém fez os cálcu­los: "um homem já era pai aos 19 anos, avô aos 38 anos e bisavô aos 57 anos de idade!"[6] O casamento era arranjado formalmente pela família do noivo, e não pelo próprio rapaz. Isto não impedia ou negava a existência do amor entre o casal. Jacó apaixonou-se por Raquel à primeira vista e muito a amava (Gn 29.20). Em troca da noiva, era necessário fazer um pagamento ao pai da noiva ou do tutor. Este pagamento podia ser feito em forma de trabalho. É o caso de Jacó que trabalhou 14 anos para pagar por Lia e Raquel. Discute-se se este pagamento repre­sentava compra à vista, ou era uma dádiva ao pai pela perda da filha, selando uma aliança entre as duas famílias.
          O noivado já era praticamente o casamento, exceto que sem convivência marital. Quando havia um longo intervalo até o casamento (noivado), o homem estava isento do serviço militar. A cerimônia de casamento consistia no noivo levar a noiva para a sua casa. Na cerimônia de casamento, o noivo, vestido especialmente para esta ocasião, ia com os amigos à casa do pai da noiva. A noiva, trajando vestido de núpcias, era acompanhada de damas de honra e, às vezes, quando rica, por suas servas (que faziam parte do dote que recebia do pai). As jóias que ela usava eram presente do noivo. A procissão dos amigos regressava à casa da noiva para a festa que podia durar uma semana ou mesmo uma quinzena (Jz 14.12).

C. Filhos


          Ter filhos era o desejo normal de recém-casados (Sl 127.4). O filho homem ajudava no trabalho rotineiro e perpetuava o nome e as propriedades da família. Só filhos herdavam os bens e cuidavam dos parentes na velhice. Isto não significa que filhas eram desprezadas. Sete filhos parece ter sido um número máximo para uma mãe. É difícil precisar sobre o tamanho médio da família.
          O nascimento de uma criança interrompia minimamente o trabalho doméstico da mãe. As crianças nasciam com a assistência de parteiras. O recém-nascido era lavado, esfregado com sal e envolto em tiras de pano. Sua mãe o amamentava. Se necessário, chamava-se uma ama-de-leite. A criança era desmamada com dois ou três anos de idade. Nos primeiros anos a mãe educava rapazes e moças. Depois o rapaz passava para a responsabilidade do pai. A disciplina era rigorosa. O rapaz aprendia a colaborar no trabalho do pai. O rapaz tinha tarefas nos campos e nas vinhas.
          O nome era escolhido com muito cuidado. Pois pensava-se que o nome estava relacionado com sua personalidade e sua boa sorte. Todos os nomes eram pessoais, não havia sobrenome. Sabemos dos profetas que deram nomes simbólicos aos seus filhos.

D. Rotina Doméstica


          Via de regra, o espaço de atuação da mulher era dentro do lar. Vê-se um exemplo típico em Pv 31.13-27. A duas grandes atribuições da esposa eram o alimento e o vestuário da família. Ambas as atividades eram desenvolvidas em casa. Não há grande informação no AT sobre lavar louça. Única referên­cia a lavar roupa se acha em 2Rs 21.13! Presumivelmente as mulhe­res lavavam a roupa nas nascentes. Os filhos providenciavam combustível para a lareira, enchiam os candeeiros, aparavam os pavios, fiavam, traziam água e assavam pão.

E. Moradia


          As casas nem sempre eram divididas em cômodos. As famílias numerosas viviam, trabalhavam, comiam e dormiam num único quarto. Este espaço também era muitas vezes dividido com uma ou duas ovelhas ou cabras durante parte do ano. No inverno o cômodo tinha iluminação deficiente, era escuro e sufocante. No verão havia muitos insetos. As pessoas mais pobres viviam numa casa dum só cômodo, com um pequeno terreiro na frente onde era realizado a maior parte do trabalho doméstico. As casas eram construídas de barro. Quando chovia, deixavam entrar água. O telhado era feito de ramos de arbustos cobertos com terra e barro. O telhado tinha que ser acamado depois de alguma chuva forte. Em Mc 2.4, o leproso é descido diante de Cristo em Cafarnaum. O chão era terra batida, às vezes coberto com lascas de calcá­reo. As janelas eram poucas e pequenas, às vezes postas no alto da parede. A única forma de iluminação era a candeia de azeite de oliva. Esta tinha que estar acesa para que sempre houvesse uma chama à mão. Evidentemente não havia fósforos. O fogo era iniciado por método complicado com um acendedor de pedra. Só as casas dos ricos é que tinham lareiras. Não contando com as casas dos ricos (que tinham quartos separados), as pessoas dormiam num único quarto. Dormiam sobre uma manta ou esteira cobertos pelo manto que usavam durante o dia (Êx 22.27). Colchões e roupa de cama eram luxo de reis! Não havia espaço nem dinheiro para algum mobiliário substancial. As refeições eram comidas no chão, de cócoras. A "mesa" era um pele ou esteira sobre a qual era colocada a comida. 2Rs 4.10 menciona cama, mesa, cadeira e candeeiro, um verdadeiro mimo para um convidado muito especial. As casas comuns tinham nada disto. O telhado era liso e fresco devido à brisa do Mediterrâneo. Era o grande centro social. Vizinhos podiam encontrar-se nos telhados ou conversar de telhado para telhado. Proclamar do telhado é o mesmo que fazer decla­ração pública (Mt 10.27). Eventualmente, havia um "segundo andar" no telhado. Jz 3.20; 2Rs 1.2. As casas dos ricos e de reis tinham este piso superior.

F. Alimentação


          "Pão" e "alimento" eram quase sinônimos no AT. O pão de cevada era o alimento mais regular da dieta dos camponeses. O pão era cozido todos os dias. Tomava boa parte do tempo da dona-de-casa. Ela moía a cevada ou o trigo (muito provavelmente num pilão, já que a mó ainda não existia), misturava com sal e água, sendo então preparado. Havia diferentes métodos de preparar o pão: assava-se sobre pedras aquecidas ou sobre uma chapa convexa de barro (ou mesmo uma bacia ao contrário). A massa formava panquecas finas e cozidas sobre a chapa.
          O trigo tostado era popular. Este era o sanduíche de antigamente. Fazia-se bolos e pastéis que consistiam em massa misturada com azeite e também com mel (o açúcar não existia). Como água era escassa, bebia-se muito leite de cabra ou ovelha.Consumia-se também manteiga e queijo. Depois do pão e leite, o alimento mais comum eram os legumes (Nm 11.5). O método mais habitual de se cozinhar era o guisado (Êx 23.19). Usava-se coentro e cominho preto como tempero. Carne não era prato freqüente no AT. Quando se alimentavam de carne, os animais deviam ter todo o seu sangue escorrido. A carne de ovelha ou cabra era apreciada. Os animais cevados eram reservados para as grandes festas e comemorações (Lc 15: a festa para o retorno do filho pródigo). Aparentemente, não há menção de aves domésticas no AT. Se isto é verdade, então os israelitas não comiam ovos, pois a galinha era ave desconhecida. Comiam, isto sim, gafanhotos. A sobremesa consistia de frutas: uva, figo, tâmara, romã.
          O vinho era bebido por todos no estado natural ou misturado com especiarias ou drogas para ficar mais inebriante. Havia vinho de romãs e de tâmaras. Não parece que Israel apreciasse cerveja, ao contrário dos seus vizinhos, os filisteus, cujas canecas de cerveja têm sido encontradas às centenas em escavações.
          A mulher tinha tarefa importante: providenciar água potável para a família. Havias cisternas escavadas na rocha. Alternativamente, a água transporta­da de alguma nascente ou poço. Quando as cidades eram edificadas nas colinas, as mulheres desciam e subiam de volta com água da nascente! É o caso da mulher samaritana (Jo 4).

