Estudo de Romanos 12.1,2
1 Parakalw/ ou=n u`ma/j( avdelfoi,( dia. tw/n oivktirmw/n tou/ qeou/ parasth/sai ta. sw,mata u`mw/n qusi,an zw/san a`gi,an euva,reston tw/| qew/|( th.n logikh.n latrei,an u`mw/n\ 2 kai. mh. suschmati,zesqe tw/| aivw/ni tou,tw|( avlla. metamorfou/sqe th/| avnakainw,sei tou/ noo.j eivj to. dokima,zein u`ma/j ti, to. qe,lhma tou/ qeou/( to. avgaqo.n kai. euva,reston kai. te,leionÅ
1. Estudo exegético do texto
1.1 Gênero Literário
Alguns pressupostos precisam estar em nossa mente ao lermos as cartas do NT:
a) a carta substitui uma conversa face-a-face – é uma forma de presença espiritual;
b) o propósito da carta era de estabelecer contato, dar informações ou fazer pedidos;
c) nas cartas há forte influência retórica – o objetivo era persuadir (mover) os leitores em direção a um propósito;
d) as cartas são escritas para determinadas situações – precisamos aprender a pensar contextualmente;
e) no texto em estudo, temos o início de uma exortação (retórica forte); precisamos estar atentos se ela é baseada na vontade de Paulo ou se ela é fruto de uma argumentação anterior, centrada no evangelho – na mensagem de salvação;
f) quanto ao contexto literário, precisamos ter em mente o corpus Paulinum – como este texto se encaixa na teologia de Paulo (outros escritos).
1.2 Contexto Histórico
Pelas informações da própria carta (1.9,10), Paulo não tinha estado em Roma até o momento da escrita. Mas, Paulo comenta no cap. 16 que já conhecia alguns dos membros da congregação.
Ao escrever a carta, Paulo tem em vista a Espanha como campo missionário e, nesta perspectiva, vê a oportunidade de visitar os irmãos de Roma. Portanto, podemos relacionar o propósito da carta com o interesse de uma estadia em Roma em meio à viagem a Espanha.
Provavelmente Paulo escreveu a carta enquanto esteve em Corinto, no mesmo contexto da carta aos Gálatas, por volta do ano 55. As cartas de Romanos e Gálatas têm assuntos relacionados, talvez com interesses diferentes. A teologia presente é a mesma; mas, a aplicação tem propósitos próprios.
Há possibilidades de que a congregação de Roma estava passando por um sério perigo de divisões e talvez a passagem de Paulo pela congregação poderia ajudar neste problema. As divisões eram de ordem de interesses entre os cristãos de origem judaica e de origem gentílica.
A teologia de Romanos é tratada em dois grandes temas. O primeiro tema é doutrinário, no aspecto de definir a vida cristã como obra própria por Deus. “O justo viverá pela fé” é a base doutrinária para esta parte. O segundo tema é exortativo (e aqui começa nosso texto) – a lei do amor norteia a vida cristã. A fé como obra de Deus se manifesta no amor em meio aos irmãos na fé, na sociedade civil e em relação às autoridades civis. A lei do amor derruba a autoconfiança, a jactância e conduz o cristão a uma visão positiva de si mesmo em relação ao que o rodeia numa fé ativa em amor.
1.3 Gramática
1.3.1 Segmentação do Discurso
Esta perícope inicia uma nova seção dentro da carta de Paulo. As exortações práticas iniciam com estes dois versículos que servem de transição entre o conteúdo doutrinário e o conteúdo prático da epístola. Podemos afirmar que este divisor de águas aproxima os dois grandes temas da carta aos Romanos, pois a teologia/doutrina serve de fundamento (razão para) para a parte prática da carta.
1.3.2 Crítica Textual
Almeida acrescenta “vossa” na expressão “pela renovação da vossa mente”. Este acréscimo não é utilizado em NA 27, mas está presente em alguns textos de importância, como o Sinaitico.
1.3.3 Textura e Estilo
O que mais chama a atenção é a ação do verbo parakalw. É próprio de Paulo fazer exortações – faz parte de seu estilo. Mas e preciso estar atento como esta exortação ética aparece no texto – é simples legalismo ou é fruto da ação de Deus? Certamente, aqui temos um movimento dentro da epístola, próprio da forma de Paulo escrever.
