Disciplina: Cristologia do N.T.
Professor: Gerson L. Linden.
Acadêmicos: Otávio S, Rodrigo, Tiago F e Vilson W.
Data: 16/Abril/ 2007.
Trabalho: Jesus, o Sumo Sacerdote.
JESUS, O SUMO SACERDOTE (
Cullman começa, logo de cara, dizendo que a expressão "Sumo Sacerdote" tem estreita relação com a de "Servo de Deus" (Ebed lahweh). No entanto, ele a deixa de fora devido a igreja primitiva a ter aplicado com outro sentido, diferente à figura de Ebed Jahweh.
- O SUMO SACERDOTE, FIGURA IDEAL DO JUDAíSMO
Embora a figura "Sumo Sacerdote" tenha característica essencialmente judaica, paradoxalmente não era com esses traços que eles esperavam o Messias. No entanto, Cullmann diz que no judaísmo antigo é possível encontrar certos indícios que indicam uma provável relação entre o Messias-Rei e o Sumo Sacerdote quando se refere ao misterioso rei Melquisedeque (Gn 14.18 ss. e SI 110.4). Em Gn 14.13-24, é relatado o episódio onde Abraão liberta seu sobrinho Ló das mãos de Kedor-Laomer, rei de Elam, e seus aliados. Quando Abraão volta vencedor, Melquisedeque vai ter com ele e o abençoa. Em seguida, Abraão lhe dá o dízimo de seu saque. Além disso, não há mais nenhuma referência sobre Melquisedeque em Gênesis. Cullman diz que isso despertou curiosidade e imaginação dos judeus.
No SI 110. 4, se lê: "Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque". Com esse versículo, Cullman diz que é possível interpretar a figura de sumo sacerdote com uma base messiânica, devido os judeus terem em Melquisedeque uma noção supra elevada de Sumo Sacerdote, que está relacionada à compreensão messiânica. Jesus cita esse salmo (Mc 12.35) para mostrar que a descendência davídica do Messias tinha problemas. Com isso ele pressupõe que o rei do salmo, que seria sacerdote pela eternidade segundo a ordem de Melquisedeque, era ele próprio. Cullman diz que, devido a polêmicas anti-cristãs, não é possível encontrar testemunho nos escritos rabínicos anteriores à segunda metade do terceiro século de nossa era sobre o sacerdócio de Melquisedeque. Segundo essa compreensão, o sacerdote supremo é transferido a Abraão.
No entanto, tudo leva a crer que o SI 110 era interpretado messianicamente no tempo de Jesus. Mesmo que não tivesse relação com o Messias, ainda assim ele tem com outras figuras escatológicas. Cullman lista algumas passagens que fazem referência a um Rei-Sacerdote, com fundo e funções messiânicos (Hb 7; um Midrash, Cântico dos Cânticos). O Elias ressuscitado também destaca um duplo aspecto de profeta e sacerdote do fim dos tempos. Para os membros da seita de Qumran há um sacerdote escatológico (Kohen zedek), ao lado de Elias. Fílon assimila o Lagos a Melquisedeque, chamando-o de "Sacerdote de Deus".
Os Pais da Igreja mencionam que havia seitas gnósticas que debatiam sobre questões relativas a Melquisedeque. Estes assimilavam o sumo sacerdote a personagens dos primeiros e dos últimos tempos, tais como Sem, o arcanjo Miguel, Adão, Metatrom (?).
Voltando para a compreensão do "Mestre de Justiça" do pessoal de Qumran, estes demonstram marcas escatógicas e de sacerdote. Ao se analisar os Testamentos dos Doze Patriarcas, se constata a vinda de um "novo sacerdote", sendo este o próprio "Mestre de Justiça". Os Testamentos dos Doze Patriarcas ainda fazem distinção entre um Messias sacerdotal e um Messias-Rei politico, sendo que o Messias real está subordinado ao Messias sacerdotal. Nesses textos existe a identificação do sumo sacerdote com o Messias.
Conclui-se, então, que o judaísmo já tinha em mente um sacerdote ideal, que iria consumar no fim dos tempos, um posto de sacerdote verdadeiro, mediador entre Deus e seu povo. É inevitável, por isso, que não se fizesse relação com a figura messiânica.
2. JESUS E A CONCEPÇÃO DE SUMO SACERDOTE
Aparentemente Jesus parece ter atribuído a si funções sacerdotais quando ataca o Templo, pois Jesus em Mt 12.6 Jesus se apresenta como aquele que é maior e também em Jo 2.21 como aquele que substitui o Templo.
O que Jesus estava convicto era que a sua vinda inaugurara a escatologia e não concordava com a idéia da função sacerdotal judaica, visto que esses sacerdotais judaicos queriam matá-lo. Mesmo criticando o sacerdócio judaico, Jesus sabia da sua função sacerdotal conforme Sl 110.
