SEMINÁRIO CONCÓRDIA – FACULDADE DE TEOLOGIA
Disciplina: Exegese do antigo testamento
Professor: Acir Raymann
Alunos: Rodrigo Bender; Sidiney Saibel; Wendell N. Sering.
Data: 23/06/2005.
Estudo Exegético de Isaías 63.16b, 17; 64.1-8
- Contexto Histórico
As circunstancias históricas que dão origem a esta oração evidentemente são as do exílio. Toda a oração é um testemunho de um estado de intenso sofrimento em que o povo está vivendo. A data não pode ser anterior ao exílio, como é evidente especialmente devido às referencias à destruição e incêndio do templo, e à destruição de Jerusalém e das outras cidades da terra (63.18; 64.10-11), (J. Ridderbos p.496).
- Gramática
a) Segmentação do Texto
Essa oração começa em 63.15. Ela encerra uma das três orações preciosas do Antigo Testamento. Com o capítulo 64, ele inicia uma íntima reverência a uma oração pela intervenção divina, ou que o Senhor possa manifestar sua força e poder em favor do seu povo ao mundo. Fisher tem habilmente chamado esse capítulo de um lamento a Yahweh para que ele possa mover a si mesmo. Tem sido uma longa questão se 63.19 deveria ser incluído com o capítulo 64 como seu início ou com a conclusão (de acordo com a notação Hebraica dos versos) do capítulo 63. Seguindo a orientação da Septuaginta e da Vulgata, parece melhor deixar o verso como início de um novo capítulo (64), (Leopold, p.350).
b) Estilo
A voz da profecia dá lugar aqui à voz de oração, expressando-se em uma forma que pode, devido à sua aparência e tom emocional, ser chamada de salmo. Nesta passagem o profeta assume o papel de intercessor em favor do povo, (J. Ridderbos p.497).
c) Crítica Textual
Cap. 64.2a-a gl ex [glosa extraída de] 63.19. Oswalt (nota 6, p.618) cita Muilenburg e diz que esse tipo de repetição é comum nessa parte do livro.
3a Sept. sugere o plural Wn[ßm.v. A Septuaginta sugere um sujeito para o verbo. No entanto, os verbos tem mesmo o caráter indefinido, pois se refere aos homens em geral.
3c Mss Vrs [manuscritos e versões] trazem yke. Aceitar essa sugestão é interferir na inspiração das consoantes.
4b Sept. omite. Essa é uma maneira peculiar da Septuaginta em omitir passagens difíceis. (Oswalt nota 13, p.619).
5b é uma questão de mudança de vogais que não interfere no sentido do texto.
- Tradução
`^m<)v. ~l'ÞA[me( Wnleîa]GO Wnybiêa' ‘hw"hy> hT'Ûa; ( 63:16b
Tu, YHWH, és nosso Pai, nosso Redentor é teu nome desde épocas passadas.
`^t<)l'x]n: yjeÞb.vi ^yd,êb'[] ![;m;äl. bWv… ^t<+a'r.YImi WnBeÞli x;yviîq.T; ^yk,êr'D>mi ‘hw"hy> Wn[eÛt.t; hM'l'ä 17
Por que, YHWH, nos fazes desviar dos teus caminhos, endureces nosso coração da tua reverência? Volta por causa dos teus servos, das tribos da tua propriedade.
`WzG")r>y I~yIïAG ^yn<ßP'mi ^yr,_c'l. ^ßm.vi [;ydIîAhl. vaeê-h[,b.Ti ~yIm;… ~ysiªm'h] vaeä x;doôq.Ki Isaías1
Como o fogo consome o mato, quando o fogo leva a água a ferver, para revelar o teu nome aos teus inimigos, diante de tua face às nações tremerão.
`aWLzO*n" ~yrIïh' ^yn<ßP'mi T'd>r;§y"a hW<+q;n> al{å tAaßr'An ^ït.Af[]B; 2
Nas coisas que fizeste infundindo respeito, que não aguardávamos, baixaste, diante de tua face as montanhas tremeram.
`Al*-chKex;m.li hf,Þ[]y: ^êt.l'äWz ‘~yhil{a/ ht'a'ªr'-al{) !yI[:å bWnyzI+a/h, al{å aW[ßm.v'-al{ ~l'îA[meW 3
E desde as épocas passadas não se ouviu, nem se deu ouvidos, nem olho viu Deus exceto a ti, [que] trabalha para os que estão esperando por ele.