G. Vestuário


          Roupa era coisa valiosa e prezada. Para Acã, a tentação de uma capa de escarlate pode ter sido semelhante à tentação da prata e do ouro (Js 7.21). Sansão deu roupas como prêmio para quem adivinhasse o seu enigma (Jz 14.12). A roupa do israelita tinha a juta e a lã como matérias primasem muitos casos. Dt 22.5 regulamenta que homem não pode vestir roupa de mulher, e vice-versa. Is 3.18-23 descreve uma mulher ricamente vestida. O vestuário consistia nas seguintes peças:
          a) A principal peça (tanto para homens como para mulheres) era um manto sem forma (espécie de toga romana). Este era normalmente feito de tecido de lã. Este manto, ao que parece, era suficientemente pesado para ser usado como cobertor ou tapete. Às vezes, o manto das mulheres parecem com xales e as envolviam da cabeça aos pés.
          b) A principal e (provavelmente) única peça usada sob o manto era uma túnica feita de lã ou de linho. Esta túnica tinha mangas. Em geral, a túnica ia até os joelhos (ou mais abaixo) e era amarrada na cintura por um cinto de couro ou pano. A expressão "cingir os rins" (2Rs 4.29) vem do costume de meter as pontas da túnica no cinto quando era preciso efetuar movimentos mais ativos.
          c) Não é provável que os israelitas usassem roupas íntimas. A túnica era considerada como peça íntima do vestuário. Aparecer em público só de túnica era quase indecente. Ez 44.18 e Lv 16.4 mencionam "calções e calças de linho" sobre as coxas ou pele mas isto se referem aos oficiantes do culto.
          d) Não há muita informação sobre calçados. Os homens usavam sandálias.
          e) Sabe-se que os homens do obelisco negro usavam uma espécie de barrete (ou gorro rudimentar). Um século e meio mais tarde (Láquis) usavam uma espécie de turbante. Pode ser que também usassem algo como o atual turbante árabe.
          Em suma, o vestuário completo do israelita comum consistia numa túnica, manto, cinto, sandália e o barrete.
          Os homens usavam o cabelo comprido e espesso. Ez 44.20 descreve como o sacerdote deveria usar o cabelo. A barba era muito importante: era sinal de dignidade masculi­na. Cortar a barba era sinal de luto. As mulheres usavam o cabelo com cachos na testa e ondas do lado, ou bastante comprido. Quanto à maquiagem, consta que a rainha Jezabel pintava os olhos (2Rs 9.30; veja também Jr 4.30).

H. Distrações


          O Israel do AT sempre demonstrou pouco interesse por esporte. O mundo do AT igualmente nada sabia de jogos de bola e das competições atléticas e ginásti­cas dos gregos. É possível que os rapazes se dedicassem a alguma espécie de luta. Com físico alto e magro, os rapazes certamente seriam bons corredores. Havia alguns jogos simples de dados ou de tabuleiro.
          As distrações consistiam muito mais no que se fazia em casa, e isto inclui festa, música e dança. A hospitalidade era algo marcante no mundo do AT. Tudo era boa desculpa para uma festa: a presença de convidados, a ocasião de se desmamar uma criança, festivais religiosos, talvez aniversários. As festas aconteciam ao ar livre: com os convidados assentados no solo, a comida permanecia numa espécie de esteira também no chão. Os banquetes eram sempre acompanhados por música e dança. No entanto, mulhe­res e homens dançavam separados.

I. Morte e Luto


          A morte era coisa familiar aos do mundo do AT pela simples razão de que as famílias grande e, com freqüência, viviam sob o mesmo teto. Aparentemente o índice de mortalidade infantil era muito alto. A escavações desenterram muitos esqueletos de crianças em recipientes de barro. Apesar da longevidade dos patriarcas, poucos chegavam a tal idade. O salmista Moisés considerava 70 anos como um bom limite, e chegando a 80 o que havia era canseira enfado (Sl 90.10). Algumas possíveis causas de morte prematura eram a guerra, alimentação deficiente e doenças.
          O falecimento dava ocasião a uma elaborada cerimônia de luto que durava uma semana ou mais. Amigos e parentes do falecido reuniam ao redor do falecido e entrega­vam-se a lamentações. Rasgavam as roupas, vestiam mantos rudes de juta e desfiguravam-se com poeira e cinza. Há notícias d'alguns que raspavam o cabelo e a barba e até se cobriam de sangue (ao se coçarem). Convocava-se lamentadores profissionais para auxiliar a famí­lia na sua dor.
          O clima quente exigia enterro imediato. Os israelitas não embalsamavam nem cremavam o corpo mas davam grande importância a uma cerimônia funerária decente. O corpo do falecido (vestido e sem urna ou caixão) era levado para o local da sepultura (às vezes fora das portas da cidade ou no pátio da própria casa). Em geral escolhia-se um local perto ou na encosta de uma colina. O método ideal de "juntar o morto aos seus pais", i.e., depositá-lo no jazigo da família só era possível aos ricos. Os pobres deram sepultados em sepulturas comuns ou em cavernas nas encostas das colinas. Os acompanhantes deixavam junto ao corpo objetos de uso cotidiano.
          Durante o período de luto, o jejum só era interrompido pelo banquete funerário (Jr 16.7). Este banquete talvez fôsse realizado no próprio dia do sepultamento. O único outro ato piedoso para mostrar o amor filial era erguer um monumento. Mas isto só era possível ao israelita rico. O israelita comum tinha muitos filhos e lhe saía caro construir monumentos. O seu monumento e esperança para o futuro residiam na família e no seu povo.

