18º DOM. APÓS PENTECOSTES
1 Tm 2.1-8
Contexto
As epístolas a Timóteo são as primeiras das chamadas Epístolas Pastorais, escritas pelo Apóstolo a cristãos individuais e cooperadores. São, no entanto, mais que apenas cartas pessoais e de assuntos específicos. O uso da fórmula "Cristo Jesus", característica de 1 Tm, indica o seu mandato a serviço do Ungido de Deus, promessa do Antigo Testamento, que se cumpriu em Jesus. Timóteo representa já a 2ª geração de enviados deste Cristo ao mundo, e a preocupação do Apóstolo no aconselhamento de seu jovem cooperador se estende, na presente perícope, a partir da congregação cristã, a "todos os homens", sem distinção de posição social ou geográfica.
Texto
V. 1-2 — O primeiro tema específico da epístola inicia, aqui, com a exortação à prática intensiva da oração em suas diversas formas c em favor de todos. Uma das preocupações é a de desfazer certos tabus ou vícios sociais de discriminação que algumas correntes judaicas c o gnosticismo faziam no sentido de privilegiar certos grupos, classes e raças, em detrimento de outros segmentos da sociedade. A oração é descrita através de quatro termos que revelam a preocupação dos cristãos em atender necessidades alheias: súplicas (deêseis), raiz que, no original, se relaciona com o dever ou a necessidade que se deve ter no sentido de ajudar o próximo em tempos de crise; orações (proseuchás) é termo largamente usado no NT, e revela a apresentação dos desejos mais íntimos do coração perante Deus; intercessões (entéukseis) é usado como em Rm 8.26, no sentido de "advogar" a causa de alguém diante do juiz ou da autoridade em geral, quando este alguém não o consegue por meios ou força próprios; ações de graça (eucharistías) são a prática do bom uso dos dons ou chárísmas a serviço do próximo, seja pela oração, seja por se externar qualquer disposição de ajuda e solidariedade, incluindo o sentimento de gratidão.
O direito e o dever de orar e expressar sua fé diante do mundo em favor de todos inclui, necessariamente, as autoridades, como ordens instituídas por Deus e a serviço dos crentes. Para que o testemunho cristão possa florescer, é importante que haja condições de paz e compreensão civil e se respeite a Deus e ao próximo também na administração pública. O pior governo (e todos eles, no tempo de Paulo, eram ateus) pode oferecer ao cristão oportunidades de provar e atestar sua fé de formas notáveis. As orações dos crentes são uma pitada do sal que conserva a sociedade.
Vs. 3-5 — Bonito (kalós) e agradável diante de Deus é saber que a prática da oração contribui para que todos os homens sejam salvos, o objetivo maior da vida comunitária dos cristãos no mundo e na igreja. As noções aqui expressas fundamentam a prática de orações e pretendem relembrar a Timóteo o que Deus mais deseja — a salvação do pecador — e como podemos participar desse plano superior de Deus, de forma inteligente e com convicção, não mecanicamente. Se, vivendo no mundo, os cristãos devem viver como que separados dele, isto é, de seu mundanismo, isto não se aplica à prática da intercessão, antes faz parte do desejo de salvação que Deus tem em relação a todos os homens. Este se dirige a todos na mesma extensão em que o v. 1 manda orar por todos. Isto é confirmado pelo fato de que Cristo "a si mesmo se deu em resgate por todos". A universalidade da oração baseia-se na universalidade da salvação. Deus prove os meios da graça em toda a sua eficácia, para que todos alcancem a vida eterna. É a chamada vontade antecedente de Deus. Quando os homens rejeitam esse desejo (Mc 16.16), chamam sobre si a vontade subseqüente de Deus, que os julga e envia à condenação. Não se pode dividir a vontade de Deus ou afirmar que ele tem duas vontades opostas: o que se distingue são os objetos com que Deus se defronta, os crentes e os descrentes, os que chegam ao conhecimento da verdade e os que endurecem seus corações.
O Mediador da parte de Deus é homem — o Deus-Homem em suas duas naturezas — muito acima do que representou a mediação de Moisés ao povo de Israel. Cristo é quem origina e transmite um testamento superior e faz a mediação perfeita entre Deus e seu povo. O ato substitutivo de Cristo é atestado de três formas: duas vezes por antí (na palavra antílitron) um resgate em lugar d e . . . , e uma vez por hipér, em. favor de. Tudo por todos (Is 45.22).
Vs. 6-8 Paulo e Timóteo prestavam testemunho constante e sempre oportuno da salvação universal por Cristo, pregadores e enviados como mestre dos gentios. Referindo a designação para o apostolado, Paulo combina a idéia de autoridade do pregador com o impacto da mensagem na defesa e propagação do evangelho. O antagonismo de mestres judaizantes (cf. 1.3,19,20) fizeram com que Paulo apresentasse suas credenciais.
Em todas as igrejas deveriam ser os homens que lideravam as orações públicas. Deveriam fazê-lo com pureza, ponderação e amizade. A postura sugerida, levantando as mãos, que espelha o costume judaico, é adiáforo. A ênfase está em "mãos santas", e a recomendação "sem ira.. ." corresponde à correta atitude da mente e do coração ao comparecerem diante do trono de Deus.
Disposição
O SACERDÓCIO UNIVERSAL DA ORAÇÃO
(um ministério público e privado)
I. Formas de oração:
— súplicas, orações, intercessões e ações de graças
II. Objetos da oração:
— em favor de todos os homens, autoridades, nós mesmos
III. Motivos da oração:
— Bom c aceitável diante de Deus
— Outros chegarão ao conhecimento da verdade
— A salvação de todos os homens
IV. Objetivos da oração:
— Viver vida tranqüila e mansa
— Andar em piedade e respeito
— Afastar ira e animosidade
V. Mediadores do Mediador: Testemunho da redenção vicária
de Cristo.
ou
LEVANTAI MÃOS SANTAS AO SENHOR!
I. Porque esta é uma exortação de Deus pelo Apóstolo (v. 2,1)
II. Porque há muitas formas de oração (v. 1)
III. Porque todos precisam das orações dos filhos de Deus (v. 2)
IV. Porque assim se cumpre o desejo de Deus de salvar os pecadores
(v. 4)
V. Porque pela oração se nos promete vida tranqüila e mansa,
com piedade e respeito (v. 2)
VI. Porque, em resumo, esta é a vontade de Deus.
Elmer Flor