Numa seção exortativa é lógico esperar verbos no imperativo. Esta seção de Rm 12.1-15.13 apresenta várias formas com tons imperativos. Paulo usa particípios, adjetivos e infinitivos com tons imperativos; ele também usa a fórmula “não façam isso, mas aquilo”.
Em nosso texto Paulo abre a seção das exortações com “eu os exorto” (12.1). Esta palavra é um apelo à vontade e ao sentido de responsabilidade dos cristãos. Talvez, poder-se-ia traduzir esta exortação com a seguinte expressão: “eu os exorto, lhes peço e os encorajo”, muito semelhante ao que Paulo faz em Fm 8-10. Esta forma de escrever é uma paráclase – é a voz solícita e exortativa de um pai (ver 1 Ts 2.11,12).
No plano estilístico, Paulo usa formas capazes de dar eficácia à sua exortação. Em 12.3 encontramos um exemplo de paranomásia: o emprego de verbos com a mesma raiz que formam como que um jogo de palavras. Paulo cria um artificialmente um interlocutor direto, ao qual dirige perguntas retóricas com resposta certa. O “vocês” dos destinatários torna-se um “você” individual que não deixa escapatória para o leitor (ver 13.3-4; 14.4; 14.10).
1.3.4 Tradução e traduções
BNT Romans 12:1 Parakalw/ ou=n u`ma/j( avdelfoi,( dia. tw/n oivktirmw/n tou/ qeou/ parasth/sai ta. sw,mata u`mw/n qusi,an zw/san a`gi,an euva,reston tw/| qew/|( th.n logikh.n latrei,an u`mw/n\
2 kai. mh. suschmati,zesqe tw/| aivw/ni tou,tw|( avlla. metamorfou/sqe th/| avnakainw,sei tou/ noo.j eivj to. dokima,zein u`ma/j ti, to. qe,lhma tou/ qeou/( to. avgaqo.n kai. euva,reston kai. te,leionÅ
RA Romans 12:1 Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. 2 E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
ACF Romans 12:1 ROGO-VOS, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. 2 E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.
LUT Romans 12:1 Ich ermahne euch nun, liebe Brüder, durch die Barmherzigkeit Gottes, daß ihr eure Leiber hingebt als ein Opfer, das lebendig, heilig und Gott wohlgefällig ist. Das sei euer vernünftiger Gottesdienst. 2 Und stellt euch nicht dieser Welt gleich, sondern ändert euch durch Erneuerung eures Sinnes, damit ihr prüfen könnt, was Gottes Wille ist, nämlich das Gute und Wohlgefällige und Vollkommene.
TLH 1 Portanto, meus irmãos e minhas irmãs, por causa da grande misericórdia divina, peço que vocês se ofereçam completamente a Deus como um sacrifício vivo, dedicado ao seu serviço e agradável a ele. Esta é a verdadeira adoração que vocês devem oferecer a Deus. 2 Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês. Assim vocês conhecerão a vontade de Deus, isto é, aquilo que é bom, perfeito e agradável a ele.
NTLH 1 Portanto, meus irmãos, por causa da grande misericórdia divina, peço que vocês se ofereçam completamente a Deus como um sacrifício vivo, dedicado ao seu serviço e agradável a ele. Esta é a verdadeira adoração que vocês devem oferecer a Deus. 2 Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês. Assim vocês conhecerão a vontade de Deus, isto é, aquilo que é bom, perfeito e agradável a ele.
1.4 Lógica
1.4.1 Contexto Literário
O texto em estudo é um divisor de águas dentro de Romanos. Mas, isso não quer dizer que o que foi dito anteriormente nada tem a ver com o que segue. Pelo contrário, o contexto anterior é base para toda esta exortação de Paulo.
Poderíamos falar em justificação e santificação como as duas grandes partes da carta e, neste texto, de forma bem objetiva, Paulo junta as duas doutrinas. Estas doutrinas não podem ser interpretadas a luz da idéia de tempo; o fato de uma acontecer primeiro (a justificação) não sugere que haverá um abismo temporário entre ambos. Pelo contrário, assim que somos declarados justos já somos santos em Cristo Jesus.
Dentro deste aspecto podemos lembrar que o imperativo de nosso texto segue ao indicativo. De 1 a 11, Paulo descreve a condição do cristão através da obra de Cristo Jesus (mesmo que não faltem apelos para que os destinatários façam frutificar em suas vidas a novidade da graça experimentada na fé – em 6.2,12; 8.12-13; 11.17s temos mostras desta relação indicativo-imperativo), que é indicativo, como base para as exortações imperativas, que assumem um tom mais formal-literária a partir do cap. 12.