II. CULTO E VIDA RELIGIOSA


A. Perspectiva Histórica


1. Período Patriarcal
2. Período Mosaico
3. Período da Monarquia
4. Período Pós-Exílico
5. Observação Sobre a Atuação Profética

B. Estrutura do Culto no AT


1. Atos Sagrados: 5 sacrifícios básicos

2. Tempos Sagrados:
- Sábados
- Páscoa (14º dia, 1º mês)
- Pães Asmos (15º-21º dias, 1º mês)
- Festa das Semanas (Pentecoste ou Colhei­ta, 50 dias após Páscoa)
- Festa dos Tabernáculos (7 dias, 15º-21º dias, 7º mês)
- Dia da Expiação (10º dia, 7º mês)

3. Lugares Sagrados: - Altares dos Patriarcas
- Tabernáculo
- Templo
- Utensílios do Templo

4. Pessoas Sagradas: - Sumo-Sacerdote (Arão e sua linhagem)
- Sacerdotes
- Levitas
- Profetas
- Nazireu



III. ESTADO


          A organização política de Israel ao ocupar a terra prometida era a da tribo. Ao serem exilados (tanto o Norte quanto Judá), eram súditos de um monarca absoluto.

A. Rei


          A corte de Saul era rústica, a de Salomão cheia de esplendor. Salomão adotou a noção da majes­tade real do Antigo Oriente. Saul arava e semeava quando foi chamado para ser rei. Havia mais quatro lugares à sua mesa e ele dava audiências sob uma árvore. Salomão nasceu rico e viveu de forma principesca. Ele ergueu um admirável palácio e o novo templo. Sua coroação o distanciou dos seus compatriotas. Seu trono magnífico, de marfim e ouro, com degraus ladeados por leões esculpidos, foi copiado dos melhores modelos cananeus.
          Os membros da corte de Salomão eram em grande número, e certamente os cidadãos comuns não o encontravam com freqüência. A casa real tinha muitos cargos já estabelecidos por Davi e aumentados por Salomão. Havia os encarregados da administração direta (que respondiam ao rei) e outros cargos menores ocupados pelos sacerdotes, oficiais do exército e outros personagens. Sabe-se que o seu harém tinha 1.000 mulheres! Isto certamente mostra seu poder. A vasta organização devia sua lealdade ao rei.

B. Alistamento Compulsório


          O impacto da nova forma de governo (monarquia) e os riscos que daí viriam já haviam sido ante­vistos por Samuel (1Sm 8.11-17). Embora Salomão tenha estabelecido um exército regular, este era aumentado por um alistamento compulsório sempre que havia uma emergência nacional. Isto certamente não era do agrado do povo. Sabe-se do envio de 30.000 homens enviados para grupos de traba­lhos forçados nas obras reais. Estes israelitas traba­lhavam um mês a cada três em todo tipo de obra, inclusive no corte de cedros no Líbano. Isto chegou a afetar 4% do total da população do reino. Mais tarde o rei Asa emitiu proclamação a Judá estabelecendo o trabalho obrigatório para novos projetos reais (1Rs 15.22).

C. Impostos


          Davi possivelmente tinha planos de impostos para o país. Mas foi seu filho que o implementou. Salomão dividiu o país em 12 distritos administrativos nos quais havia um funcionário público superior cuja função era remeter à corte fundos suficientes para um mês. Estes distritos interferiram na divisão tribal e seus supervisores eram de Jerusalém, não autoridades locais. O governo era exercido pelo poder central de Jerusalém. Segundo 1Rs 4.22-23, as necessidades diárias da corte eram: 3.000 kg de farinha de trigo, 6.000 kg de farinha de outros cereais, 10 bois gordos, 20 bois de pasto e 100 carneiros; fora veados, gazelas, cabritos do monte e aves domésticas! Também se pagava vinho e azeite em espécie, e desconfia-se que até capim para os cavalos eram enviados para Jerusalém! Como a população de cada distrito totalizava menos de 100.000 pessoas, o fardo dos impostos ficou pesado. Não admira que houve rebelião. A divis­ão criada por Salomão sobreviveu após sua morte e prova­velmente durou tanto quanto a monarquia.

D. Lei e Ordem


          Os jovens hebreus eram educados numa atmosfera de acato às opiniões dos membros mais respeitados da comunidade. Durante a caminhada pelo deserto, faltar respeito aos costumes era coisa muito séria. Assim sendo, o respeito à lei e à ordem foi instituição que sobreviveu à mudança de vida nômade para seden­tária. Sobreviveu também ao poder da monarquia. Apesar do poder do rei, os magistrados que mantinham os costumes não o deixavam colocar-se acima da lei. Opunham-se-lhe. Fora da capital, a manutenção da lei e da ordem continuou nas mãos do juízes de paz locais. Neste tempo não havia código de leis oficiais, nem promotor, nem polícia. Os casos a serem julgados eram apresentados por indivíduos. Acusador e acusado iam aos magistrados na praça junto aos portões da cidade com suas queixas e defesas. Era preciso haver ao menos duas testemunhas. E sua responsabilidade era grande. O tribunal não impu­nha multas nem condenava à prisão. Em crimes menos sérios, o culpado era condenado a ser batido com uma vara, no máximo 40 vezes. Em crimes capitais, a condenação era o apedrejamento. Neste caso, a população ajuntava-se toda e apedrejava o condenado até que este estivesse completamente coberto por pedras.

IV. VIDA CIVIL


A. Comércio


          A Palestina era a única conexão entre o Egito e a África, ao sul, e a Anatólia, Assíria, Babilônia e Pérsia, no norte. Embora pobre em recursos naturais, a região era enri­quecida pelos mercantes que por ela passavam. Ez 27.12-14 apresenta uma longa lista de mercadorias comercializadas pelos mercantes. Estes mercadores normalmente viajavam em caravanas, grupos de pessoas e animais carregados. Entre 2000 e 1750 a.C. sabe-se de considerável tráfego de caravanas entre a Anatólia e a Assíria, entre Mari e os estados asiáti­cos do ocidente, entre a Ásia ocidental e o Egito. Estas caravanas podia ter até 500 jumentos! De 1900 a.C. em diante a mula (mais forte) passou a substituir os jumentos, e a partir do séc. XI a.C. o camelo substituiu as mulas. José foi vendido a uma caravana de mercadores em viagem para o Egito (Gn 37.25-28). A Canção de Débora menciona caravanas e mercantes (Jz 5.6). No séc. VIII a.C., quando a Assíria lutava pelo poder na Mesopotâmia, a rota de comércio da Arábia foi desviada através da Palestina. Israel e Judá cobraram impostos, tiveram importante ganho extra, e compraram produtos trazidos pelos mercadores.
          Mas havia também a exportação dos produtos de Israel. Salomão pagou parcialmente o material do templo exportando cereais, vinho e azeite para Tiro. Os povos do deserto a leste do Jordão compravam os produtos agrícolas de Israel. O espólio de guerra era com freqüência vendido. As conquistas de Davi na Síria trouxeram metais para Israel. Talvez Moabe tenha sido um grande produtor de algodão cobrado como imposto por Omri. Neemias reclama das vendas dos homens de Tiro no sábado (Ne 13.16).
          Poucos tornavam-se mercadores profissionais no AT. Numa terra que era predominantemente agrícola, produzia-se de tudo e não se gastava bens em consumo. A importação de artigos de luxo era extremamente difícil devido às dificuldades de transporte. No que respeita ao transporte, os israelitas praticamente dependiam do camelo. Jumentos tinham valor limitado nas longas viagens. As estradas não eram conservadas. Cavalos eram usados para carroças e carros de combate. Um pouco de chuva atrapalhava o transporte. O comércio da Pales­tina era monopólio do rei e apenas as caravanas de camelos é que podiam competir com eles (e mesmo assim pagavam pedágio pelo uso das estradas).
          Salomão aproveitou para lançar-se ao comércio. Fez acordo com a Fenícia e estabeleceu uma marinha mercante no Mar Vermelho. A base naval de Salomão era Eziom-Geber (no Golfo de Ácaba). Este local transformou-se num avançado centro industrial do mundo antigo. De Ezom-Geber ia carga de cobre para Ofir (na África). E três anos depois os navios voltavam com ouro, prata, marfim, macacos, pavões, madeiras especiais e pedras preciosas (1Rs 10.22). Não há menção à marinha mercan­te de Israel depois de meados do séc. IX a.C. (1Rs 22.48). Salomão também mantinha o monopólio do comércio de cavalos e carros (1Rs 10.28). A Síria fornecia cavalos e o Egito fornecia carros. O negócio era certamente lucrativo.[7]
          Preço fixo é fenômeno moderno. No AT, barganhava-se até chegar a um preço bom para comprador e vendedor. Sabe-se que Jeremias comprou um campo em Anatote por 17 siclos (= peso) de prata (Jr 32.1-15). Amós constata que o peso para os grãos era leve e o peso para a prata era mais pesada, sendo que mercado­res enganavam os compradores (Am 8.5). A moeda foi introduzida na Ásia Menor em meados do séc. VI a.C. Antes disso, as pessoas permutavam bens ou pagavam pela mercadoria em prata pelo seu peso em siclo. As primeiras moedas conhecidas foram feitas na Lídia.[8] Dario I (521-486 a.C.) introduziu a idéia na Pérsia e o seu nome foi usado na primeira moeda, o dárico. A popularização do uso da moeda em Judá foi lenta, possivelmente devido ao fato de que elas tinham imagens de pessoas, que os judeus entendiam ser proibido pelos mandamentos. Algumas moedas judaicas, com o nome Judá, foram feitas ao redor de 400 a.C. sob permissão dos governantes persas.