Conforme os textos de Mc 12.35, Mc 3.33 e Mc 14.62 Jesus dá a entender que ele sabia da sua missão como Sumo Sacerdote. Jesus aplica justamente esse conceito quando interrogado pelo sacerdote judaico sobre a pretensão do Messias. Jesus é o Sumo Sacerdote celeste, divino diferentemente do sumo sacerdote que o judaísmo esperava.
3. JESUS SUMO SACERDOTE, SEGUNDO O CRISTIANISMO PRIMITIVO.
Em Hb 7, Gn 14 e o próprio Sl 110, designam Jesus como verdadeiro Sumo Sacerdote. Em especial, Hebreus quer mostrar que Jesus consuma verdadeiramente o sacerdócio judaico, isto é, que o sacerdócio terreno judaico era passageiro e que Jesus é superior ao sacerdócio terreno.
O sacerdócio que Hebreus apresenta tanto do Antigo Testamento e do povo judaico no Novo Testamento é apenas passageiro, indefinido, não absoluto e Jesus Cristo é o Sumo Sacerdote absoluto e definitivo, Cristo é o verdadeiro mediador entre Deus e os homens.
Jesus Cristo é o Sumo Sacerdote, Ebed (servo) que se oferece em sacrifícios, Jesus é a própria vítima. Ele é ao mesmo tempo sacrificador (que leva os pecados a Deus) e o próprio sacrifício conforme Hb 7.27. E Cristo realiza sua vida sacrificial apenas uma vez valendo por todas. Sua obra vicária foi perfeita.
Com isso Cristo corrige a noção judaica de sacerdócio imperfeito e assim manifesta a sua soberania sacerdotal tornando supérfluo o sacerdote judaico. Assim a tarefa sacerdotal de Jesus fica evidente e a cristologia de Hebreus tens outros aspectos como: Jesus leva a humanidade a sua “perfeição” como Ele foi “perfeito”.
E para levar toda a humanidade à perfeição diante de Deus, Cristo percorreu várias etapas da vida humana, não somente nos últimos instantes de sua vida, mas desde o seu nascimento viveu como ser humano igual a todos, mas sem cometer pecados conforme Hebreus 4.15.
O livro de Hebreus menciona a ausência do pecado, mas não descarta a possibilidade de pecar, isto é, Jesus como humano foi tentado poderia ter pecado, mas não pecou. Esse é um dos principais pontos de Hebreus, Jesus na sua total humanidade, encarnou-se como humano, mas não pecou, tornando a sua vida e obra sacrificial perfeita diante de Deus.
Jesus em Hebreus é descrito como verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Como homem ele experimentou todos os tipos de sofrimentos, teve fome, sede, necessidades físicas, chorou, alegrou-se. Ele aprendeu em obediência e assim crescia em sabedoria, estatura e graça. Jesus aprendeu pelo sofrimento humano. Ele foi obediente até a morte.
A Epístola aos Hebreus além de dar uma grande ênfase na humanidade de Jesus também enfatiza a divindade. O Sumo Sacerdote para cumprir a sua obra teve fé em si mesmo e também conduziu outros a terem fé Nele. Jesus realizou sua obra tão perfeitamente que ela é única, irreptível e suficiente para salvar a todos os homens conforme Hb 10.10.
Jesus é o Sumo Sacerdote, o intercessor, o mediador entre Deus e os homens. Cristo é o sacrifício morto na cruz para perdão dos pecados. Ele intercede por nós ou nos santifica a cada um de nós diante de Deus, visto que tentar imitá-lo não é possível, pois, ele foi Santo, sem pecado e nós somos pecadores. O ato obediente de Cristo é inimitável.
A vida humana de Cristo é a precursão do Jesus glorificado, e junto com Ele leva os que Nele acreditam. A ressurreição de Jesus tem esse aspecto humano e divino, glorioso. A ressurreição significa que o Sumo Sacerdote permanece no lugar santíssimo e ali continua sua obra.
Jesus é o Sumo Sacerdote pelo ato realizado de uma vez por todas e porque ainda essa obra prolongará por toda a eternidade e a ressurreição é essa ligação entre o “já realizado”, mas “ainda continua”. Agora que Ele vive para sempre, ele intercede por nós junto ao Pai.
Hebreus nos fornece uma cristologia completa de Jesus Cristo como verdadeiro Sumo Sacerdote enviado por Deus para expiar de uma vez por todas os pecados de toda humana, uma vez completada perfeitamente por Jesus, ela é única e suficiente.
Jesus viveu como verdadeiro homem sofreu, morreu pelos pecados do mundo inteiro e ao Ressuscitar completou a obra terrena, tornando-se glorioso e esperando para a sua vinda para interceder por aqueles que Nele confiam através da sua obra humana e divina. Enquanto essa segunda vinda não se realiza Jesus santifica os seus crentes com o perdão dos pecados através do Espírito Santo entregue antes de subir ao Pai.
Esse Espírito conduzirá através da fé os crentes para a morada celestial junto de Jesus Cristo, o verdadeiro Sumo Sacerdote.