Nosso texto é um ponto de contato entre a parte dogmática e a parte parenética da carta: a mesma graça do Pai é evento de salvação para os fiéis e voz que exorta os beneficiários à obediência, no dia-a-dia da vida.
1.4.2 Progressão de idéias
São duas exortações neste texto ligadas pelo conectivo “e” (kai). Do ponto de vista do conteúdo, o v.2 especifica o tema do v.1: a oferta de si mesmo se traduz na metamorfose da vida, através do discernir da vontade divina. A partícula inicial do v.1 “pois” exerce o papel de ligação com a parte anterior e o resumo destes dois vv. é o tema condutor para a parênese como um todo. “Desta partícula conclusiva no início da parênese deve-se concluir que Paulo compreende sua ética como conseqüência do querigma que explicou nos trechos anteriores da carta. De modo algum se pode pensar que em Rm 1-11, p.e., - portanto na “dogmática” - se trate do agir de Deus, enquanto que em Rm 12.1ss. se fale do agir do ser humano. Para Paulo a ética de forma alguma é uma reação, emenda ou complementação humana do agir divino; antes, também o agir dos cristãos é fundamentado e movido pelo agir de Deus. Ela também não é um sinergismo no sentido de que primeiro Deus faz alguma coisa e depois o ser humano, ou como se ambos trabalhassem juntos. Qualquer definição qualificadora e parcial da relação só poderá falsificar a dialética do indicativo e do imperativo”(SCHRAGE, p. 174).
No v.1, a natureza da paraclase é em tons de exortação, prece e encorajamento. A relação de Paulo com seus leitores é fraterna. Desde 1.12 sabemos desta relação. Lendo 13.3, percebemos que esta interferência de Paulo na vida dos Romanos é mais que fraterna – ela é apostólica e aqui podemos novamente perceber o caráter da paraclase: é a voz eloqüente da misericórdia de Deus (11.32) que direciona este apelo a uma vida coerente.
O objeto da exortação é nada mais do que uma vida de culto a Deus. Não é nada semelhante ao que acontecia na religião própria do homem, onde se tinha todo um processo ritualístico. O convite é que a própria vida dos cristãos seja um culto. E a vida se torna algo “vivo, santo e agradável a Deus”.
Este culto é espiritual ou lógico. Aqui o culto ao Deus verdadeiro se distancia de qualquer iniciativa irracional através de seres desprovidos de razão e propõem-se um culto onde a oferta é ética e religiosa do próprio homem, também longe de qualquer iniciativa meramente mística ou espiritual. Aqui podemos pensar num homem não voltado mais para si mesmo, mas no homem que cultua a Deus com tudo que é e faz.
O como cultuar a Deus desta forma Paulo responde no v.2. Dois imperativos direcionam o comportamento de um cristão sob forma negativa e positiva. O primeiro é negativo: “não se conformar com o presente mundo”. Aqui precisamos entender o presente mundo como escravizador da nova natureza criada pela graça de Deus em Cristo Jesus. A nova criação é uma realidade que convive com o “presente mundo” e os cristãos não são mais escravos deste mundo mas foram libertos para lutarem contra as ameaças que querem escravizar e afastar de Deus. Paulo convida os cristãos a um anticonformismo contra a perversidade presente na vida no mundo longe de Deus.
Para que possa se vencer o mundo, Paulo acrescenta um imperativo positivo: Paulo pede, aos seus leitores, que se mude não o mundo, mas a si próprios. Esta metamorfose não é apenas interior, espirituosa, mas na corporiedade do cristão, na sua relação de ser para o mundo.
Ponto fundamental para esta transformação é a “renovação da faculdade humana de julgamento”. A transformação atinge a raiz das escolhas do sujeito, a capacidade de avaliação para depois se passar a uma decisão. Em outras palavras, trata-se de superar velhos esquemas, próprios do velho mundo/natureza, para assumir a lógica do novo. De forma concreta, a metamorfose passa em discernir a vontade de Deus e à conseqüente decisão de obedecer a esta vontade.
1.4.3 Intertextualidade
1 Pe1.14 Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância;
Cl 3.10 10 e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou;
Tt 3.5 5 não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo,
1 Pe 2.4-5 Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa,também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo.