B. Educação


          Não consta que os israelitas fôssem grandes leitores e sua cultura e produção literária são inferiores à dos cananeus, egípcios e babilônicos. O AT não tem palavra para "escola". Mestres profissionais só aparecem em período muito posterior. Escrever não era hábito universal na sociedade de Israel do AT.
          O rapaz aprendia primeiro com a mãe, depois, quando mais crescido, passava para a responsabilidade do pai. A moça tinha a sua educação sob inteira responsabilidade da mãe. Não havia sistema educacional do estado. As crianças aprendiam em casa tudo o que era essencial para a vida. As moças aprendiam o necessário para serem boas esposas e mães; os rapazes aprendiam a seguir a carreira do pai. O livro de Provérbios enfatiza a importância da instrução religiosa e moral, que também era dada em casa. Não se aprendia de livros, o que aponta para a importância da tradição oral. Certamente grande parte da instrução se transmitia oralmente. É difícil saber que porcentagem da população lia e escrevia. Certamente eram poucos que o sabiam. Sabe-se que alguns meninos aprendiam a ler e escrever (Is 29.12; 10.19). A arqueologia descobriu o que se pensa ser exercício de escrita de crianças. Sabemos que Jeremias (Jr 36) ditava ao seu secretário os seus ensinamentos e ele os redigia num rolo. Os analfabetos: assinavam documentos com uma marca especial (algo como o nosso "x") ou com a marca de um selo (Jr 32.10-14; 1Rs 21.8). Achados arqueológicos em Israel desenterraram centenas de selos e marcas do período da monarquia. Há quem desconfie que o papiro era o material mais comum usado para a escrita. No entanto, a humidade da Palestina não deixou sobrar manuscrito para prová-lo. Se era popular, as folhas de papiro eram emendadas e enroladas em forma de rolo. O códice só foi conhecido na era cristã. Porém o papiro não era o único material para a escrita. Também se usava peles de animais e placas de madeira (Is 8.1; 30.8) bem como pedaços de cerâmica (ostraca) para apontamentos, letras e notas referentes ao comércio. As inscrições eram feitas à mão, com tinta.[9]
          Os seguintes instrumentos eram usados para a escrita:
          a) "Caneta". Consistia numa aste de planta com fibras macias numa das extremidades de forma a parecer mais um pincel. As letras eram pintadas sobre a superfície com pinceladas de tinta preta.[10]
          b) Tinta. Possivelmente esta era feita com o resíduo preto das lampari­nas e grude.
          c) Paleta. Era a base onde o escriba misturava o grude com o material preto para fabricar a tinta. Certamente ele o fazia na medida em que necessitava da tinta.
          d) Esponja. Era usada para apagar os erros.
          e) Faca. Servia para afiar a extremidade da "caneta" quando necessário.
          Talvez a maioria dos documentos escritos nos tempos do AT eram produto do labor dos escribas profissionais.[11] No AT só encontramos referências aos escribas no período pós-exílico, tempo em que ocuparam posição importante na vida do povo, como estudantes e mestres da religião. Alguns já tinham posição de destaque mesmo antes do exílio (2Sm 8.17). Via de regra, os escribas lidavam com os assuntos do rei, cuidavam da corres­pondência do estado com outras nações, tomavam conta dos registros nacionais. A profissão de escriba era característica a certas famílias (1Cr 2.55) e talvez até tivessem seu próprio sindicato.[12] Mas nem todos eram alto funcionários do Estado. Muitos deles certamente não passavam de simples escriturários.

C. Calendário


          Os israelitas pensavam no tempo mais em termos do seu conteúdo do que da sua extensão. Quando falavam do tempo da colheita, pensavam mais na colheita do que período correspondente aos meses de setembro ou outubro do ano. A visita era feita depois do almoço, e não pontualmente às 14h! 2Rs 20.9-11 diz que, para saber a hora, o rei olhava para a sombra sobre os degraus.
          O tempo era regulado pelas estações do ano. O mês não era determinado por alguma divisão matemática mas, sim, pela observa­ção da lua: quando se avistava a lua nova, começava o novo mês. O calendário lunar tem 11 dias a menos que o ano real. Daí que a cada três anos acrescentava-se mais um mês para sincronizar os meses com as estações às quais estavam associa­das. Como o mês lunar eventualmente tem 29 dias, início de mês e início de semana nem sempre coincidiam. Mas os israelitas mantinham a cadência da semana (por causa do sétimo dia, o sábado).
          O dia ia do pôr-do-sol ao próximo pôr-do-sol. Uma possível razão para tal é a que segue: como o mês hebraico começava com a observação da lua nova (o que só podia ser feito ao anoitecer), era natural dizer que o novo mês começava com o novo dia (observado à noite).