`f[;ve(W"nIw> e~l'ÞA[ ~h,îB'e aj'êx/N<w:) ‘T'p.c;’q' hT'Ûa;-!he d^Wr+K.z>yI ^yk,Þr'd>Bid qd,c,ê chfe[oåw> b‘ff'-ta, aT'[.g:ÜP' 4
Encontraste o que está alegre e fazendo justiça; nos teus caminhos lembrarão de ti, eis que tu iraste e pecamos desde os tempos passados; e seremos salvos?
`bWnau(F'yI x;WrïK' WnnEßwO[]w: WnL'êKu ‘hl,['K,( alb,N"Üw: Wnyte_qod>ci-lK' ~yDIÞ[i dg<b<ïk.W WnL'êKu ‘ameJ'k; yhiÛN>w: 5
Mas, todos nós somos como imundos e até todas as nossas justiças como deslealdades; e todos nós como folhas murcharemos; e todas as nossas iniqüidades como vento nos erguerão.
`WnnE)wO[]-dy:B. aWngEßWmT.w: WNM,êmi ‘^yn<’p' T'r>T:Üs.hi-yKi( %B"+ qyzIåx]h;l. rrEßA[t.mi ^êm.vib. areäAq-!yaew> 6
Ninguém está clamado pelo teu nome, estimulando fortalecer-te porque ocultaste a tua face de nós e agitaste-nos em mãos os nossos delitos.
`WnL'(Ku ^ßd>y" hfeî[]m;W Wnreêc.yO hT'äa;w> ‘rm,xo’h; Wnx.n:Üa] hT'a'_ Wnybiäa' hw"ßhy> hT'î[;w> 7
E agora, YHWH, tu és nosso Pai, nós somos o barro e tu és nosso Criador; todos nós somos obras das tuas mãos.
`WnL'(ku ^ïM.[; an"ß-jB,h; !hEï !wO=[' rKoæz>Ti d[;Þl'-la;w> daoêm.-d[; ‘hw"hy> @coÝq.Ti-la; 8
Não enfureças YHWH para sempre e nem lembres perpetuamente iniqüidade, olha teu povo, todos nós.
- Estrutura
a) Evento
A final ardente oração do Israel fiel por graça em favor de todo Israel e pela libertação do povo.
Essa oração é procedente do tumulto de um coração angustiado, não expressa em si quietude, presente nas frases das estrofes anteriores. É difícil fazer uma clara divisão da oração em partes. Entretanto, três separadas declarações podem ser distinguidas, onde cada uma delas começa com uma tranqüila descrição de condições, levantadas para uma súplica apaixonada, e mais serenamente estabelece as razões para a súplica. A primeira das declarações compreende onze versos, 7-17, ligando a oração por libertação (versos 15-17) com a descrição de muitos benefícios da graça de Deus recebidos em tempos passados (versos 7-14). A segunda declaração, a menor e mais veemente das três, nos versos 18 e 19 que descreve a presente miséria, advoga apaixonadamente com o Senhor (64.1-3) para que Ele intervenha com força, e no verso 4 venha repousar na confidente expectação da milagrosa ajuda do Senhor. A terceira declaração contrasta a anterior amizade do Senhor com Sua presente ira sobre o incurável pecado do povo; o conteúdo da declaração suplica fervorosamente que o Senhor diminua a Sua ira por causa da imutável aliança entre o Senhor e Israel, que parece ter sido rompida pela desolação da terra, cidade e templo (versos 8-12). (Pieper p. 637).
63.16b – A designação de Pai para Deus ou Senhor é comparativamente rara no Antigo Testamento. O termo é freqüentemente usado para designar a relação de Deus como o progenitor das Suas criaturas, do homem, e de todo o povo de Israel (cf. Jr 3.4,19), mas mais comumente do vínculo do amor de Deus para com Suas criaturas, ou ambos ao mesmo tempo. Cf. 9.5(6). Em nossa passagem, o termo “Pai” é usado no seu sentido pleno (completo). (Pieper p.646).
64.3 – Os inimigos não acreditam na intervenção milagrosa dos deuses ou de um Deus nos interesses de certos povos. Desde a antiguidade, eles nunca ouviram e realmente observaram algo do tipo, nem com os olhos viram tais atos de Deus. Portanto, eles estão seguros e sem receio, e quando eles violam Israel eles não sentem que precisam temer que o Deus do Seu povo ainda intervirá para ajudá-los, apesar dos seus profetas e mestres geralmente falem de tal ajuda divina. Mas entre os deuses, Deus é uma exceção. Ele é, de fato, um Deus que vem em socorro daqueles que esperam nEle em fé. O orador implora ao Senhor para que Ele se apresente em ações terríveis, para que o seguro, incrédulo inimigo possa estar ciente de que Ele é um Deus que ajuda. (Pieper p.650).
b) Personagens
O Profeta Isaías intercedendo ao SENHOR, pelo seu povo.
c) Intertextualidade
63. 16b - Dt 1.31; SL 90.1; Is 41.14; Nosso Pai é o nosso Redentor desde a antiguidade.