2 Co 5.17; 17 E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.
Gl 6.14,16 Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo.E, a todos quantos andarem de conformidade com esta regra, paz e misericórdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus.
Ef 5.10,17 17 Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor.
1 Co 15.54 54 E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória.
2 Co 3.18 E todos nós, com o rosto desvendado, contemplado, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.
Fp 3.21 o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo de sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas.
1.5 Retórica
1.5.1 Impacto do Texto
Alguns aspectos da retórica clássica se fazem presentes. O gênero é deliberativo, onde o orador quer assegurar a adoção e rejeição de determinada atitude – Paulo persuade ou dissuade seus leitores a tomar uma decisão daí para frente (em relação ao futuro imediato e continuado).
1.5.2 Polaridade Lei e Evangelho
Por mais que seja um texto exortativo, subentende-se a aplicação de lei e evangelho. A vida cristã, a nova vida, é fruto da ação de Deus. A justificação e a santificação são entendidos como obra de Deus no cristão, contrários a este século/mundo. A lei no seu terceiro uso serve para o controle da velha natureza que ainda se faz presente na vida do cristão.
1.5.3 Idéias para o ensino
Tema: A ética cristã
Objetivo: demonstrar que nossa tarefa de pastores/professores da palavra de Deus é sempre de novo colocar as pessoas diante do amor de Deus para vivam em amor.
Moléstia: a ética/vida do cristão não é fruto das próprias obras do ser humano. Pelo contrário, o que é próprio de nós é de carregarmos a natureza contrária à vontade de Deus. O egoísmo é da natureza do ser humano
Promessa: o amor de Deus nos constrange a amar também.
Como praticar esta verdade: na tarefa de conduzir o povo de Deus, precisamos usar da mesma estratégia de Paulo ao exortarmos sempre de novo os cristãos a partir da nova vida em Cristo.
2. Estudo Bíblico
2.1 Esquema do Estudo Bíblico
O Indicativo e o Imperativo de Deus na vida do Cristão
1. O ser humano e suas necessidades segundo a psicologia
As pessoas têm certas necessidades que precisam ser satisfeitas. Precisamos entender estas necessidades para saber o que vai motivar o comportamento dessas pessoas.
Existe uma ordem de necessidades que ocorrem durante a vida do homem e que mudam constantemente. São elas:
Primeira – Necessidade de sobrevivência – o homem precisa de alimento, roupa, remédio, etc.;
Segunda – Necessidade de segurança – são aquelas que garantem a satisfação das necessidades de sobrevivência. Por exemplo: emprego, moradia, assistência médica, etc.;
Terceira – Necessidade de participação – depois de satisfeitas as necessidades de sobrevivência e de segurança, o homem tem uma nova necessidade: a de participação. Ninguém vive sozinho. Todos precisam ser aceitos e amados. As pessoas procuram participar de algum grupo: igreja, clubes, etc.;
Quarta – Necessidade de estima e reconhecimento. Além de participarem de um grupo, as pessoas precisam de respeito e reconhecimento dos outros. Isso motiva e dá ânimo para continuar a caminhada.
Quinta – Necessidade de auto-realização. Acontece que a pessoa se sente realizada por seus próprios esforços.
Fonte: Gasques. Pastoral e Qualidade Total, 76.
2. A auto-estima do Brasileiro (texto em anexo)
3. Tarefa: é possível falar em auto-estima individual ou em grupo no contexto cristão? Caso afirmativo ou negativo, qual a estratégia a seguir.
Desenvolvimento
1. O indicativo de Deus
O ponto de partida de toda a vida cristã está na ação de Deus: “Exorto-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus”.
Para Paulo, Cristo não está apenas no início dos caminhos dos cristãos, como também aquele que possibilita e desencadeia a nova existência e a nova conduta.
Nos capítulos anteriores Paulo fundamenta esta argumentação. Vejamos:
Rm 6.5-10 – Em Cristo, morremos para o pecado e ressuscitamos para uma nova vida;
Rm 5.20 – a graça de Deus é maior do que o pecado do homem;
Rm 6.4 – o papel do Batismo na vida do cristão
Rm 8.9,11 – o papel do Espírito na vida do cristão
Rm 5.8-11 – a fundamentação escatológica
2. O imperativo de Deus
Para Paulo, Cristo não é apenas o ponto de partida, mas também o ponto de chegada da vida cristã. À medida que se sucedem exortações e a peregrinação, Cristo também continua sendo aquele que precisa intervir constantemente, aquele a quem tudo se refere, de quem tudo provém, que sempre de maneira nova quer falar misericordiosamente através de sua palavra, também da palavra da parênese.