D. Pesos e Medidas


          A metrologia era muito rudimentar entre os israelitas. Seus pesos e medidas variavam de cidade para cidade, sendo impossível reconstruir um sistema coerente e específico. 1Cr 23.29 indica que levitas têm a responsabilidade de todos os pesos e medidas. A cobrança de impostos na monarquia deve ter estimulado uma certa uniformidade. Mas mesmo assim a situação continuou confusa.
          A unidade básica de peso era o siclo , derivado da raiz verbal que significa "pesar" em todas as línguas semíticas. Via de regra, o sistema de peso era como segue:
1 siclo = 11,4 g
50 siclos = 1 mina = 571 g
60 minas = 1 talento = 34.000 g (= 34 kg)
As medidas de capacidades também continuam obscuras. Havia o ômer, efa, hin e bato (banho). As medidas lineares eram baseadas nos braços e nas mãos de um homem. Havia: 1 dedo (1,9 cm), 4 dedos, 3 palmos (22,86 cm), 6 palmos. O palmo era a medida da ponta do polegar até a ponta do dedo menor. O cúbito ia do cotovelo até a ponta do segundo dedo (cerca de 45 cm).
          No período da monarquia, o dinheiro não era usado.[13] As transações eram realizadas por troca ou por pagamente de determinado peso de prata ou ouro (Gn 23.16).

E. Medicina


          A medicina do Oriente Próximo era um misto de perspicácia na observação dos métodos de tratamento e de superstições. No código de Hamurabi (1700 a.C.) a profissão médica organi­zada, com ética profissional, com preço de consulta.
          Os israelitas ignoravam a medicina científica. Tudo o que sabiam era aprendido empiricamente. A experiência prática dava aos israelitas conhecimentos autênticos, mesmo que não sistemáticos (por exemplo, a lepra em Lv 13-14). Quando alguém ficava doente recorria ao profeta. Alguns fizeram milagres (Eliseu). Em 2Rs 20.7 o profeta Isaías receita ao rei Ezequias um típico remédio caseiro. 2Cr 26.12 informa que o rei Asa confiou na ciência dos médicos. Alguns remédios eram feitos a partir duma substância resinosa de Gileade, absinto, água-fel, vários óleos. Sabe-se de referência a eventual uso de muletas entre pessoas com problemas. 2Rs 8.29 indica a cura de ferimentos e Is 1.6 apresenta uma descrição médica. Escavações em Láquis mostraram que cirurgiões faziam cirurgias na cabeça para aliviar a pressão sobre o cérebro. Um dos crânios, do séc. VIII a.C., mostra evidências de que o paciente sobre­viveu! Sem antissépticos nem anestésicos, a cirurgia devia ser terrivelmente dolorida. Algumas das doenças mais comuns eram a peste bubônica (uma verdadeira fatali­dade no Oriente Próximo), doença da pele, pertubação dos olhos, talvez insolação (2Rs 4.18). Os depósitos de água inadequados se tornavam em focos de febre.
          Nada se sabe de dentistas de Israel. É interessa notar que na Fenícia, no séc. V a.C., já se fazia dentaduras postiças!

F. Música


          Canto, dança e música estão presentes em todo o AT. A música tem grande destaque. Cada ocasião, desde as tristes até as mais alegres, tinha o seu acompanhamento instrumental adequado. Davi tocava calmamente para acalmar o espírito de Saul. Havia profetas que tocavam saltérios, tambores, flautas e cítaras (1Sm 10.5). O talento de Davi como músico é inconteste: foi autor de salmos e organizador do elaborado coral do templo. Não é impossível que Davi e Salomão tenham organizado a música litúrgica. No exílio o povo entoava as canções de Sião (Sl 137).
          Ao que se sabe, os israelitas não tinham pauta musical. No entanto, uma lista de instrumentos pode ser achada em 2Sm 6.5 e Sl 150. Nota a variedade de instrumentos de percussão: era música para dança. O tímbalo era um tambor, címbalos eram os pratos, e o sistro uma espécie de chocalho. Havia também os instrumentos de corda. A lira é a cítara dos romanos. As cordas eram de tripa de ovelha. Havia a harpa. Os instrumentos de sopro eram variados. Havia duas trombetas: a de chifre de carneiro e a de metal. A "gaita" era uma espécie de oboé duplo e as flautas eram muito populares entre os pastores. Certamente os instrumentos não eram todos unidos e tocados como numa orquestra moderna.
          Os salmos e cantares israelitas eram antifônicos e sugerem canto responsivo (Sl 8.5). As canções folcló­ricas também eram antifônicas (1Sm 18.6). Os cantores e instrumentistas herdaram canções tradicio­nais. O livro dos Salmos é fonte de música do AT.

G. Arte


          Mandamento de "não fazer imagem" retardou a criação artítisca em Israel do AT. No entanto, a arqueologia: achou centenas de figurinhas de barro. Israel demonstrou gosto artístico em lapidação de pedras preciosas e decoração interior: A lapidação de pedras preciosas era usada para a fabricação de sinetes pessoais com os quais se fechavam transações comerciais. Havia influência estrangeira na execução destes sinetes. Salomão teve artistas fenícios para construir e decorar o templo. Acabe edificou uma casa de marfim (1Rs 22.39) com marfins incrustados nas paredes. O trabalho em marfim era possivelmente a principal arte israelita do AT. Am 6.4 fala sobre as "camas de marfim" dos opressores. A decoração com marfim era luxo bastante apreciado entre os ricos.




[1] Kitchen, Anchor Bible Dictio­nary, v. 2, p. 325.
[2] Noth, p. 288.
[3] Seu status é comparável com o poder e influência da Igreja Cristã na Europa medieval.
[4] A relação da Pérsia com a Grécia foi a primeira ocasião para a penetração da civilização grega no Oriente Médio, penetração esta que teve profundas e permanentes conseqüências sobre a Palestina e regiões afins.
[5] Vide os livros de Esdras e Neemias.
[6] Heaton, p. 63.
[7] No NT, Herodes o Grande construiu o porto de Cesaréia, que veio a tornar-se o grande centro marítimo de Israel. Durante todo o tempo do NT o comércio estava firmemente nas mãos dos romanos.
[8] Heródoto atribui a Croesus, rei da Lídia (561-546 a.C.), a introdução do uso de moedas.
[9] Sabe-se da tradição de seguidores de Maomé que copiavam suas palavras em pedaços de couro, em ossos, e em folhas de palmeiras!
[10] Tem tinta que durou quase 3.000 anos!
[11] No Egito, os escribas eram sistematicamente treinados para a sua profissão.
[12] A escrita hebraica permaneceu quase sem alterações durante cerca de mil anos.
[13] Isto aconteceu somente no período persa, pois estes introdu­ziram o uso de moedas na Ásia Menor.