64.2,3 – Ex 19.16-18; Jz 5.4-5; Hc 3.3-15.
64.1 – Ao longo de toda a Bíblia, de Gn 3.24, passando por Ex 3.1 e At 2.3 até Ao 20.9, fogo está intimamente associado com a presença do santo Deus. Em nenhum livro isso é mais verdadeiro do que esse (Is 4.5; 6.6; 9.4 [português 5] 10.16; 29.6; 30.27, 30; 31.9; 33.12, 14; 66.15, 16, 24.) Se Deus estava para vir no meio desse povo e aplicar seu fogo para seus lábios e corações impuros, como ele fez com Isaías no cap.6, o matagal da vida deles deveria explodir em chamas, e a água morna das sua almas entrar em ebulição. (OSVALT, p. 621).
64.3 – Parte deste versículo aparece em 1 Co 2.9 “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram...”
64.7 – ‘nós somos o barro e tu és nosso Criador’, ver Is. 29.16; 45.9, Jr 18.1-6 e Rm 9.20-21.
- Retórica
a) Contexto Litúrgico
Esta perícope aparece dentro do calendário litúrgico no Primeiro Domingo no Advento da Trienal B, os outros textos sugeridos são:
Sl 98 à Cantai ao SENHOR um cântico novo, pois com amor e fidelidade, ele cumpriu a sua promessa ao povo de Israel. Ele fez com que as nações conhecessem o seu poder salvador. Mesmo que o seu povo não o mereça, ele é benigno e gracioso; apesar da infidelidade de Israel, SENHOR permanece fiel e cumpre com as suas promessas. Não apenas Israel foi testemunha dos atos salvíficos de Deus, mas também os outros povos.
1 Co 1.3-9 à Ação de Deus sobre nós. Somos abençoados por meio de Jesus Cristo. Deus nos dá sua graça não por alguma coisa que fazemos por nossos próprios esforços, mas por aquilo que Cristo fez.
Mc 13.33-37 à Somente em Cristo temos a armadura que permite vencer Satanás. Só em Cristo podemos estar vigilantes e esperar com fidelidade a Deus. Só Nele temos a salvação. Além de desejar a vigilância espiritual, é Deus que a opera em nossas vidas. Pois, “Deus é quem efetua em nós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.13).
b) Polaridade Lei – Evangelho
Lei:
- O povo sofre com o silêncio de Deus.
- Aqueles que abandonaram uma vida com Deus agora enfrentam uma vida sem Deus.
- Querer viver uma vida sem orientação de Deus significa ser entregue ao caos.
Evangelho:
· A oração de Isaías deriva, não de amargura ou dúvida, mas da confiança absoluta de que Deus não abandona o seu povo.
· Deus estende Seu braço poderoso contra os inimigos para a libertação do Seu povo.
· O SENHOR é o nosso Pai, nós somos obras das tuas mãos.
· Somos o povo de Deus, Ele atende as súplicas de seu povo.
c) Sugestões para Pregação
- Esperamos com muita alegria a vinda do Senhor.
- O SENHOR ouve e atende o clamor do seu povo.
- Necessitamos reconhecer e confessar os nossos pecados.
Bibliografia:
Bíblia Hebraica Stuttgartensia. Sttuttgard: Deusche Bibelgesellschaft, 1997.
KIRST, N.; KILP, N.; SCWANTES, M.; RAYMANN, A. e ZIMMER, R. Dicionário Hebraico – Português & Aramaico – Português. São Leopoldo; Petrópolis: Vozes, 1987.
SCHÖKEL, Luis Alonso. Dicionário bíblico hebraico – português. São Paulo: Paulus, 1997.
LEUPOLD, H. C. Exposition of Isaiah: Chapters 40-66. Grand Rapids, Baker Book House, 1971.
OSVALT, Jonh N. The Book of Isaiah: Chapters 40-66. Grand Rapids/Cambridge: William B. Eerdmans Publishing Company, 1998.
PIEPER, August. Isaiah: an exposition of Isaiah 40-66. Milwaukee: Northwestern, 1979.
RIDDERBOS, J. Isaías. São Paulo: Vida Nova / Mundo Cristão, 1986.