Paulo diz: “apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.
1 Co 12.11 – tudo é obra do Espírito Santo.
Rm 8.14 – somos guiados pelo Espírito Santo.
2 Co 3.18 – a metamorfose na vida cristã
O imperativo de Deus nos leva a uma vida consagrada – Paulo usa a expressão “culto racional”. E isto nada mais é do que a própria vida do cristão. O homem cultua a Deus não apenas com o que faz, mas também com sua nova natureza (vida). Aqui Paulo se distancia do culto natural presente na sociedade da época (e porque não dizer na de hoje também).
O como cultuar a Deus desta forma Paulo responde no v.2. Dois imperativos direcionam o comportamento de um cristão sob forma negativa e positiva. O primeiro é negativo: “não se conformar com o presente mundo”. Aqui precisamos entender o presente mundo como escravizador da nova natureza criada pela graça de Deus em Cristo Jesus. A nova criação é uma realidade que convive com o “presente mundo” e os cristãos não são mais escravos deste mundo mas foram libertos para lutarem contra as ameaças que querem escravizar e afastar de Deus. Paulo convida os cristãos a um anticonformismo contra a perversidade presente na vida no mundo longe de Deus. Fp 2.15.
Para que possa se vencer o mundo, Paulo acrescenta um imperativo positivo: Paulo pede, aos seus leitores, que se mude não o mundo, mas a si próprios. Esta metamorfose não é apenas interior, espirituosa, mas na corporiedade do cristão, na sua relação de ser para o mundo.
Ponto fundamental para esta transformação é a “renovação da faculdade humana de julgamento”. A transformação atinge a raiz das escolhas do sujeito, a capacidade de avaliação para depois se passar a uma decisão. Em outras palavras, trata-se de superar velhos esquemas, próprios do velho mundo/natureza, para assumir a lógica do novo. De forma concreta, a metamorfose passa em discernir a vontade de Deus e à conseqüente decisão de obedecer a esta vontade.
Conclusão
Como nós podemos ser eficazes em nossa retórica (=mover) para com nossos membros? Como motiva-los ou estimula-los a serem cristãos hoje e para todo o sempre?
Podemos olhar para Paulo e segui-lo. Quanto à fundamentação, não há autoridade maior do que a própria ação de Deus em todas as circunstâncias. Na aplicação desta verdade, as parêneses assumem tons de exortação, prece e encorajamento. Nossa interferência precisa transparecer fraternidade (1 Ts 2.11,12) e autoridade apostólica (Rm 13.3).
2.2 Técnica utilizada na introdução
Brainstorm
O grupo se divide em pequenos sub-grupos de 6 pessoas, escolhendo um coordenador e um secretário. O coordenador orienta para que cada integrante contribua com uma idéia para a solução do problema e o secretário as anota. Depois, o grupo seleciona uma das idéias para ser transcrita no quadro a ser divida com os demais grupos.
O passo seguinte é a apresentação do estudo em si.
No final, o grupo reavalia sua idéia inicial a luz do texto em seguida.
2.4 Avaliação
Que cada grupo consiga avaliar sua sugestão/idéia a partir do estudo apresentado, reformulando ou ampliando com o que aprendeu.
Bibliografia
BARBAGLIO, Giuseppe. As Cartas de Paulo II. São Paulo, Loyola, 1991.
BIBLEWORKS 4.0.
CARSON, D.A., MOO, D.J., MORRIS, L. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo, Vida Nova, 1997.
CRANFIELD, C.E.B. Carta aos Romanos. São Paulo, Paulinas, 1992.
GASQUES, Pe. Jerônimo. Pastoral e Qualidade Total. Petrópolis, Vozes, 1997.
HULME, William. Dinâmica da Santificação. Porto Alegre, Concórdia, e São Leopoldo, Sinodal, 1981.
LUTHER, Martin. Commentary on the Epistle to the Romans. Grand Rapids, Zondervan, 1954.
MELANCHTHON, Philip. Commentary on Romans. St. Louis, Concordia, 1992.
MORRIS, Leon. The Epistle to the Romans. Grand Rapids, Mich., Eerdmans, 1988.
NESTLE-ALAND. Novum Testamentum Graece 27a. Stuttgart, Deutsche Bibelgesellschaft, 1996.