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MULLER CHAVE BÍBLICA CHRISTIAN HOFFMANN CHURRASCO CHUVA CIDADANIA CIDADE CIFRA CIFRAS CINZAS CIRCUNCISÃO CL 1.13-20 CL 3.1-11 CLAIRTON DOS SANTOS CLARA CRISTINA J. MAFRA CLARIVIDÊNCIA CLAÚDIO BÜNDCHEN CLAUDIO R. SCHREIBER CLÉCIO L. SCHADECH CLEUDIMAR R. WULFF CLICK CLÍNICA DA ALMA CLOMÉRIO C. JUNIOR CLÓVIS J. PRUNZEL CODIGO DA VINCI COLÉGIO COLETA COLHEITA COLOSSENSES COMEMORAÇÃO COMENTÁRIO COMUNHÃO COMUNICAÇÃO CONCÓRDIA CONFIANÇA CONFIRMACAO CONFIRMAÇÃO CONFIRMANDO CONFISSÃO CONFISSÃO DE FÉ CONFISSÕES CONFLITOS CONGREGAÇÃO CONGRESSO CONHECIMENTO BÍBLICO CONSELHO CONSTRUÇÃO CONTATO CONTRALTO CONTRATO DE CASAMENTO CONVENÇÃO NACIONAL CONVERSÃO CONVITE CONVIVÊNCIA CORAL COREOGRAFIA CORÍNTIOS COROA CORPUS CHRISTI CPT CPTN CREDO CRESCENDO EM CRISTO CRIAÇÃO CRIANÇA CRIANÇAS CRIOULO CRISTÃ CRISTÃOS CRISTIANISMO CRISTIANO J. STEYER CRISTOLOGIA CRONICA CRONOLOGIA CRUCIFIXO CRUZ CRUZADAS CTRE CUIDADO CUJUBIM CULPA CULTO CULTO CRIOULO CULTO CRISTÃO CULTO DOMESTICO CULTO E MÚSICA CULTURA CURSO CURT ALBRECHT CURTAS DALTRO B. KOUTZMANN DALTRO G. TOMM DANIEL DANILO NEUENFELD DARI KNEVITZ DAVI E JÔNATAS DAVI KARNOPP DEBATE DEFICIÊNCIA FÍSICA DELMAR A. KOPSELL DEPARTAMENTO DEPRESSÃO DESENHO DESINSTALAÇÃO DEUS DEUS PAI DEVERES Devoção DEVOCIONÁRIO DIACONIA DIÁLOGO INTERLUTERANO DIARIO DE BORDO DICOTOMIA DIETER J. JAGNOW DILÚVIO DINÂMICAS DIRCEU STRELOW DIRETORIA DISCIPLINA DÍSCIPULOS DISTRITO DIVAGO DIVAGUA DIVÓRCIO DOGMÁTICA DOMINGO DE RAMOS DONS DOUTRINA DR Dr. RODOLFO H. BLANK DROGAS DT 26 DT 6.4-9 EBI EC 9 ECLESIASTES ECLESIÁSTICA ECUMENISMO EDER C. WEHRHOLDT Ederson EDGAR ZÜGE EDISON SELING EDMUND SCHLINK EDSON ELMAR MÜLLER EDSON R. TRESMANN EDUCAÇÃO EDUCAÇÃO CRISTÃ EF 1.16-23 EF 2.4-10 EF 4.1-6 EF 4.16-23 EF 4.29-32 EF 4.30-5.2 EF 5.22-33 EF 5.8-14 EF 6.10-20 ÉFESO ELBERTO MANSKE Eleandro ELEMAR ELIAS R. EIDAM ELIEU RADINS ELIEZE GUDE ELIMINATÓRIAS ELISEU TEICHMANN ELMER FLOR ELMER T. JAGNOW EMÉRITO EMERSON C. IENKE EMOÇÃO EN ENCARNAÇÃO ENCENAÇÃO ENCONTRO ENCONTRO DE CRIANÇA 2014 ENCONTRO DE CRIANÇAS 2015 ENCONTRO DE CRIANÇAS 2016 ENCONTRO PAROQUIAL DE FAMILIA ENCONTROCORAL ENFERMO ENGANO ENSAIO ENSINO ENTRADA TRIUNFAL ENVELHECER EPIFANIA ERA INCONCLUSA ERNI KREBS ERNÍ W. SEIBERT ERVINO M. SPITZER ESBOÇO ESCATOLOGIA ESCO ESCOLAS CRISTÃS ESCOLÁSTICA ESCOLINHA ESCOLINHA DOMINICAL ESDRAS ESMIRNA ESPADA DE DOIS GUMES ESPIRITISMO ESPÍRITO SANTO ESPIRITUALIDADE ESPÍSTOLA ESPORTE ESTAÇÃODAFÉ ESTAGIÁRIO ESTAGIÁRIOS ESTATUTOS ESTER ESTER 6-10 ESTRADA estudo ESTUDO BÍBLICO ESTUDO DIRIGIDO ESTUDO HOMILÉTICO ÉTICA EVANDRO BÜNCHEN EVANGELHO EVANGÉLICO EVANGELISMO EVERSON G. HAAS EVERSON GASS EVERVAL LUCAS EVOLUÇÃO ÊX EX 14 EX 17.1-17 EX 20.1-17 EX 24.3-11 EX 24.8-18 EXALTAREI EXAME EXCLUSÃO EXEGÉTICO EXORTAÇÃO EZ 37.1-14 EZEQUIEL BLUM Fabiano FÁBIO A. NEUMANN FÁBIO REINKE FALECIMENTO FALSIDADE FAMÍLIA FARISEU FELIPE AQUINO FELIPENSES FESTA FESTA DA COLHEITA FICHA FILADÉLFIA FILHO DO HOMEM FILHO PRÓDIGO FILHOS FILIPE FILOSOFIA FINADOS FLÁVIO L. HORLLE FLÁVIO SONNTAG FLOR DA SERRA FLORES Formatura FÓRMULA DE CONCÓRDIA Fotos FOTOS ALTO ALEGRE FOTOS CONGRESSO DE SERVAS 2010 FOTOS CONGRESSO DE SERVAS 2012 FOTOS ENCONTRO DE CRIANÇA 2012 FOTOS ENCONTRO DE CRIANÇAS 2013 FOTOS ENCONTRO ESPORTIVO 2012 FOTOS FLOR DA SERRA FOTOS P172 FOTOS P34 FOTOS PARECIS FOTOS PROGRAMA DE NATAL P34 FP 2.5-11 FP 3 FP 4.4-7 FP 4.4-9 FRANCIS HOFIMANN FRASES FREDERICK KEMPER FREUD FRUTOS DO ES GÁLATAS GALILEU GALILEI GATO PRETO GAÚCHA GELSON NERI BOURCKHARDT GENESIS GÊNESIS 32.22-30 GENTIO GEOMAR MARTINS GEORGE KRAUS GERHARD GRASEL GERSON D. BLOCH GERSON L. LINDEN GERSON ZSCHORNACK GILBERTO C. WEBER GILBERTO V. DA SILVA GINCANAS GL 1.1-10 GL 1.11-24 GL 2.15-21 GL 3.10-14 GL 3.23-4.1-7 GL 5.1 GL 5.22-23 GL 6.6-10 GLAYDSON SOUZA FREIRE GLEISSON R. SCHMIDT GN 01 GN 1-50 GN 1.1-2.3 GN 12.1-9 GN 15.1-6 GN 2.18-25 GN 21.1-20 GN 3.14-16 GN 32 GN 45-50 GN 50.15-21 GRAÇA DIVINA GRATIDÃO GREGÓRIO MAGNO GRUPO GUSTAF WINGREN GUSTAVO D. SCHROCK HB 11.1-3; 8-16 HB 12 HB 12.1-8 HB 2.1-13 HB 4.14-16 5.7-9 HC 1.1-3 HC 2.1-4 HÉLIO ALABARSE HERIVELTON REGIANI HERMENÊUTICA HINÁRIO HINO HISTÓRIA HISTÓRIA DA IGREJA ANTIGA E MEDIEVAL HISTÓRIA DO NATAL HISTORINHAS BÍBLICAS HL 10 HL 164 HOMILÉTICA HOMOSSEXUALISMO HORA LUTERANA HORST KUCHENBECKER HORST S MUSSKOPF HUMOR IDOSO IECLB IELB IGREJA IGREJA CRISTÃ IGREJAS ILUSTRAÇÃO IMAGEM IN MEMORIAN INAUGURAÇÃO ÍNDIO INFANTIL INFERNO INFORMATIVO INSTALAÇÃO INSTRUÇÃO INTRODUÇÃO A BÍBLIA INVESTIMENTO INVOCAÇÕES IRINEU DE LYON IRMÃO FALTOSO IROMAR SCHREIBER IS 12.2-6 IS 40.1-11 IS 42.14-21 IS 44.6-8 IS 5.1-7 IS 50.4-9 IS 52.13-53-12 IS 53.10-12 IS 58.5-9a IS 61.1-9 IS 61.10-11 IS 63.16 IS 64.1-8 ISACK KISTER BINOW ISAGOGE ISAÍAS ISAQUE IURD IVONELDE S. TEIXEIRA JACK CASCIONE JACSON J. OLLMANN JARBAS HOFFIMANN JEAN P. DE OLIVEIRA JECA JELB JELB DIVAGUA JEOVÁ JESUS JN JO JO 1 JO 10.1-21 JO 11.1-53 JO 14 JO 14.1-14 JO 14.15-21 JO 14.19 JO 15.5 JO 18.1-42 JO 2 JO 20.19-31 JO 20.8 JO 3.1-17 JO 4 JO 4.5-30 JO 5.19-47 JO 6 JO 6.1-15 JO 6.51-58 JO 7.37-39 JO 9.1-41 JOÃO JOÃO 20.19-31 JOÃO C. SCHMIDT JOÃO C. TOMM JOÃO N. FAZIONI JOEL RENATO SCHACHT JOÊNIO JOSÉ HUWER JOGOS DE AZAR JOGRAL JOHN WILCH JONAS JONAS N. GLIENKE JONAS VERGARA JOSE A. DALCERO JOSÉ ACÁCIO SANTANA JOSE CARLOS P. DOS SANTOS JOSÉ ERALDO SCHULZ JOSÉ H. DE A. MIRANDA JOSÉ I.F. DA SILVA JOSUÉ ROHLOFF JOVENS JR JR 28.5-9 JR 3 JR 31.1-6 JUAREZ BORCARTE JUDAS JUDAS ISCARIOTES JUDAS TADEU JUMENTINHO JUSTIFICAÇÃO JUVENTUDE KARL BARTH KEN SCHURB KRETZMANN LAERTE KOHLS LAODICÉIA LAR LC 12.32-40 LC 15.1-10 LC 15.11-32 LC 16.1-15 LC 17.1-10 LC 17.11-19 LC 19 LC 19.28-40 LC 2.1-14 LC 23.26-43 LC 24 LC 24.13-35 LC 3.1-14 LC 5 LC 6.32-36 LC 7 LC 7.1-10 LC 7.11-16 LC 7.11-17 LC 9.51-62 LEANDRO D. HÜBNER LEANDRO HUBNER LEI LEIGO LEIGOS LEITORES LEITURA LEITURAS LEMA LENSKI LEOCIR D. DALMANN LEONARDO RAASCH LEOPOLDO HEIMANN LEPROSOS LETRA LEUPOLD LIBERDADE CRISTÃ LIDER LIDERANÇA LILIAN LINDOLFO PIEPER LINK LITANIA LITURGIA LITURGIA DE ADVENTO LITURGIA DE ASCENSÃO LITURGIA DE CONFIRMAÇÃO LITURGIA EPIFANIA LITURGIA PPS LIVRO LLLB LÓIDE LOUVAI AO SENHOR LOUVOR LUCAS ALBRECHT LUCIFER LUCIMAR VELMER LUCINÉIA MANSKE LUGAR LUÍS CLAUDIO V. DA SILVA LUIS SCHELP LUISIVAN STRELOW LUIZ A. DOS SANTOS LUTERANISMO LUTERO LUTO MAÇONARIA MÃE MAMÃE MANDAMENTOS MANUAL MARCÃO MARCELO WITT MARCIO C. PATZER MARCIO LOOSE MARCIO SCHUMACKER MARCO A. CLEMENTE MARCOS J. FESTER MARCOS WEIDE MARIA J. RESENDE MÁRIO SONNTAG MÁRLON ANTUNES MARLUS SELING MARTIM BREHM MARTIN C. WARTH MARTIN H. FRANZMANN MARTINHO LUTERO MARTINHO SONTAG MÁRTIR MATERNIDADE MATEUS MATEUS KLEIN MATEUS L. LANGE MATRIMÔNIO MAURO S. HOFFMANN MC 1.1-8 MC 1.21-28 MC 1.4-11 MC 10.-16 MC 10.32-45 MC 11.1-11 MC 13.33-37 MC 4 MC 4.1-9 MC 6.14-29 MC 7.31-37 MC 9.2-9 MEDICAMENTOS MÉDICO MELODIA MEMBROS MEME MENSAGEIRO MENSAGEM MESSIAS MÍDIA MILAGRE MINISTÉRIO MINISTÉRIO FEMENINO MIQUÉIAS MIQUÉIAS ELLER MIRIAM SANTOS MIRIM MISSÃO MISTICISMO ML 3.14-18 ML 3.3 ML NEWS MODELO MÔNICA BÜRKE VAZ MORDOMIA MÓRMOM MORTE MOVIMENTOS MT 10.34-42 MT 11.25-30 MT 17.1-9 MT 18.21-45 MT 21.1-11 MT 28.1-10 MT 3 MT 4.1-11 MT 5 MT 5.1-12 MT 5.13-20 MT 5.20-37 MT 5.21-43 MT 5.27-32 MT 9.35-10.8 MULHER MULTIRÃO MUSESCORE MÚSICA MÚSICAS NAAÇÃO L. DA SILVA NAMORADO NAMORO NÃO ESQUECER NASCEU JESUS NATAL NATALINO PIEPER