NYGREN, Anders. La Epistola a los Romanos. Buenos Aires, La Aurora, 1969.
SCHOLZ, Vilson. Princípios de Interpretação Bíblica. Canoas, ULBRA, 2001.
SCRAGE, Wolfgang. Ética do Novo Testamento. São Leopoldo, Sinodal, 1994.
Anexo
Nossa Baixa Auto-estima
Stephen Kanitz Artigos da Veja
Porque não temos auto-estima ? Nós brasileiros acreditamos piamente que nunca daremos certo, que o pais não é sério, com esta auto-estima não acreditamos nem em nós mesmos, muito menos no país. Os americanos, por outro lado, se acham o máximo, o centro do mundo. Os argentinos então, são "hors-concours". Sempre impecáveis, os argentinos sabem que um povo que perde sua auto-estima, perde tudo.
Por causa de nossa baixa auto-estima entramos em pânico em cada crise, remetemos dólares para fora na primeira marola. Desta forma esta crise é brasileira. Especuladores americanos quando apostam normalmente é a favor. Brasileiros normalmente apostam contra. Nossas previsões são invariavelmente pessimistas, previsões que se auto-concretizam. Quais as razões desta nossa baixa autoestima uma vez que na época de Getúlio e Juscelino não era bem assim. A melhor explicação vem dos psicólogos: coloque um bando de ratinhos (leia-se brasileiros) numa gaiola com duas portas, uma verde que fornece comida e outra vermelha que só da choque. Depois de alguns sustos, os ratinhos aprendem a só tocar na porta verde. Um dia o cientista troca a polaridade das portas. Muda as regras do jogo de um minuto para o outro. Cria-se pânico e confusão até que um ratinho mais empreendedor descobre que a porta que dava choque não dá mais. Um mês
ou dois os ratinhos descobrem um jeito de burlar os pacotes. Por isto muitos planos não deram certo, os cientistas não conseguem prever as várias saídas que a população encontra para burlar as mudanças da regras do jogo. Agora vem a parte nefasta da experiência. Se as regras do jogo mudam muito freqüentemente, os ratinhos em vez de se adaptarem, entram em depressão. Ficam letárgicos, deixam de comer, alguns se suicidam. Seres humanos são mais robustos, sobrevivem, mas sua auto-estima despenca. Todo mundo se sentindo um perfeito idiota por não ter comprado dólares no dia anterior. Percebem que suas vidas econômicas não lhes pertencem. Que nenhum plano ou sonho pode ser almejado. Depositam lá fora, ao primeiro editorial preocupante.
Nestes utimos 30 anos viramos um verdadeiro laboratório. Laboratório montado há 30 anos, por cientistas vindos das melhores (e piores) faculdades deste pais. Cientistas da era Newtoniana, que induziram políticos a acreditar que o mundo era previsivel e portanto controlável. Logo controlaram os preços do arroz até o zinco, controlaram as divisas, os empréstimos externos, o câmbio, as guias de importação, os aumentos salariais, o FGTS, e os nossos fundos da previdência. Controlaram os índices de correção monetária ao ponto que eles "corrigiram" somente 10% da inflação, dizimando 90% da poupança nacional.
Seqüestraram nosso dinheiro e congelaram nossos rendimentos. Além de destruir a nossa autoestima, jogaram credores contra devedores destruido a confiança mútua, minaram os relacionamentos cuidadosamente construidos entre empresas e fornecedores, geraram enormes transferências (injustas) de capital, criaram feridas no tecido social da sociedade. Ironicamente, são os únicos que restaram com elevada alto estima, conhecidos pela sua arrogância e prepotência.
Nos últimos 10 anos, alguns corajosos brasileiros se mexeram para reduzir este enorme poder de controle. Conseguiram privatizar estatais, libertaram as guias de importação. Os preços não são determinados em laboratórios, os índices de correção monetária abolidos.
Este ano finalmente, a sociedade recuperou uma das últimas centralizações. A fixação do preço de câmbio não é mais determinado por cientistas. Depois de 30 anos sem podermos determinar o verdadeiro preço do cambio, não é de estranhar que fomos pegos de surpresa, que não estejamos preparados e que a liberdade inicialmente assusta. Mas o laboratório está quase desmontado. Falta ainda algumas coisas, mas o principal será curar esta antiga ferida social: recuperar a nossa perdida auto-estima.
Estudo preparado Por Clóvis Jair Prunzel
Em 28 de maio de 2001.