NATANAEL NAZARENO DEGEN NEEMIAS NEIDE F. HÜBNER NELSON LAUTERT NÉRISON VORPAGEL NILO FIGUR NIVALDO SCHNEIDER NM 21.4-9 NOITE FELIZ NOIVADO NORBERTO HEINE NOTÍCIAS NOVA ERA NOVO HORIZONTE NOVO TESTAMENTO O HOMEM OFERTA OFÍCIOS DAS CHAVES ONIPOTENCIA DIVINA ORAÇÃO ORAÇAODASEMANA ORATÓRIA ORDENAÇAO ORIENTAÇÕES ORLANDO N. OTT OSÉIAS EBERHARD OSMAR SCHNEIDER OTÁVIO SCHLENDER P172 P26 P30 P34 P36 P40 P42.1 P42.2 P70 P95 PADRINHOS PAI PAI NOSSO PAIS PAIXÃO DE CRISTO PALAVRA PALAVRA DE DEUS PALESTRA PAPAI NOEL PARA PARA BOLETIM PARÁBOLAS PARAMENTOS PARAPSICOLOGIA PARECIS PAROQUIAL PAROUSIA PARTICIPAÇÃO PARTITURA PARTITURAS PÁSCOA PASTOR PASTORAL PATERNIDADE PATMOS PAUL TORNIER PAULO PAULO F. BRUM PAULO FLOR PAULO M. NERBAS PAULO PIETZSCH PAZ Pe. ANTONIO VIEIRA PEÇA DE NATAL PECADO PEDAL PEDRA FUNDAMENTAL PEDRO PEM PENA DE MORTE PENEIRAS PENTECOSTAIS PENTECOSTES PERDÃO PÉRGAMO PIADA PIB PINTURA POEMA POESIA PÓS MODERNIDADE Pr BRUNO SERVES Pr. BRUNO AK SERVES PRÁTICA DA IGREJA PREEXISTÊNCIA PREGAÇÃO PRESÉPIO PRIMITIVA PROCURA PROFECIAS PROFESSORES PROFETA PROFISSÃO DE FÉ PROGRAMAÇÃO PROJETO PROMESSA PROVA PROVAÇÃO PROVÉRBIOS PRÓXIMO PSICOLOGIA PV 22.6 PV 23.22 PV 25 PV 31.28-30 PV 9.1-6 QUARESMA QUESTIONAMENTOS QUESTIONÁRIO QUESTIONÁRIO PLANILHA QUESTIONÁRIO TEXTO QUINTA-FEIRA SANTA QUIZ RÁDIO RADIOCPT RAFAEL E. ZIMMERMANN RAUL BLUM RAYMOND F. SURBURG RECEITA RECENSÃO RECEPÇÃO REDENÇÃO REENCARNAÇÃO REFLEXÃO REFORMA REGIMENTO REGINALDO VELOSO JACOB REI REINALDO LÜDKE RELACIONAMENTO RELIGIÃO RENATO L. REGAUER RESSURREIÇÃO RESTAURAR RETIRO RETÓRICA REUNIÃO RICARDO RIETH RIOS RITO DE CONFIRMAÇÃO RITUAIS LITURGICOS RM 12.1-18 RM 12.1-2 RM 12.12 RM 14.1-12 RM 3.19-28 RM 4 RM 4.1-8 RM 4.13-17 RM 5 RM 5.1-8 RM 5.12-21 RM 5.8 RM 6.1-11 RM 7.1-13 RM 7.14-25a RM 8.1-11 RM 8.14-17 ROBERTO SCHULTZ RODRIGO BENDER ROGÉRIO T. BEHLING ROMANOS ROMEU MULLER ROMEU WRASSE ROMUALDO H. WRASSE Rômulo ROMULO SANTOS SOUZA RONDÔNIA ROSEMARIE K. LANGE ROY STEMMAN RT 1.1-19a RUDI ZIMMER SABATISMO SABEDORIA SACERDÓCIO UNIVERSAL SACERDOTE SACOLINHAS SACRAMENTOS SADUCEUS SALMO SALMO 72 SALMO 80 SALMO 85 SALOMÃO SALVAÇÃO SAMARIA Samuel F SAMUEL VERDIN SANTA CEIA SANTIFICAÇÃO SANTÍSSIMA TRINDADE SÃO LUIS SARDES SATANÁS SAUDADE SAYMON GONÇALVES SEITAS SEMANA SANTA SEMINÁRIO SENHOR SEPULTAMENTO SERMÃO SERPENTE SERVAS SEXTA FEIRA SANTA SIDNEY SAIBEL SILVAIR LITZKOW SILVIO F. S. FILHO SIMBOLISMO SÍMBOLOS SINGULARES SISTEMÁTICA SL 101 SL 103.1-12 SL 107.1-9 SL 116.12-19 SL 118 SL 118.19-29 SL 119.153-160 SL 121 SL 128 SL 142 SL 145.1-14 SL 146 SL 15 SL 16 SL 19 SL 2.6-12 SL 22.1-24 SL 23 SL 30 SL 30.1-12 SL 34.1-8 SL 50 SL 80 SL 85 SL 90.9-12 SL 91 SL 95.1-9 SL11.1-9 SONHOS SOPRANO Sorriso STAATAS STILLE NACHT SUMO SACERDOTE SUPERTIÇÕES T6 TEATRO TEMA TEMPLO TEMPLO TEATRO E MERCADO TEMPO TENOR TENTAÇÃO TEOLOGIA TERCEIRA IDADE TESES TESSALÔNICA TESTE BÍBLICO TESTE DE EFICIÊNCIA TESTEMUNHAS DE JEOVÁ Texto Bíblico TG 1.12 TG 2.1-17 TG 3.1-12 TG 3.16-4.6 TIAGO TIATIRA TIMÓTEO TODAS POSTAGENS TRABALHO TRABALHO RURAL TRANSFERENCIA TRANSFIGURAÇÃO TRICOTOMIA TRIENAL TRINDADE TRÍPLICE TRISTEZA TRIUNFAL Truco Turma ÚLTIMO DOMINGO DA IGREJA UNIÃO UNIÃO ESTÁVEL UNIDADE UNIDOS PELO AMOR DE DEUS VALDIR L. JUNIOR VALFREDO REINHOLZ VANDER C. MENDOÇA VANDERLEI DISCHER VELA VELHICE VERSÍCULO VERSÍCULOS VIA DOLOROSA VICEDOM VÍCIO VIDA VIDA CRISTÃ VIDENTE VIDEO VIDEOS VÍDEOS VILS VILSON REGINA VILSON SCHOLZ VILSON WELMER VIRADA VISITA VOCAÇÃO VOLMIR FORSTER VOLNEI SCHWARTZHAUPT VOLTA DE CRISTO WALDEMAR REIMAN WALDUINO P.L. JUNIOR WALDYR HOFFMANN WALTER L. CALLISON WALTER O. STEYER WALTER T. R. JUNIOR WENDELL N. SERING WERNER ELERT WYLMAR KLIPPEL ZC ZC 11.10-14 ZC 9.9-12